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Resumo da segunda parte de Formação Econômica do Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E 
CONTABILIDADE 
DEPARTAMENTO DE TEORIA ECONÔMICA 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
 
 
 
ELIZABETH DA COSTA HENRIQUE 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHAMENTO: FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – CELSO FURTADO 
PARTE II – ECONOMIA ESCRAVAGISTA DE AGRICULTURA TROPICAL 
SÉCULOS XVI E XVII 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2018 
CAPÍTULO VIII 
CAPITALIZAÇÃO E NÍVEL DE RENDA NA COLÔNIA AÇUCAREIRA 
 
RESUMO: 
 
Dado que a própria colonização dependia de se encontrar um 
fundamento econômico para a mesma, o governo português se concentrou em 
garantir o êxito e a expansão do setor açucareiro, para tal concedia favores 
especiais àqueles que instalassem engenhos — isenções de tributos, garantia 
contra a penhora dos instrumentos de produção, honrarias e títulos, etc. —, 
mas isso não era suficiente: a mão de obra era escassa e inapta. A captura e o 
comércio de indígenas foi importante tanto para o fornecimento de mão de obra 
para o início da economia açucareira quanto para fornecer renda e ajudar na 
sobrevivência de regiões e grupos de população não-dedicados à indústria 
açucareira. Já a mão de obra africana escrava — base de um sistema de 
produção mais eficiente e mais densamente capitalizado — chegou para 
impulsionar a produção quando a rentabilidade do negócio já estava 
assegurada, esta era tão importante que chegou a 20 mil no final do século 
XVI, sendo que ¾ destes trabalhavam diretamente na indústria de açúcar, 
representando um investimento médio da ordem de 375 mil libras — 
representando aproximadamente 20% do capital fixo da empresa; uma parte 
substancial desse capital estava constituída por equipamentos importados. 
 
Apesar da economia açucareira gerar altos rendimentos, estes se 
concentravam na mãos de proprietários de engenhos e de plantações de cana 
(90% da renda gerada pela economia açucareira dentro do país, utilizando boa 
parte desta renda com a importação de bens de consumo — principalmente 
artigos de luxo), com apenas 5% do valor do açúcar no porto de embarque 
sendo destinado aos pagamentos por serviços prestados fora do engenho no 
transporte e armazenamento. Além dos escravos, os engenhos também 
utilizavam mão de obra assalariada: homens de vários ofícios e supervisores 
do trabalho dos escravos. Mas esses também pouco usufruíam da renda 
líquida da indústria açucareira: “admitindo que para cada dez escravos 
houvesse um empregado assalariado — 1.500 no conjunto da indústria 
açucareira — e imputando um salário monetário de 15 libras anuais cada um, 
chega-se à soma de 22.500 libras, que é menos de 2% da renda gerada no 
setor açucareiro”. Os gastos dos engenhos consistiam, principalmente, na 
compra de gado (para tração) — investimento da ordem de 75 mil libras, com 
gastos de 25 mil para reposição anual — e de lenha (para as fornalhas). 
“Supondo mesmo que os gastos com lenha e outros menores chegassem a 
dobrar essa cifra, os pagamentos feitos pela economia açucareira aos demais 
grupos de população estariam muito pouco por cima de 3% da renda que a 
mesma gerava”. 
 
Ao analisarmos dados do Brasil Holandês podemos notar a alta margem 
de capitalização da economia açucareira: em 1639, o valor do açúcar 
exportado pelo Brasil holandês, nos portos de embarque, teria sido pouco mais 
ou menos de 1,2 milhão de libras e teriam sido arrecadadas cerca de 16 mil 
libras de impostos de importação, a terça parte do total correspondendo a 
vinhos. Admitindo-se uma taxa ad valorem de 20%, deduz-se que o montante 
das importações não teria sido inferior a 800 mil libras. Admitindo com muita 
margem que os gastos de consumo dos colonos portugueses alcançassem 600 
mil libras, restaria em mãos dos senhores de engenho soma igual a esta, não 
despendida na colônia. Esses dados explicam como a produção pode 
decuplicar no último quartil do século XVI. 
 
