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Fascículo - Metodologia do Ensino da Filosofia

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METODOLOGIA DO ENSINO DA 
FILOSOFIA
METODOLOGIA DO ENSINO DA 
FILOSOFIA
José renato salatiel
São Luís
2011
Edição
Universidade estadUal do Maranhão - UeMa
núcleo de tecnologias para edUcação - UeManet
Coordenador do UemaNet
prof. antonio roberto coelho serra
Coordenadora de Design Instrucional
profª. Maria de fátiMa serra rios
Coordenadora do Curso de Filosofia, a distância
profª. leila aMUM alles barbosa
Responsável pela Produção de Material Didático UemaNet
cristiane costa peixoto
Professor Conteudista
José renato salatiel
Revisão
liliane Moreira liMa
lUcirene ferreira lopes
Diagramação
JosiMar de JesUs costa alMeida
lUis Macartney sereJo dos santos
tonho leMos Martins
Design Gráfico
lUciana vasconcelos
Universidade estadUal do Maranhão
Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet
Campus Universitário Paulo VI - São Luís - MA
Fone-fax: (98) 3257-1195
http://www.uemanet.uema.br
e-mail: comunicacao@uemanet.uema.br
Proibida a reprodução desta publicação, no todo ou em 
parte, sem a prévia autorização desta instituição.
Governadora do Estado do Maranhão
roseana sarney MUrad
Reitor da UEMA
prof. José aUgUsto silva oliveira
Vice-reitor da UEMA
prof. gUstavo pereira da costa
Pró-reitor de Administração
prof. Walter canales sant’ana
Pró-reitora de Extensão e Assuntos Estudantis
profª. vânia loUrdes Martins ferreira
Pró-reitora de Graduação
profª. Maria aUxiliadora gonçalves de MesqUita
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação
prof. porfírio candanedo gUerra
Pró-reitor de Planejamento
prof. antonio pereira e silva
Chefe de Gabinete da Reitoria
prof. raiMUndo de oliveira rocha filho
Diretora do Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais - CECEN
profª. andréa de araúJo
Salatiel, José Renato
Metodologia do ensino da filosofia / José Renato 
Salatiel. - São Luís: UemaNet, 2011.
97 p.
1. Filosofia - Ensino. 2. Filosofia - Metodologia. I. Título.
CDU: 101.8:37
ATIVIDADES DICAS DE SITE SUGESTÃO DE LEITURA
ÍCONES
Orientação para estudo
Ao longo deste fascículo, serão encontrados alguns ícones utilizados 
para facilitar a comunicação com você.
Saiba o que cada um significa.
SAIBA MAIS GLOSSÁRIO PENSE ATENÇÃO
DICA DE MÚSICA REFERÊNCIAS SUGESTÃO DE FILME
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
UNIDADE 1
ENSINo DA FILoSoFIA No BRASIL ..................................... 17
Predomínio religioso no Brasil Colônia ......................... 18
Período Republicano: tempos de indecisão .................. 20
Exclusão na ditadura militar ......................................... 22
Redemocratização e volta da obrigatoriedade ............... 23
UNIDADE 2
ENSINAR FILoSoFIA .................................................................. 29
o ensino da filosofia e seus objetivos .......................... 29
Ensinar a filosofar: Kant .............................................. 33
A História da Filosofia segundo Hegel .......................... 37
A crítica de Nietzsche .................................................. 41
UNIDADE 3
QUESTõES SoBRE o CoNTEúDo PRoGRAMáTICo (o QUE 
ENSINAR?) ................................................................................. 51
o currículo ................................................................. 51
Abordagem histórica .................................................. 53
Temas ........................................................................ 57
Problemas ................................................................. 60
UNIDADE 4
METoDoLoGIA E DIDáTICA (CoMo ENSINAR?) ................... 69 
Sensibilização ............................................................ 71
Problematização ........................................................ 74
Investigação ............................................................... 75
Conceituação ............................................................ 80
CoNSIDERAÇõES FINAIS ......................................................... 87
REFERÊNCIAS ........................................................................... 89 
PLANO DE ENSINO
DISCIPLINA: Metodologia do Ensino da Filosofia
Carga horária: 60 h
EMENTA
A problemática do ensino e do método e suas abordagens na filosofia. 
A questão do método e dos procedimentos de ensino na filosofia. o 
planejamento do ensino de filosofia na educação básica.
OBJETIVOS
Geral 
Refletir sobre os desafios e a importância da prática do ensino da 
filosofia no ensino básico no país, analisando propostas de conteúdo 
e metodologia mais atuais com base em bibliografia específica sobre o 
tema, de modo a preparar o estudante para a carreira docente.
Específicos
¡	Apresentar uma perspectiva crítica do ensino da filosofia no con-
texto educacional brasileiro;
¡ Discutir a função da filosofia no ensino médio;
 Examinar as propostas de conteúdo programático referenciado em 
bibliografia e, em especial, sobre o uso da história da filosofia. In-
vestigar diferentes propostas metodológicas;
¡ Expor procedimentos didáticos, atividades com textos filosóficos e 
formas de avaliação.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
UNIDADE I 
ENSINo DA FILoSoFIA No BRASIL
UNIDADE II 
ENSINAR FILoSoFIA
UNIDADE III
QUESTõES SoBRE o CoNTEúDo PRoGRAMáTICo (o QUE 
ENSINAR?)
UNIDADE IV
METoDoLoGIA E DIDáTICA (CoMo ENSINAR?)
METODOLOGIA
o desenvolvimento e a avaliação da disciplina serão realizados de 
acordo com as diretrizes e orientações para a Educação a Distância.
AVALIAÇÃO
A avaliação se dará em função dos objetivos propostos, levando em 
consideração: a leitura dos textos sugeridos; o desenvolvimento das 
atividades propostas; as anotações e os questionamentos levantados e 
a participação nas discussões nos momentos presenciais.
Caro estudante,
Depois de praticamente ser banida das escolas públicas durante 
o período da ditadura militar, a filosofia voltou a ser disciplina 
obrigatória no ensino médio brasileiro, a partir de 2008. o retorno 
veio ao encontro de reivindicações de professores e filósofos que, 
durante anos, justificaram a importância da filosofia como base para 
a consolidação de uma sociedade democrática. o caráter disciplinar 
trouxe ainda novos desafios para especialistas, referentes ao ensino 
na realidade atual da educação do país. o que ensinar? Deve-se 
ensinar a história da filosofia ou a prática do filosofar? ou deve-se 
optar por uma abordagem temática? Como ensinar? o professor deve 
usar manuais didáticos ou trabalhar com os textos dos filósofos? os 
alunos são capazes de ler (e compreender) um texto filosófico? Eles 
são capazes de escrever ensaios filosóficos?
Caro estudante, para responder a estas questões, o material aqui 
apresentado revisará a bibliografia sobre o assunto de forma a expor, 
os subsídios necessários para se pensar uma didática do ensino 
filosófico. Serão enfocados os principais problemas, referendados 
por pesquisas na área, e analisadas as melhores propostas de ensino, 
voltado principalmente para o ensino pré-universitário.
Esperamos, com isso, capacitá-lo como um futuro professor capaz de 
desenvolver currículos e atividades que atendam ao perfil dinâmico 
e crítico da filosofia que, por vezes, contrasta com o modelo mais 
tradicional de educação, em que o professor tem um papel ativo e 
o aluno, uma postura passiva. Ao mesmo tempo, serão oferecidos 
fundamentos teóricos para que sejam pensadas estratégias que 
possam adequar o ensino às rápidas mudanças vivenciadas no mundo 
contemporâneo.
APRESENTAÇÃO
A apostila não tem a pretensão de esgotar o assunto nem de apresentar 
fórmulas prontas, mas servir de basepara novas experiências filosóficas 
em sala de aula.
Portanto, leia com atenção e busque outras informações. Construa seu 
conhecimento. Saiba mais... e mais.
o ensino da filosofia é quase tão antigo quanto a própria filosofia. 
Sócrates era conhecido por interpelar os cidadãos nas ruas de Atenas. 
Platão reservava aos alunos de sua Academia um aprendizado 
exclusivo, que não chegou a escrever. Na Idade Média, a educação foi 
subordinada aos dogmas da Igreja Católica, ao passo que, na Idade 
Moderna, a razão autônoma desafiou o Estado. Atualmente, a filosofia 
adquiriu uma complexidade de temas e métodos que tornam seu 
ensino uma tarefa igualmente complexa. Soma-se a isso o fato do maior 
ingresso de alunos na educação básica e a implementação tecnológica 
na aprendizagem dos jovens não serem fenômenos acompanhados 
por transformações compatíveis no ensino.
Ensinar filosofia, portanto, começa por um posicionamento quanto 
ao que seja a própria filosofia. Pensadores como Kant e Hegel se 
preocuparam com o ensino filosófico e sugeriram práticas distintas a este 
respeito, cada uma de acordo com seus sistemas filosóficos. Existem, 
portanto, matizes tão variados de ensino quanto de escolas e doutrinas 
filosóficas. Quando se ensina, sempre se faz de um determinado ponto 
de vista filosófico e político.
Ao professor de filosofia cabe, antes de ensinar, pensar a própria 
prática de ensino. Ele deve fazer uma reflexão sobre ela. Qual é o 
objetivo de se ensinar filosofia aos jovens? Incitar o pensamento crítico? 
Educar para a cidadania? Ensinar valores? Desenvolver habilidades 
argumentativas e linguísticas? Tudo isso leva, naturalmente, a questões 
sobre a própria especificidade da disciplina filosófica. o que a filosofia 
tem de específico em relação às demais disciplinas humanísticas? o 
que ela – e somente ela – pode oferecer aos jovens?
