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FAHRENHEIT 451. Direção: François Truffaut. Roteiro: François Truffaut e Jean-Louis Richard. Intérpretes: Oskar Werner, Julie Christie, Cyril Cusak e outros. London: Universal Pictures, 1966. (112 min) VHS son. Color. Venicius Luís de Magalhães Sobrinho1 Já imaginou um mundo onde o trabalho dos bombeiros é incendiar e não apagar? Um mundo onde os principais inimigos do homem são os livros? Bom, esse foi o futuro distópico proposto no romance de Ray Bradbury, publicado em 1953, e muito bem apresentado no filme, lançado em 1966, dirigido por François Truffaut. O livro de Ray Bradbury, escrito após o término da Segunda Guerra Mundial, revela o universo que condena não apenas a opressão anti-intelectual nazista, mas também o cenário dos anos 50, revelando sua preocupação dentro de uma sociedade opressiva comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra. Todos esses elementos estão muito bem apresentados no longa-metragem. Oskar Werner interpreta Guy Montag, um bombeiro que segue à risca todos os comandos de seu capitão (Cyril Cusack). Como já dito, o trabalho desses homens não é para apagar o fogo, e sim, queimar todos os livros que encontram pela frente, pois, de acordo com o capitão, não servem para nada, apenas alienam as pessoas e criam seres antissociais. Ao encontrar Clarisse (Julie Christie) vizinha do bombeiro, muda completamente o rumo da vida de Montag. Aquele que obedecia 1 Graduando em Biblioteconomia na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG veniciusluis@hotmail.com todas as regras sem hesitar, agora começa a pensar duas vezes em suas atitudes. Clarisse, a meu ver, é uma versão menos feminina e mais humana da esposa do protagonista Linda Montag (interpretada também por Julie Christie). Segundo o diretor o motivo de a atriz fazer as duas personagens e a de que o bombeiro Montag vive seus desafios acompanhados por duas figuras femininas, onde uma é a imagem invertida da outra. Outro ponto de virada no filme é claramente percebido no momento em que os bombeiros entram na casa de uma senhora para destruir seus livros, ao receber a ordem para sair da casa, ela recusa e prefere se sacrificar junto aos seus livros do que continuar vivendo numa realidade tão ditatorial. Aqui percebemos a consciência de Montag trabalhando. Ele começa a ler e se interessar cada vez mais pelas histórias contadas nos livros até então desconhecidos e descobre, também, um grupo seleto de pessoas que decoram um livro de suas escolhas para viver aquela história sem serem perseguidas. Esse grupo é chamado de “homens-livro”. Outra sagada é os créditos iniciais do filme, pois não são escritos, mas narrados. Ele já antecipa o clima da proibição de leitura. Nesse momento, são mostradas várias antenas de TV nas casas que são o principal meio de interação desse futuro. A titulo de Curiosidade Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura em que os livros são queimados. Convertido para Celsius, essa temperatura equivale a 233 graus. Em 2003 a professora Terezinha Elizabeth da Silva apresentou Texto “Montag e a memória perdida: notas sobre Fahrenheit 451 de François Truffaut”, onde analisa aspectos relativos aos livros e à memória no filme Fahrenheit 45 l de FrançoisTruffaut. Segundo a professora Fahrenheit mostra um jogo ou uma disputa entre o texto e a imagem, entre os livros - a palavra escrita- e a imagem. Ausência total do escrito. Naquela sociedade oral, as palavras designam as coisas, mas não existem signos gráficos para representar as palavras. E Truffaut enfatiza ainda mais a ausência da palavra escrita. Exceto pelo The end ao final do filme, o título, os créditos de atores, diretor, produção e equipe técnica não aparecem escritos na tela. São narrados em off, isto é, oralizados.
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