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RESUMO de VIROLOGIA parte2 I. DENGUE, FEBRE AMARELA, CHIKUNGUNYA Essas três doenças apresentam em comum o fato de serem causadas por arbovírus. Dengue e Febre Amarela são causadas por dois vírus pertencentes à família Flaviviridae, apresentando capsídeo icosaédrico, RNAss polaridade + e envelope. Esse genoma de RNAss polaridade + vai apresentar regiões não codificantes nas extremidades 5’ a qual e capeada e apresenta na sua proximidade genes para proteínas estruturais, enquanto que na proximidade da extremidade 3’ há genes para proteínas não estruturais A Dengue é causada por um Flavivírus que apresenta 4 sorotipos, cada um com imunidade duradoura, enquanto que o Flavivírus causador da Febre Amarela apresenta apenas 1 sorotipo. Acredita-se que os sorotipos 1 e 3 da Dengue sejam os mais virulentos, em função da sua prevalência em casos mais graves. O Chikungunya é um vírus pertencente à família Togaviridae e ao gênero Alphavírus, apresenta RNAss polaridade +, simetria icosaédrica e envelope. Vai apresentar regiões não codificantes nas extremidades 5’ a qual e capeada e apresenta na sua proximidade genes para proteínas não estruturais, enquanto que na proximidade da extremidade 3’, a qual apresenta cauda poli A, há genes para proteínas estruturais. A cura da infecção promove imunidade permanente. 1) BIOSSÍNTESE VIRAL Todos adentram a célula hospedeira por endocitose, havendo a fusão do envelope com a membrana do endossoma, com posterior tradução das proteínas estruturais e não estruturais, em forma de uma poliproteína. A replicação do genoma acontece por uma RNA polimerase RNA dependente, a partir de um molde RNA polaridade -. O brotamento é a partir do RE e a saída por exocitose No caso do Chikungunya, há uma especificidade na tradução, onde há a leitura e a tradução das proteínas não estruturais e, quando estas atingem uma quantidade considerável há mudança de fase para a leitura e tradução das proteínas estruturais. 2) PATOGÊNESE A. DENGUE A picada do vetor Aedes aegypti rompe a integridade da pele e insere o vírus, o qual tem seu primeiro sítio de replicação nas DC da derme, com posterior disseminação linfática até os linfonodos regionais, onde há nova replicação, causando a viremia primária. Com a viremia o vírus atinge baço, fígado, MOV, e linfonodos, em função de ser um vírus pantrópico. As DC que foram infectadas, bem como macrófagos infectados produzem citocinas que recrutam linfócitos, os quais secretam IFN –γ, o que leva a redução da atividade da MOV e consequentemente a redução da produção de células do sangue e isso promove a aparição de petéquias, plaquetopenia e leucocitose. A plaquetopenia é característica, pois os megacariócitos são de produção mais rápida, sofrendo mais intensamente a redução da atividade da MOV. B. FEBRE AMARELA A picada do vetor Aedes aegypti rompe a integridade da pele e insere o vírus, há disseminação linfática para os linfonodos regionais e posterior viremia primária. Com a viremia os vírus atingem fígado, rins, MOV e SNC, mas principalmente o fígado devido ao seu tropismo, que se manifesta na manifestação clínica característica que é a icterícia. C. CHIKUNGUNYA Sua patogênese é Dengue like. 3) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A. DENGUE O período de incubação é de 2 a 7 dias. A infecção pode ser assintomática, ou ser febre indiferenciada (o indivíduo apresenta só febre), ou a febre dengue clássica (febre, cefaleia, mialgia, dor retrorbital, mal estar e prostração). Podem acontecer também as doenças hemorrágicas graves e choque hipovolêmico, o qual é causado pelas citocinas produzidas a fim de recrutar linfócitos, aumentando a permeabilidade celular de modo que os linfócitos consigam chegar ao sítio de infecção, e com isso há consequente extravasamento de plasma. As Ig produzidas são soroespecíficas, onde a reinfecção com outro sorotipo estimula as células de memória, mas como a Ig não é específica o suficiente não há a neutralização do vírus, havendo a formação de imunocomplexos que se depositam nos rins, causando dano renal, ou quando esses imunocomplexos são fagocitados por macrófagos, há replicação viral dentro dos macrófagos, o que aumenta ainda mais a formação de imuno complexos, o que aumenta ainda mais a produção de citocinas e o extravasamento de plasma, levando ao choque hipovolêmico. Se o individuo infectado apresenta mutação nos receptores e correceptores para o vírus, como o heparan sulfato, a doença pode ser agravada. Os extremos de idade podem apresentam complicações da doença, bem como em indivíduos com doenças preexistentes. B. FEBRE AMARELA 85% dos casos de Febre Amarela são benignos, enquanto que 15% são graves e dentro desses 15%, a mortalidade é de 50%. O período de incubação é de 3 a 6 dias. O quadro clínico é bifásico, no qual o estabelecimento da viremia promove a aparição das manifestações clínicas semelhantes as da Dengue, as quais posteriormente entram em remissão. No entanto, após a remissão pode acontecer uma segunda fase da doença, que apresenta disfunção hepatorrenal e hemorragia. Os indivíduos vacinados para Febre Amarela podem ter reação cruzada para Dengue. As manifestações clínicas características são febre alta, mialgia, calafrios, cansaço, diarreia, vômito (hemorrágico – vômito negro - ou não), manifestações hemorrágicas e diminuição do volume urinário. C. CHIKUNGUNYA Sua sintomatologia é Dengue like, com a adição e artralgia, a qual é incapacitante, permanecendo semanas após a eliminação do vírus. 