INTRODUÇÃO
Após cumprir esta etapa, o professor precisa pensar o currículo. 
Diferente de outras disciplinas, a filosofia não possui uma grade 
curricular padronizada. Textos produzidos pelo governo ao longo dos 
anos oferecem orientações diversas, como o ensino transversal, o 
temático e o conteudístico. o que, afinal, deve ser ensinado? Qual é o 
conteúdo mais propício à finalidade do curso?
Porém, os maiores desafios talvez estejam em responder à pergunta: 
Como ensinar? Para a maioria dos jovens, a filosofia é uma disciplina 
inócua e sem sentido. Não “cai” no vestibular e não parece ter muita 
serventia em suas carreiras profissionais. o professor precisa, antes de 
tudo, vencer estes obstáculos. outro, tão árduo quanto este, é a leitura 
de textos filosóficos. os textos são as ferramentas básicas do filosofar. 
Muitos deles, contudo, são áridos e apresentam termos técnicos que 
suscitam ainda mais resistência dos alunos, sobretudo aqueles que não 
possuem o hábito da leitura.
Caro estudante, nas próximas unidades deste trabalho discutiremos, 
em detalhes, as propostas de ensino, incluindo métodos, estratégias 
e recursos pedagógicos. Na Unidade 1 faremos uma revisão da 
história do ensino da filosofia no Brasil, de modo a situar os futuros 
professores na tradição. Na Unidade 2 serão analisadas a função e 
a especificidade da disciplina, bem como a divisão entre ensino da 
história da filosofia e o ensino da atividade filosófica. 
As duas outras unidades que compõem este fascículo são voltadas a 
assuntos práticos. A Unidade 3 vai tratar de tópicos referentes ao 
conteúdo de ensino a ser trabalhado em sala de aula, enquanto a 
Unidade 4 examinará modos de se trabalhar o currículo com os 
jovens, por meio de metodologias adequadas à filosofia.
Concluímos que o ensino de filosofia adquire mais relevância hoje, na 
medida em que favorece o aprimoramento de habilidade intelectuais 
e éticas que irão preparar os jovens para enfrentar dilemas do mundo 
moderno. Por outro lado, o ensino permanece como um meio de 
tornar a filosofia mais prática, uma experiência de vida, mais do que 
um mero objeto de contemplação.
1
UNIDADE
OBJETIVO DESTA UNIDADE:
Apresentar um quadro 
sintético da situação 
do ensino da filosofia 
no Brasil desde o 
Período Colonial até 
os dias de hoje. Expor, 
sumariamente, os 
principais desafios, 
cujas propostas serão 
detalhadas nas unidades 
que compõem este 
fascículo.
O ENSINO DA FILOSOFIA NO BRASIL
A produção teórica e os debates acadêmicos sobre o ensino da 
filosofia ganharam novo fôlego nos últimos anos. Isso aconteceu 
depois que a disciplina foi tornada obrigatória, junto com sociologia, 
no ensino médio. Hoje, a filosofia é vista, em sua especificidade, 
como essencial à formação crítica e social do cidadão. Para 
crianças e adolescentes, ela possibilita ainda uma discussão sobre 
os valores e a cultura, numa época marcada pela rápida diluição 
de referenciais (cf. BAUMAN, 2001).
A prática da filosofia em sala de aula, portanto, não pode prescindir 
de uma visão de seu contexto histórico no Brasil, se quisermos 
entendê-la como uma conquista de sociedades democráticas. 
Apesar de sua presença nos currículos escolares desde o tempo 
da colônia, a inclusão da filosofia como disciplina (obrigatória 
ou optativa) tem se caracterizado por instabilidades e incertezas. 
o motivo é que as políticas educacionais estiveram sujeitas, ao 
longo da história, a mudanças de regimes e interesses econômicos. 
Pode-se resumir a história do ensino da filosofia no país em quatro 
períodos diferentes (ALVES, 2002):
FILOSOFIA18
ENSINO DE FILOSOFIA NO BRASIL
CoLoNIAL 1500 – 1889
Disciplina obrigatória.
Ministrada pela Igreja Católica.
REPúBLICA 1889 – 1964
Disciplina optativa.
Controlada pelo Estado.
DITADURA MILITAR 1964 – 1985 Excluída do ensino básico.
REDEMoCRATIZAÇÃo
1985 – dias 
atuais
Adotada como tema transversal. 
Retorno da obrigatoriedade.
Quadro 1: Síntese da história do ensino da filosofia no Brasil (ALVES, 2002).
Fonte: do autor
A seguir, examinaremos mais detalhadamente cada um destes períodos.
Predomínio religioso no Brasil Colônia
A filosofia já estava presente na grade curricular quando da introdução 
da educação escolar no Brasil, no Período Colonial. As primeiras escolas 
implantadas no país, no século 16, seguiam o modelo pedagógico 
usado em Portugal, chamado Ratio Studiorum (Plano de Estudos). 
os colégios eram administrados pela Companhia de Jesus, a mais 
influente ordem religiosa da Igreja Católica.
o conteúdo dos cursos de filosofia era, portanto, direcionado e 
vinculado aos ditames da Igreja, e orientado segundo a visão de mundo 
dos jesuítas. o programa de ensino também se ajustava, desta forma, 
aos interesses colonialistas do sistema monárquico 
e escravagista da época. os alunos, por usa vez, 
eram filhos de colonos, de senhores de engenho e 
de proprietários de terras (AZZI, 1987; ARANHA, 
1989).
o programa de ensino continha três cursos: letras 
humanas, filosofia e ciências (ou artes) e teologia 
e ciências sagradas. Em filosofia, ensinavam-se 
pensadores da Idade Média, como Tomás de 
Aquino e, com certa cautela, Aristóteles.
A Companhia de Jesus foi 
fundada em 1534 pelo militar 
espanhol Inácio de Loyola 
(1491-1556), no âmbito da 
reação da Igreja Católica à 
Reforma Protestante. Seus 
integrantes são chamados de 
jesuítas. os primeiros jesuítas 
chegaram ao Brasil em 1549. 
Eles estiveram à frente da 
catequização dos índios e da 
fundação de escolas e cidades. 
o jesuíta mais conhecido 
no país foi o padre José de 
Anchieta (1534-1597).
Santo Tomás de Aquino 
(c.1225-1274) foi um dos 
mais importantes nomes da 
filosofia medieval e o maior 
representante do período da 
Escolástica (século 8 a 14) – 
assimchamada devido aos 
professores das universidades, 
os escolásticos. Coube a Tomás 
de Aquino tornar os escritos 
de Aristóteles (384 a.C. - 322 
a.C.) não somente aceitáveis 
para os cânones papais como 
também comporem um fino 
tecido argumentativo em favor 
da fé cristã.
Figura 1: o Ratio Studiorum 
era a base de ensino dos 
jesuítas.
Fonte: http://upload.
wikimedia.org/wikipedia/
commons/1/1d/
Ratiostudiorum.jpg
o romance O Nome da Rosa, 
do escritor italiano Umberto 
Eco (Ed. Record, 2009) retrata 
bem esse contexto na Idade 
Média, incluindo a recepção 
das obras aristotélicas pelos 
escolásticos.
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 19
o Antigo Regime, o absolutismo e o mercantilismo entram em colapso 
no século 18, com as revoluções burguesas na Europa. Na segunda 
metade desse século, a Coroa Portuguesa estava em declínio, enquanto 
a Inglaterra adentrava a era do capitalismo industrial.
A modernização do Estado português foi realizada por meio de um 
conjunto de reformas determinadas pelo primeiro ministro Sebastião 
José de Carvalho e Melo, o Marquês de 
Pombal. Um de seus atos mais célebres 
foi a expulsão dos jesuítas de Portugal e 
das colônias, em 1759. os religiosos foram 
acusados de complô para matar o rei D. João. 
Com a expulsão dos missionários, houve 
uma abertura na educação aos ideais liberais 
e iluministas então em voga no continente 
europeu, além de uma maior influência do 
Estado sobre o conteúdo curricular.
No Brasil, contudo, o desmantelamento da estrutura educacional 
montada pelos jesuítas (escolas, professores e material didático) não 
sobreveio de outra. A exceção deste período é o Seminário de olinda, 
fundado em 1798 por João Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, 
bispo de Pernambuco. Ele propõe uma política educacional mais 
científica, com ênfase, no curso de filosofia, para a filosofia natural 
(CUNHA, 1980).
Quando a Corte portuguesa se transferiu para o Brasil, em 1808, o 
ensino superior começou a ser estruturado para atender a demandas 
administrativas e políticas do Estado. Ao mesmo tempo, a abertura 
dos portos para o mercado internacional contribui para mudar o 
cenário sociocultural do país. o ensino secundário, nesta época, 
era propedêutico, isto é, um curso de preparação para a faculdade, 
enquanto o ensino básico era deixado em segundo plano. A filosofia 
era ensinada nas escolas como preparação para cursos superiores.
A Reforma de Leôncio de Carvalho, de 1879, priorizou o ensino 
de ciências, de modo a superar a tradição humanista e colonial. 
Apesar de ainda ser conduzida por eclesiásticos, as aulas continham 
disciplinas de ciências naturais – física, química, biologia etc. –, e eram 
Figura 2: Marquês de Pombal, pintura de Louis-Michel van 
Loo e Claude-Joseph Vernet (1766).
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/6/63/Louis-Michel_van_Loo_003.jpg
Filosofia natural é o ramo 
da filosofia que estuda a 
Natureza e o universo físico. 
Com a separação entre ciência 
e filosofia, no século XVI, 
ela foi gradualmente sendo 
substituída por outras áreas de 
investigação filosófica, como 
a teoria do conhecimento e a 
filosofia da ciência. Consultar 
As Bases Metafísicas da Ciência 
Moderna (BURTT, 1991).
