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CRIMINOLOGIA
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CRIMINOLOGIA
Unidade 2 : Criminalidade
Olá, seja bem-vindo à Nota de Aula da 2ª unidade da disciplina de Criminologia. Para 
alcançar uma melhor compreensão da disciplina, é importante que você acompanhe a web 
aula, onde você terá acesso a vídeos, animações, quadrinhos e exercícios de fixação, acerca do 
assunto abordado nesta primeira unidade, que o ajudarão a complementar os seus estudos.
Boa aprendizagem!
Objetivo
Explicar o fenômeno da criminalidade, destacando sua etiologia, suas principais 
manifestações e características.
1 Etiologia: Teorias
Crimes sempre existiram em todas as sociedades humanas, indo das formas mais simples, 
como o furto, até as mais graves, como o homicídio.
A criminalidade é definida pela doutrina em dois sentidos: o estrito (criminalidade ou 
delinquência é a qualidade inerente a determinada conduta antissocial, um ato de natureza infracional) 
e o lato (é o fenômeno antissocial que abrange o conjunto de infrações penais em suas várias 
modalidades durante certa época e em cada região ou país, seja ou não crime a conduta antissocial). 
Assim, o conceito de criminalidade não se resume a um conjunto de infrações penais cometidas 
em uma determinada região, pois abrange também os fatos que, por motivos diversos, afrontam a 
sociedade, embora não estejam previstos em lei como infrações penais.
Enfim, em sentido amplo, engloba todos os comportamentos antissociais, mesmos aqueles 
não previstos em lei como crime, mas que também integram a criminalidade.
Importante
Importante ressaltar os estudos criminológicos e sociológicos objetivando por 
essencial o procedimento identificador da criminalidade depreendem-se como 
fenômeno individual (a chamada microcriminalidade) e como fenômeno 
econômico (a macrocriminalidade).
Sumário: ApresentAção (3) 1. etiologiA: teoriAs (3) 1.1. teoriAs biológicAs (ou sobre o indivíduo defeituoso) (6) 2. 
dimensões e cArActerísticAs (25) 2.1. A toxicomAniA (26) 2.2. A criminAlidAde urbAnA e rurAl (28) 2.3. A criminAlidAde 
violentA (31) 2.4. o crime de colArinho brAnco (32) 2.5. criminAlidAde orgAnizAdA (34) 2.6. criminAlidAde femininA 
(45) 2.7. delinquênciA infAnto-juvenil (58) referênciAs bibliográficAs (67) leiturA complementAr (68) créditos (71)
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Criminologia
Praticamente quase todas as teorias existentes sobre a criminalidade e suas causas (teorias 
etiológicas) são teorias ou hipóteses sobre por que se chega a ser delinquente, ou seja, autor de um 
delito. A ênfase nos aspectos individuais, biológicos ou psicológicos como sendo a origem do delito, 
chamados também de fatores endógenos da criminalidade, dá lugar a uma Microcriminologia, cujo 
enfoque se dirige fundamentalmente ao autor do delito, considerando-o individualmente ou 
situando-o no grupo social onde vive e aprende os complexos processos socializadores e onde 
surgem os conflitos delitivos. Já a ênfase nos aspectos sociais como sendo a gênese do delito, os 
fatores exógenos da criminalidade, dá lugar a uma Macrocriminologia, que se ocupa mais da 
análise estrutural da sociedade na qual surge o delito.
A característica principal do enfoque etiológico é que pretende explicar a criminalidade 
como resultado de uma série de causas biológicas, psicológicas ou sociais. Frente a estas teorias 
etiológicas, que praticamente dominaram o pensamento criminológico desde seu surgimento até 
nossos dias, surgiu, nos anos 70 do século XX, uma teoria etiquetista ou definicionista (labelling 
approach), que com diversas variantes considera a criminalidade como resultante de um processo 
de definição e de atribuição desta qualificação pelos órgãos encarregados da persecução do delito 
(polícia) e da administração da justiça (juízes e tribunais).
Para a teoria etiquetista, mais que a criminalidade em si mesma e suas causas, interessa 
o processo de criminalização – as razões por que uma pessoa chega a ser considerada e definida 
(etiquetada) como delinquente e outras não.
No momento atual, nenhuma dessas concepções domina completamente o pensamento 
criminológico, no qual estão cada vez mais presentes teorias ecléticas que procuram tomar de cada 
uma das concepções já existentes o que pareça mais razoável, útil ou convincente e rechaçam o mais 
discutível ou menos fundamentado em cada uma delas.
Em uma exposição resumida das principais características e contribuições destas teorias, não se 
pode fazer outra coisa senão tentar desenvolver uma exposição das diferentes posturas e uma valoração 
das mesmas em um contexto global. Esta, realmente, é a principal tarefa reservada à Criminologia: 
subministrar um conhecimento válido acerca da criminalidade e dos processos de criminalização.
Atualmente, segue sendo uma missão impossível dar uma explicação satisfatória e única para 
a criminalidade e suas causas, ou das razões pelas quais se chega a ser delinquente ou vítima de um 
delito. Esta dificuldade se dá, dentre outras coisas, pelo próprio condicionamento histórico, ideológico 
e cultural destas realidades, que dificultam uma visão abstrata e com pretensão de validade universal 
e, ao mesmo tempo, pela pluralidade de aspectos e fatores concorrentes, impossíveis de reconduzir 
a um denominador comum que não seja uma vaga e demasiadamente abstrata invocação à própria 
condição humana de todos os envolvidos neste tipo de problema.
O próprio fato de se pretender elevar à categoria de dogma uma determinada teoria (seja 
etiológica ou definicionista) obriga a excluir outras que defendem diferentes pontos de vista acerca da 
explicação do fenômeno delinquencial.
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Criminologia
Abaixo um caso apresentado por Fletcher (1998, p. 186) que pode servir de parâmetro para 
uma análise etiológica da criminalidade.
Josh Norman maltratava constantemente sua esposa Judy. Quando estava embriagado, a 
agredia. Diante de seus familiares e amigos, em plena rua, zombava de sua esposa. Após quase 
vinte anos, depois de haver recebido sua habitual surra, Judy, com a pistola que o marido 
guardava na gaveta do criado mudo, disparou contra ele um tiro na nuca.
Assim, por exemplo, ao se analisar os pontos de vista empíricos possíveis no caso exposto 
acima, nota-se a personalidade violenta e sádica do marido, provavelmente produto de uma educação 
machista, muito primitiva, com uma atitude de desprezo sobre a figura da mulher, consequência, 
também, provavelmente, de uma deficiente aprendizagem de convivência no seio de sua própria 
família. Igualmente relevantes podem ser também as dificuldades econômicas e as condicionantes 
marginais de vida do casal, a prostituição, o proxenetismo e o alcoolismo.
Criminologicamente interessante é, também, a personalidade da mulher, capaz de aguentar 
de forma submissa durante vários anos os maus-tratos e as humilhações impostas, até o dia em que o 
ódio, o medo e a tensão acumulados determinam uma reação explosiva de violência contra o marido.
Também é detectável o mau funcionamento dos serviços de assistência social e de ajuda 
psicológica às mulheres maltratadas, e dos próprios órgãos policiais e judiciais que não intervieram 
quando a mulher era objeto de maus-tratos contínuos, entre outras coisas, porque tampouco 
se dispunha na Espanha, onde o fato ocorreu, na época, de instrumentos legislativos que lhes 
permitissem adotar as medidas cautelares ou preventivas. Outro fator presente no caso exposto é a 
própria cumplicidade de uma sociedade que durante muitos anos tem silenciado ou tolerado esses 
tipos de fatos, por considerá-los questões de intimidade familiar no qual é melhor não se envolver ou, 
pior ainda, considerá-las quase aceitáveis. Atualmente, há previsão legal, com punições severas, para 
esses casos em quase todos os países, como é o caso da Lei Maria da Penha aqui no Brasil.
É difícil decidir em abstrato qual destes fatores tem maior peso no que tange a estesfatos, mas 
é evidente que, de início, é preciso uma valoração global dos mesmos e tê-los em conta na hora de 
adotar uma Política Criminal eficiente é uma regulamentação jurídica adequada ao problema.
Com todas as reservas que devemos levar em conta quando se trata de explicar algumas 
teorias que não têm conseguido, muitas vezes, passar de mera hipótese ou de particularismo, que 
somente permite aplicá-las em algum caso concreto, passa-se agora a expor, de forma meramente 
exemplificativa, os aspectos mais destacados das distintas teorias e saberes acumulados sobre o autor 
do delito, a criminalidade e os processos de criminalização.
Isto pode servir, ao mesmo tempo, para um rápido retrocesso histórico da Criminologia, tratado 
na Unidade I, desde sua aparição até finais do século XIX como disciplina científica com as teorias 
lombrosianas sobre o delinquente nato, até o giro radical que sofreu, a partir das últimas décadas do 
século XX, com as teorias da criminalização ou da criminalidade como resultado de um processo de 
etiquetamento ou definição, passando pelas teorias da socialização deficiente e dos conflitos estruturais 
que tiveram seu máximo apogeu entre os anos trinta e cinquenta do século passado.
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Criminologia
Interessante ressaltar que o ato ou a prática do proxenetismo conduz a mediação à libidinagem 
alheia, favorecimento da prostituição, manutenção de prostíbulos ou de lugar destinado a fins libidinosos, 
induzindo ou forçando alguém a satisfazer a lascívia de outrem, por interesse financeiro ou não.
1.1 Teorias biológicas (ou sobre o indivíduo defeituoso)
Conde e Hassemer (2008, p. 23-24), em sua obra, apresentam os três casos a seguir, sobre 
os quais nos debruçaremos para tentar localizar ou, ao menos, procurar compreender os fatores 
criminológicos motivadores de tais condutas.
Vejamos três casos que poderão ser analisados:
• Caso 1
Mário padece de transtornos psíquicos, sobretudo, desde que sofreu um acidente de trânsito 
que resultou numa lesão grave e, segundo ditames médicos, com danos cerebrais. Desde então, Mário 
tem um comportamento agressivo e violento com seus filhos e sua mulher. Esta, por conta disso, 
decide pleitear a separação judicial impetrando o correspondente processo, em que solicita ficar no 
domicílio conjugal com a custódia dos filhos, o que é atendido pelo Juiz de Família, concedendo a 
Mário, com a oposição da mulher, o direito de estar como os filhos nos sábados à tarde. Durante 
um desses encontros, Mário estrangula a filha de 4 anos na presença do outro filho de 9 anos e, em 
seguida, se entrega à polícia, declarando que matou a filha “porque, assim, deixou na mãe uma estaca 
fincada em seu coração por toda sua vida”.
• Caso 2
Jesus era um jovem tímido e humilde, tendo passado parte de sua infância em um orfanato, onde 
era, frequentemente, vítima de abusos sexuais por parte dos funcionários da casa de custódia. Já adulto, 
mostra tendências homossexuais, demonstrando interesse por meninos da mesma idade que tinha 
quando estava no orfanato. O rapaz se envergonha destas tendências, as quais tem grande dificuldade de 
reprimir, sobretudo, quando se encontra a sós com os pequenos em parques, redondezas de colégios etc. 
Um dia convida um destes meninos para acompanhar-lhe na compra de algumas guloseimas, levando-o 
a um local, onde tenta abusar sexualmente da criança. Diante dos protestos e do pranto desesperado do 
menino, Jesus perde o controle e, temendo ser descoberto, golpeia, com uma pedra, repetidas vezes a 
criança, provocando sua morte. Posteriormente, assustado pelo que fez, tampa o cadáver com algumas 
plantas e durante a noite joga-o em um terreno baldio existente próximo ao local do fato.
• Caso 3
“Um cidadão japonês, residente em Paris, recebe aulas de alemão com uma jovem e atraente 
estudante holandesa em seu apartamento duas vezes por semana. Apaixonado por ela, um dia lhe 
pediu para terem relações sexuais, tendo a jovem negado. Irritado pela recusa, o cidadão japonês 
disparou uma pistola, matando-a. Em seguida, esquartejou o cadáver, colocando os pedaços em 
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Criminologia
duas maletas, e enterrou num bosque, guardando partes do corpo (seios e órgãos genitais) em um 
frigorífico, comendo-os posteriormente” (HISAO, 1994, p. 784).
A primeira coisa que pensa uma pessoa que se considera “normal” e não se atreve sequer a 
imaginar o que pode levar a comportamentos como os relatados acima, é que aquele que atua dessa 
forma tem “algo podre” ou diferente em seu interior, algo que não funciona bem.
Durante séculos, várias teorias de caráter moral e religioso foram formuladas sobre as razões 
desse tipo de comportamento, dado que a preocupação pelos delitos violentos, que implicam ataques 
à vida, à propriedade ou à liberdade sexual das pessoas, constitui o núcleo que sustentou a imagem 
relativamente constante e homogênea do Direito Penal em todos os países de nossa área de cultura 
ocidental através dos tempos.
Foi no princípio do século XIX que se deu início ao estudo científico destes fatos, com a 
aplicação de uma metodologia baseada fundamentalmente na experimentação e no estudo científico da 
individualidade corporal e psíquica dos autores. Vejamos agora os pontos mais importantes destas teses.
• A tese de Lombroso
Como vimos na Unidade I, o início desta etapa científica, que deu lugar ao nascimento da 
Criminologia como disciplina científica autônoma, se deve, sobretudo, ao médico italiano Cesare 
Lombroso (1835-1909), que em sua obra L’Uomo delinqüente (1ª edição de 1876 e 5ª edição de 1897) e, 
posteriormente, em muitas outras, formulou e desenvolveu sua teoria do delinquente nato. Uma espécie 
de ser atávico, degenerado, marcado por uma série de estigmas corporais perfeitamente identificáveis 
anatomicamente, como anomalias do crânio, fronte esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos 
arcos supraciliais, assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, orelhas em forma de asa, 
maçãs do rosto proeminentes, braçada superior à estatura etc.
Naturalmente, o próprio Lombroso reconheceu que esta descrição correspondia, sobretudo, 
a delinquentes violentos e que, junto a eles, havia também outros tipos de delinquentes que ele 
classificava distinguindo entre loucos morais, epilépticos, ocasionais e passionais.
Dedicou também trabalhos a delinquentes políticos e à mulher delinquente. E, finalmente, por influência 
de seu discípulo Ferri (Sociologia Criminal), reconheceu também a influência de outros fatores de caráter social 
na gênese da delinquência, mantendo suas teses biologicistas e antropomórficas até o final de seus dias.
A título de exemplo destas anomalias ou particularidades anatômicas, que também acreditava 
ver em outros tipos de delinquentes, vale citar a seguinte passagem retirada de sua obra capital “O 
Homem delinquente”. (LOMBROSO, 2001, p. 22-23).
Os ladrões têm, em geral, marcas no rosto e as mãos muito móveis; seus olhos são pequenos, 
inquietos, muitas vezes estrábicos; sobrancelhas largas; o nariz encurvado ou empinado; 
barba escassa; pouco cabelo; a frente quase sempre pequena e esguia; as orelhas em forma 
de asa. Os assassinos têm um olhar frio, duro; seus olhos estão injetados de sangue. O nariz 
grande; muitas vezes apresentam sinais de bom humor e perspicácia; mandíbulas fortes e 
ossudas; orelhas grandes; amplas bochechas; cabelos crespos, abundantes e escuros; barba 
frequentemente escassa; lábios finos; arcadas grandes.
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Criminologia
Junto com Ferri e Garofalo constituiu a chamada Escola Positiva que, frente à Escola Clássica, 
se caracterizava pela aplicação de um método experimental e pela negação da culpabilidade individual 
e do livre-arbítrio como seu fundamento.
As principais contribuições da Escola Positiva ao desenvolvimento da Criminologianão são, 
todavia, as teses defendidas por seus mais importantes representantes, mas o método empregado para 
chegar a fundamentá-las.
Com efeito, em pleno apogeu das ciências naturais e do método experimental, era lógico que 
se propugnava fazer o mesmo com o protagonista principal do delito: o delinquente, submetendo-o 
à observação, analisando e medindo seus dados corporais, investigando suas anomalias anatômicas 
internas quando falecidos, submetendo-os à necrópsia, medindo seus crânios etc.
Tudo isso não de forma isolada ou insignificante, mas sistemática, apontando e classificando 
o rico material encontrado nos indivíduos que serviam de objeto de experimentos, principalmente 
reclusos condenados por diversos e graves delitos (assassinos e estupradores, sobretudo).
• Teorias baseadas na predisposição genética e cromossômica (investigações 
sobre gêmeos)
O fracasso das concepções mais primitivas das teses lombrosianas, como explicação das 
causas da criminalidade através da constatação de determinadas anomalias anatômicas no corpo dos 
delinquentes, não acarretou o abandono de outras teses biológicas que, apesar de não pretenderem 
a validez absoluta como as formulações da teoria de Lombroso, ao menos consideram que alguns 
dados biológicos do ser humano em níveis genéticos, cromossômicos, endócrinos, neurofisiológicos, 
bioquímicos etc. predispõem a realização de certas condutas e, portanto, também a execução de delitos.
Referidas teses têm a seu favor, importantes avanços produzidos nesta matéria nos últimos anos, 
culminando em fevereiro de 2001 na publicação do mapa do genoma humano que, sem dúvida alguma, 
irá provocar também alguma reinterpretação das teses biológicas já formuladas ou a formulação de 
novas teses cujo alcance e consequências, para o Direito Penal, ainda não se podem prever.
Contudo, estes conhecimentos não levaram, até o momento, a nenhum dado concludente que 
permita atribuir as causas da criminalidade a determinados fatores biológicos do ser humano, ainda 
que algumas delas permitam formular hipóteses que podem ser úteis em alguns casos.
A seguir serão expostas as duas mais importantes teses biológicas, que se apoiam em determinadas 
características que se transmitem geneticamente e que formam, portanto, a “constituição hereditária” 
que o indivíduo recebe de seus genitores e o predispõe a realizar determinados comportamentos. Aqui 
também há uma alta dose de investigação empírica e algumas bases ideológicas que se fundamentam, 
sobretudo, nas concepções de Darwin sobre a evolução das espécies e nas teorias sobre as enfermidades 
hereditárias e sua prevenção mediante a esterilização de seus portadores (eugenia) defendidas, no 
final do século XIX, pelo médico inglês Francis Galton.
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Criminologia
A primeira tese biológica surgida após Lombroso foi nos anos sessenta, com o descobrimento 
de um novo cromossomo, o XYY ou cromossomo do duplo Y, que levou alguns a pensar que nele 
se encontrava a explicação das condutas violentas e agressivas, o que as investigações posteriores 
descartaram completamente, havendo inclusive dados que pareçam demonstrar o contrário, ou seja, 
que tal formação cromossômica em nada influiria no comportamento criminoso. Efetivamente, 
a trissomia cromossômica, denominada “síndrome do supermacho”, é uma anomalia que somente 
está presente em uma porcentagem mínima da população que, por sua vez, parece não ter maiores 
influências no comportamento individual.
A razão pela qual se atribuiu tanta importância na determinação do comportamento violento 
foi sua maior incidência nos homens, porque, elegendo uma vez mais isoladamente um determinado 
setor da população como amostra, investigou-se e detectou-se sua presença em maior número na 
população reclusa, na qual, por certo, a porcentagem era também mínima (entre 2% e 5% apresentam 
essa anomalia, uma porcentagem similar a existente na população não reclusa).
Maior importância do que a trissomia cromossômica citada acima, apresentam as investigações 
sobre a constituição genética e a possibilidade de sua transmissão hereditária. Antes mesmo de se chegar 
ao alto grau de desenvolvimento que atualmente tem alcançado a investigação genética, pensou-se que 
determinadas características ou peculiaridades do comportamento humano se transmitem hereditariamente 
da mesma forma que a cor dos olhos e muitas outras particularidades anatômicas, mentais, enfermidades 
etc. Era lógico, portanto, atribuir a esses dados alguma relevância na explicação da criminalidade.
Além disso, através das investigações genéticas propriamente ditas, levadas a cabo em 
laboratórios, buscou-se confirmar esta tese com estudos sobre os gêmeos, especialmente “univitelinos” 
ou “monozigóticos”, isto é, produto da fecundação de um só óvulo, no qual obviamente pensava-se 
dar tal similitude genética, e que esta podia muito bem explicar até que ponto o comportamento vem 
determinado por herança.
Foi o fisiólogo alemão Lange quem, em 1920, em um livro chamado “O delito como destino” 
(Verbrechen ais Schicksal), apresentou dados sobre as “concordâncias” do comportamento observado 
entre os gêmeos monozigóticos ou univitelinos. O grau de concordância observado por Lange era não só 
razoavelmente alto entre eles (tomando por base 17 pares de gêmeos univitelinos, Lange constatou que 
em 15 pares, quando um dos gêmeos apresentava comportamento criminoso ou antissocial, o mesmo 
ocorria com o outro, e somente em 3 pares de gêmeos univitelinos ocorria o contrário, ou seja, enquanto 
um cometia crime, o outro não), mas muito superior ao observado entre os gêmeos bivitelinos, quer 
dizer, de óvulos diferentes (2 concordâncias frente a 15 discordâncias). Posteriores investigações de 
outros autores confirmaram essas percentagens que trazem um índice aproximado de uns 67,3% das 
concordâncias entre os gêmeos univitelinos, frente a uns 67% das discordâncias entre os bivitelinos.
Não obstante, essas investigações foram questionadas por não terem em conta outros fatores 
de caráter social que, provavelmente, também influenciaram na conduta dos gêmeos univitelinos, 
inclusive mais que os próprios fatores genéticos, e porque, pelo que a conduta criminal se refere, não 
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Criminologia
apresentam resultados quantitativamente diferentes dos que se dão entre outros membros do mesmo 
grupo familiar, inclusive dos não relacionados geneticamente (adotivos, parentes não consanguíneos). 
Isso demonstra que, por mais importante que seja o condicionamento ou a predisposição genética na 
explicação da criminalidade em alguns casos, de modo geral, os fatores sociais e de outros tipos têm 
mais relevância. Com isso, chega-se uma vez mais à conclusão de que o delinquente não nasce, mas se 
faz (ou o fazem outros, como veremos mais adiante).
• Outras teorias biológicas
Outras teorias, também de caráter biológico sobre a criminalidade, diferente das 
genéticas, atribuem à criminalidade determinadas alterações patológicas do sistema endócrino ou 
neurofisiológico. Veremos a seguir, resumidamente, algumas delas.
A) Fatores Bioquímicos
Os estudos inseridos neste grupo utilizam como metodologia os doseamentos sanguíneos, tendo 
como objetivo identificar a quantidade de determinadas substâncias no organismo, incluindo-se nas mais 
referidas o colesterol e o açúcar (em escala metabólico), os hormônios (em âmbito neuroendócrino) e 
alguns neurotransmissores (neuroquímico). A seguir vamos compreendê-los melhor.
Metabolismo: Os estudos sobre colesterol mostram que a pouca quantidade deste na corrente 
sanguínea está positivamente correlacionada ao comportamento criminoso (VIRKKUNEN, 1987), 
apresentando, os criminosos, menor quantidade de colesterol no sangue do que os sujeitos não 
criminosos. A menor quantidade de açúcar no sangue é também associada ao comportamento 
criminoso (VIRKKUNEN,1987).
Como o álcool é frequentemente relacionado ao comportamento criminoso, foi também 
estudada a sua associação ao açúcar e ao colesterol. No que se refere ao açúcar, foi demonstrado 
(VIRKKUNEN, 1987) que fisiologicamente o álcool facilita a diminuição do açúcar na corrente 
sanguínea por inibição da produção de glicose hepática. Deste modo, o álcool ao fazer diminuir a 
quantidade de açúcar no sangue pode ser apontado como um fator facilitador do crime.
Hormônios: No que diz respeito ao nível neuroendócrino, o hormônio mais estudado é a testosterona, 
sendo geralmente utilizados dois tipos de população: criminosos e sujeitos não criminosos, recolhendo para 
os criminosos dados sobre o seu crime, enquanto para os não criminosos são usados questionários sobre 
agressividade. Assim, nas investigações que utilizam sujeitos não criminosos com altos níveis de testosterona, 
os resultados são muito variáveis e até contraditórios, concluindo-se por vezes que não há correlações entre 
testosterona e agressividade ou então que existem correlações positivas elevadas (RUBIN, 1987).
Nos trabalhos realizados com criminosos (OLWEUS, 1987; RUBIN, 1987; SCHALLING, 1987) os 
resultados são mais consistentes e, apesar de, por vezes, não serem significativos, referem que os criminosos 
apresentam maior quantidade de testosterona do que os sujeitos não criminosos, existindo também 
correlações positivas elevadas entre este hormônio e a agressividade avaliada através de questionários.
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Criminologia
Por fim, quanto aos hormônios femininos, há poucos estudos efetuados e estes se centram 
na progesterona, apresentando resultados inconsistentes (RUBIN, 1987; WIDOM & AMES, 1988) e 
associando essencialmente o crime às fases do ciclo menstrual ou à menopausa.
