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METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA José renato salatiel São Luís 2011 Edição Universidade estadUal do Maranhão - UeMa núcleo de tecnologias para edUcação - UeManet Coordenador do UemaNet prof. antonio roberto coelho serra Coordenadora de Design Instrucional profª. Maria de fátiMa serra rios Coordenadora do Curso de Filosofia, a distância profª. leila aMUM alles barbosa Responsável pela Produção de Material Didático UemaNet cristiane costa peixoto Professor Conteudista José renato salatiel Revisão liliane Moreira liMa lUcirene ferreira lopes Diagramação JosiMar de JesUs costa alMeida lUis Macartney sereJo dos santos tonho leMos Martins Design Gráfico lUciana vasconcelos Universidade estadUal do Maranhão Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet Campus Universitário Paulo VI - São Luís - MA Fone-fax: (98) 3257-1195 http://www.uemanet.uema.br e-mail: comunicacao@uemanet.uema.br Proibida a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem a prévia autorização desta instituição. Governadora do Estado do Maranhão roseana sarney MUrad Reitor da UEMA prof. José aUgUsto silva oliveira Vice-reitor da UEMA prof. gUstavo pereira da costa Pró-reitor de Administração prof. Walter canales sant’ana Pró-reitora de Extensão e Assuntos Estudantis profª. vânia loUrdes Martins ferreira Pró-reitora de Graduação profª. Maria aUxiliadora gonçalves de MesqUita Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação prof. porfírio candanedo gUerra Pró-reitor de Planejamento prof. antonio pereira e silva Chefe de Gabinete da Reitoria prof. raiMUndo de oliveira rocha filho Diretora do Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais - CECEN profª. andréa de araúJo Salatiel, José Renato Metodologia do ensino da filosofia / José Renato Salatiel. - São Luís: UemaNet, 2011. 97 p. 1. Filosofia - Ensino. 2. Filosofia - Metodologia. I. Título. CDU: 101.8:37 ATIVIDADES DICAS DE SITE SUGESTÃO DE LEITURA ÍCONES Orientação para estudo Ao longo deste fascículo, serão encontrados alguns ícones utilizados para facilitar a comunicação com você. Saiba o que cada um significa. SAIBA MAIS GLOSSÁRIO PENSE ATENÇÃO DICA DE MÚSICA REFERÊNCIAS SUGESTÃO DE FILME SUMÁRIO APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO UNIDADE 1 ENSINo DA FILoSoFIA No BRASIL ..................................... 17 Predomínio religioso no Brasil Colônia ......................... 18 Período Republicano: tempos de indecisão .................. 20 Exclusão na ditadura militar ......................................... 22 Redemocratização e volta da obrigatoriedade ............... 23 UNIDADE 2 ENSINAR FILoSoFIA .................................................................. 29 o ensino da filosofia e seus objetivos .......................... 29 Ensinar a filosofar: Kant .............................................. 33 A História da Filosofia segundo Hegel .......................... 37 A crítica de Nietzsche .................................................. 41 UNIDADE 3 QUESTõES SoBRE o CoNTEúDo PRoGRAMáTICo (o QUE ENSINAR?) ................................................................................. 51 o currículo ................................................................. 51 Abordagem histórica .................................................. 53 Temas ........................................................................ 57 Problemas ................................................................. 60 UNIDADE 4 METoDoLoGIA E DIDáTICA (CoMo ENSINAR?) ................... 69 Sensibilização ............................................................ 71 Problematização ........................................................ 74 Investigação ............................................................... 75 Conceituação ............................................................ 80 CoNSIDERAÇõES FINAIS ......................................................... 87 REFERÊNCIAS ........................................................................... 89 PLANO DE ENSINO DISCIPLINA: Metodologia do Ensino da Filosofia Carga horária: 60 h EMENTA A problemática do ensino e do método e suas abordagens na filosofia. A questão do método e dos procedimentos de ensino na filosofia. o planejamento do ensino de filosofia na educação básica. OBJETIVOS Geral Refletir sobre os desafios e a importância da prática do ensino da filosofia no ensino básico no país, analisando propostas de conteúdo e metodologia mais atuais com base em bibliografia específica sobre o tema, de modo a preparar o estudante para a carreira docente. Específicos ¡ Apresentar uma perspectiva crítica do ensino da filosofia no con- texto educacional brasileiro; ¡ Discutir a função da filosofia no ensino médio; Examinar as propostas de conteúdo programático referenciado em bibliografia e, em especial, sobre o uso da história da filosofia. In- vestigar diferentes propostas metodológicas; ¡ Expor procedimentos didáticos, atividades com textos filosóficos e formas de avaliação. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE I ENSINo DA FILoSoFIA No BRASIL UNIDADE II ENSINAR FILoSoFIA UNIDADE III QUESTõES SoBRE o CoNTEúDo PRoGRAMáTICo (o QUE ENSINAR?) UNIDADE IV METoDoLoGIA E DIDáTICA (CoMo ENSINAR?) METODOLOGIA o desenvolvimento e a avaliação da disciplina serão realizados de acordo com as diretrizes e orientações para a Educação a Distância. AVALIAÇÃO A avaliação se dará em função dos objetivos propostos, levando em consideração: a leitura dos textos sugeridos; o desenvolvimento das atividades propostas; as anotações e os questionamentos levantados e a participação nas discussões nos momentos presenciais. Caro estudante, Depois de praticamente ser banida das escolas públicas durante o período da ditadura militar, a filosofia voltou a ser disciplina obrigatória no ensino médio brasileiro, a partir de 2008. o retorno veio ao encontro de reivindicações de professores e filósofos que, durante anos, justificaram a importância da filosofia como base para a consolidação de uma sociedade democrática. o caráter disciplinar trouxe ainda novos desafios para especialistas, referentes ao ensino na realidade atual da educação do país. o que ensinar? Deve-se ensinar a história da filosofia ou a prática do filosofar? ou deve-se optar por uma abordagem temática? Como ensinar? o professor deve usar manuais didáticos ou trabalhar com os textos dos filósofos? os alunos são capazes de ler (e compreender) um texto filosófico? Eles são capazes de escrever ensaios filosóficos? Caro estudante, para responder a estas questões, o material aqui apresentado revisará a bibliografia sobre o assunto de forma a expor, os subsídios necessários para se pensar uma didática do ensino filosófico. Serão enfocados os principais problemas, referendados por pesquisas na área, e analisadas as melhores propostas de ensino, voltado principalmente para o ensino pré-universitário. Esperamos, com isso, capacitá-lo como um futuro professor capaz de desenvolver currículos e atividades que atendam ao perfil dinâmico e crítico da filosofia que, por vezes, contrasta com o modelo mais tradicional de educação, em que o professor tem um papel ativo e o aluno, uma postura passiva. Ao mesmo tempo, serão oferecidos fundamentos teóricos para que sejam pensadas estratégias que possam adequar o ensino às rápidas mudanças vivenciadas no mundo contemporâneo. APRESENTAÇÃO A apostila não tem a pretensão de esgotar o assunto nem de apresentar fórmulas prontas, mas servir de basepara novas experiências filosóficas em sala de aula. Portanto, leia com atenção e busque outras informações. Construa seu conhecimento. Saiba mais... e mais. o ensino da filosofia é quase tão antigo quanto a própria filosofia. Sócrates era conhecido por interpelar os cidadãos nas ruas de Atenas. Platão reservava aos alunos de sua Academia um aprendizado exclusivo, que não chegou a escrever. Na Idade Média, a educação foi subordinada aos dogmas da Igreja Católica, ao passo que, na Idade Moderna, a razão autônoma desafiou o Estado. Atualmente, a filosofia adquiriu uma complexidade de temas e métodos que tornam seu ensino uma tarefa igualmente complexa. Soma-se a isso o fato do maior ingresso de alunos na educação básica e a implementação tecnológica na aprendizagem dos jovens não serem fenômenos acompanhados por transformações compatíveis no ensino. Ensinar filosofia, portanto, começa por um posicionamento quanto ao que seja a própria filosofia. Pensadores como Kant e Hegel se preocuparam com o ensino filosófico e sugeriram práticas distintas a este respeito, cada uma de acordo com seus sistemas filosóficos. Existem, portanto, matizes tão variados de ensino quanto de escolas e doutrinas filosóficas. Quando se ensina, sempre se faz de um determinado ponto de