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O papel da crítica no jornalismo: Uma análise do ombudsman da Folha de São Paulo


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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
COMUNICAÇÃO SOCIAL 
HABILITAÇÃO EM JORNALISMO 
 
 
 
 
 
 
KARINA MONTEIRO DE BARROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PAPEL DA CRÍTICA NO JORNALISMO: UMA ANÁLISE DO OMBUDSMAN DA 
FOLHA DE SÃO PAULO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CABO FRIO 
2017.2 
 
 
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO JORNALISMO 
 
 
 
 
 
 
KARINA MONTEIRO DE BARROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PAPEL DA CRÍTICA NO JORNALISMO: UMA ANÁLISE DO OMBUDSMAN DA 
FOLHA DE SÃO PAULO 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social 
da Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio, Rio 
de Janeiro, como requisito para obtenção do título de 
Bacharel em Jornalismo. 
 
Orientador: Prof. Dra. Monica Sousa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CABO FRIO 
2017.2 
 
 
Karina Monteiro de Barros 
 
 
 
 
 
 
O Papel da Crítica no Jornalismo: Uma Análise do Ombudsman da Folha de São Paulo 
 
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social 
da Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio, 
Rio de Janeiro, como requisito para obtenção do título de 
Bacharel em Jornalismo. 
 
Aprovado em: _________________ 
 
Banca Examinadora: 
 
__________________________________________________ 
Prof. Dra. Monica Sousa (orientadora) 
 
 
__________________________________________________ 
Prof. Me. Guilherme Carvalhido Ferreira 
 
__________________________________________________ 
Profa. Me. Evângelo Leal Gasos 
 
Cabo Frio 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta monografia à meus pais, Susani e 
José Luiz, aos meus irmãos, Kelly e Lucas, ao 
meu namorado, Thiago, aos meus avós 
maternos e paternos e aos meus amigos 
queridos, em especial a Larissa Siqueira, 
Thainá Leite, Camilla Nunes e André Abrantes 
por todo o apoio durante essa caminhada. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Lembro na terceira série do fundamental quando a matéria que tocava o meu coração 
era aquela que a professora nos fazia escrever incansáveis histórias, chamada popularmente 
como Redação, foi através dela que me descobri. Na oitava série já sabia o que queria para a 
vida: ser J-O-R-N-A-L-I-S-T-A. Agradeço à Deus, por ter me dado o ar da vida e me capacitado 
para chegar até o momento presente. Aos meus pais, Susani Bastos e José Luiz Barros por todo 
o esforço e suporte financeiro para me proporcionar o melhor que puderam e por confiarem nas 
minhas escolhas. Aos meus irmãos, Kelly Monteiro e Lucas Monteiro, por acreditarem em mim 
e torcerem pelo meu sucesso. Ao meu namorado, Thiago Rodrigues, por ser minha melhor 
companhia, pela paciência e por ser meu refúgio nos momentos de desespero. Aos meus avós, 
Antônio Barros, Júlia Barros, Nadir Bastos e José Ilton Bastos, que infelizmente já se foram, 
mas tenho certeza que se orgulham imensamente de sua neta amada. Às amizades que 
conquistei nessa jornada, Larissa Siqueira, Camilla Nunes, André Abrantes, Thainá Leite, 
obrigada por tornarem os momentos na faculdade mais leves. Aos meus professores 
universitários, agradeço por compartilharem o conhecimento de vocês comigo. Em especial à 
Monica Sousa, que enxerga o nosso potencial quando duvidamos de nós mesmos. Dedico este 
trabalho a todos aqueles que passaram pela a minha vida e, de alguma forma, me ajudaram a 
alcançar esse sonho - “Because I’m Not Alone” (porque eu não estou sozinha). Eterna gratidão. 
Obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho busca analisar o papel desenvolvido pela ombudsman Paula 
Cesarino Costa, no jornal Folha de São Paulo através das colunas publicadas aos domingos 
entre os dias 01/05/16 e 29/10/17. No intuito de aprofundar a pesquisa foram escolhidas 4 
colunas, com os respectivos temas: “É tempo de competir”, “O lado da Folha na Previdência”, 
“A queda do poderoso machão”, “Lei, ora a lei”, que ajudaram a apontar e evidenciar algumas 
características praticadas pela profissional. Por meio dessa análise documental e bibliográfica 
e com a colaboração do projeto editorial do jornal e do Manual da Redação verifica-se que há 
dicotomias entre a instauração do cargo e a sua legitimação, através de uma reflexão ética, 
crítica, democrática, discursiva e empresarial. 
Palavras-chave: Jornalismo; Ombudsman; Crítica; Folha de São Paulo; Ética; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This paper seeks to analyze the role developed by the ombudsman Paula Cesarino 
Costa, from the newspaper Folha de São Paulo, through the columns published on Sundays 
between 01/05/16 and 29/10/17. Seeking a better understanding about the research, four 
columns were chosen, with the following topics: “É tempo de competir”, “O lado da Folha na 
Previdência”, “A queda do poderoso machão”, “Lei, ora a lei”, which helped to point and to 
evidence some of the characteristics used by the professional. By this documental and 
biographical analysis, and with the collaboration of the newspaper’s editorial project and the 
Newsroom Handbook, dichotomies were noted between the establishment of role and its 
legitimation, through and ethic, democratic, discursive and business reflection. 
Keywords: Journalism; Ombudsman; Review; “Folha de São Paulo”; Ethics; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÍNDICE DE FIGURAS 
 