Essa alta rentabilidade poderia autofinanciar uma duplicação da 
capacidade produtiva da indústria açucareira a cada dois anos. Contudo o ritmo 
de crescimento nem sempre fez uso de toda essa potencialidade financeira, 
tendo o crescimento da indústria sido governado pela possibilidade de 
absorção dos mercados compradores, ou seja, era na etapa de 
comercialização que eram tomadas as decisões fundamentais com respeito a 
todo o negócio açucareiro — sendo, portanto, de se esperar que parte 
substancial dos capitais aplicados na produção açucareira pertencesse aos 
comerciantes (isto é, parte da renda atribuída aos proprietários de engenhos, 
na verdade, seria renda de não-residentes que permanecia fora da colônia). 
Explicar-se-ia assim, facilmente, a íntima coordenação existente entre as 
etapas de produção e comercialização, coordenação essa que preveniu a 
tendência natural à superprodução. 
 
FICHAMENTO: 
 
De que forma se dava a capitalização na colônia açucareira? Como 
ela influenciava o nível de renda da colônia? 
 
1. Favores governamentais a quem instalasse engenhos na Colônia; 
2. Mão de obra nativa era inicialmente muito importante (primeira 
atividade econômica da colônia); 
3. Mão de obra africana surge para atuar na expansão da economia 
açucareira; 
4. Final do século XVI: 120 engenhos e um valor médio de 15 mil 
libras esterlinas por engenho — aproximadamente, 1,8 milhão de 
libras aplicadas na etapa produtiva da indústria; 
5. Havia certo número de assalariados nos engenhos; 
6. Forte concentração de renda nas mãos dos senhores de engenho; 
7. Gastos administrativos de Nassau na época da colonização foram 
bastante altos, aumentando os lucros de comerciantes; 
8. Alta capitalização, a rentabilidade do negócio permite o 
autofinanciamento de uma duplicação da indústria a cada 2 anos, 
mas essa capacidade não é totalmente utilizada em todos os 
períodos, pois a produção é voltada para a capacidade de absorção 
do comércio. 
 
CAPÍTULO IX 
FLUXO DE RENDA E CRESCIMENTO 
 
RESUMO: 
 
Devido às condições do meio, a economia açucareira brasileira não 
podia se implementada em pequenos lotes, os engenhos necessitavam operar 
em uma estrutura latifundiária com capitais importados — na etapa inicial, eram 
os equipamentos e a mão deobra europeia especializada. O uso de escravos 
indígenas deve ter sido utilizado para alimentar a nova comunidade e nas 
tarefas não-especializadas das obras de instalação, sendo, posteriormente — 
com os engenhos já em funcionamento —, substituído por escravos africanos, 
mais eficiente para tal trabalho, com parte destes dedicada a produzir 
alimentos para o conjunto da população, e outra se ocupando nas obras de 
instalação e, subsequentemente, nas tarefas agrícolas e industriais do 
engenho. 
 
“Uma vez instalada a indústria, seu processo de expansão seguiu 
sempre as mesmas linhas: gastos monetários na importação de equipamentos, 
de alguns materiais de construção e de mão de obra escrava. A importação de 
mão de obra especializada já se realizava em menor escala, tratando o 
engenho de auto-abastecer-se também neste setor, mediante treinamento 
daqueles escravos que demonstravam maior aptidão para os ofícios manuais. 
O mesmo não ocorre, entretanto, com a mão de bra não-especializada, pois a 
população escrava tendia a minguar vegetativamente, sem que durante toda a 
época da escravidão se haja tentado com êxito inverter essa tendência.” 
 
