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CARACTERÍSTICAS DAS VIROSES DENGUE Doença: Dentre as três, é a mais conhecida e presente no Brasil. O país vive hoje uma epidemia da doença com 367,8 casos para cada 100 mil habitantes registrados até o dia 18 de abril. Transmissão: O vírus da dengue é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti. Sintomas: Febre alta (geralmente dura de 2 a 7 dias), dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. Nos casos graves, o doente também pode ter sangramentos (nariz, gengivas), dor abdominal, vômitos persistentes, sonolência, irritabilidade, hipotensão e tontura. Em casos extremos, a dengue pode matar - até 18 de abril foram registrados 229 óbitos. Tratamento: A pessoa com sintomas da dengue deve procurar atendimento médico. As recomendações são ficar de repouso e ingerir bastante líquido. Não existem remédios contra a dengue. Caso apareçam os sintomas da versão mais grave da doença, é importante procurar um médico novamente. CARACTERÍSTICAS DAS VIROSES CHIKUNGUNYA Doença: Até 18 de abril deste ano, foram registrados 1.688 casos de chikungunya. Os primeiros casos “nativos” da doença no Brasil apareceram em setembro do ano passado em Oiapoque, no Amapá. Antes disso, já haviam sido detectados casos de pessoas que contraíram a virose fora do país. A origem do nome Chikungunya é africana e significa “aqueles que se dobram”. É uma referência à postura dos doentes, que andam curvados por sentirem dores fortes nas articulações. Transmissão: É transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti (presente em áreas urbanas) e Aedes albopictus (presente em áreas rurais). Sintomas: O principal sintoma é a dor nas articulações de pés e mãos, que é mais intensa do que nos quadros de dengue. Além disso, também são sintomas febre repentina acima de 39 graus, dor de cabeça, dor nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas. Segundo o Ministério da Saúde, as mortes são raras. Tratamento: Como no caso da dengue, não há tratamento específico. É preciso ficar de repouso e consumir bastante líquido. Não é recomendado usar o ácido acetil salicílico (AAS) devido ao risco de hemorragia. CARACTERÍSTICAS DAS VIROSES ZIKA Doença: A doença pode ter sido detectada na Bahia, mas ainda não está confirmada. A suspeita é de que ela tenha sido trazida para o Brasil durante a Copa do Mundo. Transmissão: Mais uma vez, o Aedes aegypti é o vilão da história. Mas o vírus também é transmitido pelo Aedes albopictus e outros tipos de aedes. Sintomas: O vírus não é tão forte quanto o da dengue ou da Chikungunya e os pacientes apresentam um quadro alérgico. Os sintomas, porém, são parecidos com os das doenças “primas”: febre, dores e manchas no corpo. Quem é infectado pelo Zika também pode apresentar diarreia e sinais de conjuntivite. Tratamento: Assim como nas outras viroses, o tratamento consiste em repouso, ingestão de líquidos e remédios que aliviem os sintomas e que não contenham AAS. PROJETOS O Brasil enfrenta uma tríplice epidemia do zika vírus, dengue e febre chikungunya. Em comum, essas doenças têm o vetor de transmissão, o mosquito Aedes aegypti, inseto que está longe de ser exterminado, mas cujo controle poderia significar a solução a todos esses problemas. Dois projetos promissores de biotecnologia vêm sendo testados no país há alguns anos, entretanto, os resultados ainda não são sentidos em larga escala. PROJETOS A reportagem da BBC Brasil apurou que o primeiro, que aposta em um esquema de inoculação do inseto com uma bactéria que o impede de transmitir doenças tropicais, ainda está em fase de testes e seu impacto levará de 3 a 5 anos para ser avaliado. A estratégia do segundo projeto visa o extermínio do mosquito em determinadas regiões através do uso de espécies manipuladas geneticamente. A técnica teria sido testada com sucesso, segundo a empresa que "fabrica" o mosquito transgênico - mas causou polêmica em Jacobina (BA), cidade que serviu de teste-piloto. Mesmo assim, a cidade de Piracicaba (SP), adotou o programa desde abril DE 2015, com resultados promissores. O MOSQUITO INOCULADO No Rio de Janeiro, a Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz, está inoculando mosquitos com a bactéria Wolbachia, na esperança de incapacitar o inseto a transmitir doenças tropicais. Essa proposta seria uma solução não transgênica ao controle das doenças, pois exclui alteração genética. "A estratégia