Fig. 1: Capa do Jornal Folha de São Paulo no dia 24/09/89, em que foi inaugurada a primeira 
publicação do ombudsman de imprensa no veículo..................................................................17 
Fig. 2: Gráfico sobre número de vezes e temas abordados pela Paula Cesarino Costa na 
coluna........................................................................................................................................43 
Fig. 3: Tabela com as colunas que possuem elogios feitos pela ombudsman ao jornal...............46 
Fig. 4: Informação contida em todas as colunas do ombudsman no rodapé do jornal 
impresso....................................................................................................................................47 
Fig. 5: Alguns trechos de observações feitas pela ombudsman acerca do jornalismo..............47 
Fig. 6: Gráfico sobre análises jornalísticas que aparecem nos textos da ombudsman...............47 
Fig. 7: Publicidade na página A6 da Folha de São Paulo. As imagens foram tiradas do acervo 
online do jornal..........................................................................................................................49 
Fig. 8: Outra publicidade na página A6 da Folha de São Paulo. As imagens foram tiradas do 
acervo online do jornal..............................................................................................................49 
Fig. 9: Tabela com evidências encontradas nas colunas da ombudsman..................................58 
Fig. 10: Tabela de elogios e críticas encontrados nas 4 colunas analisadas..............................59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO 10 
1 - OMBUDSMAN E HISTÓRIA12 
1.1 - Breve Histórico 12 
1.2 - Ombudsman de imprensa no Brasil e na Folha de São Paulo 15 
1.3 - A ética e o jornalismo 18 
2 - OMBUDSMAN E JORNALISMO 21 
 2.1 - Jornalismo e democracia 23 
2.1.1 - Esfera Pública e Opinião Pública 27 
2.1.2 - Teoria da Espiral do Silêncio 29 
 2.2 - O discurso jornalístico 31 
 2.3 – Comunicação e Libertação 35 
2.3.1 – Teoria Interacionista 36 
3 – O ombudsmanato da Folha de São Paulo 39 
 3.1 – A Folha: Diretrizes do Projeto Editorial e do Manual da Redação 39 
 3.2 – A Coluna: Características e Evidências 42 
 3.3 – Por trás da cortina do ombudsman da Folha 50 
3.3.1 – Síntese da Análise 57 
CONCLUSÃO 62 
REFERÊNCIAS 63 
APÊNDICE – ENTREVISTA PAULA CESARINO COSTA 67 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Embora seja uma função antiga, exercida desde a Roma Antiga, o ombudsman surge 
oficialmente com esse nome em 1809, na Suécia. Dentre as diversas funções que ele pode 
exercer, como mediador, uma delas é o de imprensa. O pioneiro na criação do ombudsman 
voltado para a imprensa foi os Estados Unidos. Já no Brasil o primeiro jornal a instaurar 
publicamente o cargo foi a Folha de São Paulo. 
A função existe na Folha há 27 anos, nesse tempo o cargo passou por várias mudanças. 
Atualmente, a jornalista Paula Cesariano Costa, está preenchendo a vaga e seu histórico na 
empresa é desde 1987. Já foi Editora de Política, Negócios e Especiais, além de já ter sido 
Secretária da Redação da Folha. Até 2016, comandou a sucursal do Rio de Janeiro, e assumiu 
o cargo no mês de maio do ano passado. 
A pesquisa tem como finalidade, para o jornalismo, a busca por uma melhor qualidade 
de informação produzida pela Folha e analisada pela atual ombudsman da empresa. Sabe-se 
que a informação é essencial dentro das organizações, e é um diferencial competitivo muito 
importante no mundo contemporâneo. Contudo, para contribuir no processo do fazer 
jornalístico, as informações devem ser confiáveis e de qualidade. A pesquisa sobre a análise do 
conteúdo do ombudsman no jornal apresenta sua importância frente aos questionamentos da 
sociedade quanto a essas informações veiculadas pela Folha e exploradas por essa parte 
integrante da organização. 
Na estrutura do trabalho, a parte histórica que trata do aspecto do surgimento e 
consolidação da função estão dispostas no primeiro capítulo deste trabalho, assim como, a ética 
na profissão. O segundo capítulo apresenta teorias da comunicação que corroboram para a 
reflexão desse sujeito discursivo que produz sentidos sobre o jornalismo. O terceiro capítulo 
traz, um questionamento e contextualização do cargo do ombudsman na Folha de São Paulo. 
De forma mais aprofundada, o primeiro capítulo aborda como se deu o surgimento desse 
profissional e conta os detalhes da criação do cargo do ombudsman de imprensa no Brasil e na 
Folha. Além de fazer uma abordagem sobre a ética no jornalismo de maneira geral, e na prática 
diária do ombudsman que tem como papel ser a ponte ente o jornal e o leitor. 
A partir das questões éticas, o segundo capítulo apresenta através de um estudo teórico 
a relação do profissional com o jornalismo e o seu papel na esfera pública, além do seu 
compromisso com a opinião pública e com a informação de forma democrática. O discurso do 
ombudsman também é estudado nesse capítulo. 
11 
 