FILOSOFIA20
ministradas com livros importados da França. Desta forma, a corrente 
do positivismo influenciou a formação de militares e profissionais 
liberais com um pensamento que se contrapunham à monarquia, à 
escravidão e os dogmas religiosos. A doutrina positivista, apreendida 
por meio destes cursos, se tornaria dominante após a Proclamação da 
República em 1889 (CUNHA, 1980).
Período Republicano: tempos de indecisão
A República procedeu uma nova reforma educacional, com a intenção 
de formar as elites do país. o ensino foi tornado laico, sob inspiração 
positivista, para atender aos interesses do Estado republicano recém 
constituído. Houve uma descentralização do ensino, com o Governo 
Federal cuidando da educação superior e do secundário, enquanto o 
ensino elementar e profissional era de responsabilidade dos Estados. 
Nesta reorganização, cujo maior mentor foi Benjamin Constant, a 
filosofia, pela primeira vez desde o Período Colonial, ficou de fora do 
currículo escolar do ensino secundário como disciplina obrigatória, por 
meio do decreto nº 981 de 8 de novembro de 1891. A razão disto foi a 
importância dada à formação técnica e científica. Além disso, o ensino 
de filosofia era visto com desconfiança por sua ligação com a tradição 
católica e monarquista (NAGLE, 1974).
Nos anos seguintes, outras quatro reformas iriam:
•	 devolver a disciplina de filosofia aos currículos (1901);
•	 retirá-la novamente (1911); 
•	 torná-la facultativa (1915);
•	 e, por fim, obrigatória mais uma vez (1925).
o positivismo é uma doutrina 
filosófica, política e social 
criada pelo filósofo francês 
Augusto Comte (1798-1857) 
no século 19. Indicava um 
desenvolvimento científico 
da humanidade, para além 
dos preceitos da teologia e da 
metafísica. Uma das marcas 
mais duradoura da influência 
das ideias positivistas no 
Brasil é a frase estampada na 
bandeira nacional, adaptada 
da máxima comtiana “o Amor 
por princípio e a ordem por 
base; o Progresso por fim”. 
Consultar Curso de Filosofia 
Positiva (CoMTE, 1978).
Benjamin Constant Botelho 
de Magalhães (1836-1891) 
foi militar, engenheiro, 
professor e estadista brasileiro. 
Reconhecido como o fundador 
da República, era adepto do 
positivismo e foi um de seus 
principais divulgadores no 
país. Após a Proclamação da 
República (1889) foi nomeado 
Ministro da Guerra e Ministro 
da Instrução Pública no 
governo provisório.
Você notou como a 
dicotomia entre humanismo 
e tecnociência é recorrente ao 
longo da história da educação 
e como a filosofia ocupa um 
lugar central nela?
As Duas Culturas e uma 
Segunda Leitura, de Charles P. 
Snow (EDUSP, 1995).
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 21
Segundo Alves:
Fazendo um retrospecto rápido, do modo como as 
reformas trataram a questão da filosofia no ensino 
secundário, podemos perceber como foi indefinida 
a presença da filosofia neste período [Primeira 
República], e como se concretizou a perda de 
privilégio da filosofia na formação dos jovens, devido 
à valorização de um currículo mais científico e prático 
em detrimento de um currículo humanístico, literário e 
enciclopédico (ALVES, 2002, p. 29).
Novas reformas educacionais ocorreriam durante o governo de 
Getúlio Vargas, que se estendeu por um período de 15 anos após 
a Revolução de 1930. Elas visavam a formação de mão de obra 
especializada para a indústria. As principais mudanças deste tempo 
foram:
•	 Reforma Francisco Campos (1932): dividiu o curso secundário em 
dois ciclos: fundamental (5 anos), com formação básica obrigatória, 
e complementar (2 anos), que preparava para o ingresso nas 
faculdades de Direito, Engenharia e Medicina. A filosofia fazia 
parte deste último ciclo.
•	 Reforma Gustavo Capanema (1942): definiu dois ciclos, com 
ginásio (4 anos) e colégio (3 anos), subdividido em clássico, com 
humanidades, e científico, com ciências, ambos contemplando a 
filosofia como disciplina obrigatória no currículo.
Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 
4.024/61, manteve a mesma estrutura (ginásio e colégio) e incluiu 
a filosofia na lista de disciplinas optativas (CARToLANo, 1985). 
Fechou-se, assim, um ciclo de indefinição que prepararia o terreno 
para a abolição completa, por lei, da disciplina de filosofia na ditadura 
militar.
Getúlio Dorneles Vargas 
(1882-1954) foi o político que 
mais tempo ocupou o cargo 
de presidente do Brasil. Ele 
governouem dois períodos 
distintos: o primeiro, de 1930 
a 1945, foi caracterizado pela 
ditadura do Estado Novo 
(1937 a 1945); e o segundo, 
começou 1951 e foi até seu 
suicídio, em 1954. o governo 
de Getúlio Vargas ficou 
conhecido pelas reformas 
trabalhistas e pelas campanhas 
nacionalistas, como "o Petróleo 
é Nosso".
A Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação (LDB) define 
e regulariza o sistema de 
educação brasileiro com base 
nos princípios presentes na 
Constituição. A LDB de 1961 
foi a primeira criada. Ela foi 
substituída pela LDB de 1971, 
que vigorou até a promulgação 
da mais recente, em 1996.
FILOSOFIA22
Exclusão na ditadura militar
As políticas de ensino que sobrevieram ao Golpe de 1964, mais uma 
vez, privilegiaram o ensino técnico em contraposição ao humanista. 
Foi também uma época de perseguição, prisão, tortura e extradição de 
estudantes e profissionais de ensino, sobretudo após a decretação do 
AI-5, em 1968.
Neste contexto, a filosofia tornou-se inócua para o governo, por não 
se enquadrar no tecnicismo requerido pelo ensino, ou subversiva, por 
levar ao questionamento do autoritarismo vigente.
Foram criadas, nos anos 1960, duas disciplinas consideradas 
equivalentes (e tornadas obrigatórias), com a intenção de serem 
substitutas da filosofia, que era optativa nos currículos:
•	 Educação Moral e Cívica.
•	 organização Social e Política Brasileira (oSPB).
Na prática, porém, estas disciplinas nada tinham de filosóficas.
A Lei de Diretrizes e Bases de 11 de agosto de 1971 (Lei nº 5.692) foi 
uma legislação impositiva, diferente da LDB anterior, que contou com 
debates na sociedade civil. Ela reestruturou o ensino de 1º (8 anos) e 
2º graus (3 a 4 anos), este último destinado à formação profissional. 
Nesta nova configuração, a filosofia foi praticamente extinta na maioria 
dos colégios, simplesmente “por falta de espaço” na grade curricular 
(ARANHA, 1989, p. 257).
Você notou como os regimes 
autoritários (Estado Novo e 
Golpe de 1964) direcionam 
o ensino para o técnico e 
profissional, em detrimento da 
formação humanista e, assim, 
da filosofia? Não seria possível 
conciliar ambas as vertentes de 
ensino?
o Ato Institucional nº5 foi um 
decreto que conferiu plenos 
poderes ao regime militar 
brasileiro, sobrepondo-se à 
própria Constituição.
http://www.acervoditadura.
rs.gov.br/legislacao_6.htm
o embate entre Estado e 
filosofia remonta à Grécia 
Antiga, quando Sócrates 
foi julgado e condenado à 
morte pelo ensino de filosofia 
em Atenas. os registros do 
julgamento de Sócrates podem 
ser conferidos nos Diálogos 
Socráticos, de Platão (EDIPRo, 
2008), principalmente Apologia 
e Fédon.
Figura 3: Passeata de estudantes em 4 de julho de 1968, no Rio de 
Janeiro (o Globo)
Fonte: Arquivo Nacional
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 23
Formou-se então um movimento para que retornasse às salas de aula. 
Com a abertura, a partir dos anos de 1980, a filosofia aos poucos 
voltaria, por recomendação ou determinação de secretarias estaduais 
de educação no ensino médio da rede pública de ensino.
Redemocratização e volta da obrigatoriedade
Nos anos 1980 há um processo de democratização no país que dá 
lugar a debates no meio acadêmico que pediam o retorno da filosofia 
no ensino médio. Este período se caracteriza diferente dos demais, por 
iniciativas do Poder Legislativo em elaborar projetos e participação do 
setor educacional, a partir do final dos anos 1980.
o fato mais importante que prepararia o retorno da filosofia foi a 
promulgação, em 20 de dezembro de 1996, da Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96), que revogou a anterior. 
o artigo 36 determina que, ao final do ensino médio, todo estudante 
deverá ter “domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia 
necessários ao exercício da cidadania” (BRASIL, 1996). Contudo, a 
lei é imprecisa e vaga: não indica a filosofia como disciplina e não 
especifica como se darão estes conhecimentos previstos em sala de 
aula (ALVES, 2002).
A LDB seria complementada pelos Parâmetros Curriculares 
Nacionais, redigidos com a proposta de orientarem políticas de 
educação, diretores de escolas e professores.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio 
(resolução CEB/CNE nº 3/98), aprovadas pelo Conselho Nacional 
de Educação (1998) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para 
o Ensino Médio – área de Ciências Humanas e suas Tecnologias 
(1999) estabeleceram diretrizes para as políticas de ensino. os 
documentos apontavam o trabalho de conhecimentos filosóficos 
em sala de aula como temas transversais. Essa medida visava 
garantir o cumprimento da LDB.
Figura 4: Caricatura do 
político Teotônio Brandão 
Vilela (1917-1983) feita por 
Henrique de Sousa Filho, o 
Henfil (1944-1988). 
Fonte: HENFIL. Diretas Já! 
