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DIREITOS HUMANOS
UNIDADE 2
Prof. MSc. Alice Cruz
GERAÇÕES OU DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS/FUNDAMENTAIS
1ª DIMENSÃO (NEGATIVA)
Raízes: iluminismo e jusnaturalismo (Séculos XVII, XVIII e XIX) – ideal Liberal-Burguês – valor liberdade
Direitos de defesa do indivíduo frente ao Estado
Proteção das liberdades públicas, civis e direitos políticos
Ex.: vida, liberdades, propriedade, participação política, devido processo legal, etc.
Documentos que marcaram a 1ª dimensão:
Bill of Rights (1689)
Declaração de Direitos da Virgínia (1776)
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)
Constituições Brasileiras de 1824 e 1891
2ª DIMENSÃO (POSITIVA)
Industrialização – problemas sociais e econômicos (Século XIX) – valor iguardade
Direitos sociais, econômicos e culturais
Caracterizam-se por proteção ou prestação de serviços pelo Estado para o cidadão (direitos prestacionais)
Prestações sociais estatais: assistência social, saúde, educação, direitos dos trabalhadores, etc.
Constituições do Século XX: México (1917), Weimar (1919), Brasileira de 1934, etc.
3ª DIMENSÃO 
Pós-Segunda Guerra - valor solidariedade/fraternidade
Titularidade Difusa/Coletiva
Paz, meio ambiente e qualidade de vida, conservação e utilização do patrimônio histórico e cultural, direito de comunicação, direito ao desenvolvimento, direito à autodeterminação dos povos
4ª DIMENSÃO?
Pós-modernidade, globalização dos direitos fundamentais
Direitos à democracia, informação, pluralismo, internet, etc.
5ª DIMENSÃO?
Compromisso com a paz mundial
Cibernética, avanço tecnológico ainda maior
	1.1 O PROCESSO DE FORMAÇÃO E INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO DIREITO BRASILEIRO
“Tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica” (art. 2º da Convenção de Viena de 1969).
- O termo “tratado” é genérico, e abrange, também, pactos, convenções, cartas, convênios e protocolos firmados entre Estados.
	- Os tratados constituem a principal fonte de obrigação do Direito Internacional.
	- A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 tratou apenas dos tratados celebrados entre Estados. Contudo, cada vez mais a ordem contempla tratados entre Estados e organizações internacionais e organização internacionais entre si. 
Os tratados internacionais só se aplicam aos Estados que a ele consentiram.
“Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa fé” (art. 26 da Convenção de Viena de 1969).
“Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado (art. 27 da Convenção de Viena de 1969).
Em geral, os tratados permitem que sejam feitas reservas, que constituem uma declaração unilateral feita pelo Estado ao assinar, ratificar, aceitar, aderir ou aprovar um tratado, com o propósito de excluir ou modificar o efeito jurídico de algumas de suas previsões, quando aplicado naquele Estado. A reserva pode ser feita desde que não seja incompatível com o objeto e o fim do tratado, e desde que este não estabeleça a proibição de sua formulação. 
A disciplina do processo de elaboração de tratados internacionais é deixada a critério de cada Estado.
Em regra, tem-se as seguintes fases:
	1ª) Negociação, conclusão e assinatura do tratado, que são atos de competência do Poder Executivo. A assinatura não vincula o Estado, manifestando mera concordância quanto à forma e o conteúdo final do tratado. Mas, a partir da assinatura, o Estado fica comprometido a obtar atos que violem os objetivos do tratado. 
	2ª) Apreciação e aprovação pelo Poder Legislativo (decreto legislativo).
	3ª) Ratificação pelo Poder Executivo, seguida da troca ou depósito do instrumento de ratificação. É o ato pelo qual o Estado se obriga no plano internacional. 
	