da Wolbachia é diferente pois tem como objetivo a substituição da população de mosquitos que eram aptos a transmitir o vírus da dengue por mosquitos que não conseguem transmitir. O nicho biológico não é mexido, os mosquitos continuam lá", explicou à BBC Brasil o pesquisador e coordenador do projeto Luciano Moreira. A presença da bactéria no organismo do mosquito bloquearia a transmissão de doenças tropicais. A pesquisa da Fiocruz é em parceria com a universidade australiana Monash e faz parte de um projeto global de combate à dengue. O MOSQUITO INOCULADO Machos com Wolbachia que acasalam com fêmeas nativas resultam em ovos que não vingam. Já o cruzamento entre dois mosquitos com Wolbachia resulta em filhotes portadores. Quando apenas a fêmea está infectada, os ovos que ela gerar também carregarão a bactéria consigo. O coordenador mundial do projeto, o cientista australiano Scott O'Neil, afirmou que esse mecanismo funciona não apenas para a dengue, mas também para diversas outras doenças, inclusive para o zika. O MOSQUITO INOCULADO Atualmente, bairros da Ilha do Governador (RJ) e de Niterói (RJ) recebem o projeto. Poucas semanas depois das primeiras liberações no fim de 2014 e início de 2015, 65% dos mosquitos no ambiente continham a bactéria. Novas liberações foram feitas em 2015, e pouco mais de 50% dos mosquitos estão infectados. "A avaliação de impacto sobre o número de casos de dengue está prevista para fases futuras, em que será necessário realizar o estudo em áreas mais amplas, levar em consideração a mobilidade das pessoas bem como a sazonalidade da dengue, entre outros fatores", disse Luciano Moreira, coordenador do projeto. O MOSQUITO INOCULADO Em Tubiacanga, uma região no Rio de Janeiro onde os testes estão sendo realizados, os primeiros mosquitos começaram a ser soltos entre setembro de 2014 e janeiro de 2015. Ao final de 20 semanas, cerca de 65% dos mosquitos da região estavam infectados com a bactéria. Após o resultado inicial satisfatório, porém, houve queda na população de mosquitos positivos e uma nova dispersão foi necessária em agosto de 2015. Os pesquisadores estimam que a mortandade deveu-se à fragilidade dos mosquitos aos inseticidas e para resolver isso cruzaram espécimes de laboratório com os outros comumente encontrados na região, o que resultou em melhor adaptabilidade do vetor. Em Tubiacanga também foram colocados dispositivos contendo ovos, onde novos mosquitos cresciam antes de povoar a região. O MOSQUITO INOCULADO O esforço repetido deu retorno científico e "atualmente, mais da metade dos mosquitos já tem Wolbachia", informou Moreira. O teste, porém, ainda não resultou em uma redução sólida nos casos de dengue. "Quando você pergunta sobre a queda em casos de dengue, é importante destacar que este não é o indicador desta fase do projeto. Na fase atual, o objetivo é observar a capacidade de estabelecimento dos mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia em situações reais, por meio de estudos de campo", defende Moreira. "Os estudos em larga escala, em que o impacto sobre a transmissão da dengue poderá ser mensurado, devem ser concluídos em 3-5 anos, considerando-se que as condições de financiamento sejam mantidas", estima Moreira. O objetivo da pesquisa mundial é viabilizar uma forma de controle do vetor que custe apenas US$ 1 de investimento per capita. O MOSQUITOTRANSGÊNICO Uma outra proposta é o extermínio da população de Aedes aegypti por meio do emprego de mosquitos geneticamente modificados. Essa estratégia é defendida por uma joint-venture formada pela Oxitec e pela Moscamed. A Oxitec é uma empresa subsidiária da Intrexon, multinacional de biotecnologia cotada na bolsa de valores de Nova Iorque. A Moscamed é uma entidade brasileira sem fins lucrativos. A parceria possui uma fábrica de insetos modificados em Juazeiro na Bahia. Os mosquitos OX513A machos receberam dois genes. Mosquitos machos da Oxitec geneticamente modificados são liberados no ambiente em grande proporção O MOSQUITO TRANSGÊNICO O primeiro é um sistema de ativação construído a partir de DNA sintético, feito da fusão da bactéria Escherichia coli e do vírus comum causador de herpes. O segundo é um gene da espécie de coral marinho Discosoma, que serve como marcador fluorescente para que os mosquitos tenham uma luz diferente dos insetos comuns e sua presença num ambiente possa ser detectada com uma luz especial. O primeiro gene tem o objetivo