Buscar

DIREITOS DOS MANOS PMAL

Prévia do material em texto

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
1 Conceito..............................................................................................................................................................................................................................01 
2 Evolução. ............................................................................................................................................................................................................................03 
3 Abrangência. .....................................................................................................................................................................................................................08 
4 Sistema de Proteção. .....................................................................................................................................................................................................08 
5 Convenção americana sobre direitos humanos (Pacto de São José e Decreto nº 678/1992). .....................................................20
1
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Prof. Ma. Bruna Pinotti Garcia Oliveira
Advogada e pesquisadora. Doutoranda em Direito, 
Estado e Constituição pela Universidade de Brasília – UNB. 
Mestre em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro 
Universitário Eurípides de Marília (UNIVEM) – bolsista 
CAPES. Professora de curso preparatório para concursos 
e universitária (Universidade Federal de Goiás – UFG e 
Faculdade do Noroeste de Minas – FINOM). Autora de 
diversos trabalhos científicos publicados em revistas 
qualificadas, anais de eventos e livros, notadamente na 
área do direito eletrônico, dos direitos humanos e do 
direito constitucional.
1 CONCEITO. 
Teoria geral dos direitos humanos é o estudo dos 
direitos humanos, desde os seus elementos básicos como 
conceito, características, fundamentação e finalidade, 
passando pela análise histórica e chegando à compreensão 
de sua estrutura normativa.
Na atualidade, a primeira noção que vem à mente 
quando se fala em direitos humanos é a dos documentos 
internacionais que os consagram, aliada ao processo de 
transposição para as Constituições Federais dos países 
democráticos. Contudo, é possível aprofundar esta noção 
se tomadas as raízes históricas e filosóficas dos direitos 
humanos, as quais serão abordadas em detalhes adiante, 
acrescentando-se que existem direitos inatos ao homem 
independentemente de previsão expressa por serem 
elementos essenciais na construção de sua dignidade. 
Logo, um conceito preliminar de direitos humanos pode 
ser estabelecido: direitos humanos são aqueles inerentes 
ao homem enquanto condição para sua dignidade que 
usualmente são descritos em documentos internacionais 
para que sejam mais seguramente garantidos. A conquista 
de direitos da pessoa humana é, na verdade, uma busca da 
dignidade da pessoa humana.
O direito natural se contrapõe ao direito positivo, 
localizado no tempo e no espaço: tem como pressuposto a 
ideia de imutabilidade de certos princípios, que escapam à 
história, e a universalidade destes princípios transcendem 
a geografia. A estes princípios, que são dados e não postos 
por convenção, os homens têm acesso através da razão 
comum a todos (todo homem é racional), e são estes 
princípios que permitem qualificar as condutas humanas 
como boas ou más, qualificação esta que promove uma 
contínua vinculação entre norma e valor e, portanto, entre 
Direito e Moral.1 
As premissas dos direitos humanos se encontram no 
conceito de lei natural. Lei natural é aquela inerente à 
humanidade, independentemente da norma imposta, e 
que deve ser respeitada acima de tudo. O conceito de lei 
1 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um 
diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das 
Letras, 2009.
natural foi fundamental para a estruturação dos direitos 
dos homens, ficando reconhecido que a pessoa humana 
possui direitos inalienáveis e imprescritíveis, válidos em 
qualquer tempo e lugar, que devem ser respeitados por 
todos os Estados e membros da sociedade. O direito 
natural é, então, comum a todos e, ligado à própria origem 
da humanidade, representa um padrão geral, funcionando 
como instrumento de validação das ordens positivas2.
O direito natural, na sua formulação clássica, não é um 
conjunto de normas paralelas e semelhantes às do direito 
positivo, e sim o fundamento deste direito positivo, sendo 
formado por normas que servem de justificativa a este, por 
exemplo: “deve se fazer o bem”, “dar a cada um o que lhe é 
devido”, “a vida social deve ser conservada”, “os contratos 
devem ser observados” etc.3 
Em literatura, destaca-se a obra do filósofo Sófocles4 
intitulada Antígona, na qual a personagem se vê em 
conflito entre seguir o que é justo pela lei dos homens 
em detrimento do que é justo por natureza quando o 
rei Creonte impõe que o corpo de seu irmão não seja 
enterrado porque havia lutado contra o país. Neste sentido, 
a personagem Antígona defende, ao ser questionada 
sobre o descumprimento da ordem do rei: “sim, pois não 
foi decisão de Zeus; e a Justiça, a deusa que habita com 
as divindades subterrâneas, jamais estabeleceu tal decreto 
entre os humanos; tampouco acredito que tua proclamação 
tenha legitimidade para conferir a um mortal o poder de 
infringir as leis divinas, nunca escritas, porém irrevogáveis; 
não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! 
E ninguém pode dizer desde quando vigoram! Decretos 
como o que proclamaste, eu, que não temo o poder de 
homem algum, posso violar sem merecer a punição dos 
deuses! [...]”.
O desrespeito às normas de direito natural - e porque 
não dizer de direitos humanos - leva à invalidade da norma 
que assim o preveja (Ex: autorizar a tortura para fins de 
investigação penal e processual penal não é simplesmente 
inconstitucional, é mais que isso, por ser inválida perante 
a ordem internacional de garantia de direitos naturais/
humanos uma norma que contrarie a dignidade inerente 
ao homem sob o aspecto da preservação de sua vida e 
integridade física e moral). 
Enfim, quando questões inerentes ao direito natural 
passam a ser colocadas em textos expressos tem-se a 
formação de um conceito contemporâneo de direitos 
humanos. Entre outros documentos a partir dos quais 
tal concepção começou a ganhar forma, destacam-se: 
Magna Carta de 1215, Bill of Rights ao final do século 
XVII e Constituições da Revolução Francesa de 1789 
e Americana de 1787. No entanto, o documento que 
constitui o marco mais significativo para a formação de 
uma concepção contemporânea de direitos humanos é a 
2 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um 
diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das 
Letras, 2009.
3 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direi-
to. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
4 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean Melville. 
São Paulo: Martin Claret, 2003.
2
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. Após 
ela, muitos outros documentos relevantes surgiram, como 
o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Pacto 
Internacional de Direitos Humanos, Sociais e Culturais, 
ambos de 1966, além da Convenção Interamericana de 
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) de 
1969, entre outros.
Os direitos humanos possuem as seguintes 
características principais:
1) Historicidade: os direitos humanos possuem 
antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos, 
adquirem novas perspectivas. Nesta característica se 
enquadra a noção de dimensões de direitos.
2) Universalidade: os direitos humanos pertencem a 
todos e por isso se encontram ligados a um sistema global 
(ONU), o que impede o retrocesso.
3) Inalienabilidade: os direitos humanosnão possuem 
conteúdo econômico-patrimonial, logo, são intransferíveis, 
inegociáveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o 
que evidencia uma limitação do princípio da autonomia 
privada.
4) Irrenunciabilidade: direitos humanos não podem 
ser renunciados pelo seu titular devido à fundamentalidade 
material destes direitos para a dignidade da pessoa humana.
5) Inviolabilidade: direitos humanos não podem deixar 
de ser observados por disposições infraconstitucionais ou 
por atos das autoridades públicas, sob pena de nulidades.
6) Indivisibilidade: os direitos humanos compõem 
um único conjunto de direitos porque não podem ser 
analisados de maneira isolada, separada.
7) Imprescritibilidade: os direitos humanos não se 
perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são 
sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela 
falta de uso (prescrição).
8) Complementaridade: os sistemas regionais 
descentralizam a ONU para respeitar a complementaridade, 
ou seja, os diferentes elementos de base cultural, religiosa 
e social das diversas regiões.
9) Interdependência: as dimensões de direitos 
humanos apresentam uma relação orgânica entre si, 
logo, a dignidade da pessoa humana deve ser buscada 
por meio da implementação mais eficaz e uniforme das 
liberdades clássicas, dos direitos sociais, econômicos e de 
solidariedade como um todo único e indissolúvel.
10) Efetividade: para dar efetividade aos direitos 
humanos a ONU se subdivide, isto é, o tratamento é global 
mas certas áreas irão cuidar de determinados direitos de 
suas regiões. Além disso, há uma descentralização para os 
sistemas regionais para preservar a complementaridade, 
sem a qual não há efetividade. Reflete tal característica a 
aplicabilidade imediata dos direitos humanos prevista no 
art. 5°, §1° da Constituição Federal.
11) Relatividade: o princípio da relatividade dos direitos 
humanos possui dois sentidos: por um, o multiculturalismo 
existente no globo impede que a universalidade se 
consolide plenamente, de forma que é preciso levar 
em consideração as culturas locais para compreender 
adequadamente os direitos humanos; por outro, os direitos 
humanos não podem ser utilizados como um escudo para 
práticas ilícitas ou como argumento para afastamento ou 
diminuição da responsabilidade por atos ilícitos, assim os 
direitos humanos não são ilimitados e encontram seus 
limites nos demais direitos igualmente consagrados como 
humanos.