vista filosófico e político. Ao professor de filosofia cabe, antes de ensinar, pensar a própria prática de ensino. Ele deve fazer uma reflexão sobre ela. Qual é o objetivo de se ensinar filosofia aos jovens? Incitar o pensamento crítico? Educar para a cidadania? Ensinar valores? Desenvolver habilidades argumentativas e linguísticas? Tudo isso leva, naturalmente, a questões sobre a própria especificidade da disciplina filosófica. o que a filosofia tem de específico em relação às demais disciplinas humanísticas? o que ela – e somente ela – pode oferecer aos jovens? INTRODUÇÃO Após cumprir esta etapa, o professor precisa pensar o currículo. Diferente de outras disciplinas, a filosofia não possui uma grade curricular padronizada. Textos produzidos pelo governo ao longo dos anos oferecem orientações diversas, como o ensino transversal, o temático e o conteudístico. o que, afinal, deve ser ensinado? Qual é o conteúdo mais propício à finalidade do curso? Porém, os maiores desafios talvez estejam em responder à pergunta: Como ensinar? Para a maioria dos jovens, a filosofia é uma disciplina inócua e sem sentido. Não “cai” no vestibular e não parece ter muita serventia em suas carreiras profissionais. o professor precisa, antes de tudo, vencer estes obstáculos. outro, tão árduo quanto este, é a leitura de textos filosóficos. os textos são as ferramentas básicas do filosofar. Muitos deles, contudo, são áridos e apresentam termos técnicos que suscitam ainda mais resistência dos alunos, sobretudo aqueles que não possuem o hábito da leitura. Caro estudante, nas próximas unidades deste trabalho discutiremos, em detalhes, as propostas de ensino, incluindo métodos, estratégias e recursos pedagógicos. Na Unidade 1 faremos uma revisão da história do ensino da filosofia no Brasil, de modo a situar os futuros professores na tradição. Na Unidade 2 serão analisadas a função e a especificidade da disciplina, bem como a divisão entre ensino da história da filosofia e o ensino da atividade filosófica. As duas outras unidades que compõem este fascículo são voltadas a assuntos práticos. A Unidade 3 vai tratar de tópicos referentes ao conteúdo de ensino a ser trabalhado em sala de aula, enquanto a Unidade 4 examinará modos de se trabalhar o currículo com os jovens, por meio de metodologias adequadas à filosofia. Concluímos que o ensino de filosofia adquire mais relevância hoje, na medida em que favorece o aprimoramento de habilidade intelectuais e éticas que irão preparar os jovens para enfrentar dilemas do mundo moderno. Por outro lado, o ensino permanece como um meio de tornar a filosofia mais prática, uma experiência de vida, mais do que um mero objeto de contemplação. 1 UNIDADE OBJETIVO DESTA UNIDADE: Apresentar um quadro sintético da situação do ensino da filosofia no Brasil desde o Período Colonial até os dias de hoje. Expor, sumariamente, os principais desafios, cujas propostas serão detalhadas nas unidades que compõem este fascículo. O ENSINO DA FILOSOFIA NO BRASIL A produção teórica e os debates acadêmicos sobre o ensino da filosofia ganharam novo fôlego nos últimos anos. Isso aconteceu depois que a disciplina foi tornada obrigatória, junto com sociologia, no ensino médio. Hoje, a filosofia é vista, em sua especificidade, como essencial à formação crítica e social do cidadão. Para crianças e adolescentes, ela possibilita ainda uma discussão sobre os valores e a cultura, numa época marcada pela rápida diluição de referenciais (cf. BAUMAN, 2001). A prática da filosofia em sala de aula, portanto, não pode prescindir de uma visão de seu contexto histórico no Brasil, se quisermos entendê-la como uma conquista de sociedades democráticas. Apesar de sua presença nos currículos escolares desde o tempo da colônia, a inclusão da filosofia como disciplina (obrigatória ou optativa) tem se caracterizado por instabilidades e incertezas. o motivo é que as políticas educacionais estiveram sujeitas, ao longo da história, a mudanças de regimes e interesses econômicos. Pode-se resumir a história do ensino da filosofia no país em quatro períodos diferentes (ALVES, 2002): FILOSOFIA18 ENSINO DE FILOSOFIA NO BRASIL CoLoNIAL 1500 – 1889 Disciplina obrigatória. Ministrada pela Igreja Católica. REPúBLICA 1889 – 1964 Disciplina optativa. Controlada pelo Estado. DITADURA MILITAR 1964 – 1985 Excluída do ensino básico. REDEMoCRATIZAÇÃo 1985 – dias atuais Adotada como tema transversal. Retorno da obrigatoriedade. Quadro 1: Síntese da história do ensino da filosofia no Brasil (ALVES, 2002). Fonte: do autor A seguir, examinaremos mais detalhadamente cada um destes períodos. Predomínio religioso no Brasil Colônia A filosofia já estava presente na grade curricular quando da introdução da educação escolar no Brasil, no Período Colonial. As primeiras escolas implantadas no país, no século 16, seguiam o modelo pedagógico usado em Portugal, chamado Ratio Studiorum (Plano de Estudos). os colégios eram administrados pela Companhia de Jesus, a mais influente ordem religiosa da Igreja Católica. o conteúdo dos cursos de filosofia era, portanto, direcionado e vinculado aos ditames da Igreja, e orientado segundo a visão de mundo dos jesuítas. o programa de ensino também se ajustava, desta forma, aos interesses colonialistas do sistema monárquico e escravagista da época. os alunos, por usa vez, eram filhos de colonos, de senhores de engenho e de proprietários de terras (AZZI, 1987; ARANHA, 1989). o programa de ensino continha três cursos: letras humanas, filosofia e ciências (ou artes) e teologia e ciências sagradas. Em filosofia, ensinavam-se pensadores da Idade Média, como Tomás de Aquino e, com certa cautela, Aristóteles. A Companhia de Jesus foi fundada em 1534 pelo militar espanhol Inácio de Loyola (1491-1556), no âmbito da reação da Igreja Católica à Reforma Protestante. Seus integrantes são chamados de jesuítas. os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549. Eles estiveram à frente da catequização dos índios e da fundação de escolas e cidades. o jesuíta mais conhecido no país foi o padre José de Anchieta (1534-1597). Santo Tomás de Aquino (c.1225-1274) foi um dos mais importantes nomes da filosofia medieval e o maior representante do período da Escolástica (século 8 a 14) – assimchamada devido aos professores das universidades, os escolásticos. Coube a Tomás de Aquino tornar os escritos de Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) não somente aceitáveis para os cânones papais como também comporem um fino tecido argumentativo em favor da fé cristã. Figura 1: o Ratio Studiorum era a base de ensino dos jesuítas. Fonte: http://upload. wikimedia.org/wikipedia/ commons/1/1d/ Ratiostudiorum.jpg o romance O Nome da Rosa, do escritor italiano Umberto Eco (Ed. Record, 2009) retrata bem esse contexto na Idade Média, incluindo a recepção das obras aristotélicas pelos escolásticos. METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 19 o Antigo Regime, o absolutismo e o mercantilismo entram em colapso no século 18, com as revoluções burguesas na Europa. Na segunda metade desse século, a Coroa Portuguesa estava em declínio, enquanto a Inglaterra adentrava a era do capitalismo industrial. A modernização do Estado português foi realizada por meio de um conjunto de reformas determinadas pelo primeiro ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Um de seus atos mais célebres foi a expulsão dos jesuítas de Portugal e das colônias, em 1759. os religiosos foram acusados de complô para matar o rei D. João. Com a expulsão dos missionários, houve uma abertura na educação aos ideais liberais e iluministas então em voga no continente europeu, além de uma maior influência do Estado sobre o conteúdo curricular. No Brasil, contudo, o desmantelamento da estrutura educacional montada pelos jesuítas (escolas, professores e material didático) não sobreveio de outra. A exceção deste período é o Seminário de olinda, fundado em 1798 por João Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, bispo de Pernambuco. Ele propõe uma política educacional mais científica, com ênfase, no curso de filosofia, para a filosofia natural (CUNHA, 1980). Quando a Corte portuguesa se transferiu para o Brasil, em 1808, o ensino superior começou a ser estruturado para atender a demandas administrativas e políticas do Estado. Ao mesmo tempo, a abertura dos portos para o mercado internacional contribui para mudar o cenário sociocultural do país. o ensino secundário, nesta época, era propedêutico, isto é, um curso de preparação para a faculdade, enquanto o ensino básico era deixado em segundo plano. A filosofia era ensinada nas escolas como preparação para cursos superiores. A Reforma de Leôncio de Carvalho, de 1879, priorizou o ensino de ciências, de modo a superar a tradição humanista e colonial. Apesar de ainda ser conduzida por eclesiásticos, as aulas continham disciplinas de ciências naturais – física, química, biologia etc. –, e eram Figura 2: Marquês de Pombal, pintura de Louis-Michel van Loo e Claude-Joseph Vernet (1766). Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/6/63/Louis-Michel_van_Loo_003.jpg Filosofia natural é o ramo da filosofia que estuda a Natureza e o universo físico. Com a separação entre ciência e filosofia, no século XVI, ela foi gradualmente sendo substituída por outras áreas de investigação filosófica, como a teoria do conhecimento e a filosofia da ciência. Consultar As Bases Metafísicas da Ciência Moderna (BURTT, 1991). FILOSOFIA20 ministradas com livros importados da França. Desta forma, a corrente do positivismo influenciou a formação de militares e profissionais liberais com um pensamento que se contrapunham à monarquia, à escravidão e os dogmas religiosos. A doutrina positivista, apreendida por meio destes cursos, se tornaria dominante após a Proclamação da República em 1889 (CUNHA, 1980). Período Republicano: tempos de indecisão A República procedeu uma nova reforma educacional, com a intenção de formar as elites do país. o ensino foi tornado laico, sob inspiração positivista, para atender aos interesses do Estado republicano recém constituído. Houve uma descentralização do ensino, com o Governo Federal cuidando da educação superior e do secundário, enquanto o ensino elementar e profissional era de responsabilidade dos Estados. Nesta reorganização, cujo maior mentor foi Benjamin Constant, a filosofia, pela primeira vez desde o Período Colonial, ficou de fora do currículo escolar do ensino secundário como disciplina obrigatória, por meio do decreto nº 981 de 8 de novembro de 1891. A razão disto foi a importância dada à formação técnica e científica. Além disso, o ensino de filosofia era visto com desconfiança por sua ligação com a tradição católica e monarquista (NAGLE, 1974). Nos anos seguintes, outras quatro reformas iriam: • devolver a disciplina de filosofia aos currículos (1901); • retirá-la novamente (1911); • torná-la facultativa (1915); • e, por fim, obrigatória mais uma vez (1925). o positivismo é uma doutrina filosófica, política e social criada pelo filósofo francês Augusto Comte (1798-1857) no século 19. Indicava um desenvolvimento científico da humanidade, para além dos preceitos da teologia e da metafísica. Uma das marcas mais duradoura da influência das ideias positivistas no Brasil é a frase estampada na bandeira nacional, adaptada da máxima comtiana “o Amor por princípio e a ordem por base; o Progresso por fim”. Consultar Curso de Filosofia Positiva (CoMTE, 1978). Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891) foi militar, engenheiro, professor e estadista brasileiro. Reconhecido como o fundador da República, era adepto do positivismo e foi um de seus principais divulgadores no país. Após a Proclamação da República (1889) foi nomeado Ministro da Guerra e Ministro da Instrução Pública no governo provisório. Você notou como a dicotomia entre humanismo e tecnociência é recorrente ao longo da história da educação e como a filosofia ocupa um lugar central nela? As Duas Culturas e uma Segunda Leitura, de Charles P. Snow (EDUSP, 1995). METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 21 Segundo Alves: Fazendo um retrospecto rápido, do modo como as reformas trataram a questão da filosofia no ensino secundário, podemos perceber como foi indefinida a presença da filosofia neste período [Primeira República], e como se concretizou a perda de privilégio da filosofia na formação dos jovens, devido à valorização de um currículo mais científico e prático em detrimento de um currículo humanístico, literário e enciclopédico (ALVES, 2002, p. 29). Novas reformas educacionais ocorreriam durante o governo de Getúlio Vargas, que se estendeu por um período de 15 anos após a Revolução de 1930. Elas visavam a formação de mão de obra especializada para a indústria. As principais mudanças deste tempo foram: • Reforma Francisco Campos (1932): dividiu o curso secundário em dois ciclos: fundamental (5 anos), com formação básica obrigatória, e complementar (2 anos), que preparava para o ingresso nas faculdades de Direito, Engenharia e Medicina. A filosofia fazia parte deste último ciclo. • Reforma Gustavo Capanema (1942): definiu dois ciclos, com ginásio (4 anos) e colégio (3 anos), subdividido em clássico, com humanidades, e científico, com ciências, ambos contemplando a filosofia como disciplina obrigatória no currículo. Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4.024/61, manteve a mesma estrutura (ginásio e colégio) e incluiu a filosofia na lista de disciplinas optativas (CARToLANo, 1985). Fechou-se, assim, um ciclo de indefinição que prepararia o terreno para a abolição completa, por lei, da disciplina de filosofia na ditadura militar. Getúlio Dorneles Vargas (1882-1954) foi o político que mais tempo ocupou o cargo de presidente do Brasil. Ele governouem dois períodos distintos: o primeiro, de 1930 a 1945, foi caracterizado pela ditadura do Estado Novo (1937 a 1945); e o segundo, começou 1951 e foi até seu suicídio, em 1954. o governo de Getúlio Vargas ficou conhecido pelas reformas trabalhistas e pelas campanhas nacionalistas, como "o Petróleo é Nosso". A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define e regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos princípios presentes na Constituição. A LDB de 1961 foi a primeira criada. Ela foi substituída pela LDB de 1971, que vigorou até a promulgação da mais recente, em 1996. FILOSOFIA22 Exclusão na ditadura militar As políticas de ensino que sobrevieram ao Golpe de 1964, mais uma vez, privilegiaram o ensino técnico em contraposição ao humanista. Foi também uma época de perseguição, prisão, tortura e extradição de estudantes e profissionais de ensino, sobretudo após a decretação do AI-5, em 1968. Neste contexto, a filosofia tornou-se inócua para o governo, por não se enquadrar no tecnicismo requerido pelo ensino, ou subversiva, por levar ao questionamento do autoritarismo vigente. Foram criadas, nos anos 1960, duas disciplinas consideradas equivalentes (e tornadas obrigatórias), com a intenção de serem substitutas da filosofia, que era optativa nos currículos: • Educação Moral e Cívica. • organização Social e Política Brasileira (oSPB). Na prática, porém, estas disciplinas nada tinham de filosóficas. A Lei de Diretrizes e Bases de 11 de agosto de 1971 (Lei nº 5.692) foi uma legislação impositiva, diferente da LDB anterior, que contou com debates na sociedade civil. Ela reestruturou o ensino de 1º (8 anos) e 2º graus (3 a 4 anos), este último destinado à formação profissional. Nesta nova configuração, a filosofia foi praticamente extinta na maioria dos colégios, simplesmente “por falta de espaço” na grade curricular (ARANHA, 1989, p. 257). Você notou como os regimes autoritários (Estado Novo e Golpe de 1964) direcionam o ensino para o técnico e profissional, em detrimento da formação humanista e, assim, da filosofia? Não seria possível conciliar ambas as vertentes de ensino? o Ato Institucional nº5 foi um decreto que conferiu plenos poderes ao regime militar brasileiro, sobrepondo-se à própria Constituição. http://www.acervoditadura. rs.gov.br/legislacao_6.htm o embate entre Estado e filosofia remonta à Grécia Antiga, quando Sócrates foi julgado e condenado à morte pelo ensino de filosofia em Atenas. os registros do julgamento de Sócrates podem ser conferidos nos Diálogos Socráticos, de Platão (EDIPRo, 2008), principalmente Apologia e Fédon. Figura 3: Passeata de estudantes em 4 de julho de 1968, no Rio de Janeiro (o Globo) Fonte: Arquivo Nacional METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 23 Formou-se então um movimento para que retornasse às salas de aula. Com a abertura, a partir dos anos de 1980, a filosofia aos poucos voltaria, por recomendação ou determinação de secretarias estaduais de educação no ensino médio da rede pública de ensino. Redemocratização e volta da obrigatoriedade Nos anos 1980 há um processo de democratização no país que dá lugar a debates no meio acadêmico que pediam o retorno da filosofia no ensino médio. Este período se caracteriza diferente dos demais, por iniciativas do Poder Legislativo em elaborar projetos e participação do setor educacional, a partir do final dos anos 1980. o fato mais importante que prepararia o retorno da filosofia foi a promulgação, em 20 de dezembro de 1996, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96), que revogou a anterior. o artigo 36 determina que, ao final do ensino médio, todo estudante deverá ter “domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania” (BRASIL, 1996). Contudo, a lei é imprecisa e vaga: não indica a filosofia como disciplina e não especifica como se darão estes conhecimentos previstos em sala de aula (ALVES, 2002). A LDB seria complementada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, redigidos com a proposta de orientarem políticas de educação, diretores de escolas e professores. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (resolução CEB/CNE nº 3/98), aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (1998) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – área de Ciências Humanas e suas Tecnologias (1999) estabeleceram diretrizes para as políticas de ensino. os documentos apontavam o trabalho de conhecimentos filosóficos em sala de aula como temas transversais. Essa medida visava garantir o cumprimento da LDB. Figura 4: Caricatura do político Teotônio Brandão Vilela (1917-1983) feita por Henrique de Sousa Filho, o Henfil (1944-1988). Fonte: HENFIL. Diretas Já! (São Paulo: Record, 1984). os Parâmetros Curriculares Nacionais são documentos do governo que fornecem referenciais para a educação no Ensino Fundamental em todo o Brasil. Eles propõem orientar e dar coerência ao sistema educacional brasileiro, respeitando a diversidade de cada região. Temas transversais são conteúdos que, ao invés de serem trabalhados em sua disciplina específica, são incluídos no currículo distribuindo-se em várias áreas do conhecimento. FILOSOFIA24 os defensores do ensino transversal de Filosofia argumentavam, em favor deste método: • A falta de professores formados na área; • os custos para o Estado com contratações; e • A adesão, desnecessária, de mais uma disciplina no currículo escolar. Já quem defendia a obrigatoriedade da disciplina, apontava que: • Além dos professores de filosofia já formados, a inclusão da disciplina na grade iria aumentar a procura por cursos de formação específica; • Não haveria necessariamente mais gastos, uma vez que bastaria remanejamento de carga horária curricular; • Somente o ensino disciplinar iria introduzir os jovens na prática de reflexão filosófica, que de outro modo perderia sua especificidade numa educação eminentemente disciplinar. o segundo movimento do governo mais significativo foi a promulgação da Lei 11. 684/2008, de 03 de junho de 2008. Esta lei alterou o artigo 36 da Lei 9394/96, incluindo a obrigatoriedade das disciplinas de sociologia e filosofia em todas as séries do ensino médio. A medida atendeu aos apelos de movimentos acadêmicos que pleiteavam o retorno destes cursos nos currículos. Ao mesmo tempo, o reconhecimento da especificidade e importância do caráter disciplinar da filosofia trouxe novos desafios para a docência. Entre eles: • Como ensinar filosofia para a realidade atual do ensino massificado? • Como despertar o interesse dos jovens em tempos de novas tecnologias de comunicação, que promovem a dispersão da atenção (ao passo que a filosofia exige leituras atentas)? • Como propor o estudo de textos de autores clássicos e teorias complexas para alunos que, muitas vezes, chegam ao ensino médio com deficiências de alfabetização? METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 25 • De que forma ensinar a filosofia, sem reduzi-la às trivialidades dos manuais? (RoDRIGo, 2009). CONCLUSÃO É significativo que a filosofia tenha retornado ao ensino médio juntamente com a democracia no Brasil, depois de décadas de indecisões ou exclusão da grade curricular. Seu ensino, portanto, está ligado a uma necessidade de se restaurar, na educação dos jovens, o desenvolvimento do pensamento crítico, essencial para uma sociedade democrática. É reconhecido que não se consolida uma democracia sem uma educação livre, capaz de formar cidadãos ativos e questionadores,dotados de autonomia para escolher melhor seus governantes. o retorno da obrigatoriedade, contudo, obrigou os filósofos a repensarem metodologias e didáticas de ensino. Surgiu ainda uma oportunidade para remover a filosofia de seu âmbito elitista e aproximá-la do cotidiano das pessoas. Afinal, se a filosofia tem seu próprio escopo, com métodos próprios de investigação, deve dar respostas únicas para problemas atuais. Por que o ensino de filosofia incomoda tanto ortodoxias religiosas quanto governos autoritários, desde a época em que Sócrates dava aulas nas ruas de Atenas? Assista um dos filmes indicados nesta introdução, sobre a vida de dois professores de filosofia que enfrentaram os poderes de sua época, debata com seus colegas e apresente as conclusões do grupo. FILOSOFIA26 GIORDANO BRUNO (1973) Direção: Guiliano Montaldo Gênero: Drama Duração: 114 min Elenco: Gian Maria Volonté (Giordano Bruno), Charlotte Rampling (Fosca), Hans Christian Blech (Sartori), Mathieu Carrière (orsini), Renato Scarpa (Fra Tragagliolo), Giuseppe Maffioli (Arsenalotto), Massimo Foschi (Fra Celestino) e Mark Burns (Bellarmino). Sinopse: o filme conta a história do filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600) que, por conta de suas ideias que conflitavam os dogmas da Igreja Católica, foi expulso da ordem dos Dominicanos, processado pela Inquisição e queimado vivo. ÁGORA (2009) Direção: Alejandro Amenábar Gênero: Drama Duração: 126 min Elenco: Rachel Weisz (Hipátia), Max Minghella (Davus), oscar Isaac (orestes), Ashraf Barhom, (Ammonius), Michael Lonsdale (Theon), Rupert Evans (Synesius), Richard Durden (olympius) e Sami Samir (Cyril). Sinopse: o filme relata a história da filósofa grega Hipátia (335-415), professora de filosofia, matemática e astronomia na Alexandria e no Egito, e seu embate com o Estado e a religião na época. METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 27 Site Institucional do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR), da Universidade Estadual de Campinas, com o conteúdo do CD-RoM Navegando na História da Educação Brasileira. o material traz arquivos com pesquisas sobre a história da educação no Brasil feitas em 20 anos do centro. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/index.html ALVES, Dalton José. A Filosofia no Ensino Médio: ambiguidades e contradições na LDB. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1989. AZZI, Riolando. A Cristandade colonial: um projeto autoritário. São Paulo: Paulinas, 1987. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Trad.: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2010. BRASIL. Lei nº 11.684 de 2 de junho de 2008. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2008/Lei/L11684.htm>. Acesso em 17 dez. 2010. BURTT, Edwin A. As Bases Metafísicas da Ciência Moderna. Trad.: José Viegas Filho e orlando Araújo Henriques. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1983. FILOSOFIA28 CARToLANo, Maria Teresa. Filosofia no Ensino de 2ºGrau. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1985. CoMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva. In: ______. Os Pensadores. 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UNIDADE O ensino da filosofia e seus objetivos A primeira tarefa que o professor de Filosofia precisa enfrentar, tendo em vista o histórico e problemas mencionados na introdução, é pensar a disciplina de filosofia: • Ela pode ser ensinada? • o que, exatamente, se ensina? • Quais são os seus objetivos? • Por que ela é importante para o jovem? • Qual é sua utilidade no mundo atual? A filosofia é um dos conhecimentos mais antigos do homem. Ela surgiu entre o final do século 7 e começo do século 6 antes de Cristo nas colônias gregas da ásia Menor, na cidade de Mileto. os OBJETIVOS DESTA UNIDADE: Introduzir o aluno na problemática do ensino de filosofia, levando-o a discutir a especificidade disciplinar da filosofia, sua importância no ensino básico e os objetivos de seu emprego em sala de aula, estabelecendo parâmetros para a construção de currículos; Apresentar, a visão de três filósofos sobre o ensino filosófico: Kant, Hegel e Nietzsche. 