Neurotransmissores: Relativamente aos estudos de tipo neuroquímico, é amplamente 
reconhecido que as influências neuroquímicas no comportamento ocorrem desde o desenvolvimento 
intrauterino do sistema nervoso. Deste modo, situações que afetem o normal desenvolvimento do 
sistema nervoso afetam o seu funcionamento futuro, como, por exemplo, a subnutrição, que segundo 
alguns autores estaria associada à maior agressividade (RUBIN, 1987).
Algumas das substâncias mais estudadas (RUBIN, 1987; MAGNUSSON, 1988; VIRKKUNEN, 
1988; BADER, 1994) são a serotonina, que existiria em menor quantidade nos criminosos, o ácido 
fenilacético, que existiria em maior quantidade nos criminosos, e a norepinefrina, que apresentaria 
correlações positivas significativas com o crime.
Num estudo de revisão de literatura sobre a relação entre a quantidade de monoaminaoxidase 
e o crime, Ellis (1991) refere que é possível concluir que a baixa atividade desta substância de 
neurotransmissão aparece associada à desinibição do comportamento, refletindo, contudo, na ligação 
com o crime, influências da serotonina e de hormônios sexuais.
B) Fatores Neurológicos
Os estudos que se enquadram nesta categoria socorrem-se, sobretudo, de testes 
neuropsicológicos, como, por exemplo, Bateria Neuropsicológica de Luria e Teste de Retenção Visual 
de Benton. Tais testes utilizam um modelo experimental, efetuando comparações entre sujeitos 
criminosos e não criminosos. 
 Este tipo de estudos (BUIKHUISEN, 1987; HARE & CONNOLLY, 1987; 
NACHSHON & DENNO, 1987; PINCUS, 1993) associa as desordens do comportamento a lesões 
cerebrais, essencialmente no hemisfério esquerdo, e está mais associada a sujeitos de classes sociais 
economicamente desfavorecidas.
Curiosidade
Você sabe por que alguns autores relacionam a subnutrição a uma maior agressivi-
dade? Resposta: Porque a subnutrição compromete o desenvolvimento do sistema 
neurológico e, consequentemente, a concentração de diferentes neurotransmissores, 
como a dopamina e a serotonina, que estão relacionadas ao comportamento.
Há autores (MANNHEIEM, 1984) que sugerem como explicação o fato dos sujeitos destas classes 
terem mais dificuldade no tratamento destas lesões, o que favoreceria as dificuldades de aprendizagem e 
a não interiorização das normas, levando ao desenvolvimento do comportamento criminoso.
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Criminologia
Os estudos referem também que a maior parte das disfunções neuropsicológicas encontradas 
está associada às alterações no lobo frontal e nos lobos temporais. Pois o lobo frontal comanda a 
regulação e inibição de comportamentos, a formação de planos e intenções, e a verificação do 
comportamento complexo.
As lesões no lobo frontal têm como consequência dificuldades de atenção, concentração e 
motivação, aumento da impulsividade e da desinibição, perda do autocontrole, dificuldades em se 
culpabilizar, desinibição sexual, dificuldade de avaliação das consequências das ações praticadas, aumento 
do comportamento agressivo e aumento da sensibilidade ao álcool (sintomas positivamente correlacionados 
ao comportamento criminoso), bem como incapacidade de aprendizagem com a experiência (sintoma 
correlacionado positivamente à alta incidência de recidivas entre alguns tipos de criminosos).
Já os lobos temporais regulam a vida emocional, sentimentos e instintos, e comandam 
as respostas viscerais a alterações ambientais, apresentando às suas lesões também inúmeras 
consequências, de que se destacam a dificuldade de experienciar emoções, como o medo e outras 
emoções negativas, com a consequente incapacidade de desenvolvimento do sentimento de medo das 
sanções, que parece também ser frequente nos criminosos.
Como conclusão, pode-se dizer que neste tipo de estudo o crime é associado a lesões em áreas 
cerebrais específicas, apesar dos conhecimentos de tipo neurológico terem já renunciado à descoberta 
de centros nervosos específicos no comando de um determinado comportamento, embora continuem 
a considerar o cérebro como o instrumento que permite o diálogo entre o indivíduo e o meio.
C) Fatores Psicofisiológicos
Os estudos que fazem parte desta categoria baseiam-se essencialmente na mediação da ativação 
do sistema nervoso central, isto é, da intensidade da resposta, através de índices fisiológicos, como, 
por exemplo, a Atividade Elétrica da Pele, o Eletroencefalograma e o Eletrocardiograma, trabalhando, 
sobretudo, em contexto laboratorial.
Os estudos efetuados demonstraram que quer a ativação tônica (reação global do sujeito na 
ausência de estimulação específica) quer a ativação fáscia* (reação à estimulação específica) é menor nos 
criminosos, apresentando este menor ritmo cardíaco, menor nível de condutância da pele e maior tempo 
de resposta na atividade elétrica da pele, bem como registros eletroencefalográficos com anormalidade, 
sendo estes mais graves nos criminosos reincidentes (FOWLES, 1980; HEMMING, 1981; RAINE & 
VENABLES, 1984; SATTERFI ELD, 1987; VOLAVKA, 1987; HODGINS & GRUNAU, 1988; MILSTEIN, 
1988; RAINE, 1988; VENABLES, 1988; BUIKHUISEN, EURELINGS-BONTEKOE & HOST, 1989; 
PATRICK, CUTHBERT & LANG, 1994). Por exemplo, nos psicopatas, praticamente nenhuma imagem, 
por mais chocante que seja, provocará qualquer ativação fásica, o que ocorreria em alguém normal.
Acabamos de estudar algumas teorias que buscam suas fundamentações e justificativas 
relacionando fatores bioquímicos, predisposição genética ou deformações físicas. Mas o que achou 
dessas teorias? Elas podem ser aplicadas em nossa realidade? Reflita um pouco sobre isso.
12
Criminologia
Não obstante, convém ao menos mencionar que em algumas investigações atribui-se uma 
maior tendência para a prática de delitos sexuais violentos a um excesso de testosterona; as reações 
explosivas de violência, a disritmias cerebrais mínimas; a maior agressividade da mulher durante o 
período menstrual, aos transtornos hormonais, sem que nenhuma destas teorias tenha chegado a 
impor-se por si só como explicações válidas da criminalidade, nem sequer favorável a isso, além deservir para explicar o comportamento brusco ou deselegante, ou as mudanças de humor repentino ou 
determinados momentos da vida cotidiana, situações e circunstâncias habituais como a falta de sono, 
o estresse, a dor, a fome, o clima, sem que por isso se considere que estes são os fatores que, de um 
modo geral, determinam nosso comportamento.
Maior importância explicativa tem a ingestão de determinadas substâncias como o álcool, ou 
qualquer outro tipo de drogas, legais ou ilegais, cujo consumo modifica o comportamento humano. 
Mas isso é produto muito mais da aprendizagem social, que incide de maneira diferente em cada 
indivíduo, não podendo ser utilizada como explicação geral da criminalidade.
• As teses psiquiátricas
Você acha possível que a sua constituição corporal ou pelo fato de ser uma pessoa insegura 
podem dizer que você tem uma maior tendência para cometer furtos, estelionato ou até mesmo ser 
um psicopata? Pois é, esse é a assunto que estudaremos durante a leitura das teses psiquiátricas.
O êxito das teses lombrosianas foi enorme e, já nos fins do século XIX, haviam conquistado 
grande quantidade de adeptos em todo mundo. Cientistas das mais diversas procedências se 
dedicaram a investigar as anomalias e defeitos corporais dos delinquentes, mas logo, à medida que 
os conhecimentos sobre os condicionamentos puramente anatômicos do comportamento humano 
foram sendo considerados insuficientes para explicar por si só as causas da criminalidade, surgiram 
outras teses, em parte complementares, em parte críticas às concepções lombrosianas.
Fundamental nesta reinterpretação da etiologia criminal foi a Psiquiatria, que já havia 
logrado grande desenvolvimento como especialidade médica e que, como ciência, não só se ocupa 
das enfermidades mentais de base somática postulada ou conhecida, mas também das que são puras 
reações vivenciais anormais. Detectou, assim, que muitos delinquentes apresentavam anomalias 
psíquicas mais importantes que as anatômicas para explicar a gênese do comportamento criminal.
Daí a associação “criminalidade” com “enfermidade mental” ou com certas anomalias 
constitucionais logo ocorreu. Dentre as diversas teses psiquiátricas sobre os elementos característicos da 
chamada “personalidade criminal” deve-se destacar a de dois psiquiatras alemães, Kretschmer e Schneider.
Em 1921, Kretschmer formulou sua teoria, voltada exclusivamente para o sexo masculino, 
e que associava constituição corporal ao caráter das pessoas, além de uma predisposição no 
desenvolvimento de certas enfermidades mentais e a prática de determinados delitos.
13
Criminologia
Assim, distinguiu quatro tipos de constituição corporal:
Leptossômicos: pessoas de baixa estatura, tórax largo, peito fundo, cabeça pequena, pés e 
mãos curtos, cabelo crespo, e que teriam tendência a desenvolver esquizofrenia.
Atlético: pessoas de estatura mediana, tórax largo, fortes musculatura e estrutura óssea, 
pescoço robusto, face uniforme, pés e mãos grandes, cabelos fortes, e que teriam predisposição a 
desenvolver um quadro chamado de epilepsia de pequeno mal.
Pícnicos: pessoas de tórax pequeno, fundo, curvado, formas arredondadas e femininas, 
pescoço curto, cabeça grande e arredondada, face larga, pés e mãos curtos, cabelos curtos e que teriam 
tendência a desenvolver transtorno bipolar.
Displásicos: pessoas com crescimento anormal, corpo desproporcional, com predisposição a 
se tornarem criminosos sexuais, num quadro atualmente denominado de parafilia.
Apesar de sua investigação ter sido realizada de forma metódica, chegando a analisar mais de 
quatro mil pessoas, sua contribuição teve maior importância para a classificação de grupo de pessoas 
em Psicologia e Psicopatologia que para a investigação criminal.
Na Criminologia, entretanto, deu lugar à teoria dos tipos de autor (Tátertypenlehre) muito 
utilizada na Alemanha durante o nacional-socialismo, impregnada de fortes conotações racistas e 
utilizada para justificar, nas palavras de Mezger (1942, p. 284), “a eliminação (Ausmerzung) de 
elementos danosos para o povo e para raça”.
Também devemos citar as teorias do psiquiatra alemão Kurt Schneider que, em 1923, 
desenvolveu o conceito de personalidades psicóticas, concebendo-as como uma forma anormal de 
personalidade caracterizada por uma alteração na afetividade, nos sentimentos individuais. Schneider 
chegou a enunciar distintas formas de personalidade psicóticas ou psicopatas (hipertímicos, 
deprimidos, inseguros, fanáticos, com afã de notoriedade, amáveis de humor, desalmados, apáticos 
e astênicos), atribuindo a cada uma delas distintas formas de conduta que podiam ter relevância, 
sobretudo no caso dos desalmados, sujeitos que carecem de compaixão, vergonha, sentido de honra, 
arrependimentos e consciência moral, considerados incorrigíveis por Schneider.
O mais importante desta contribuição é ter ressaltado que estes tipos de anomalias são 
mais de caráter que de inteligência ou de qualquer outra faculdade psíquica, não tendo uma base 
somática e, portanto, consideram-se estas pessoas plenamente responsáveis, apesar de, por sua 
personalidade, terem a tendência a realizar determinadas condutas criminais.
O conceito de “psicopatia” se converteu, assim, em uma espécie de conceito de referência que 
se utiliza para incluir e explicar todos os comportamentos anômalos, social ou criminalmente falando, 
que não são passíveis de se reconduzir às enfermidades mentais propriamente ditas (psicose e neurose) 
ou às oligofrenias. Seu conteúdo não é nada preciso e o mesmo Schneider (1965, p. 41) define as 
personalidades psicóticas como “aquelas personalidades que sofrem por causa de sua anormalidade 
ou por cuja anormalidade sofre a sociedade”, o que, em verdade, pouco ajuda em sua precisão.
14
Criminologia
A moderna Psiquiatria atribui mais o sentido de “sociopatas”, concebendo-os como pessoas 
com transtornos em seu processo de socialização e na aprendizagem dos valoras morais básicos, que 
os levam a provocar conflitos na convivência e, evidentemente, na comissão de delitos.
Naturalmente, com esta concepção dos psicopatas, pode-se considerar que muitos delinquentes 
o são porque a indiferença para com os valores jurídicos, a falta de escrúpulos, a ambição desmedida, 
o egoísmo e a ausência de sentimento de culpa são os fatores principais de determinados tipos de 
delitos e não somente dos violentos, mas também e, sobretudo, algo que muitas vezes se esquece, das 
grandes fraudes por um afã imoderado de lucro em prejuízo das grandes massas da população.
Mais que uma explicação da criminalidade, descreve, simplesmente, a parte negativa da 
condição humana, pelo qual dificilmente se pode valorar em si mesma como uma explicação 
suficiente da conduta criminal.
Nota
Oligofrenia (do grego, olígos = pouco; phrěn → phrenós = espírito, inteligência) designa a gama 
de casos onde há um deficit de inteligência no ser humano, compondo a chamada tríade oligofrênica: 
debilidade, imbecilidade e idiotia. Organismos internacionais e associações de portadores, tipo APAE 
ou UNICEF, têm recomendado a utilização de termos como Portadores de Necessidades Especiais no 
lugar de expressões como Cretino, Idiota, Imbecil, que, apesar de termos científicos oriundos do início 
da história da medicina, ao longo do tempo adquiriram um sentido conotativo de ofensa que dificulta 
sua inclusão social. Por outro lado, sua utilização foi um grande avanço para época em substituição da 
crença de indivíduos amaldiçoados ou possuídos pelo demônio.
Por outra parte, sua falta de conexão com fatores biológicos ou determinadas constituições 
somáticas, como o próprio Schneider reconhece, dificulta a prova de sua própria existência, 
recorrendo-se, muitas vezes, às psicopatias na práxis médica, mas também na judicial e penitenciária, 
comouma “caixa de surpresas” ou capítulo classificatório no qual se incluem todas aquelas 
anomalias do comportamento que não são enquadráveis em outras categorias melhores delimitadas 
psiquiatricamente, como são as psicoses ou as neuroses.
A Associação Americana de Psiquiatria (1990) assim caracteriza o “transtorno sociopático da 
personalidade” ou “Distúrbio Antissocial de Personalidade”:
O termo se utiliza para indivíduos de comportamento habitualmente antissocial, que se 
apresentam sempre inquietos, incapazes de extrair qualquer experiência dos fatos passados ou dos 
castigos recebidos. Soem ser insensíveis e hedonistas, de imaturidade emocional muito acentuada, 
carentes de responsabilidade e de juízo, e com muita habilidade para racionalizar seu comportamento 
de modo a que pareça correto, sensato e justificado. (VARGAS, 1990).
Os psicopatas começam a manifestar sua psicopatia desde a infância e adolescência, e não 
se modificam. A conduta antissocial começa desde a infância, caracterizada por atitudes de mentir, 
roubar, falsificar cheques, prostituir-se, assaltar, maltratar animais etc. Nota-se, desde tenra idade, 
15
Criminologia
uma ausência da capacidade de sentimento de culpa e de arrependimento. Quando teatralizam esses 
sentimentos o fazem simplesmente para conseguir uma atenuação da pena. 
Na sua relação com o sistema, o psicopata pode manifestar três tipos de condutas, as quais, 
como veremos, confundem mais ainda as opiniões a seu respeito:
Conduta normal: é sua parte teatralmente adaptada ao padrão de comportamento normal e 
desejável. Assim agindo, o sistema não o percebe e pode até atribuir-lhe adjetivos elogiosos. Como diz 
o ditado “o maior mérito do demônio é convencer a todos que ele não existe”.
Conduta psicopática: é a inevitável manifestação de suas condutas psicopáticas, as quais, 
mais cedo ou mais tarde, obrigatoriamente se farão sentir. Entretanto, como o psicopata costuma 
ser intelectualmente privilegiado, ele não exerce sua psicopatia indistintamente com todos e todo o 
tempo. Ele elege sabiamente determinadas pessoas, vítimas ou circunstâncias.
Rompante (surto) psicopático: é a conduta psicopática desestabilizada e que foge ao controle 
eletivo próprio do item anterior (conduta psicopática dirigida). Diante de grande instabilidade 
emocional e explosiva tensão interna, o psicopata trata de equilibrar-se através do rito psicopático, 
grupo de condutas repetitivas, constituindo o padrão psicopático. Nessa situação, surgem impulsos e 
automatismos que acabam resultando nos assassinos em série ou extremamente cruéis, as violações, 
destruições e, algumas poucas vezes, suicídios.
Entre os assassinos em série se distinguem dois tipos: os paranoicos e os psicopatas. O 
primeiro atua em consequência de seus delírios paranoides, quer dizer, ouve vozes ou tem 
alucinações que o induzem ao assassinato. Este tipo não costuma ter juízo crítico de seus atos.
Já o tipo psicopata é muito mais perigoso. Devido à sua capacidade de fingir emoções e 
se apresentar extremamente sedutor, consegue sempre enganar suas vítimas. O psicopata busca 
constantemente seu próprio prazer, é solitário, muito sociável e de aspecto encantador. Ele tem a 
sólida convicção de que tudo lhe é permitido, se excita com o risco e com o proibido. Quando mata, 
tem como objetivo final humilhar a vítima para reafirmar sua autoridade e realizar sua autoestima. 
Para ele, o crime é secundário, e o que interessa, de fato, é o desejo de dominar, de sentir-se superior. 
Esse assunto será mais detalhado na Unidade V quando tratamos da Psiquiatria Forense.
Quanto à sua forma de atuar, os assassinos em série se dividem em organizados e 
desorganizados. Organizados são aqueles mais astutos e que preparam os crimes minuciosamente, 
sem deixar pistas que os identifiquem. Os desorganizados, mais impulsivos e menos calculistas, 
atuam sem se preocupar com eventuais erros cometidos.
Uma vez capturados, os assassinos em série podem confessar seus crimes, às vezes 
atribuindo-os à característica de serem mais vítimas que aquelas que, na realidade, assassinaram. 
De modo geral, todos eles experimentam um terrível afã de celebridade.
16
Criminologia
As mulheres assassinas em série representam apenas 11% dos casos. Em geral, são muito 
menos violentas que os assassinos masculinos e raramente cometem um homicídio de caráter sexual. 
Quando matam, não costumam utilizar armas de fogo e raramente usam armas brancas, sendo a 
preferência os métodos mais discretos e sensíveis, como, por exemplo, o veneno. Elas costumam ser 
mais metódicas e cuidadosas que os homens.
Normalmente as mulheres assassinas planejam o crime meticulosamente e de uma maneira sutil, 
apresentando-os como verdadeiros quebra-cabeças aos investigadores. Essa peculiaridade inteligente faz 
com que possa passar muito tempo antes que a polícia consiga identificar e localizar a assassina.
Adiante estudaremos a Criminalidade Feminina (Tópico 2.6).
Entretanto, vários outros estudos têm investigado grupos específicos de pacientes, não só com 
transtornos de personalidade, como é o caso dos psicopatas, mas com outro tipo de patologia, chamada 
de transtornos mentais, com a finalidade de estabelecer correlações entre comportamento violento ou 
homicida e variáveis sociodemográficas e psicopatológicas. Sem dúvida, a esquizofrenia é o transtorno 
mental mais bem estudado neste aspecto. A partir de agora, vamos estudar o comportamento violento 
ou homicida entre pacientes com transtornos mentais específicos.
A) Esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo e transtorno delirante (As teses psiquiátricas)
Em um estudo realizado por Schwartz et al. (2003) foram selecionados 267 pacientes com 
diagnóstico de esquizofrenia que faziam acompanhamento contínuo por um período de seis meses 
ou mais. Foi encontrada uma correlação significativa entre sintomas maníacos, psicóticos e prejuízo 
do funcionamento global e ideação e tentativa de homicídio, reforçando a suposição de que a falta de 
teste de realidade, julgamento, comunicação e outras áreas do funcionamento podem contribuir para 
o comportamento violento ou homicida. Joyal et al. (2004) avaliaram 58 pacientes com diagnóstico 
de esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo, que foram condenados por homicídio ou tentativa de 
homicídio e encaminhados para tratamento em hospital forense. Foi encontrado que a maioria (86%) 
dos homicidas tinha uma relação pessoal ou profissional com a vítima. Os atos violentos aconteceram 
com maior frequência na residência privada (78%), do que em local público (22%). Entretanto, aqueles 
com transtorno de personalidade antissocial associado, com maior frequência, agrediram pessoas 
não-membros de sua família ou residência. A forma paranoide de esquizofrenia foi a mais comum, 
sendo que 60% dos homicídios se seguiram a alucinações e delírios diretamente relacionados a eles.
Curiosidade
Um achado interessante é que uma proporção significativamente maior de pacien-
tes sem transtorno de personalidade antissocial (83%), quando comparada àqueles 
com este tipo de transtorno (46%), foi influenciada por sintomas psicóticos no 
momento do crime.
17
Criminologia
Outro estudo examinou os antecedentes criminais de 2.861 indivíduos que tiveram uma 
primeira internação hospitalar devido à esquizofrenia, dos anos de 1975 a 2000, sendo comparados 
a igual número de indivíduos na comunidade, comparados por idade, sexo e região residencial 
(WALLACE; MULLEN; BURGESS, 2004). Foram considerados atos violentos: agressão, lesão corporal 
séria e homicídio. Observou-se que os pacientes com esquizofrenia foram significativamente mais 
condenados por pelo menos um ato violento comparados aos indivíduos da comunidade (8,2% e 
1,8%, respectivamente). Comparados ao grupo controle, indivíduos com esquizofreniativeram um 
risco 3,6 a 6,6 vezes maior de ter pelo menos uma condenação por comportamento violento.
Alguns autores acreditam que em 45% dos casos o comportamento violento entre indivíduos 
com esquizofrenia é diretamente relacionado aos sintomas deste transtorno mental (JUNGINGER, 1996 
e SWANSON et al, 1997). Determinados sintomas psicóticos são mais associados a comportamento 
violento do que outros, tais como delírios de perseguição e alucinações auditivas. Já outros autores 
(APPELBAUM; ROBBINS; MONAHAN, 2000) não encontraram associação entre sintomas psicóticos 
ativos e comportamento violento. Uma alternativa para explicar esta questão é que pessoas com 
tendências prévias para comportamento violento ou homicida aumentam o risco de apresentar este 
comportamento quando desenvolvem o transtorno psicótico. Desta forma, a avaliação dos sintomas 
associados aos atos agressivos pode ser útil na avaliação do risco de violência nestes pacientes.
De acordo com Hodgins (1992), há dois grupos de pacientes com comportamento ofensivo 
na esquizofrenia: o primeiro, que é a maioria, composto por aqueles com comportamento 
antissocial desde a infância e adolescência; e o segundo, consistindo daqueles que iniciam 
comportamento ofensivo entre os 30 e 40 anos, entre os quais há um maior número de homicidas.
É possível que nesse grupo, pacientes mais velhos, os sintomas da doença (delírios, 
alucinações, perturbações da afetividade etc.) contribuam de forma mais significativa para 
o homicídio. O risco deste último, na esquizofrenia, aumenta quando o indivíduo é do sexo 
masculino, abusa de substâncias e não reside com a família.
Essa matéria – Doenças Mentais associadas a criminalidade, será estudada mais especificamente 
na Unidade V.
B) Transtornos afetivos (Transtorno Bipolar ou Psicose Maníaco-Depressiva) e (As teses 
psiquiátricas)
Dois estudos que acompanharam pessoas desde o seu nascimento até a idade adulta avaliaram 
o risco de criminalidade em pessoas que desenvolveram transtornos afetivos. A primeira destas 
investigações (TIIHONEN; ISOHANNI; RASANEN; KOIRANEN; MORING, 1997) incluiu 12.058 
indivíduos nascidos na Finlândia, em 1966. Em 1992, foram colhidas informações sobre tratamento 
psiquiátrico ambulatorial e hospitalar e condenações por crimes. Na idade de 26 anos, apenas seis 
homens (0,001%) e três mulheres (0,006%) receberam diagnóstico de transtorno afetivo grave. Dos 
seis homens, dois tinham sido condenados, um deles por crime violento. Nenhuma das três mulheres 
teve história de criminalidade.
18
Criminologia
Na Dinamarca, um estudo (HODGINS; MEDNICK; BRENANN; SCHULSINGER; 
ENGBERG, 1996) já citado, utilizou a mesma metodologia e forneceu dados mais confiáveis, já que 
examinou 324.401 indivíduos com idade entre 43 e 46 anos. Entre os homens, tiveram história de pelo 
menos uma prisão: 13% daqueles que nunca haviam sido admitidos em tratamentos psiquiátricos, 
20% daqueles que foram admitidos com depressão psicótica e 27% daqueles com transtorno bipolar. 
Nas mulheres, de forma semelhante, 3,5% nunca tinham sido admitidas em unidades de tratamento 
psiquiátrico, 8% com depressão psicótica e 10% com transtorno bipolar tinham sido presas.