A finalidade primordial dos direitos humanos é garantir 
que a dignidade do homem não seja violada, estabelecendo 
um rol de bens jurídicos fundamentais que merecem 
proteção inerentes, basicamente, aos direitos civis (vida, 
segurança, propriedade e liberdade), políticos (participação 
direta e indireta nas decisões políticas), econômicos 
(trabalho), sociais (igualdade material, educação, saúde 
e bem-estar), culturais (participação na vida cultural) e 
ambientais (meio ambiente saudável, sustentabilidade 
para as futuras gerações). Percebe-se uma proximidade 
entre os direitos humanos e os direitos fundamentais do 
homem, o que ocorre porque o valor da pessoa humana na 
qualidade de valor-fonte da ordem de vida em sociedade 
fica expresso juridicamente nestes direitos fundamentais 
do homem.
Finalizando o tópico, estuda-se a estrutura normativa 
dos direitos humanos. Na verdade, ela se assemelha com a 
estrutura normativa do próprio direito internacional, já que 
os direitos humanos designam notadamente os direitos 
afirmados universalmente em documentos internacionais, 
registrados perante organizações internacionais diversas.
A formação de uma estrutura normativa de 
direitos humanos pode ser remontada ao processo de 
internacionalização destes direitos, que é relativamente 
recente, remetendo-se ao pós-guerra enquanto resposta 
às atrocidades e aos terrores cometidos durante o nazismo, 
notadamente diante da lógica de destruição de Hitler e da 
descartabilidade da pessoa humana por ele pregada que 
gerou o extermínio de 11 milhões de pessoas, tudo com 
embasamento legal. Logo, se a Segunda Guerra Mundial 
foi uma ruptura com os direitos humanos, o pós-guerra 
foi o marco para o reencontro com estes5, consolidando-
se o processo de formação dos sistemas internacionais de 
proteção pouco a pouco. 
Os sistemas internacionais de proteção de direitos 
humanos se estabelecem no âmbito de organizações 
internacionais, conforme as regras e princípios de direito 
internacional. 
Globalmente, coexistem sistemas geral e especial 
de proteção de direitos humanos, que funcionam 
complementarmente. Nesta linha, o sistema especial realça 
o processo de especificação do sujeito de Direito, passando 
ele a ser visto em sua especificidade e concreticidade (ex: 
criança, grupos vulneráveis, mulher). Já o sistema geral é 
endereçado a toda e qualquer pessoa, concebida em sua 
abstração e generalidade. Não obstante, junto ao sistema 
normativo global existem os sistemas normativos regionais 
de proteção, internacionalizando direitos humanos no 
5 PIOVESAN, Flávia. Introdução ao sistema interamericano de 
proteção dos direitos humanos: a convenção americana de direitos 
humanos. In: GOMES, Luís Flávio; PIOVESAN, Flávia (Coord.). O siste-
ma interamericano de proteção dos direitos humanos e o direito 
brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
3
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
plano regional, notadamente Europa, América e África, 
cada qual com aparato jurídico próprio6. Tais sistemas 
coexistem de forma complementar, junto com o próprio 
sistema nacional de proteção (caráter interno). 
1) Sistema global de proteção: estabelece-se 
notadamente no âmbito da Organização das Nações Unidas, 
primeira e mais importante organização internacional no 
processo de internacionalização dos direitos humanos. 
Ela foi criada em 1945 para manter a paz e a segurança 
internacionais, bem como promover relações de amizade 
entre as nações, cooperação internacional e respeito aos 
direitos humanos7. Ao lado da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948, a Carta das Nações Unidas de 
1945 é considerada um dos principais marcos à concepção 
contemporânea de direitos humanos.
No entanto, muitos outros documentos compõem 
a estrutura normativa de proteção dos direitos humanos 
no âmbito global. Em destaque: Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos de 1966; Pacto Internacional dos 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; Estatuto 
de Roma de 1998; Convenção sobre a eliminação de todas 
as formas de discriminação contra a mulher de 1979; 
Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a 
Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos 
ou Degradantes de 1975; Convenção contra a Tortura 
e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes de 1984; Convenção Internacional sobre os 
Direitos da Criança de 1989; Convenção das Nações Unidas 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de 2006; 
Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos de 1955; 
etc. São inúmeros os documentos internacionais voltados à 
proteção dos direitos humanos, algum de caráter genérico, 
outros de caráter específico.
2) Sistema regional de proteção: os sistemas de 
proteção regionais mais consistentes são o interamericano 
e o europeu. O africano também, aos poucos, toma novos 
rumos, enquanto que o islamo-arábico permanece na total 
inefetividade. O Brasil faz parte do sistema interamericano 
de proteção de direitos humanos. 
A Carta da Organização dos Estados Americanos, que 
criou a Organização dos Estados Americanos, foi celebrada 
na IX Conferência Internacional Americana de 30 de abril 
de 1948, em Bogotá e entrou em vigência no dia 13 de 
dezembro de 1951, sendo reformada pelos protocolos de 
Buenos Aires (27 de fevereiro de 1967), de Cartagena das 
Índias (5 de dezembro de 1985), de Washington (14de 
dezembro de 1992) e de Manágua (10 de junho de 1993). 
Após a criação da OEA, foi elaborado o mais importante 
documento de proteção de direitos humanos no âmbito 
interamericano, o Pacto de San José da Costa Rica, 
também chamado de Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos, de 1969.
6 PIOVESAN, Flávia. Introdução ao sistema interamericano de 
proteção dos direitos humanos: a convenção americana de direitos 
humanos. In: GOMES, Luís Flávio; PIOVESAN, Flávia (Coord.). O siste-
ma interamericano de proteção dos direitos humanos e o direito 
brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
7 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público & 
Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
“O processo preparatório do chamado Pacto de 
San José teve presente a questão da coexistência e 
coordenação da nova Convenção regional com os 
instrumentos internacionais de direitos humanos das 
Nações Unidas. Com a entrada em vigor da Convenção, 
prevendo o estabelecimento de uma Comissão e uma 
Corte Interamericanas de Direitos Humanos, surgiram 
questões como a ‘transição’ entre o regime pré-existente e 
o da Convenção no tocante ao labor da Comissão”8. 
 Destacam-se, ainda, documentos regionais 
interamericanos voltados à proteção de determinados 
direitos humanos: Convenção interamericana para prevenir, 
punir e erradicar a violência contra a mulher de 1994, 
Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras 
de Deficiência de 1999, Convenção Interamericana para 
Prevenir e Punir a Tortura de 1985, etc.
3) Sistema nacional de proteção: o sistema interno 
de proteção dos direitos humanos se forma com a 
institucionalização destes direitos no texto das Constituições 
democráticas, bem como com a incorporação no âmbito 
interno dos tratados internacionais dos quais o país seja 
signatário, mediante o devido processo legal.
2 EVOLUÇÃO. 
O surgimento dos direitos humanos está envolvido 
num histórico complexo no qual pesaram vários fatores: 
tradição humanista, recepção do direito romano, senso 
comum da sociedade da Europa na Idade Média, tradição 
cristã, entre outros9. Com efeito, são muitos os elementos 
relevantes para a formação do conceito de direitos 
humanos tal qual perceptível na atualidade de forma que 
é difícil estabelecer um histórico linear do processo de 
formação destes direitos. Entretanto, é possível apontar 
alguns fatores históricos e filosóficos diretamente ligados à 
construção de uma concepção contemporânea de direitos 
humanos.
É a partir do período axial (800 a.C. a 200 a.C.), ou seja, 
mesmo antes da existência de Cristo, que o ser humano 
passou a ser considerado, em sua igualdade essencial, 
como um ser dotado de liberdade e razão. Surgiam assim 
os fundamentos intelectuais para a compreensão da 
pessoa humana e para a afirmação da existência de direitos 
universais, porque a ela inerentes. Durante este período 
que despontou a ideia de uma igualdade essencial entre 
todos os homens. Contudo, foram necessários vinte e 
8 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O sistema interame-
ricano de direitos humanos no limiar do novo século: recomendações 
para o fortalecimento de seu mecanismo de proteção. In: GOMES, Luís 
Flávio; PIOVESAN, Flávia (Coord.). O sistema interamericano de pro-
teção dos direitos humanos e o direito brasileiro. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2000.
9 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e Crítica 
Moderna. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII, n. 300, p. 
27-29, jul. 2009.
4
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
cinco séculos para que a Organização das Nações Unidas 
- ONU, que pode ser considerada a primeira organização 
internacional a englobar a quase-totalidade dos povos 
da Terra, proclamasse, na abertura de uma Declaração 
Universal dos Direitos Humanos de 1948, que “todos os 
homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”10.
No berço da civilização grega continuou a discussão a 
respeito da existência de uma lei natural inerente a todos 
os homens. As premissas da concepção de lei natural 
estão justamente na discussão promovida na Grécia 
antiga, no espaço da polis. Neste sentido, destaca Assis11 
que, originalmente, a concepção de lei natural está ligada 
não só à de natureza, mas também à de diké: a noção de 
justiça simbolizada a partir da deusa diké é muito ampla e 
abstrata, mas com a legislação passou a ter um conteúdo 
palpável, de modo que a justiça deveria corresponder às 
leis da cidade; entretanto, é preciso considerar que os 
costumes primitivos trazem o justo por natureza, que pode 
se contrapor ao justo por convenção ou legislação, devendo 
prevalecer o primeiro, que se refere ao naturalmente justo, 
sendo esta a origem da ideia de lei natural.