A última parte da pesquisa pode ser compreendida por meio de um estudo aprofundado 
desse profissional através de gráficos que apontam algumas características exercidas nas 
colunas. Algumas dessas vão de encontro ao que rege o Manual da Redação do próprio jornal. 
Além de trazer como uma questão central o papel desempenhado pelo ombudsman no veículo 
colocando em prova a sua tentativa de distanciamento discursivo da empresa em que trabalha. 
Sob o olhar de que o ouvidor possui como eixo central ser pautado na ética, e por se 
tratar de um espaço para a democracia dentro do jornal, foi realizada uma análise documental 
com base em um aprofundado de estudo teórico produzido por meio da metodologia de análise 
de conteúdo. Realiza-se um estudo de caso através de 4 colunas publicada aos domingos pelo 
ombudsman da Folha, no período entre 01/05/16 e 29/10/17. Como recorte temporal foram 
selecionadas colunas com temas recorrentes na sociedade atual, como Política, Economia, 
Jogos Olímpicos e a questão de gênero. São datadas em - 07/08/16, 20/11/16, 09/04/17 e 
27/08/17. Os títulos das colunas são: “É tempo de competir”, “O lado da Folha na Previdência”, 
“A queda do poderoso machão”, “Lei, ora a lei”. 
Para embasamento teórico, o trabalho serve-se de diversos autores, entre filósofos, 
teóricos da comunicação e jornalistas. Para tratar do jornalismo a pesquisa é complementada 
por Felipe Pena, Nelson Traquina, John B. Thompson, e na relação do jornalismo com o 
ombudsman Jairo Faria Mendes, Caio Túlio Costa são utilizados como forma de aprofundar a 
pesquisa. O discurso e a sua relação de poder com os meios de comunicação aparecem através 
de Michel Foucault, Venício Lima, Eni P. Orlandi e algumas obras de Michael Pechêux 
traduzidas pela autora. Com relação a ética podemos encontrar como principais autores 
Eugêncio Bucci e Rogério Christofoletti. A questão da democracia, opinião e esfera pública são 
desenvolvidas com os estudos baseados em: Walter Lippman, Jürgen Habermas e através da 
Teoria da Espiral do Silêncio desenvolvida por Elizabeth Neumann. Outras teorias também são 
apresentadas ao longo do trabalho, como: Teoria Interacionista e a Teoria dos Newsmaking. 
Outros estudiosos também aparecem no decorrer do trabalho, alguns deles são: Luis Martins da 
Silva, Dominique Wolton, João Carlos Correia, Marilena Chauí, Ciro Marcondes Filho. 
A pesquisa, então, através do estudo de caso levanta a hipótese sobre a existência de um 
distanciamento discursivo entre o papel desse profissional e o lugar ocupado por ele na empresa, 
pois surgiu como uma forma de autorregulamentação dos meios de comunicação social e ao 
mesmo tempo uma estratégia de credibilidade no âmbito dos meios de comunicação. É também 
analisado através de uma perspectiva empresarial, ao qual é submetido pelas diretrizes e normas 
do Manual da Redação do jornal. Os resultadosencontrados durante a análise são apresentados 
na conclusão da pesquisa. 
12 
 
1 – OMBUDSMAN E HISTÓRIA 
 
Muitas das características do mundo moderno são consequências das transformações 
que ocorreram primeiramente na Europa, que se estenderam até a idade moderna e se 
expandiram ao longo do mundo. Essas mudanças proporcionaram novos mecanismos para os 
países crescerem e se desenvolverem. O surgimento de novas instituições e a modificação de 
práticas culturais e tradicionais foram crescentes ao longo desse tempo e se mostraram fatores 
determinantes para a colaboração do avanço tecnológico da sociedade moderna (THOMPSON, 
1998). 
 Nessa concepção a comunicação sempre esteve presente como ferramenta importante 
para alavancar as transformações que foram suscitadas ao longo das décadas. Assim, a imprensa 
em seu sentido mais amplo teve papel fundamental no desenvolvimento das democracias. A 
possibilidade de um mundo que se priorize os direitos humanos passa, necessariamente, por 
processos culturais determinados pela comunicação. Por esse olhar, o surgimento do 
ombudsman de imprensa possui como intuito nascer como uma oportunidade para os meios de 
comunicação prezarem pela transparência e democratização da informação (MENDES, 2002). 
 
1.1 – Breve Histórico 
 
De origem sueca, a expressão ombudsman quer dizer “aquele que representa” e serve 
para designar o ouvidor-geral. As palavras ouvidor ou ombudsman são praticamente sinônimas 
e as responsabilidades são idênticas. O seu significado etimológico é compreendido como 
ombud que significa (representante) e o sufixo man (homem). O conceito teve início na Suécia, 
pelo Rei Carlos XII, no ano de 1713 e se oficializou institucionalmente por uma reforma 
constitucional que ocorreu somente no início do século XIX. Outras fontes indicam que o 
surgimento da função ocorreu desde os tempos monárquicos. A origem do cargo pode ter 
surgido na Grécia Antiga, aproximadamente 400 a.C. ou na China. Pois, antes mesmo do 
ombudsman aparecer, na Roma Antiga já existiam os ouvidores do povo, tal como os Tribunos 
da Plebe, que atuavam junto ao senado em defesa dos direitos e interesses da população. Ou 
ainda, na China, onde exerciam o papel de ouvidores Já no Brasil, o Papa exercia essa função 
de ouvidor da Coroa Portuguesa. Em 1823, durante o Império de D. Pedro I, surgiu a primeira 
ideia de um ouvidor voltado para o povo, como um juiz. O ouvidor naquele tempo não era 
representante do cidadão, e sim do Império, função contrária à exercida hoje (MENDES 2002). 
13 
 
No início a função do ombudsman consistia em uma espécie de representante que tinha 
um status social de ministro e desempenhava o papel de fiscalizar o poder público e ouvir as 
queixas que os cidadãos tinham contra os órgãos governamentais. Se alguém tinha problemas 
com a burocracia, se fosse mal atendido em alguma repartição pública ou até mesmo se tivesse 
conhecimento de irregularidades no serviço público, o ombudsman era quem deveria ser 
procurado para tratar desses assuntos (MENDES, 2002). 
Existem diferentes funções desempenhadas por esses ouvidores. A Suécia quase 100 
anos depois da implantação de seu ombudsman criou cargos semelhantes, como, por exemplo, 
o ombudsman do parlamento, dos consumidores, contra as discriminações étnicas e sexuais, por 
fim, o ombudsman de imprensa. Em 1919 a Finlândia implantou a função. Na década de 50, 
esta atitude foi copiada por outras nações como a Noruega, Dinamarca e Nova Zelândia 
(MENDES, 2002). 
 
A partir de 1900, a Suécia moderniza a instituição e cria outros tipos de 
ombudsman: de assuntos militares e judiciais; da administração civil; dos 
consumidores; da liberdade econômica e, mais tarde, da imprensa. Cada um 
deles com abrangência de atuação e subordinação precisas. De todas as 
modalidades, o ombudsman de imprensa foi o que mais se popularizou 
(GIAGRANDE E FIGUEIREDO, 1997 p.20). 
 