Outro dado encontrado é que o risco de delito violento foi maior entre os homens e mulheres 
com transtornos afetivos graves. Enquanto 3,3% dos homens e 0,2% das mulheres sem transtornos 
mentais tinham sido condenados por pelo menos um delito violento, isto aconteceu a 6,3% dos 
homens e 0,6% das mulheres com transtornos afetivos graves. 
Em um estudo com uma amostra de 495 prisioneiros no Canadá (COTE; HODGINS, 1990), 
foram encontradas taxas de prevalência de 17% de depressão maior e 4,8% de transtorno bipolar. 
Além disso, dois outros estudos encontraram taxas maiores de depressão entre indivíduos homicidas 
do que na população geral.
Um aspecto que não pode deixar de ser levado em consideração é que estes estudos subestimam 
a associação entre transtornos afetivos graves e homicídio, porque os homicidas que cometeram suicídio 
não foram incluídos, sendo que muitos destes poderiam apresentar transtornos afetivos graves.
Novamente em Quebec, Hodgins (2001) examinou uma amostra de pacientes com transtornos 
afetivos graves e esquizofrenia durante um período de 24 meses após alta de um hospital forense e 
dois hospitais psiquiátricos gerais. A amostra foi formada por pacientes do sexo masculino, sendo 30 
com diagnóstico de transtorno afetivo grave (18 com transtorno bipolar, 12 com depressão maior) e 74 
com esquizofrenia. Após o período de seguimento, 33% dos pacientes com transtornos afetivos graves 
e 15% daqueles com esquizofrenia cometeram delitos, a maioria violentos, de acordo com a definição 
do estudo (homicídio, tentativa de homicídio, assalto, posse e uso de armas de fogo e agressão sexual). 
Proporções iguais de pacientes com depressão maior (4 de 12) e transtorno bipolar (6 de 18) foram 
condenados durante o período de seguimento. Outro achado foi que o uso de drogas durante o período 
de seguimento pareceu estar mais fortemente relacionado ao comportamento violento entre pacientes 
com transtornos afetivos graves do que naqueles com esquizofrenia.
A maioria dos estudos que encontraram altas taxas de comportamento violento ou homicida 
em indivíduos com transtornos mentais graves retrata a situação europeia, cujos índices de violência 
são relativamente baixos, não podendo estes resultados serem generalizados para países com altas 
taxas de criminalidade e abuso de substâncias, como é o caso do Brasil. Há na literatura uma escassez 
de estudos sobre a relação entre homicídio e transtornos mentais nos países em desenvolvimento, 
onde é provável que as taxas de homicídios relacionados aos transtornos mentais seja baixa em relação 
aos homicídios “normais” (intencionais).
19
Criminologia
Um estudo epidemiológico no Brasil verificou que, na década de 1990, os homicídios se 
mantiveram como uma relevante causa de morte da população brasileira, situando-se, em primeiro 
lugar, entre as mortes por causas externas (PERES; SANTOS, 2005). As armas de fogo constituíram o 
principal instrumento na ação homicida na população total e nos dois sexos, sendo estas mortes, em 
grande parte, relacionadas à criminalidade urbana. Estes dados refletem que em países com elevadas 
taxas de homicídios, aqueles “normais” são muito mais comuns que os “anormais”. 
Embora diversos estudos mostrem uma associação significativa entre transtornos mentais graves 
e violência, ainda não está estabelecido porque alguns pacientes apresentam comportamento violento 
e outros não. Para Hodgins (2001), o comportamento violento está associado a fatores contextuais e 
individuais, como a repressão policial e a falta de tratamento psiquiátrico. Pessoas que apresentam 
abuso de substâncias têm um risco de 12 a 16 vezes maior de se envolver em comportamento violento 
do que outras que não usam substâncias.
Ressalte-se que a conduta criminosa se constitui em processo sociocultural, sendo que os 
indivíduos com transtornos mentais se inserem neste cenário. Assim, verifica-se que os fatores 
educacionais e de equilíbrio social contribuem para uma diminuição de comportamentos de 
violência na população em geral, como entre aqueles com transtornos mentais. Vale destacar 
que o transtorno mental pode funcionar como facilitador de comportamento violento, não como 
gerador de conduta criminal por si só.
É importante observar que, algumas vezes, podem ser encontradas pessoas que acumulam 
transtornos de personalidade com abuso de substâncias. Estas formam a maior parte de uma 
categoria ampla de pessoas com transtornos mentais que cometem homicídio. Indivíduos que 
apresentam transtornos mentais em combinação com transtorno de personalidade antissocial e 
abuso/dependência de substâncias são frequentemente rejeitados pelos clínicos e mais orientadospara o sistema de justiça criminal do que para o sistema de saúde mental.
De fato, um grande número de homicidas com transtornos mentais graves, descritos em 
diversos estudos, apresenta transtornos de personalidade ou de abuso/dependência de substâncias, 
de forma que é difícil saber a contribuição exata de cada transtorno para o comportamento homicida, 
quando os mesmos estão associados.
Há alguma preocupação de que o processo de desinstitucionalização, ou seja, saída de pessoas 
dos Manicômios Judiciários, tenha resultado em um aumento do número de pessoas com transtornos 
mentais graves que cometeram delitos, o que não está comprovado do ponto de vista científico. Isso se 
deve a uma carência de estudos sobre o número de pessoas com transtornos mentais presas antes da era da 
desinstitucionalização, bem como dados sobre comportamento criminal entre pessoas com transtornos 
mentais antes desta era. Certamente, as políticas de cuidados extra-hospitalares em saúde mental têm 
uma participação essencial na prevenção da criminalidade entre os indivíduos com transtornos mentais.
Mas hoje se sabe que programas de tratamento com múltiplas abordagens, visando atingir 
problemas específicos apresentados pelos pacientes, tais como abuso de substâncias, deficit de 
20
Criminologia
habilidades sociais e transtornos de personalidade, são mais efetivos do que abordagens tradicionais, 
centradas unicamente no tratamento farmacológico, podendo, desta forma, contribuir para prevenção 
do comportamento violento ou homicida.
É importante, pois, que os serviços de saúde mental trabalhem para prevenir a perda de contato 
e não-aderência ao tratamento, que frequentemente precedem o homicídio cometido por pessoas com 
transtornos mentais graves. Também é fundamental que a sociedade e autoridades governamentais 
atenuem barreiras de acesso a tratamento psiquiátrico e psicossocial.
Matéria também será estudada mais especificamente na Unidade 5 – Doenças Mentais 
Associadas à Criminalidade.
• As teorias biológicas: Erros e possibilidades
Hoje ninguém mais discute que Lombroso e sua escola incorreram em erros metodológicos. 
Em particular, não levaram em consideração que os internos de um centro penitenciário não estão 
isolados somente no plano espacial, mas também nos social e pessoal, e de tal forma que quando são 
tomados como objeto de investigação não se está estudando tão-somente as características pessoais 
que podem levar ao delito, mas também, e de forma inevitável, outras características que são frutos 
específicos das condições carcerárias.
No entanto, a presença iniludível de outras circunstâncias na população carcerária como, 
por exemplo, a influência no desenvolvimento corporal de relações problemáticas com os pais na 
tenra infância, o fato de pertencerem a uma determinada camada social, o desempenho de um ofício 
concreto, determina a possibilidade de isolar o objeto de investigação denominado “o corpo como 
fonte de criminalidade” de outros fatores não-corporais.
Muitas teorias biológicas de criminalidade posteriores a Lombroso e seus seguidores incorreram no 
mesmo erro, apresentando seus resultados como absolutos, em vez de oferecê-los com modéstia e realismo 
metódico, o que, em verdade, são: um elemento parcial dentro de um mais amplo sistema explicativo.
Somente para um observador ingênuo os resultados da investigação dos gêmeos podem 
parecer convincentes. Não se pode chegar a outras conclusões enquanto a investigação dos gêmeos 
monozigóticos não se complemente com a análise da possibilidade de que as coincidências de 
condutas entre ambos possa ser decorrência, em maior medida, da homogeneidade do meio social, 
do idêntico tratamento dado na infância pelos pais, inclusive vestindo-os com igual roupa, ou seja, da 
concorrência de fatores e condições idênticas no processo de socialização.
O mesmo pode ser dito sobre as teses que baseiam as tendências criminais na constituição 
corporal ou em determinadas anomalias da personalidade, pois tudo isso pode explicar alguns 
casos individuais, mas não admitem generalizações, nem oferecem resposta válida para todo tipo de 
criminalidade. A tendência que um indivíduo displásico pode apresentar a cometer delitos sexuais 
não apresenta maior fundamento que a atribuição de sexualidade mais forte para os indivíduos de cor 
morena. Tampouco a qualificação de uma pessoa como “personalidade psicopática” é um prognóstico 
seguro e confiável de que cometerá delitos no futuro.
21
Criminologia
Quem deseja esclarecer o fenômeno da “desviação criminal” através de investigações sobre 
a pessoa desviada in concreto tem que introduzir, entre os pressupostos de análise, o fato de que a 
desviação é um fenômeno de interação que se produz entre indivíduos que, além de um autor, exige 
uma vítima que, possivelmente e de algum modo, é dependente daquele em que a propensão ao delito 
pode surgir de situações favoráveis e desfavoráveis.
Em síntese, deve-se levar em consideração que todo conhecimento sobre as conexões biológicas 
do delito somente são suscetíveis de explicação se colocados em relação aos dados não-biológicos, e a 
relevância de tais condições obriga, em consequência, a relativizar aquele conhecimento.
As teorias biológicas da criminalidade têm que lutar, atualmente, em uma tríplice frente:
Primeiro, porque negam a base sobre a qual a doutrina penal tradicional defende que se possa 
fundamentar uma censura da culpabilidade sobre o autor de um delito e, em consequência, recebem 
dela a crítica e o rechaço.
Segundo, as teorias biológicas não oferecem à direção moderna do pensamento penal atual, 
orientado político-criminalmente, direção a qual propõe como critério de investigação uma perspectiva 
orientada às consequências, recebendo dela resignação e desinteresse. As teorias biológicas não se 
adaptam às orientações científico-sociais da Criminologia da maior parte dos países civilizados que, 
de certo modo, menosprezam e, inclusive, zombam delas.
Terceiro, as teorias biológicas carregam o peso das deformações realizadas pela ideologia 
político-criminal do nacional-socialismo e de outros regimes políticos totalitários, que utilizaram as 
teorias biológicas e do tipo do autor para elaborar leis racistas ou medidas de controle da chamada 
periculosidade social atribuída a sujeitos portadores de determinados defeitos ou patologias.
Também o Direito Penal atual se distancia das teorias biológicas. Suas propostas gerais sobre os 
fatores antropológicos do delito apenas exerceram concreta influência legislativa ou jurisprudencial. 
Isso parece lógico, pois quando tiveram alguma influência foi por caminhos tortuosos, quase sempre 
manipulados por interesses político-criminais ideologicamente condicionados, como ocorreu na 
Alemanha durante o nacional-socialismo.
Por seu lado, a dogmática penal se serviu e se serve das teorias biológicas de modo muito 
seletivo, praticamente na determinação de perfis da imputabilidade e, sobretudo, naqueles aspectos 
relacionados à valoração psiquiátrica e psicológica do autor do delito. Mas nem nestes casos o penalista 
deixa retirar de suas mãos o juízo definitivo sobre a culpabilidade. À biologia criminal não se recorreu 
nem se recorre mais do que para obter respostas concretas a precisas questões, e o penalista se acautela 
tanto com relação a suas concepções como na hora de valorar as respostas que pode oferecer.
Somente em seus primeiros passos, animados pelas orientações das ciências naturais dos 
fins do século XIX e início do século XX, as teorias biológicas da criminalidade se aventuraram a 
realizar uma crítica profunda do Direito Penal, com a pretensão de instalar-se como ciência penal 
fundamental, a qual não só responderia às perguntas, mas também formularia suas próprias. Estes 
tempos, todavia, pertencem ao passado.
22
Criminologia
O ponto mais débil da Criminologiaorientada biologicamente está, atualmente, na frustração 
das expectativas que induziram o moderno pensamento penal a favorecer a Criminologia e a confiar 
em seu futuro. Desde o ponto de vista da prevenção da criminalidade e de um melhor conhecimento 
de suas causas, o sistema penal não pode esperar nada das teorias biológicas.
Uma política criminal rica em expectativas é impensável a partir das bases destas teorias.
As explicações biológicas da conduta criminal conduzem à resignação, limitam-se a orquestrar 
uma crítica aguda à política criminal e à dogmática penal como algo ilusório, mas não estão em condições 
de formular nem fomentar perspectivas político-criminais nem alternativas à dogmática penal.
Os defeitos que a biologia criminal revela são fatores criminógenos cujo responsável é a natureza, não 
a cultura, e sua fundamentação e modificação resultam subtraídos da ação dos homens e das instituições.
Uma política criminal fundada biologicamente somente pode administrar a delinquência, 
unicamente pode assumi-la e, na melhor das hipóteses, minorar em alguns graus seus efeitos. Mas o 
que não está em condições, em absoluto, é de modificá-la.
Nos três casos expostos no início deste capítulo percebe-se claramente o valor relativo dado 
às teorias biológicas e condicionamentos patológicos do autor do delito para explicar as causas da 
criminalidade, e porque estas somente servem para assessorar o Tribunal em questões relacionadas à 
imputabilidade do autor do delito no caso concreto.
Além disso, em nenhum dos casos o Tribunal ordenou e nenhuma das partes solicitou um estudo 
das anomalias anatômicas, cromossômicas ou genéticas dos acusados. O único que logicamente interessou 
desde o primeiro momento foi o diagnóstico de sua patologia mental, a influência que esta possa ter tido 
em seu comportamento no momento da realização do fato e, em consequência, em sua imputabilidade.
A opinião dos profissionais foi, em cada caso, bastante contraditória, o que revela um dos 
principais inconvenientes destas teorias para servir de um fundamento sólido e seguro à etiologia 
criminal de modo geral, e isso muito condicionou as decisões dos Tribunais.
A seguir acompanharemos como cada um dos três casos apresentados no início do tópico das 
Teorias Biológicas foram analisados e sentenciados. 
No primeiro caso, o médico forense afirmou que o acusado “mostrava-se consciente e 
preocupado com seu futuro imediato, assumiu que tinha que ingressar na prisão e que tinha especial 
interesse na constatação de sua condição de enfermo mental”. Não ficou comprovado que o sujeito tinha 
“ideias delirantes”, muito menos alteração de sua inteligência, mas sim que queria satisfazer seus desejos 
de vingança contra a esposa acima de qualquer sentimento afetivo ou minimamente humanitário.
Sem embargo, outros peritos consideraram que se tratava de um “paranoico”, com ideias 
delirantes que acreditava estar matando sua mulher quando estrangulava a filha, atribuindo muita 
importância ao desenvolvimento desta enfermidade às lesões cerebrais sofridas no acidente de carro.
Mário padece de transtornos psíquicos, sobretudo depois de sofreu um acidente de trânsito 
que resultou numa lesão grave no cérebro, passando a ter um comportamento agressivo e violento. 
Divorciado, Mário tinha o direito de estar como os filhos nos sábados à tarde. Em um desses encontros, 
23
Criminologia
estrangulou a filha de 4 anos. Na polícia, declarou que matou a filha “porque, assim, deixou na mãe 
uma estaca fincada em seu coração por toda sua vida”.
Finalmente, o Tribunal inclinou-se a considerar seu comportamento como de “uma 
personalidade agressiva exacerbada em razão da hemorragia intracraniana” que encontrava raízes no 
acidente de carro. Assim, aceitou a qualificação de “transtorno mental da personalidade” que afetava 
suas faculdades intelectuais e volitivas, como base para apreciar uma potencial consciência de ilicitude 
incompleta, na qual impôs uma pena substituída por medida de segurança de internamento em centro 
penitenciário por tempo não superior a quatorze anos.
No segundo caso, o perito da acusação considerou que o acusado era um psicopata, que 
conhecia perfeitamente a ilicitude de sua conduta e que era capaz de controlar seus impulsos pedófilos 
e homicidas. Por sua vez, o perito da defesa, ao contrário, considerou que o acusado era psicótico 
em avançado estado de deterioração psíquica, incapaz de controlar seus impulsos pedófilos e sua 
agressividade quando não podia satisfazê-los ou quando temia que fosse descoberto.
Um terceiro perito afirmou que a origem desta agressividade, da mesma forma que as 
tendências pedófilas, encontravam-se nos abusos sexuais que sofreu quando estava no orfanato, o que 
produziu um trauma que não conseguiu superar e acabou por determinar uma neurose que diminuía 
notavelmente sua capacidade intelectiva e volitiva.
O acusado foi condenado a uma pena de trinta anos por abuso sexual e assassinato, sem que o 
Tribunal considerasse nenhuma circunstância atenuante de sua responsabilidade penal.
No terceiro caso, o Tribunal francês apreciou uma “psicose esquizofrênica” com desdobramento 
da personalidade que determinava no acusado uma inimputabilidade plena, tanto pela anulação de 
suas faculdades intelectivas como volitivas, apesar de alguns psiquiatras que intervieram no processo 
defenderem que se tratava de uma personalidade psicótica, plenamente responsável por seus atos.
É conveniente mencionar também o comportamento destes sujeitos depois das respectivas sentenças.
a) O pai que estrangulou a filha está recolhido em um hospital penitenciário judicial 
(manicômio judicial), tendo permissão de saída para passear pela cidade aos sábados, no período da 
tarde, desde que acompanhado por um familiar.
b) O assassino do menino cometeu suicídio, enforcando-se em sua cela, depois de ter recebido 
uma surra brutal por parte de outros reclusos que tornavam sua vida impossível.
c) O cidadão japonês foi devolvido ao Japão e internado em um manicômio, tendo obtido 
alta depois de poucos anos. Posteriormente, foi visto no centro de Tóquio, frequentando alguns bares 
alternativos e visitando bordéis onde frequentemente solicitava os serviços de mulheres europeias, 
loiras, altas e de forte compleição, com tipo físico similar à jovem holandesa assassinada.
De nenhum dos casos descritos pode-se extrair conclusões gerais sobre origem da 
criminalidade, muito menos estabelecer alguma direção para prevenção de fatos como esses. Desde 
o primeiro momento aparecem, pois, como fatos isolados de alguns sujeitos que, indubitavelmente, 
apresentam algumas patologias, provavelmente em razão de causas não puramente psiquiátricas, não 
24
Criminologia
se podendo delas deduzir, todavia, que outras pessoas que sofrem das mesmas patologias atuarão da 
mesma maneira.
De todo modo, não se pode afirmar que a situação de abandono sofrida por essas teorias 
atualmente como explicação da criminalidade tenha que assim permanecer no futuro. Sua posição 
depende dos fatores em que se assentam. Enquanto não ofereçam dados mais seguros, há pouca 
possibilidade de que as teorias biológico-antropológicas, psiquiátricas ou genéticas, ou qualquer outra 
das muitas existentes, cheguem a ser algo mais que ciências auxiliares do Direito Penal. Seu futuro não 
pode se encontrar em seu estabelecimento científico como a Criminologia, mas na integração de seus 
pontos de vista com o de outras teorias psicológicas ou sociológicas da criminalidade. Mas para que 
isso possa ocorrer seria imprescindível que as teorias biológicas formulassem com maior humildade 
suas pretensões de veracidade, assim como as demais teorias renunciassem suas hostilidades para com 
elas. Os signos dos tempos que correm não são favoráveis nem a uma nem a outra.
Como prova do nefasto efeito de algumas concepções biologicistas na valoraçãoda 
imputabilidade de um sujeito, convém citar o caso do Conselheiro da Prefeitura de São Francisco, 
nos Estados Unidos da América, que matou outro conselheiro que apoiava as reivindicações de 
movimentos gays desta cidade.
O Tribunal de Jurados considerou que o fato de o acusado ter se alimentado nos dias anteriores 
exclusivamente de hambúrgueres e refrigerante Coca-cola afetou profundamente sua capacidade 
psíquica, tendo, por isso, aplicado uma pena consideravelmente atenuada.
Fletcher, em sua obra Las victimas, na página 53, faz um irônico paralelismo entre “comida 
lixo” e “ciência lixo”, que serviu de base para esta decisão.
2 Dimensões e características
Em um trabalho muito bem laborado por José Luís Lopes da Mota, Procurador-geral adjunto e 
Membro Nacional da EUROJUST11, tem-se com profunda sapiência a institucionalização da Unidade 
Europeia de Cooperação Judiciária – Eurojust, a qual constitui o mais recente órgão da União 
Europeia, criado no âmbito do terceiro pilar com o objetivo de promover e assegurar a coordenação, 
facilitar a cooperação e apoiar as autoridades nacionais encarregadas da investigação e do exercício 
da ação penal em casos relacionados com criminalidade grave, especialmente quando organizada, 
que envolvam dois ou mais Estados-membros. Concebida e estruturada numa lógica de cooperação e 
numa área que releva do núcleo duro da soberania dos Estados-membros, que mantém os poderes de 
perseguição penal no âmbito das competências das autoridades nacionais, a Eurojust vem suprir uma 
lacuna em matéria de cooperação judiciária e, ao mesmo tempo, instituir uma nova abordagem que 
visa organizar a cooperação no quadro da realização de um Espaço Europeu de Liberdade, Segurança 
e Justiça, erigido em objetivo da União pelo Tratado de Amesterdão.
1 MOTA, José Luis L. da. As dimensões institucionais da cooperação judiciária em matéria penal na União 
Europeia: a Eurojust e os seus parceiros europeus, os. 165/166.
25
Criminologia
A natureza e a dimensão das novas formas de criminalidade, sem território definido e sem 
fronteiras, num espaço de livre circulação de pessoas, bens e serviços e, por isso mesmo, de livre 
circulação do crime, vieram exigir novas respostas, que colocam a cooperação judiciária a serviço da 
liberdade e da segurança num espaço comum de cidadania assente* em valores e princípios essenciais 
à democracia e ao Estado de Direito.
É hoje por demais evidente que nenhum Estado, nenhuma autoridade nacional, agindo 
isoladamente, está em condições de fazer face a fenômenos criminais de natureza e dimensão 
transnacionais. Só é possível combater a criminalidade transnacional e organizada através de formas 
organizadas de ação em escala internacional. 
Vê-se com clareza evidente um exemplo de que as unidades federadas precisam se unir e se 
integrar de modo a manter uma estrutura mais eficiente e operante, tudo em decorrência do surgimento 
de novas formas de criminalidade, passando a se tornar uma exigência de um lado por conta das novas 
respostas diante da liberdade dos criminosos e por outro a segurança da coletividade e a garantia de 
seus valores e bens essenciais para constituir realmente um Estado de Direito.
2.1 A toxicomania
Na verdade, numa retrospectiva histórica, sabe-se que o homem, na mais remota antiguidade, 
fazia uso de algumas drogas do tipo alucinógenas, com intenções religiosas ou mágicas, assim foi que 
substâncias como o ópio, a coca, a mescalina e haxixe foram usadas na cultura humana, pelos seus efeitos 
e funções vegetativas e mentais. Há registro de relatos que tanto feiticeiros como sacerdotes dos tempos 
primitivos, ao ingerirem certas substâncias tóxicas, acreditavam alcançar a comunicação com os deuses.
Valter e Newton Fernandes (2012, p. 609-610), ao tratarem do assunto, fazem os seguintes registros:
Os gregos, por exemplo, consideravam que o vinho os transformavam em divindades e as festas 
em homenagem ao deus Dionísio eram elementos de aculturamento desse povo. Em Roma, 
os bacanais representavam culto ao Baco, deus do vinho. Um dos mais antigos documentos 
escritos, o Papiro Terapêutico de Tebas, instruía sobre o usado ópio para mitigar a dor. Há 
mais de quatro milênios o ópio era cultivado e utilizado pelos egípcios, o mesmo ocorrendo 
na Índia em relação ao haxixe, ali empregado em rituais místicos […] (FERNANDES & 
FERNANDES, 2012, p. 609-610)
No princípio do século XIX, a utilização dos tóxicos ganhou espaço na Europa e, na América, 
difundiu-se neste século. No Brasil, as toxicomanias ganharam alento a partir de 1930, sua incidência 
maior eclodindo em centros como o Rio de Janeiro e São Paulo onde, além dos morfinômenos, passou 
a crescer o grupo daqueles que se entregavam ao vício da cocaína, do éter e, em menor proporção, 
dos barbitúricos. À época, somente em algumas regiões do norte e nordeste brasileiros era conhecida 
a maconha, também denominada “diamba” e “fumo de angola”. Contudo, com o fim da Segunda 
Grande Guerra Mundial, em 1946, avultou o uso de drogas tradicionais e daquelas recém-descobertas 
por todo o orbe e mais acentuadamente nos países de ideologia liberal. Hoje, os toxicômanos não se 
resumem àquelas pessoas ociosas e aos marginalizados pela vida ou pela sociedade. O maior número 
26
Criminologia
de drogados se situa na faixa etária baixa, isto é, aqueles presumivelmente inimputáveis; jovens 
adolescentes e pré-adolescentes. Inclusive após a década de 1950, com o surgimento das epitetadas 
“novas drogas” (maconha, anfetaminas, metilfenidato, LSD, fenilciclidina, etc.) alcançou outra 
amplitude o problema das toxicomanias que, por conta do barateamento do custo e das facilidades 
de fabrico e aquisição, insinuou-se entre os meios intelectuais e estudantis. No tocante do uso de 
drogas no ambiente universitário, tal prática contribuiu, juntamente a frouxidão dos costumes, para a 
eclosão de fenômeno social da ‘rebelião da juventude, atualmente universalizado e envolvendo países 
do primeiro mundo e países não-desenvolvidos’.
