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A independência dos Estados Unidos Antes da Independência, os EUA eram formado por treze colônias controladas pela metrópole: a Inglaterra. Dentro do contexto histórico do século XVIII, os ingleses usavam estas colônias para obter lucros e recursos minerais e vegetais não disponíveis na Europa. Era também muito grande a exploração metropolitana, com relação aos impostos e taxas cobrados dos colonos norte-americanos. Colonização dos Estados Unidos Para entendermos melhor o processo de independência norte-americano é importante conhecermos um pouco sobre a colonização deste território. Os ingleses começaram a colonizar a região no século XVII. A colônia recebeu dois tipos de colonização com diferenças acentuadas: Colônias do Norte: região colonizada por protestantes europeus, principalmente ingleses, que fugiam das perseguições religiosas. Chegaram na América do Norte com o objetivo de transformar a região num próspero lugar para a habitação de suas famílias. Também chamada de Nova Inglaterra, a região sofreu uma colonização de povoamento com as seguintes características : mão-de-obra livre, economia baseada no comércio, pequenas propriedades e produção para o consumo do mercado interno. Colônias do Sul: colônias como a Virginia, Carolina do Norte e do Sul e Geórgia sofreram uma colonização de exploração. Eram exploradas pela Inglaterra e tinham que seguir o Pacto Colonial. Eram baseadas no latifúndio, mão-de-obra escrava, produção para a exportação para a metrópole e monocultura. Guerra dos Sete Anos Esta guerra ocorreu entre a Inglaterra e a França entre os anos de 1756 e 1763. Foi uma guerra pela posse de territórios na América do Norte e a Inglaterra saiu vencedora. Mesmo assim, a metrópole resolveu cobrar os prejuízos das batalhas dos colonos que habitavam, principalmente, as colônias do norte. Com o aumento das taxas e impostos metropolitanos, os colonos fizeram protestos e manifestações contra a Inglaterra. Metrópole aumenta taxas e impostos A Inglaterra resolveu aumentar vários impostos e taxas, além de criar novas leis que tiravam a liberdade dos norte-americanos. Dentre estas leis podemos citar: Lei do Chá (deu o monopólio do comércio de chá para uma companhia comercial inglesa), Lei do Selo ( todo produto que circulava na colônia deveria ter um selo vendido pelos ingleses), Lei do Açúcar (os colonos só podiam comprar açúcar vindo das Antilhas Inglesas). Estas taxas e impostos geraram muita revolta nas colônias. Um dos acontecimentos de protesto mais conhecidos foi a Festa do Chá de Boston ( The Boston Tea Party ). Vários colonos invadiram, a noite, um navio inglês carregado de chá e, vestidos de índios, jogaram todo carregamento no mar. Este protesto gerou uma forte reação da metrópole, que exigiu dos habitantes os prejuízos, além de colocar soldados ingleses cercando a cidade. Primeiro Congresso da Filadélfia Os colonos do norte resolveram promover, no ano de 1774, um congresso para tomarem medidas diante de tudo que estava acontecendo. Este congresso não tinha caráter separatista, pois pretendia apenas retomar a situação anterior. Queriam o fim das medidas restritivas impostas pela metrópole e maior participação na vida política da colônia. Porém, o rei inglês George III não aceitou as propostas do congresso, muito pelo contrário, adotou mais medidas controladoras e restritivas como, por exemplo, as Leis Intoleráveis. Uma destas leis, conhecida como Lei do Aquartelamento, dizia que todo colono norte-americano era obrigado a fornecer moradia, alimento e transporte para os soldados ingleses. As Leis Intoleráveis geraram muita revolta na colônia, influenciando diretamente no processo de independência. Segundo Congresso da Filadélfia Em 1776, os colonos se reuniram no segundo congresso com o objetivo maior de conquistar a independência. Durante o congresso, Thomas Jefferson redigiu a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. Porém, a Inglaterra não aceitou a independência de suas colônias e declarou guerra. A Guerra de Independência, que ocorreu entre 1776 e 1783, foi vencida pelos Estados Unidos com o apoio da França e da Espanha. Constituição dos Estados Unidos Em 1787, ficou pronta a Constituição dos Estados Unidos com fortes características iluministas. Garantia a propriedade privada (interesse da burguesia), manteve