De início, a literatura grega trouxe na obra Antígona 
uma discussão a respeito da prevalência da lei natural sobre 
a lei posta. Na obra, a protagonista discorda da proibição 
do rei Creonte de que seu irmão fosse enterrado, uma vez 
que ele teria traído a pátria. Assim, enterra seu irmão e 
argumenta com o rei que nada do que seu irmão tivesse 
feito em vida poderia dar o direito ao rei de violar a regra 
imposta pelos deuses de que todo homem deveria ser 
enterrado para que pudesse partir desta vida: a lei natural 
prevaleceria então sobre a ordem do rei.12 
Os sofistas, seguidores de Sócrates (470 a.C. - 399 
a.C.), o primeiro grande filósofo grego, questionaram essa 
concepção de lei natural, pois a lei estabelecida na polis, 
fruto da vontade dos cidadãos, seria variável no tempo e no 
espaço, não havendo que se falar num direito imutável; ao 
passo que Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), que o sucedeu, 
estabeleceu uma divisão entre a justiça positiva e a natural, 
reconhecendo que a lei posta poderia não ser justa13.
Aristóteles14 argumenta: “lei particular é aquela que 
cada comunidade determina e aplica a seus próprios 
membros; ela é em parte escrita e em parte não escrita. A 
lei universal é a lei da natureza. Pois, de fato, há em cada 
um alguma medida do divino, uma justiça natural e uma 
injustiça que está associada a todos os homens, mesmo 
naqueles que não têm associação ou pacto com outro”.
Nesta linha, destaca-se o surgimento do estoicismo, 
doutrina que se desenvolveu durante seis séculos, desde 
os últimos três séculos anteriores à era cristã até os 
primeiros três séculos desta era, mas que trouxe ideias 
10 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos 
Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 
11 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça, 
liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002.
12 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean Melville. 
São Paulo: Martin Claret, 2003.
13 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça, 
liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002.
14 ARISTÓTELES. Retórica. Tradução Marcelo Silvano Madeira. 
São Paulo: Rideel, 2007. 
que prevaleceram durante toda a Idade Média e mesmo 
além dela. O estoicismo organizou-se em torno de algumas 
ideias centrais, como a unidade moral do ser humano e 
a dignidade do homem, considerado filho de Zeus e 
possuidor, como consequência, de direitos inatos e iguais 
em todas as partes do mundo, não obstante as inúmeras 
diferenças individuais e grupais15.
Influenciado pelos estóicos, Cícero (106 a.C. - 43 
a.C.), um dos principais pensadores do período da jovem 
república romana, também defendeu a existência de uma 
lei natural. Neste sentido é a assertiva de Cícero16: “a razão 
reta, conforme à natureza, gravada em todos os corações, 
imutável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta 
do mal que proíbe e, ora com seus mandados, ora com suas 
proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons, nem fica 
impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada, 
nem derrogada em parte,nem anulada; não podemos ser 
isentos de seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; 
não há que procurar para ela outro comentador nem 
intérprete; não é uma lei em Roma e outra em Atenas, - 
uma antes e outra depois, mas uma, sempiterna e imutável, 
entre todos os povos e em todos os tempos”. 
Com a queda do Império Romano, iniciou-se o período 
medieval, predominantemente cristianista. Um dos 
grandes pensadores do período, Santo Tomás de Aquino 
(1225 d.C. -1274 d.C.)17, supondo que o mundo e toda a 
comunidade do universo são regidos pela razão divina 
e que a própria razão do governo das coisas em Deus 
fundamenta-se em lei, entendeu que existe uma lei eterna 
ou divina, pois a razão divina nada concebe no tempo e é 
sempre eterna. Com base nisso, Aquino18 chamou de lei 
natural “a participação da lei eterna na lei racional”. Sobre 
o conteúdo da lei natural, definiu Aquino (2005, p. 562) 
que “todas aquelas coisas que devem ser feitas ou evitadas 
pertencem aos preceitos da lei de natureza, que a razão 
prática naturalmente apreende ser bens humanos”. Logo, 
a lei natural determina o agir virtuoso, o que se espera do 
homem em sociedade, independentemente da lei humana.
Com a concepção medieval de pessoa humana é que se 
iniciou um processo de elaboração em relação ao princípio 
da igualdade de todos, independentemente das diferenças 
existentes, seja de ordem biológica, seja de ordem cultural. 
Foi assim, então, que surgiu o conceito universal de direitos 
humanos, com base na igualdade essencial da pessoa19.
15 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos 
Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 
16 CÍCERO, Marco Túlio. Da República. Tradução Amador Cis-
neiros. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.
17 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução Aldo 
Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel García Rodrí-
guez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira. Edição 
Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. VI, parte II, seção II, ques-
tões 57 a 122.
18 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução Aldo 
Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel García Rodrí-
guez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira. Edição 
Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. VI, parte II, seção II, ques-
tões 57 a 122.
19 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos 
Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 
5
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
No processo de ascensão do absolutismo europeu, 
a monarquia da Inglaterra encontrou obstáculos para se 
estabelecer no início do século XIII, sofrendo um revés. 
Ao se tratar da formação da monarquia inglesa, em 1215 
os barões feudais ingleses, em uma reação às pesadas 
taxas impostas pelo Rei João Sem-Terra, impuseram-lhe 
a Magna Carta. Referido documento, em sua abertura, 
expõe a noção de concessão do rei aos súditos, estabelece 
a existência de uma hierarquia social sem conceder poder 
absoluto ao soberano, prevê limites à imposição de 
tributos e ao confisco, constitui privilégios à burguesia e 
traz procedimentos de julgamento ao prever conceitos 
como o de devido processo legal, habeas corpus e júri. 
Não que a carta se assemelhe a uma declaração de direitos 
humanos, principalmente ao se considerar que poucos 
homens naquele período eram de fato livres, mas ela foi 
fundamental naquele contexto histórico de falta de limites 
ao soberano20. A Magna Carta de 1215 instituiu ainda um 
Grande Conselho que foi o embrião para o Parlamento 
inglês, embora isto não signifique que o poder do rei não 
tenha sido absoluto em certos momentos, como na dinastia 
Tudor. Havia um absolutismo de fato, mas não de Direito.
Em geral, o absolutismo europeu foi marcado 
profundamente pelo antropocentrismo, colocando o 
homem no centro do universo, ocupando o espaço de 
Deus. Naturalmente, as premissas da lei natural passaram 
a ser questionadas, já que geralmente se associavam à 
dimensão do divino. A negação plena da existência de 
direitos inatos ao homem implicava em conferir um poder 
irrestrito ao soberano, o que gerou consequências que 
desagradavam a burguesia. 
O príncipe, obra de Maquiavel (1469 d.C. - 1527 d.C.) 
considerada um marco para o pensamento absolutista, 
relata com precisão este contexto no qual o poder 
do soberano poderia se sobrepor a qualquer direito 
alegadamente inato ao ser humano desde que sua atitude 
garantisse a manutenção do poder. Maquiavel21 considera 
“na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, 
contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios. 
Portanto, se um príncipe pretende conquistar e manter o 
poder, os meios que empregue serão sempre tidos como 
honrosos, e elogiados por todos, pois o vulgo atenta 
sempre para as aparências e os resultados”.
Os monarcas dos séculos XVI, XVII e XVIII agiam de 
forma autocrática, baseados na teoria política desenvolvida 
até então que negava a exigência do respeito à Ética, 
logo, ao direito natural, no espaço público. Somente 
num momento histórico posterior se permitiu algum 
resgate da aproximação entre a Moral e o Direito, qual 
seja o da Revolução Intelectual dos séculos XVII e XVIII, 
com o movimento do Iluminismo, que conferiu alicerce 
para as Revoluções Francesa e Industrial - ainda assim a 
visão antropocentrista permaneceu, mas começou a se 
consolidar a ideia de que não era possível que o soberano 
impusesse tudo incondicionalmente aos seus súditos. 
20 AMARAL, Sérgio Tibiriçá. Magna Carta: Algumas Contribui-
ções Jurídicas. Revista Intertemas: revista da Toledo. Presidente Pru-
dente, ano 09, v. 11, p. 201-227, nov. 2006. 
21 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nassetti. 
São Paulo: Martin Claret, 2007.
Com efeito, quando passou a se questionar o conceito 
de Soberano, ao qual todos deveriam obediência mas 
que não deveria obedecer a ninguém. Indagou-se se os 
indivíduos que colocaram o Soberano naquela posição 
(pois sem povo não há Soberano) teriam direitos no regime 
social e, em caso afirmativo, quais seriam eles. As respostas 
a estas questões iniciam uma visão moderna do direito 
natural, reconhecendo-o como um direito que acompanha 
o cidadão e não pode ser suprimido em nenhuma 
circunstância.22
Antes que despontassem as grandes revoluções que 
interromperam o contexto do absolutismo europeu, na 
Inglaterra houve uma árdua discussão sobre a garantia 
das liberdades pessoais, ainda que o foco fosse a proteção 
do clero e da nobreza. Quando a dinastia Stuart tentou 
transformar o absolutismo de fato em absolutismo de 
direito, ignorando o Parlamento, este impôs ao rei a 
Petição de Direitos de 1948, que exigia o cumprimento da 
Magna Carta de 1215. Contudo, o rei se recusou a fazê-
lo, fechando por duas vezes o Parlamento, sendo que a 
segunda vez gerou uma violenta reação que desencadeou 
uma guerra civil. Após diversas transições no trono inglês, 
despontou a Revolução Gloriosa que durou de 1688 até 
1689, conferindo-se o trono inglês a Guilherme de Orange, 
que aceitou a Declaração de Direitos - Bill of Rights.