Diferentemente do que ocorre numa industrial, na qual a inversão se 
transforma automaticamente em pagamento a fatores de produção, ou seja, na 
qual a inversão é constituídapelo pagamento do material nela utilizado e da 
força de trabalho absorvido; parte da inversão feita numa economia 
exportadora-escravista transforma-se em pagamentos feitos no exterior: é a 
importação de mão de obra, de equipamentos e materiais de construção; a 
parte maior tem como origem a utilização mesma da força de trabalho escravo. 
Com o lucro empresarial consistindo, basicamente, na diferença entre o custo 
de reposição e de manutenção dessa mão de obra — custo fixo para o 
engenho —, e o valor do produto do trabalho da mesma. Sendo assim, a nova 
inversão fazia crescer a renda real apenas no montante correspondente à 
criação de lucro para o empresário. Esse incremento da renda não tinha, 
entretanto, expressão monetária, pois não era objeto de nenhum pagamento. 
 
Parte substancial dos gastos de consumo era realizada no exterior, com 
a importação de artigos de consumo; outra parte consistia na utilização da 
força de trabalho escravo para a prestação de serviços pessoais. Neste último 
caso o escravo se comportava como um bem durável de consumo, portanto 
serviço que prestava era a contrapartida do dispêndio inicial exigido na 
aquisição de sua propriedade, e a renda da coletividade não diminuía caso o 
escravo deixasse de prestar serviços pessoais a seus donos. 
 
“Como os fatores de produção em sua quase totalidade pertenciam ao 
empresário, a renda monetária gerada no processo produtivo revertia em sua 
quase totalidade às mãos desse empresário. Essa renda — a totalidade dos 
pagamentos a fatores de produção mais .os gastos de reposição do 
equipamento e dos escravos importados — expressava-se no valor das 
exportações. É fácil compreender que, se a quase totalidade da renda 
monetária estava dada pelo valor das exportações, a quase totalidade do 
dispêndio monetário teria de expressar-se no valor das importações. A 
diferença entre o dispêndio total monetário e o valor das importações traduziria 
o movimento de reservas monetárias e a entrada líquida de capitais, além do 
serviço financeiro daqueles fatores de produção de propriedade de pessoas 
não-residentes na colônia. O fluxo de renda se estabelecia, portanto, entre a 
unidade produtiva, considerada em conjunto, e o exterior. Pertencendo todos 
os fatores a um mesmo empresário, é evidente que o fluxo de renda se 
resumia na economia açucareira a simples operações contábeis, reais ou 
virtuais. Não significa isto que essa economia fosse de outra natureza que não 
monetária. Tendo cada fator um custo que se expressa monetariamente, e o 
mesmo ocorrendo com o produto final, o empresário deveria de alguma forma 
saber como combinar melhor os fatores para reduzir o custo de produção e 
maximizar sua renda real.” 
 
Quanto às suas possibilidades de expansão e evolução estrutural, o 
sistema econômico escravista dependia da demanda do mercado externo, se 
este absorvesse quantidades crescentes de açúcar num nível adequado de 
preços, o sistema poderia crescer sempre que a oferta externa de força de 
trabalho fosse elástica — até ocupar todas as terras disponíveis. Dada a 
relativa abundância destas últimas, é de admitir que as possibilidades de 
expansão eram ilimitadas por esse lado. Também já vimos que, com os preços 
que prevaleceram na segunda metade do século XVI e primeira do seguinte, a 
rentabilidade era suficientemente elevada para permitir que a indústria 
autofinanciasse uma expansão ainda mais rápida do que a efetivamente 
ocorrida. Tudo indica, portanto, que o aumento da capacidade produtiva foi 
regulado com vistas a evitar um colapso, nos preços, ao mesmo tempo que se 
realizava um esforço persistente para tomar o produto conhecido e ampliar a 
área de consumo do mesmo. 
 
 O crescimento foi considerável e persistiu durante todo um século. 
Contudo, esse crescimento se realizava sem que houvesse modificações 
sensíveis na estrutura do sistema econômico, tendendo a ser puramente em 
extensão. Crescimento significava, nesse caso, ocupação de novas terras e 
aumento de importações. Decadência — originada na queda na demanda 
externa — vinha a ser redução dos gastos em bens importados — devido à 
queda nos lucros — e na reposição da força de trabalho (também importada), 
com diminuição progressiva, mas lenta, no ativo da empresa, que assim 
minguava sem se transformar estruturalmente. 
 