Os recitados autores Fernandes e Fernandes (2012, p. 610) registram ainda que, em 1970, 
diante da situação agravada com as novas drogas, a Organização Mundial da Saúde, em acordo com 
os diversos Comitês de Peritos Internacionais, introduziu um conceito novo: as toxicomanias, com a 
nomenclatura “farmacodependência” para designar
um estado psíquico e até físico, resultante da interação de um medicamento em um organismo 
humano, caracterizada por modificações do comportamento e outras reações, que implicam 
sempre um impulso de tomar o medicamento de forma contínua ou periódica, a fim de 
reencontrar seus efeitos psíquicos e, algumas vezes, evitar o mal-estar determinado por sua 
privação. (FERNANDES & FERNANDES, 2012, p. 610).
A toxicomania traz ao usuário consequências sociais danosas (mesmo aos que levam uma 
vida com trabalho), pesando negativamente na produtividade e influindo na parte econômica, 
além de causar diversos problemas, induvidosamente não só para a família, mas também para 
o Estado, sem levar em consideração o perigo para a sociedade na prática de infração penal. 
As mulheres são propensas à prostituição, os homens à vadiagem, inversões e perversões sexuais, 
chegando em alguns casos ao suicídio. Por outro lado, quando o usuário é privado do uso da droga e, 
não possuindo recursos financeiros para adquiri-la, recorre à prática delituosa dos tipos apropriação 
indébita, furto, roubo, latrocínio e/ou extorsão, ou seja, crimes contra o patrimônio que permitem 
numerários para a aquisição da droga, como bem pontuam os juristas Fernandes & Fernandes 
(2012, p. 639-640)
Como se percebe, a toxicomania não é predisponente ao delito. O toxicômano é levado a 
delinquir com o fito de obter a droga e quando não pode consegui-la de outro modo. 
Contrariamentedo que acontece com o alcoólatra, o drogado excepcionalmente se vê 
implicado em atos violentos. Representam, as toxicomanias, enfim, um razoável fator de 
criminalidade e fenômeno de patologia social que, dia após dia, perigosamente ganha 
proporções alarmantes e dificilmente controláveis. (2012, p. 639/640)
Toxicomania – Alcoolismo:
Fatores de Dependência Química: Ação Prazerosa, Autoadministração, Toxidade 
Neuropsicológica Reversível, Tolerância, Síndrome de Abstinência ou de Privação.
27
Criminologia
Classificação das Drogas (ou Fármacos):
Estimulantes: cafeína, anfetaminas (inibidores de apetite), cocaína (folha ou chá, pasta de 
coca, cloridrato ou sulfato de cocaína, base livre), álcool.
Alucinógenos: Anticolinérgicos (lírio, trombeta-datura, “boa noite cinderela”, estramônio), 
estramônio, cacto peyote (mescalina), LSD (1943 – Albert Hoffman, químico suíço), ecstasy, álcool.
Narcóticos ou Entorpecentes: ópio, morfina, heroína, dolantina, álcool.
Na verdade, decorrem os fatores de dependência quer pelo álcool, quer pela química, estas 
evidenciadas pelas drogas estimulantes (cafeína, cocaína), alucinógenos (trombeta, “boa noite 
cinderela”) e narcóticos (morfina, heroína).
Concluindo o assunto da toxicomania, Valter e Newton Fernandes (2012, p. 648-649) 
transcrevem cópia de uma carta que um jovem de 19 anos em estado terminal pelo uso constante de 
maconha e cocaína, internado no Hospital 23 de Maio, deixou ao seu pai:
Sinto muito, meu pai, acho que este diálogo é o último que tenho com você. Sinto muito 
mesmo. Sabe pai... está em tempo de você saber a verdade que nunca suspeitou. Vou ser breve 
e claro. O tóxico me matou, meu pai. Travei conhecimento com o meu assassino aos 15 para 
16 anos de idade. É horrível não, pai? Sabe como é isso? Através de um cidadão elegantemente 
vestido, bem elegante mesmo e bem falante que me apresentou o assassino: O tóxico. Eu 
tentei, mas tentei mesmo recusar, mas o cidadão mexeu com o meu brio, dizendo que eu não 
era homem. Não preciso dizer mais nada, não é? Ingressei no mundo do tóxico. No começo 
foram as torturas, depois o devaneio e, a seguir, a escuridão. Nada fazia sem que o tóxico 
estivesse presente. Depois veio a falta de ar, medo, alucinações, depois euforia novamente. 
Eu sentia mais do que as outras pessoas e o tóxico, meu amigo inesquecível, sorria, sorria… 
Sabe, pai... A gente quando começa acha tudo ridículo e muito engraçado. Até Deus eu 
achava ridículo! Hoje, neste hospital, eu reconheço que Deus é o ser demais importante do 
mundo. Eu sei que, sem a ajuda dele, eu não estaria escrevendo o que estou. Pai, você pode 
não acreditar, mas a vida de um dependente de drogas é terrível, a gente se sente dilacerado 
por dentro. É horrível e todo jovem deve saber disso para não entrar nessa. Já não dou nem 
três passos sem me cansar. Os médicos dizem que vou ficar curado, mas quando saem do 
quarto balançam a cabeça negativamente. Pai... eu só tenho 19 anos e sei que não tenho a 
menor chance de viver, é muito tarde para mim. Pai, tenho um último pedido a fazer. Diga a 
todos os jovens que o senhor conhece e mostre a eles esta carta. Diga a eles que em cada porta 
de escola, em cada cursinho, em cada faculdade, em qualquer lugar, há sempre um homem 
elegantemente vestido, bem falante, que irá mostrar-lhe o seu futuro assassino, o destruidor 
de sua vida e que levará a loucura e à morte como eu. Por favor faça isso meu pai, antes que 
seja tarde demais. Avisa para eles. Perdoe-me meu pai... Já sofri demais...
2.2 A criminalidade urbana e rural
• A criminalidade nos grandes e nos pequenos centros urbanos
As estatísticas da criminalidade existente nas grandes e pequenas cidades são merecedoras de 
atenção por parte dos criminólogos. De início, a fórmula era a seguinte: quanto maior a densidade da 
população, maiores os índices de criminalidade.
Modernamente, porém, essa fórmula mudou, principalmente por influência do americano 
Edwin Sutherland, que após várias análises demonstrou que a criminalidade é diretamente proporcional 
à população, mas até o limite de 100 a 300 mil habitantes. Passando desse limite, a criminalidade diminui 
em relação inversa à densidade da população.
28
Criminologia
O que quis dizer o autor com essa afirmação é que em cidades muito populosas, a criminalidade 
é proporcionalmente menor do que em outras de menos habitantes. Essa tese, porém, não pode 
ser aplicada com certeza em cidades fora dos Estados Unidos. A realidade do Brasil, por exemplo, 
é outra. Por aqui, quanto maior e mais populosa uma cidade, maiores os seus problemas sociais e, 
consequentemente, a criminalidade. Essa é uma realidade nos países do terceiro mundo.
Vejamos em números o que o cientista citado apurou em sua pesquisa realizada nos Estados 
Unidos: naquele país, o primeiro lugar nos crimes contra a vida pertencia a Jacksonvile, com 61 
homicídios por ano, e uma população de 140 mil habitantes. Em Chicago, com 3 milhões de habitantes, 
o número de homicídios era de 328 por ano. Proporcionalmente os índices ficariam: 1,09 homicídios 
por cada mil habitantes para Chicago e 4,36 homicídios por cada mil habitantes em Jacksonvile. Chicago 
ocupava, à época da pesquisa, o 26° lugar no ranking das cidades com mais crimes contra a vida.
É preciso, porém, que nos lembremos de uma coisa: a questão do lugar onde vivemos é apenas 
um fator, a questão demográfica é outro. Lembre-se de que é a soma dos fatores que leva a uma causa. 
Não será difícil algum dia ouvirmos alguém do nosso meio afirmar que logo que puder mudaria 
para o interior longe do barulho e do agito da cidade grande. Mas não são esses os argumentos mais 
fortes de quem deseja abandonar de vez a cidade grande para morar no interior. O principal argumento 
é a violência. Mas será que não existe violência no interior? Vejamos.
Primeiramente vamos distinguir interior do meio rural. Quando falamos em interior, nos 
referimos a todas as cidades (municípios) de um estado-membro que não sejam a capital. Quando nos 
referimos à zona rural estamos nos referindo às zonas municipais situadas fora dos limites da cidade. 
Assim, podemos morar no município de Juazeiro do Norte, tanto no meio urbano como no rural. 
Esse é o foco do nosso estudo neste momento. Existe diferença entre os índices de criminalidade dos meios 
urbanos e rural? Notadamente que sim, mas os fatores geográficos, climáticos e democráticos não são os 
únicos responsáveis por estas diferenças nos índices. Há um fator e uma causa que são preponderantes: 
a densidade demográfica (fator) e os problemas sociais (causa que decorre da soma de vários fatores).
Estudos feitos em diversos países a respeito de taxas criminais por áreas geográficas e o tamanho 
da densidade demográfica das cidades têm revelado a correlação direta entre população e criminalidade, 
de modo que quanto maior a população maior os índices de criminalidade. Ora, isso parece óbvio, pois 
quanto mais pessoas estão convivendo em um local, maior é a probabilidade de termos mais conflitos de 
interesses, lides. As lides mal controladas ou negociadas podem levar ao crime. Os delitos patrimoniais 
nos grandes centros são, sem duvida, os líderes do ranking (mais de 50%). De qualquer sorte, ao conjunto 
de condutas antissociais (e aí se incluem também as infrações penais) ocorridas nos centros urbanos 
denomina-se criminalidade urbana, que tem características e especialidades próprias.
Newton Fernandes afirma que a criminalidade nos grandes centros urbanos é representada 
pelo trinômio crime – urbanização – densidade demográfica cujo principal estopim é a concentração 
de riqueza nas mãos de uns e a pobreza e miséria de outros.
29
Criminologia
Ademais, a existência de bens mais caros e atrativos nas cidades torna o crime mais lucrativo 
para quem o pratica. Isso quer dizer que as áreas urbanas concentram mais atrativospara o crime do 
que as áreas rurais. Nas áreas urbanas também estão os maiores potenciais criminógenos, notadamente 
nas periferias das cidades, onde estão as pessoas que em sua maioria migraram da zona rural por não 
terem conseguido alcançar os meios ideais de subsistência lá.
Um exame mais detalhado das estatísticas criminais revela que a grande maioria dos crimes 
são economicamente motivados pela aquisição de algum bem, dinheiro ou algo que nele se possa 
converter. Outro detalhe causa espécie: os crimes contra o patrimônio são os que apresentam o maior 
índice de violência por parte dos infratores: sequestros, extorsões, cárceres privados, latrocínios, 
roubos qualificados etc.
Nas zonas rurais, por outro lado, temos uma situação completamente distinta. Por regra, 
os índices de criminalidade são menores, pois os fatores atrativos existentes nas cidades não estão 
presentes nestas áreas. Isso não significa, entretanto, que nas zonas rurais não possam acontecer 
crimes contra o patrimônio ou mesmo contra a vida, alguns praticados com requintes de crueldade.
Outros fatores também devem ser considerados durante a análise da criminalidade rural: o 
fator cultural decorrente do regionalismo. Analisemos o Ceará, por exemplo. Quem mora na zona 
rural dos municípios do Vale do Jaguaribe sabe que, naquela região, é grande a incidência de crimes 
de homicídios mediante paga ou promessa de recompensa (pistolagem). Há famílias inteiras que se 
especializam nisso, o que, certamente, está associado à subcultura. Explicar a estas pessoas o que vem 
a ser subcultura é uma tarefa praticamente inócua, pois seus valores são bem distintos. Para eles matar 
é coisa de “macho”, que não deve e não pode levar desaforo para casa. Mata-se por nada.
Analise, também, além das condições culturais, as condições econômicas, geográficas e 
climáticas destas regiões: não há nada de bom, ou quase nada, pois ainda resta, por parte de alguns, o 
amor pela terra em que nasceram. É uma região árida, quente, infértil, de vegetação rasteira, ou seja, 
um meio ambiente inóspito que causa uma sensação de mal-estar em qualquer pessoa.
Sob o prisma econômico, também só há fatores negativos. A economia é praticamente a de 
subsistência. O assistencialismo estatal está presente em quase todas as famílias. Os jovens que não 
tem a sorte de se mudar para os grandes centros para se dedicarem aos estudos ou ao trabalho, se 
entregam a ociosidade e acabam por assimilar, cada vez mais, a cultura local. 
Ainda dentro do Ceará, analisemos agora a zona rural da região da Chapada do Ibiapaba. 
Geograficamente a região é bem diferente da região do vale do Jaguaribe: tem serras, resquícios de 
mata atlântica, algumas cachoeiras, solo fértil, temperatura amena durante 2/3 do ano. As condições 
geográficas favoráveis contribuíram para o desenvolvimento de uma economia sustentável, centrada 
na produção agrícola e mais recentemente de flores, sobretudo para exportação. Com a melhoria das 
condições econômicas, as pessoas melhoraram a qualidade de vida.
30
Criminologia
Chega o progresso, o estudo, a vontade de crescer. Enfim: mais qualidade de vida. Não há 
problemas de pistolagem nestas áreas e os crimes contra o patrimônio são raros. Aqui acolá surge um 
ou outro caso de homicídio passional. Nada mais.
Em resumo:
Os índices de criminalidade da zona rural diferem dos mesmos índices da zona urbana. A 
estatística dos tipos de crime também muda. Os fatores criminógenos das zonas urbanas são quase sempre 
os mesmos, mas os das zonas rurais não. Nas zonas rurais percebe-se que fatores geográficos, climáticos e 
culturais fazem a diferença, pois podem levar a um maior ou menor desenvolvimento econômico e, daí, 
a uma melhor ou pior qualidade de vida.
2.3 A criminalidade violenta2
Desde a década de 1970, os sentimentos de medo e insegurança vêm sendo cada vez mais 
sentidos na sociedade brasileira. Tais sentimentos têm fundamento, pois as estatísticas oficiais de 
criminalidade indicam a aceleração do crescimento de todas as modalidades criminosas. Cresce 
cada vez mais rápido o número de crimes violentos, como os homicídios, os roubos, os estupros, os 
sequestros, os linchamentos, bem como um aumento no número de mortes provocadas por conflitos 
nas relações pessoais. Realmente, não é à toa a existência da Lei Maria da Penha, por exemplo. 
Em um estudo feito em 2004 pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, visando 
diagnosticar a escalada do crime de homicídio em todo o Brasil, constatou-se alguns dados muito 
preocupantes. Primeiro, que o número de mortes causadas por armas de fogo vem crescendo aqui 
no Brasil desde 1979. Segundo, que no Rio de Janeiro, por exemplo, uma das cidades consideradas, 
atualmente, como uma das mais violentas do mundo, os homicídios dolosos que, em 1985, apresentavam 
a proporção de 33 registros para cada 100.000 habitantes, em 1989, apenas quatro anos depois, 
praticamente dobraram, apresentando uma proporção de 59 registros para cada 100.000 habitantes. 
É provável que grande parte dessas mortes, que têm jovens como suas principais vítimas, se 
deva aos conflitos entre quadrilhas, as quais podem ou não estar associadas ao tráfico de drogas. A esse 
quadro também podemos acrescentar a presença de graves violações de direitos humanos, entre as quais 
se podem citar as mortes praticadas por policiais em confronto com civis suspeitos de haver cometido 
crimes, como também aquelas cometidas por grupos de extermínio e justiceiros. Pois é inegável que, 
apesar de nosso Ordenamento Jurídico só utilizar a pena de morte em casos especiais, como no caso de 
guerra, convivemos com uma verdadeira aplicação da pena de morte não institucionalizada.
Infelizmente, as políticas de segurança, de justiça e penitenciárias não têm contido o crescimento 
nem dos crimes, nem das graves violações dos direitos humanos e nem da violência em geral. Tudo 
indica que o crescimento dos delitos não foi acompanhado de uma elevação proporcional do número 
de inquéritos e processos penais instaurados. Tanto assim que o número percentual de condenações 
vem caindo desde a década de 1980 e, por consequência, aumentando a impunidade.
2 http://www.nevusp.org/portugues/index.php?option=com_content&task=view&id=1407&Itemid=55
31
Criminologia
Vale lembrar, ainda, que essa queda das principais atividades judiciárias se reflete na outra 
ponta do sistema de justiça criminal, ou seja, nas prisões. Apesar do número total de presos no país, 
no ano de 1995, ter sido de quase 149.000 pessoas, ou seja, 95 presos para cada 100.000 habitantes, um 
percentual baixo quando comparado com o de outras sociedades como os Estados Unidos, por exemplo, 
pressões da opinião pública contribuíram para que esse cenário fosse alterado, fazendo com que as 
taxas de encarceramento revelassem um maior crescimento, agravando o problema da superlotação 
das prisões. Assim, não é estranho que desde o início dos anos de 1980 em várias capitais brasileiras 
são detectados um aumento significativo de motins e rebeliões de presos em cadeias públicas, distritos 
policiais e casas de detenção, totalmente desprovidos de infraestrutura para cumprimento de penas 
privativas de liberdade. Em todo o país, desde 1985, essas rebeliões vêm se sucedendo com relativa 
frequência, sendo o principal exemplo o massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992, e 
que culminou com a morte de 102 detentos. 
Esses fatos são indicativos de uma crise há tempos instalada no sistema de justiça criminal. 
Todas as imagens de degradação e de desumanização parecem se concentrar em torno desses locais 
– as prisões – que modificam pessoas e comportamentos. Realmente, as prisões revelam a face mais 
cruel de toda essa história: os limites que se colocam na sociedade brasileira à implementação de uma 
política de proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana.2.4 O crime de colarinho branco
O crime do colarinho branco3, no campo da criminologia, foi definido inicialmente pelo 
criminalista norte-americano Edwin Sutherland como sendo “um crime cometido por uma pessoa 
respeitável, e de alta posição (status) social, no exercício de suas ocupações”.
Valter e Newton Fernandes (2012, p. 439-440), referindo-se ao mesmo autor (Sutherland), ao 
procurar definir o crime de colarinho branco, ou white collar crime, transcrevem: “a violação da lei penal por 
pessoas de elevado padrão sócio-econômico, no exercício abusivo de uma profissão lícita”. É a delinquência 
econômica na expressão de Manzanera Rodrigues. É o crime daqueles indivíduos de alto ou significativo 
status socioeconômico, que tranquilamente ignoram as leis para aumentar os lucros de suas atividades 
ocupacionais, principalmente aquelas relativas ao gerenciamento de negócios e empresas.
Sutherland foi o proponente do Interacionismo simbólico e acreditava que o comportamento 
criminoso é aprendido através de relações interpessoais com outros criminosos. Portanto os crimes 
de colarinho branco se sobrepõem aos crimes corporativos graças às oportunidades encontradas, no 
mundo corporativo, para se cometer fraudes, suborno, uso de informações privilegiadas, peculato, crimes 
informáticos e contrafação, crimes esses que podem ser mais facilmente perpetrados por funcionários ou 
empresários engravatados, que usam colarinho branco. A expressão “white collar crimes” foi usada pela 
primeira vez em 1940 por Edwin Sutherland durante um discurso na American Sociological Association.
3 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Crime_do_colarinho_branco> Acessado em: 29 de julho 
de 2015.
32
Criminologia
No Brasil esse termo define o ato delituoso cometido por uma pessoa de elevada respeitabilidade 
e posição socioeconômicas e, muitas vezes, representa um abuso de confiança. Refere-se a um tipo 
de crime de difícil enquadramento em uma qualificação jurídica precisa. Em geral, é cometido sem 
violência, em situações comerciais, com considerável ganho financeiro. Os autores se utilizam de 
métodos sofisticados e de transações complexas, o que dificulta muito sua percepção e investigação. 
Foi definido pela Lei nº 7.492, de 16 de junho de 1986, e na Lei n° 9.613 de 3 de março de 1998. Duas 
características são marcantes nos chamados “crimes do colarinho branco”: a privilegiada posição social 
do autor e a estreita relação da atividade criminosa com sua profissão. Alguns casos ficaram famosos 
no Brasil, entre eles, o do banqueiro Salvatore Cacciola, responsável pelo escândalo do banco Marka, 
do qual era controlador, e que fugiu para a Itália, seu país natal, graças a um habeas corpus concedido 
pelo ministro Marco Aurélio de Mello, do STF. Outro caso é o do empresário Pedro Paulo de Souza, 
ex-proprietário da falida construtora Encol, a qual quebrou, deixando 45 mil mutuários sem casa. A 
Operação Satiagraha, da Polícia Federal, objetivou combater crimes de colarinho branco.
Definições no mundo
A moderna criminologia, em geral, rejeita a limitação do termo com referência ao tipo de 
crime e a seu objeto. O tema, atualmente, assim se divide:
Pelo tipo de crime: por exemplo, crimes contra a propriedade, e outros crimes corporativos, 
tais como crimes ambientais, crimes contra a segurança e saúde. Alguns crimes só se tornam possíveis 
graças à identidade do acusado como, por exemplo, o crime de lavagem de dinheiro, que só pode 
ser praticado com a conivência de altos executivos, empregados em empresas multinacionais. Nos 
Estados Unidos o FBI adotou uma definição mais estreita, definindo o crime de colarinho branco 
(white collar crime) como “aqueles atos ilegais que se caracterizam pela fraude, acobertamento ou 
abuso de confiança e que não dependem de violência física para ser praticados”. (grifo nosso).
Pelo tipo de criminoso, como, por exemplo, sua classe social ou posição socioeconômica, 
pela ocupação de cargos de confiança ou qualificação acadêmica, perquirindo a motivação para 
a perpetração dos crimes, como a ganância ou o medo de perdas patrimoniais, no caso de óbvias 
dificuldades econômicas.
Para concluir temos a legislação brasileira para combater o crime de colarinho branco, 
primeiramente a Lei n. 7.492, de 16.06.1986 (Lei de Regência), coadjuvada pela Lei n. 8.884, de 11.11.1994 
(Lei Antitruste), que inclusive alterou o Código de Processo Penal, em seu art. 312, acrescentando mais 
um fundamento da decretação da prisão preventiva – ordem econômica, alterada pela Lei n. 9.613/98, 
também alterada pela Lei n. 12.683/2012.
33
Criminologia
2.5 Criminalidade organizada
De acordo com o Grupo Especializado em Policiamento de Áreas de Risco – GEPAR (2005)4, 
o cenário atual da criminalidade em todos os centros urbanos do país é alarmante. O relatório afirma 
que a criminalidade cresce de forma multidirecionada e a demanda por segurança, em especial aquela 
destinada a promover a proteção e o socorro da comunidade, está ultrapassando a capacidade instalada 
dos órgãos de segurança.
O Crime Organizado se expande e se instala em locais onde o Estado não está presente de 
forma efetiva, passando a substituir o próprio Estado e ditando as regras para aquele grupo social. 
Como a linguagem utilizada pelo Crime Organizado é a violência, as pessoas ficam amordaçadas e 
subjugadas aos seus desmandos.
O tráfico de drogas, carro-chefe do Crime Organizado, encontra campo fértil para se disseminar 
em aglomerados e vilas, onde a carência social é tão intensa e a ausência do Estado tão notória. A 
falta de urbanização, reduzindo os acessos destas vilas em becos e vielas com esgoto a céu aberto, 
transformam estes locais em um verdadeiro quartel-general de traficantes e o grande número de 
crianças e adolescentes ociosas e sem perspectiva de evolução social busca no crime o único caminho 
para reverter esse quadro. O tráfico de drogas passa a ser a principal fonte de renda dessa comunidade 
e muitos jovens se enveredam por este caminho, encontrando nele o seu fim. 
Homicídios de adolescentes provocados por disputas de território entre gangues que 
movimentam o tráfico de drogas nestas áreas passam a ser uma constante e a vida passa a ser 
banalizada. Essas gangues e grupos se tornam tão fortes que começam a enfrentar o único órgão 
estatal que esporadicamente se faz presente nestas áreas: a polícia.
Os confrontos são constantes, as ações das gangues cada vez mais ousadas e a polícia cada vez 
mais repressora e violenta. A comunidade desses grupos passa a ficar oprimida tanto pelas ações dos 
traficantes quanto da polícia, gerando grande insatisfação social.
É sobre esta forma tão multifacetada de criminalidade que passaremos a nos debruçar a 
partir de agora.