de encurtar a vida do inseto e levar ao extermínio da espécie em uma região. Isso ocorre à medida que mosquitos modificados machos cruzam com mosquitos normais fêmeas e produzem descendentes que não sobreviverão até a idade adulta justamente por carregarem o gene da letalidade. Como o mosquito só dura uma geração, é necessário que o ambiente seja continuamente alimentado por novos transgênicos até que se chegue ao extermínio. O MOSQUITO TRANSGÊNICO Mosquitos machos, que não transmitem doenças, são geneticamente modificados pela Oxitec, empresa de origem inglesa com filial em Campinas (SP), para que seu corpo produza em excesso uma proteína que causa a sua morte. Eles são liberados no ambiente e reproduzem com fêmeas selvagens. A prole terá os genes do pai e morrerá antes da vida adulta, quando vira vetor de doenças. A tática já foi testada em Juazeiro e Jacobina, na Bahia, e em Piracicaba (SP), até aqui com sucesso. Na Bahia, onde o teste é feito há mais tempo, a redução de insetos variou entre 80% e 100%, a depender da semana em que os dados foram coletados. Os testes seguem em Jacobina, e o governo do Estado afirmou no fim de novembro que quer expandir a ação para as 20 cidades mais afetadas por doenças transmitidas pelo inseto. O MOSQUITO TRANSGÊNICO INFÉRTIL O Laboratório de Mosquito Geneticamente Modificado trabalha em uma variação da linhagem da Oxitec. Assim como a empresa de Campinas, o mosquito macho tem mudanças em seus genes. No entanto, no caso deste projeto, o macho é estéril e sequer produz filhotes. A pesquisa, sob supervisão da pesquisadora da USP Margareth Capurro, está em fase intermediária. O próximo passo, que deve ocorrer em breve, é fazer testes laboratoriais para saber se, em competição com o Aedes selvagem, o transgênico consegue reproduzir com as fêmeas. Na sequência, os estudos precisam ser seguidos com testes primeiramente locais para ver o resultado em pequenas comunidades e bairros. Os dois projetos de transgênicos são vistos com desconfiança por ativistas, entre eles a ONG inglesa Gen Watch. Uma das alegações é de que ocorre escape de fêmeas na soltura dos machos - só os mosquitos fêmeas são capazes de picar e transmitir doenças. "Temos um controle de qualidade rigoroso. Se a gente chegar a 0,02% de fêmeas em uma amostra, fazemos tudo de novo. Elas também têm uma vida curta por serem produzidas em laboratório, não se tornam vetores", afirmou Trivelatto, da Oxitec. O MOSQUITO TRANSGÊNICO O pesquisador do Imperial College de Londres Tony Nolan, explica que o método da Oxitec é eficaz, porém complicado. "Você precisa escala industrial para inundar o ambiente de mosquitos e precisa continuamente soltar esses mosquitos no ambiente", explicou. O MOSQUITO TRANSGÊNICO A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou em 2015 a liberação comercial do mosquito transgênico criado para controlar a população do Aedes aegypti selvagem, que transmite a dengue. Segundo o órgão, ligado ao Ministério da Ciência, é o primeiro inseto geneticamente modificado a obter licença no Brasil. Uma nota da CTNBio explica que um parecer será publicado no Diário Oficial da União e, a partir daí, órgãos de registro e fiscalização terão 30 dias para se manifestar. Após esse período, caberá à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitir autorizações e registros para o uso em campanhas de saúde pública. O MOSQUITO TRANSGÊNICO O uso comercial do mosquito foi liberado, apesar de as preocupações manifestadas por organizações civis e pela prefeitura da cidade de Jacobina, na Bahia, onde foram realizados testes com o mosquito para reduzir os casos de dengue. O MOSQUITO TRANSGÊNICO Os mosquitos modificados foram soltos em junho de 2013 em um bairro da cidade de cerca 50 mil habitantes. No bairro, segundo a Moscamed, a diminuição da população do mosquito transmissor teria sido de 92%, mas a empresa reconhece que atendeu menos de 3% da cidade e por isso não esperaria que houvesse um impacto significativo nos casos totais de dengue na cidade. O fato é que em fevereiro de 2014, a prefeitura da cidade decretou situação de emergência em virtude de uma epidemia de dengue, classificada da como "desastre biológico". A reportagem entrou em contato com o prefeito para entender se o decreto estaria ligado aos testes com o mosquito modificado, mas não obteve resposta. Estudos independentes sobre a eficácia do OX513A deveriam ter sido conduzidos pela