2 ENSINAR FILOSOFIA FILOSOFIA30 primeiros filósofos trataram de problemas cosmológicos, ou seja, concernentes à origem e ao destino do universo. Eles substituíram explicações míticas e religiosas por métodos mais racionais de investigação (ABBAGNANo, 2000). Com o tempo, o conhecimento filosófico ganhou autonomia em relação a outras ciências. A filosofia consiste no questionamento dos fundamentos de nossas crenças, buscando respostas para questões comuns a todas as pessoas como: • Qual a natureza do tempo e do espaço? • Nossos valores morais podem ser objetivos e válidos para todas as pessoas? • Como podemos ter alguma certeza sobre aquilo que conhecemos acerca do mundo? • o que é a consciência? Animais e máquinas possuem consciência? • Temos livre-arbítrio ou somos condicionados por fatores biológicos e sociais? A filosofia trata, portanto, de assuntos fundamentais que subjazem problemas cotidianos e que somente a atividade filosófica, por meio de métodos próprios, pode oferecer respostas, ainda que não sejam respostas definitivas. Por exemplo, em questões relativas ao avanço da biologia genética. São pesquisas muito específicas de um ramo científico. os que os filósofos teriam a dizer sobre isto? Cabe a eles pensarem temas éticos referentes à manipulação de genes, por exemplo, de modo a fornecer subsídios a políticas que orientem o uso de pesquisas nesta área. os filósofos possuem instrumentais teóricos para avaliar diferentes argumentos sobre determinado assunto e contribuir para a adoção de decisões em diferentes áreas. Mesmo assuntos atuais – como a exposição em redes sociais, o consumismo e o aquecimento global, por exemplo – possuem questões mais profundas que já eram tratados por filósofos de tempos mais remotos, na Grécia antiga ou na Europa Medieval. Cosmologia é um ramo da metafísica que estuda a constituição do universo por meio de métodos observacionais e especulativos. Difere da cosmologia moderna, que é um campo de estudos da astronomia. A cosmologia consistiu no centro do estudo dos filósofos pré-socráticos. Para mais detalhes, cf. ABBAGNANo, 2007. É correto eliminar deficiências físicas por meio da manipulação genética? E determinar o sexo do bebê ou a cor de sua pele, de seus olhos e de seus cabelos? Que questões são estas? Podemos pensar estes três fenômenos citados – redes sociais, consumismo e aquecimento global – partindo do modo como a filosofia trabalhou as relações dicotômicas entre, respectivamente,real e aparência, ideal e material e homem e natureza. METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 31 E como os filósofos se propõem a resolver alguns desses dilemas? A ferramenta do ofício filosófico se chama conceitos. É por meio da elaboração e uso de conceitos filosóficos que os filósofos solucionam seus problemas, pelo menos temporariamente, pois cada doutrina dá origem a novas perspectivas ou novos problemas. Um exemplo disso é o conceito de arché (princípio), que os filósofos pré-socráticos criaram para explicar a unidade que constitui a natureza por trás de sua aparência diversa e mutável. ou o termo ideia, que em Platão quer dizer uma coisa diferente da palavra que empregamos usualmente. o filósofo grego empregou o termo para apresentar respostas para uma ampla gama de assuntos de ordem epistemológica (teoria do conhecimento) e metafísica. Em resumo, a filosofia é uma atividade: • Teórica, pois não depende de testes experimentais ou laboratoriais como a ciência para atingir suas verdades; • Reflexiva, pois pensa o próprio pensamento, quer dizer, tem o pensamento como objeto do próprio pensar; • Crítica, uma vez que não estabelece dogmas ou verdades absolutas, como as religiões e os mitos; e • Criativa, pois envolve a criação de conceitos. o objetivo da disciplina filosófica no ensino básico não é formar filósofos profissionais, mas proporcionar aos jovens uma experiência filosófica, que leve em conta estas quatro características da prática da filosofia. Esta experiência é a de pensar por meio de conceitos determinados assuntos ou dilemas, comuns a todas as pessoas no dia a dia, e que somente a filosofia pode, com seus métodos próprios, oferecer respostas, ainda que inconclusivas. Conceito - os filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari definem filosofia como “[...] a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos.” (1992, p. 10). Esta é, diz eles, a especificidade da filosofia. Para os autores, a filosofia não é contemplação, ou seja, uma atividade meramente passiva; nem reflexão, pois ninguém precisa da filosofia para refletir; e nem mesmo comunicação, cuja prática visa criar consensos, não conceitos. Ideia - Por ideia, Platão entende uma unidade visível na multiplicidade, quer dizer, uma realidade una da qual nosso mundo é apenas uma aparência. As ideias são: (i) os objetos do conhecimento, das quais os objetos sensíveis são uma pálida lembrança; (ii) critérios de valoração, como o Bem supremo, que serve de medida para um tipo de bem menor ou maior; (iii) e causas de todas as coisas que existem no mundo (cf. PATÃo, 1979). FILOSOFIA32 o processo envolve os seguintes objetivos: • Amadurecimento intelectual o instrumental teórico proporcionado pela filosofia a adolescentes que cursam o ensino médio permite que eles desenvolvam suas habilidades intelectuais. Tais habilidades serão essenciais para que exerçam tanto seus direitos de cidadãos, para que tenham atitudes mais responsáveis, quanto para que se orientem mais claramente em suas carreiras profissionais. o estudante pode aprender com Kant, por exemplo, que ele é responsável pelas escolhas que faz na vida, pois sua conduta tem um caráter universal. Ele pode ainda, lendo Aristóteles, descobrir como identificar maus argumentos em uma discussão. E com Nietzsche, aprender a criticar valores tradicionais da sociedade, ficando mais atento a preconceitos sociais, por exemplo. • Desenvolvimento do pensamento crítico A Bíblia diz que a humanidade descende de Adão e Eva e que o universo possui cerca de 6 mil anos. A ciência, que descendemos de uma espécie primata e que o universo conta com aproximadamente 13,7 bilhões de anos. Em qual verdade devemos acreditar? ou, em outros termos, como descobrir quem está dizendo a verdade? o pensamento crítico consiste nesta capacidade de avaliar os argumentos que sustentam uma determinada crença e nos permite saber se o que nos dizem corresponde ou não à realidade. A filosofia é uma prática que estimula as dúvidas, nos torna céticos a respeito do que vemos, ouvimos, lemos, sentimos e pensamos. Este é um primeiro passo para se interpretar o mundo com uma postura crítica. Mas, além disso, é preciso sair do estado de dúvida, analisando os argumentos. Será a filosofia, portanto, que irá fornecer os instrumentos essenciais para se pensar de forma clara e rigorosa. Ceticismo é uma forma de questionamento direcionada às razões que sustentam determinado conhecimento. Ser cético não significa, como se comumente afirma, duvidar da possibilidade de qualquer tipo de saber. o ceticismo apenas questiona a validade do conhecimento e suas pretensões de certeza (Cf. GRAYLING, 2007). Em “A Fixação da Crença”, o filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce diz que a dúvida é aquele sentimento que nos tira da comodidade de uma crença e dispara o processo de investigação. Toda filosofia parte daí. É a dúvida que nos estimula a atingir novos hábitos de conduta (PEIRCE, 2008). Figura 5: A filosofia nos torna mais céticos. (Cena do filme A origem). Fonte: http://inceptionmovie.warnerbros.com/dvd/ METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 33 • Pensar com autonomia Ao longo da história, todos os governos autoritários – como os regimes nazi-fascistas e comunistas na Europa – tentaram impor uma determinada maneira de pensar, uma vez que eram sistemas políticos que não funcionavam pelo livre confronto de ideias. Por esta razão, a filosofia foi banida das escolas durante da ditadura no Brasil (cf. Unidade I deste volume). o ensino de filosofia pretende que as pessoas pensem por si mesmas, que sejam menos submissas e que aprendam a questionar. Estes são requisitos para formar cidadãos, ao invés de meros consumidores, que fortaleçam as instituições democráticas. A principal tarefa, para atingir estes objetivos em sala de aula, é ensinar a ler os textos filosóficos, problematizando, contextualizando e analisando os diferentes discursos filosóficos. Desta forma, os conceitos e doutrinas poderão ser verificados em sua pertinência atual, tendo em vista que, em essência, tratam de questões que rondam os homens desde o início da filosofia. Mas, com que conteúdo específico deve-se trabalhar? Ensinar a filosofar: Kant o ensino da filosofia passa por duas esferas: por um exercício crítico da razão e por um aprendizado sistemático de sua história. Ambas as instâncias são objetos de uma polêmica entre os filósofos que defendem que se deve ensinar filosofia e outros, ensinar a filosofar. Pela primeira, entende-se o produto da filosofia, ou seja, determinadas correntes, doutrinas e ideias que compõem a História da Filosofia e podem ser estudadas, por exemplo, de forma cronológica em períodos. Na ficção, autores como George orwell, em 1984, Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo, e Ray Bradbury, em Fahrenheit 451, escreveram sobre estratégias de Estados totalitários para controlar o pensamento das pessoas. A história em quadrinhos V de Vingança, escrita por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd é outro bom exemplo. FILOSOFIA34 Estes períodos históricos se dividem em: HISTÓRIA DA FILOSOFIA NOME PERíODO CARACTERíSTICA Filosofia antiga Século 6 a.C. ao século 6 d.C Compreende toda filosofia greco- romana, dos pré-socráticos ao período helenístico. Patrística Século 1 ao século 7 Tentativa dos apóstolos Paulo e João e dos primeiros padres da Igreja Católica de conciliarem a fé cristã com a filosofia