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Entrevista de Alice de Freitas da Rede Asta

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A íntegra da entrevista de Alice de Freitas da Rede Asta
Alice Freitas chega ao Maya Café, onde havíamos combinado o encontro, e não se lembra que tinha me dito, por telefone, a grande, a maior novidade de sua vida nos últimos tempos: está grávida. Falou de novo, como toda futura mamãe engajada no projeto mais importante. Fala uma, duas, tantas vezes quantas forem necessárias para mostrar sua imensa felicidade. Alice Freitas, também como toda grávida de primeira viagem, está apreensiva. Só que a preocupação dela v ai além do preço das fraldas descartáveis ou da eterna dúvida, se põe na creche ou deixa em casa com a empregada. Para Alice, que no início do século, então uma jovem de 22 anos, pôs o pé na estrada para definir com a amiga Renata Brandão o que fariam da vida, pôr um filho no mundo hoje significa também se preocupar com o fato de ele ter que brigar por água quando estiver envelhecendo, já que, como os cientistas afirmam, a água será um recurso pouco disponível daqui 50 anos. Abaixo, a íntegra de uma longa conversa com a coordenadora da Rede Asta, primeira venda de produtos sustentáveis do país, que acredita piamente no fortalecimento produtivo da base da pirâmide.
 
Pergunta - Como foi sua viagem com Renata?
Resposta - A viagem funcionou muito mais como um rito de passagem. Vimos coisas que não víamos aqui. Nós éramos duas executivas e a primeira coisa que fizemos quando decidimos que íamos viajar foi vender nossas roupas na casa dela da Renata. Fizemos um bazar e arrecadamos R$ 7 mil . Tínhamos 22 anos de idade e não tínhamos a menor ideia do que estava pela frente, éramos ignorantes convictas. Sabíamos que a gente tinha que fazer isso mas a gente não tinha certeza do que ia acontecer depois disso. Eu fiquei mais envolvida com a pesquisa social e a Renata ficou mais com a parte de parcerias e jornalismo. Foi lá que eu fiquei encantada com a geração de renda. Na Índia, Bangladesh, Tailândia. Visitamos todo o projeto Grameen, de Bangladesh.Microcrédito na Índia é quase como banana no Brasil. As pessoas falam de microcrédito. Qualquer organizaçãozinha tem um sistema de microcrédito, cada um com seu jeito e sempre tendo o Grameen como uma referencia. O microcrédito em Bangladesh é legitimado pela sociedade, não pelo governo. Essa união do segundo com o terceito setor me encantou. É uma união muito poderosa, você trazer conceitos para o mercado capitalista. É uma ilusão achar que o movimento do comércio justo, da economia solidária, vai desviar para outro caminho. Se desviar vai ficar pequenininho, alternativo para o resto da vida. Tem estudantes de administração do mundo inteiro estudando esses conceitos, para gerar impacto de fato sem ser teoria. Usar essas tecnologias que já existem e são consagradas para a base, gerando impacto na máquina.Foi isso que me despertou a vontade de trabalhar com geração de renda.
Pergunta - O Muhamad Yunus começou todo o processo de microcrédito que foi desaguar no Grameen Bank emprestando cerca de 20 dólares para as mulheres de uma aldeia perto da casa dele. Mas o mais interessante é que ele só emprestava dinheiro para mulheres. O que você pensa disso?
Resposta - Quando elas começam a produzir pelas próprias mãos e a vender e a perceber que as pessoas gostam das coisas que elas fazem e a ganhar dinheiro e botar dinheiro no bolso, é incrível...o fuxico transforma. E a gente vê essa transformação acontecendo todos os dias com as mulheres. E a gente percebeu que a gente chega no limite da transformação, com mulheres ganhando 2 mil reais todos os meses. Mas elas não têm background educacional porque sem esse conhecimento, a informação, sem acesso, e a conhecimento importante, básico para o crescimento do ser humano, a gente percebe que elas não evoluem mais.
Pergunta - Do que elas precisam?
Resposta - De informação. E é por isso que vamos criar no ano que vem a Escola da Produtora. Estamos chamando de Coppead das produtoras, um super programa de treinamento, único no país que não tem um programa tão extenso, focado para esse público de produtoras manuais e serão 8 meses de treinamento, desde português, matemática e inglês básico até mexer num computador, todo o plano de negócio da estrutura dela, até embalagem de produto, etiquetagem, meio amviente. Estamos fechando alghumas parcerias, estamos esperando projetos e o Sesc já ta firmando a parceria para ser a sala de aula, vai ser no Rio.