	* A CRFB/88 estabelece apenas dois dispositivos relativos ao processo de formação dos tratados internacionais:
	
	Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
	VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional. 
	Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
	I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
A disciplina constitucional sucinta não estabelece prazos para conclusão das fases do processo de formação dos tratados internacionais, possibilitando a ocorrência de situações abusurdas. Exemplo emblemático envolve a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969, que foi assinada pelo Estado Brasileiro no mesmo ano de 1969, encaminhada à apreciação do Congresso Nacional somente em 1992 e aprovada pelo Decreto Legislativo n. 496 apenas em 17 de julho 2009. Em 25 de setembro de 2009 o Poder Executivo efetuou o depósito do instrumento de ratificação e em 14 de dezembro de 2009 expediu o Decreto 7.030 promulgando a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. 
Embora alguns autores, como Flávia Piovesan, defendam que a incorporação dos tratados internacionais sobre direitos humanos seja automática, a teor do que dispõe o art. 5, § 1°, da CRFB/88, o Supremo Tribunal Federal entende que a incorporação dos tratados internacionais no âmbito interno dependende de um decreto do Presidente da República.
	- Nesse sentido: “O decreto presidencial que sucede à aprovação congressual do ato internacional e à troca dos respectivos instrumentos de ratificação, revela-se – enquanto momento culminante do processo de incorporação desse ato internacional ao sistema jurídico doméstico – manifestação essencial e insuprimível, especialmente se considerados os três efeitos básicos que lhe são pertinentes: a) a promulgação do tratado internacional; b) a publicação oficial de seu texto; e c) a executoriedade do ato internacional, que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno” (ADI 1.480-DF, Rel. Min. Celso de Mello, Informativo STF n. 109, DJU 13.05.1998). 
	1.2 STATUS NORMATIVO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
	* Dispositivos constitucionais a respeito do tema:
	- Art. 5°, § 2°: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
	- Art. 102, III, “b”: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
	III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
	b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal.
	- Art. 5°, § 3° (incluído pela Emenda Constitucional n. 45/2004): “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.
Na doutrina encontram-se quatro posições acerca do status normativo dos tratados internacionais sobre direitos humanos:
	1) Corrente que atribui aos tratado internacionais sobre direitos humanos status constitucional (Antônio Augusto Cançado Trindade, Flávia Piovesan, entre outros);
	2) Corrente que atribui aos tratado internacionais sobre direitos humanos status de lei federal (STF até 2008);
	
	3) Corrente que atribui aos tratados internacionais sobre direitos humanos status supraconstitucional (André Gonçalves Pereira e Fausto de Quadros, Hildebrando Accioly, Vicente Marotta Rangel, entre outros)
	4) Corrente que atribui aos tratados internacionais sobre direitos humanos status infraconstitucional, mas supralegal (STF a partir de 2008)
Posicionamento do Supremo Tribunal Federal:
 	- O STFfixou entendimento em 1977 no julgamento do RE 80.004 no sentido de que todos os tratados internacionais se situam no mesmo patamar hierárquico das leis federais. Tal entendimento foi confirmado pelo STF em 1995 no julgamento do HC 72.131/RJ.
	
	- No julgamento do RE 466.343, em 03/12/2008, o STF decidiu pela supralegalidade dos tratados internacionais de direitos humanos. 
Extrai-se do voto do Min. Gilmar Mendes: “[…] a previsão constitucional da prisão civil do depositário infiel (art. 5°, inciso LXVII) não foi revogada pelo ato de adesão do Brasil ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana dos Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica (art. 7°, 7), mas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante desses tratados em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria, incluído o art. 1.287 do Código Civil de 1916 e o Decreto-Lei n. 911, de 1° de outubro de 1969.
Destaca-se do voto proferido pelo Min. Celso de Mello no mesmo RE 466.343: “[…] após detida reflexão em torno dos fundamentos e critérios que me orientaram em julgamentos anteriores (RTJ 179/493-496, v.g.), evoluo, Senhora Presidente, no sentido de atribuir, aos tratados internacionais em matéria de direitos humanos, superioridade jurídica em face da generalidade das leis internas brasileiras, reconhecendo, a referidas convenções internacionais, nos termos que venho de expor, qualificação constitucional”.
BIBLIOGRAFIA DA UNIDADE:
	- PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 13. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012.
	- SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. e.d rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
	- COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.

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