professora da USP Margareth Capurro, mas não foram finalizados por corte de verbas. Ela diz, porém, que dados preliminares corroboravam a eficácia do inseto modificado. A fabricante sustenta que teria alcançado e mantido supressões de dengue em mais de 90% dos projetos de campo. O MOSQUITO TRANSGÊNICO Desde abril de 2015, a cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, foi a primeira a adotar os transgênicos como parte da campanha de combate à dengue. Em março de 2015 o Ministério Público chegou a recomendar a suspensão da liberação dos mosquitos em Piracicaba, sob o argumento de que a eficácia não estava comprovada e citou o caso de Jacobina no parecer. A decisão foi revista um mês depois e a aplicação foi em frente. O cálculo foi de que 23 milhões de mosquitos foram soltos logo no início nos bairros de Cecap e Eldorado. O MOSQUITO TRANSGÊNICO A assessoria de imprensa de Piracicaba informou que ainda é cedo para avaliar o resultado da iniciativa, pois não há estatísticas de base para comparação. "Não seria possível mensurar o projeto antes de completar um ano e também comparar com os dados da secretaria municipal de Saúde de Piracicaba, no que diz respeito a casos de dengue, pois as estatísticas ainda não foram finalizadas". Dados da prefeitura revelam que 60% das larvas coletadas no mês passado herdaram o gene do mosquito modificado geneticamente, isso significa que vão morrer antes de se tornarem transmissores da dengue e outras doenças. No município de Piracicaba foram registrados 934 casos de dengue em 2014. Em 2015, havia 3.668 casos confirmados até 7 de dezembro. O MOSQUITO TRANSGÊNICO De que forma o mosquito transgênico faz diminuir a população do Aedes aegypti? A tecnologia consiste em produzir em laboratório mosquitos machos com dois genes diferentes do Aedes aegypti original. Fêmeas que vivem na natureza e cruzam com esses espécimes modificados geram filhotes que não conseguem chegar à fase adulta. Assim, ela "gasta" seu potencial reprodutivo com filhotes que acabam morrendo. Com o tempo, isso afeta o total da população numa determinada área. O MOSQUITO TRANSGÊNICO Por que o Aedes aegypti transgênico não sobrevive? Os machos com genes modificados nascem no laboratório com as células desreguladas, que são “curadas” graças ao uso do antibióticotetraciclina, que funciona como antídoto e ajuda no seu desenvolvimento até a fase adulta. Seus filhotes, concebidos após cruzamento com fêmeas selvagens, nascerão com o mesmo problema genético, mas devem morrer ainda na fase larva, vítimas de um colapso celular, pois não terão o antiobiótico. O MOSQUITO TRANSGÊNICO Existe o risco de o mosquito transgênico transmitir alguma doença? Segundo Danilo Carvalho, pesquisador do Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados da Universidade de São Paulo (USP), são desenvolvidos em laboratório insetos machos e fêmeas. No entanto, apenas os machos serão liberados em áreas públicas e não oferecem risco porque se alimentam apenas do néctar de flores. Ou seja: ninguém será picado por inseto transgênico. O MOSQUITO TRANSGÊNICO Há um risco de proliferação descontrolada desse mosquito transgênico? Não. Por não se desenvolver sem a ajuda do antibiótico, não há como ocorrer uma superpopulação. Quantos mosquitos machos já foram liberados? Cerca de 18 milhões de insetos já foram liberados nos testes feitos. MOSQUITO INFÉRTIL SEM TRANSGENIA Os dois projetos de transgênicos são vistos com desconfiança por ativistas, entre eles a ONG inglesa Gen Watch. Uma das alegações é de que ocorre escape de fêmeas na soltura dos machos - só os mosquitos fêmeas são capazes de picar e transmitir doenças. "Temos um controle de qualidade rigoroso. Se a gente chegar a 0,02% de fêmeas em uma amostra, fazemos tudo de novo. Elas também têm uma vida curta por serem produzidas em laboratório, não se tornam vetores", afirmou Trivelatto, da Oxitec. O Laboratório de Mosquito Geneticamente Modificado trabalha em uma variação da linhagem da Oxitec. Assim como a empresa de Campinas, o mosquito macho tem mudanças em seus genes. No entanto, no caso deste projeto, o macho é estéril e sequer produz filhotes. A pesquisa, sob supervisão da pesquisadora da USP Margareth Capurro, está em fase intermediária. O próximo passo, que deve ocorrer em breve, é fazer testes laboratoriais para saber se, em competição com o Aedes selvagem, o transgênico consegue reproduzir com as fêmeas. Na