Dificuldade de definição
Antes de tentarmos definir o Crime Organizado, é interessante comentar como algumas 
organizações criminosas, como as Máfias italianas, a Yakuza japonesa e as Tríades chinesas apresentam 
traços comuns, uma vez que surgiram no início do século XVI como uma maneira de defesa contra 
os abusos cometidos por aqueles que detinham o poder. Além disso, contaram com a conivência de 
autoridades corruptas para o crescimento de suas atividades, principalmente nos locais onde ocorriam 
movimentos político-sociais.
4 Disponível em: <https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portalpm/conteudo.actionconteudo=1083&tipo
Conteudo=noticia> Acessado em: 17 de julho de 2015.
34
Criminologia
No Brasil, como nos informa Eduardo Araújo da Silva (2003, p. 25), a associação criminosa 
derivou do movimento conhecido como cangaço, cuja atuação deu-se no sertão do Nordeste, durante 
os séculos XIX e XX, como uma maneira de lutar contra as atitudes de jagunços e capangas dos grandes 
fazendeiros, além de contestaro coronelismo.
Personificados na figura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, (1897-1938), os cangaceiros 
tinham organização hierárquica e com o tempo passaram a atuar em várias frentes ao mesmo tempo, 
dedicando-se a saquear vilas, fazendas e pequenas cidades, extorquir dinheiro mediante ameaça de 
ataque e pilhagem ou sequestrar pessoas importantes e influentes para depois exigir resgates. Para 
tanto, relacionavam-se com fazendeiros e chefes políticos influentes e contavam com a colaboração de 
policiais corruptos, que lhes forneciam armas e munições.
Eduardo Araújo Silva (2003, p. 25) continua nos informando que a prática do denominado 
“jogo do bicho” (sorteio de prêmios a apostadores, mediante recolhimento de apostas), iniciada no 
limiar do século XX, é identificada como a primeira infração penal organizada no Brasil. A origem 
dessa contravenção penal é atribuída ao Barão de Drumond, que teria criado o inocente jogo de azar 
para arrecadar dinheiro com a finalidade de salvar os animais do Jardim Zoológico do Estado do 
Rio de Janeiro. Posteriormente, a ideia foi popularizada e patrocinada por grupos organizados, que 
passaram a monopolizar o jogo mediante a corrupção de policiais e políticos. De acordo com Guaracy 
Mingard (1998, p. 95), a partir da década de 80 os praticantes dessa contravenção penal passaram a 
movimentar verdadeiras fortunas com as apostas recolhidas (presume-se que cerca de US$ 500.000 
por dia), sendo que de 4% a 10% desse montante era destinado aos banqueiros.
Outras organizações criminosas começaram a proliferar nas penitenciárias do Rio de Janeiro 
nas décadas de 70 e 80:
“Falange Vermelha”, formada por chefes de quadrilhas especializadas em roubos a bancos, 
nasceu no presídio da Ilha Grande;
“Comando Vermelho” (CV), comandado por líderes do tráfico de entorpecentes, surgiu no 
presídio Bangu I;
“Terceiro Comando” (TC), uma dissidência do Comando Vermelho, foi idealizado no mesmo 
presídio, em 1988, por presos que não concordavam com a prática de sequestros e com a prática de 
crimes comuns nas áreas de atuação da organização;
No Estado de São Paulo, em meados da década de 90, surgiu no presídio de segurança máxima 
anexo à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté a organização criminosa denominada “PCC, o 
Primeiro Comando da Capital”, com atuação criminosa presente em diversos estados.
Vale ressaltar que, além de patrocinar rebeliões e resgates de presos, o PCC também atua em 
roubos a bancos e a carros de transporte de valores, extorsões de familiares de pessoas presas, extorsão 
mediante sequestro e tráfico de drogas, contando com conexões internacionais. Para se manterem no 
poder os membros do PCC não hesitam em assassinar membros de facções rivais, tanto fora como 
dentro dos estabelecimentos prisionais.
35
Criminologia
Além de possuir uma estrutura piramidal, o PCC conseguiu alcançar uma posição de prestígio 
ao encabeçar a maior rebelião já registrada até hoje, denominada de “Megarrebelião”, a qual ocorreu 
em vários presídios simultaneamente. No pátio do Presídio de Carandiru, por exemplo, os detentos 
gravaram, no chão, o símbolo do PCC.
Ainda, o PCC tem entre seus líderes figuras como Marcos Williams Herbas Camacho, 
conhecido por “Marcola” ou “Playboy”, e Júlio César Guedes de Moraes, também conhecido por 
“Julinho Carambola”.
Com o intuito de obter ainda maior notoriedade e respeito, o PCC divulgou, no final de 1996, 
seu estatuto. Tal documento foi divulgado no site do Jornal Folha de São Paulo (2001) e contém as 
seguintes cláusulas:
1 – Lealdade, respeito e solidariedade acima de tudo ao Partido.
2 – A luta pela liberdade, justiça e paz.
3 – A união na luta contra as injustiças e a opressão dentro da prisão.
4 – A contribuição daqueles que estão em liberdade com os irmãos dentro da prisão, por meio 
de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares e ação de resgate.
5 – O respeito e a solidariedade a todos os membros do Partido para que não haja conflitos 
internos – porque aquele que causar conflito interno dentro do Partido, tentando dividir a irmandade, 
será excluído e repudiado pelo Partido.
6 – Jamais usar o Partido para resolver conflitos pessoais contra pessoas de fora. Porque o ideal 
do Partido está acima dos conflitos pessoais. Mas o Partido estará sempre leal e solidário a todos os seus 
integrantes para que não venham a sofrer nenhuma desigualdade ou injustiça em conflitos externos.
7 – Aquele que estiver em liberdade “bem estruturado”, mas esquecer de contribuir com os 
irmãos que estão na cadeia, será condenado à morte sem perdão.
8 – Os integrantes do Partido têm de dar bom exemplo a serem seguidos e, por isso, o Partido 
não admite que haja assalto, estupro e extorsão dentro do Sistema.
9 – O Partido não admite mentiras, traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo e interesse pessoal, 
mas sim a verdade, a fidelidade, a hombridade, a solidariedade e o interesse comum de todos porque 
somos um por todos e todos por um.
10 – Todo o integrante terá de respeitar a ordem, a disciplina do Partido. Cada um vai receber 
de acordo com aquilo que fez por merecer. A opinião de todos será ouvida e respeitada, mas a decisão 
final será dos fundadores do Partido.
11 – O Primeiro Comando da Capital – PCC – fundado no ano de 1993, numa luta descomunal, 
incansável contra a opressão e as injustiças do campo de concentração “Anexo da Casa de Custódia e 
Tratamento de Taubaté”, tem como lema absoluto “A Liberdade, a Justiça e a Paz”.
12 – O Partido não admite rivalidade interna, disputa de poder na liderança do Comando, pois cada 
integrante do Comando saberá a função que lhe compete de “acordo” com sua capacidade para o exercício.
36
Criminologia
13 – Temos de permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra novamente um 
massacre semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de Detenção em 2 de outubro de 1992, onde 111 
presos foram covardemente assassinados, massacre esse que jamais será esquecido na consciência 
da sociedade brasileira. Porque nós do Comando vamos sacudir o sistema e fazer essas autoridades 
mudar a política carcerária, desumana, cheia de injustiça, opressão, tortura e massacres nas prisões.
14 – A prioridade do Comando, no momento, é pressionar o governador do Estado a desativar 
aquele campo de concentração “Anexo à casa de Custódia e Tratamento de Taubaté” de onde surgiu 
(sic) a semente e as raízes do Comando por meio de tantas lutas inglórias e tantos sofrimentos atrozes.
15 – Partindo do Comando Central da Capital do KG do Estado, as diretrizes de ações 
organizadas e simultâneas em todos os estabelecimentos penais do Estado são uma guerra sem trégua, 
sem fronteiras, até a vitória final.
16 – O importante de tudo é que ninguém nos deterá nesta luta porque a semente do Comando 
espalhou por todos os Sistemas Penitenciários do Estado e conseguimos nos estruturar também 
do lado de fora com muitos sacrifícios e muitas perdas irreparáveis, mas nos consolidamos a nível 
estadual e a médio e longo prazo nos consolidaremos a nível nacional. Em coligação com o Comando 
Vermelho – CV e PCC iremos revolucionar o país de dentro das prisões e o nosso braço armado será o 
Terror dos Poderosos, opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e o Bangu I do Rio de Janeiro 
como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros.
Conhecemos a nossa força e a força de nossos inimigos Poderosos, mas estamos preparados, 
unidos. E um povo unido jamais será vencido. Liberdade, Justiça e Paz. O Quartel general do PCC, 
Primeiro Comando da Capital, em coligação com o Comando Vermelho – CV. “Unidos Venceremos”. 
Carlos Amorim (1993, p.38), em sua obra Comando Vermelho: A História Secreta do Crime 
Organizado, entrevistou Williams da Silva Lima, conhecido como “Professor”, que declarou: 
“Conseguimos aquilo que a guerrilhanão conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros 
e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, elas serão três milhões 
de adolescentes que matarão vocês – a polícia – nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de 
adolescentes e dez milhões de desempregados em armas?”
O grupo de rap Facção Central (2006) canta uma música que fala sobre a atuação do Comando 
Vermelho. Acompanhe abaixo um trecho:
Quem enquadra a mansão, quem trafica. 
Infelizmente o livro não resolve
O Brasil só me respeita com o revólver
O juiz ajoelha, o executivo chora
Para não sentir o calibre da pistola
Se eu quero roupa, comida, alguém tem de sangrar
Vou enquadrar uma burguesa
E atirar para matar
Vou furtar seus bens
E ficar bem louco
sequestrar alguém no caixa eletrônico
A minha quinta série só não adianta
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Criminologia
Se eu tivesse um refém com o meu cano na garganta
Ai não tem gambé para negociar
Vai se ferrar, é hora de me vingar.
Mas, apesar de todas estas informações, quando se trata de definir o Crime Organizado nos 
deparamos com grandes dificuldades. A maior delas reside no fato de ser extremamente multifacetado, 
apresentando características distintas.
Pelo que se sabe, a expressão Crime Organizado surgiu na década de 1920, nos Estados 
Unidos da América, no interior das agências de segurança que combatiam a máfia italiana, que era 
uma organização de estrangeiros inicialmente pobres – os italianos – e que ganharam dinheiro com 
atividades ilícitas (SANTOS, 2003).
Apesar de várias tentativas de definição, que inicialmente tentaram aproximar o Crime 
Organizado do crime tipificado no Código Penal como quadrilha ou bando (art. 288), atualmente nota-se 
uma tendência para a mesclagem de diversos critérios, com a finalidade de evitar definições imprecisas.
Desse modo, Enrique Anarte Borrallo (1999, p. 31-33) identificou três requisitos que configurariam 
uma associação criminosa:
a) estrutural: número mínimo de pessoas integrantes;
b) finalístico: rol de crimes a ser considerado como de criminalidade organizada;
c) temporal: permanência e reiteração do vínculo associativo.
O FBI, por exemplo, define Crime Organizado como qualquer grupo que tenha algum tipo de 
estrutura formalizada cujo objetivo primário é a obtenção de dinheiro através de atividades ilegais. Tais 
grupos mantêm suas posições pelo uso de violência, corrupção, fraude ou extorsões.
Jay Albanese (professor da Virginia Commonwealth University, nos Estados Unidos) propôs uma 
análise pragmática capaz de fundamentar políticas públicas de combate ao crime organizado. “A ideia 
é definir alguns indicadores com base não nos comportamentos individuais, mas nos níveis de risco 
ligados às atividades. E a partir daí fazer avaliações de riscos” (apud CASTRO, 2007, p.56), afirmou.
Como ponto de partida, Albanese (apud CASTRO, 2007, p.57) optou pela seguinte definição de 
crime organizado: “Uma empresa criminal contínua que trabalha racionalmente visando ao lucro, com 
atividades ilícitas principalmente de grande demanda pública. Sua continuidade é baseada na força, na 
ameaça, no controle e monopólios e na corrupção de funcionários públicos”.
Seguindo essa linha, o art. 2º do Tratado de Palermo, resultante da Convenção da Organização das 
Nações Unidas sobre a Delinquência Organizada Transnacional, realizado no período de 12 a 15 de novembro 
de 2000, na Itália, prevê como organização criminosa aquela que reúna mais de três pessoas (requisito 
estrutural), de forma estável (requisito temporal), visando praticar crimes graves, assim considerados aqueles 
punidos com pena igual ou superior a quatro anos, com intuito de lucro (requisito finalístico).
38
Criminologia
Atenção
Ao acrescentar a finalidade econômica, tal aproximação conceitual busca, 
conforme a tendência contemporânea no plano internacional, diferenciar no 
terreno jurídico-penal os conceitos de Crime Organizado e Terrorismo, diante da 
prevalência, neste último, do conteúdo ideológico.
De acordo com o Instituto de Estudos Avançados (2007, p. 102), a partir do Tratado de Palermo, 
vários assuntos ligados ao Crime Organizado passaram a ser analisados em profundidade, gerando 
grandes repercussões. Entre elas podemos citar o comprometimento dos países em criminalizar 
a lavagem de dinheiro e o crime de corrupção em suas respectivas legislações penais, e a criação 
de sistemas que possibilitem o controle de suas instituições bancárias, com vistas a, pelo menos, 
minimizar o sagrado “sigilo bancário”, tão utilizado para acobertar valores oriundos de atividades 
ilícitas. Também ocasionou mudanças no que concerne a extradição de criminosos e transferência de 
presos, sempre respeitando, claro, a soberania dos países signatários.
Em maio de 2003 nosso Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção de Palermo. Tanto que 
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, firmou a adesão do 
Brasil à Convenção.
Características
Uma das primeiras características do Crime Organizado reside no objetivo de acumulação de 
poder econômico por parte de seus integrantes, já que estes procuram atuar no vácuo de alguma proibição 
estatal, o que lhes possibilita auferir extraordinários lucros. Aliás, estima-se que o mercado do Crime 
Organizado movimenta mais de ¼ (um quarto) do dinheiro em circulação no mundo.
Além disso, a acumulação do poder econômico deriva da necessidade de “legalizar” o lucro 
obtido ilicitamente, acarretando na lavagem de dinheiro auxiliada pelos paraísos fiscais (Panamá, 
Ilhas Cayman, Uruguai, Ilhas Virgens Britânicas, Andorra, dentre outros).
Como aponta Eduardo Araújo da Silva (2003, p. 28), o alto poder de corrupção também se 
configura num fator de incentivo ao Crime Organizado, pois consegue alcançar autoridades em todas 
as esferas estatais, como Polícia Judiciária, Poder Judiciário, Ministério Público, altos escalões do 
Poder Executivo e até mesmo do Poder Legislativo.
A presença desses agentes estatais na folha de pagamento de tais organizações cria uma sensação 
de segurança nos criminosos, que se sentem cada vez mais motivados e impunes para continuar a 
exercer sua “profissão”.
As Máfias italianas são consideradas verdadeiras potências financeiras do mundo. O volume 
anual de seus negócios alcança US$50 bilhões e estima-se que seu patrimônio seja superior a US$100 
milhões. Acrescente-se, ainda, que os 100.000 integrantes da Yakuza operam anualmente no mercado 
cerca de US$180 milhões.
39
Criminologia
Eduardo Araújo da Silva (2003) também observa que o Crime Organizado promove uma 
criminalidade difusa, difícil de ser detectada, pois se caracteriza pela ausência de vítimas individuais 
ou determinadas, apresentando um tipo de criminalidade que causa danos verdadeiramente imensos 
e de difícil reparação pois, o Poder Público, quando muito, ao descobrir a infração cometida, tenta 
rastrear, sem muito sucesso e de forma extremamente lenta, os valores que foram apropriados.
O autor continua observando que, além das dificuldades até aqui apresentadas, o Crime 
Organizado ainda apresenta característica mutante, muitas vezes se utilizando do mimetismo de 
atividades lícitas, como empresas de fachada, terceiros (vulgos laranjas) e contas bancárias sediadas 
em paraísos fiscais.
Já Marco Antônio Conceição (2004, p.20) nos informa que outro fator que dificulta a visibilidade 
de tais organizações reside nas conexões locais e internacionais, além da divisão de territórios para a 
atuação. No âmbito internacional, os criminosos:
não encontram grandes obstáculos para se integrarem, notadamente após o desenvolvimento 
do processo de globalização da economia, que contribuiu para a aproximação das nações, 
possibilitando aos grupos que ainda operavam paralelamente um novo impulso em suas relações 
com maiores perspectivas de expandirem mercadosilícitos. (CONCEIÇÃO, 2004, p. 20)
Ele cita como exemplos os cartéis colombianos que iniciaram suas atividades ilícitas 
com a comercialização da cocaína e, recentemente, passaram a englobar o cultivo de ópio e sua 
transformação em heroína.
O mesmo ocorreu com a Máfia Japonesa que, além de comercializar drogas, passou a atuar no 
mercado de ações e em atividades ligadas à pornografia. Também a Máfia Russa passou a explorar, além 
do tráfico de drogas e armas, o tráfico de componentes nucleares e de mulheres. O Crime Organizado 
brasileiro não ficou atrás, pois tem atuação no tráfico de drogas e armas, sequestro, extorsão mediante 
sequestro, assaltos a bancos, resgate de presos, mantendo, inclusive, conexões internacionais.
Nota:
Mimetismo significa cópia. Assim, mimetismo de atividades lícitas é copiar uma atividade 
lícita para servir de fachada a uma ilícita.
O fenômeno da globalização também se faz presente nas práticas ilícitas, como no Crime 
Organizado. Neste sentido, Gomes e Cervini (1997, p. 76-77) afirmam que:
talvez seja a ‘internacionalização’ (globalização) a marca mais saliente do crime organizado, nas 
duas últimas décadas. Já não é mais correto apontar a conexão norte-americana-italiana (Máfia 
siciliana e Cosa Nostra) como uma singular manifestação dessa modalidade criminosa. Inúmeras 
são as organizações criminais já mundialmente conhecidas. Podemos citar, dentre tantas outras 
ainda não tão destacadas, a Camorra Italiana, N´Drangheta Calabresa, a Sacra Corona Pugliesa, a 
Boryokudan e a Yakuza japonesas, as Tríades Chinesas, os Jovens Turcos de Cingapura, os novos 
bandos no Leste Europeu, os cartéis da droga, os contrabandistas de armas etc.
40
Criminologia
As organizações criminosas também se beneficiam da globalização da economia, desenvolvimento 
das telecomunicações, livre comércio e do sistema financeiro internacional. “Alguns já chegaram a formar 
um verdadeiro ‘antiestado’, isto é, um ‘estado’ dentro do Estado, com uma pujança econômica incrível, até 
porque existe muita facilidade na ‘lavagem do dinheiro sujo’, e grande poder de influência (pelo que é válido 
afirmar que é altamente corruptor [...]”. (GOMES; CERVINI. 1997, p. 76 e 77). Ainda:
o narcotraficante atual está cada vez mais diferente daqueles jovens com pulseiras de ouro, cintos 
largos, anéis brilhantes... tornou-se um executivo, um empresário moderno, que se dedica a um 
negócio altamente lucrativo. Estão participando ativamente da vida econômica de vários países, 
assim como da vida política. Marcam presença principalmente nos processos de privatização, não só 
para “lavar dinheiro”, senão sobretudo para incorporar-se na vida econômica lícita. Estão integrando 
o “narcotráfico” na vida institucional de cada país e desse modo buscam uma convivência pacífica, 
evitando-se a guerra fratricida e sangrenta. (GOMES; CERVINI. 1997, p. 76 e 77).
Argemiro Procópio (1999, p.49) revela a influência dos costumes e valores sobre uso de 
substâncias entorpecentes e seu consequente tráfico ilícito, enfatizando a entrada cada vez maior de 
menores no crime organizado. Assim, cita que:
no Rio de Janeiro e em São Paulo, menores de 18 anos ocupam postos de comando no mundo 
dos narcóticos. Tais funções no passado pertenciam exclusivamente aos maduros e considerados 
experientes. As organizações criminosas empregam diretamente, sem salários fixos, milhões de 
pessoas, sendo parte constituída por crianças e adolescentes. A recompensa cresce nas funções de 
mando. (PROCÓPIO, 1999, p. 49).
Em uma outra conotação podemos apontar como características principais do Crime 
Organizado:
a) Organização bastante rígida;
b) Certa continuidade “dinástica”;
c) Afã de respeitabilidade de seus dirigentes;
d) Severa disciplina interna;
e) Lutas internas pelo poder;
f) Métodos pouco piedosos de castigo;
g) Extensa utilização da corrupção política e policial;
h) Ocupação tanto em atividades lícitas como ilícitas – Mimetismo;
i) Simpatia de alguns setores eleitorais;
j) Distribuição geográfica por zonas;
k) Enormes lucros.
Dentre as atividades mais desenvolvidas pelo Crime Organizado podemos citar:
a) Tráfico ilícito de animais, devido ao seu caráter lucrativo (de até 800%), ao baixo risco de 
detenção e à falta de punição (estima-se que, no Brasil, 40% dos carregamentos ilegais de drogas 
estejam relacionados com o tráfico de animais);
41
Criminologia
b) Pesquisas biológicas clandestinas;
c) Comércio irregular de madeiras nobres da região amazônica e da mata atlântica, em especial 
o mogno, extraído dos Estados do Pará e sul da Bahia, com a suposta conivência de funcionários do 
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA);
d) Exploração de atividades ligadas à pornografia;
e) Tráfico de componentes nucleares, armas, drogas e mulheres;
f) Roubo a bancos;
g) Extorsão mediante sequestro;
h) Resgate de presos;
i) Lavagem de dinheiro.
Em um relatório divulgado em 17 de junho de 2002, pela organização não governamental 
World Wild Fund – WWF (2004), informa que:
o Crime Organizado, incluindo a Máfia russa e os cartéis de entorpecentes, estão adentrando o tráfico 
ilícito de animais, devido ao seu caráter lucrativo (de até 800%), ao baixo risco de detenção e à falta 
de punição. Estima-se que, no Brasil, 40% dos carregamentos ilegais de drogas estejam relacionados 
com o tráfico de animais. Nos Estados Unidos, mais de 1/3 (um terço) da cocaína apreendida em 1993 
provém da importação de animais selvagens. Em alguns casos, os animais são levados juntamente 
com as drogas; em outros, são usados como moeda de troca e lavagem de dinheiro.
Segundo relatório final da CPI da Biopirataria, divulgado em 03 fev. 2003, o comércio ilegal de animais 
movimenta aproximadamente R$ 2 bilhões por ano e a comercialização ilegal de madeira R$ 4 bilhões.
Não podemos esquecer, também, a existência de organizações criminosas que se especializam no 
desvio de extraordinários montantes dos cofres públicos para contas de particulares, as quais são abertas 
em paraísos fiscais no exterior, principalmente em países que não têm acordos de extradição com o Brasil.
Entretanto, uma das vertentes mais cruéis do Crime Organizado está na indústria da 
pornografia infantil, em que a distância entre a vítima e o agressor ou consumidor tende a alargar-se, 
dificultando cada vez mais a investigação criminal, como apontado no relatório de 10 de março de 
2008 desenvolvido pelo GPACI (Grupo de Prevenção do Abuso e do Comércio Sexual de Crianças 
Institucionalizadas), em Portugal.
Ao analisar as agressões sexuais contra menores, não podemos nos limitar a simples perseguição 
penal dos agentes individuais isolados, que atuam dominados pelo desejo sexual de menores, sendo 
imperioso considerar a proliferação das redes pedófilas e a florescência dos negócios associados ao 
fenômeno, que incluem captação e visionamento de imagens representativas de crianças em atividade 
sexual (pedopornografia infantil), em circuitos negociais complexos e globais. Os casos noticiados no 
Congresso de Yokoama, “Cathedral” e “Wonderland Club” são emblemáticos da danosidade social 
destas redes e de como a Internet contribuiu para a explosão de novas formas de criminalidade.
No caso “Wonderworld” foram identificadas imagens ou vídeos de 1263 crianças diferentes, 
num total de 750.000 imagens e 1.800 horas de filme. Tal como no caso “Cathedral”, os membros do 
“Wonderland Club” abusavam de crianças com difusão de imagens via Internet, seguindo instruções 
42
Criminologia
de outros membros conectados. Para maiores informações sobre esse assunto o livro Pedofilia: 
repercussões das novas formas de criminalidade na teoria geral da infração, de Inês Ferreira Leite, da 
editora Almedina, do ano de 2004.
A revelação destes casos comprova a existência de novos problemas para as polícias e tribunais. 
A eficácia da tutela penal exige o conhecimentoe a detecção do funcionamento destas redes, seu grau 
de organização, a forma como usam as tecnologias de informação adquirindo expansão mundial e 
resistência especial à investigação criminal. Neste campo, há de se compreender que o crime deixou 
de ser territorial, desmaterializou-se, globalizou-se, enquanto a justiça permanece territorial. 
Assim, para uma detecção eficaz dos agressores, torna-se necessário definir os circuitos do 
negócio da pornografia infantil, considerando as seguintes fases:
1ª fase: A atuação dos angariadores: é quem dá início ao processo de corrupção e abuso dos 
menores. É um dado da experiência comum que, quase sempre, o angariador é ou se torna abusador. 