Dentre as diversas funções que ele pode exercer, como mediador, uma delas é o de 
imprensa. Entretanto, existem algumas divergências sobre qual país foi pioneiro na criação do 
cargo. Há poucos anos, os Estados Unidos era considerado o criador da função que ocorreu 
precisamente no estado de Kentucky, em julho de 1967. Não se tem certeza sobre qual diário 
foi o primeiro a instaurar o ombudsman na imprensa, se foi o Louisville Courier-Journal ou o 
Louisville Times. O jornalista John Herchenroeder foi o primeiro a assumir a função e ficou 
conhecido como o primeiro ombudsman da imprensa americana e Richard Harwood foi o 
primeiro a ter uma coluna pública, no Washington Post na década de 80. No entanto, tudo isso 
foi questionado por jornais japoneses, que afirmavam terem implantado cargos semelhantes 
muitas décadas antes. Em setembro de 1999, a Organization of News Ombudsmen (Organização 
Mundial dos Ombudsmans de Imprensa) reconheceu que o Japão havia sido o primeiro a criar 
o cargo, pois até então a ONO1 considerava os Estados Unidos como os pioneiros. O Asahi 
Shimbum foi o primeiro jornal japonês a implantar a função, em 1922. O Yomiuri Shimbum, 
 
1 A ONO é a associação profissional dos ombudsmans de imprensa, de extensão mundial, sediada nos Estados 
Unidos, cujo site é www.newsombudsmen.org. Atualmente a presidente da associação é Esther Enkin, da CBC 
(Canadian Broadcasting Corporation) no Canadá. 
14 
 
atualmente o jornal com maior circulação de exemplares por dia, copiou a iniciativa no ano de 
1938. Uma grande parte dos jornais japoneses adotaram a função depois do fim da Segunda 
Guerra Mundial (SILVA, 1990). 
Vários dos maiores jornais do mundo possuem a função, como o El País e La 
Vanguardia (Espanha), Le Monde (França), Washington Post, The Boston Globe e Philadelfia 
Inquirer (Estados Unidos), Diário de Notícias (Portugal). No Brasil é difícil saber quantos 
jornais possuem ombudsman. Em 1995, oito jornais brasileiros possuíam a função: Folha de 
São Paulo, Folha da Tarde (SP), O Dia (RJ), AN Capital (SC), O Povo (CE), Correio da 
Paraíba (PB), Diário do Povo (Campinas - SP) e Rumos (CE). Atualmente, somente dois 
jornais mantém a função, são eles a Folha de São Paulo e O Povo. 
A filiação de ombudsman - The Organization of News Ombudsmen - (ONO), é composta 
por vários representantes de leitores de todo o mundo. Os ombudsmans são indivíduos que 
trabalham para uma organização e lidam com queixas que são recebidas ou chamam sua 
atenção. Segundo o site oficial da ONO, os seus propósitos são ajudar o jornalismo e a profissão 
a alcançar padrões éticos nas suas reportagens e notícias, o que acarretará no aumento de sua 
credibilidade entre as pessoas que serve. A instituição possui o intuito de melhorar o trabalho 
de ombudsman ao criar padrões para que a prática seja aperfeiçoada, além de tornar mais amplo 
a posição desse profissional nos meios de comunicação. Na parte comunicacional fornece um 
fórum para intercâmbio de informações e ideias de seus membros, desenvolvem contato com 
editores, conselhos de imprensa e outras organizações profissionais. Por fim, possuem o papel 
de sugerir oradores para grupos de interesses e responder a perguntas dos meios de 
comunicação. 
No livro “O Adiantado da Hora”, Silva (1990) cita que nos Estados Unidos, o 
ombudsman possuía um papel bastante ativo, cuja função era tida como um advogado dos 
leitores, pronto a criticar fortemente jornalistas e afrontar o veículo de comunicação ao qual 
presta serviços. Desde que surgiu, o ombudsman de imprensa está inserido na esfera pública 
como representante dos direitos de cidadania e possui uma responsabilidade social. A luta por 
direitos próprios da burguesia na RevoluçãoFrancesa2 abriu as portas para a origem do 
ombudsman, que de fato, pode ser considerado como o primeiro “defensor do povo” (SILVA, 
1990). 
 
 
2 Foi um movimento social e político que aconteceu na França em 1789 e derrubou o Antigo Regime, abrindo o 
caminho para uma sociedade moderna com a criação do Estado democrático. Além disso, acabou influenciando 
diversos lugares no mundo, com os seus ideais de “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. 
15 
 
1.2 – Ombudsman de imprensa no Brasil e na Folha de São Paulo 
 
O modelo do jornalismo como é conhecido hoje teve sua expansão no fim do século 
XIX, com o crescimento da imprensa e sua eclosão como o primeiro mass media. Até então, os 
jornais eram identificados apenas como acessórios de lutas políticas. As grandes 
transformações tecnológicas, sociais e políticas que ocorreram durante este século foram 
essenciais para que o jornalismo se desenvolvesse e explodisse no século XX (TRAQUINA, 
2005). 
De acordo com essa perspectiva, em meio às transformações pelas quais o jornalismo 
passou e com o surgimento de novas tecnologias de comunicação e o aumento da velocidade 
de circulação de informação, Mendes (2002) ressalta que o surgimento do ombudsman de 
imprensa no trouxe novos ares a prática jornalística e é um novo mecanismo de controle dos 
meios de comunicação: 
 
A adoção do ombudsman dá a ideia de democratização do jornal, 
principalmente porque ele também é um crítico. Seria uma demonstração que 
o jornal está aberto à crítica e ao debate. A Fenaj (Federação Nacional dos 
Jornalistas) tem defendido o papel do ombudsman como instrumento de 
democratização social da comunicação e fiscalização da mídia (MENDES, 
2002 p. 33). 
 