sequência, os estudos precisam ser seguidos com testes primeiramente locais para ver o resultado em pequenas comunidades e bairros. Os dois projetos de transgênicos são vistos com desconfiança por ativistas, entre eles a ONG inglesa Gen Watch. Uma das alegações é de que ocorre escape de fêmeas na soltura dos machos - só os mosquitos fêmeas são capazes de picar e transmitir doenças. "Temos um controle de qualidade rigoroso. Se a gente chegar a 0,02% de fêmeas em uma amostra, fazemos tudo de novo. Elas também têm uma vida curta por serem produzidas em laboratório, não se tornam vetores", afirmou Trivelatto, da Oxitec. MOSQUITO INFÉRTIL SEM TRANSGENIA O Laboratório de Mosquito Geneticamente Modificado trabalha em uma variação da linhagem da Oxitec. Assim como a empresa de Campinas, o mosquito macho tem mudanças em seus genes. No entanto, no caso deste projeto, o macho é estéril e sequer produz filhotes. A pesquisa, sob supervisão da pesquisadora da USP Margareth Capurro, está em fase intermediária. O próximo passo, que deve ocorrer em breve, é fazer testes laboratoriais para saber se, em competição com o Aedes selvagem, o transgênico consegue reproduzir com as fêmeas. Na sequência, os estudos precisam ser seguidos com testes primeiramente locais para ver o resultado em pequenas comunidades e bairros. MOSQUITO AGENTE Em pesquisa da Fiocruz de Manaus, armadilhas com uma pasta de larvicida são colocadas próximas a criadouros de mosquitos. Ao entrarem em contato com a pasta, os insetos também se tornam "agentes" contra a dengue e levam o larvicida no corpo para outros recipientes. O resultado em bairro de Manaus foi positivo: os insetos foram capazes de levar o inseticida a locais de até 400 m de distância e as larvas foram mortas. Também houve teste em Manacapuru (AM), cidade de 94 mil habitantes. As armadilhas (mais de mil) foram espalhadas. Em áreas onde a média era de 1.500 mosquitos recolhidos, o número caiu para 20. Agora, está prevista a criação de um protocolo para espalhar essa ferramenta para outras localidades. "Uma coisa é fazer em uma cidade pequena, outra é dimensionar o estudo para 3 milhões de habitantes, como Manaus. Tem que redimensionar o estudo e ver como aplicar", contou Sérgio Luz, um dos responsáveis pelo projeto. MOSQUITO AGENTE O Ecossistema pode ser atingido? Com exceção do estudo que envolve a Fiocruz do Rio de Janeiro, todas as pesquisas visam diminuir a população do inseto. Isso gera mais polêmica entre ativistas, que falam de possível entrada do Aedes albopictus, outra espécie do mosquito, e de mudanças no ecossistema. Os pesquisadores negam. "A invasão de uma espécie sobre a outra é a mesma coisa que você falar que saiu a vacina de dengue e depois surgiu zika. Não é que surgiu um vírus pior, ele já existe lá. Não tem chance. O mosquito também não é alimento único de uma espécie de pássaro e é urbano, o ecossistema não seria afetado", diz Margareth Capurro. ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Velas ou essência à base de citronela: Não é incomum associar a citronela como repelente natural de mosquitos e pernilongos. Para o professor de imunologia e alergia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) Esper Kallas, no entanto, a medida auxilia, mas tem eficiência limitada. ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Não há uma 'bala de prata' contra o Aedes aegypti", explica. Segundo ele, mesmo os repelentes tópicos recomendados pelo Ministério da Saúde reduzem, mas não eliminam o risco de picadas. "Os repelentes naturais, como a citronela, são ainda mais limitados." Nancy Bellei, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), diz que os repelentes naturais têm ação por um tempo curto --os industriais duram de quatro a dez horas. "Repelentes naturais como a citronela agem por cerca de 20 minutos e evaporam; talvez em ambientes fechados até sejam um pouco mais eficazes". ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Telas nas portas e janelas O uso de telas nas portas e janelas pode servir como barreira para o mosquito em ambientes fechados - mas apenas dentro deles, vale lembrar. Quem explica é o epidemiologista Expedito Luna, da Faculdade de Medicina Tropical da USP: "Selar portas e janelas com telas é eficiente – isso já foi verificado, por exemplo, em cidades norte-americanas". A medida só eficiente com as janelas e portas fechadas. ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Calças e blusas de manga longa: O uso de calças ou blusas de mangas longas até dificulta o trabalho do Aedes. A questão, porém, é proteger também as áreas que ficam sem cobertura, como rosto, pés e mãos. "Pode até ajudar, mas é pouquíssimo prático e pouco viável a pessoa conseguir esconder o rosto, os pés e as mãos. A menos que use repelente industrial junto, ou a citronela, a cada 20 minutos", indica Nancy, professora da Unifesp. ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Mosquiteiros: O uso de mosquiteiros é considerado eficiente, sobretudo para bebês. Kallas, coordenador dos testes da vacina contra a dengue, enfatiza: "Tanto ele quanto a tela são válidos, só que a pessoa teria que ficar restrita à área onde essas estruturas estejam instaladas. Quando ela sai para a área externa, porém, volta a dificuldade." ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Repelentes de tomada: Da mesma forma que a citronela, repelentes de tomada – líquidos ou sólidos – podem ajudar momentaneamente a afastar o Aedes, ainda que não sejam 100% eficazes. Quem afirma é o pesquisador da USP Esper Kallas.ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Complexo B e ar-condicionado: Ingerir vitamina B12 ou Comblexo B não afasta o mosquito. "Isso não funciona. O que a pessoa pode fazer para minimizar o risco, caso não tenha o repelente industrial, é ligar o ar condicionado a 16° C ou 18° C, porque a menor temperatura diminui o batimento das asas do mosquito", orientou a infectologista da Unifesp. ARMAS APONTADAS PELOS MÉDICOS PARA EVITAR O MOSQUITO Aedes aegypti Combate a criadouros do mosquito A orientação de todos os médicos sempre é de evitar possíveis focos de criação do mosquito. Proteger recipientes usados para guardar água, tirar da chuva objetos que possam acumular líquido, usar areia nos vasos de plantas estão na lista de dicas. O cuidado vale ainda mais para gestantes, pois até o momento os casos de má-formação cerebral (microcefalia) confirmados foram em mulheres que tiveram zika nos primeiros meses da gravidez. "Se a paciente está grávida e mora em área de infestação, o ideal seria que ela conhecesse as áreas onde tem o mosquito para que promovesse a limpeza delas. É preciso falar com vizinhos. Agora, se isso é no local onde ela trabalha, complica um pouco – mas é preciso lembrar as pessoas que essas doenças dependem muito da conscientização pública de cada uma delas", diz a infectologista da Unifesp. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vencer o mosquito Aedes aegypti se tornou uma das prioridades da saúde pública no Brasil. Mas por que o país ao longo de tantos anos de epidemias não conseguiu? Em 2015, foram notificados 1,5 milhão de casos de dengue --recorde histórico-- e há uma estimativa de que entre 500 mil e 1,5 milhão de pessoas possam ter sido infectadas por zika. Integrantes de sociedades médicas e de professores afirmam que houve descaso do poder público ao problema e falhas no combate ao mosquito, mas que grande parte da culpa estaria na urbanização precária das cidades e no clima tropical propício para o mosquito. Tudo isso tornou o Brasil a "casa ideal" para o mosquito viver e reproduzir. "O mosquito vive muito bem próximo ao ser humano, e como a maioria das pessoas mora de forma inadequada, sobrevivendo em grandes cidades com desigualdades sociais e alta densidade, produzindo muito lixo, facilita a manutenção dos focos. A urbanização desordenada é um fator determinante", diz a professora titular de doenças infecciosas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Vera Magalhães. CONSIDERAÇÕES FINAIS Cidades impermeabilizadas e com lixo são ideais para mosquito A caça aos focos do mosquito serve como uma medida emergencial, mas não é a ideal a longo prazo. "O poder público tem que traçar politicas públicas no sentido de tentar melhorar a qualidade de vida da população, como coletar o lixo em todas as áreas. O saneamento é fundamental. Estamos passando agora por um racionamento de água nas cidades do interior [de Pernambuco], principalmente a população de baixa renda não tem recipientes adequados, mas precisa acumular água. Isso tudo facilita a manutenção dos focos", relata Vera. O presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose e integrante do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Artur Timerman crava que, sem mudança na concepção das cidades, não há como eliminar o mosquito.