4) DIAGNÓSTICO DENGUE E FEBRE AMARELA Como são doenças que acontecem em surtos, no caso da Dengue há o diagnóstico pela plaquetopenia observada no hemograma. Para ambas pode acontecer o isolamento a identificação viral por IF do sangue ou do soro no período de 3 a 5 dias. Há a identificação do antígeno NS1 que é uma proteína não estrutural, que é muito produzida e que está presente na circulação sanguínea, além de ser conservada nos sorotipos. O diagnóstico da plaquetopenia é justificado pelo fato dos Flavivírus apresentarem hemaglutininas, o que associado à redução da atividade da MOV promove o quadro de plaquetopenia e redução do hematócrito. A pesquisa de anticorpos para Dengue á complicada, pois apresenta reação cruzada entre os sorotipos e com o vírus vacinal da Febre Amarela. 5) EPIDEMIOLOGIA A. DENGUE É uma doença que apresenta ciclo urbano e ciclo silvestre, mas como é endêmica no Brasil, não há representatividade do ciclo silvestre para reinserção do vírus. B. FEBRE AMARELA Apresenta diferença de vetor nos ciclos urbano e silvestre, sendo o Aedes aegypti o vetor urbano e mosquitos do gênero Haemagogos, os vetores silvestres. Diferentemente da Dengue, o vetor silvestre tem importância na reinserção do vírus. C. CHIKUNGUNYA Na África é uma zoonose de mamíferos e roedores, apresentando diversos vetores, onde o Aedes aegypti é o vetor do ciclo silvestre. Os primeiros casos no Brasil foram importados, com posterior transmissão. 6) TRATAMENTO DENGUE, FEBRE AMARELA e CHIKUNGUNYA O tratamento é sintomático, não há antivirais específicos. AAS e diclofenaco de sódio não são recomendados para a Dengue. Em casos graves se recomenda a internação para melhor manejo dos fluidos, em casos de choque hipovolêmico. 7) PREVENÇÃO e CONTROLE Redução da interação homem – vetor, eliminação do vetor do ambiente, vacina no caso da Febre Amarela. II. HEPATITES VIRAIS As Hepatites são divididas em infecciosas, como a Hepatite A que tem transmissão fecal – oral, e as Hepatites séricas como C, E, B e D, sendoa primeira parenteral e a segunda entérica, e todas transmitidas pelo sangue, sendo que B, D e C podem ser transmitidas por via sexual. Aspectos comuns a esses 5 tipos de Hepatites são os quadros agudo, fulminante ou crônico. O quadro agudo pode ser ictérico ou anictérico, o fulminante é decorrente resposta imunológica exagerada mediada por CTL, e o crônico pode evoluir para cirrose ou hepatocarcinoma. Independente do vírus todos os quadros de hepatite se iniciam de forma aguda, podendo apresentam mucosa ictéricas em função da deposição de bilirrubina direta, a qual não consegue mais ser metabolizada no fígado a estercobilina, em função da inflamação no fígado. Também pode ser anictérica, o que não indica que o fígado esteja menos inflamado. A forma crônica é persistente e apresenta a continuidade da replicação e da transmissão do vírus, mas pode permanecer assintomática por muito tempo. Com o prosseguimento da cronificação da inflamação, principalmente na hepatite B e na C, há o desenvolvimento de hepatocarcinoma e cirrose hepática. As manifestações clínicas nas hepatites agudas são sintomas inespecíficos e comuns a todos os tipos de hepatite e são elas: febre, mal estar, anorexia, náusea e dor abdominal, colúria (urina escura), fezes pálidas e possível icterícia, além de mialgia, prurido (principalmente na A), artralgia (devido deposição de complexos imunes) e exantema. A colúria e as fezes pálidas são justificadas pelo fato do fígado estar inflamado e não converter bilirrubina em estercobilina e esta não é eliminada nas fezes, resultando nas fezes pálidas, enquanto que a bilirrubina irá ser filtrada nos rins e com isso a urina ficará escura. O diagnóstico em geral para a fase aguda é a sorologia de IgM e IgG através de ELISA, testes de função hepática com quantificação de bilirrubina, fosfatase alcalina, AST (aspartatoaminotransferase), ALT (alaninaaminotransferase). Para a fase crônica se realizam testes moleculares a fim de detectar carga viral e monitorar o tratamento. A. HEPATITE A: É causada pelo vírus HAV da família Picornaviridae, apresenta RNAss polaridade +, não envelopado e capsídeo icosaédrico. É um vírus extremamente resiste, o que o confere a capacidade de ser transmitido por veículo. Só apresenta 1 sorotipo. A imunidade natural é duradoura e, a doença não apresenta cronificação, ou evolui para a cura ou é fulminante. 1) PATOGÊNESE 2) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação é de 15 a 40 dias. Acomete de modo fulminante a qualquer indivíduo, em qualquer idade. Quando a doença acontece na infância, em geral, é assintomática ou branda em função do sistema imunológico imaturo, sendo agravado no adulto. A transmissão é fecal – oral através de veículo como água e alimentos contaminados. O vírus é excretado nas fezes. Em raros casos a transmissão sanguínea, como em usuários de drogas que compartilham seringas durante o período da viremia. 3) PREVENÇÃO Higiene pessoal, saneamento, vacinação, uso de Ig nos casos de risco, como pacientes suspeito de exposição em até 14 dias após o contato inicial. 4) TRATAMENTO Não há tratamento antiviral, pois a infecção é aguda. Recomenda-se repouso, administração de hepatoprotetores e a suspensão dos medicamentos de uso crônico. Recomenda-se uma dieta hipercalórica, pois infecções no fígado o tornam hipoglicêmico, exceto no caso de diabetes preexistente. B. HEPATITE E: HEV é um vírus pertencente à família Caliciviridae, apresenta RNAss polaridade +, não envelopado, apresenta baixa dose infecciosa, é altamente resistente, apresenta 1 sorotipo e não apresenta vacina. O grupo de risco para o quadro fulminante são as gestantes. Diferente da Hepatite A, que é endêmica, a Hepatite E é epidêmica. 