Todo este movimento resultou, assim, nas garantias 
expressas do habeas corpus e do Bill of Rights de 1698. 
Por sua vez, a instituição-chave para a limitação do poder 
monárquico e para garantia das liberdades na sociedade 
civil foi o Parlamento e foi a partir do Bill of Rights britânico 
que surgiu a ideia de governo representativo, ainda que não 
do povo, mas pelo menos de suas camadas superiores23. 
Tais ideias liberais foram importantes como base para 
o Iluminismo, que se desencadeou por toda a Europa. 
Destaca-se que quando isso ocorreu, em meados do 
século XVIII, se dava o advento do capitalismo em sua 
fase industrial. O processo de formação do capitalismo e 
a ascensão da burguesia trouxeram implicações profundas 
no campo teórico, gerando o Iluminismo.
O Iluminismo lançou basepara os principais eventos 
que ocorreram no início da Idade Contemporânea, quais 
sejam as Revoluções Francesa, Americana e Industrial. 
Tiveram origem nestes movimentos todos os principais 
fatos do século XIX e do início do século XX, por exemplo, 
a disseminação do liberalismo burguês, o declínio das 
aristocracias fundiárias e o desenvolvimento da consciência 
de classe entre os trabalhadores24.
Jonh Locke (1632 d.C. - 1704 d.C.) foi um dos pensadores 
da época, transportando o racionalismo para a política, 
refutando o Estado Absolutista, idealizando o direito de 
rebelião da sociedade civil e afirmando que o contrato 
22 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e Crítica 
Moderna. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII, n. 300, p. 
27-29, jul. 2009.
23 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos 
Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 
24 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: 
do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert 
E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
6
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
entre os homens não retiraria o seu estado de liberdade. 
Ao lado dele, pode ser colocado Montesquieu (1689 d.C. 
- 1755 d.C.), que avançou nos estudos de Locke e na obra 
O Espírito das Leis estabeleceu em definitivo a clássica 
divisão de poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. 
Por fim, merece menção o pensador Rousseau (1712 d.C. 
- 1778 d.C.), defendendo que o homem é naturalmente 
bom e formulando na obra O Contrato Social a teoria 
da vontade geral, aceita pela pequena burguesia e pelas 
camadas populares face ao seu caráter democrático. Enfim, 
estes três contratualistas trouxeram em suas obras as ideias 
centrais das Revoluções Francesa e Americana. Em comum, 
defendiam que o Estado era um mal necessário, mas que 
o soberano não possuía poder divino/absoluto, sendo suas 
ações limitadas pelos direitos dos cidadãos submetidos ao 
regime estatal. No entanto, Rousseau era o pensador que 
mais se diferenciava dos dois anteriores, que eram mais 
individualistas e trouxeram os principais fundamentos do 
Estado Liberal, porque defendia a entrega do poder a quem 
realmente estivesse legitimado para exercê-lo, pensamento 
que mais se aproxima da atual concepção de democracia.
1) O primeiro grande movimento desencadeado foi a 
Revolução Americana. Em 1776 se deu a independência das 
treze Colônias da América Continental Britânica, registrada 
na Declaração de Direitos do Homem e, posteriormente, 
na Declaração de Independência. Após diversas batalhas, 
a Inglaterra reconheceu a independência em 1783. 
Destacam-se alguns pontos do primeiro documento: o 
artigo I do referido documento assegura a igualdade de 
todos de maneira livre e independente, considerando esta 
como um direito inato; o artigo II estabelece que o poder 
pertence ao povo e que o Estado é responsável perante 
ele; o artigo V prevê a separação dos poderes e o artigo VI 
institui a realização de eleições diretas, necessariamente. A 
declaração americana estava mais voltada aos americanos 
do que à humanidade, razão pela qual a Revolução 
Francesa costuma receber mais destaque num cenário 
histórico global.
2) Já a Revolução Francesa decorreu da incapacidade 
do governo de resolver sua crise financeira, ascendendo 
com isso a classe burguesa (sans-culottes), sendo o primeiro 
evento de tal ascensão a Queda da Bastilha, em 14 de julho 
de 1789, seguida por outros levantes populares. Derrubados 
os privilégios das classes dominantes, a Assembleia se 
reuniu para o preparo de uma carta de liberdades, que veio 
a ser a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.25
Entre outras noções, tal documento previu: a liberdade 
e igualdade entre os homens quanto aos seus direitos 
(artigo 1º), a necessidade de conservação dos seus 
direitos naturais, quais sejam a liberdade, a propriedade, a 
segurança e a resistência à opressão (artigo 2º); a limitação 
do direito de liberdade somente por lei (artigo 4º); o 
princípio da legalidade (artigo 7º); o princípio da inocência 
(artigo 9º); a manifestação livre do pensamento (artigos 10 
e 11); e a necessária separação de poderes (artigo 16).
25 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: 
do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert 
E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
3) Por sua vez, a Revolução Industrial, que começou na 
Inglaterra, criou o sistema fabril, o que reformulou a vida 
de homens e mulheres pelo mundo todo, não só pelos 
avanços tecnológicos, mas notadamente por determinar o 
êxodo de milhões de pessoas do interior para as cidades. 
Os milhares de trabalhadores se sujeitavam a jornadas 
longas e desgastantes, sem falar nos ambientes insalubres 
e perigosos, aos quais se sujeitavam inclusive as crianças. 
Neste contexto, surgiu a consciência de classe26, lançando-
se base para uma árdua luta pelos direitos trabalhistas.
Fato é que quanto maior a autonomia de vontade - 
buscada nas revoluções anteriores - melhor funciona o 
mercado capitalista, beneficiando quem possui maior 
número de bens. Assim, a classe que detinha bens, qual seja 
a burguesia, ampliou sua esfera de poder, enquanto que o 
proletariado passou a ser vítima do poder econômico. No 
Estado Liberal, aquele que não detém poder econômico 
fica desprotegido. O indivíduo da classe operária sozinho 
não tinha defesa, mas descobriu que ao se unir com outros 
em situação semelhante poderia conquistar direitos. Para 
tanto, passaram a organizar greves.
Nasceu, assim, o direito do trabalho, voltado à 
proteção da vítima do poder econômico, o trabalhador. 
Parte-se do princípio da hipossuficiência do trabalhador, 
que é o princípio da proteção e que gerou os princípios 
da primazia, da irredutibilidade de vencimentos e outros. 
Nota-se que no campo destes direitos e dos demais direitos 
econômicos, sociais e culturais não basta uma postura do 
indivíduo: é preciso que o Estado interfira e controle o 
poder econômico.
Entre os documentos relevantes que merecem menção 
nesta esfera, destacam-se: Constituição do México de 
1917, Constituição Alemã de Weimar de 1919 e Tratado 
de Versalhes de 1919, sendo que o último instituiu a 
Organização Internacional do Trabalho - OIT (que emitia 
convenções e recomendações) e pôs fim à Primeira Guerra 
Mundial.
No final do século XIX e no início de século XX, 
o mundo passou por variadas crises de instabilidade 
diplomática, posto que vários países possuíam condições 
suficientes para se sobreporem sobre os demais, resultado 
dos avanços tecnológicos e das melhorias no padrão de 
vida da sociedade. Neste contexto, surgiram condições 
para a eclosão das duas Guerras Mundiais, eventos que 
alteraram o curso da história da civilização ocidental. Entre 
estas, destaca-se a Segunda Guerra Mundial, cujos eventos 
foram marcados pela desumanização: todos com o devido 
respaldo jurídico perante o ordenamento dos países que 
determinavam os atos. A teoria jurídica que conferiu 
fundamento a um Direito que aceitasse tantas barbáries, 
sem perder a sua validade, foi o Positivismo que teve como 
precursor Hans Kelsen, com a obra Teoria Pura do Direito.
26 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: 
do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert 
E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
7
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
No entender de Kelsen27, a justiça não é a característica 
que distingue o Direito das outras ordens coercitivas 
porque é relativo o juízo de valor segundo o qual uma 
ordem pode ser considerada justa. Percebe-se que a Moral 
é afastada como conteúdo necessário do Direito, já que a 
justiça é o valor moral inerente ao Direito.
.A Segunda Guerra Mundial chegou ao fim somente 
em 1945, após uma sucessãode falhas alemãs, que 
impediram a conquista de Moscou, desprotegeram a Itália 
e impossibilitaram o domínio da região setentrional da 
Rússia (produtora de alimentos e petróleo). Já o evento 
que culminou na rendição do Japão foi o lançamento das 
bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. O mundo 
somente tomou conhecimento da extensão da tirania 
alemã quando os exércitos Aliados abriram os campos de 
concentração na Alemanha e nos países por ela ocupados, 
encontrando prisioneiros famintos, doentes e brutalizados, 
além de milhões de corpos dos judeus, poloneses, russos, 
ciganos, homossexuais e traidores do Reich em geral, que 
foram perseguidos, torturados e mortos28.
Vale ressaltar a constituição de um órgão que foi 
o responsável por redigir o primeiro documento de 
relevância internacional abrangendo a questão dos direitos 
humanos. Em 26 de junho de 1945 foi assinada a carta de 
organização das Nações Unidas, que tem por fundamento 
o princípio da igualdade soberana de todos os estados 
que buscassem a paz, possuindo uma Assembleia Geral, 
um Conselho de Segurança, uma Secretaria, em Conselho 
Econômico e Social, um Conselho de Mandatos e um 
Tribunal Internacional de Justiça29.
Entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 
1946 realizou-se o Tribunal de Nuremberg, ao qual foram 
submetidos a julgamento os principais líderes nazistas, 
o principal argumento levantado foi o de que todas as 
ações praticadas foram baseadas em ordens superiores, 
todas dotadas de validade jurídica perante a Constituição. 
Explica Lafer30: “No plano do Direito, uma das maneiras 
de assegurar o primado do movimento foi o amorfismo 
jurídico da gestão totalitária. Este amorfismo reflete-
se tanto em matéria constitucional quanto em todos os 
desdobramentos normativos. A Constituição de Weimar 
nunca foi ab-rogada durante o regime nazista, mas a lei 
de plenos poderes de 24 de março de 1933 teve não só o 
efeito de legalizar a posse de Hitler no poder como o de 
legalizar geral e globalmente as suas ações futuras. Dessa 
maneira, como apontou Carl Schmitt - escrevendo depois 
da II Guerra Mundial -, Hitler foi confirmado no poder, 
tornando-se a fonte de toda legalidade positiva, em virtude 
27 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução João 
Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
28 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: 
do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert 
E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
29 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: 
do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert 
E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
30 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um 
diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das 
Letras, 2009.
de uma lei do Parlamento que modificou a Constituição. 
Também a Constituição stalinista de 1936, completamente 
ignorada na prática, nunca foi abolida”.
No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das 
Nações Unidas elaborou a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. Um dos principais pensadores que contribuiu 
para a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 
foi Maritain31, que entendia que os direitos humanos da 
pessoa como tal se fundamentam no fato de que a pessoa 
humana é superior ao Estado, que não pode impor a ela 
determinados deveres e nem retirar dela alguns direitos, 
por ser contrário à lei natural. Em suma, para o filósofo 
o homem ético é fiel aos valores da verdade, da justiça e 
do amor, e segue a doutrina cristã para determinar seus 
atos: tais elementos determinam o agir moral e levam à 
produção do bem na sociedade humanista integral.
Moraes32 lembra que a Declaração de 1948 foi a mais 
importante conquista no âmbito dos direitos humanos 
fundamentais em nível internacional, muito embora o 
instrumento adotado tenha sido uma resolução, não 
constituindo seus dispositivos obrigações jurídicas dos 
Estados que a compõem. O fato é que desse documento 
se originaram muitos outros, nos âmbitos nacional e 
internacional, sendo que dois deles praticamente repetem 
e pormenorizam o seu conteúdo, quais sejam: o Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 
ambos de 1966. 
Ainda internacionalmente, após os pactos mencionados, 
vários tratados internacionais surgiram. Nesta linha, 
Piovesan33 apontou os seguintes documentos: Convenção 
Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de 
Discriminação Racial, Convenção sobre a Eliminação 
de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, 
Convenção sobre os Direitos da Criança, Convenção sobre 
os Direitos das Pessoas com Deficiência, Convenção contra 
a Tortura, etc. 
Ao lado do sistema global surgiram os sistemas 
regionais de proteção, que buscam internacionalizar 
os direitos humanos no plano regional, em especial na 
Europa, na América e na África34. Resultou deste processo a 
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São 
José da Costa Rica) de 1969. 
No âmbito nacional, destacam-se as positivações nos 
textos das Constituições Federais. Afinal, como explica 
Lafer35, a afirmação do jusnaturalismo moderno de um 
31 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei natural. 
3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967. 
32 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: 
teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 
1997.
33 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Consti-
tucional Internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
34 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Consti-
tucional Internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
35 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um 
diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das 
Letras, 2009.
8
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
direito racional, universalmente válido, gerou implicações 
relevantes na teoria constitucional e influenciou o processo 
de codificação a partir de então. Embora muitos direitos 
humanos também se encontrem nos textos constitucionais, 
aqueles não positivados na Carta Magna também possuem 
proteção porque o fato de este direito não estar assegurado 
constitucionalmente é uma ofensa à ordem pública 
internacional, ferindo o princípio da dignidade humana. 
3 ABRANGÊNCIA. 
Conforme evoluíram as chamadas dimensões dos 
direitos humanos tais bens jurídicos fundamentais 
adquiriram novas vertentes, saindo de uma noção 
individualista e chegando a uma coletiva, de modo 
que a própria finalidade dos direitos humanos adquiriu 
nova compreensão, deixando de ser preservar apenas 
o indivíduo e passando a envolver a manutenção da 
sociedade sustentável. A teoria das dimensões de direitos 
humanos foi identificada por Karel Vasak. 
É pacífico que as três primeiras dimensões de direitos 
humanos envolvem: 1) direitos civis e políticos (LIBERDADE); 
2) direitos sociais, econômicos e culturais (IGUALDADE 
MATERIAL); 3) direitos ambientais e de solidariedade 
(FRATERNIDADE). Destaca-se que as três primeiras 
dimensões de direitos remetem ao lema da Revolução 
Francesa: «Liberdade, igualdade, fraternidade». 
Em relação à primeira dimensão de direitos, inicialmente, 
denota-se a afirmação dos direitos de liberdade, referente 
aos direitos que tendem a limitar o poder estatal e reservar 
parcela dele para o indivíduo (liberdade em relação ao 
Estado), sendo que posteriormente despontam os direitos 
políticos, relativos às liberdades positivas no sentido 
de garantir uma participação cada vez mais ampla dos 
indivíduos no poder político (liberdade no Estado). Os 
dois movimentos que levaram à afirmação dos direitos 
de primeira dimensão,que são os direitos de liberdade e 
os direitos políticos, foram a Revolução Americana, que 
culminou na Declaração de Virgínia (1776), e a Revolução 
Francesa, cujo documento essencial foi a Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão (1789)36.
Quanto à segunda dimensão, foram proclamados 
os direitos sociais, expressando o amadurecimento das 
novas exigências como as de bem-estar e igualdade 
material (liberdade por meio do Estado). Durante a 
Revolução Industrial tomaram proporção os direitos de 
segunda dimensão, que são os direitos sociais, refletindo 
a busca do trabalhador por condições dignas de trabalho, 
remuneração adequada, educação e assistência social em 
caso de invalidez ou velhice, garantindo o amparo estatal à 
parte mais fraca da sociedade.37
36 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso La-
fer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
37 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso La-
fer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
Ao lado dos direitos sociais, chamados de segunda 
geração, emergiram os chamados direitos de terceira 
geração, que constituem uma categoria ainda heterogênea 
e vaga, mas que concentra na reivindicação do direito de 
viver num ambiente sem poluição.38
A doutrina não é pacífica no que tange à definição de 
dimensões posteriores de direitos humanos. Para Bobbio39 
- e a maioria da doutrina - os chamados direitos de quarta 
dimensão se referem aos efeitos traumáticos da evolução 
da pesquisa biológica, que permitirá a manipulação do 
patrimônio genético do indivíduo de modo cada vez 
mais intenso; enquanto que Bonavides40 defende que são 
de quarta dimensão os direitos inerentes à globalização 
política. Bonavides41 também diverge ao falar de uma 
quinta dimensão composta pelo direito à paz, o qual foi 
colocado por Vasak na terceira dimensão. Autores do 
direito eletrônico como Peck42 e Olivo43 entendem que ele 
seria a quinta dimensão dos direitos humanos, envolvendo 
o direito de acesso e convivência num ambiente salutar no 
ciberespaço.
Em resumo, as dimensões de direitos humanos se 
referem às mudanças de paradigmas quanto aos bens 
jurídicos que deveriam ser considerados fundamentais 
ao homem. Embora todo direito humano seja imutável, 
isso não significa que o processo interpretativo não possa 
evoluir e, com isso, se reconhecer que um novo aspecto da 
dignidade humana merece ampla proteção. 
4 SISTEMA DE PROTEÇÃO. 
Organização das Nações Unidas
A Organização das Nações Unidas funda-se em 
ideário muito diferente daquele da Liga das Nações, pois 
se percebeu que o estabelecimento de uma organização 
internacional restrita a países vitoriosos, prejudicando 
de maneira notável os perdedores, poderia servir de 
motivação para outros incidentes contrários à paz 
mundial, a exemplo do que foi a Segunda Grande Guerra.
No ano de 1944, em Dumbarton Oaks, realizou-se 
uma conferência visando constituir a nova organização, 
preparando-se proposições iniciais a respeito dela. Em 
fevereiro de 1945, Churchill, Stalin e Roosevelt resolveram os 
últimos pontos a respeito da nova organização, decidindo-
38 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso La-
fer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
39 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso La-
fer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
40 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. 
ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
41 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. 
ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
42 PECK, Patrícia. Direito digital. São Paulo: Saraiva, 2002.
43 OLIVO, Luís Carlos Cancellier de. Os “novos” direitos en-
quanto direitos públicos virtuais na sociedade da informação. In: 
WOLKMER, Antônio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Os “no-
vos” direitos no Brasil: natureza e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 
2003.
9
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
se, ainda, pela convocação de uma conferência na cidade 
de São Francisco no dia 25 de abril do mesmo ano. A 
Conferência de São Francisco, oficialmente denominada 
Conferência das Nações Unidas para a Organização 
Internacional, estava aberta às Nações Unidas que lutaram 
contra as potências do Eixo (Japão, Itália e Alemanha).