a escravidão, optou pelo sistema de república federativa e defendia os direitos e garantias individuais do cidadão. Independência da América Espanhola A Independência das colônias espanholas na América ocorreu após quase 300 anos de domínio colonial e resultou na formação de 18 novos países. A partir do século XVI, a Espanha colonizou várias regiões da América. O sistema de colonização espanhola baseado na exploração dos recursos naturais e minerais das áreas dominadas. Os povos americanos (incas, astecas, maias e outros nativos) foram dominados, perderam suas terras e tiveram que seguir a cultura imposta pelos espanhóis. Estes povos nativos também tiveram que trabalhar de forma forçada para os colonizadores da Espanha. A administração implantada pela Espanha nas colônias americanas era totalmente controlada pela metrópole e tinha por objetivo principal a obtenção de riquezas. As leis e suas aplicações eram definidas pela coroa espanhola e, portanto, serviam aos seus interesses políticos e econômicos. No campo econômico o controle da metrópole sobre as colônias americanas era rígido. Os colonos só podiam comprar e vender produtos da Espanha. Esta espécie de pacto colonial era altamente desfavorável aos colonos americanos, pois acabam sempre vendendo a preços baixos e comprando a preços altos, gerando grandes lucros aos espanhóis. As lutas pela Independência da América Espanhola Diante da exploração e injustiças adotas pela Espanha na América, a partir do século XVIII começa a brotar um movimento de resistência nas colônias, liderado pelos criollos. Estes eram filhos de espanhóis nascidos na América. Além dos laços culturais que tinham com o continente americano, viam na independência uma forma de obtenção de poder político. Muitos destes criollos eram comerciantes e, através da independência poderiam obter liberdade para seus negócios, aumentando assim seus lucros. Vale lembrar também que muitos criollos estudaram na Europa, onde tomaram contato com os ideais de liberdade propagados pelos iluministas. No século XVIII, várias revoltas emancipacionistas ocorreram em diversas colônias americanas, lideradas em sua maioria pelos criollos. Porém, todas elas foram reprimidas com força e violência pela Espanha. O processo de independência e suas principais características: O processo de independência ganhou força no começo do século XIX, aproveitando a fragilidade política em que se encontrava a Espanha, após a invasão das tropas napoleônicas. As lutas pela independência ocorreram entre os anos de 1810 e 1833. Vale ressaltar que o grau de insatisfação e revolta da população americana com o domínio espanhol havia atingido o ponto máximo no começo do século XIX. Foi nesta época também que os criollos conseguiram organizar movimentos emancipacionistas em todos os vice-reinos. Ao contrário do que aconteceu no Brasil, o processo de independência das colônias espanholas foi violento, pois houve resistência militar por parte da Espanha. As guerras de independência geraram milhares de mortes de ambos os lados. Os movimentos de independência, embora liderados pelos criollos, contou com a participação de negros, mestiços, brancos das camadas mais pobres e até mesmo de indígenas. As colônias estavam divididas administrativamente em quatro vice-reinos (Nova Granada, Nova Espanha, Rio da Prata e Peru) e quatro capitanias-gerais (Chile, Venezuela, Guatemala e Cuba). Após o processo de independência, estes vice-reinos foram divididos e tornaram-se países. O vice-reino do Rio da Prata, por exemplo, transformou-se, após ser dividido, nos atuais: Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai. Enquanto o Brasil seguiuo sistema monárquico após sua independência em 1822, os países que se formaram com a independência das colônias espanholas adoram a República. Anos da independência dos principais países da América Espanhola: - México: 1821 - Peru: 1821 - Argentina: 1816 - Paraguai: 1813 - Uruguai: 1815 - Venezuela: 1811 - Bolívia: 1825 - Colômbia: 1811 - Equador: 1811 - Chile: 1818 Principais líderes Os principais líderes das lutas pela independência nos países da América Espanhola foram Simón Bolivar e San Martín. - Simón Bolivar: militar e político venezuelano, foi de fundamental importância nos processos de independência da Colômbia, Bolívia, Equador, Venezuela, Panamá e Peru. Ganhou em 1813, na Venezuela, o