No Brasil o cargo poderia ter surgido muito antes se tivesse aparecido um jornalista 
disposto a ocupá-lo. O Jornal do Brasil quis criar essa função, mas não conseguiu ninguém 
disposto a assumir esse papel. A criação em terras brasileiras aconteceu apenas em 1989, no 
jornal Folha de São Paulo. Nessa fase, os brasileiros exalavam ares de redemocratização, 
comemoravam a promulgação da Constituição de 1988, que ampliava os direitos civis dos 
cidadãos e incentivava a população a participar das decisões que pudessem mudar o destino da 
nação (COSTA, 2006). 
A necessidade de se instaurar um ouvidor do povo nos meios de comunicação do Brasil 
ganhou destaque, pois de acordo com os relatos do então primeiro ombudsman brasileiro, a 
Folha buscou entender sobre o cargo desde 1986, impulsionada pelo jornal espanhol “El País” 
e pelo norte-americano “The Washington Post” que já possuíam essa função dentro da empresa. 
Logo o jornal assumiu o objetivo de ter seu próprio ombudsman espelhado no modelo 
americano (COSTA, 2006). 
O primeiro Ombudsman da Folha elucida em seu livro “O Relógio de Pascal” o que ele 
aponta como real necessidade para se criar o cargo: 
16 
 
Não estão nos erros de composição, ou de gramática, a origem da necessidade 
do ombudsman de imprensa. Ela vem da constante necessidade de menos erros 
de informação, da sempre urgente melhor necessidade. Desde o começo do 
século a imprensa ensaiou passos no sentido de institucionalizar uma tarefa a 
cada dia mais útil – tanto para o leitor, que passa a consumir menos informação 
errônea, quanto paras as vítimas da própria imprensa. De sobra, os jornais 
podem ver crescer sua credibilidade (id, 2006 p. 18). 
 
No dia 24 de Setembro de 1989 nasce a primeira publicação oficial do ombudsman no 
primeiro caderno da Folha, a coluna teve como título “Quando alguém é pago para defender o 
leitor” do então jornalista Caio Túlio Costa. 
 
Imagem 1: Capa do Jornal Folha de São Paulo no dia 24/09/89, em que foi inaugurada a primeira publicação do 
ombudsman de imprensa no veículo. 
 
Desde a criação da função na Folha de São Paulo muitos profissionais já assumiram 
esse papel, ao todo 12 jornalistas já ocuparam o lugar do ombudsman da Folha. De acordo com 
o site oficial do jornal e em ordem cronológica, são eles: Caio Túlio Costa, Junia Nogueira de 
Sá, Marcelo Leite, Mario Vitor Santos, Renata Lo Prete, Bernardo Ajzenberg, Marcelo Beraba, 
Mário Magalhães, Carlos Eduardo Lins da Silva, Suzana Singer, Vera Guimarães Martins e, 
17 
 
por fim, a jornalista e a atual ombudsman Paula Cesarino Costa que está na Folha desde 1987 
e foi Secretária de Redação, além de editora de Política, Negócios e Especiais. Até o ano de 
2016, era ela quem chefiava a sucursal do jornal no Rio de Janeiro e é a quinta mulher a assumir 
a função. No dia primeiro de Maio de 2016, Paula Cesarino publicou a sua primeira coluna na 
Folha com o seguinte tema “Trazer o leitor para dentro da notícia” em que conta um pouco 
sobre o surgimento do cargo, aborda a função desempenhada por esse profissional e apresenta 
os dilemas do cargo. 
A palavra ombudsman surge no Manual da Redação da Folha apenas na edição de 1992, 
o manual define o termo como um representante dos interesses do leitor na estrutura do jornal, 
cabendo a ele atender os leitores da Folha e encaminhar as suas reclamações à redação. As 
providências tomadas são comunicadas a ele pela direção de redação, que centraliza todos os 
contatos. Além disso, o Manual fala de suas tarefas e das obrigações da Folha com o profissional 
(MANUAL DA REDAÇÃO, 2010). Uma dessas é a seguinte: “diariamente o ombudsman 
redige uma crítica interna que circula na redação e áreas afins. Aos domingos, a folha publica 
uma coluna do ombudsman, em que ele faz uma crítica aos meios de comunicação, 
particularmente do desempenho do próprio jornal” (MANUAL DE REDAÇÃO, 2010 p.116). 
No Manual da Redação, também é possível encontrar outras definições para o termo. 
No capítulo destinado a “Padronização e Estilo” da FSP3, está presente uma outra definição da 
palavra ombudsman pela ótica do veículo quanto ao uso da palavra: 
 
“Palavra de origem sueca que significa “aquele que representa”. Pronuncia-se 
“ômbudsman”, mas no Brasil fixaram-se as formas “ombúdsman” ou 
“ombudsmân”. A Folha usa o termo ombudsman tanto no feminino quanto no 
masculino. No plural, grafa-se “ombudsmans” (MANUAL DA REDAÇÃO, 
2010 p. 92). 
 
Por todos esses anos essa função passou por transformações e ganhou novos formatos. 
Por isso, de acordo com o jornal um conjunto de garantias são oferecidas ao ombudsman, como 
estabilidade e independência. Para que de acordo com a Folha, o cargo fosse exercido com 
autonomia o jornal institui inicialmente o mandato de um ano para cada ombudsman, com a 
possibilidade de apenas mais uma renovação de um ano. Essa ideia, posteriormente foi 
expandida e as normas foram corrigidas. A partir de janeiro de 1998, o ombudsman poderia 
exercer a função durante três anos consecutivos, no lugar de dois anos. Como forma de garantia 
ficou estabelecido que o profissional não poderia ser demitido durante seu mandato, e teria a 
 
3 abrev. FSP – Folha de São Paulo 
18 
 
segurança de uma estabilidade correspondente a seis meses de permanência no jornal após 
deixar a função (COSTA, 1996). 
Diferente da Folha, o site oficial do jornal O Povo conta que demorou um pouco mais 
para adoção de um profissional nesses moldes. Inspirado no periódico paulistano, o cargo foi 
implantado no jornal cearense somente em 1994 e teve como sua primeira ombudsman a 
jornalista Adísia Sá que se tornou uma referência na discussão do trabalho de ouvir os leitores 
e criticar a mídia no Nordeste (MENDES, 2002). 
Como citado anteriormente no presente trabalho, somente a Folha e O Povo mantêm a 
função do ombudsman em seu jornal. E a principal diferençaentre eles é na escolha de temas. 
Pois, por a Folha ser um jornal de circulação nacional a sua maior ênfase são em assuntos de 
interesse para todo o país, diferentemente do jornal cearense que possui uma circulação limitada 
a sua região. Por essa ótica, os critérios de noticiabilidade e os valores notícias abordados por 
Traquina (2005) em seu livro, “Teorias do Jornalismo - Porque as notícias são como são” se 
tornam mecanismos importantes para a prática jornalística desses profissionais, assim como a 
linha editorial de cada veículo e os interesses de poder em suas enunciações. 
 