antiga. Filosofia Medieval Século 8 ao século 14 Inclui pensadores europeus, árabes e judeus,influenciados pelos escritos de Platão e Aristóteles. Renascença Século 14 ao século 16 Época de descobertas científicas, confrontos com os dogmas da fé e pensamento político. Filosofia Moderna Século 17 a meados do século 18 Foco na natureza do conhecimento humano, cujas fontes de saber opõem racionalistas, como Descartes e Leibniz, e empiristas, como Locke e Berkeley. Iluminismo Século 18 ao começo do século 19 Confiança na razão e na ciência como móveis do progresso humano. Filosofia Contemporânea Meados do século 19 até os dias atuais Composta de uma diversidade de temas e métodos, que abrangem filosofias da história, social, da ciência e da linguagem. Quadro 2: Períodos da história da filosofia (CHAUÍ, 2000). Fonte: do autor Já o ensinar a filosofar envolve a filosofia enquanto atividade. Ela requer aprender determinados métodos de análise de problemas, elaboração conceitual e crítica. Em um domínio, ensina-se o conteúdo. Na outro, opera-se um processo. A principal referência destas duas abordagens é o debate entre Kant e Hegel. o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724 – 1804) praticamente passou a vida acadêmica dando aulas, primeiro como professor particular, e depois, na Universidade de Königsberg, sua cidade natal. Na Crítica da Razão Pura e em outros textos, Kant defende que não é possível ensinar a filosofia, mas apenas o aprender a filosofar. Ele explica que a filosofia é uma ciência possível, sempre em aberto, pois a investigação filosófica nunca termina. Mesmo quando o filósofo atinge METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 35 uma elucidação razoável sobre uma dada matéria, surgem outras questões que demandam novas teorias, inclusive conflitantes com a que ele formulou. Fica fácil de entender isso quando comparamos a filosofia à ciência. Na ciência, algumas teorias tornam-se completamente obsoletas quando contrariadas pelos fatos. Assim, a astronomia de Copérnico e de Galileu substituiu os modelos cosmológicos de Aristóteles e Ptolomeu, e a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, tornou limitada a teoria da gravidade de Newton. Em filosofia, ao contrário, a ética de Aristóteles é até hoje reconhecida como uma das mais completas. o mesmo se pode dizer, a despeito das críticas, da teoria política de Platão. A ética aristotélica é exposta em Ética a Nicômaco (ARISTÓTELES, 1973). o mais importante tratado política de Platão é A República (PLATÃo, 2000). Ela é criticada por Karl Popper em A Sociedade Aberta e seus Inimigos, vol. 1 (PoPPER, 1987). os astrônomos italiano Galileu Galilei (1564-1642) e polaco Nicolau Copérnico (1473- 1543) sustentaram a teoria heliocêntrica, em que o Sol ocupa o centro do sistema solar, contrário aos gregos Aristóteles (384 a.C. -322 a.C.) e Cláudio Ptolomeu (90-168), que acreditavam que a Terra era o centro do universo (teoria geocêntrica). Em linhas gerais, na lei da gravitação universal do físico inglês Isaac Newton (1643- 1727) a gravidade é resultado da atração que objetos físicos como a Terra exerce sobre os corpos, enquanto a teoria da Relatividade Geral, publicada em 1915 por Albert Einstein (1879-1955), a gravidade é um efeito da curvatura do espaço- tempo. Figura 6: Kant defendeu o ensino de filosofia enquanto atividade. (Kant em conferência para funcionários russos, por I. Soyockina e V. Gracov). Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:KantLecturing.jpg Sendo assim, a história da filosofia, segundo Kant, não pode ser ensinada porque não é um produto acabado. Ela está sempre em desenvolvimento. Por isso, ele afirma: Como a filosofia poderia propriamente ser aprendida, se em filosofia cada pensador edifica a sua obra, por assim dizer, sobre as ruínas de uma outra e nenhuma jamais alcançou um estado de permanência em todas as suas partes? Por isso, por seu fundamento, a filosofia não pode ser aprendida, porque ainda não há filosofia. Mas, mesmo supondo que ela existisse efetivamente, quem a aprendesse não poderia dizer- se filósofo, pois o seu conhecimento dela ainda continuaria sendo, sempre, apenas histórico subjetivo (KANT, 2002, p. 53). FILOSOFIA36 Com isso, ele quer dizer que não adianta aprender somente a história da filosofia, pois, no conjunto, vai parecer um balaio de ideias conflitantes sem qualquer finalidade. Deve-se, ao contrário, fazer um exame próprio, não desprezando o que já foi realizado ao longo da história do pensamento, mas fazendo seu próprio estudo a partir dos problemas originais que aqueles filósofos trabalharam: Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou rejeitando-os (KANT, 1980, p. 407-408). Filosofia, para Kant, é o exercício da razão autônoma do sujeito. Portanto, seu ensino deve basear-se mais no método de conduzir o pensamento do que em aprender conclusões já atingidas por outros pensadores. Ao professor de filosofia, cabe a tarefa de estimular no aluno a atividade do filosofar, ao invés de ver nele um mero depositório de conhecimentos prontos e acumulados ao longo da história. A posição pedagógica de Kant é coerente com sua filosofia crítica, em que a razão humana é legisladora do mundo por impor a forma tanto às leis naturais quando ao mundo prático da moralidade. De acordo com Ramos (2007), três aspectos desta filosofia teórica e prática de Kant aparecem refletidos em sua concepção de ensino (incluindo aqui o ensino de filosofia): • o ideal de perfectibilidade da espécie humana. • o princípio da razão autônoma do Esclarecimento (Aufklãrung). • A necessidade de leis coercitivas da conduta. Para Kant, o homem é perfectível porque é capaz de desenvolver suas capacidades naturais por meio da educação. Este ideal de perfectibilidade orienta ações pedagógicas que permitam que o aluno aprimore virtudes potenciais, como a capacidade de reflexão. Como se faz isso? Por meio do uso de sua razão autônoma. Em Resposta à pergunta: que é o Esclarecimento (KANT, 1985), ensaio escrito em 1784, o filósofo fala que o Esclarecimento (termo também Kant foi influenciado pela pedagogia do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712- 1778), conforme exposta em Emílio ou Da Educação (RoUSSEAU, 1995). Para uma visão geral da filosofia de Kant, consultar a apostila História da Filosofia Moderna. METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 37 traduzido como Iluminismo) representa a saída da menoridade, entendida como um estado de imaturidade intelectual do indivíduo. Segundo Kant, o sujeito pode se autoimpor esta menoridade por preguiça, comodidade ou oportunismo. ou então, ao ser guiado por autoridades, sejam elas religiosas ou políticas. Sair da condição de menoridade, diz Kant, demanda o uso pleno das faculdades racionais. Não apenas pelo sujeito, em seu conhecimento a respeito de um assunto, mas numa esfera pública de atuação. o homem deve poder questionar livremente, sobre qualquer assunto. Contudo, esta atuação pública vai exigir algum tipo de obrigação, ao que chegamos ao terceiro ponto. o sujeito, no caminho de sua emancipação, necessitaria de coações internas, determinadas por leis da virtude (ética), e coações externas, determinadas por leis do Direito. A liberdade, dessa forma, é condicionada a uma obediência ao imperativo do dever e ao imperativo do direito (KANT, 2005). No ensino, o educador vai: • Estimular a saída da menoridade, pelo estímulo do exercício da razãoautônoma, por meio, principalmente, do diálogo com o educando; e ao mesmo tempo; • Limitar a liberdade com disciplina e método de ensino. A seguir, veremos como Hegel se opôs a Kant, defendendo o ensino da história da filosofia. A História da Filosofia segundo Hegel o pensador alemão G. W. F. Hegel (1770-1831), assim como Kant, foi professor de filosofia durante toda sua vida profissional. Ele deu aulas particulares, lecionou no ensino fundamental e na universidade, além de ocupar os cargos de diretor de colégio e reitor. Seus escritos sobre educação e ensino de filosofia estão reunidos em Escritos Pedagógicos (1991). o Iluminismo, também conhecido como Século das Luzes, Ilustração ou Esclarecimento, foi um movimento filosófico e cultural que surgiu na Europa, no século 18. os iluministas acreditavam que a razão era a fonte de progresso e felicidade humana. Nas sociedades modernas, a comunicação de massa e a indústria do entretenimento promoveram esta menoridade, ao tornar as pessoas passivas na frente de seus aparelhos de TVs, por exemplo. Esta análise foi feita pelos filósofos alemães Theodor W. Adorno (1903- 1969) e Max Horkheimer (1895-1973) no livro Dialética do Esclarecimento (ADoRNo e HoRKHEIMER, 1985). Um resumo das ideias de Hegel sobre educação pode ser lido nos artigos "o Ensino da Filosofia sgundo Hegel: contribuições para a atualidade", de Pedro