título honorífico de Libertador. - José de San Martín: general argentino, foi decisivo nos processos de independência da Argentina, Chile e Peru. Conseqüências: - Ascensão política dos criollos nas ex-colônias; - Conquista da liberdade econômica, que favoreceu financeiramente e politicamente a aristocracia; - Criação de dependência econômica com relação à Inglaterra, maior potência mercantil do século XIX; - Infelizmente, a independência política não significou a diminuição das desigualdades e injustiças sociais nas ex-colônias espanholas. A pobreza e miséria continuaram como realidade para grande parte da população; - Instalação do sistema republicano em que, através das eleições, as elites se perpetuavam no poder. Guerra dos sete anos A Guerra dos Sete anos foi um conflito travado entre diversas monarquias nacionais européias em torno do controle de regiões de exploração colonial. Um dos lados dessa guerra era liderado pela França que, com o apoio militar dos austríacos, procurava rivalizar contra a supremacia exercida pelos britânicos nas regiões da América do Norte e na Índia. Além disso, esse mesmo conflito também foi marcado pelas disputas hegemônicas entre os Estados do antigo Sacro-Império Germânico. Em um primeiro momento desse conflito, os exércitos prussianos realizaram uma aliança militar com a Inglaterra, que fazia franca oposição ao apoio que os austríacos tinham por parte das forças francesas. Ao mesmo tempo em que esses exércitos se enfrentavam dentro da Europa, França e Inglaterra promoviam conflitos paralelos pelo controle de regiões da América do Norte, Índias Ocidentais, Índia, África, Mar Mediterrâneo, Canadá e Caribe. A fase colonial da guerra teve início com a invasão francesa à ilha britânica de Minorca, ocorrida em 1756. As ações tomadas pelos franceses foram contra-atacadas pelas poderosas tropas inglesas, que realizaram o bloqueio britânico nas regiões de Toulon e Brest. Depois de sucessivas vitórias, os ingleses conquistaram as regiões de Quebéc, Montreal, Cabo Bretão e Grandes Lagos. Na África, conseguiram derrubar o controle francês em Senegal e Gâmbia. A derrota dos franceses foi completada com a entrada da Espanha, que conseguiu tomar a região da Louisiana do Império Colonial Francês. A vitória britânica nesse conflito acabou realizando uma grande transformação no cenário colonial norte-americano. Inicialmente, os britânicos passaram a enrijecer suas relações com os colonos norte-americanos com a cobrança de impostos e a limitação na exploração das terras conquistadas. Além disso, o acordo empreendido entre as poderosas nações envolvidas nesse conflito garantiu à Rússia e à Prússia o controle político sobre algumas regiões do Velho Continente. Em contrapartida, O Império Austríaco perdeu sua posição hegemônica entre os fragmentados Estados Germânicos tendo os prussianos enquanto concorrentes. Entre todas as nações envolvidas, a França foi contundentemente afetada com a entrega de várias áreas coloniais para os ingleses. Com o fim do conflito, a Inglaterra saiu como grande vitoriosa, mas os custos gerados pela guerra enfraqueceram a sua economia. Dessa forma, a Coroa Inglesa decidiu impor diversos tributos para os colonos norte-americanos com o claro objetivo de ressarcir o prejuízo econômico produzido pela guerra. Entretanto, essa medida tencionou as relações com os colonos norte-americanos que, pouco tempo depois, lutaram pelo fim da dominação colonial britânica, dando início às Guerras de Independência dos EUA. O apoio Francês para Independência dos Estados Unidos Esta guerra ocorreu entre a Inglaterra e a França entre os anos de 1756 e 1763. Foi uma guerra pela posse de territórios na América do Norte e a Inglaterra saiu vencedora. Mesmo assim, a metrópole resolveu cobrar os prejuízos das batalhas dos colonos que habitavam, principalmente, as colônias do norte. Com o aumento das taxas e impostos metropolitanos, os colonos fizeram protestos e manifestações contra a Inglaterra. Metrópole aumenta taxas e impostos A Inglaterra resolveu aumentar vários impostos e taxas, além de criar novas leis que tiravam a liberdade dos norte-americanos. Dentre estas leis podemos citar: Lei do Chá (deu o monopólio do comércio de chá para uma companhia comercial inglesa), Lei do Selo ( todo produto que circulava na colônia deveria ter um selo vendido pelos ingleses), Lei do Açúcar (os colonos só podiam comprar açúcar vindo das Antilhas Inglesas). Estas taxas e impostos geraram muita revolta nas colônias. Um dos acontecimentos de protesto mais conhecidos foi a Festa do Chá de Boston ( The Boston Tea Party ). Vários colonos invadiram, a noite, um navio inglês carregado de chá e, vestidos de índios, jogaram todo carregamento no mar. Este protesto gerou uma forte reação da metrópole, que exigiu dos habitantes os prejuízos, além de colocar soldados ingleses cercando a cidade. Primeiro Congresso da Filadélfia Os colonos do norte resolveram promover, no ano de 1774, um congresso para tomarem medidas diante de tudo que estava acontecendo. Este congresso não tinha caráter separatista, pois pretendia apenas retomar a situação anterior. Queriam o fim das medidas restritivas impostas pela metrópole e maior participação na vida política da colônia. Porém, o rei inglês George III não aceitou as propostas do congresso, muito pelo contrário, adotou mais medidas controladoras e restritivas como, por exemplo, as Leis Intoleráveis. Uma destas leis, conhecida como Lei do Aquartelamento, dizia que todo colono norte-americano era obrigado a fornecer moradia, alimento e transporte para os soldados ingleses. As Leis Intoleráveis geraram muita revolta na colônia, influenciando diretamente no processo de independência. Segundo Congresso da Filadélfia Em 1776, os colonos se reuniram no segundo congresso com o objetivo maior de conquistar a independência. Durante o congresso, Thomas Jefferson redigiu a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. Porém, a Inglaterra não aceitou a independência de suas colônias e declarou guerra. A Guerra de Independência, que ocorreu entre 1776 e 1783, foi vencida pelos Estados Unidos com o apoio da França e da Espanha. Constituição dos Estados Unidos Em 1787, ficou pronta a Constituição dos Estados Unidos com fortes características iluministas. Garantia a propriedade privada (interesse da burguesia), manteve a escravidão, optou pelo sistema de república federativa e defendia os direitos e garantias individuais do cidadão. Independência Promovida por San Martín e Bolívar Quando Simón Bolívar e José de San Martín se reuniram em Guayaquil em 1822, não foram apenas dois generais vitoriosos, unidos pelo ideal da independência americana, que se sentaram frente a frente; foram também os portadores de duas concepções opostas do poder. Bolívar e San Martín foram duas personalidades tão extraordinárias que Plutarco (46-119) não teria hesitado em incluí-los em suas famosas Vidas Paralelas. Quando a América se emancipou, o novo continente teve de preencher o vazio de poder deixado pelo tumultuado afastamento de seus tutores europeus. Para remediar esta carência, surgiram dois modelos políticos: um personalista, o de Bolívar; outro institucional, o de San Martín.Como Natalio Botana observou recentemente em La Nación, Bolívar almejava o que veio a ser chamado de presidência perpétua. Logo após a renúncia de San Martín em Guayaquil, o grande venezuelano pôde exercer a presidência simultânea da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Presidência que era, em sua intenção, ''''perpétua''''. O projeto ''''bolivariano'''' acabou fracassando, mas seu objetivo era substituir o comando de uma pessoa, o rei espanhol, pelo de outra, o caudilho latino-americano que Bolívar pretendia ser, de modo que o vazio de poder gerado pelo afastamento de um comando pessoal situado na Europa fosse preenchido por um novo comando pessoal de origem crioula, mudando assim a titularidade, mas não a substância do poder. Botana cita Bolívar defendendo seu projeto: ''''O presidente da república vem a ser em nossa Constituição como o sol que, firme em seu centro, dá vida ao universo.'''' Embora o libertador venezuelano confessasse sua fé republicana, ele quis retardar a criação de uma república autêntica na América Latina. Bolívar quis substituir o personalismo monárquico espanhol por um novo personalismo só aparentemente republicano. Por isso, o jurista argentino Juan Bautista Alberdi, ao alertar que a independência ''''externa'''' em relação à Espanha talvez não equivalesse à liberdade ''''interna'''' dos latino-americanos, perguntou angustiado: ''''Agora que nos libertamos da Espanha, quem nos libertará de nossos libertadores?'''' A RENÚNCIA Há dois modos de fundar um regime político. Um