1.3 – A ética e o jornalismo 
 
As reflexões referentes à ética na comunicação assumem importância maior à medida 
que a mídia ocupa um papel central na contemporaneidade. No Brasil, vários são os códigos 
deontológicos que dividem espaço no mercado e nas redações, o que não impede que o 
jornalismo ainda sim sofra falhas éticas e desvios. Os mais conhecidos, são: Código de Ética e 
Autorregulamentação da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Princípios Éticos da 
Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), Código de Ética da Radiodifusão 
Brasileira, da Associação de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Código de Ética dos 
Jornalistas Brasileiros, assinado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) 
(CHRISTOFOLLETI, 2008). 
Conforme o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros elaborado pela Federação 
Nacional dos Jornalistas, precisamente no Art 1º do Capítulo I está documentado o direito do 
cidadão à informação, “O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito 
fundamental do cidadão à informação, que abrange seu o direito de informar, de ser informado 
e de ter acesso à informação” (FENAJ, 2007). 
O jornalismo possui como eixo central o papel aglutinador de valores e ética, pois ao 
estar atrelado a imagem do provedor representa uma forma de autorregulamentação dos meios 
19 
 
de comunicação social. Ao mesmo tempo, é tido como uma estratégia de credibilidade no 
âmbito dos meios de comunicação (MENDES, 2002). 
Grande parte do que chamamos de realidade nos chega pelos meios de comunicação, e 
isso não interessa apenas aos jornalistas, que vivem dos fatos, interessa a todos que são afetados 
pela mídia. Ninguém está imune a essa perspectiva, e é por isso que a ética no campo jornalístico 
deve se preocupar não somente com quem produz a informação, mas também com quem a 
consome (CHRISTOFOLETTI, 2008). 
Em meio à situação, Bucci (2000), assegura e define como ideal jornalístico a 
particularidade do jornalismo em relação aos meios de comunicação em geral, em que lida com 
a verdade factual e que deve promover a busca da verdade de forma equilibrada e crítica. “A 
ética da imprensa é específica e assim deve ser, para benefício público” (BUCCI, 2000 p. 186). 
Ele ainda afirma que o jornalismo é um jogo de ética, pois divulga muitas coisas que se 
pretendem esconder, um perde outro ganha, uma troca de interesses. 
A serviço da sociedade, o jornalismo observa o que for de interesse coletivo. Para que 
haja interesse e curiosidade do público, o jornalismo deve se dirigir aos cidadãos como sujeitos 
de direito e não como plateia dispendiosa (BUCCI, 2000). 
 
A ética deve cuidar de orientar o jornalismo a atender o consumidor de forma 
crítica, sem se restringir às demandas do mercado. Ela certamente condena 
qualquer tentativa de manipular informações [...] Procura estabelecer um norte 
para que, no afã de servir ao consumidor, o jornalista não se desvie de sua 
função social. A ética ajuda o jornalista a se afastar da idolatria do consumo, 
e o convida ao atendimento das exigências de diversidade e pluralidade que a 
democracia impõe (BUCCI, 2000 p.185). 
 
Dessa maneira, a ética jornalística não é compreendida somente como uma 
padronização da conduta de profissionais como repórteres e editores, mas compreende valores 
que só fazem sentido se forem seguidos por ambas as partes, tanto empregados quanto por 
empregadores – e se tiverem como seus fiscalizadores os cidadãos do público. A liberdade de 
imprensa é um princípio inegociável, ele existe para beneficiar a sociedade democrática em sua 
dimensão civil e pública (BUCCI, 2000 p. 12). 
Chauí (2000) explica que para que exista um comportamento pautado na ética é 
necessário a existência do agente consciente, ou seja, seria aquele que percebe a dissociação 
entre o que está certo e errado. O conhecimento moral conhece essa diferenciação, mas tem a 
competência de avaliar e julgar o valor dos ações e comportamentos e de atuar no conformismo 
com os preceitos da moralidade. Dessa maneira, se torna responsável por emoções e pelos seus 
20 
 
atos. De acordo com a autora, a consciência e responsabilidade seriam condutas indispensáveis 
da vida ética (CHAUÍ, 2000). 
O surgimento do ombudsman no mundo e na imprensa desempenha um papel 
importante de reconstruir a consciência social no que tange o interesse público, para que os 
cidadãos participem verdadeiramente dos processos de tomada de decisões e os meios de 
comunicação são ferramentas determinante para o processo de reconstrução da ética e da 
democracia informacional e social (CORREIA, 1998). 
Por essa perspectiva e por todos os assuntos abordados no presente capítulo é importante 
conhecer as diferentes técnicas jornalísticas para desenvolver a capacidade de separar o que é 
real daquilo que é mera opinião ou sugestão. A partir do momento em que se tem pluralidade 
de vozes e ética na prática profissional, subsídios mínimos são criados para analisar os 
diferentes argumentos expostos, não se deixando levar por gestos, paixões e palavras 
(MARTINS, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
2 - OMBUDSMAN E JORNALISMO 
 
O significado do Jornalismo para Traquina (2005), seria algo impossível de ser 
respondido com exatidão, mas o autor afirma que livros e manuais sobre o assunto o definem 
como tudo que é importante e/ou interessante, o que inclui praticamente a vida e o mundo. 
 