“Na segunda metade do século XVII, quando se desorganizou o 
mercado do açúcar e teve início a forte concorrência antilhana, os preços se 
reduziram à metade. Contudo, os empresários brasileiros fizeram o possível 
para manter um nível de produção relativamente elevado. No século seguinte 
persistiu a tendência à baixa de preços. Por outro lado, a economia mineira, 
que se expandiria no centro-sul, atraindo a mão de obra especializada e 
elevando os preços do escravo, reduziria ainda mais a rentabilidade da 
empresa açucareira. O sistema entrou, em consequência, numa letargia 
secular. Sua estrutura preservou-se, entretanto, intacta. Com efeito, ao 
surgirem novas condições favoráveis a começos do século XVIII, voltaria a 
funcionar com plena vitalidade.” 
 
FICHAMENTO: 
 
Quais os processos de formação da renda e de acumulação de 
capital? 
 
1. Estrutura latifundiária devido às condições da colônia; 
2. Necessidade inicial: importação de equipamentos e mão de obra 
europeia especializada; 
3. Escravo negro veio substituir outro escravo, menos eficiente e de 
recrutamento mais incerto (indígenas); 
4. Escravos eram um bem durável de consumo e sua manutenção 
representava custo fixo para o engenho; 
5. O lucro do empresário escravagista é a diferença entre o valor do 
produto oriundo do trabalho escravo e os gastos com reposição e 
manutenção da mão de obra escrava; 
6. Quase toda a renda vinha de exportações. Os gastos, por sua vez, 
iam para as importações; 
7. Ao inverso da unidade feudal — isolada e sem aproveitamento 
adequado da especialização —, a unidade escravista vive 
totalmente voltada para o mercado externo, pode ser apresentada 
como um caso extremo de especialização econômica e tem caráter 
monetário. 
 
Que possibilidade efetiva de expansão e evolução estrutural 
apresentava esse sistema econômico, base da ocupação do território 
brasileiro? 
 
8. A expansão dependia da demanda externa, dos preços e da 
quantidade de terras (que eram abundantes); 
9. Enfraquecimento de mercado externo certamente geraria 
decadência. 
 
CAPÍTULO X 
PROJEÇÃO DA ECONOMIA AÇUCAREIRA: A PECUÁRIA 
 
RESUMO: 
 
Com o êxito da economia açucareira, implementada no litoral do 
Nordeste brasileiro, estavam assegurados os recursos para manter a defesa da 
colônia e intensificar a exploração de outras regiões. De maneira particular, 
havia surgido um mercado capaz de justificar a existência de outras atividades 
econômicas — atividades que pudessem suprir as necessidades da colônia. 
Dada sua alta rentabilidade e elevado grau de especialização era 
antieconômica a produção de alimentos para os escravos, nas terras do 
engenho ou o desvio de escravos — seus fatores de produção — do trabalho 
no engenho para atividades secundárias, pelo menos quando eram favoráveis 
as perspectivas do mercado de açúcar. 
 
Em São Vicente, assim como na Nova Inglaterra, os objetivos iniciais da 
colonização fracassaram. Os colonos que sobreviveram às dificuldades iniciais 
se dedicaram a atividades de baixa rentabilidade, transformando-se o núcleo 
de população de empresa colonial em colônia de povoamento. Os colonos da 
Nova Inglaterra encontraram na pesca não só um meio de subsistência, como 
também uma de suas primeiras atividades comerciais, adquirindo com istoum 
know how marítimo (navegação e construção de embarcações) que mais tarde 
seria empregado nos seus negócios com as Antilhas. Em São Vicente, onde a 
escassez de mão de obra resultou ser maior do que na Nova Inglaterra, a 
primeira atividade comercial a que se dedicaram os colonos foi a caça ao índio, 
sendo levados a penetrar a fundo nas terras americanas na caça indígena e 
assim desenvolvendo em grau eminente a habilidade exploratório-militar, 
qualidade esta que veio a constituir o fator decisivo da precoce ocupação de 
vastas áreas centrais do continente sul-americano. 
 