Geraldo Aparecido Novelli (2005) e o "Ensino da filosofia e o papel do professor-filósofo em Hegel", de Rodrigo Pelloso Gelamo (208). FILOSOFIA38 Para Hegel, não havia distinção entre aprender filosofia e aprender a filosofar, porque só é possível aprender a filosofar apreendendo a filosofia, ou a história do pensamento. Com isso, ele critica uma separação pedagógica comum em seu tempo, que privilegiava a forma, ou o exercício da razão, em detrimento do conteúdo. Ele compara este tipo de aprendizado com um viajante que não conhece os lugares por onde passa: Em geral se distingue um sistema filosófico com suas ciências particulares do filosofar mesmo. Segundo a obsessão moderna, especialmente da Pedagogia, não se tem de instruir tanto em relação ao conteúdo da filosofia, quanto se tem de procurar aprender a filosofar sem conteúdo; isto significa mais ou menos o seguinte: deve-se viajar e sempre viajar, sem chegar a conhecer as cidades, os rios, os países, os homens etc (HEGEL, 1991, p. 139). o que ele quer dizer é que, sem conhecer os lugares (conteúdo), não se viaja realmente, do mesmo modo que, sem conhecer os pensamentos filosóficos, não se aprende a filosofar. Do mesmo modo que, quando conhecemos os lugares, viajamos, quando temos acesso ao conteúdo da filosofia, “[...] não só se aprende o filosofar, mas já se filosofa realmente” (Ibidem). A ética aristotélica é exposta em Ética a Nicômaco (ARISTÓTELES, 1973). o mais importante tratado política de Platão é A República (PLATÃo, 2000). Ela é criticada por Karl Popper em A Sociedade Aberta e seus Inimigos, vol. 1 (PoPPER, 1987). Figura 7: Hegel em conferência. (Litografia de F. Kugler). Fonte: http://en.academic.ru/dic.nsf/enwiki/7498 Em segundo lugar, Hegel argumenta que, para se pensar, é preciso antes ter acesso ao que já foi pensado antes, ter algum repertório sobre o qual se pensar. A história da filosofia contém mais de dois séculos de pensamento rigoroso e sistemático. Como ignorá-lo? o METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 39 aluno não poderia pensar se não tivesse primeiro o que pensar, sem ter como referencial o que já foi pensado e discutido anteriormente. Sem fundamentos nos sistemas filosóficos, o aluno só se defrontaria com pensamento contingente, pontual e fragmentado, segundo Hegel. A visão pedagógica do filósofo, assim como a de Kant, está ligada à sua filosofia. Enquanto Kant fala em aperfeiçoamento individual e razão autônoma, Hegel assimila isso no contexto da história. Para ele, o indivíduo só pode se desenvolver na história, que é entendida como o espírito da humanidade. Por esta razão, o homem precisa assimilar o saber e a cultura na história. o que somos e pensamos possui uma natureza histórica. Do mesmo modo que a história passada não é a totalidade da história, o que somos hoje é produto de gerações passadas. Assim também é com a filosofia. Ela é viva, está sempre se alimentando de novos trabalhos, e as atuais são produtos das anteriores. o filosofar só vem, diz ele, mediante o aprendizado dessa história da filosofia (HEGEL, 1980, p. 341). Para Hegel, em resumo: • Só se aprende a pensar (filosofar) se antes se compreender o conteúdo do pensamento (filosofia). • Consequentemente, é preciso ter acesso aos pensamentos anteriores para se ter o seu próprio pensamento. Um terceiro ponto do argumento de Hegel é que a filosofia, como qualquer outra ciência, demanda um aprendizado. Criticando Kant, Hegel diz que, quando estamos estudando um texto filosófico, não estamos deixando de pensar por nós mesmos. Na verdade, estamos compreendendo aquelas ideias, refazendo o percurso do pensamento do autor e, portanto, filosofando. Por esta razão, Hegel atribui ao professor de filosofia um papel importante como mediador na sala de aula, como alguém que irá passar o conhecimento que deverá ser recebido pelo aluno de forma crítica. o professor, por mais experiência que tenha, não vai determinar a forma como a história da filosofia História, em Hegel, é a manifestação do pensamento humano. Logo, não é um amontoado de fatos, mas tem um sentido. A filosofia, por sua vez, a própria história do pensamento. Espírito - Quando Hegel fala em espírito, ele quer dizer: espírito subjetivo, que são as mentes individuais, dos sujeitos; espírito objetivo, que são as instituições e estruturas da sociedade; e espírito absoluto, dividido em arte, religião e filosofia. Para Hegel, a história do pensamento não é produto de indivíduos. os filósofos apenas acrescentam um “tijolo” à construção. Portanto, para se ter uma visão geral, é preciso conhecer a história da filosofia. FILOSOFIA40 será compreendida pelo aluno. Ele vai saber dar uma unidade àquele conjunto de doutrinas e sistemas que, apara o estudante, é visto de forma parcial. A assimilação deste conteúdo filosófico se apresenta de três maneiras que são também, em Hegel, três etapas do aprendizado (Ibidem, 141): • Pensamento abstrato: apreensão intelectual do conteúdo; • Pensamento dialético: contestação e confrontação do que foi pensado; e • Pensamento especulativo: obtenção de uma perspectiva do todo. No pensamento abstrato, o aluno tem contato com o pensamento formal e reflexivo. Ele vai pensar determinados temas lendo textos filosóficos. No dialético, tem-se o confronto das ideias estabelecidas nos estudos anteriores. Um exemplo disso é dado nas antinomias kantianas, em que exemplos de argumentos contrários sobre um termo são expostos lado a lado (como, por exemplo, o mundo é finito ou infinito). No pensamento especulativo é encontrada uma síntese dos contrários e, desse modo, somente este pensamento é, segundo Hegel, propriamente filosófico. Ele exige, de outro modo, a passagem pelos estágios anteriores. Para o ensino médio, seria contemplado o primeiro nível de aprendizado filosófico. Em resumo, as seguintes diferenças vistas até aqui entre Kant e Hegel são: Como você, sendo um professor de filosofia, faria isso? Escolhendo da história da filosofia, por exemplo, uma determinada sucessão de pensamentos que respondam a questões específicas, de modo que os alunos compreendam do que os filósofosestão falando (e porque se contradizem). Cf. Unidade III. o pensamento hegeliano é repleto de esquemas triádicos como este, que refletem seu método dialético. Dialética, em Hegel, é um processo que envolve três fases: tese, antítese e síntese (afirmação, negação e negação da negação). ENSINo DE FILoFIA: KANT E HEGEL KANT Proposta Filosofia Objetivo Professor Aluno Ensinar a filosofar (processo) Exercício da razão autônoma Aprendizagem de métodos Estimulador de habilidades naturais Autonomia individual HEGEL Ensinar a filosofia (conteúdo) Assimilação do conteúdo filosófico Aprendizagem de conteúdos Mediador de conhecimento Perspectiva histórica e social Quadro 3: Síntese de ideias pedagógicas de Kant e Hegel. Fonte: do autor De um lado, temos Kant propondo que o ensino é feito pelo próprio indivíduo, que exercita o pensamento livre e provê métodos; onde o professor tem o papel de estimular o aluno (o conteúdo vem de METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 41 dentro). De outro, Hegel, que fala da história e do aprendizado por meio da apreensão de conteúdo específico (externo); e o professor sendo o provedor desse conhecimento, como representante do espírito de seu tempo. Qual é a melhor proposta? Essa conclusão será deixada para a próxima unidade. Antes, vamos ver como mais um filósofo encara isso, em outro contexto. A crítica de Nietzsche Pode-se acrescentar às posições distintas defendidas por Kant e Hegel as considerações de outro pensador alemão. Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) foi um dos mais importantes filósofos do século 19, conhecido por suas críticas aos valores ocidentais e do racionalismo. Ele foi professor universitário na Universidade de Basileia, na Suíça. Entretanto, sua filosofia sem concessões, com objeções ao ensino da época, e a saúde debilitada o afastaram da academia. Algumas destas críticas mais contundentes à educação encontram-se no terceiro capítulo do livro Considerações Extemporâneas, intitulado “Schopenhauer como educador”, escrito em 1874 (NIETZSCHE, 1978). Neste texto, ele faz críticas ao sistema de ensino na Alemanha do século 19, que estão inseridas numa oposição, mais geral, à cultura da modernidade. Ele apontava uma decadência na cultura europeia, submissa ao utilitarismo, que seria dominada por quatro espécies de “egoísmos” que impediriam o surgimento de uma “cultura superior”: • Egoísmo dos negociantes: a ideia é que, quanto mais cultura, mais riquezas e, com isso, mais felicidade. • Egoísmo do Estado: o governo teria como objetivo, na educação, conformar as pessoas. • Egoísmo cosmético: cultura que busca “mascarar” a feiúra e o tédio do homem moderno através do luxo, da polidez e da educação. • Egoísmo da ciência: seria representada pelos cientistas, que reduzem a vida aos métodos científicos. Para uma análise deste texto de Nietzsche, ler “Nietzsche educador: uma leitura de ‘Schopenhauer como educador’”, de Márcio Danelon (2001). FILOSOFIA42 Somente a filosofia, em sua oposição, poderia fazer surgir a cultura autêntica. A questão, para Nietzsche, é que, do modo como era ensinada nas escolas e universidades, não desfrutava da liberdade necessária para cumprir seu papel. Segundo ele, os governos temem a filosofia em sua atividade essencialmente opositora. Por isso, tratam de tentar acomodar os filósofos em programas de ensino. Mas, ao fazer isso, diz Nietzsche, o filósofo deixa de buscar a verdade, que é a finalidade da filosofia. Nietzsche enumera três principais concessões que o filósofo faz ao se submeter ao Estado: • o Estado contrata filósofos para dar aulas, de forma a indicar que o governo sabe escolher (e distinguir) bons filósofos e que sempre haverá mais deles para ocupar vagas no ensino; • Ele os fixa em uma instituição de ensino e atribui a eles atividades e horas fixas para ensinar jovens acadêmicos. Deste modo, o filósofo se vê obrigado a produzir (aulas, conferências etc.) mesmo quando não tem nada de original a dizer; • Neste trabalho, o profissional acaba se colocando como mero erudito, reprodutor de sistemas filosóficos. Este último item é um alerta para o ensino de filosofia, tanto na escola média quanto na universidade: o risco de criar apenas erudição e reprodução de conhecimento, sem desenvolver a habilidade de criação conceitual. Diz Nietzsche (1978, p. 81): A história erudita do passado nunca foi a ocupação de um filósofo verdadeiro, nem na Índia nem na Grécia; e um professor de filosofia, se se ocupa com trabalho dessa espécie, tem de aceitar que se diga algo dele, no melhor dos casos: é um competente filólogo, antiquário, conhecedor de línguas, historiador – mas nunca: é um filósofo. Nietzsche ainda alerta que pouco interessa aos jovens a história da filosofia, que para eles se mostra como um conjunto de ideias discordantes, teorias sem sentido, doutrinas e antagonismos, conceitos estranhos, nomes e datas. E que os estudantes tratariam de decorar METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 43 apostilas apenas para passar nas provas, para depois logo esquecer e aprender a odiar a filosofia, como algo sem sentido. o filósofo alemão sugere que esta seria a estratégia mais eficaz de um governo para anular o potencial da filosofia. Estuda-se para a prova e depois se esquece, desprezando-a como conhecimento inútil. E, por fim, em que neste mundo importa a nossos jovens a história da filosofia? Será que eles devem, pela confusão das opiniões, ser desencorajados de terem opiniões? [...] Será que, porventura, devem aprender a odiar ou desprezar a filosofia? (Ibidem, p. 81). Trata-se de uma crítica pontual ao ensino da filosofia na Alemanha no século 19, mas que serve de alerta para o retorno da filosofia no Brasil. Depois de ser expurgada nos tempos de ditadura, corre o risco de ser ensinada como uma coletânea de nomes e teorias que devem ser decoradas para os vestibulares. Impõe-se então o uso da história da filosofia, mas com o alerta de não transformá-la em mero conteúdo de erudição ou “enciplopedismo”. Figura 8: Nietzsche denunciou a educação servil de seu tempo. [Friedrich Nietzsche (1906), por Edvard Munch (1863-1944).] Fonte: http://nietzsche.com/nietzsche-munch.html Em resumo, o ensino na época, para o pensador alemão, ao invés de promover a cultura seria responsável por sua deterioração, incluindo a filosofia na sala de aula. Faz isso no cumprimento dos desígnios do Estado e da economia vigente, formando profissionais técnicos e burocratas ao invés de “homens superiores”. Como deveria, Algo parecido não acontece com a matemática no ensino fundamental? os alunos acabam odiando a disciplina por traumas no aprendizado. FILOSOFIA44 então, ser o ensino para Nietzsche? Ele via na filosofia um papel de educação do homem para sua emancipação, mas não no sentido do esclarecimento kantiano. o homem deveria ascender à sua condição de gênio, de super-homem, rompendo com valores decadentes da cultura ocidental. o modelo a ser seguido é o do educador, o filósofo, que os alunos deveriam seguir antes de adquirirem autonomia. ou seja, ele valoriza, em sala de aula, a autoridade do mestre-gênio (não do professor-burocrata), que vai transmitir a cultura, não a espontaneidade do aluno (como em Kant). CONCLUSÃO Nesta unidade, vimos que a filosofia não cumprirá seu papel no ensino médio, de estimular o pensamento crítico e autônomo, se ficar somente em visões panorâmicas de conteúdos da história da filosofia, com nomes e teorias que serão pouco assimilados e esquecidos pelo alunose não forem inseridas em sua prática. Por isso, é essencial lidar com textos filosóficos, descobrir os problemas com os quais aquele filósofo lidava e os conceitos que formulou como solução para eles (cf. detalhes nas próximas unidades). Com isso o aluno aprenderá a questionar, levantar problemas, dominar argumentos e o uso de conceitos para responder aos problemas contemporâneos, comparando com o que foi pensado pela tradição. Verificamos também, com o estudo da visão pedagógica de três pensadores alemães, Kant, Hegel e Nietzsche, como o ensino da filosofia e a maneira de interagir com a tradição, ou seja, a história da filosofia, é condicionada pelo conceito que cada um tem da filosofia: • Em Kant, a filosofia é “uma ciência possível” e “um exercício da razão autônoma do sujeito”. Por isso, o ensino deve privilegiar o diálogo e estímulo aos talentos racionais do aluno, para que ele saia da menoridade. • Em Hegel, filosofia é “a ciência objetiva da verdade” e é, enquanto história, “o sistema de desenvolvimento da ideia”. Então, “o estudo Super-homem (Übermensch) em F. Nietzsche é a encarnação dos valores superiores que ele opõe à “cultura decadente”. Nietzsche, na verdade, tinha uma visão elitista da educação, que estaria ao alcance de poucos (pois a cultura estaria ligada à natureza: alguns possuem dons intelectuais, outros não). A educação de massas estaria sujeita à burocracia e os ditames do mercado. Como poderíamos incorporar as críticas do filósofo à realidade do ensino de hoje? METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 45 da história da filosofia” é “o estudo da própria filosofia” (HEGEL, 1980, 341). • Finalmente, em Nietzsche, temos a filosofia como “expressão (física) da força do homem que cria novos valores”, e seu ensino está ligado ao embate contra o sistema vigente. De qualquer modo, ensinar filosofia é uma tarefa que não se exime e nem se faz impunemente. É uma escolha e, ainda mais, uma escolha com consequências políticas. Nas próximas unidades, serão abordados aspectos práticos deste ensino. Reconstrua, com base nos textos indicados, os argumentos de Kant, Hegel e Nietzsche a respeito do ensino de filosofia, comparando com a visão do que eles consideravam ser a filosofia. FAHRENHEIT 451 (1966) Direção: François Truffaut Gênero: Ficção/Drama Duração: 112 min Elenco: oskar Werner (Guy Montag), Julie Christie (Clarisse / Linda Montag), Cyril Cusack (Capitão), Anton Diffring (Fabian). Sinopse: Adaptação do livro homônimo do escritor Ray Bradbury, a história se passa num futuro onde toda escrita foi proibida por um regime autoritário. Segundo o governo, os livros deixam as pessoas tristes e as tornam improdutivas. Se uma pessoa possui livros em casa, ela é denunciada por vizinhos e os “bombeiros” são chamados FILOSOFIA46 para destruir os exemplares. o protagonista é um bombeiro chamado Montag que passa a furtar livros para ler. Ele descobre uma comunidade de pessoas que preservam os livros na memória. A ORIGEM (2010) Direção: Christopher Nolan Gênero: Ficção Duração: 148 min Elenco: Leonardo DiCaprio (Dom Cobb), Ellen Page (Ariadne), Marion Cotillard (Mal Cobb), Joseph Gordon-Levitt (Arthur), Ken Watanabe (Saito) e Tom Hardy (Eames). Sinopse: Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um especialista em invadir os sonhos para roubar segredos industriais. Para saber distinguir o que é sonho e realidade, ele carrega um totem, na forma de um peão, que pertencia à sua mulher. Ele então aceita a missão de fazer uma inserção – implantar o germe de uma ideia numa pessoa, através de seu inconsciente. A Revista Cult traz matérias sobre filosofia, algumas disponíveis para leitura online. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/. METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 47 ABBAGNANo, Nicola. História da Filosofia. Trad.: Antônio Borges Coelho et. al. Vol. 1. 5. ed. Lisboa: Editorial Presença, 2000. ___________________. Dicionário de Filosofia. Trad.: Alfredo Bosi. 5. ed. 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