(São Paulo: Record, 1984).
os Parâmetros Curriculares 
Nacionais são documentos 
do governo que fornecem 
referenciais para a educação 
no Ensino Fundamental em 
todo o Brasil. Eles propõem 
orientar e dar coerência ao 
sistema educacional brasileiro, 
respeitando a diversidade de 
cada região.
Temas transversais são 
conteúdos que, ao invés 
de serem trabalhados em 
sua disciplina específica, 
são incluídos no currículo 
distribuindo-se em várias 
áreas do conhecimento.
FILOSOFIA24
os defensores do ensino transversal de Filosofia argumentavam, em 
favor deste método:
•	 A falta de professores formados na área; 
•	 os custos para o Estado com contratações; e 
•	 A adesão, desnecessária, de mais uma disciplina no currículo 
escolar. 
Já quem defendia a obrigatoriedade da disciplina, apontava que:
•	 Além dos professores de filosofia já formados, a inclusão da 
disciplina na grade iria aumentar a procura por cursos de formação 
específica;
•	 Não haveria necessariamente mais gastos, uma vez que bastaria 
remanejamento de carga horária curricular;
•	 Somente o ensino disciplinar iria introduzir os jovens na prática de 
reflexão filosófica, que de outro modo perderia sua especificidade 
numa educação eminentemente disciplinar.
o segundo movimento do governo mais significativo foi a promulgação 
da Lei 11. 684/2008, de 03 de junho de 2008. Esta lei alterou o artigo 
36 da Lei 9394/96, incluindo a obrigatoriedade das disciplinas de 
sociologia e filosofia em todas as séries do ensino médio. A medida 
atendeu aos apelos de movimentos acadêmicos que pleiteavam o 
retorno destes cursos nos currículos.
Ao mesmo tempo, o reconhecimento da especificidade e importância 
do caráter disciplinar da filosofia trouxe novos desafios para a docência. 
Entre eles:
•	 Como ensinar filosofia para a realidade atual do ensino massificado? 
•	 Como despertar o interesse dos jovens em tempos de novas 
tecnologias de comunicação, que promovem a dispersão da 
atenção (ao passo que a filosofia exige leituras atentas)?
•	 Como propor o estudo de textos de autores clássicos e teorias 
complexas para alunos que, muitas vezes, chegam ao ensino 
médio com deficiências de alfabetização?
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 25
•	 De que forma ensinar a filosofia, sem reduzi-la às trivialidades 
dos manuais? (RoDRIGo, 2009).
CONCLUSÃO
É significativo que a filosofia tenha retornado ao ensino médio 
juntamente com a democracia no Brasil, depois de décadas de 
indecisões ou exclusão da grade curricular. Seu ensino, portanto, 
está ligado a uma necessidade de se restaurar, na educação dos 
jovens, o desenvolvimento do pensamento crítico, essencial para 
uma sociedade democrática. É reconhecido que não se consolida 
uma democracia sem uma educação livre, capaz de formar cidadãos 
ativos e questionadores,dotados de autonomia para escolher 
melhor seus governantes.
o retorno da obrigatoriedade, contudo, obrigou os filósofos a 
repensarem metodologias e didáticas de ensino. Surgiu ainda uma 
oportunidade para remover a filosofia de seu âmbito elitista e 
aproximá-la do cotidiano das pessoas. Afinal, se a filosofia tem seu 
próprio escopo, com métodos próprios de investigação, deve dar 
respostas únicas para problemas atuais.
 
Por que o ensino de filosofia incomoda tanto ortodoxias 
religiosas quanto governos autoritários, desde a época em 
que Sócrates dava aulas nas ruas de Atenas? Assista um 
dos filmes indicados nesta introdução, sobre a vida de dois 
professores de filosofia que enfrentaram os poderes de sua 
época, debata com seus colegas e apresente as conclusões 
do grupo.
FILOSOFIA26
GIORDANO BRUNO (1973)
Direção: Guiliano Montaldo
Gênero: Drama
Duração: 114 min
Elenco: Gian Maria Volonté (Giordano Bruno), Charlotte Rampling 
(Fosca), Hans Christian Blech (Sartori), Mathieu Carrière (orsini), 
Renato Scarpa (Fra Tragagliolo), Giuseppe Maffioli (Arsenalotto), 
Massimo Foschi (Fra Celestino) e Mark Burns (Bellarmino).
Sinopse: o filme conta a história do filósofo italiano Giordano Bruno 
(1548-1600) que, por conta de suas ideias que conflitavam os dogmas 
da Igreja Católica, foi expulso da ordem dos Dominicanos, processado 
pela Inquisição e queimado vivo.
ÁGORA (2009)
Direção: Alejandro Amenábar
Gênero: Drama
Duração: 126 min
Elenco: Rachel Weisz (Hipátia), Max Minghella (Davus), oscar Isaac 
(orestes), Ashraf Barhom, (Ammonius), Michael Lonsdale (Theon), 
Rupert Evans (Synesius), Richard Durden (olympius) e Sami Samir 
(Cyril).
Sinopse: o filme relata a história da filósofa grega Hipátia (335-415), 
professora de filosofia, matemática e astronomia na Alexandria e no 
Egito, e seu embate com o Estado e a religião na época.
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 1 27
Site Institucional do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade 
e Educação no Brasil” (HISTEDBR), da Universidade Estadual de 
Campinas, com o conteúdo do CD-RoM Navegando na História 
da Educação Brasileira. o material traz arquivos com pesquisas 
sobre a história da educação no Brasil feitas em 20 anos do centro.
Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/index.html
ALVES, Dalton José. A Filosofia no Ensino Médio: ambiguidades 
e contradições na LDB. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São 
Paulo: Moderna, 1989.
AZZI, Riolando. A Cristandade colonial: um projeto autoritário. 
São Paulo: Paulinas, 1987.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Trad.: Plínio 
Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 
DF. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. 
Acesso em: 15 dez. 2010.
BRASIL. Lei nº 11.684 de 2 de junho de 2008. Brasília, DF. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11684.htm>. Acesso em 17 dez. 2010.
BURTT, Edwin A. As Bases Metafísicas da Ciência Moderna. 
Trad.: José Viegas Filho e orlando Araújo Henriques. Brasília, DF: 
Editora Universidade de Brasília, 1983.
FILOSOFIA28
CARToLANo, Maria Teresa. Filosofia no Ensino de 2ºGrau. 
São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1985.
CoMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva. In: ______. Os 
Pensadores. Trad.: José Arthur Giannotti. São Paulo: Abril 
Cultural, 1978.
CUNHA, Luiz Antônio Constant Rodrigues da. A Universidade 
Temporã: o ensino superior da Colônia à Era de Vargas. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.
ECo, Umberto. O Nome da Rosa. Trad.: Aurora Fornosi Bernardini 
e Homero Freitas de Andrade. São Paulo: Record, 2009.
NAGLE, Jorge. Educação e Sociedade na Primeira República. 
São Paulo: EDUSP, 1974.
PLATÃo. Diálogos III – Socráticos. Trad.: Edson Bini. São 
Paulo: EDIPRo, 2008.
RoDRIGo, Lidia Maria. Filosofia em Sala de Aula: teoria e 
prática para o ensino médio. São Paulo: Autores Associados, 2009.
SNoW, Charles P. As Duas Culturas e uma Segunda Leitura. 
Trad.: Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: EDUSP, 1995.
UNIDADE
O ensino da filosofia e seus objetivos
A primeira tarefa que o professor de Filosofia precisa enfrentar, 
tendo em vista o histórico e problemas mencionados na introdução, 
é pensar a disciplina de filosofia:
•	 Ela pode ser ensinada?
•	 o que, exatamente, se ensina?
•	 Quais são os seus objetivos? 
•	 Por que ela é importante para o jovem?
•	 Qual é sua utilidade no mundo atual?
A filosofia é um dos conhecimentos mais antigos do homem. Ela 
surgiu entre o final do século 7 e começo do século 6 antes de 
Cristo nas colônias gregas da ásia Menor, na cidade de Mileto. os 
OBJETIVOS DESTA UNIDADE:
Introduzir o aluno na 
problemática do ensino 
de filosofia, levando-o a 
discutir a especificidade 
disciplinar da filosofia, 
sua importância 
no ensino básico e 
os objetivos de seu 
emprego em sala de 
aula, estabelecendo 
parâmetros para a 
construção de currículos;
Apresentar, a visão de 
três filósofos sobre o 
ensino filosófico: Kant, 
Hegel e Nietzsche.
2
ENSINAR FILOSOFIA
FILOSOFIA30
primeiros filósofos trataram de problemas cosmológicos, ou seja, 
concernentes à origem e ao destino do universo. Eles substituíram 
explicações míticas e religiosas por métodos mais racionais de 
investigação (ABBAGNANo, 2000). Com o tempo, o conhecimento 
filosófico ganhou autonomia em relação a outras ciências.
A filosofia consiste no questionamento dos fundamentos de nossas 
crenças, buscando respostas para questões comuns a todas as pessoas 
como:
•	 Qual a natureza do tempo e do espaço?
•	 Nossos valores morais podem ser objetivos e válidos para todas 
as pessoas?
•	 Como podemos ter alguma certeza sobre aquilo que conhecemos 
acerca do mundo?
•	 o que é a consciência? Animais e máquinas possuem consciência?
•	 Temos livre-arbítrio ou somos condicionados por fatores biológicos 
e sociais?
A filosofia trata, portanto, de assuntos fundamentais que subjazem 
problemas cotidianos e que somente a atividade filosófica, por meio 
de métodos próprios, pode oferecer respostas, ainda que não sejam 
respostas definitivas.
Por exemplo, em questões relativas ao avanço da biologia genética. 