Poeticamente podia-se dizer que o jornalismo é a vida, tal como é contada nas 
notícias de nascimentos e de morte, tal como o nascimento do primeiro filho 
de uma cantora famosa ou a morte de um sociólogo conhecido mundialmente. 
É a vida em todas as suas dimensões, como uma enciclopédia. Uma breve 
passagem pelos jornais diários vê a vida dividida em seções que vão da 
sociedade, a economia, a ciência e o ambiente, à educação, à cultura, à arte, 
aos livros, aos media, à televisão, e cobre o planeta com a divisão do mundo 
em local, regional e nacional (onde está essencialmente a política do país) 
(TRAQUINA, 2005 p. 19). 
 
Frente a realidade do jornalismo do século XXI e a prática profissional pautada na ética, 
a Teoria do Newsmaking, citada por PENA (2015) no livro “Teoria do Jornalismo”, explica 
que o espelho do real está longe de ser o jornalismo, mas sim uma suposta realidade de 
representações sociais. Portanto, seria no trabalho da enunciação que os jornalistas produzem 
os discursos, que na prática jornalística estão submetidos a uma série de funções e pressões e 
mesmo nesse cenário dão vida ao que as redações intitulam de notícia. Dessa maneira, a ideia 
de um jornalismo embasado na representação do real, dá lugar a uma atividade com seus 
dilemas éticos e morais os quais o jornalismo se defronta todos os dias. 
 
(...) para que esse fenômeno social que chamamos de jornalismo aconteça, o 
primeiro requisito é que uns emissores-codificadores selecionem e divulguem 
determinadas histórias para fazê-las chegar a uns sujeitos receptores, que 
guardam tais mensagens na esperança de conseguir nelasuma satisfação 
imediata ou diferida, e através da qual, conseguem elaborar um quadro de 
referências pessoais que é válido para compreenderem o contexto existencial 
em que vivem. Tornar um fato notícia é uma operação basicamente linguística, 
que permite dar-lhe determinada carga de significado a uma sequência de 
signos verbais (orais ou escritos), e também signos não verbais. Esse é o 
trabalho específico de homens e mulheres que agem como operadores 
semânticos: os jornalistas (MARTÍNEZ ALBERTOS, 1978 p. 84-85 apud 
ALSINA, 2009 p. 296). 
 
Segundo Mendes (2002), na prática o fazer jornalismo é algo mais do que ser 
testemunha privilegiada do mundo, consiste em tratar de explicá-lo, e muitas das vezes, inventá-
lo. O jornalismo encontra sua principal referência no exercício consciente dos seus alcances e 
limitações, de seu papel na democracia e, sobretudo, de sua responsabilidade em servir os 
22 
 
interesses da sociedade. O ombudsman de imprensa não é outra coisa que a consciência do 
jornalista. 
No livro, “A pragmática do Jornalismo: buscas práticas para uma teoria de ação 
jornalística”, a autor Manuel Carlos Chaparro (2007) apresenta qual o principal problema do 
jornalismo atual. Seria, portanto, a chamada “Revolução das Fontes”, gerada pelas tecnologias 
de difusão, na qual a notícia se tornou a mais eficaz ferramenta do agir institucional. De acordo 
com Chaparro (2007), as fontes aprenderam a gerar conteúdo e a interferir na pauta jornalística. 
E transformaram o jornalismo em espaço público dos conflitos em que vivem. No entanto, para 
a democracia é ótimo que os sujeitos sociais sejam capazes de articular e difundir os seus 
próprios discursos. Mas o jornalismo precisa se preparar e tomar consciência dos papéis que 
lhe cabem exercer em uma sociedade movida pela energia das informações e pelos embates 
enunciativos de instituições que sabem o que dizer, como dizer e quando dizer. O jornalismo 
em seu papel social para Chaparro (2007) tem seus fazeres intencionados “[...] a convicção de 
que a intenção é a liga que funde ética, técnica e estética, tríade solidária e inseparável das ações 
jornalísticas”. Com isso, percebe-se como o jornalismo se reformula com base nos novos 
formatos da prática. 
 Desta forma, as notícias passaram a ser baseadas em fatos e não em opiniões, e a 
informação se tornou o novo produto a ser vendido. Com o surgimento da penny press4, os 
jornais se transformaram em lucro. E foi nesse cenário que surgiram os valores que, até hoje, 
fazem parte do alicerce do jornalismo: a procura pela verdade, a independência, a objetividade 
e a prestação de serviço à sociedade (TRAQUINA, 2005). 
As grandes empresas jornalísticas estão a serviço de seus próprios interesses, da 
reprodução de sua capacidade e influência. De acordo com o importante escritor português, 
José Saramago, as liberdades de ser, de crer, de discernir e de decidir tem sido trocada pela 
liberdade de consumir: “Se tem estabelecido uma tendência à preguiça intelectual e nessa 
tendência os meios de comunicação têm uma responsabilidade. Há gente que diz que não 
existem periódicos, mas somente empresas jornalísticas” (SARAMAGO apud MENDES, 2002 
p. 9). Bucci (2000), complementa que o jornalismo é o mediador do espaço público e deveria 
praticar uma comunicação voltada para a informação, para a formação e educação do povo, 
criando cidadania. Nessa ótica, para o autor caberia ao jornalismo cumprir uma função social 
 
4 Penny Press cuja sua tradução significa “Imprensa Centavo”. Foi um jornal que surgiu no séc. XIX, as suas 
características eram o facto do seu preço ser muito reduzido. Este jornal nasceu nos Estados Unidos da América 
e era uma forma das classes mais inferiores terem acesso às notícias (TRAQUINA, 2005). 
23 
 
antes de ser um negócio, perseguindo a verdade dos fatos para bem informar o público com 
objetividade e equilíbrio, que são valores que alicerçam uma boa reportagem. 
Apesar de o jornalismo servir, primeiramente, a uma função social antes de ser um 
negócio, não significa que não seja um negócio. Quando o jornalismo se expandiu, ainda no 
fim do século XIX, como produto vendável, e a informação se tornou mercadoria, surgiu um 
novo gênero que se opõe aos valores da prática jornalística. 
A questão é: qual papel desempenha o ombudsman de imprensa no jornalismo? Vale 
ressaltar que o mundo também pode ser entendido como um mercado, e a imprensa não está 
imune a ele. Para responder a essa pergunta, os subcapítulos a seguir exploram conceitos de 
democracia, discurso, opinião pública, liberdade de expressão e de imprensa. 
 