Enquanto nas Antilhas, a economia açucareira fez florescer o 
povoamento no norte dos EUA, passando a abastecer as Antilhas 
(particularmente nas ilhas inglesas) com vários produtos, dado que estas 
passaram a ser quase que exclusivamente constituídas de engenhos; na 
América portuguesa havia a preocupação política de evitar o surgimento na 
colônia de qualquer atividade que concorresse com a economia metropolitana; 
além disso, os fretes que ligavam a colônia ao exterior eram excepcionalmente 
baixos propiciados pelos barcos que seguiam para recolher açúcar; assim boa 
parte da capacidade de impulsão da grande economia açucareira esvaiu-se 
para o exterior. Assim, “ao contrário do que ocorreria nas Antilhas, era 
relativamente pequena a porção do mercado da economia açucareira a que 
podiam ter acesso outros produtores coloniais. No setor de bens de consumo, 
as importações consistiam principalmente em artigos de luxo, os quais, 
evidentemente, não podiam ser produzidos na colônia. O único artigo de 
consumo de importância que podia ser suprido internamente era a carne, que 
figura na dieta mesmo dos escravos, como observa Antonil. Era no setor de 
bens de produção que o suprimento local encontrava maior espaço para 
expandir-se. As duas principais fontes de energia dos engenhos — a lenha e 
os animais de tiro — podiam ser supridas localmente com grande vantagem. O 
mesmo ocorria com o material de construção mais amplamente utilizado na 
época: as madeiras. 
 
A expansão da economia açucareira levava à necessidade mais que 
proporcional do uso de animais de tiro, pois a devastação das florestas 
litorâneas obrigava a buscar a lenha a distâncias cada vez maiores. Contudo, a 
criação de gado na faixa litorânea, isto é, dentro das próprias unidades 
produtoras de açúcar, se provou impraticável devido aos conflitos provocados 
pela penetração de animais em plantações, levando o governo português a 
proibir a criação de gado neste local, e assim dando origem a uma economia 
dependente na própria região nordestina. 
 
A criação de gado apresentava baixa rentabilidade — sendo sua renda 
constituída pelo gado vendido no litoral e pela exportação de couros —, e não 
necessitava de muita mão de obra, tendo sido escolhido o trabalho indígena 
que se adaptava muito bem a essa atividade. Estima-se que no começo do 
século XVII a renda bruta gerada pela criação de gado era de 
aproximadamente 100 mil libras, enquanto a exportação do açúcar beirava os 2 
milhões de libras, esses dados demonstram a dependência da atividade 
criatória em relação à atividade açucareira. 
 
O crescimento da atividade pecuária dependia fundamentalmente da 
expansão da atividade açucareira, da disponibilidade de terras e mão de obra 
para criação de gado. Sendo esta uma atividade, no geral, de colonos 
desprovidos de capital. Como a economia açucareira estava no seu auge até a 
metade do século XVII, a disponibilidade de terras na colônia era praticamente 
ilimitada e a mão de obra indígena se adaptou muito bem ao trabalho com o 
gado, entende-se que as condições básicas para o crescimento da atividade 
criatória estavam atendidas 
 
Como o crescimento pecuário nordestino estava ligado à sua expansão 
geográfica, ao expandir-se a renda média da população que desta dependia 
reduzia, pois com a expansão geográfica as distâncias entre o núcleo 
açucareiro e os criadores de gado aumentavam, elevando assim o custo e 
reduzindo o lucro, tornando essa atividade praticamente em uma economia de 
subsistência que produzia alimento para a população e couro que era uma 
matéria-prima muito utilizada naquela época. 
 
FICHAMENTO: 
 
Quais as consequências diretas e indiretas da formação de um 
sistema econômico de alta produtividade e em rápida expansão na faixa 
litorânea do Nordeste brasileiro sobre as demais regiões da América 
Portuguesa? 
 