“O novo organismo somente seria eficaz caso contasse 
com a aprovação das grandes potências. No entanto, ele 
não poderia restringir-se tão somente aos grandes Estados, 
pois seria o oposto ao espírito universalista apresentado 
como base da nova organização internacional”44. Afinal, a 
experiência da Liga das Nações já havia mostrado que sem 
uma verdadeira cooperação internacional e sem a garantia 
de participação do maior número de países do globo a 
nova Organização estaria fadada ao insucesso.
“Até a fundação das Nações Unidas, em 1945, não era 
seguro afirmar que houvesse, em Direito Internacional 
Público, preocupação consciente e organizada sobre o 
tema dos direitos humanos. De longa data alguns tratados 
avulsos cuidaram, incidentalmente, de proteger certas 
minorias dentro do contexto de sucessão de Estados”45.
A Carta da ONU entrou em vigor no dia 24 de outubro 
de 1945 quando efetuado o depósito dos instrumentos 
de ratificação dos membros permanentes do Conselho 
de Segurança e da maioria dos outros signatários. Após, 
muitos países ingressaram na ONU. Por isso, os membros 
podem ser divididos entre originários e admitidos, não 
havendo diferenças entre direitos e deveres em relação a 
eles46.
Assim, a Organização das Nações Unidas foi criada em 
1945 para manter a paz e a segurança internacionais, 
bem como promover relações de amizade entre as 
nações, cooperação internacional e respeito aos direitos 
humanos. A Carta da ONU também é chamada de Carta de 
São Francisco, uma vez que foi elaborada na Conferência 
de São Francisco.
1) Igualdade entre os membros
Dos artigos 3º e 4º da Carta da ONU extrai-se a 
distinção entre os membros originários, quais sejam os 
que participaram da Conferência das Nações Unidas 
sobre a Organização Internacional em 1945 ou assinaram 
a Declaração das Nações Unidas de 1942, e os membros 
aceitos, isto é, os que se comprometerem à obrigações 
da Carta e forem aceitos pela Assembleia Geral após 
recomendação do Conselho de Segurança.
Não há qualquer distinção entre tais membros, uma vez 
que o art. 2º da Carta consolida o princípio da igualdade 
entre todos os membros, de modo que cada membro 
das Nações Unidas tem a obrigação de respeitar todas 
as diretivas da Carta de 1945 com boa-fé e de solucionar 
suas controvérsias internacionais prioritariamente de modo 
pacífico47.
44 SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações interna-
cionais. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 128.
45 REZEK, J. F. Direito Internacional Público: curso elementar. 
8. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 210.
46 Ibid., p. 624.
47 O mesmo artigo 2º traz interessante regra no artigo 6º: 
O descumprimento dos preceitos da Carta pode gerar 
suspensão ou, nos casos mais graves, expulsão, mediante 
recomendação do Conselho de Segurança à Assembleia 
Geral, conforme artigos 5º e 6º, embora nunca tenham 
ocorrido na prática nenhuma das hipóteses.
2) Estrutura
Os principais órgãos das Nações Unidas são: Assembleia 
Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e 
Social, Conselho de Tutela, Corte Internacional de Justiça e 
Secretariado (art. 7º, Carta ONU). Um olhar para a estrutura 
da ONU permite observar que ao mesmo tempo em que 
ela possui um órgão com participação de todos os Estados 
- mas com possibilidade restrita de intervenção de um só 
país ou um pequeno grupo de países em outro, qual seja a 
Assembleia Geral -, possui também outro órgão composto 
pelos ditos Estados mais poderosos, que se sagraram 
vencedores na Segunda Guerra Mundial, possuindo 
cargo permanente e poder de veto nas decisões tomadas 
pela Assembleia desde que versemsobre questões de 
segurança - embora apurar o que são estas questões seja 
algo subjetivo -, qual seja o Conselho de Segurança.
2.1) Assembleia Geral
Todos os membros das Nações Unidas fazem parte 
da Assembleia Geral e cada qual pode designar até cinco 
representantes (art. 9º, Carta ONU). Isso não significa 
que cada membro possa votar cinco vezes, pois a Carta é 
expressa no sentido de que cada qual possui um voto (art. 
18, Carta ONU).
Não foi automaticamente que a ONU adquiriu 
membros o suficiente para se caracterizar como uma 
organização universal. De início, muitos países foram 
barrados, notadamente pelo constante uso do poder de 
veto ao ingresso de novos membros pela União Soviética. 
Era fácil justificar o veto, pois os requisitos para ingresso na 
ONU são bastante subjetivos: ser amante da paz, aceitar 
formalmente as obrigações decorrentes da Carta, estar 
capacitado para cumprir tais obrigações e demonstrar estar 
disposto a fazê-lo.
O quórum de votação é de 2/3 dos membros presentes 
e votantes para as questões importantes, ao passo que as 
demais questões são decididas pela maioria dos presentes 
e votantes. Em resumo, as questões importantes se 
referem às recomendações relativas à paz e à segurança, 
a quaisquer questões que envolvam a eleição de membros 
(para compor Conselhos, admissão, suspensão e expulsão), 
ao funcionamento do sistema de tutela e ao orçamento 
(art. 18, Carta ONU).
A competência para discussão dentro da Assembleia 
Geral é ampla, pois podem deliberar e fazer recomendações 
sobre “quaisquer questões ou assuntos que estiverem 
“A Organização fará com que os Estados que não são Membros das 
Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto 
for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais”. 
Trata-se de um dos poucos casos em que um tratado tem efeito em 
relação aos terceiros Estados, como adverte Celso D. de Albuquerque 
Mello (Op. Cit., p. 636). Tal regra perde importância se considerado 
que atualmente praticamente todos os países soberanos do globo fa-
zem parte das Nações Unidas.
10
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
dentro das finalidades da presente Carta ou que se 
relacionarem com as atribuições e funções de qualquer 
dos órgãos nela previstos”, ressalvada a possibilidade 
de fazer tais recomendações quando o Conselho de 
Segurança estiver apreciando a mesma matéria (art. 10 
c.c. art. 12, Carta ONU)48. Tais recomendações podem ser 
dirigidas aos membros das Nações Unidas, a eventuais 
Estados interessados e ao Conselho de Segurança (art. 
11, Carta ONU). Nas recomendações poderão constar 
medidas que a Assembleia Geral entenda necessárias para 
a solução pacífica de qualquer situação no âmbito de sua 
competência (art. 13 c.c. art. 14, Carta ONU).
São atribuições exclusivas deste órgão, segundo 
Mello49, “a) eleger os membros não permanentes do 
Conselho de segurança e os membros dos Conselhos de 
Tutela e Econômico e Social; b) votar o orçamento da ONU; 
c) aprovar os acordos de tutela; d) autorizar os organismos 
especializados a solicitarem pareceres à CIJ; e) coordenar as 
atividades desses organismos”.
Além disso, a Assembleia Geral também tem 
competência para o recebimento e o exame de relatórios 
do Conselho de Segurança e dos demais órgãos das Nações 
Unidas (art. 15, Carta ONU).
Este órgão se reúne ordinariamente uma vez ao ano, 
mas é possível realizar convocações extraordinárias (art. 20, 
Carta ONU), logo, não é um órgão permanente, mas sim 
temporário.
2.2) Conselho de Segurança
O Conselho de Segurança é composto por quinze 
Membros das Nações Unidas, sendo 5 permanentes 
(China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos) e 
dez não permanentes, eleitos pela Assembleia Geral para 
um mandato de 2 anos, cada qual contando com um 
representante (art. 23, Carta ONU) que terá direito a um 
voto.
Há um alto grau político nas decisões que emanam do 
Conselho de Segurança, as quais afetam diretamente as 
relações internacionais dos Estados-membros em termos 
de guerra e paz. 
O quorum para votação é diverso daquele da 
Assembleia Geral. Enquanto questões processuais, menos 
importantes, são tomadas pelo voto afirmativo de 9 
membros, ao passo que nas demais questões é preciso que 
destes 9 votos 5 sejam dos membros permanentes. Logo, 
se um membro permanente votar contra impede que a 
decisão seja tomada pelo Conselho de Segurança (instituto 
do veto). Principalmente por isso que se algum membro 
for parte da controvérsia deverá se abster de votar (art. 27, 
Carta ONU).
O Conselho age em nome dos demais membros da ONU 
em prol da manutenção da paz e da segurança mundiais, 
submetendo relatórios anuais à Assembleia Geral (art. 24, 
Carta ONU). Por isso mesmo tem uma competência bastante 
ampla, notadamente quando o assunto perpassa por 
questões como guerras, conflitos armados e desarmamento: 
48 Evidente que muitas das questões apreciadas pela Assem-
bleia Geral podem ter estrita relação com direitos humanos.
49 MELLO, Celso D. de Albuquerque... Op. Cit. p. 630.
pode convidar partes para resolver controvérsias de forma 
pacífica (art. 33, Carta ONU), “investigar sobre qualquer 
controvérsia ou situação suscetível de provocar atritos 
entre as Nações ou dar origem a uma controvérsia” (art. 
34, Carta ONU), fazer recomendações às partes buscando 
uma solução pacífica (art. 38, Carta ONU), determinar “a 
existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou 
ato de agressão” e recomendar medidas definitivas ou 
provisórias (art. 39 c.c. art. 40, Carta ONU) e decidir sobre 
o emprego de força (artigos 43 e 44, Carta ONU)50. Neste 
sentido, Mello51 aponta que são suas atribuições exclusivas: 
“a) ação nos casos de ameaça à paz; b) aprova e controla a 
tutela estratégica; c) execução forçada das decisões da CIJ”.