São pesquisas muito específicas de um ramo científico. os que os 
filósofos teriam a dizer sobre isto? Cabe a eles pensarem temas éticos 
referentes à manipulação de genes, por exemplo, de modo a fornecer 
subsídios a políticas que orientem o uso de pesquisas nesta área.
os filósofos possuem instrumentais teóricos para avaliar diferentes 
argumentos sobre determinado assunto e contribuir para a adoção 
de decisões em diferentes áreas. Mesmo assuntos atuais – como a 
exposição em redes sociais, o consumismo e o aquecimento global, 
por exemplo – possuem questões mais profundas que já eram 
tratados por filósofos de tempos mais remotos, na Grécia antiga ou na 
Europa Medieval.
Cosmologia é um ramo 
da metafísica que estuda 
a constituição do universo 
por meio de métodos 
observacionais e especulativos. 
Difere da cosmologia moderna, 
que é um campo de estudos 
da astronomia. A cosmologia 
consistiu no centro do estudo 
dos filósofos pré-socráticos. 
Para mais detalhes, cf. 
ABBAGNANo, 2007.
É correto eliminar deficiências 
físicas por meio da 
manipulação genética? E 
determinar o sexo do bebê ou 
a cor de sua pele, de seus olhos 
e de seus cabelos?
Que questões são estas? 
Podemos pensar estes três 
fenômenos citados – redes 
sociais, consumismo e 
aquecimento global – 
partindo do modo como 
a filosofia trabalhou as 
relações dicotômicas entre, 
respectivamente,real e 
aparência, ideal e material e 
homem e natureza.
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 31
E como os filósofos se propõem a resolver alguns desses dilemas? A 
ferramenta do ofício filosófico se chama conceitos. É por meio da 
elaboração e uso de conceitos filosóficos que os filósofos solucionam 
seus problemas, pelo menos temporariamente, pois cada doutrina 
dá origem a novas perspectivas ou novos problemas. Um exemplo 
disso é o conceito de arché (princípio), que os filósofos pré-socráticos 
criaram para explicar a unidade que constitui a natureza por trás de sua 
aparência diversa e mutável. ou o termo ideia, que em Platão quer 
dizer uma coisa diferente da palavra que empregamos usualmente. 
o filósofo grego empregou o termo para apresentar respostas para 
uma ampla gama de assuntos de ordem epistemológica (teoria do 
conhecimento) e metafísica.
Em resumo, a filosofia é uma atividade:
•	 Teórica, pois não depende de testes experimentais ou 
laboratoriais como a ciência para atingir suas verdades;
•	 Reflexiva, pois pensa o próprio pensamento, quer dizer, 
tem o pensamento como objeto do próprio pensar;
•	 Crítica, uma vez que não estabelece dogmas ou verdades 
absolutas, como as religiões e os mitos; e
•	 Criativa, pois envolve a criação de conceitos.
o objetivo da disciplina filosófica no ensino básico não é formar 
filósofos profissionais, mas proporcionar aos jovens uma experiência 
filosófica, que leve em conta estas quatro características da prática 
da filosofia. Esta experiência é a de pensar por meio de conceitos 
determinados assuntos ou dilemas, comuns a todas as pessoas no dia 
a dia, e que somente a filosofia pode, com seus métodos próprios, 
oferecer respostas, ainda que inconclusivas.
Conceito - os filósofos 
franceses Gilles Deleuze e 
Félix Guattari definem filosofia 
como “[...] a arte de formar, 
de inventar, de fabricar 
conceitos.” (1992, p. 10). Esta 
é, diz eles, a especificidade da 
filosofia. Para os autores, a 
filosofia não é contemplação, 
ou seja, uma atividade 
meramente passiva; nem 
reflexão, pois ninguém precisa 
da filosofia para refletir; e nem 
mesmo comunicação, cuja 
prática visa criar consensos, 
não conceitos.
Ideia - Por ideia, Platão 
entende uma unidade visível 
na multiplicidade, quer dizer, 
uma realidade una da qual 
nosso mundo é apenas uma 
aparência. As ideias são: (i) 
os objetos do conhecimento, 
das quais os objetos sensíveis 
são uma pálida lembrança; 
(ii) critérios de valoração, 
como o Bem supremo, que 
serve de medida para um 
tipo de bem menor ou maior; 
(iii) e causas de todas as 
coisas que existem no mundo 
(cf. PATÃo, 1979).
FILOSOFIA32
o processo envolve os seguintes objetivos:
•	 Amadurecimento intelectual
o instrumental teórico proporcionado pela filosofia a adolescentes 
que cursam o ensino médio permite que eles desenvolvam suas 
habilidades intelectuais. Tais habilidades serão essenciais para que 
exerçam tanto seus direitos de cidadãos, para que tenham atitudes 
mais responsáveis, quanto para que se orientem mais claramente em 
suas carreiras profissionais.
o estudante pode aprender com Kant, por exemplo, que ele é 
responsável pelas escolhas que faz na vida, pois sua conduta tem 
um caráter universal. Ele pode ainda, lendo Aristóteles, descobrir 
como identificar maus argumentos em uma discussão. E com 
Nietzsche, aprender a criticar valores tradicionais da sociedade, 
ficando mais atento a preconceitos sociais, por exemplo.
•	 Desenvolvimento do pensamento crítico
A Bíblia diz que a humanidade descende de Adão e Eva e que o 
universo possui cerca de 6 mil anos. A ciência, que descendemos de 
uma espécie primata e que o universo conta com aproximadamente 
13,7 bilhões de anos. Em qual verdade devemos acreditar? ou, em 
outros termos, como descobrir quem está dizendo a verdade? o 
pensamento crítico consiste nesta capacidade de avaliar os argumentos 
que sustentam uma determinada crença e nos permite saber se o que 
nos dizem corresponde ou não à realidade. A filosofia é uma prática 
que estimula as dúvidas, nos torna céticos a respeito do que vemos, 
ouvimos, lemos, sentimos e pensamos. Este é um primeiro passo para 
se interpretar o mundo com 
uma postura crítica. Mas, além 
disso, é preciso sair do estado 
de dúvida, analisando os 
argumentos. Será a filosofia, 
portanto, que irá fornecer os 
instrumentos essenciais para se 
pensar de forma clara e rigorosa.
Ceticismo é uma forma de 
questionamento direcionada 
às razões que sustentam 
determinado conhecimento. 
Ser cético não significa, como 
se comumente afirma, duvidar 
da possibilidade de qualquer 
tipo de saber. o ceticismo 
apenas questiona a validade 
do conhecimento e suas 
pretensões de certeza (Cf. 
GRAYLING, 2007).
Em “A Fixação da Crença”, 
o filósofo norte-americano 
Charles Sanders Peirce diz que 
a dúvida é aquele sentimento 
que nos tira da comodidade 
de uma crença e dispara o 
processo de investigação. Toda 
filosofia parte daí. É a dúvida 
que nos estimula a atingir 
novos hábitos de conduta 
(PEIRCE, 2008).
Figura 5: A filosofia nos torna mais céticos. (Cena do filme 
A origem). 
Fonte: http://inceptionmovie.warnerbros.com/dvd/
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 33
•	 Pensar com autonomia
Ao longo da história, todos os governos autoritários – como os 
regimes nazi-fascistas e comunistas na Europa – tentaram impor uma 
determinada maneira de pensar, uma vez que eram sistemas políticos 
que não funcionavam pelo livre confronto de ideias. Por esta razão, 
a filosofia foi banida das escolas durante da ditadura no Brasil (cf. 
Unidade I deste volume). o ensino de filosofia pretende que as pessoas 
pensem por si mesmas, que sejam menos submissas e que aprendam 
a questionar. Estes são requisitos para formar cidadãos, ao invés de 
meros consumidores, que fortaleçam as instituições democráticas.
A principal tarefa, para atingir estes objetivos em sala de aula, é 
ensinar a ler os textos filosóficos, problematizando, contextualizando 
e analisando os diferentes discursos filosóficos. Desta forma, os 
conceitos e doutrinas poderão ser verificados em sua pertinência 
atual, tendo em vista que, em essência, tratam de questões que 
rondam os homens desde o início da filosofia. Mas, com que 
conteúdo específico deve-se trabalhar?
Ensinar a filosofar: Kant
o ensino da filosofia passa por duas esferas: por um exercício crítico 
da razão e por um aprendizado sistemático de sua história. Ambas as 
instâncias são objetos de uma polêmica entre os filósofos que defendem 
que se deve ensinar filosofia e outros, ensinar a filosofar. Pela primeira, 
entende-se o produto da filosofia, ou seja, determinadas correntes, 
doutrinas e ideias que compõem a História da Filosofia e podem ser 
estudadas, por exemplo, de forma cronológica em períodos.
Na ficção, autores como 
George orwell, em 1984, 
Aldous Huxley, em Admirável 
Mundo Novo, e Ray Bradbury, 
em Fahrenheit 451, escreveram 
sobre estratégias de Estados 
totalitários para controlar o 
pensamento das pessoas. A 
história em quadrinhos V de 
Vingança, escrita por Alan 
Moore e ilustrada por David 
Lloyd é outro bom exemplo.
FILOSOFIA34
Estes períodos históricos se dividem em:
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
NOME PERíODO CARACTERíSTICA
Filosofia antiga Século 6 a.C. ao século 6 d.C
Compreende toda filosofia greco-
romana, dos pré-socráticos ao período 
helenístico.
Patrística Século 1 ao século 7
Tentativa dos apóstolos Paulo e João e 
dos primeiros padres da Igreja Católica 
de conciliarem a fé cristã com a filosofia 
antiga.
Filosofia Medieval Século 8 ao século 14
Inclui pensadores europeus, árabes e 
judeus,influenciados pelos escritos de 
Platão e Aristóteles.