1) PATOGÊNESE 2) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação é de 15 -60 dias, a transmissão acontece por via fecal – oral, através de veículo, como água e alimentos contaminados. A contaminação da água é a principal responsável pelos surtos. A transmissão vertical é rara, mas quando acontece é fulminante para o feto. É uma zoonose, onde a ingestão de carne de porco e de veado mal cozida pode conter o HEV. 3) PREVENÇÃO Higiene, saneamento, evitar consumo de água e alimentos contaminado, com destaque para frutos do mar. Não apresenta vacina e a profilaxia com Ig tem eficácia desconhecida, mas ainda assim é recomendada a gestantes. 4) TRATAMENTO Não há tratamento antiviral, pois a infecção é aguda. Recomenda-se repouso, administração de hepatoprotetores e a suspensão dos medicamentos de uso crônico. Recomenda-se uma dieta hipercalórica, pois infecções no fígado o tornam hipoglicêmico, exceto no caso de diabetes preexistente. C. HEPATITE B: HBV pertence à família Hepadnaviridae, apresenta DNAds circular. Apresenta 3 antígenos: HBs (presente na vacina, IgG anti-HBs está envolvida na cura), HBc ( proteína de caspsídeo, o sistema imune faz IgM e IgG contra ele, mas não são neutralizantes) e HBe ( expresso no célula infectada e detectado no soro, sendo marcador de replicação, quando ainda não há IgG anti-HBe, responsável por replicação sem controle). HBs e HBe são proteínas de envelope. 1) PATOGÊNESE São casos raros de acontecer, mas se o organismo consegue corrigir o quadro patológico se torna possível. A intensidade da resposta imune pode causar dano hepático, o qual pode variar de brando a moderado levando a cirrose e câncer progressivamente, ou se for exagerado há o quadro fulminante. Uma resposta menor e moderada permite a integração do genoma viral ao genoma da célula, iniciando o quadro crônico. Se todos os hepatócitos infectados forem renovados e não houver reinfecção pode acontecer à cura. Na infecção crônica há inflamação permanente, mas no início do quadro crônico há regeneração dos hepatócitos, com posterior decaimento da regeneração e início do processo de fibrose, o qual culmina na cirrose. Esse aumento de regeneração dos hepatócitos pode gerar mutações, inclusive nos genes supressores de tumor, progredindo para hepatocarcinoma. 2) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Período de incubação de 45 a 180 dias. Quanto mais cedo na vida entrar em contato com o vírus, maior a chance de cronificar, pois a resposta imune ainda é imatura. A transmissão pode ser sanguínea, sexual, vertical e perinatal, pois a mãe excreta vírus no leite. 3) DIAGNÓSTICO FASE HBs HBe IgG anti - HBs IgG anti - HBe IgM anti- HBc IgG anti- HBc AGUDA + + - - +/- - CRÔNICA ATIVA + + - - - + CRÔNICA PERSISTENTE + - - + - + PASSADA - - + + - + VACINA - - + - - - Se não há antígeno no sangue, principalmente HBe, significa que não há replicação, mas isso não implica em eliminação do vírus, pode ser uma infecção crônica persistente. A presença de IgG anti-HBc não é marcadora de cura ou de cronificação, indica apenas se entrou em contato com o vírus. A IgM anti-HBc pode ser positiva ou negativa na infecção aguda, se coleta do sangue for antes do período de início da produção de IgM , a pesquisa desta será negativa. A presença de IgG anti-HBe indica que a replicação viral está controlada, uma confirmação disso pode ser a realização das provas de função hepática em paralelo, onde ALT, AST, fosfatase alcalina, dente outras estarão se aproximando dos valores normais. Na infecção passada há HBs e HBe negativos, em função da eliminação do vírus, e suas respectivas IgGs estão positivas em função da imunidade. Diferente da imunidade natural a imunidadevacinal representa apenas IgG anti-HBs, pois este é o único antígeno presente na vacina. IgG anti-HBs é marcador de cura/ eliminação, IgG anti-HBe é marcador de controle da replicação. 4) PREVENÇÃO Evitar o contato com sangue contaminado, controle de banco de sangue, esterilização de aparatos odontológicos, cirúrgicos e de unhas, cautela com a manipulação de perfuro-cortantes, uso de preservativo e vacinação. A vacina é feita de DNA recombinante, apresentando apenas HBs, não apresenta potência de imunidade tão alta, requerendo duas doses de reforço. 5) TRATAMENTO Para o quadro agudo não há tratamento antiviral. Recomenda-se repouso, administração de hepatoprotetores e a suspensão dos medicamentos de uso crônico. Recomenda-se uma dieta hipercalórica, pois infecções no fígado o tornam hipoglicêmico, exceto no caso de diabetes preexistente. Já para o quadro crônico o tratamento é realizado por 1 ano, onde os fármacos reduzem os danos hepáticos em 50%. A monitoração do tratamento é por sorologia do HBe sérico, onde o ideal é estar negativo, o que é sinal de controle da replicação, e tal dado deve estar associado a provas de função hepática normais ou próximas do ideal e, pode-se detectar a carga viral por PCR. D. HEPATITE D: É causada por Deltavírus RNAss polaridade – circular e envelopado. Seu envelope apresenta HBs, sendo um dependovírus, ou seja, só desencadeia infecção em indivíduos com infecção prévia por HBV. 1) PATOGÊNESE Transmissão sanguínea, sexual, não sendo muito frequente a transmissão vertical e perinatal. 