As reuniões são realizadas periodicamente, funcionando 
o Conselho de forma contínua (art. 28, Carta ONU), logo, 
trata-se de órgão permanente da ONU.
2.3) Conselho Econômico e Social
É composto por 54 membros, cada qual com um 
representante, eleitos pela Assembleia Geral, os quais 
anualmente são substituídos em parte, pois anualmente é 
feita eleição para parcela das vagas com mandato de 3 anos 
(art. 61, Carta ONU). Cada representante terá direito a um 
voto e as decisões são tomadas pela maioria dos membros 
presentes e votantes (art. 67, Carta ONU).
Entre suas funções está a elaboração de estudos 
e relatórios sobre assuntos internacionais de caráter 
econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, 
notadamente no que tange ao “respeito e a observância dos 
direitos humanos e das liberdades fundamentais”, fazendo 
recomendações e efetuando consultas à Assembleia 
Geral e entidades especializadas, preparando projetos 
de convenções e convocando conferências (artigos 62 
e 63, Carta ONU). Cabe, ainda, fornecer informações ao 
Conselho de Segurança quando requisitadas (art. 65, Carta 
ONU) e cumprir determinações da Assembleia Geral (art. 
66, Carta ONU).
Destaca-se o art. 68 da Carta ONU, pelo qual cabe ao 
Conselho Econômico e Social criar comissões para proteção 
dos direitos humanos e demais assuntos econômicos 
e sociais. Devido ao disposto neste artigo foi criada a 
Comissão de Direitos Humanos, que no ano de 2006 deu 
lugar ao Conselho de Direitos Humanos, que será estudado 
em detalhes posteriormente.
Os interlocutores da ECOSOC integram um complexo 
sistema de relações, ante ao seu vasto leque de competências 
que leva à criação de inúmeros órgãos subsidiários (a 
rigor, somente questões estritamente políticas não são de 
sua competência). No entanto, a ECOSOC não possui um 
instrumento, material ou jurídico, para impor suas decisões, 
de forma que apenas sugere políticas e obrigações não 
coativas.
2.4) Conselho de Tutela
Vincula-se ao Sistema Internacional de Tutela, pelo 
qualterritórios podem ser colocados sob tutela quando: 
estiverem sob mandato, puderem ser separados de Estados 
50 Indiretamente, matérias em debate no Conselho de Segu-
rança podem atingir direitos humanos.
51 Ibid.. p. 627.
11
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
inimigos em virtude da Segunda Guerra Mundial ou 
forem voluntariamente colocados em tal posição por seus 
administradores (art. 77, Carta ONU).
Pelo que se extrai do art. 76 da Carta ONU, a finalidade 
da tutela é fazer com que o território passe a respeitar 
e adotar os ditames das Nações Unidas. A exemplo, 
praticamente todos os Estados africanos no início das Nações 
Unidas se submeteram a este regime até conquistarem a 
independência, isto é, serem descolonizados.
O Conselho de Tutela é composto pelos membros 
administradores dos territórios tutelados, além dos 
membros permanentes do Conselho de Segurança quando 
eles não forem administradores, e membros eleitos de 
modo que a cada administrador corresponda um membro 
eleito não administrador (art. 86, Carta ONU), cada qual 
com um voto (art. 89, Carta ONU).
Como as situações em que a tutela se faria necessária 
foram extintas, em 1º de Novembro de 1994 suas atividades 
foram suspensas e suas reuniões, antes anuais, somente 
devem ocorrer quando novas situações assim exigirem.
Logo, atualmente, o Conselho de Tutela só é composto 
pelos cinco membros do Conselho de Segurança, não 
estando em funcionamento.
2.5) Corte Internacional de Justiça
Trata-se do principal órgão judiciário das Nações 
Unidas, o qual será estudado a parte por ser um dos 
principais instrumentos no sistema global de proteção dos 
direitos humanos. “Malgrado o nome que ostenta, não se 
deve imaginar que à Corte de Justiça corresponda o papel 
exercido, no modelo clássico do Estado Contemporâneo, 
pelo Poder Judiciário. Embora a Corte seja o principal órgão 
judiciário das Nações Unidas, ela dispõe de uma jurisdição 
eminentemente facultativa absolutamente distinta dos 
órgãos judiciais internos dos Estados”52.
2.6) Secretariado
Desempenha as funções administrativas da ONU, sendo 
composto por um Secretário-geral recomendado pelo 
Conselho de Segurança e aprovado pela Assembleia Geral 
e por um grupo de pessoas que o assiste por ele nomeado 
(art. 97 c.c. art. 101, Carta ONU). Além de comparecer a 
todas as reuniões dos principais órgãos, o Secretário-geral 
deve elaborar relatório anual à Assembleia (art. 98, Carta 
ONU), havendo preocupação especial da Carta da ONU 
com sua imparcialidade (art. 100, Carta ONU).
“Além de suas funções administrativas, o Secretário-
Geral pode exercer grande influência dentro da organização, 
junto aos Estados-Membros e perante o mundo exterior. 
Suas iniciativas, declarações e tomadas de posição 
transformam-no num dos mais importantes personagens 
da política internacional”53.
3) Sistema convencional e extraconvencional
Para a vigilância, supervisão, monitoramento e 
fiscalização da proteção dos direitos humanos foram 
criados órgãos ou mecanismos extraconvencionais e 
convencionais. 
52 Ibid., p. 157.
53 Ibid., p. 156.
“Existem dois eixos através dos quais a proteção 
dos diretos humanos, dentro do sistema global, pode se 
efetivar: a) área convencional - sob a atmosfera dos tratados 
elaborados no âmbito da ONU; b) área extraconvencional 
- originada das resoluções da Organização das Nações 
Unidas e seus órgãos, tendo como base a interpretação da 
Carta de São Francisco”54.
Assim, o sistema global é composto por mecanismos 
convencionais e mecanismos não convencionais de proteção 
dos direitos humanos. Os mecanismos convencionais são 
aqueles criados por convenções específicas de direitos 
humanos, ao passo que os não convencionais são aqueles 
decorrentes de resoluções elaboradas por órgãos das 
Nações Unidas, como a Assembleia Geral e o Conselho 
Econômico e Social, extraindo sua legitimidade para 
proteção da ampla estrutura de competência das Nações 
Unidas.
“Essa proteção extraconvencional diferencia-se dos 
demais mecanismos de proteção das Nações Unidas, 
justamente por ter sido fundamentada na Carta da ONU e 
na Declaração Universal de 1948. Não há recurso a acordos 
específicos; ao contrário, busca-se extrair a proteção dos 
direitos humanos da interpretação ampla dos objetivos 
de proteção aos direitos humanos da ONU, e do dever 
de cooperação dos Estados para alcançar tais objetivos. 
[...] Os procedimentos convencionais distinguem-se dos 
procedimentos extraconvencionais, já que esses obrigam 
os Estados contratantes, enquanto os procedimentos 
extraconvencionais buscam vincular os membros da 
Organização, sem o recurso às convenções específicas. 
[...] O termo extraconvencional, apesar de inexato, é utilizado 
justamente para enfatizar a diferença entre procedimentos 
coletivos nascidos de convenções específicas [...] e os 
procedimentos adotados pela Organização que nascem 
baseados em dispositivos genéricos”55.
O órgão não convencional mais relevante das 
Nações Unidas é o Conselho de Direitos Humanos, 
criado após votação da Assembleia Geral, substituindo a 
antiga Comissão de Direitos Humanos. Outro órgão não 
convencional é o Conselho de Segurança.
O sistema convencional de proteção dos direitos 
humanos é aquele por meio do qual os Estados membros 
da ONU se comprometem internacionalmente, através de 
um tratado, a proteger determinados direitos fundamentais, 
esquema de salvaguarda que pode ser desmembrado em 
três diferentes formas apontadas por Silva e Viel56:
a) Não-contencioso: através dele, que se 
assemelha aos bons ofícios e à conciliação, um Estado, 
espontaneamente (quando ratifica um tratado), obriga-
se a respeitar e proteger os direitos humanos. Neste 
sentido, uma das modalidades de acompanhamento e 
controle da observância das obrigações é o sistema de 
54 SILVA, Karine de Souza; VIEL, Ricardo Nunes. Os mecanis-
mos coletivos de proteção dos direitos humanos: os sistemas de pro-
teção universal e o interamericano. Revista Direito e Justiça, Refle-
xões Sociojurídicas, ano VI, nº 9, nov. 2006.
55 ANNONI, Danielle. Direitos humanos & acesso à justiça 
no direito internacional. Curitiba: Juruá, 2004.
56 SILVA, Karine de Souza; VIEL, Ricardo Nunes... Op. Cit.
12
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
envio de relatórios periódicos (principal mecanismo não-
contencioso). Nestes relatórios, o Estado presta contas das 
ações por ele adotadas em relação à garantia dos direitos 
assegurados no tratado;
b) Quase-judicial: é mecanismo de responsabilização 
dos Estados por violações dos tratados de direitos humanos 
em que são partes. São instituídos através de Convenções 
internacionais comitês com atribuição de analisar casos 
de possíveis violações de direitos humanos e emitir 
deliberações que obrigam os Estados-partes a repararem 
os danos causados. Contudo, por não se tratarem de 
sentenças - uma vez que os Comitês não são órgãos 
judiciais - o mecanismo é chamado de quase-judicial. 