Este aspecto resulta bem salientado em vários relatórios, como o da PSP (Polícia de Segurança Pública), 
sobre os locais da angariação de prostituição infantil, em Lisboa.
2ª fase: Os circuitos de exploração sexual comercial das crianças/jovens. A criança é introduzida 
nesses circuitos de modo variado, podendo ir até ao desaparecimento ou com possibilidade de 
“devolução” ao seu ambiente natural em troca de silêncio ou contando mesmo com a cumplicidade de 
pais, professores ou encarregados da sua guarda. Muitas vezes, esse silêncio depende apenas de certas 
somas em dinheiro, o que não é raro num país com fenômenos de pobreza acentuada, como o nosso. 
É decisivo o conhecimento dos locais do negócio e da estadia física das crianças, para além da 
localização das próprias crianças utilizadas neste comércio escravo. É neste terreno que se concentram 
as principais dificuldades de intervenção policial.
No negócio de pornografia infantil desenvolve-se um complexo circuito de atores, produtores e 
realizadores, distribuidores do produto final e consumidores, que pode se estender a vários continentes, 
como já aconteceu.
Na venda-distribuição de pornografia infantil, a relação com a vítima é mais longínqua do que 
no crime de configuração tradicional, o que dificulta a efetiva proteção da criança na razão inversa 
do perigo. Isto é, enquanto a indústria da pornografia infantil potencializa as ameaças de utilização 
criminosa das crianças, os mecanismos de perseguição penal têm reagido lenta e de forma defasada, 
em que as tecnologias de informação e a deslocalização do agressor vieram dar uma nova dimensão a 
esta criminalidade.
A Internet transporta-nos para o domínio do crime-sem lugar-nenhum, da volatilidade das provas, 
enquanto o direito penal e os tribunais têm-se mantidos excessivamente territoriais e desajustados das 
exigências de combate a esta criminalidade. Quanto ao papel dos diferentes intervenientes, deparamo-
nos com um investigador e acusador “perdidos” no espaço local-nacional e internacional, com meios 
inteiramente defasados dos que estão ao alcance dos autores destes tráficos desumanos.
43
Criminologia
Um outro aspecto diz respeito ao Crime Organizado e ao tráfico de pessoas. É a venda 
de crianças para exploração sexual ou do trabalho, bem como uma série de condutas satélites da 
pedopornografia, como a produção, distribuição ou consumo de toda a representação visual ou áudio 
que, por qualquer meio, envolva utilização de uma criança em atos, comportamentos ou ambientes 
de natureza sexual ou ainda a exposição dos seus órgãos sexuais. Registre-se, ainda, nas palavras de 
Mário Antônio Conceição (2000, p. 75), que a:
criminalidade organizada não é apenas uma organização bem feita, não é somente uma 
organização internacional, mas é, em última análise, a corrupção da Legislatura, da Magistratura, 
do Ministério Público, da Polícia, ou seja, a paralisação estatal no combate à criminalidade (...) é 
uma criminalidade difusa que se caracteriza pela ausência de vítimas individuais.
O Crime Organizado no Brasil:
Nas décadas de 70 e 80, organizações criminosas surgiram nas penitenciárias da cidade do 
Rio de Janeiro, como a “Falange Vermelha”, que nasceu no presídio da Ilha Grande e é formada por 
quadrilhas especializadas em roubos a bancos, o “Comando Vermelho”, originado no presídio Bangu 1 
e comandado por líderes do tráfico de entorpecentes e o “Terceiro Comando”, dissidente do Comando 
Vermelho e idealizado no mesmo presídio por detentos que discordavam da prática de sequestros 
de crimes comuns praticados por grupos criminosos. Vale lembrar que “no Estado de São Paulo, 
em meados da década de 90, surgiu no presídio de segurança máxima anexo à Casa de Custódia e 
Tratamento de Taubaté, a organização criminosa denominada PCC – Primeiro Comando da Capital 
–, com atuação criminosa diversificada em diversos Estados. O PCC patrocina rebeliões e resgates 
de presos, rouba bancos e carros de transporte de valores, pratica extorsão de familiares de detentos, 
extorsão mediante sequestro e tráfico de entorpecentes, possuindo conexões internacionais. Ademais, 
assassina membros de facções rivais, tanto dentro como fora dos presídios.
Conceito Legal de Organização Criminosa
CRIME ORGANIZADO (LEI N.º 12.850/2013) – CAPÍTULO I
DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
LEI
Art. 1º. 
§ 1º. Considera-se organização criminosa a associação 
de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente 
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda 
que informalmente, com objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante 
a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam 
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional.
44
Criminologia
A presente Lei revogou a Lei n. 9.034/95 que tratava do Crime Organizado.
TERRORISMO E CRIME ORGANIZADO:
Cheriff Bassiouni (1999), um dos maiores especialistas em Direito Internacional Penal, 
conquanto reconheça a possibilidade de sobreposições de características, traça a seguinte comparação: 
(VERGUEIRO, ONLINE, 2006).
I – Por definição, o crime organizado, ao contrário do terrorismo, não poder ser cometido 
individualmente, até porque todos os crimes desta categoria são de natureza coletiva;
II – O crime organizado é quase sempre comprometido com o lucro, ainda que, como o 
terrorismo, possa buscar acesso ao poder. Enquanto o terrorismo, pelo contrário, é sempre cometido 
por uma finalidade de poder, apesar de seus agentes, eventualmente, recorrerem a crimes, visando a 
angariar recursos financeiros;
III – Grande parte das atividades da criminalidade organizada é de natureza consensual, como 
o comércio de drogas, e não depende de um efeito aterrorizante, embora possa utilizar-se de violência 
para inspirar medo nas vítimas de extorsão, aos concorrentes, ou para resistir às forças de segurança; 
IV – As quadrilhas de crime organizado podem ser grandes ou pequenas, com ou sem ligações 
internacionais, ou permanecer “nas sombras”, procurando evitar atenções. Já os grupos terroristas 
almejam permanecer em evidência para que suas ideias e objetivos sejam conhecidos, podendo ainda 
atuar contra o Estado ou como sustentáculo de uma política repressiva estatal.
Aliás, a experiência tem revelado que a criminalidade organizada, longe de ser causada 
pela falta de leis, é consequência, em grande parte, da apatia, e até mesmo conivência da sociedade, 
destinatária final da maioria dos seus “serviços”. Isso não se coaduna com a lógica terrorista, que 
não pode conviver com apatia e conivência, até porque se propõe, em geral, à superação do sistema, 
considerado falho e corrupto (VERGUEIRO, ONLINE, 2006).
2.6 Criminalidade feminina
Antes de adentrarmos no perfil da criminalidade feminina, é importante fazermos algumas 
observações preliminares. Inicialmente, se queremos nos aproximar da criminalidade feminina, 
devemos tratá-la como um tópico com características próprias. Ou seja, a maioria dos estudiosos cai na 
tentação de iniciar seus estudos comparando a criminalidade feminina com a masculina, baseando-se 
em estatísticas criminais. Todas elas, no entanto, seja de onde forem, vão sempre apontarnuma única 
direção: a mulher comete bem menos crimes que o homem. Mas será que podemos confiar nestes dados? 
A mulher realmente é menos criminosa que o homem, como já defendia Lombroso, ou será que sua 
forma de praticar crimes ainda é diferente da do homem, talvez mais sutil ou mais dissimulada? 
Uma segunda observação que merece ser feita aponta para a forma de participação da mulher 
na dinâmica criminal. Enquanto nossa legislação penal está preparada, principalmente, para agir 
sobre o indivíduo que mais se expõe ao praticar um crime, a mulher costuma agir nos bastidores da 
45
Criminologia
criminalidade, auxiliando seu parceiro, na maioria das vezes, na preparação intelectual ou no repasse 
dos produtos obtidos com o crime praticado. Ou seja, enquanto a violência é mais usada pelo homem, 
a astúcia o é pela mulher. 
Esta forma de participação, ainda diferenciada, nos conduz a uma terceira observação, que 
dificulta em muito o diagnóstico preciso da criminalidade feminina: a escassez comparativa de 
elementos. Pois se a mulher, realmente, não é menos criminosa que o homem, mas sua forma de 
participação é que interfere nas estatísticas criminais, isto nos leva a uma falta de informações sobre 
esta parcela do universo feminino.
Por último, vale lembrar que todo o arsenal voltado ao combate da criminalidade foi 
desenvolvido, até agora, principalmente por homens, nos seus vários papéis como legisladores, juízes 
e policiais. A visão do que é perigoso, muitas vezes, é traçada com base em sua própria experiência, 
suas vivências. Daí porque, talvez, a prostituição nunca tenha sido tipificada como crime em nosso 
ordenamento jurídico, apesar de toda sua relação com o comportamento criminoso. 
Também a visão que os homens têm da criminalidade feminina em muito corrobora para o 
incremento das cifras negras da criminalidade. Pois os homens, em sua grande maioria, e também algumas 
mulheres, acham que comportamento criminoso está dissociado do universo feminino. Tanto assim que, 
ainda nos dias de hoje, em situações corriqueiras, como uma “blitz”, por exemplo, não é difícil que um 
policial, ao ver que quem está na direção é uma mulher, libere-a duma revista de armas, por exemplo.
Partindo destas observações, iniciaremos nosso estudo sobre a criminalidade feminina 
abordando suas características, no decorrer da história, os principais tipos de crimes e as explicações 
e motivos que levam uma mulher a adentrar no universo do crime.
Síntese histórica da criminalidade feminina
Numa perspectiva histórica, os crimes em que as mulheres aparecem mais envolvidas 
em épocas anteriores são normalmente o adultério, a feitiçaria, o envenenamento e o infanticídio. 
Penólogos e historiadores conseguiram condensar diversos materiais que mostram como, nas antigas 
sociedades, antes de surgir o Estado propriamente dito, as mulheres apanhadas em adultério eram 
punidas pelos seus maridos, que exerciam seus direitos como chefes de família (MANNHEIM, 1980, 
p.1028). Os penólogos também estudaram as diferenças medievais no que toca aos métodos penais, 
quando aplicado aos dois sexos: afogar, queimar ou enterrar vivas as condenadas eram considerados 
modos particularmente apropriados de execução para mulheres na Idade Média. Nos julgamentos 
medievais por feitiçaria, as mulheres tinham de suportar o ônus da prova, porque se acreditava serem 
elas mais propensas a terem relações sexuais com o diabo. 
Kurt Baschwitz (BASCHWITZ, 1963, p.13), por meio de suas pesquisas históricas, relata que a 
maior parte das acusadas eram mulheres velhas e pobres e que Joana d’Arc foi talvez uma das exceções, 
tendo sido julgada não por feitiçaria, mas por heresia. Também relata que o grande astrônomo Johann 
Kepler conseguiu, em 1621, depois de uma luta de seis anos, salvar sua mãe da fogueira e que em 
46
Criminologia
alguns casos, como na Suécia, por exemplo, as autoridades serviram-se de crianças como testemunhas 
contra mulheres acusadas de feitiçaria. Infelizmente, os últimos julgamentos deste tipo tiveram lugar 
somente em meados ou finais do século XVIII.
Segundo Mannheim (1980, p. 1029), as mulheres do século XVI eram continuamente mencionadas 
não só como receptadoras de coisas furtadas ou roubadas, mas também com ligações a brigas e outros 
crimes violentos, sendo muitas vezes tão ou mais brutais que seus maridos ou amantes. Entre as massas 
de vagabundos que proliferavam cada vez mais nas grandes cidades existentes, como Paris e Londres, 
por exemplo, as mulheres tinham um papel de destaque, não só como companheiras dos homens, mas 
frequentemente sozinhas, como prostitutas e pedintes. Mais tarde, no século XVIII, o tipo de criminalidade 
feminina que mais chamou a atenção das autoridades foi o infanticídio. A trágica história de Gretchen no 
Fausto, de Goethe, nos fala da execução de uma mulher, em Frankfurt, por infanticídio. Outros grandes 
poetas alemães, como Schiller e Bürger, realizaram uma campanha maciça em suas obras a favor da 
abolição da pena de morte para o crime de infanticídio. Com a Revolução Francesa o infanticídio passou a 
ser compreendido, naquele momento histórico, como um dos crimes sintomáticos da insensível exploração 
pela aristocracia das mulheres pertencentes às classes sociais mais desprotegidas.
Mas mulheres pertencentes à aristocracia francesa desempenharam um importante papel na prática 
de crimes de um gênero inteiramente diferente até então. No século XVII, a marquesa de Brinvilliers15 foi 
condenada por utilizar arsênico em larga escala em doentes do hospital de Paris, para fins experimentais, para 
depois envenenar alguns familiares; Anna Zwanziger, na Alemanha, no séc. XIX, autora de 15 envenenamentos; 
Archer Gilliagan, nos Estados Unidos, que envenenou 48 anciãos de um abrigo para a velhice durante anos 
seguidos, também com arsênico etc. No Brasil, sobretudo no Recife, em 90% o arsênico foi o veneno utilizado, 
tendo sido o marido mais vítima do que o amante ou a rival no amor (ALVES, 1995, p. 272).
Entretanto, desde esta época se percebe que a criminalidade feminina, até então restrita aos 
comportamentos aqui apontados, ganha novas facetas. Pois a partir do início do século XX já se 
detectam alcoolismo, lenocínio e crueldade para com crianças, furtos em lojas e, mais recentemente, 
tráfico de drogas, receptação, roubo, lesões corporais, latrocínios e homicídios.
5 Marie-Madeleine Marguerite d’Aubray, Marquesa de Brinvilliers (ou Brinvilliers-Lamotte), (Paris, 2 
de julho de 1630 — Paris, 17 de julho de 1676) é apontada por estudiosos como a primeira mulher da 
história a cometer envenenamentos em série. A marquesa viveu na França do século XVII e era descrita 
como uma dama educada e encantadora. Ainda jovem, restou insatisfeita com seu casamento e iniciou 
mórbidos estudos acerca de venenos, num tempo em que o divórcio era uma entidade desconhecida. 
Há rumores de que tenha sido iniciada sexualmente por seus irmãos ou talvez pelo próprio pai, o qual 
teria sido sua primeira vítima. Pôs fim à vida do irmão e de duas irmãs — alguns autores alegam que 
o fez para se apoderar da herança de Madame Lafargue. Também o fez em relação ao marido, à filha e 
a outros membros da família dele. Costumava testar o efeito de seus preparados em pacientes enfermos 
nos leitos de hospitais e em seus criados: ora provocava mortes fulminantes, ora lentas e marcadas por 
profunda agonia. Ao se tornar suspeita, fugiu para a Inglaterra e, posteriormente, para os Países Baixos. 
Então, rumou para Liège, onde se refugiou num convento. Em 1676, foi presa, torturada e julgada no 
Supremo Tribunal em Paris, que a condenou à morte. Acesso em hhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Marie-
Madeleine_de_Brinvilliers Acessado em: 17 de julho de 2015.
47
Criminologia
O modus operandi continua sendo diverso. Os crimes de homicídio praticados por mulheres 
tendem a ter motivações passionaisou financeiras. A presença de mulheres nas estatísticas de homicídios 
são reduzidas e, quando isso se observa, segundo conclusões de vários estudos, decorre de envolvimento 
afetivo, do tipo amoroso ou ciumento, com os maridos, companheiros, amantes, e excepcionalmente, 
rivais, ou então, da necessidade ou mero desejo de obtenção de alguma fortuna. Neste último caso, 
destaca-se a condição socioeconômica da mulher, isto é, as dificuldades de autossustento financeiro 
numa sociedade que discrimina a mão de obra feminina.
Em interessante estudo sobre a criminalidade na cidade de São Paulo, nos idos de 1880 a 1924, 
Boris Fausto (2001, p. 75) salienta que:
as características do homicídio feminino (...) aproximam-se em muitos aspectos das reveladas por 
outros autores americanos com relação a Filadélfia. Tanto nos levantamentos de dados obtidos na 
imprensa como através dos processos judiciais, avultam do ponto de vista da temática as questões 
ligadas à família e à vida afetiva. Raramente as mulheres agem contra pessoas do mesmo sexo, e 
sua posição na agressão aos homens configura na maioria dos casos um crime ‘precipitado pela 
vítima’, como resposta a assédio sexual, a maus tratos, a ofensas físicas ou verbais à sua honra.
Ainda segundo Boris Fausto (2001, p. 76):
antigamente era mais comum observar uma prévia vitimização da mulher, circunstância 
responsável por sua posição como criminosa. E o enredo familiar diz muito sobre o papel 
desempenhado pela mulher na sociedade. A dependência financeira e emocional do homem 
se apresenta como fator muitas vezes preponderante para a colocação da mulher como agente 
de um crime de homicídio.
Quanto aos meios empregados, Boris Fausto (2001) constatou que a mulher praticamente não utilizava 
armas de fogo, preferindo aquelas “armas” que estivessem mais facilmente ao seu alcance, como facas, facões e 
tesouras, denominadas de armas brancas, e que são facilmente encontradas no ambiente doméstico. 
Ele continua relatando que, no tocante à própria prostituição, a mais antiga das “profissões”, 
percebemos atualmente contornos totalmente novos. Se no passado já foi tida como o substitutivo da 
criminalidade masculina, tese defendida por Lombroso, hoje se sabe que, neste único modelo de conduta, 
reúnem-se todos os vícios condenados por uma média da sociedade e, no mesmo passo, os paradoxos 
de uma sociedade elitista, machista e encoberta de véus. É importante dizer que a prostituição, desse 
modo considerado o ato de dispor do próprio corpo para terceiros, mediante recompensa, com fins 
sexuais, não é um crime em si mesmo. Não está prevista na legislação penal como conduta típica, mas 
os criminólogos são uníssonos em afirmar que a prostituição atrai para sua órbita de influência uma 
série de atos criminosos, como o rufianismo6, o lenocínio7, o tráfico de entorpecentes, o furto, as lesões 
6 Segundo o Código Penal brasileiro, rufianismo é o tipo penal previsto no artigo 230 que consiste no fato 
de “tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, 
no todo ou em parte, por quem a exerça”. Pode-se perceber pela leitura do texto legal, que este artigo trata 
da figura do chamado “rufião”, “cafetão” ou “gigolô”. A pena é de reclusão que vai de um a quatro anos 
cumulada com pena de multa.
48
Criminologia
corporais e, mais recentemente, a exploração sexual de crianças e adolescentes. 
Segundo o Código Penal brasileiro, rufianismo é o tipo penal previsto no artigo 230 que 
consiste no fato de tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou 
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça. Pode-se perceber pela leitura do texto 
legal, que este artigo trata da figura do chamado “rufião, cafetão ou “gigolô”. A pena é de reclusão que 
vai de um a quatro anos cumulada com pena de multa. 
O lenocínio é uma palavra de origem latina (lenociniu) que caracteriza o crime contra os costumes, 
caracterizado sobretudo pelo fato de se prestar assistência à libidinagem alheia, ou dela se tirar proveito, e 
cujas modalidades são o proxenetismo, o rufianismo e o tráfico de mulheres; alcovitice, alcoviteirice.
Isso ocorre em razão da função social atribuída à prostituição: embora uma atividade marginal, 
goza de certa tolerância social. Assim, explica-se a relevância desse tema para a Criminologia.
Inclusive, há quem defenda a tese de que a repressão exagerada à prostituição favoreceria o 
aumento da violência doméstica e dos crimes sexuais em geral, tais o estupro e o atentado violento ao 
pudor. A prostituição funcionaria então como uma “válvula de escape” para a agressividade do homem. 
Enfim, como aponta Marcus Oliveira (2005), “um belo exemplo da ótica masculina que permeia as 
questões envolvendo a criminalidade e a mulher”.
Marcus Oliveira (2005) também observa que a forma da mulher se prostituir vem mudando 
no decorrer do tempo. A exposição em lugares públicos e a abordagem direta aos clientes deu lugar 
aos books divulgados na Internet, pois a mídia eletrônica é muito eficaz na oferta de sexo.
Também as expressões como hoje são conhecidas estão carregadas de uma grande dose 
de eufemismo, tais como “acompanhantes”, “modelos”, “massagistas” etc. Com a renda obtida na 
prostituição, algumas delas conseguem financiar curso superior, viagens e até imóveis próprios, como 
é o caso de Bruna Surfistinha, que em seu livro, O Doce Veneno do Escorpião (Ed. Original, 2005, São 
Paulo), conta sua trajetória bem-sucedida no mundo da prostituição.
Curiosidade
A título de curiosidade vale informar que o site do Ministério do Trabalho e 
Emprego ( http://www.mtecbo.gov.br/busca/especialistas.asp?codigo=5198 ) 
traz, na Classificação Brasileira de Ocupações, a de nº 5.198, que se dirige aos 
“Profissionais do Sexo”, assim entendidos: Garota de programa, Garoto de 
programa, Meretriz, Messalina, Michê, Mulher da vida, Prostituta, Trabalhador 
do sexo. Na descrição sumária da atividade, o Ministério do Trabalho e Emprego 
define profissionais do sexo como aqueles que “buscam programas sexuais; 
atendem e acompanham clientes; participam em ações educativas no campo da 
sexualidade”. Cita, ainda, as competências pessoais para o exercício da profissão:
7 O lenocínio é uma palavra de origem latina (lenociniu) que caracteriza o crime contra os costumes, 
caracterizado sobretudo pelo fato de se prestar assistência à libidinagem alheia ou dela se tirar proveito, e 
cujas modalidades são o proxenetismo, o rufianismo e o tráfico de mulheres; alcovitice, alcoviteirice.
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Criminologia
1. Demonstrar capacidade de persuasão; 2. Demonstrar capacidade 
de comunicação; 3. Demonstrar capacidade de realizar fantasias 
sexuais; 4. Demonstrar paciência; 5. Planejar o futuro; 6. Demonstrar 
solidariedade aos colegas de profissão; 7. Demonstrar capacidade de 
ouvir; 8. Demonstrar capacidade lúdica; 9. Demonstrar sensualidade; 
10. Reconhecer o potencial do cliente; 11. Cuidar da higiene pessoal; 
12. Manter sigilo profissional.
Lista também os Recursos de Trabalho: “Cartões de visita; Acessórios; Lenços 
umedecidos; Álcool; Agenda; Celular; Documentos de identificação; Gel à base de 
água; Guarda-roupa de trabalho; Maquilagem; Papel higiênico; Preservativo”.
No que concerne aos infanticídios e abortos, que a legislação penal especifica crimes próprios 
da mulher, Marcus Oliveira (2005, p. 76) afirma que:
só ela pode figurar como sujeito ativo, merece fazer aqui algumas distinções. Enquanto 
o aborto é a interrupção da gravidez antes de atingir o limite fisiológico, isto é, durante o 
período compreendido entre a concepção e o início do parto, que é o marco final da vida 
intra-uterina, o infanticídio é o mesmo que matar, mas sendo o próprio filho, durante o parto 
ou logo depois, sob a influência do estado puerperal8.
E conforme relato da medicina especializadapodemos perceber que o estado puerperal é um 
fato biológico bem estabelecido que a parturição desencadeia numa súbita queda nos níveis hormonais 
e alterações bioquímicas no sistema nervoso central. A disfunção ocorreria no eixo Hipotálamo-
Hipófise-Ovariano, e promoveria estímulos psíquicos com subsequente alteração emocional. Em 
situações especiais, como nas gestações indesejadas, conduzidas em segredo, não assistidas e com 
parto em condições extremas, uma resposta típica de transtorno dissociativo da personalidade e com 
desintegração temporária do ego poderia desencadear esse fato biológico, onde a morte do recém-
nascido sob a influência do estado puerperal se enquadraria na figura típica do infanticídio.
No Brasil, o infanticídio é um crime doloso, tendo pena diminuída em relação ao crime de 
homicídio, vindo em dispositivo próprio do Código Penal (art. 123), desde que seja praticado pela mãe 
sob influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto. Por outro lado, não se encontrando 
a mãe neste estado anímico, caracteriza-se o homicídio. E sendo antes do parto, o crime é o de aborto 
(MOREIRA, 2012, p. 1025).
8 Estado puerperal também é um fato biológico bem estabelecido que a parturição desencadeia numa 
súbita queda nos níveis hormonais e alterações bioquímicas no sistema nervoso central. A disfunção 
ocorreria no eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovariano e promoveria estímulos psíquicos com subsequente 
alteração emocional. Em situações especiais, como nas gestações indesejadas, conduzidas em segredo, 
não assistidas e com parto em condições extremas, uma resposta típica de transtorno dissociativo da 
personalidade e com desintegração temporária do ego poderiam ocorrer. A morte do recém-nascido sob 
a influência do estado puerperal se enquadrará na figura típica do INFANTICIDIO (ART.123 – C.P). 
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_puerperal>Acessado em: 17 de julho de 2015.