Renascença Século 14 ao século 16
Época de descobertas científicas, 
confrontos com os dogmas da fé e 
pensamento político.
Filosofia Moderna Século 17 a meados do século 18
Foco na natureza do conhecimento 
humano, cujas fontes de saber opõem 
racionalistas, como Descartes e Leibniz, 
e empiristas, como Locke e Berkeley.
Iluminismo Século 18 ao começo do século 19
Confiança na razão e na ciência como 
móveis do progresso humano.
Filosofia Contemporânea Meados do século 19 até os dias atuais
Composta de uma diversidade de 
temas e métodos, que abrangem 
filosofias da história, social, da ciência e 
da linguagem.
Quadro 2: Períodos da história da filosofia (CHAUÍ, 2000).
Fonte: do autor
Já o ensinar a filosofar envolve a filosofia enquanto atividade. Ela 
requer aprender determinados métodos de análise de problemas, 
elaboração conceitual e crítica. Em um domínio, ensina-se o conteúdo. 
Na outro, opera-se um processo.
A principal referência destas duas abordagens é o debate entre Kant e 
Hegel. o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724 – 1804) praticamente 
passou a vida acadêmica dando aulas, primeiro como professor 
particular, e depois, na Universidade de Königsberg, sua cidade natal.
Na Crítica da Razão Pura e em outros textos, Kant defende que não 
é possível ensinar a filosofia, mas apenas o aprender a filosofar. Ele 
explica que a filosofia é uma ciência possível, sempre em aberto, pois a 
investigação filosófica nunca termina. Mesmo quando o filósofo atinge 
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 35
uma elucidação razoável sobre uma dada matéria, surgem outras 
questões que demandam novas teorias, inclusive conflitantes com a 
que ele formulou.
Fica fácil de entender isso quando comparamos a filosofia à ciência. 
Na ciência, algumas teorias tornam-se completamente obsoletas 
quando contrariadas pelos fatos. Assim, a astronomia de Copérnico 
e de Galileu substituiu os modelos cosmológicos de Aristóteles e 
Ptolomeu, e a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, tornou 
limitada a teoria da gravidade de Newton. Em filosofia, ao contrário, 
a ética de Aristóteles é até hoje reconhecida como uma das mais 
completas. o mesmo se pode dizer, a despeito das críticas, da teoria 
política de Platão.
A ética aristotélica é exposta 
em Ética a Nicômaco 
(ARISTÓTELES, 1973). 
o mais importante tratado 
política de Platão é A 
República (PLATÃo, 2000). 
Ela é criticada por Karl Popper 
em A Sociedade Aberta e seus 
Inimigos, vol. 1 (PoPPER, 
1987).
os astrônomos italiano Galileu 
Galilei (1564-1642) e polaco 
Nicolau Copérnico (1473-
1543) sustentaram a teoria 
heliocêntrica, em que o Sol 
ocupa o centro do sistema 
solar, contrário aos gregos 
Aristóteles (384 a.C. -322 a.C.) 
e Cláudio Ptolomeu (90-168), 
que acreditavam que a Terra 
era o centro do universo (teoria 
geocêntrica). 
Em linhas gerais, na lei da 
gravitação universal do físico 
inglês Isaac Newton (1643- 
1727) a gravidade é resultado 
da atração que objetos físicos 
como a Terra exerce sobre os 
corpos, enquanto a teoria da 
Relatividade Geral, publicada 
em 1915 por Albert Einstein 
(1879-1955), a gravidade é um 
efeito da curvatura do espaço-
tempo.
Figura 6: Kant defendeu o ensino de filosofia enquanto atividade. (Kant em 
conferência para funcionários russos, por I. Soyockina e V. Gracov).
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:KantLecturing.jpg
Sendo assim, a história da filosofia, segundo Kant, não pode ser 
ensinada porque não é um produto acabado. Ela está sempre em 
desenvolvimento. Por isso, ele afirma:
Como a filosofia poderia propriamente ser aprendida, 
se em filosofia cada pensador edifica a sua obra, por 
assim dizer, sobre as ruínas de uma outra e nenhuma 
jamais alcançou um estado de permanência em 
todas as suas partes? Por isso, por seu fundamento, a 
filosofia não pode ser aprendida, porque ainda não 
há filosofia. Mas, mesmo supondo que ela existisse 
efetivamente, quem a aprendesse não poderia dizer-
se filósofo, pois o seu conhecimento dela ainda 
continuaria sendo, sempre, apenas histórico subjetivo 
(KANT, 2002, p. 53).
FILOSOFIA36
Com isso, ele quer dizer que não adianta aprender somente a história 
da filosofia, pois, no conjunto, vai parecer um balaio de ideias 
conflitantes sem qualquer finalidade. Deve-se, ao contrário, fazer um 
exame próprio, não desprezando o que já foi realizado ao longo da 
história do pensamento, mas fazendo seu próprio estudo a partir dos 
problemas originais que aqueles filósofos trabalharam:
Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar 
o talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios 
universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas 
sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles 
princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou 
rejeitando-os (KANT, 1980, p. 407-408).
Filosofia, para Kant, é o exercício da razão autônoma do sujeito. 
Portanto, seu ensino deve basear-se mais no método de conduzir o 
pensamento do que em aprender conclusões já atingidas por outros 
pensadores. Ao professor de filosofia, cabe a tarefa de estimular no 
aluno a atividade do filosofar, ao invés de ver nele um mero depositório 
de conhecimentos prontos e acumulados ao longo da história.
A posição pedagógica de Kant é coerente com sua filosofia crítica, 
em que a razão humana é legisladora do mundo por impor a forma 
tanto às leis naturais quando ao mundo prático da moralidade. De 
acordo com Ramos (2007), três aspectos desta filosofia teórica e prática 
de Kant aparecem refletidos em sua concepção de ensino (incluindo 
aqui o ensino de filosofia):
•	 o ideal de perfectibilidade da espécie humana.
•	 o princípio da razão autônoma do Esclarecimento (Aufklãrung).
•	 A necessidade de leis coercitivas da conduta.
Para Kant, o homem é perfectível porque é capaz de desenvolver 
suas capacidades naturais por meio da educação. Este ideal de 
perfectibilidade orienta ações pedagógicas que permitam que o aluno 
aprimore virtudes potenciais, como a capacidade de reflexão. Como se 
faz isso? Por meio do uso de sua razão autônoma.
Em Resposta à pergunta: que é o Esclarecimento (KANT, 1985), ensaio 
escrito em 1784, o filósofo fala que o Esclarecimento (termo também 
Kant foi influenciado pela 
pedagogia do filósofo francês 
Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778), conforme exposta 
em Emílio ou Da Educação 
(RoUSSEAU, 1995).
Para uma visão geral da 
filosofia de Kant, consultar a 
apostila História da Filosofia 
Moderna.
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 37
traduzido como Iluminismo) representa a saída da menoridade, 
entendida como um estado de imaturidade intelectual do indivíduo.
Segundo Kant, o sujeito pode se autoimpor esta menoridade por 
preguiça, comodidade ou oportunismo. ou então, ao ser guiado por 
autoridades, sejam elas religiosas ou políticas. Sair da condição de 
menoridade, diz Kant, demanda o uso pleno das faculdades racionais. 
Não apenas pelo sujeito, em seu conhecimento a respeito de um 
assunto, mas numa esfera pública de atuação. o homem deve poder 
questionar livremente, sobre qualquer assunto.
Contudo, esta atuação pública vai exigir algum tipo de obrigação, 
ao que chegamos ao terceiro ponto. o sujeito, no caminho de sua 
emancipação, necessitaria de coações internas, determinadas por 
leis da virtude (ética), e coações externas, determinadas por leis do 
Direito. A liberdade, dessa forma, é condicionada a uma obediência 
ao imperativo do dever e ao imperativo do direito (KANT, 2005).
No ensino, o educador vai:
•	 Estimular a saída da menoridade, pelo estímulo do exercício da 
razãoautônoma, por meio, principalmente, do diálogo com o 
educando; e ao mesmo tempo;
•	 Limitar a liberdade com disciplina e método de ensino.
A seguir, veremos como Hegel se opôs a Kant, defendendo o ensino 
da história da filosofia.
A História da Filosofia segundo Hegel
o pensador alemão G. W. F. Hegel (1770-1831), assim como Kant, 
foi professor de filosofia durante toda sua vida profissional. Ele deu 
aulas particulares, lecionou no ensino fundamental e na universidade, 
além de ocupar os cargos de diretor de colégio e reitor. Seus escritos 
sobre educação e ensino de filosofia estão reunidos em Escritos 
Pedagógicos (1991).
o Iluminismo, também 
conhecido como Século 
das Luzes, Ilustração ou 
Esclarecimento, foi um 
movimento filosófico e cultural 
que surgiu na Europa, no 
século 18. os iluministas 
acreditavam que a razão era a 
fonte de progresso e felicidade 
humana.
Nas sociedades modernas, a 
comunicação de massa e a 
indústria do entretenimento 
promoveram esta 
menoridade, ao tornar as 
pessoas passivas na frente 
de seus aparelhos de TVs, 
por exemplo. Esta análise foi 
feita pelos filósofos alemães 
Theodor W. Adorno (1903-
1969) e Max Horkheimer 
(1895-1973) no livro Dialética 
do Esclarecimento (ADoRNo 
e HoRKHEIMER, 1985).
Um resumo das ideias de 
Hegel sobre educação 
pode ser lido nos artigos "o 
Ensino da Filosofia sgundo 
Hegel: contribuições para a 
atualidade", de Pedro Geraldo 
Aparecido Novelli (2005) 
e o "Ensino da filosofia e o 
papel do professor-filósofo 
em Hegel", de Rodrigo Pelloso 
Gelamo (208).