2) PREVENÇÃO Para os casos de coninfecção deve-se evitar o contato com sangue contaminado, controle de banco de sangue, esterilização de aparatos odontológicos, cirúrgicos e de unhas, cautela com a manipulação de perfuro cortantes, uso de preservativo e vacinação para Hepatite B. Se o indivíduo já apresenta Hepatite B crônica, o cuidado com comportamentos de risco deve ser redobrado a fim de evitar a superinfecção. E. HEPATITE C: HCV pertence à família Flaviviridae, apresenta RNAss polaridade +, envelopado, apresenta 6 genótipos, os quais requerem diferentes tratamentos, pois apresentam diferentes respostas contra estes. 1) PATOGÊNESE 2) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Período de incubação é de 15 a 180 dias, a transmissão se dá por via sanguínea, sexual, vertical (mas a carga viral deve estar muito alta). O vírus apresenta fácil espalhamento pelo sangue. Também há a transmissão por perfuro- cortantes, piercings, agulhas para tatoo, hemodiálise (se a máquina estiver contaminada, mesmo que o sangue doado seja livre de HCV, os pacientes poderão se infectar), compartilhamento de seringas contaminadas. 3) PREVENÇÃO Uso de preservativos, evitar contato com sangue contaminado e com perfuro- cortantes/agulhas contaminadas. Não há vacina. 4) TRATAMENTO No quadro agudo não há tratamento antiviral. Recomenda-se repouso, administração de hepatoprotetores e a suspensão dos medicamentos de uso crônico. Recomenda-se uma dieta hipercalórica, pois infecções no fígado o tornam hipoglicêmico, exceto no caso de diabetes preexistente. Deve-se testar após 6 meses HCc (antígeno de superfície), mas o mesmo não indica se a infecção é crônica ou passada, apenas indica que já não é aguda, então se requer a genotipagem, a qual determina o tratamento. O genótipo 1 não responde ao tratamento com IFN. Os fármacos não eliminam o vírus, mas controlam a carga viral e reduzem o dano hepático, o qual deve ser avaliado em conjunto com as provas de função hepática. III. ROTAVÍRUS e NOROVÍRUS A. ROTAVÍRUS: O Rotavírus pertence à família Reoviridae, sendo um vírus RNAds segmentado, apresentando 11 segmentos de RNA, não é envelopado. Apresenta 8 espécies de A – H, sendo que A,B,C e H são encontrados em humanos, e A é o responsável por 98% dos quadros de diarreia associada a morte. A espécie A apresenta os tipo G e P de acordo com as proteínas de superfície, os antígenos G e P, como acontece na gripe. Qualquer alteração nos antígenos G ou P há novo Rotavírus. Existem 30 G e 20 P, frutos de mutações pontuais. Não há imunidade cruzada, mas após a primeira infecção há a atenuação, sendo a primeira infecção a mais grave. É um vírus muito disseminado na população, sendo as crianças o grupo de risco. 1) PATOGÊNESE As mutações pontuais sofridas pelo Rotavírus, em função da alta taxa de erro da RNA polimerase, possibilita que uma mesma célula seja coinfectada por mais de um sorotipo, devido ao fato do genoma ser segmentado. O fato do genoma ser segmentado favorece as mutações de Schifft, nas quais há misturas dos segmentos de 2 sorotipos, gerando um novo sorotipo. A transmissão se dá por veículo, como água e alimentos contaminados com fezes, portanto é transmissão fecal – oral, mas suspeita-se que haja a contaminação de superfícies por aerossóis de vômitos. Como a transmissão é fecal-oral espera-se que seja uma doença atrelada à pobreza, no entanto acomete tanto ricos quanto pobres, com a mesma frequência, o que reforça a suposição de outra forma de contaminação além da fecal oral. É uma doença sazonal, e espera-se que aconteça no verão, onde as pessoas comem mais fora de casa, no entanto, tanto em países desenvolvidos, quanto em subdesenvolvidos, acontece no inverno. É uma infecção aguda, com período de incubação de 2 a 4 dias. É uma doença autolimitada, com excreção total dos vírus em até 10 dias. O que é fatal na rotavirose não é a ação viral, nem a do sistema imune, e sim a desidratação decorrente da diarreia explosiva, que acontece em até 60 vezes/dia, além do vômito. A diarreia é mal absortiva, pois os enterócitos destruídos devem ser repostos e com a aceleração desse processo de reposição há a presença de enterócitos imaturos que não apresentam ainda a capacidade de absorção. A NSP4 é uma proteína não estrutural do vírus que atua como uma Shiga toxina like, mas que apresenta importância na montagem e liberação dos vírus. Por ser semelhante à Shiga toxina, irá atuar como uma enterotoxina que abre canais de Ca++, promovendo o influxo do mesmo, o que gera desequilíbrio eletrolítico resultando em lise celular e secreção do conteúdo celular, de vírus e proteínas virais no espaço extracelular. No espaço extracelular NSP4 pode chegar até receptores das células das criptas, abrindo canais de Ca++, promovendo a liberação de água dessas células. No momento em que a NSP4 está atuando não há mais vírus circulantes, mas apenas a presença dela é grave, pois além de promover diarreia secretória, a NSP4 pode ativar vias de sinalização celular que levam a secreção de aminopeptídeos que irão estimular o SNE a secretar neurotransmissores que reforçam o quadro de diarreia mal absortiva e secretória. 2) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os principais sintomas são febre, diarreia, vômito, dor abdominal. Estes sintomas são genéricos, não podendo identificar o quadro como de rotavirose. 