50
Criminologia
Com grande lucidez, compreende-se que:
o aborto está incluído entre os assuntos de alta complexidade, nos aspectos ético, moral, jurídico, 
social e político, da atualidade. Não cabe aqui ingressar em debates sobre tal comportamento, 
cuja arena mais apropriada é o da bioética, mas o certo é que a criminalização do aborto, 
embora uma das condutas com mais altos índices de cifras negras, apresenta indisfarçável 
importância para a compreensão das interpenetrações da mulher com a criminalidade. No 
caso do infanticídio, ante a raridade de sua ocorrência e também por causa das dificuldades 
geradas pelo conceito jurídico de estado puerperal, discute-se sua transposição para as 
hipóteses de homicídio comum (OLIVEIRA, 2005, p. 83).
Tanto é assim que é rara a notificação de um aborto nas delegacias de polícia. Quanto mais que 
uma mulher seja levada perante o Tribunal do Júri acusada de ter praticado um aborto. 
Vale observar que, apesar de muito mais variada, a criminalidade feminina continua 
apresentando-se muito inferior à masculina, na proporção de 1:6 ou 1:7. Com isso, não podemos deixar 
de crer que estes números são, no seu conjunto, de pouco significado, pois o que verdadeiramente 
importa são as taxas relativas às infrações em concreto, o que escapa, até agora, às estatísticas criminais. 
Uma das explicações para tal fenômeno, já iniciada no tópico anterior, diz respeito a criminalidade 
feminina ser voltada para uma espécie ou espécies de crimes que podem ser consideradas de pouca 
importância, como encobrimentos de nascimentos, abortos, bigamia, tentativa de homicídio, furto de 
pequenas coisas praticados por empregadas domésticas e pelas clientes de lojas e tentativa de suicídio.
Importante
Entretanto, talvez o impacto mais importante referente a criminalidade feminina 
esteja no tráfico de drogas. Já há alguns anos vem-se notando a participação cada 
vez maior da mulher, principalmente no que concerne à receptação. Pesquisas 
revelam que, na grande maioria das vezes, seu envolvimento no mundo das drogas 
provém de seus envolvimentos amorosos com homens ligados ao tráfico, bem como 
a facilidade de obtenção de dinheiro. Tanto é assim que, na maioria das vezes 
ocupam posições subalternas na hierarquia do tráfico de drogas, assumindo o que 
coloquialmente se entende como “aviões” ou “mulas”, ou seja, receptadoras.
Além de seu envolvimento no tráfico de drogas, percebe-se o envolvimento das mulheres, 
também, nos crimes de sequestro. Mas, tal e qual acontece no tráfico, costumam também ocupar aqui 
posições subalternas, como vigilantes, ou proporcionando alimentação no cativeiro ou contato com a 
família do sequestrado. 
Se, por um lado, a criminalidade feminina se aproxima, cada vez mais, da masculina, ainda no 
século XXI apresenta características próprias. 
Um dos métodos utilizados predominantemente pelo sexo feminino é a vitriolagem, ou seja, 
queimadura por arremesso de ácidos, principalmente no rosto, pescoço, tórax e membros superiores 
do(a) parceiro(a), que podem ocasionar situações potencialmente mortais pelas complicações que 
podem surgir. O exemplo mais frequente é o arremesso de ácido sulfúrico (óleo de vitríolo – daí o 
nome de vitriolagem) com o intuito de desfigurar. 
51
Criminologia
Outra característica no universo delinquencial feminino é a predominância de mutilações 
sexuais cometidas por mulheres contra seus parceiros. A seguir, relato de alguns casos:
A) O primeiro caso no mundo9 – Um dos casos mais rumorosos envolvendo a mutilação 
genital masculina foi o de John Bobbit. Em 1993, o ex-fuzileiro naval americano teve o pênis arrancado 
pela mulher, com uma faca de cozinha, quando dormia. Lorena alegou que assim o fez porque era 
constantemente agredida pelo marido, tendo a mutilação ocorrida depois de uma discussão, após ela 
ter pedido a separação e John tê-la recusado. Mas John teve a sorte de a manicure equatoriana Lorena 
não ter fugido com o membro, o qual foi reimplantado. Curiosamente, John acabou virando ator 
pornô nos Estados Unidos. Lorena alegou que era forçada por John a fazer sexo. Sua vítima desistiu dos 
filmes para adultos e virou pastor evangélico. Mulheres de todo o mundo apoiaram Lorena, declarada 
inocente da agressão pela Justiça dos Estados Unidos, tendo sido absolvida em janeiro de 1994, por 
“insanidade temporária”.
B) Mulher que cortou pênis do namorado é presa na Indonésia10: A polícia indonésia deteve 
uma mulher de 22 anos que cortou o pênis do namorado e depois fugiu com o órgão amputado, 
impossibilitando que os médicos o reimplantassem. O vitimado, Markus Hunbani, de 23 anos, 
morador do povoado de Fatumonas, na ilha do Timor Oeste, está internado num hospital. Ele diz que 
ainda não entendeu os motivos do ataque de sua namorada, Erlin Mafefa. O jovem foi hospitalizado 
no hospital de Kupang após a mutilação, na segunda-feira (09 jul. 2007) e permanece internado. Ele 
mantinha a esperança de que Erlin chegasse com seu pênis para que os médicos pudessem tentar o 
reimplante, mas ela não apareceu. Um parente de Markus disse que a polícia confirmou a detenção de 
Erlin, mas por enquanto não encontrou o pênis amputado. A prisão de Erlin foi confirmada por uma 
autoridade judicial na sexta-feira (13). Ao depor, ela confirmou a agressão e disse simplesmente que 
“joguei o pênis fora”.
C) O primeiro caso no Brasil – A chamada “síndrome de Lorena Bobbit11” se manifestou no Brasil 
em abril de 2001, quando uma mulher cortou o pênis de um homem na cidade de Peixe-Boi, no Pará. 
Desconfiada de que estava sendo traída pelo marido, ela esperou que ele fosse dormir e com uma faca 
de cozinha, afiada em ambos os lados cortou-lhe o pênis. “Eu não senti porque havia bebido”, disse ele, 
que teve o membro reimplantado. A mulher fugiu e, pelos registros policiais, nunca mais foi encontrada.
9 Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/post.asp?t=indonesia-mutila-namorado-foge-
copenis&cod_Post=65619&a=88>Acessado em: 17 de julho de 2015.
10 Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/post.asp?t=indonesia-mutila-namorado-foge-
copenis&cod_Post=65619&a=88> Acessado em: 17 de julho de 2015
11 Disponível em: <http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020808/pri_ult _080802_282.htm> 
Acessado em: 17 de julho de 2015
52
Criminologia
D) O segundo caso no Brasil – O pedreiro A.M.F., 35 anos, morador de Lagoa Santa12, na região 
metropolitana de Belo Horizonte, foi submetido a uma cirurgia de reconstituição do pênis, decepado 
– em agosto de 2002 – com uma faca de cozinha pela dona de casa M.L.P., 45 anos. A Polícia Civil 
trabalhou com duas hipóteses para esclarecer a agressão. A primeira é a de que o homem vinha tentando 
estuprar a mulher, segundo ela mesma relatou. A segunda versão foi contada por vizinhos: o pedreiro 
estaria assediando a dona de casa nos últimos dias, depois que seu marido saía para trabalhar. Na última 
tentativa, o homem invadiu a residência da vizinha, tirou a roupa e deitou na cama do casal, preparando-
se para a relação sexual. A mulher fingiu que teria consentido com o convite e pediu ao pedreiro que 
colocasse o travesseiro no rosto. Depois, pegou a faca de cozinha e fez um corte profundo no pênis dele.
E) Reação contra a tentativa de relação sexual não consentida13 – A comerciária L.D.C., 23 
anos, cortou o pênis do ex-marido, L.S.C., 28, durante uma briga na madrugada, no último domingo 
de julho de 2006. O caso aconteceu na casa dela, zona leste de Presidente Prudente (SP). Eles estavam 
separados liminarmente (separação de corpos) e o juiz determinara que o ex-marido não poderia 
mais entrar na casa dela. Mas, sob o efeito de drogas e muito agressivo, ele continuava invadindo a 
casa e forçando a mulher a ter relações sexuais com ele. Na noite do fato, ela estava dormindo, quando 
o ex-cônjuge invadiu a casa e tentou forçá-la a fazer sexo com ele. Ela recusou e o homem passou a 
agredi-la. Ela, então, apanhou um estilete e desferiu um golpe profundo no pênis, próximo da bolsa 
escrotal. Após medicado, o homem foi preso em flagrante por tentativa de estupro. A mulher foi 
ouvida e liberada pela polícia.
F) Depois da discussão conjugal14 – Uma mulher cortou, em 29 de setembro de 2005, o pênis 
do marido, com o qual está casada há 21 anos, quando este tentou forçá-la a ter relações sexuais 
após uma discussão aparentemente motivada por ciúmes. O fato aconteceu na cidade de Huaraz, 420 
quilômetros ao norte de Lima (Peru). Segundo informações policiais, Francisca Picón, de 38 anos, 
atacou o pênis do marido, Gerardo Rosales, de 40, para se defender dele, que estava bêbado. O médico 
Crisanto León disse aos jornalistas que Rosales levou oito pontos no pênis. Segundo o médico, o casal 
tem quatro filhos, o mais novo deles com cinco de idade. 
G) Tailândia é país campeão em reconstrução de pênis15 – Eles são fervidos, atados a balões, 
servem de comida para os patos ou simplesmente jogados no lixo: esses são alguns destinos que as 
12 Disponível em: <http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020808/pri_ult_080802_282.htm> 
Acessado em: 17 de julho de 2015.
13 Disponível em: <http://www.bonde.com.br/bonde.php?id_bonde=1-3--694-20060731> Acessado em: 
29 de julho de 2015.
14 Disponível em: <http://verdadeabsoluta.net/sem-categoria/112873026032031160> Acessado em: 29 
de julho de 2015.
15 Disponível em: <http://www.netmarkt.com.br/noticia2004/2180.html> Acessado em: 29 de julho de 
2015.
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Criminologia
mulheres tailandesas dão aos pênis de seus maridos infiéis depois de amputá-los. A Tailândia se 
transformou em número um mundial em cirurgia reparadora do órgão sexual masculino e isto não 
aconteceu por acaso: os casos de mutilação são frequentes no reino. Médicos e psicólogos tentam 
explicar os motivos desta violência extrema. A poligamia, oficialmente proibida há apenas cem anos, 
continua sendo uma tradição muito comum e gera muitos problemas conjugais. Além disso, na 
Tailândia, o pênis é venerado como um símbolo de poder e de fertilidade, acrescentam os especialistas. 
Em todos os mercados do país ou nas proas dos barcos, existem vários falos de pedra ou de madeira. 
Finalmente, o fato de toda cozinha tailandesa de respeito contar com um bom número de facas afiadas 
agrava o problema. Em seu consultório no hospital Paolo Memorial de Bangcoc, o doutor Surasak 
Muangsombot, cirurgião, recorda ter enxertado pela primeira vez um pênis em 1978 e assinala que 
descobriu rapidamente que essas horríveis mutilações são uma das formas de violência conjugal mais 
comuns na Tailândia. Sua equipe já operou 33 homens somente no início de 2007. No mesmo período, 
na Suécia foram registrados “apenas” três casos, nos Estados Unidos dois, entre eles o de John Bobbitt 
(em 1994), que após sua recuperação virou ator pornô, e, na Austrália, um. “Há alguns anos, foram 
registrados quatro ou cinco casos na Tailândia, e em seguida não se falou mais do tema, mas em 
seguida acabou virando quase uma epidemia”, diz o doutor Surasak. Em geral, os especialistas têm 
pela frente um trabalho difícil, já que as mulheres não ficam mais satisfeitas em apenas cortar o órgão. 
“Algumas o fervem, dão de comer aos patos, jogam no lixo, o enterram ou o amarram em um balão 
para que voe”, explica o cirurgião. Uma mulher se recusou a dizer onde o tinha jogado, antes de admitir 
que ele estava numa fossa sanitária. “Disse à enfermeira que o limpasse bem e adverti ao paciente que 
poderia sofrer uma septicemia, mas ele me respondeu: faça o que for possível, se tiver uma septicemia, 
pelo menos morrerei com o meu pênis”, lembra o médico. “Passaram quinze horas entre a mutilação e 
o enxerto, o que é muito mais do que dizem os livros, mas finalmente tudo ocorreu bem”, acrescenta. 
O doutor Wallop Piyamanotham, psicólogo, considera que a amputação do pênis está ligada à bigamia 
masculina. “A única vingança possível para a esposa é amputar o pênis do marido”, já que “poucos 
homens (bígamos) continuam fazendo amor com sua esposa”, explica. O doutor Surasak destaca que 
o sucesso dos enxertos é notável. “A taxa de sucesso na operação é de 100%, mas acredito que apenas 
50% dos homens recuperam suas funções normais”, diz. O cirurgião dá um prudente conselho aos 
homens que não resistem à tentação da infidelidade: “Se você tem uma amante, sua mulher ficará 
louca de fúria e disposta a tudo. Por isso, trate de fazê-la feliz, mas por precaução tenha sempre a mão 
uma caixa térmica e o nome de um bom cirurgião”.
Fatores Criminógenos:
Barbara Musumeci (2001) nos relata alguns depoimentos de mulheres presas no Presídio 
Nelson Hungria, na Penitenciária Talavera Bruce e no Instituto Penal Romeiro Neto, em dezembro de 
1999 e janeiro de 2000, e que podem nos apontar os fatores, circunstâncias e motivos que podem levar 
uma mulher a cometer crimes.
54
Criminologia
Q. tem 26 anos e nasceu em uma penitenciária, quando a mãe e o pai estavam presos. Criou-se 
na rua. Sua mãe é alcoólatra e a irmã é viciada em cocaína, assim como ela própria. Sofreu violência 
sexual por parte do irmão. Tem quatro filhos de diferentes companheiros, um dos quais foi doado. Os 
outros estão “espalhados”. Um dos irmãos e os quatro ex-companheiros foram assassinados. Quando 
foi presa estava construindo uma casa na calçada, formada de papelão e madeira. No presídio não 
recebe visita de ninguém. Quando sofria violência por parte dos companheiros pedia ajuda ao posto 
de saúde, a uma psicóloga e ao “vagabundo do morro”. Foi asfixiada com saco plástico pela polícia. 
Aspirações: terminar casa na rua e arrumar emprego “que não seja na droga”.
“Entrei no crime (tráfico) porque é adrenalina pura.” A. 26 anos, branca, traficante internacional, 
foi presa com o marido, que acabou sendo assassinado pela polícia.
D. tem 35 anos e foi presa três vezes por assalto a mão armada. Não sofreu violênciafamiliar 
e, tampouco, do companheiro. Teve um irmão e um companheiro assassinados. Aprendeu a atirar e a 
usar a arma com desenvoltura e se diz assaltante profissional. Tem orgulho do que faz. E acha o crime 
“uma excelente profissão (apesar do risco). Mas qual não é?” Acha que “esta safra de presas não presta, 
não tem jogo de cintura. Aceita provocação das funcionárias”. 
V. tem 28 anos e nasceu com sífilis. Quando era criança, a mãe e o padrasto a trancavam em 
casa, juntamente com os irmãos, e saíam para trabalhar. Segundo ela, foi introduzida nas drogas pelos 
irmãos e violentada sexualmente pelo padrasto. O marido a agredia, mas, como ele era bandido, dono 
de boca de fumo, ela não tinha coragem de denunciá-lo, pois sabia que, se acionasse a polícia, iria 
morrer. Com sete anos foi para a rua vender coisas e foi presa mais de sete vezes. No tráfico de drogas, 
tinha a função de enrolar papéis. Acha difícil não voltar para a droga quando for libertada.
G. Tem 10 irmãos, três assassinados e um desaparecido. Acusou o policial que matou seu irmão e 
foi quase sempre perseguida. O policial foi preso e condenado. Ela trabalhava no tráfico, guardava as drogas. 
Seu companheiro era traficante, dono da boca. Sofreu violência no Juizado da Infância e Adolescência e 
apanhou de palmatória em duas passagens pelo abrigo. É consumidora de cocaína. Os policiais quebraram 
tudo dentro da sua casa e ainda espancaram a filha pequena. Sofreu muita violência do companheiro, até 
que um dia reagiu e queimou-lhe o corpo. Diz que, quando sair da prisão, quer matar o policial. 
Tomando por base os relatos acima, percebemos que uma variedade muito grande de 
circunstâncias de vida e motivos levou estas mulheres ao mundo delinquencial. Como observa Marcus 
Oliveira (2005, p.3), as linhas de abordagem da criminalidade feminina foram desenvolvidas a partir 
de critérios bioantropológicos e sociais, com maior ou menor destaque dado a cada um deles pelos 
autores. No resgate dos elementos importantes para a avaliação de um fenômeno criminógeno, os 
estudiosos se habituaram a assinalar a quase sempre identificável inferioridade física da mulher em 
comparação com o homem e a eventual incidência de anormalidades psíquicas, muitas vezes associadas 
às funções sexuais femininas. A condição de subalternidade social da mulher e, num espectro mais 
amplo, o modo de interação da mulher com o meio em que vive também têm sido utilizados como 
critérios básicos de estudo. Referenda Espinoza (2004, p.56-57):
55
Criminologia
a imagem da mulher foi construída como sujeito fraco em corpo e em inteligência, produto de 
falhas genéticas – postura na qual se baseia a criminologia positiva quando se ocupa da mulher 
criminosa. Outra característica que lhe atribuíram foi a inclinação ao mal em face da menor 
resistência à tentação, além do predomínio da carnalidade em detrimento da espiritualidade. 
Justificava-se portanto um patrulhamento mais efetivo pela Igreja e pelo Estado.
Marcus Oliveira (2005, p.3) também observa que:
toda essa ótica diferenciada sobre a criminalidade feminina, como já citado, desenvolveu-se a partir 
de Lombroso, que defendia que a mulher, por causa de sua menor participação nas atividades 
sociais e na vida pública, encontrava menos ocasiões para delinquir. Sendo assim, onde a mulher 
fosse socialmente mais emancipada, a taxa de criminalidade feminina seria maior. 
Vale observar que, apesar da diversidade de crimes cometidos aliado ao grande aumento no 
número de mulheres envolvidas no universo criminal, as estatísticas criminais ainda continuam a 
apontar uma grande defasagem se comparadas ao número de crimes cometidos por homens. 
Se procurarmos, atualmente, fatores que ainda possam explicar as taxas diferenciadas 
entre criminalidade feminina e masculina, perceberemos que a mulher, apesar de se fazer cada vez 
mais presente no mercado de trabalho, ainda fixa nos filhos e na família seus principais interesses, 
colocando-os em primeiro lugar. Consequentemente, tentam permanecer mais tempo em casa para 
compensar as horas que passam trabalhando, ficando menos expostas à violência exterior e, com isso, 
as oportunidades de delinquir diminuem substancialmente. 
Outro fator que pode explicar a menor taxa de crimes praticados por mulheres se localiza na 
própria cultura da sociedade. Pois a mulher ainda continua sendo vista como aquela detentora de graça, 
doçura e sensibilidade, características estas incompatíveis, no imaginário social, com a prática de crimes. 
Vale observar também que, nos dias de hoje, a explicação calcada na estrutura física mais frágil 
da mulher como causa de sua menor criminalidade perdeu muito seu significado. Realmente, não 
podemos negar que os crimes que envolvem o emprego de grande força física não são encontrados no 
universo criminoso feminino. Mas, como salienta Di Gennaro (apud FERRACUTI, 1975, pag. 107): 
“especialmente em nossos dias, a possibilidade de recurso às armas ou a outros meios de ofensa física 
poderiam compensar a reduzida capacidade física”. Desse modo, crimes violentos como assaltos a 
bancos e a postos de gasolina, bem como o envolvimento de mulheres em grupos terroristas, tiveram 
um grande incremento nos últimos anos. Vale salientar que tal participação não se reduz ao polo 
intelectual, mas já se encontram mulheres naquele primeiro plano da criminalidade que, até pouco 
tempo, era reservado quase que exclusivamente aos homens. Entretanto, quando se volta os olhos a 
outros crimes, como a chefia de quadrilhas armadas com o intuito de praticar crimes, ainda se verifica 
que a participação feminina é praticamente nula. Claro que há exceções, como o caso de Ma Baker 
que, nos Estados Unidos da década de 1930, chefiou uma família criminosa, chegando a enfrentar o 
próprio FBI com uma metralhadora. Aqui no Brasil também tivemos uma exceção personificada por 
Djanir Ramos Suzano, conhecida por “Lili Carabina” que, na década de 1970 desafiou a polícia carioca 
ao liderar um grupo de criminosos.
56
Criminologia
Entretanto, vale observar que as “cifras negras da criminalidade” estão muito mais presentes 
na criminalidade feminina que na masculina. Pois, de acordo com vários criminologistas, como 
Pollak, Von Hentig e Pinatel, a criminalidade feminina se caracteriza por sua face oculta, pela menor 
persecução criminal, por sua dissimulação ao costumar agir nos “bastidores” da criminalidade, como 
cúmplice, instigadora, incitadora, dificilmente chegando a um julgamento. Essa dissimulação está 
presente não só no seu modus operandi, mas também nos crimes que costuma praticar, como o aborto, 
furtos praticados em lojas ou como empregadas domésticas e crimes de perjúrio (falso depoimento).
Além disso, as mulheres que praticam crimes contam com maior benevolência por parte tanto do 
público como das autoridades constituídas, como policiais e juízes. Tanto é assim que muitas mulheres 
apanhadas em flagrante são advertidas, censuradas, não tendo seu crime, como consequência, uma 
denúncia penal. Entretanto, quando um furto em uma loja, por exemplo, é cometido por um homem, 
geralmente o fato é levado ao conhecimento do juiz competente. 
Vale observar, ainda, que as autoridades policiais desconfiam menos das mulheres. É como se a 
criminalidade ainda continuasse associada ao universo masculino, sendo estranha ao mundo feminino. 
Quando uma mulher chega a um julgamento é absolvida com muito mais frequência do 
que um homem. O criminologista Middendorff (1978, p. 145) chega a dizer que, principalmente na 
América Latina, mulher bonita costuma ser absolvida pelo Tribunal do Júri. Desse modo, os homens 
encarregados de suas funções de polícia ou mesmo judiciárias seriam vítimas do fascínio feminino. 
Isto é até mesmo comprovado por algumas legislações. Por exemplo, o Código de Defesa Social de 
Cuba e o Código Penal da Colômbia incluem como circunstânciaatenuante o crime da mulher nos 
períodos alterações hormonais, como acontece durante a gravidez, lactação, puerpério, menstruação 
e menopausa. Até mesmo em relação à pena de morte podemos verificar, na história, que raramente 
era aplicada a uma mulher e jamais se estivesse grávida, como uma tradição universal. Nosso Código 
Penal também protege a mulher, como pode ser percebido em tipos penais como contra os costumes, 
tráfico de mulheres, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude, nos quais a 
mulher figura, sempre, como vítima.
Mas há o outro lado da moeda. Pois existem países, como o Paquistão, onde encontramos 
sentenças preconceituosas e discriminatórias em relação à mulher. Por exemplo, uma vítima de estupro, 
neste país, pode ser condenada pelo crime de adultério se não obtiver quatro testemunhas muçulmanas, 
todas do sexo masculino, que concordem em testemunhar que ela não consentiu na relação sexual.
Concluindo a Criminalidade Feminina, é correto afirmar, posto que comprovado cientificamente:
1. A mulher delinque bem menos que o homem, numa proporção de 1 por 6;
2. A mulher pratica crimes mais brandos e sem violência à pessoa, e 
3. Os índices de criminalidade aumentam com o aumento da participação feminina na vida 
econômica e financeira do país, valendo dizer que, à medida que a mulher conquista espaços antes 
só destinados ao homem, com este mais vai se parecendo, inclusive quanto aos crimes praticados. 
57
Criminologia
Nos países em que a mulher ainda se sobressai no papel de mãe e administradora do lar os índices 
de criminalidade feminina são baixíssimos. Isso nos conduz a uma conclusão geral: quanto mais se 
convive ativamente na sociedade, maior é a influência dos fatores sociais sobre a pessoa. Dentre estes 
fatores estão os criminógenos, dos quais ninguém está livre.
2.7 Delinquência infanto-juvenil
“Que esperar de crianças que vivem em favelas infectas, em promiscuidade com elementos de toda 
ordem, vendo as cenas mais deprimentes, os gestos mais acanalhados, os procedimentos mais ignominiosos? 
Que esperar de crianças que em pleno período de formação dormem ao relento, sentindo frio, debaixo de 
pontes, à porta de casas comerciais, lado a lado com toda espécie de marginais adultos? Que esperar de 
crianças que prematuramente conhecem os horrores da fome e que se alimentam de migalhas jogadas fora 
ou da caridade pública? Quando uma criança dessas chega a lançar mão do que é alheio, podemos, temos o 
direito de chamá-las de delinquentes?” (A Criança Delinqüente, Leon Michaux, 1961, p.27).
Ordenamento Jurídico Brasileiro
A Constituição Federal de 1988 preceitua em seu art. 227, caput:
É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta 
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, 
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além 
de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão.