FILOSOFIA38
Para Hegel, não havia distinção entre aprender filosofia e aprender 
a filosofar, porque só é possível aprender a filosofar apreendendo 
a filosofia, ou a história do pensamento. Com isso, ele critica uma 
separação pedagógica comum em seu tempo, que privilegiava a forma, 
ou o exercício da razão, em detrimento do conteúdo. Ele compara este 
tipo de aprendizado com um viajante que não conhece os lugares por 
onde passa:
Em geral se distingue um sistema filosófico com suas 
ciências particulares do filosofar mesmo. Segundo a 
obsessão moderna, especialmente da Pedagogia, 
não se tem de instruir tanto em relação ao conteúdo 
da filosofia, quanto se tem de procurar aprender a 
filosofar sem conteúdo; isto significa mais ou menos o 
seguinte: deve-se viajar e sempre viajar, sem chegar a 
conhecer as cidades, os rios, os países, os homens etc 
(HEGEL, 1991, p. 139).
o que ele quer dizer é que, sem conhecer os lugares (conteúdo), não se 
viaja realmente, do mesmo modo que, sem conhecer os pensamentos 
filosóficos, não se aprende a filosofar. Do mesmo modo que, quando 
conhecemos os lugares, viajamos, quando temos acesso ao conteúdo 
da filosofia, “[...] não só se aprende o filosofar, mas já se filosofa 
realmente” (Ibidem).
A ética aristotélica é exposta 
em Ética a Nicômaco 
(ARISTÓTELES, 1973). 
o mais importante tratado 
política de Platão é A 
República (PLATÃo, 2000). 
Ela é criticada por Karl Popper 
em A Sociedade Aberta e seus 
Inimigos, vol. 1 (PoPPER, 
1987).
Figura 7: Hegel em conferência. (Litografia de F. Kugler).
Fonte: http://en.academic.ru/dic.nsf/enwiki/7498
Em segundo lugar, Hegel argumenta que, para se pensar, é preciso 
antes ter acesso ao que já foi pensado antes, ter algum repertório 
sobre o qual se pensar. A história da filosofia contém mais de dois 
séculos de pensamento rigoroso e sistemático. Como ignorá-lo? o 
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 39
aluno não poderia pensar se não tivesse primeiro o que pensar, sem 
ter como referencial o que já foi pensado e discutido anteriormente. 
Sem fundamentos nos sistemas filosóficos, o aluno só se defrontaria 
com pensamento contingente, pontual e fragmentado, segundo Hegel.
A visão pedagógica do filósofo, assim como a de Kant, está ligada 
à sua filosofia. Enquanto Kant fala em aperfeiçoamento individual e 
razão autônoma, Hegel assimila isso no contexto da história. Para 
ele, o indivíduo só pode se desenvolver na história, que é entendida 
como o espírito da humanidade. Por esta razão, o homem precisa 
assimilar o saber e a cultura na história. o que somos e pensamos 
possui uma natureza histórica. Do mesmo modo que a história 
passada não é a totalidade da história, o que somos hoje é produto de 
gerações passadas. Assim também é com a filosofia. Ela é viva, está 
sempre se alimentando de novos trabalhos, e as atuais são produtos 
das anteriores. o filosofar só vem, diz ele, mediante o aprendizado 
dessa história da filosofia (HEGEL, 1980, p. 341).
Para Hegel, em resumo:
•	 Só se aprende a pensar (filosofar) se antes se compreender 
o conteúdo do pensamento (filosofia).
•	 Consequentemente, é preciso ter acesso aos pensamentos 
anteriores para se ter o seu próprio pensamento.
Um terceiro ponto do argumento de Hegel é que a filosofia, como 
qualquer outra ciência, demanda um aprendizado. Criticando Kant, 
Hegel diz que, quando estamos estudando um texto filosófico, não 
estamos deixando de pensar por nós mesmos. Na verdade, estamos 
compreendendo aquelas ideias, refazendo o percurso do pensamento 
do autor e, portanto, filosofando. Por esta razão, Hegel atribui ao 
professor de filosofia um papel importante como mediador na sala 
de aula, como alguém que irá passar o conhecimento que deverá ser 
recebido pelo aluno de forma crítica. o professor, por mais experiência 
que tenha, não vai determinar a forma como a história da filosofia 
História, em Hegel, é a 
manifestação do pensamento 
humano. Logo, não é um 
amontoado de fatos, mas tem 
um sentido. A filosofia, por 
sua vez, a própria história do 
pensamento.
Espírito - Quando Hegel fala 
em espírito, ele quer dizer: 
espírito subjetivo, que são 
as mentes individuais, dos 
sujeitos; espírito objetivo, que 
são as instituições e estruturas 
da sociedade; e espírito 
absoluto, dividido em arte, 
religião e filosofia.
Para Hegel, a história do 
pensamento não é produto 
de indivíduos. os filósofos 
apenas acrescentam um 
“tijolo” à construção. Portanto, 
para se ter uma visão geral, é 
preciso conhecer a história da 
filosofia.
FILOSOFIA40
será compreendida pelo aluno. Ele vai saber dar uma unidade àquele 
conjunto de doutrinas e sistemas que, apara o estudante, é visto de 
forma parcial. A assimilação deste conteúdo filosófico se apresenta de 
três maneiras que são também, em Hegel, três etapas do aprendizado 
(Ibidem, 141):
•	 Pensamento abstrato: apreensão intelectual do conteúdo;
•	 Pensamento dialético: contestação e confrontação do que foi 
pensado; e
•	 Pensamento especulativo: obtenção de uma perspectiva do todo.
No pensamento abstrato, o aluno tem contato com o pensamento 
formal e reflexivo. Ele vai pensar determinados temas lendo textos 
filosóficos. No dialético, tem-se o confronto das ideias estabelecidas 
nos estudos anteriores. Um exemplo disso é dado nas antinomias 
kantianas, em que exemplos de argumentos contrários sobre um termo 
são expostos lado a lado (como, por exemplo, o mundo é finito ou 
infinito). No pensamento especulativo é encontrada uma síntese dos 
contrários e, desse modo, somente este pensamento é, segundo Hegel, 
propriamente filosófico. Ele exige, de outro modo, a passagem pelos 
estágios anteriores. Para o ensino médio, seria contemplado o primeiro 
nível de aprendizado filosófico.
Em resumo, as seguintes diferenças vistas até aqui entre Kant e Hegel 
são:
Como você, sendo um 
professor de filosofia, faria 
isso? Escolhendo da história 
da filosofia, por exemplo, uma 
determinada sucessão de 
pensamentos que respondam a 
questões específicas, de modo 
que os alunos compreendam 
do que os filósofosestão 
falando (e porque se 
contradizem). Cf. Unidade III.
o pensamento hegeliano é 
repleto de esquemas triádicos 
como este, que refletem seu 
método dialético. Dialética, 
em Hegel, é um processo que 
envolve três fases: tese, antítese 
e síntese (afirmação, negação e 
negação da negação).
ENSINo DE FILoFIA: KANT E HEGEL
KANT
Proposta Filosofia Objetivo Professor Aluno
Ensinar a 
filosofar 
(processo)
Exercício 
da razão 
autônoma
Aprendizagem 
de métodos
Estimulador 
de habilidades 
naturais
Autonomia 
individual
HEGEL
Ensinar a 
filosofia 
(conteúdo)
Assimilação 
do conteúdo 
filosófico
Aprendizagem 
de conteúdos
Mediador de 
conhecimento
Perspectiva 
histórica e 
social
Quadro 3: Síntese de ideias pedagógicas de Kant e Hegel.
Fonte: do autor
De um lado, temos Kant propondo que o ensino é feito pelo próprio 
indivíduo, que exercita o pensamento livre e provê métodos; onde 
o professor tem o papel de estimular o aluno (o conteúdo vem de 
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 41
dentro). De outro, Hegel, que fala da história e do aprendizado por 
meio da apreensão de conteúdo específico (externo); e o professor 
sendo o provedor desse conhecimento, como representante do espírito 
de seu tempo. Qual é a melhor proposta? Essa conclusão será deixada 
para a próxima unidade. Antes, vamos ver como mais um filósofo 
encara isso, em outro contexto.
A crítica de Nietzsche
Pode-se acrescentar às posições distintas defendidas por Kant e Hegel as 
considerações de outro pensador alemão. Friedrich Wilhelm Nietzsche 
(1844-1900) foi um dos mais importantes filósofos do século 19, 
conhecido por suas críticas aos valores ocidentais e do racionalismo. 
Ele foi professor universitário na Universidade de Basileia, na Suíça. 
Entretanto, sua filosofia sem concessões, com objeções ao ensino da 
época, e a saúde debilitada o afastaram da academia.
Algumas destas críticas mais contundentes à educação encontram-se 
no terceiro capítulo do livro Considerações Extemporâneas, intitulado 
“Schopenhauer como educador”, escrito em 1874 (NIETZSCHE, 
1978). Neste texto, ele faz críticas ao sistema de ensino na Alemanha 
do século 19, que estão inseridas numa oposição, mais geral, à cultura 
da modernidade. Ele apontava uma decadência na cultura europeia, 
submissa ao utilitarismo, que seria dominada por quatro espécies de 
“egoísmos” que impediriam o surgimento de uma “cultura superior”:
•	 Egoísmo dos negociantes: a ideia é que, quanto mais cultura, mais 
riquezas e, com isso, mais felicidade.
•	 Egoísmo do Estado: o governo teria como objetivo, na educação, 
conformar as pessoas.
•	 Egoísmo cosmético: cultura que busca “mascarar” a feiúra e o tédio 
do homem moderno através do luxo, da polidez e da educação.