3) DIAGNÓSTICO É rápido, fácil e pago pelo SUS, pois a rotavirose é doença de notificação compulsória. A sorologia não é teste muito específico, pois a presença de IgG não significa que a infecção é passada ou atual, em função da reação cruzada entre os sorotipos. É melhor realizar a pesquisa de antígenos, mas nessa pesquisa não há identificação do sorotipo. A identificação do antígeno utiliza material fecal para análises por eletroforese PAGE, ELISA, imunocromatografia (kits rápidos e fáceis),aglutinação em látex (também é um teste rápido, mas não tão simples quanto à imunocromatografia) e RT – PCR (em laboratórios de referência, a fim de detectar variações no genoma). Nos centros de referência se realiza da eletroforese acoplada ao RT-PCR, onde as variações no genoma resultam em alterações de peso molecular que são detectadas pela eletroforese. Os kits de imunocromatografia são exclusivos para o tipo A, não existindo para os tipos B e C. 4) PREVENÇÃO E CONTROLE Saneamento básico, higiene e vacina. A vacina é oral, conferindo imunidade de mucosas, contém o vírus atenuado, porém recombinante, já que apresenta apenas os segmentos para as proteínas G e P humanas, e os demais segmentos de símios ou bovinos. A vacina não impede a doença, e sim a morte, pois a vacina funciona como infecção primária e as infecções naturais serão como recorrentes, portanto atenuadas. A vacina é contra indicada para crianças com imunodeficiência ou com histórico de doença crônica no TGI ou má formação. B. NOROVÍRUS É um vírus pertencente à família Caliciviridae, apresenta RNAss polaridade +, não envelopado. Apresenta alta morbidade, pois seus problemas associados causam grande prejuízo socioeconômico, já que acomete creches, asilos e hotéis. Por ser um vírus de RNA apresenta alta taxa de mutação, porém mais elevada que a do Rotavírus, justiçando a dificuldade no desenvolvimento de vacinas. 1) PATOGÊNESE A transmissão se dá por via fecal-oral e por aerossóis de vômitos, os quais apresentam alta carga viral, e a dose infecciosa é de 1 partícula. É sensível a cloro nas concentrações presentes na água, mas se aumentar a concentração de cloro, pode ser usado para a desinfecção. É extremamente resistente ao pH e a extremos de temperatura. Esses fatores em conjunto favorecem o espalhamento do Norovírus. A contaminação acontece por fonte comum, seja ela água ou alimentos contaminados que um grupo populacional tenha acesso. Esse grupo de contaminados adoece e a doença é eliminada ao mesmo tempo, o que promove o espalhamento secundário devido à transmissão por aerossóis. A evolução é muito rápida com evolução para a cura em 60 horas, e supõe-se que o mecanismo da diarreia seja mal absortivo. O período de incubação é de 24 a 48 horas. Norovírus é espécie específico não podendo ser isolado em sistema hospedeiro. 2) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Vômitos, diarreia aguda, dor abdominal, náuseas, desidratação e febre baixa. Podem acontecer quadros de vômitos, mas sem diarreia. A intensidade do vômito é significativa, favorecendo o espalhamento por aerossóis. Acontece principalmente no inverno. Os sintomas desaparecem em 48 horas, mas ainda há excreção do vírus nas fezes por até 2 semanas, havendo o perigo de manutenção da infecção. Podem acontecer quadros assintomáticos, mas que ainda assim apresentem a excreção de vírus nas fezes. 3) DIAGNÓSTICO Como não há sintomas patognomônicos a diferenciação de infecção por Rotavírus de Norovírus se dá apenas por diagnóstico laboratorial, em laboratórios de referência. Não há kits de diagnóstico rápido, como para Rotavírus, pois o Norovírus é de difícil isolamento, onde o anticorpo usado em ELISA para pesquisa de antígeno é contra antígeno clonado de capsídeo, abrindo brecha a muitos falsos positivos. A melhor opção é a realização de RT-PCR e PCR real time, com procura de primers para os genótipos mutados na Noronet. Os critérios clínicos para confirmação de surto por Norovírus: Período de incubação de 24 – 48 horas; Vômitos intensos em mais de 50% dos casos; Média de duração da doença de 60 horas; Sem identificação de outro patógeno. 4) PREVENÇÃO e TRATAMENTO Não há vacina, apenas higiene e saneamento como prevenção. O tratamento é por reposição de fluidos, pois não há antiviral. IV. HPV E HTLV A. HPV Pertence a família Papillomaviridae, apresenta DNAds com capsídeo icosaédrico e sem envelope. Apresenta 100 sorotipos determinados por tipagem molecular. A proteína L1 do capsídeo está presente na vacina. 1) PATOGÊNESE Quando se trata das verrugas e do condiloma acuminado temos infecções localizadas, pois o vírus infecta células da epiderme. Na pele íntegra não é possível à penetração do vírus, devido ao fato dos queratinócitos não serem susceptíveis, mas as células da camada basal são susceptíveis, porém não permissivas. As células da camada basal não são permissivas, pois são mais indiferenciadas e, conforme se diferenciam passam a ser permissivas e começam a replicar o vírus, o qual não se replica durante o estágio indiferenciado. A proliferação das células da camada basal “empurram” as da camada córnea formando uma protuberância. Quando as células da camada basal se diferenciarem e chegarem a superfície começarão a secretar vírus, mas nesse processo não há imortalização das células infectadas. Quando se trata do câncer, que inicialmente também é localizado, deve-se mencionar a ação do HPV, principalmente sobre as proteínas não estruturais E6 e E7, que são expressas na camada basal que inibem p53 e pRb (proteína de retinoblastoma), respectivamente. p53 e pRb são antioncogenes, ou seja, genes repressores de tumor. Com essas proteínas inibidas as células da camada basal começam a proliferar intensamente, podendo sofrer mutações e transformação celular se tornando imortalizadas. A