Pergunta - Mas, voltando à viagem. O que aconteceu quando vocês chegaram aqui?
Resposta - Quando eu e Renata voltamos tivemos que divorciar um tempo porque passamos um ano e meio andando 24 horas por dia. Aí eu fundei o Instituto Realice e comecei a capacitar. A Rê foi trabalhar com produçãpo de vídeo e eu encontrei a Raquel, que era uma amiga minha de Friburgo, que estudou na Suíça e é do mercado, trabalhava com representação comercial de uma grande empresa suíça. Chamei e a gente começou a trabalhar em parceria. Em 2005 fomos capacitar um grupo de mulheres lá em Campo Grande, dentro de uma cooperativa de catadores, ensinando a fazerem um jogo americano de jornal, tudo pagando do nosso dinheiro, a gente queria que elas começassem a produzir algo. Aí enchemos uma caminhonete alugada e levamos para vender em São Paulo, numa feira. Vendemos tudo. Foi o primeiro negócio de nossas vidas, eu e Raquel. Aí começamos a realmente entender esse universo da economia solidária no Brasil, a quantidade de pessoas que trabalhavam com isso. E a minha viagem começou a fazer sentido. Lembrava o tempo todo de Bangladesh, tudo lá era muito incipiente, produtos muito pequenos, compra pra me ajudar, sempre foi assim. E a gente não queria isso, queria fazer algo bacana. Não queremos que as pessoas comprem para ajudar alguém.
Pergunta - Querem que as pessoas comprem por quê?
Resposta - Primeiro porque é um produto que eu a pessoa quer ter, que causa desejo. E segundo, quando descobre a história, a pessoa se apaixona e vira um objeto de história dentro da casa. Acaba viciando. Comprar um produto que não tenha uma história começa a perder totalmente a lógica. Alguém fez isso a mão, um a um. Tem uma coisa bonita, resgatar o analógico, o trabalho manual, o sentimento na produção que não elxiste mais, porque tudo hoje virou fordismo. Aí começamos a enxergar o mercado. Começamos vendendo para lojas de corporação e brindes corporativos. E começamos a perceber que os grupos de mulheres precisavam muito de pessoas como nós. Elas sabiam propduzir lindamente mas na hora de vender tinham muita dificulade, muita vergonha
Pergunta - Vocês foram, então, o link que elas precisavam?
Resposta - Sim, mas no início não foi fácil, eu e Raquel achávamos que íamos acabar desistindo. Não tínhamos dinheiro, e estávamos pondo muito do nosso dinheiro no negócio. Dois anos trabalhando assim, entendendo como funcionava, sem ganhar dinheiro. Trabalhamos que nem duas loucas e ganhamos 400 reais no ano! Teve um dia que a gente já tava cansada, sem dinheiro para pagar conta de luz.Nossa sedeera em Ramos, numa casa emprestada pela família da Raquel. E veio a Mônica, manicure que sempre trazia priodutps da Avon e da Natura.. Nesse dia compramos dela, mesmo com tantas dívidas. Percebemos que estávamos na ffrente de uma vendedora. Enchemos uma bolsa de produtos das artesãs, mandamos que ela vendesse e, no fim de uma semana, ela voltou com a bolsa vazia, tinha vendido tudo. Foi aí que nasceu a ideia de montar a primeira venda direta de produtos sustentáveis. <Liguei para a Cindy Lessa, primeira mentora da Ashoka, que me pôs em contato com a Avina, eu tinha 27, 26 anos. . Ficamos sete meses negociando. Conseguimos um salário, fomos fazer plano de negócio com uma agencia especializada, montamos toda a nossa estrutura. E fizemos o primeiro catálogo qe foi um desastre, preços altos e fotos horríveis. Ninguém queria comprar aquilo. Passamos 2007 inteiro num fiasco. Eis que surge em nossa vida uma mulher espeialista em canais de venda, Rosane Rosa. Nosso catálogocaiu na mão dela e ela disse: ta tudo errado, mas as meninas são corajosas. Então a contratamos e ela revolucionou as nossas vidas. Já tínhamos um site, só fomos fazer ecommerce em 2010. Lançamos o grande catálogo em 2008 e ela disse uma frase sábia: essa rede não vai nascer de fora para dentro, mas de dentro para fora. . Nós somos um hibrido da venda direta. Somos venda direta mas ao mesmo tempo o público que vende não se considera vendedor, são pessoas que acreditam que isso é um negócio bacana (a maioria das conselheiras da empresa é de pessoas da minha família). Isso é que deu o boom. Saltamos de dez conselheiras em 2008 e um faturamento de 8 mil reais para 800 conselheiras em 2011 e um faturamento de 625 mil reais.
Aconteceu organicamente.

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