1. Economia canavieira justificava a existência de outras atividades 
produtivas; 
2. Extrema especialização da economia açucareira; 
3. Nova Inglaterra construía seus barcos de pesca e ganhou certo 
know how em transporte marítimo. Isso ajudou muito nas Antilhas; 
4. São Vicente se especializou no complexo exploratório-militar, 
sendo esse um fator decisivo para a ocupação de áreas centrais da 
América do Sul; 
5. Abundância de terras nas proximidades do núcleo canavieiro — 
que resultou na criação de um segundo sistema econômico 
dependente da economia açucareira ainda no Nordeste — foi o 
principal fator limitante da ação dinâmica da economia açucareira 
sobre a colônia do sul do Brasil; 
6. Carne era artigo de suma importância, assim como lenha e animais 
de tração (burros, jumentos, às vezes até bois); 
7. Separação da atividade açucareira e criatória. 
 
Que possibilidades de crescimento apresentava esse novo sistema 
econômico que surgira como um reflexo da atividade açucareira? 
 
8. Criação de gado era totalmente diferente da plantação de cana, 
sendo mais interiorizada e itinerante. Pouca gente se dedicava à 
pecuária, em geral. A maioria era de colonos com pouco acesso a 
capital; 
9. A expansão da pecuária nordestina dependia da expansão da 
atividade açucareira, da disponibilidade de terras e mão de obra 
para criação de gado; 
10. A expansão geográfica reduzia os lucros da atividade criatória; 
11. A pecuária era, em grande parte, voltada para a subsistência. 
CAPÍTULO XI 
FORMAÇÃO DO COMPLEXO ECONÔMICO NORDESTINO 
 
RESUMO: 
 
Como vimos, as unidades produtivas, tanto na economia açucareira 
como na criatória, tendiam a preservar a sua estrutura origina tanto nas etapas 
de expansão quanto nas de contração — não modificavam sua estrutura 
produtiva para reduzir seus custos ou aumentar sua produtividade. A economia 
açucareira dependia da importação de equipamentos e mão de obra para 
manutenção de sua produção, já a atividade criatória apresentava um 
crescimento vegetativo da mão de obra e não necessitava de gastos 
monetários para reposição de capital ou expansão da criação. Devido a tais 
diferenças, as duas atividades se desenvolvem de forma bem diferente ao 
longo do declínio nos preços do açúcar no final do século XVII. 
 
Com a persistente diminuição no preço do açúcar, o aumento no preço 
dos escravos e a emigração da mão de obra especializada para a produção de 
ouro a atividade açucareira brasileira entra num lento declínio com redução dos 
lucros e desorganização no processo produtivo; enquanto continua a ser um 
excelente negócio para as Antilhas, pois os novos preços ainda eram 
suficientemente altos para os antilhanos. Já a pecuária, devido às suas 
características — por exemplo, sua expansão era resultante do aumento 
vegetativo da população animal —, acabou transformando-se numa atividade 
de subsistência com baixíssima produtividade. Nesse processo houve uma 
redução relativa da renda monetária que levou a produção de bens que antes 
eram importados, porém esses artigos eram rudimentares e artesanais. O 
couro passa a ter papel fundamental nessa economia de subsistência, pois era 
o únicoartigo que poderia gerar alguma renda monetária aos criadores mais 
afastados dos grandes centros. 
 
Não obstante, ao lento atrofiamento da economia nordestina, do último 
quartil do século XVII ao começo do século XIX, com o declínio da renda real 
per capita de sua população, não houve a necessidade — como ocorreria nas 
Antilhas — de emigração do excedente da população livre formado pelo 
crescimento vegetativo desta. A atividade criatória passou a absorver o 
incremento da população livre. Dessa forma, quanto menos favoráveis fossem 
as condições da economia açucareira, maior seria a tendência imigratória para 
o interior. Contudo, como a rentabilidade da economia pecuária dependia em 
grande medida da rentabilidade da própria economia açucareira, ao transferir-
se população desta para aquela nas etapas de depressão se intensificava a 
conversão da pecuária em economia de subsistência. 
 