A manifestação dos Comitês, através das mencionadas 
deliberações, pode ocorrer através de petição de um 
Estado ou através de petição de um particular;
c) Mecanismo judicial: no plano universal, a Corte 
Internacional de Justiça (CIJ) é órgão competente para 
julgar os Estados por violação de direitos humanos. A CIJ é 
o órgão judicial das Nações Unidas que tem competência 
para julgar qualquer demanda que envolva os membros da 
ONU. Contudo, o papel da Corte Internacional de Justiça 
no âmbito da proteção da pessoa humana tem sido muito 
modesto. Frisa-se que não há mecanismo judicial criado por 
Convenção específica, uma vez que a Corte Internacional 
de Justiça foi criada pela Carta da ONU.
Em outras palavras, na atualidade, pelo sistema 
extraconvencional de proteção dos direitos humanos 
da ONU somente existem órgãos não-contenciosos e 
quase-judiciais, mas não judiciais.Caso não se encontre 
uma solução amistosa ou não se respeite a solução quase 
judicial, a alternativa é buscar proteção em órgão judicial 
da Organização, parte do sistema extraconvencional.
Os órgãos convencionais são inúmeros, merecendo 
menção: Comitê de Direitos Humanos instituído pelo 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos; Comitê 
para a eliminação da discriminação racial instituído pela 
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação Racial; Comitê para a Eliminação 
da Discriminação contra as Mulheres instituído pela 
Convenção sobre a eliminação de todas as formas de 
discriminação contra a mulher; Comitê contra a Tortura 
instituído pela Convenção contra a tortura e outro 
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes; 
e Comitê para os Direitos da Criança instituído pela 
Convenção sobre os Direitos da Criança. Todos eles serão 
estudados oportunamente neste capítulo.
4) Corte Internacional de Justiça
A Corte Permanente de Justiça Internacional funcionava 
como organismo autônomo da Liga das Nações. Mesmo 
com a ocupação da Holanda pela Alemanha, ela continuou 
a funcionar em Genebra, sendo dissolvida apenas em 1946, 
dando lugar à Corte Internacional de Justiça.
O Estatuto da Corte Internacional de Justiça é parte 
integrante da Carta das Nações Unidas de 1945, a qual 
também disciplina de maneira geral este órgão jurisdicional 
em seu capítulo XIV.
Embora este seja o principal órgão jurisdicional das 
Nações Unidas (art. 92, Carta ONU), nada impede que 
membros da organização confiem a solução de seus 
conflitos a outros tribunais internacionais (art. 95, Carta 
ONU).
O desempenho dos juízes da Corte é questionável: 
decidem a média de 2 casos por ano, o que não condiz 
com a quantidade de conflitos que são de sua competência; 
costumam adotar uma postura arbitral e fazem de tudo 
para satisfazerem mesmo a parte perdedora; e usualmente 
se filiam às posturas políticas de seu Estado de origem, 
beneficiando-o nas decisões. Por isso, o principal órgão 
judiciário da ONU não é tão efetivo quanto poderia ser, o 
que gera um mal-estar generalizado diante da impunidade 
dos infratores do direito internacional.
Apesar da sede da Corte ser em Haia, é possível que 
julgamentos se realizem em outras localidades (art. 22, 
Estatuto CIJ). Ademais, a Corte é um órgão permanente, 
que somente deixa de funcionar nas férias judiciárias (art. 
23, Estatuto CIJ).
Ela funcionará em sessão plenária, ou seja, seu pleno 
tomará as decisões, mas o quórum de 9 juízes já é suficiente 
para que uma sessão seja instaurada (art. 25, Estatuto CIJ). 
Câmaras poderão ser formadas para decidir questões em 
caráter especial (art. 26, Estatuto CIJ).
Nos termos do art. 34 do Estatuto da CIJ, “só os Estados 
poderão ser partes em questões perante a Corte”57. As partes 
serão representadas por agentes, que terão a assistência de 
consultores ou advogados, sendo que todos gozarão dos 
privilégios e imunidades necessários ao livre exercício de 
suas atribuições perante a Corte (art. 41, Estatuto CIJ).
Suas línguas oficiais são o francês e o inglês (art. 39, 
Estatuto CIJ). 
4.1) Composição
A Corte é composta por um corpo de 15 juízes 
independentes, dentre pessoas com alta consideração 
moral e condições para, no país de que é nacional, exercer 
as mais elevadas funções judiciárias (artigos 2º e 3º, Estatuto 
CIJ). Seus membros são eleitos pela Assembleia Geral e pelo 
Conselho de Segurança a partir de uma lista apresentada 
pelos grupos nacionais da Corte Permanente de Arbitragem 
ou grupos indicados para este fim por Estados-membros 
não representados58 (art. 4º, Estatuto CIJ). Nenhum grupo 
poderá indicar mais de quatro pessoas e nunca mais que o 
dobro do número de vagas a serem preenchidas, e destas, 
no máximo, duas poderão ser de sua nacionalidade (art. 5º, 
Estatuto CIJ). A lista geral será elaborada pelo Secretário-
geral e enviada à Assembleia Geral e ao Conselho de 
Segurança, que votarão independentemente, aplicando-se 
57 “As organizações internacionais, inclusive a ONU, não po-
dem ser parte em um litígio perante a CIJ. Elas podem apenas prestar 
informações à Corte, bem como solicitar pareceres”. (MELLO, Celso D. 
de Albuquerque... Op. Cit. p. 661).
58 “O procedimento de eleição pela Assembleia Geral e pelo 
Conselho de Segurança tem ocasionado que muitas vezes é ali eleito 
maior número de candidatos do que as vagas. Neste caso, são feitas 
eleições sucessivas até que o número de eleitos seja igual ao número 
de vagas”. (Ibid. p. 660).
13
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
o quórum da maioria absoluta (artigos 7º, 8º e 10, Estatuto 
CIJ). Se dois nacionais do mesmo Estado obtiverem o 
mesmo número de votos, será considerado eleito o mais 
velho (art. 10, Estatuto CIJ). O Estatuto da CIJ prevê, ainda, 
critérios de desempate (artigos 11 e 12, Estatuto CIJ).
Os membros da Corte serão eleitos por nove anos e 
poderão ser reeleitos, além do que o art. 13 do Estatuto 
da CIJ assegura que a cada três anos 5 novos membros 
sejam eleitos ou reeleitos. Na forma do mesmo artigo, o 
pedido de renúncia deve ser submetido ao Presidente da 
Corte e enviado ao Secretário-geral. Já a demissão deve se 
dar por opinião unânime dos demais membros da Corte 
(art. 18, Estatuto CIJ). Em ambos casos, abre-se vaga antes 
que o mandato do predecessor se encerre, de forma que 
o candidato eleito completará o seu mandato (art. 15, 
Estatuto CIJ).
Os artigos 16 e 17 do Estatuto da CIJ trazem 
impedimentos aos seus membros: exercício de qualquer 
função política ou administrativa, dedicação a outra 
ocupação de natureza profissional, servir como agente, 
consultor ou advogado em qualquer questão e participar da 
decisão de qualquer questão na qual anteriormente tenha 
intervindo em qualquer caráter (ex: consultor, advogado, 
membro de tribunal ou comissão de inquérito).
Os membros da Corte gozam de privilégios e 
imunidades diplomáticas (art. 19, Estatuto CIJ) e devem 
declarar solenemente que exercerão suas atribuições com 
imparcialidade e de forma contenciosa (art. 19, Estatuto 
CIJ).
Caso um membro da Corte sinta que não deva tomar 
parte do julgamento deverá informar o Presidente, assim 
como este também deverá informar ao membro caso 
entenda que ele não deverá participar do julgamento. Em 
ambos casos, controvérsias serão decididas pela Corte (art. 
24, Estatuto CIJ).
Não compromete a imparcialidade do juiz o fato dele 
ser nacional de um dos Estados-partes. No entanto, a 
permanência do nacional no julgamento garantirá à outra 
parte a nomeação de um juiz ad hoc, que preferencialmente 
figure na lista de candidatos a uma vaga na Corte. Se 
nenhum dos Estados-partes tiver nacional enquanto juiz 
da Corte, ambos poderão nomear juiz ad hoc59. Havendo 
formação de Câmara especial, que pode no máximo ter 
5 membros, se necessário o Presidente solicitará que um 
membro que seja juiz da Corte dê lugar ao juiz nacional. Se 
houver partes plurais interessadas na mesma questão, elas 
serão consideradas uma só parte, nomeando apenas um 
juiz ad hoc (art. 31, Estatuto CIJ). 
4.2) Competência
Estabelece o art. 36 do Estatuto da CIJ quanto à 
competência da Corte: “a competência da Corte abrange 
todas as questões que as partes lhe submetam, bem como 
59 O juiz ad hoc ou juiz nacional é um instituto remanescente 
da arbitragem, buscando a igualdade entre os Estados e a conferên-
cia de maior confiança na Corte. A instituição tem sido criticada, pois 
quando um país já tem o juiz permanente e outro nomeia o ad hoc há 
uma tendência do primeiro ser imparcial, enquanto que o segundo 
vota pelo Estado que representa. (Ibid., p. 660).
todos os assuntos especialmente previstos na Carta das 
Nações Unidas ou em tratados e convenções em vigor”. 
Em continuação, o mesmo dispositivo especifica o que

Continue navegando