Desse modo, faz-se necessário que leis, normas e regulamentos estejam voltados para a aplicação 
de medidas que assegurem, à criança e ao adolescente, condições necessárias para seu desenvolvimento.
Assim, em substituição ao antigo e ultrapassado Código de Menores, que via crianças e 
adolescentes não como sujeitos de direitos, mas meros objetos de proteção, foi criado o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA – Lei nº 8069, de 13 de julho de 1990), com o objetivo de direcionar 
políticas públicas que atendam tanto à criança como ao adolescente em situação de risco social ou 
autores de atos infracionais (crimes ou contravenções penais). 
A legislação brasileira considera como criança a pessoa com idade entre zero e doze anos, e 
passíveis apenas da aplicação de medidas protetoras quando cometem algum ato infracional (crime 
ou contravenção penal) ou se encontram em situação de risco, de acordo com o art. 101 do ECA16.
16 Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
 I – encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
 II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
 III – matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
 IV – inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
 V – requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
 VI – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
 VII – abrigo em entidade;
 VIII – colocação em família substituta.
 Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não 
implicando privação de liberdade.
58
Criminologia
A adolescência, por sua vez, se considera para pessoas entre os doze e os dezoito anos, 
encontrando-se as mesmas sujeitas à aplicação das mesmas medidas protetoras e à aplicação de 
medidas socioeducativas (art. 112 do ECA17).
Concomitantemente, a legislação imputa aos pais as medidas previstas no art. 129 do ECA18, em 
caráter administrativo, possibilitando ainda a aplicação de multa por infração ao art. 24919 da mesma lei.
Para atingir os objetivos propostos na Constituição Federal de 1988, o ECA criou, em seu art. 131, 
o Conselho Tutelar, definido como órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado de zelar 
pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Desse modo o Conselho Tutelar encontra-se 
em contato direto com a população, tanto que as queixas relativas à violação dos direitos de crianças e 
adolescentes são dirigidas a esse órgão, o qual deve estar em sintonia com o judiciário local a fim de que as 
informações e as ações sejam harmoniosas e alcancem o objetivo de proteção à infância e à adolescência.
Suas principais atribuições são: a) atender crianças e adolescentes que necessitem de proteção, 
sempre que seus direitos forem ameaçados ou violados; b) atuar junto às instituições de aplicação 
de medidas socioeducativas; e c) encaminhar ao Ministério Público a notícia de fato que constitua 
infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente.
Fatores Criminógenos
De acordo com Ballone (2001)20: “a agressividade é sempre um tema da atualidade, especialmente 
17 Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I – advertência;
II – obrigação de reparar o dano;
III – prestação de serviços à comunidade;
IV – liberdade assistida;
V – inserção em regime de semi-liberdade;
VI – internação em estabelecimento educacional;
VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum será admitida a prestação de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.
18 Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V – obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar;
VI – obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
VII – advertência;
VIII – perda da guarda;
IX – destituiçãoda tutela;
X – suspensão ou destituição do pátrio poder.
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
19 Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da 
autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:
 Pena – multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
20 BALLONE, G. J. Violência e Agressão: da criança, do adolescente e do jovem. In. PsiqWeb Psiquiatria 
Geral, Internet, 2001. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/> Acessadoo em: 17 de julho de 
2015.
59
Criminologia
a agressividade juvenil, atualmente relacionada às ações das gangues, dos franco-atiradores de escolas, 
dos queimadores de mendigos, dos homicidas de grupos étnicos, ou simplesmente dos agressivos 
intrafamiliares”.
Assim, em sua visão:
os adolescentes e jovens que se destacam pela hostilidade exagerada podem ter um histórico 
de condutas agressivas que remonta a idades muito mais precoces, como no período pré-
escolar, por exemplo, quando os avós, pais e “amigos” achavam que era apenas um “excesso de 
energia” ou uma travessura própria da infância.
Winnicott, estudioso do comportamento infantil, aponta, com perspicácia, que:
uma criança normal [...] usa de todos os meios para se impor [...] põe a prova seu poder de 
desintegrar, destruir, assustar, manobrar, consumir e apropriar-se. Tudo o que leva as pessoas 
aos tribunais (ou aos manicômios) tem seu equivalente normal na infância, na relação da 
criança com o próprio lar. (WINNICOTT, apud BELMONT, 2000, p. 45).
Partindo desses pressupostos, passaremos a analisar, a seguir, os principais fatores que podem 
ocasionar a delinquência infantojuvenil.
O Lar: condicionamentos e modelos
De fato, é no lar que se instalam as bases de crenças, valores e fundamentos dos comportamentos 
de cada indivíduo, que se refletirão, mais tarde, em condicionamentos positivos ou negativos em seus 
relacionamentos interpessoais. Assim, a dinâmica familiar apresenta influência no modo como o 
indivíduo irá interagir com o meio, inclusive em questões que envolvam a prática de atos ilícitos. Essa 
influência se manifesta: a) pela aprendizagem de valores inadequados ao convívio social saudável; a 
criança ouve o pai ou a mãe falar da corrupção que comete, do cheque sem fundo que emite, da dívida 
que não paga, e acredita que esses procedimentos fazem parte da arte singular de “levar vantagem em 
tudo”; b) pelo condicionamento em inúmeros comportamentos; e c) pela observação de modelos – o 
pai, a mãe, irmãos mais velhos, parentes próximos – cujos comportamentos não condizem com os 
paradigmas da ética, para dizer o menos.
Porém, além do lar, outros elementos contribuem para a formação dos valores morais e éticos, 
principalmente quando a presença dos pais torna-se escassa junto aos filhos, fato este cada vez mais 
frequente. Dessa maneira, os valores que eles poderiam e deveriam transmitir podem ficar comprometidos 
e seus espaços ocupados por outros, recolhidos de fontes externas. Entre estas, destaca-se a escola.
A escola e a infância
A escola (colegas e professores) tem suficiente influência para criar valores ou modificar aqueles 
que a criança traz do ambiente familiar. Se os pais são omissos ou ausentes, existirão colegas mais 
próximos que conquistarão importante lugar como modelos de comportamento. Na adolescência, 
poderão desempenhar o papel de heróis da juventude.
60
Criminologia
A escola tem sido insistentemente sugerida como fonte de graves distorções do comportamento, 
porque pode ser a porta de entrada para as drogas e a violência. Isso é evidenciado pelas agressões 
violentas perpetradas por crianças contra seus professores e colegas, coloridas por demonstrações de 
raiva não condizentes com o que se espera de um indivíduo no início da vida. Tanto assim que, no âmbito 
escolar, desenvolveu-se um conceito para este tipo de violência, o Bullying. Este termo compreende 
todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, 
adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de 
uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio 
de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.
De acordo com a ABRAPIA (2009)21 (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à 
Infância e à Adolescência), não existe, em nossa língua, uma palavra capaz de expressar todas as situações 
de Bullying possíveis. Desse modo relacionam-se algumas ações que podem estar presentes: a) colocar 
apelido; b) ofender; c) zoar; d) gozar; e) encarnar; f) humilhar; g) fazer sofrer; h) discriminar; i) excluir; 
j) isolar; k) ignorar; l) intimidar; m) perseguir; n) assediar; o) agredir; p) bater; q) chutar; r) empurrar; 
s) ferir; t) roubar; u) quebrar pertences etc.
De acordo com Cícero Campos (2009)22, o Bullying é um problema mundial, sendo encontrado 
em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou 
secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Pode-se afirmar que as escolas que não admitem a 
ocorrência de Bullying entre seus alunos, ou desconhecem o problema, ou se negam a enfrentá-lo.
Ele continua informando que “a pesquisa mais extensa sobre Bullying, realizada na Grã 
Bretanha, registra que 37% dos alunos do primeiro grau e 10% do segundo grau admitem ter sido 
vítimas, pelo menos, uma vez por semana”.
O levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5.875 estudantes de 5ª a 8ª 
séries de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos 
admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de Bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 
10,9% alvos/autores e 12,7% autores de Bullying. Este levantamento também detectou que, com 
uma frequência sensivelmente maior, os meninos estão muito mais envolvidos com Bullying, tanto 
na qualidade de autores como de vítimas e que, quanto às meninas, embora em menor número, o 
Bullying também se manifesta, mas com práticas que envolvem difamação e exclusão. 
O Bullying tem a característica de, quando não enfrentado corretamente, conseguir contaminar 
todo o ambiente escolar. Desse modo praticamente todas as crianças são afetadas negativamente 
por ele, passando a experimentar sentimentos de medo e ansiedade. Há um outro fator no Bullying 
21 Disponível em: <http://74.125.47.132/search?q=cache:1vlPDGmeVbIJ:www.bullying.com.br/
BConceituacao21.htm+%22&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br> Acessado em: 17 de julho de 2015.
22 Disponível em: <http://www.cicerocampos.com/2008/ver_noticia.php?id=2061&categoria=curiosida
des> Acessado em: 17 de julho de 2015.
61
Criminologia
extremamente perverso: quando os outros alunos percebem que a direção da escola não toma as 
devidas providências, acabam também por adotar a prática.
Tiago Dantas23, da Equipe Brasil Escola, relata um dos casos mais chocantes de Bullying escolar. 
Curtis Taylor, um aluno do oitavo ano de uma escola secundária em Iowa, Estados Unidos, foi vítima de 
Bullying durante três anos consecutivos: era espancado nos vestiários da escola, suas roupas eram sujas 
com leite achocolatado e seus pertences vandalizados. Curtis não resistiu ao sofrimento e humilhação e 
suicidou-se em 1993. Este não foi um caso isolado. Na década de 1990, os Estados Unidos se depararam 
com uma onda de tiroteios em escolas, realizados por alunos que se intitulavam vítimas de Bullying.
A ABRAPIA (Online, 2009) também informa que alguns outros casos são citados na imprensa, 
como o ocorrido na cidade de Taiúva, interior de São Paulo, no início de 2003, nos quais um ou maisalunos entraram armados na escola, atirando contra quem estivesse a sua frente, retratavam reações 
de crianças vítimas de Bullying. Merecem destaque algumas reflexões sobre isso: a) depois de muito 
sofrerem, esses alunos utilizaram a arma como instrumento de “superação” do poder que os subjugava; 
b) seus alvos, em praticamente todos os casos, não eram os alunos que os agrediam ou intimidavam. 
Quando resolveram reagir, o fizeram contra todos da escola, pois todos teriam se omitido e ignorado 
seus sentimentos e sofrimento.
Isso só comprova que as medidas adotadas pela escola para o controle do Bullying, se bem 
aplicadas e envolvendo toda a comunidade escolar, contribuirão positivamente para a formação de 
uma cultura de não violência na sociedade.
Com tais informações o relatório divulgado pela ABRAPIA concluiu que as crianças vitimadas 
pelo Bullying poderão não conseguir superar, futuramente, as sequelas que ele ocasionou. Tais sequelas 
podem gerar sentimentos negativos, baixa autoestima e, dependendo da gravidade, depressão, ansiedade, 
problemas de relacionamento, dependência química, dores psicossomáticas e suicídio. Além disso, como 
se sabe, violência gera violência. Desse modo, crianças e adolescentes que foram vitimados pelo Bullying 
podem se tornar adultos extremamente agressivos. Também aqueles que praticam Bullying contra 
seus colegas poderão levar para a vida adulta o mesmo comportamento antissocial, adotando atitudes 
agressivas no seio familiar (violência doméstica) ou no ambiente de trabalho.
Tanto é que a ABRAPIA (Online, 2009) também informa que “estudos realizados em diversos 
países já sinalizam para a possibilidade de que autores de Bullying na época da escola venham a se envolver, 
mais tarde, em atos de delinquência ou criminosos” e “as testemunhas também se veem afetadas por esse 
ambiente de tensão, tornando-se inseguras e temerosas de que possam vir a se tornar as próximas vítimas”.
As entidades de atendimento voltadas às crianças e adolescentes
Vários estudos apontam o caráter criminógeno de entidades de atendimento voltadas às 
crianças e adolescentes, sejam elas entidades de abrigo ou centros educacionais voltados a adolescentes 
23 Disponível em: <http://www.brasilescola.com/sociologia/bullying.htm> Acessado em: 17 de julho de 
2015.
62
Criminologia
infratores. Pois são nas próprias instituições de acolhimento, seja qual for a sua natureza, que vêm a se 
concentrar fatores de risco, tais como: a massificação do tratamento com manifestações de abandono 
pessoal, o caráter excessivamente abstrato da tutela legal, a história traumática dos “acolhidos” e a 
história da própria instituição enquanto responsável pela guarda e educação das crianças/jovens em 
risco. Insere-se aqui um duplo nexo de causalidade de perigo: a história associada à criança/jovem 
(quase sempre má) e os mecanismos do internamento. Esses mecanismos não podem se transformar 
na prática num duplo abandono, sob pena de perversão completa do quadro assistencial do Estado.
Mesmo não pretendendo fazer uma análise dos vários modelos de proteção das crianças em 
risco, nem tão pouco da relação entre o conceito de criança em risco e o tipo de respostas legais, 
organizativas e institucionais postas em marcha pelo Estado e pelas entidades que asseguram a 
execução das medidas de proteção e socioeducativas, não podemos deixar de levar em conta o grau 
criminógeno que a vida em tais entidades pode ocasionar, principalmente ao se constatar a ineficácia 
de todo este conjunto de estruturas e respostas organizativas em proporcionar uma proteção efetiva 
a estas crianças e adolescentes. Ao se tentar compreender como funcionam as medidas de proteção e 
socioeducativas às crianças e adolescentes no interior dos estabelecimentos, sejam entidades de abrigo 
ou centros educacionais, a preocupação reside em saber de que maneira elas impermeabilizam (ou 
não) a ação dos agressores internos, externos e externos organizados. É fundamental compreender 
como estes fatores de risco se entrelaçam, se desenvolvem e ameaçam o normal desenvolvimento 
de crianças e jovens; de que modo os dirigentes destas Instituições encaram os riscos de agressão/
comércio sexual, e se sentem ou não preparados para os enfrentar diariamente. Esta compreensão não 
é instantânea, mas depende inteiramente da capacidade de cada elemento da entidade de radiografar 
e acompanhar, pacientemente, um mundo que nos escapa permanentemente. É essencial perceber até 
que ponto o tratamento institucional aplicado pode contribuir para uma maior ou menor disseminação 
da exploração sexual das crianças e jovens, e de que modo, pois é fato praticamente inconteste que a 
grande maioria dos criminosos foram, em algum momento de suas vidas, vítimas.
Personalidade antissocial
Em sua obra Filhos Selvagens: reflexões sobre crianças violentas, Jonathan Kellerman (2002, 
p. 11-12) relata o seguinte caso:
Em 25 de março de 1998, Mitchell Johnson e Andrew Golden, de Jonesboro, Arkansas, vestiram 
uniformes de camuflagem, roubaram uma van, carregaram-na com uma barraca de acampamento, 
um saco de dormir, ferramentas, comida e enormes quantidades de munição e armas roubadas. Assim 
equipados, dirigiram-se para a Westside Middle School, na vizinhança, onde acionaram o alarme de 
incêndio. Enquanto a campainha tocava, Johnson e Golden correram e se esconderam atrás de uma 
cerca de madeira, esperaram os alunos e professores saírem, assustados, e abriram fogo. Quatro meninas 
pequenas e um professor foram mortos. Dez outras crianças e outro professor foram feridos... Foram 
encontradas 130 cápsulas deflagradas no local do crime, variando de chumbo para matar ratos a balas 
63
Criminologia
de Magnum .357. Nos bolsos de Andrew Golden havia mais de 312 cápsulas... Na ocasião do ataque, 
Mitchell Johnson tinha 13 anos, Andrew Golden, 11.
Vem sendo cada vez mais constatado que o comportamento antissocial na infância 
frequentemente lança os alicerces de um padrão duradouro de criminalidade adulta, e de que 
quanto mais velha a criança for no momento em que profissionais tiverem acesso a ela, menores 
serão as possibilidades de conseguir modificar seu comportamento (ABRAPIA, Online, 2009). 
Assim, infelizmente, quando se trata de crime, a criança é, na verdade, o pai do homem: as crianças 
mais gravemente antissociais compartilham uma constelação de traços de personalidade com os 
criminosos adultos mais contumazes – exemplos de psicopatia (FRICK, 1994, p. 700-7), transtorno de 
personalidade tratado nesta unidade.
Isso não quer dizer que todas as crianças com tendências violentas sejam psicopatas. Mas os 
jovens psicopatas constituem uma parcela substancial de crianças que se tornam criminosos brutais, 
assíduos. Tornam-se os delinquentes mais cruéis e calculistas. Assassinos impiedosos, sádicos e 
astuciosos, marginais que veem no crime uma profissão, insensíveis aos apelos da consciência, às 
convenções ou à ameaça de uma punição remota, ao nos impor desgraça e sofrimento. Não são levados 
ao crime pela pobreza ou por problemas familiares e/ou escolares, embora esses fatores possam ter um 
papel fundamental na sua formação.
Fazem isso porque gostam de fazer. Fazem isso porque podem.
As entidades de abrigo ou os centros educacionais os mantém, eventualmente, afastados do nosso 
convívio, mas ao saírem, sua taxa de reincidência é significativamente superior à dos demais condenados. Não 
deixam de ser maus porque não querem deixar de ser. Se ultrapassam os cinquenta anos, seu comportamento 
criminoso tende a se abrandar, mais por falta de energia do que por qualquer constrangimento moral.
As tendências psicopáticas se manifestam muito cedo – desde a mais tenra idade, não raro 
aos três anos – e perduram pela vida afora. O mesmo se pode dizer da agressividade patológica. Um 
estudo sobre crianças insensíveis e cruelmente agressivas produziuprovas de violência começando em 
torno dos seis anos e meio (DODGE, 1997, p. 37-51). Diversas análises de assassinos de menor idade 
revelaram fortes indícios de violência pré-homicida no início da adolescência, e algumas crianças 
manifestavam tendências com apenas dois anos (KELLERMAN, 2002, p. 30).
Às vezes a crueldade psicopática de uma criança se manifesta em rivalidades e disputas 
que têm por palco o recreio do colégio, como é o caso do Bullying, já citado. Mas como qualquer 
narcótico, a dominação gera saciedade e hábito. Quando primeiramente empurrar, depois machucar 
e finalmente estuprar deixam de proporcionar uma sensação suficientemente forte, o jogo pode 
extrapolar, atingindo o ápice do último esquema de controle. É quando os psicopatas experimentam o 
homicídio. Se gostarem da experiência e escaparem impunemente, tentarão reviver a emoção apelando 
para a memória, mas isso raramente funciona, porque eles não são particularmente bem-dotados de 
imaginação. Por esse motivo tendem a colecionar lembranças, de qualquer objeto a partes do corpo. 
64
Criminologia
Quando essas lembranças não funcionam mais, a solução óbvia é repetir a dose, indefinidamente.
Microfatores externos
Se, de um lado, existe o indivíduo propenso à prática de delitos, por inúmeras razões, de outro 
se evidenciam indiscutíveis estímulos à delinquência. Esses estímulos, eminentemente de fundo social, 
têm origem no núcleo familiar e na sociedade em geral; caracterizam-se pela diversidade e extrema 
complexidade de neutralização.
Atenção
São exemplos de microfatores externos negativos: o abandono escolar precoce, 
a exposição a ambientes em que se consomem produtos etílicos e substâncias 
psicoativas, a instabilidade profissional dos pais, o desemprego, más condições 
socioeconômicas, a migração excessiva com pouca vinculação à vizinhança, 
disputas matrimoniais, poucas habilidades sociais, métodos coercitivos de 
educação mais violentos, o mundo do entretenimento (que costuma aglutinar sexo 
à violência), a fome crônica, dentre outros.
A baixa escolaridade se apresenta também como um fator criminógeno considerável. Uma 
pesquisa de 1997 realizada pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, 
a Ciência e a Cultura, com 4.245 menores infratores, mostrou que 96,6% não haviam concluído o 
ensino fundamental; destes, 15,4% eram analfabetos; e é importante salientar que a literatura mostra 
porcentagens entre 10% e 20% de jovens delinquentes que apresentam algum tipo de problema 
psicológico passível de intervenção clínica.
Mas é a falta de limites durante a infância que constitui o mais proeminente e grave estímulo à 
delinquência. Ainda que ela não se traduza, mais tarde, em atitudes criminosas, conduz a comportamentos 
inadequados do ponto de vista da boa convivência social. São exemplos disso o estudante que interrompe 
a aula com o celular tocando, o profissional que se atrasa e tumultua os trabalhos, o cliente que faz 
exigências descabidas, o cidadão que se sente no direito de usufruir regalias em relação aos demais etc.
Pais irresponsáveis, incapazes de educar, preferem assinar uma nota promissória contra o 
futuro, apostando no surgimento de algum mecanismo fantástico (em geral, a escola) que resgate 
a falta de comprometimento para com a criança. Também para isso concorre a incorreta ideia de 
educação liberal, que permite tudo em troca de nada e gera indivíduos incapazes de dividir benefícios 
e compartilhar dificuldades, a essência da boa convivência.
Uma das características mais graves da falta de limites é a incapacidade de amar. Estrutura-se 
uma personalidade com escassa consciência social, levando o indivíduo a crer que tudo é possível, que 
os outros não possuem direitos. O exercício dessa superioridade justifica-se pelos meios disponíveis: 
força, poder econômico, carisma, sedução etc.
Um último fator que merece ser mencionado por seu grande significado para estimular a 
prática de delitos é a expectativa de impunidade, desenvolvida a partir da observação da realidade. 
65
Criminologia
A criança já percebe, pelas conversas, pelas notícias, que pessoas cometem os mais variados delitos e 
pouco ou nada lhes acontece. Isso se agrava quando, em seu ambiente de convivência, encontram-se 
indivíduos que se vangloriam de feitos condenáveis, menosprezam outras pessoas e ridicularizam os 
mecanismos de controle social.
Principais Tipos de Crimes
“Ao contrário do que imagina a população em geral, a parcela dos crimes cometidos por adolescentes 
não ultrapassa 10% dos praticados no país e grande parte dos adolescentes sentenciados está sendo 
responsabilizada por crimes contra o patrimônio, que correspondem a 73.8% das infrações cometidas (dos 
quais 50% são furtos), enquanto os crimes contra a vida representam 8,46% do universo das infrações”.
– Mapa da Violência III, resultado de estudo da UNESCO em colaboração com o Instituto 
Ayrton Senna e o Ministério da Justiça, de 2000.
Importante
Desse modo, temos que a delinquência infantojuvenil costuma comportar os 
seguintes crimes: tráfico de drogas (“O tráfico de entorpecentes tem uma política 
de primeiro emprego que o Brasil deveria ter para os seus jovens” – Guaraci 
de Campos Vianna, Juiz-titular da Vara da Infância e da Juventude da cidade 
do Rio e presidente da Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e 
da Juventude, 2000); roubos (subtração de objetos ou valores com emprego de 
ameaça ou violência); furtos (subtração de objetos ou valores sem o emprego de 
violência); receptação (repassar produtos furtados ou roubados e, principalmente, 
drogas); estupro e atentado violento ao pudor (crimes sexuais que, muitas vezes, 
contam com o incremento dos meios de comunicação social que repassam cenas 
com grande carga de sexualidade e violência, além dos sites pornográficos que 
predominam na Internet); lesões corporais (principalmente relacionadas aos roubos 
e briga entre gangues); latrocínio (roubo seguido de morte da vítima); homicídios 
(principalmente quando o jovem é aliciado pelo Crime Organizado).
Concluímos a presente Unidade onde procuramos usar a melhor didática, tendo em vista a sua 
dimensão, afim de torná-la mais leve e agradável à leitura.
66
Criminologia
Encerra-se aqui a Unidade 2 da disciplina Criminologia. Lembre-se de acessar 
sua web aula, e não esqueça que você ainda conta com o apoio do ambiente 
virtual para esclarecer dúvidas, revisar e participar de discussões sobre a 
temática aqui abordada. 
Bons estudos! 
Referências Bibliográficas
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Créditos
CRIMINOLOGIA
Núcleo de Educação a Distância
O assunto estudado por você nessa disciplina foi planejado pelo 
professor conteudista, que é o responsável pela produção de conteúdo 
didático, e foi desenvolvido e implementado por uma equipe composta 
por profissionais de diversas áreas, com o objetivo de apoiar e facilitar o 
processo ensino-aprendizagem.
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Coordenação do Núcleo de Educação a Distância: Lana Paula 
Crivelaro Monteiro de Almeida Supervisão Administrativa: 
Denise de Castro Gomes Produção de Conteúdo Didático: Paulo 
Timbó, Fernanda de Castro Cunha Design Instrucional: Andrea 
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Áudio e Vídeo: José Moreira de Sousa Identidade Visual/Arte: 
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Jairo Araújo dos Santos Editoração: Sávio Félix Mota Revisão 
Gramatical: Luís Carlos de Oliveira Sousa
O trabalho Criminologia- Unidade2: Criminalidade de Paulo Timbó, Fernanda de Castro Cunha, Núcleo de Educação a Distância da 
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	Apresentação
	1  Criminologia
	2  Método (ou Métodos)
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