transformação celular faz o câncer, a principio, ser localizado e facilmente descoberto pelo Papanicolau, com remoção parcial ou total do útero/pênis, caso a transformação esteja no início. Com o prosseguimento da transformação celular, a célula tumoral pode romper a membrana que separa epiderme de derme, adentrando na derme, e como esta é vascularizada, podem acontecer às metástases. O período de incubação é de 6 meses a 2 anos, e a transmissão se dá pelo contato direto da pele lesionada e/ou fômites contaminados com a pele abrasionada. O contato sexual é importante na transmissão, sendo a infecção pelo HPV uma DST. 2) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sítios de infecção são a região genital e perianal, o trato respiratório superior, a boca e a pele nas regiões de mãos e pés. Os HPVs 6 e 11 causam o Condiloma acuminado, na região genital, os tipos 16 e 18 causam o câncer cérvico uterino. As etapas da infecção são as Neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC), que são classificadas de 1 a 3: NIC Caracterização 1 Alteração celular em 1/3 do tecido. Baixo grau. Início da presença de coilócitos, que marcam a infecção por HPV. 2 Alteração celular em 2/3 do tecido. Pode indicar início de transformação celular. Alto grau. 3 Carcinoma in situ 3) DIAGNÓSTICO Observação das verrugas a olho nu. Aplicação de ácido acético 5% em regiões em que se suspeita, mas sem sinais aparentes, com a aplicação há o aparecimento de manchas aceto brancas (colposcopia). Citopatologia (Papanicolau) + Histopatologia para pesquisa de coilócitos, onde tal pesquisa apresenta 5 classes: Classe Diagnóstico I Ausência de células anormais. II Indício de inflamação, mas que ainda pode ser normal. III Células anormais, em caráter leve ou moderado, indica-se tratamento com cauterização. IV Células anormais, em caráter grave. Suspeita de alguma doença. V Neoplasia. 4) TRATAMENTO Pode ser cirúrgico ou não cirúrgico: Não cirúrgico Cirúrgico Crioterapia Cirurgia a laser Cáusticos (podofilina, ácido tricloroacético). Eletro excisão Quimioterapia como 5-fluorouracil IFNα Câncer Thuya occidentalis e casca de banana (contém tanino) Cirurgia para remoção total ou parcial Quimioterapia e radioterapia5) PREVENÇÃO Uso de preservativo, não compartilhar, roupas de banho ou intima, toalhas, dentre outros objetos contaminados. Há duas vacinas no mercado: Gardasil: apresenta a proteína L1 para os tipos 6, 11, 16 e 18. É indicado para meninas e mulheres de 9 a 26 anos que não tenham começado a vida sexual, ou que não tenham entrado em contato com o HPV. Administrada em 3 doses, com imunidade por 5 anos. Cervarix: apresenta a proteína L1 para os tipos 16 e 18, indicada a meninas e mulheres de 10 a 25 anos, aplicada em 3 doses, com imunidade por 5 anos. B. HTLV Pertence a família Retroviridae e ao gênero Deltaretrovírus. São vírus RNAss diplóide, com presença de transcriptase reversa, simetria icosaédrica e envelope. Apresenta 4 sorotipos, onde os mais comuns são HTLV 1 e HTLV 2, sendo o primeiro responsável por causar leucemia e a paraparesia espática tropical (PET). É um vírus oncogênico, mas não apresenta oncogene clássico. Estabelece infecção persistente subclínica. 1) BIOSSÍNTESE Pode-se usar diagnóstico molecular como hibridização in situ, captura híbrida e PCR, a fim de descobrir o tipo do HPV. Após adsorção, penetração e desnudamento há a síntese de cDNAds através de uma das cópias de RNA pela ação da transcriptase reversa. Esse DNA se integra ao DNA da célula, passando a se chamar provírus. O local de inserção do provírus é aleatório, sendo a maioria dos casos assintomáticos, pois nesses casos houve a inserção do provírus em promotores fracos, que podem não ter genes virais transcritos. Caso a inserção do provírus seja em promotor forte, há a transcrição de genes virais, inclusive da proteína tax. O vírus apresenta a proteína tax, ou p40, a qual tem função de ativação da transcrição de genes virais, sendo também importante no processo de desenvolvimento da leucemia. A tax ativa os genes celulares por transativação. O HTLV tem tropismo por TCD4+ (HTLV1) e por TCD8+ (HTLV2). A tax transativa, dentre outros, os genes de IL-2 e IL-2Rα, isso leva ao aumento da produção de IL-2 e de sua ação nas células devido ao aumento de IL-2Rα, e como IL-2 é uma citocina relacionada com proliferação, há aumenta da proliferação dos LT, o que leva a transformação destes. A tax ainda reprime a polimerase β, que corrige os erros no DNA dos LT. 2) PATOGÊNESE A leucemia é monoclonal, pois a inserção do provírus é sempre no mesmo local, e este local varia de pessoa a pessoa, mas é sempre monoclonal. 3) DIAGNÓSTICO V. HIV Pertence a família Retroviridae, a ordem Orthoretrovirinae e ao gênero Lentivírus. Apresenta RNAss polaridade + diplóide, mas esse RNA não é o RNAm. Apresenta 2 sortipos HIV 1 e HIV 2. O HIV é mais virulento e apresenta 4 subtipos M,N,O e P, sendo M o mais circulante e que apresenta ainda 9 subsubtipos. É um vírus envelopado com nucleocapsídeo em forma de cone. A proteína p24 do capsídeo é dosada para analisar a evolução do quadro do paciente. A pesquisa da carga viral busca identificar se a quantidade de vírus circulante é grande. 