•	 Egoísmo da ciência: seria representada pelos cientistas, que 
reduzem a vida aos métodos científicos.
Para uma análise deste texto 
de Nietzsche, ler “Nietzsche 
educador: uma leitura 
de ‘Schopenhauer como 
educador’”, de Márcio Danelon 
(2001).
FILOSOFIA42
Somente a filosofia, em sua oposição, poderia fazer surgir a cultura 
autêntica. A questão, para Nietzsche, é que, do modo como era 
ensinada nas escolas e universidades, não desfrutava da liberdade 
necessária para cumprir seu papel.
Segundo ele, os governos temem a filosofia em sua atividade 
essencialmente opositora. Por isso, tratam de tentar acomodar os 
filósofos em programas de ensino. Mas, ao fazer isso, diz Nietzsche, o 
filósofo deixa de buscar a verdade, que é a finalidade da filosofia.
Nietzsche enumera três principais concessões que o filósofo faz ao se 
submeter ao Estado:
•	 o Estado contrata filósofos para dar aulas, de forma a indicar que 
o governo sabe escolher (e distinguir) bons filósofos e que sempre 
haverá mais deles para ocupar vagas no ensino;
•	 Ele os fixa em uma instituição de ensino e atribui a eles atividades e 
horas fixas para ensinar jovens acadêmicos. Deste modo, o filósofo 
se vê obrigado a produzir (aulas, conferências etc.) mesmo quando 
não tem nada de original a dizer;
•	 Neste trabalho, o profissional acaba se colocando como mero 
erudito, reprodutor de sistemas filosóficos.
Este último item é um alerta para o ensino de filosofia, tanto na escola 
média quanto na universidade: o risco de criar apenas erudição e 
reprodução de conhecimento, sem desenvolver a habilidade de criação 
conceitual. Diz Nietzsche (1978, p. 81):
A história erudita do passado nunca foi a ocupação 
de um filósofo verdadeiro, nem na Índia nem na 
Grécia; e um professor de filosofia, se se ocupa com 
trabalho dessa espécie, tem de aceitar que se diga algo 
dele, no melhor dos casos: é um competente filólogo, 
antiquário, conhecedor de línguas, historiador – mas 
nunca: é um filósofo.
Nietzsche ainda alerta que pouco interessa aos jovens a história 
da filosofia, que para eles se mostra como um conjunto de ideias 
discordantes, teorias sem sentido, doutrinas e antagonismos, conceitos 
estranhos, nomes e datas. E que os estudantes tratariam de decorar 
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 43
apostilas apenas para passar nas provas, para depois logo esquecer 
e aprender a odiar a filosofia, como algo sem sentido. o filósofo 
alemão sugere que esta seria a estratégia mais eficaz de um governo 
para anular o potencial da filosofia. Estuda-se para a prova e depois se 
esquece, desprezando-a como conhecimento inútil. 
E, por fim, em que neste mundo importa a nossos 
jovens a história da filosofia? Será que eles devem, 
pela confusão das opiniões, ser desencorajados de 
terem opiniões? [...] Será que, porventura, devem 
aprender a odiar ou desprezar a filosofia? (Ibidem, 
p. 81).
Trata-se de uma crítica pontual ao ensino da filosofia na Alemanha 
no século 19, mas que serve de alerta para o retorno da filosofia no 
Brasil. Depois de ser expurgada nos tempos de ditadura, corre o risco 
de ser ensinada como uma coletânea de nomes e teorias que devem 
ser decoradas para os vestibulares. Impõe-se então o uso da história 
da filosofia, mas com o alerta de não transformá-la em mero conteúdo 
de erudição ou “enciplopedismo”.
Figura 8: Nietzsche denunciou a educação servil de 
seu tempo. [Friedrich Nietzsche (1906), por Edvard 
Munch (1863-1944).]
Fonte: http://nietzsche.com/nietzsche-munch.html
Em resumo, o ensino na época, para o pensador alemão, ao invés de 
promover a cultura seria responsável por sua deterioração, incluindo 
a filosofia na sala de aula. Faz isso no cumprimento dos desígnios 
do Estado e da economia vigente, formando profissionais técnicos 
e burocratas ao invés de “homens superiores”. Como deveria, 
Algo parecido não acontece 
com a matemática no ensino 
fundamental? os alunos 
acabam odiando a disciplina 
por traumas no aprendizado.
FILOSOFIA44
então, ser o ensino para Nietzsche? Ele via na filosofia um papel de 
educação do homem para sua emancipação, mas não no sentido do 
esclarecimento kantiano. o homem deveria ascender à sua condição 
de gênio, de super-homem, rompendo com valores decadentes da 
cultura ocidental. o modelo a ser seguido é o do educador, o filósofo, 
que os alunos deveriam seguir antes de adquirirem autonomia. ou 
seja, ele valoriza, em sala de aula, a autoridade do mestre-gênio 
(não do professor-burocrata), que vai transmitir a cultura, não a 
espontaneidade do aluno (como em Kant).
CONCLUSÃO
Nesta unidade, vimos que a filosofia não cumprirá seu papel no ensino 
médio, de estimular o pensamento crítico e autônomo, se ficar somente 
em visões panorâmicas de conteúdos da história da filosofia, com 
nomes e teorias que serão pouco assimilados e esquecidos pelo alunose não forem inseridas em sua prática. Por isso, é essencial lidar com 
textos filosóficos, descobrir os problemas com os quais aquele filósofo 
lidava e os conceitos que formulou como solução para eles (cf. detalhes 
nas próximas unidades). Com isso o aluno aprenderá a questionar, 
levantar problemas, dominar argumentos e o uso de conceitos para 
responder aos problemas contemporâneos, comparando com o que 
foi pensado pela tradição.
Verificamos também, com o estudo da visão pedagógica de três 
pensadores alemães, Kant, Hegel e Nietzsche, como o ensino da 
filosofia e a maneira de interagir com a tradição, ou seja, a história da 
filosofia, é condicionada pelo conceito que cada um tem da filosofia:
•	 Em Kant, a filosofia é “uma ciência possível” e “um exercício da 
razão autônoma do sujeito”. Por isso, o ensino deve privilegiar o 
diálogo e estímulo aos talentos racionais do aluno, para que ele 
saia da menoridade.
•	 Em Hegel, filosofia é “a ciência objetiva da verdade” e é, enquanto 
história, “o sistema de desenvolvimento da ideia”. Então, “o estudo 
Super-homem (Übermensch) 
em F. Nietzsche é a encarnação 
dos valores superiores que ele 
opõe à “cultura decadente”.
Nietzsche, na verdade, tinha 
uma visão elitista da educação, 
que estaria ao alcance de 
poucos (pois a cultura estaria 
ligada à natureza: alguns 
possuem dons intelectuais, 
outros não). A educação 
de massas estaria sujeita à 
burocracia e os ditames do 
mercado. Como poderíamos 
incorporar as críticas do filósofo 
à realidade do ensino de hoje?
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 45
da história da filosofia” é “o estudo da própria filosofia” (HEGEL, 
1980, 341).
•	 Finalmente, em Nietzsche, temos a filosofia como “expressão 
(física) da força do homem que cria novos valores”, e seu ensino 
está ligado ao embate contra o sistema vigente.
De qualquer modo, ensinar filosofia é uma tarefa que não se exime e 
nem se faz impunemente. É uma escolha e, ainda mais, uma escolha 
com consequências políticas. Nas próximas unidades, serão abordados 
aspectos práticos deste ensino.
Reconstrua, com base nos textos indicados, os argumentos 
de Kant, Hegel e Nietzsche a respeito do ensino de filosofia, 
comparando com a visão do que eles consideravam ser a 
filosofia.
FAHRENHEIT 451 (1966)
Direção: François Truffaut
Gênero: Ficção/Drama
Duração: 112 min
Elenco: oskar Werner (Guy Montag), Julie Christie (Clarisse / Linda 
Montag), Cyril Cusack (Capitão), Anton Diffring (Fabian).
Sinopse: Adaptação do livro homônimo do escritor Ray Bradbury, a 
história se passa num futuro onde toda escrita foi proibida por um 
regime autoritário. Segundo o governo, os livros deixam as pessoas 
tristes e as tornam improdutivas. Se uma pessoa possui livros em 
casa, ela é denunciada por vizinhos e os “bombeiros” são chamados 
FILOSOFIA46
para destruir os exemplares. o protagonista é um bombeiro chamado 
Montag que passa a furtar livros para ler. Ele descobre uma comunidade 
de pessoas que preservam os livros na memória.
A ORIGEM (2010)
Direção: Christopher Nolan
Gênero: Ficção
Duração: 148 min
Elenco: Leonardo DiCaprio (Dom Cobb), Ellen Page (Ariadne), Marion 
Cotillard (Mal Cobb), Joseph Gordon-Levitt (Arthur), Ken Watanabe 
(Saito) e Tom Hardy (Eames).
Sinopse: Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um especialista em invadir 
os sonhos para roubar segredos industriais. Para saber distinguir o que 
é sonho e realidade, ele carrega um totem, na forma de um peão, 
que pertencia à sua mulher. Ele então aceita a missão de fazer uma 
inserção – implantar o germe de uma ideia numa pessoa, através de 
seu inconsciente.
A Revista Cult traz matérias sobre filosofia, algumas disponíveis para 
leitura online. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/.
METODOLOGIA DO ENSINO DA FILOSOFIA | UNIDADE 2 47
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UNIDADE
QUESTÕES DE CONTEÚDO 
PROGRAMÁTICO (O QUE ENSINAR?)
OBJETIVO DESTA UNIDADE:
Discutir questões 
referentes ao conteúdo 
das aulas de filosofia. o 
que priorizar no ensino 
para

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