Desta forma, houve expansão demográfica no Nordeste em todo o 
século e meio de estagnação da produção açucareira; tendo sua expansão 
econômica passado de um setor de alta produtividade para uma atividade de 
baixa produtividade — involução econômica — onde a maior parte da 
população produz apenas o necessário para subsistir, ocorrendo — devido à 
dispersão de parte da população, num sistema de pecuária extensiva — um 
retrocesso no processo de divisão de trabalho, de especialização e técnicas de 
produção, acarretando um retrocesso até mesmo nas técnicas artesanais de 
produção. Portanto, a formação da população nordestina e a de sua precária 
economia de subsistência estão ligadas a esse lento processo de declínio da 
economia açucareira. 
 
FICHAMENTO: 
 
Como se deu a formação do complexo econômico nordestino com 
o declínio da economia açucareira? 
 
1. A economia açucareira apresentava crescimento essencialmente 
extensivo. Não havia grandes mudanças de produtividade; 
2. As economias açucareira e criatória apresentavam diferenças na 
dependência de importações de mão-de-obra e equipamentos; 
3. A população livre, sem emprego na atividade açucareira, passa a 
emigrar para o interior em busca da atividade criatória; 
4. Couro era a única fonte de renda de muitos criadores de gado; 
5. Renda real no Nordeste caiu constantemente até o século XIX. A 
população continuou a crescer graças à oferta estável de alimento; 
6. Houve convergência cada vez maior para uma economia de 
subsistência; 
7. Ocorre involução econômica com retrocesso no processo de 
divisão de trabalho, de especialização e técnicas de produção. 
 
CAPÍTULO XII 
CONTRAÇÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO TERRITORIAL 
 
RESUMO: 
 
 O século XVII apresentou dificuldades ao desenvolvimento político e 
econômico da colônia. Com a invasão holandesa, no Nordeste brasileiro, houve 
grande prejuízo — para Portugal — com gastos militares e com a perda de 
arrecadação provocada pelo saque holandês. A expulsão dos holandeses 
acabou por acarretar a perda do monopólio do açúcar — posto que estes 
passaram a produzir nas Antilhas com o know how adquirido no Brasil —, 
provocando queda no preço do mesmo e acentuando ainda mais os prejuízos 
para o comércio lusitano. 
 
Durante o florescimento da economia açucareira, os portugueses 
expandiram seu domínio para o Norte, preocupados em conservar o monopólio 
do açúcar. Em fins do século XVI todas as terras potencialmente produtoras de 
açúcar estavam em mãos portuguesas ou espanholas — até os ataques 
franceses, ingleses e holandeses, nas Antilhas e no nordeste brasileiro. 
Encarregada da defesa da foz do amazonas, Portugal garantiu o controle fácil 
desta bacia fluvial. A ocupação foi seguida da decisão de instalar colônias 
permanentes nessas regiões, a fim de eliminar qualquer possibilidade de 
concorrência na região e a salvaguardar a de futuros ataques. 
 
O solo maranhense não apresentava a mesma fecundidade que os 
massapés nordestinos para a cana. Contudo, as maiores dificuldades diziam 
respeito à desorganização do cultivo açucareiro, do fumo e outros produtos 
tropicais na segunda metade do século XVII. O Maranhão enfrentou grandes 
dificuldades com o isolamento geográfico, dado a tomada de Pernambuco por 
invasores holandeses e, mais adiante, à própria decadência da economia 
açucareira. 
 
O abandono dos colonos maranhenses por parte de Portugal obrigou a 
pequena colônia a subsistir de pequenos latifúndios de base familiar e 
organização mononucleada. Um fator decisivo a sobrevivência era a 
possibilidade de capturar alguns escravos indígenas. Sem a possibilidade de 
produzir produtos comercializáveis, os maranhenses produziam a própria 
comida, pescavam o próprio peixe e teciam as próprias roupas. 
 