1) BIOSSINTESE: A adsorção da partícula viral acontece nos linfócitos TCD4++, através da interação da gp120 viral com CD4, onde CCR5 e CXCR4 são correceptores. Essa interação promove a exposição dos aas hidrofóbicos de gp41, o que permite a fusão do envelope viral com a membrana de TCD4+. Em seguida há o desnudamento do capsídeo com a liberação do genoma e da transcriptase reversa (RT), a qual é uma DNA polimerase RNA dependente. A RT transcreve uma das fitas de RNA em uma fita de cDNA e, como a RT tem atividade de endonuclease, degrada o RNA do híbrido DNA/RNA e atua como DNA polimerase DNA dependente, e sintetiza nova fita de DNA a partir do cDNA. Essa dupla fita de DNA é chamada de provírus e vai para o núcleo onde se inserirá no genoma celular pela ação de integrases virais. A transcrição do genoma viral só acontecerá quando a célula estiver ativada, ou seja, quando a célula estiver respondendo a algum antígeno. Quando TCD4+ está infectada e responde a algum antígeno há aumento da quantidade de vírus e da transcrição do genoma viral. Com isso há infecção também das células de memória, mas sem ativá-la até que essa reencontre seu antígeno específico. O processo descrito acima, quando repetido infinitamente leva a depressão do sistema imune pelo esgotamento das células TCD4+ e de memória, levando a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). A fita de RNAss que não foi transcrita pela RT dará origem ao RNA genômico de novas partículas e será traduzido em poliproteínas. As proteínas gp120 e gp41 são direcionadas para a membrana celular, com posterior brotamento do nucleocapsídeo. No entanto a partícula viral está imatura, sendo necessária a ação da protease do HIV, que cliva a poliproteína e, com isso o capsídeo assume a forma de cone, estando o vírus maduro e infeccioso. 2) PATOGÊNESE: A transmissão depende de fatores biológicos e comportamentais: FATORES BIOLÓGICOS FATORES COMPORTAMENTAIS Concentração de HIV nos fluídos biológicos, onde uma pequena concentração não é relevante para a contaminação. Promiscuidade. Integridade e vulnerabilidade das mucosas, as lesões por HSV facilita a contaminação por HIV. Falta de uso de preservativo. Tipo de amostra (HIV 1 é mais virulento) e o tempo de exposição. Compartilhamento de seringas contaminadas. Ferimentos de profissionais da saúde com perfuro-cortantes contaminados. A transmissão se dá por contato sexual, com sangue contaminado (triagem nos bancos de sangue, como o HTLV), vertical, perinatal e ocupacional. Não se transmite por saliva, urina, lágrima, aerossóis, picada de insetos, fômites que entraram em contato com os fluidos acima. Nessa resposta imune parcial pode ser que aconteça a eliminação parcial do vírus devido à ação de citocinas e de CTL. Após essa resposta parcial não há sinais de infecção, com aumento de TCD4+ e redução da carga viral, esse é o período de latência, e esta é aumentada pela ação dos antivirais. Há diferentes progressões a partir do período de latência: O tratamento com antivirais reduz a carga viral e reduz bastante a transmissão, uma vez que para que aconteça a contaminação a dose infectante requerida é alta. 3) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação é de 2 a 4 semanas. A infecção aguda tem duração de 1 a 3 semanas com sintomas semelhantes à gripe e a mononucleose, como febre, fadiga, exantema, cefaleia, faringite, linfoadenopatia, perda de peso, náuseas vômitos, diarreia, mas também podem aparecer candidíase oral e meningoencefalite. São sintomas muito inespecíficos, mas se profissionais do sexo e homossexuais, que são grupos de risco, apresentarem candidíase oral é um sinal de alerta para infecção por HIV. Após 1 a 3 semanas da infecção aguda, há o período de latência clínica, onde se pode observar linfoadenopatia generalizada devido à replicação contínua do HIV nos linfonodos. Após a latência, e esse período depende se o indivíduo é progressor rápido, intermediário ou tardio, há as seguintes fases: o i. Sintomática inicial: a contagem de TCD4+ está acima de 500 células/mm3. Os sintomas encontrados são sudorese noturna, cefaleia, mal estar, fadiga, diarreia,febre diária e constante, perda de peso, linfoadenopatia no pescoço, axilas e virilha e quadros dermatológicos. Nessa fase ainda não se recomenda o uso de antiviral, pois a contagem de TCD4+ ainda é razoável, mas com o aparecimento dos sintomas acima é ideal iniciar o tratamento. ii. Fase sintomática intermediária: a contagem de TCD4+ está entre 200 e 500 células/mm3. Os sintomas presentes além dos da fase inicial são candidíase oral e genital, sinusite, bronquite e pneumonia. iii. Fase sintomática tardia: contagem de TCD4+ está entre 50 e 200 células/mm3. Iniciam-se as infecções oportunistas como pneumonia por Pneumocystis jiroveci, criptosporidíase, encefalite por T. gondii e candidíase esofágica. iv. Fase sintomática avançada: contagem de TCD4+ está menor que 50 células/mm3. Além de todos os sintomas já citados há infecção disseminada por HCMV, neoplasias como sarcoma de Kaposi e linfoma não-Hodgkin, infecções por micobactérias atípicas como M.avium, debilitação e demência relacionada à AIDS. 4) DIAGNÓSTICO Sorologia para triagem em banco de sangue, em gestantes, dentre outros. Isolamento viral em laboratórios de referencia, mas deve acontecer na janela imunológica, e se busca a presença de sincício, é o padrão ouro. Pode-se realizar a detecção de p24 por ELISA com Western Blot e IF para confirmação, mas devem ser realizados na janela imunológica. Quando a sorologia é duvidosa se realiza testes moleculares como RT-RCR para a quantificação da carga viral. 