é prolongar indefinidamente o poder daquele que libertou o país de sua antiga dependência. Esse foi o método de Bolívar. O outro é abrir o jogo do poder a novos atores para que possibilitem a ''''liberdade interna'''' dos cidadãos. Esse foi o método de San Martín. Um método que, em vez de exaltar o libertador da antiga dependência, o levou à renúncia. Esse método não inaugura a exaltação passageira de um homem, e sim a longa vigência de um sistema. É que os fundadores de um sistema só o são quando vão embora. Temos exemplos ilustres na América. George Washington, o primeiro presidente da democracia americana, só fundou o sistema efetivamente quando, depois de exercer o poder por dois períodos sucessivos de quatro anos, entre 1789 e1797, decidiu retirar-se para sua fazenda. Foi a partir desse momento que os EUA iniciaram sua longa travessia republicana, em vigor há mais de dois séculos. Mas o exemplo de Washington não é o único na América. Em 1994, tendo ocupado a presidência do Chile por quatro anos depois da ditadura de Pinochet, Patricio Aylwin resistiu com firmeza às pressões para que mudasse a Constituição a fim de se reeleger. A atual república estável do Chile nasceu nesse momento de renúncia, já que, depois desse grande exemplo inaugural, nenhum sucessor de Aylwin buscou a reeleição imediata. O Chile de hoje é uma república autêntica porque nenhum ''''bolivariano'''' prevaleceu em suas origens. A fórmula da renúncia não pôde ser aplicada na Argentina enquanto o libertador ainda vivia, pois a ''''ditadura perpétua'''' de Juan Manuel de Rosas durou de 1829 a 1852. Mas logo após a aprovação da Constituição de Alberdi, que ainda rege o país, Justo José de Urquiza, o primeiro presidente constitucional, não buscou a reeleição. Em seguida veio a série dos grandes presidentes: Bartolomé Mitre, Domingo Sarmiento, Nicolás Avellaneda e Julio Roca. Nenhum deles almejou ser reeleito de imediato e só um, Roca, foi reeleito, depois de ficar afastado por dois períodos de seis anos. A Argentina do crescimento econômico ímpar do fim do século 19 e início do 20, em suma, não foi bolivariana, e sim sanmartiniana. BOLÍVAR VOLTOU? A Argentina de hoje continua sendo sanmartiniana? É lícito duvidar. O projeto de eleger um Kirchner no lugar do outro, em outubro, não seria uma pretensão de fundar uma ''''co-presidência perpétua'''' de natureza bolivariana? A que se deve o eclipse da tradição sanmartiniana argentina? É possível identificar duas causas dessa regressão institucional. Uma é a hostilidade dos Kirchners contra as Forças Armadas, que implica tirar de cena não só o maior general da história do país, mas também o herói contemporâneo que é o capitão Guillermo Tarapow, do navio Irízar. A outra é a influência assumidamente bolivariana do ditador venezuelano, Hugo Chávez, que voltou a visitar a Argentina na semana passada com suas mãos repletas. Quando Chávez se confessa bolivariano, quer duas coisas. Uma é homenagear, com justiça, um dos grandes libertadores latino-americanos. A outra é imitar o modelo bolivariano da presidência perpétua. A ambição do poder ilimitado, que em nossa América encontra máxima expressão em Chávez, coincide com a história recente argentina, já que, desde Juan Domingo Perón, a idéia da presidência perpétua ganhou espaço no país. Pouco depois de ser eleito presidente, em 1946, Perón promoveu uma reforma constitucional que incluía a reeleição indefinida do chefe de Estado. Seu exemplo foi seguido mais tarde por dois governos militares que buscaram um poder sem prazos: o de Juan Carlos Onganía em 1966 e o de Jorge Rafael Videla em 1976. Mas a Constituição de 1853 retornou com a democracia em 1983, até que Carlos Menem desejou e obteve, com o respaldo de Raúl Alfonsín, a reintrodução da reeleição imediata. Assim, quando Chávez impôs de novo a meta da presidência perpétua, encontrou uma Argentina politicamente predisposta. Uma Argentina, mais que sanmartiniana, bolivariana. E quanto aos Kirchners, quem se animaria a atribuir-lhes uma vocação sanmartiniana? Em Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, ganha espaço o personalismo autoritário que herdamos da Espanha e que nossa mãe pátria não obstante abandonou, depois da morte de Franco, em 1975, para se transformar, seguida por nações como Chile, México, Brasil e Uruguai, numa das democracias bem-sucedidas de nosso tempo.