As missões jesuíticas se apresentaram como uma forma eficiente de 
organização, pois convencia os índios a trabalharem voluntariamente, uma vez 
que conservavam sua organização comunitária. Com a caça aos indígenas, os 
colonos do norte acabaram por conhecendo melhor a floresta e descobrindo 
suas potencialidades, tornando progressivamente, na primeira metade do 
século XVIII, a região paraense em centro exportador de produtos florestais: 
cacau, baunilha, canela, cravo e resinas aroma ricas. Assim iniciou-se a 
exploração florestal, conectando diferentes comunidades. Tal propiciou a 
enorme expansão territorial do século XVIII. 
 
Na outra ponta do território português, a Colônia de São Vicente, ao sul, 
enfrentava grandes problemas — após a redução no mercado de escravos 
indígenas — concorrendo com o rio da Prata, cujo centro criatório e seus 
couros ameaçavam os poucos produtores da colônia portuguesa. A penetração 
dos portugueses no estuário da Prata — onde, em 1680 fundaram a colônia de 
Sacramento — configura-se, assim, como outro episódio da expansão territorial 
do Brasil ligada às vicissitudes da etapa de decadência da economia 
açucareira. Portugal conseguiu, dessa forma, firmar sua posição nos negócios 
do couro. 
 
A desvalorização da cultura açucareira prejudicava a economia 
portuguesa, com a redução dos impostos arrecadados pela coroa portuguesa, 
devido à crise neste setor e o aumento relativo dos setores de subsistência, o 
governo português teve que reajustar o nível de importações da Metrópole e 
provocar uma desvalorização cambial de sua moeda. Enquanto essa 
desvalorização cambial trazia benesses para o produtor de açúcar, pois seu 
produto ficava com um preço mais atraente no mercado internacional, 
prejudicava as importações das regiões mais pobres, que pouco ou nada 
tinham para exportar, mas que dependiam da importação de produtos 
imprescindíveis como o sal, roupas e armas de fogo. O encarecimento das 
manufaturas chegou a absurdos, principalmente nas regiões mais pobres, 
como em Piratininga, onde de uma simples roupa nova de fazenda importada 
ou uma espingarda podiam custar mais que o preço de uma casa residencial. 
 
Tais fatores conduziram a uma acentuada reversão a formas de 
economia de subsistência, com atrofiamento da divisão de trabalho, redução da 
produtividade, fragmentação do sistema em unidades produtivas cada vez 
menores, desaparecimento das formas mais complexa de convivência social e 
substituição da lei geral pela norma local, etc. 
 
FICHAMENTO: 
 
Como se desenrolou a contração econômica — e suas 
consequências — e a expansão territorial na América portuguesa? 
 
1. O século XVII apresentou dificuldades políticas para a Colônia, 
como, por exemplo, a invasão holandesa que gerou um grande 
prejuízo a Portugal com desvio de mercadorias e enormes gastos 
militares para retomada da colônia no Nordeste brasileiro; 
2. Portugueses defenderam a Amazôniadurante a União Ibérica, 
tendo que ocupar a região do Maranhão após a experiência da 
França Equinocial. A região não tinha solo de massapê, como o 
resto do Nordeste, levando a difíceis condições de vida, pois a cana 
não poderia ser lá plantada; 
3. Exportação de cravo, canela, baunilha, cacau e resinas aromáticas 
da região amazônica; 
4. Região do Prata era ameaça aos criadores de gado. A Colônia do 
Sacramento fortaleceu os portugueses nesse mercado e na região 
em questão; 
5. A desvalorização da economia açucareira trouxe prejuízos à 
economia portuguesa: a queda na arrecadação levou à redução nas 
importações da Metrópole e desvalorização cambial; 
6. A desvalorização cambial era benéfica ao produto de açúcar, pois 
tornava seus preços mais competitivos no mercado internacional; 
7. O encarecimento de manufaturas importadas com a desvalorização 
cambial de sua moeda portuguesa prejudicava as regiões mais 
pobres que dependiam da importação de produtos imprescindíveis; 
8. Acentuada reversão a formas econômicas de subsistência.

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