5) TRATAMENTO Os objetivos do tratamento são aumento da sobrevida, redução do impacto da doença, melhoria da qualidade de vida, aumento do peso corporal, redução da carga viral e aumento da contagem de TCD4+. O objetivo do coquetel é impedir a adesão, transcrição, integração e maturação do vírus, através de antivirais combinados que haja nessas etapas do ciclo viral. Há 2 esquemas de inicio de terapia: VI. ANTIVIRAIS A adsorção, a penetração, o desnudamento, a replicação, a tradução, a montagem e liberação do vírus são possíveis alvos para antivirais. Deve-se conhecer todas essas etapas a fim de conhecer o tempo de 1 ciclo do vírus. Para impedir a adsorção bloqueiam-se receptores celulares, impedindo a fusão do vírus com a célula, seja por alterações nos receptores ou no próprio vírus. Para inibição da transcrição pode-se inibir enzimas, como a RNA polimerase, a transcriptase reversa ou a integrase. Pode-se também inibir a tradução e o processamento das proteínas virais que regulam o ciclo viral. Há também inibição da replicação da tradução tardia, da montagem e maturação (inibidores de protease) e do brotamento (Tamiflu). No desenvolvimento de antivirais temos as seguintes fases: a. Fase pré-clínica: realizam-se testes de citotoxicidade, avalia-se a atividade antiviral e mecanismos de ação, em cultura de células. Avaliação da atividade do antiviral verifica-se o índice terapêutico, onde na relação CC50/CE50, quanto maior CC e menor CE melhor será. Há também os testes em animais, nos quais são testada toxicidade, propriedades físico-químicas, dose terapêutica, efeito teratogênico e carcinogênico. Durante as análises é importante não deixa o antiviral por todo o ciclo viral no período de teste, pois pode gerar falso positivo, isso se o mecanismo de ação for intracelular, já que ao final de 1 ciclo o vírus sai da célula e não há alteração de morfologia. Se a substancia testada tiver capacidade viricida irá matar o vírus, mas não necessariamente pela ação intracelular, o que pode confundir o resultado. b. Fase clínica: i. Fase I: são realizados testes em pessoas saudáveis, visando à avaliação do metabolismo e a ação farmacológica. ii. Fase II: são realizados testes com pessoas doentes, mas ainda com um pequeno n, a fim de verificar o efeito do antiviral, a dose terapêutica, ADME e o intervalo entre as dose. iii. Fase III: utiliza-se grande número de pacientes, avalia-se o tratamento por longos períodos, a farmacocinética, os efeitos em diferentes faixas etárias, o efeito em pacientes com disfunções hepáticas e renais, e as interações medicamentosas. iv. Fase IV: ensaios pós-liberação. TIPOS DE ANTIVIRAIS: ANÁLOGOS DE NUCLEOSÍDEOS: Apresentam estrutura similar a de nucleotídeos, porém sem a OH no carbono 3’ da pentose, com isso param a síntese de ácidos nucléicos. Podem apresentar outro grupamento no lugar da OH. Sua forma ativada é trifosfatada. ACICLOVIR: análogo de guanosina, sua forma ativa é trifosfatada e compete como GTP. É praticamente atóxico. Sua monofosforilação é feita por cinases virais, enquanto que apenas a di e trifosforilação são realizadas por cinases celulares. Ou seja, apenas células infectadas podem ativar o Aciclovir. Como não possui a OH no carbono 3’, se ligará ao DNA viral e de modo irreversível com a DNA polimerase viral, parando a síntese de DNA viral. É indicado para tratamento de HSV1, HSV2 e VZV. FORCARNET: não é um análogo de nucleosídeo, mas se liga a DNA polimerase viral de modo irreversível, sendo uma alternativa para indivíduos resistentes ou intolerantes ao Aciclovir. Também é usado para tratamento de HSV 1, HSV 2, VZV e também para HCMV. CIDOFOVIR: é um inibidor nucleotídico, análogo da deoxicitidina monofosfato, competindo com ela pelo DNA polimerase viral. Já é monofosfatado, devendo ser di e trifosforilado na célula. É indicado principalmente para tratamento de HCMV (retinite), mas também para HSV e VZV. AZT: é um inibidor da transcriptase reversa, devendo ser trifosforilado, compete com o TTP e apresenta um grupamento azido no lugar da OH do carbono 3’. Quando a transcriptase reversa se liga ao AZT não há continuação da polimerização do cDNA. Toda as 3 fosforilações que o AZT deve sofrer são realizadas por cinases virais. Não ataca a DNA polimerase celular, pois a transcriptase reversa apresenta maior afinidade pelo AZT, atuando preferencialmente nas células infectadas, mas é possível que atue também em não infectadas. RALTEGRAVIR: inibidor da atividade catalítica da integrase do HIV, impedindo a inserção do DNA proviral. INIBIDORES DE FUSÃO: MARAVIROC: antagonista do receptor CCR5, bloqueando sua interação com a gp120 e, portanto, a entrada de vírus na célula TCD4+. INIBIDORES DE PROTEASE: SAQUINAVIR: sua estrutura é análoga à região da poliproteína do HIV que é substrato para a protease do HIV. O Saquinavir se liga a protease e impede a clivagem da poliproteína e a maturação do vírus, com isso são liberadas partículas virais não infecciosas. INIBIDORES CANAIS DE H+ (M2) AMANTADINAS E RIMANTADINAS: inibem a proteína M2, que é um canal de prótons, impedindo a acidificação do endossoma e, consequentemente, a mudança conformacional que permite o desnudamento do Influenza, com posterior digestão da partícula viral, sem esta replicar. ANÁLOGOS DE ÁCIDO SIÁLICO OSELTAMIVIR (TAMIFLU): é análogo de ácido siálico, e se ligará as neuraminidases virais. As neuraminidases virais retiram o ácido siálico da membrana celular de células já infectadas, a fim de que os vírus recém-sintetizados não infectem a mesma célula, bem como se agreguem. O Oseltamivir simula a reação acima de modo contrário, fazendo com o as partículas virais se agreguem ou infectem a mesma célula, impedindo a disseminação viral.
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