2.1 - Jornalismo e democracia 
 
No processo de democratização do Brasil, após o fim do regime militar (1964-1985), 
houve a ampliação do papel da mídia na construção da cidadania. Até o início dos anos 1980, 
vivia-se em um regime político que censurava os meios de comunicação e tirava da maior parte 
da população os seus direitos civis e políticos. A Constituição de 1988 significou a última etapa 
da transição para a democracia, quando foram reconquistadas liberdades até então anuladas 
(MARSHALL, 1967). 
Os direitos que permitem a prática da liberdade individual é o que constitui a cidadania. 
A igualdade perante a lei, o direito de se deslocar, a liberdade de ideias e a liberdade de possuir 
propriedades seriam os direitos civis da cidadania. A cidadania política é compreendida como 
o direito de participar da vida política, tanto pelo governo, quanto pelo voto. Já a cidadania 
social implica um conjunto de direitos e obrigações que possibilita a participação igualitária de 
todos os membros de uma comunidade nos seus padrões básicos de vida. O surgimento desses 
três tipos de direito teria obedecido a uma sequência cronológica, a qual por sua vez obedece a 
uma lógica política. Ao ter assegurados seus direitos civis, os indivíduos lutariam para obter 
direitos políticos e chegariam de forma linear à obtenção dos direitos sociais (MARSHALL, 
1967). 
Os investimentos em tecnologia, a popularização do acesso e o uso da internet, a 
mobilidade e uso dos dispositivos relacionam-se com à presença crescente da tecnologia nas 
práticas diárias do jornalismo e nas consequentes mudanças oriundas dessa realidade. O cenário 
caracteriza-se pelo grande volume de informação, disputa intensa pelo mercado, concorrência 
24 
 
entre as empresas jornalísticas que cada vez mais se fundem com empresas de tecnologia, 
formando conglomerados de comunicação (MORAES E ADGHIRNI, 2011). 
Ainda na questão jornalística, Luiz Martins da Silva5 publicou no Observatório da 
Imprensa um texto com a seguinte abordagem - “Jornalismo como ferramenta do exercício da 
cidadania”. Nele é possível refletir sobre a relação da imprensa com o público na atualidade. 
Quando antes “sair na imprensa” era coisa de elite ou de marginais, hoje o povo é de fato um 
agente ativo no processo de construção e avaliação da notícia. 
 
Poeticamente podia-se dizer que o jornalismo é a vida, tal como é contada nas 
notícias de nascimentos e de morte, tal como o nascimento do primeiro filho 
de uma cantora famosa ou a morte de um sociólogo conhecido mundialmente. 
É a vida em todas as suas dimensões, como uma enciclopédia. Uma breve 
passagem pelos jornais diários vê a vida dividida em seções que vão da 
sociedade, a economia, a ciência e o ambiente, à educação, à cultura, à arte, 
aos livros, aos media, à televisão, e cobre o planeta com a divisão do mundo 
em local, regional e nacional (onde está essencialmente a política do país) 
(TRAQUINA, 2005 p. 19). 
 
Por essa perspectiva, cabe ressaltar que inúmerossão os valores no qual o jornalismo é 
baseado e um deles é a liberdade. Na qual existe uma relação entre o jornalismo e a democracia 
e que tem como eixo central a liberdade. Portanto, Traquina (2005), define que não pode haver 
qualquer tipo de censura a informação e a sociedade, pois a autoridade do povo e a autonomia 
da imprensa são indissociáveis. 
Alguns outros valores são a independência, a autonomia e a objetividade. Para garantir 
a credibilidade de um veículo jornalístico, é necessário que tenha independência e autoridade. 
A constante avaliação das fontes, informações e fatos é um trabalho muito importante para 
construir a notoriedade e manter a credibilidade do veículo. Outra característica também citada 
por Traquina (2005) é a objetividade, que possui o intuito de garantir um papel imparcial para 
o profissional a fim de se prevenir contra críticas ao seu trabalho e garantem a credibilidade do 
veículo em que trabalha. Entretanto o valor central do jornalismo é o compromisso com a 
verdade. Com isso, é papel do jornalista ser um provedor da verdade e trabalhar sempre com 
correção e lealdade, o que também proporciona a um veículo sua credibilidade (TRAQUINA, 
2005). 
 
 
5 Luiz Martins da Silva é formado em jornalismo e mestre em comunicação pela UnB; doutor em Sociologias 
(Unb/Universidade Nova de Lisboa); Trabalhou no Jornal de Brasília, O Globo, Veja, entre outros. Pesquisador da 
área de Comunicação e poeta com vários livros publicados. 
25 
 
Sabemos que a verdade é um valor inatingível; que não há uma verdade 
absoluta; que muitas vezes a Verdade, em caixa alta, é composta de muitas 
verdades em caixa baixa. Não basta gritar bem alto o dever de cada jornalista 
de não mentir, de não enganar, de não falsear. Há que ir mais longe, seguir os 
exemplos dos códigos de todo o mundo e proclamar, de forma inequívoca e 
solene, o dever de cada jornalista de perseguir, de procurar a verdade, de 
informar com verdade (CASTANHEIRA apud TRAQUINA, 2005 p. 134). 
 
 Em seu livro "Sobre ética e imprensa", Eugênio Bucci aponta que o jornalismo perdura 
porque a população tem direito à informação. Quando esse direito, entretanto, não é acolhido, 
a democracia não acontece, já que o debate público através do qual se formam as opiniões entre 
os cidadãos se torna inautêntico. Por esse motivo que o jornalismo necessita ser soberano e 
ativo (BUCCI, 2000). 
Para Mendes (2002), a função do ombudsman está quase que diretamente ligada à 
estreita relação com o público e no cumprimento dos sagrados compromissos do jornalismo, 
como aumentar o rigor da notícia, elevar sua exatidão, garantir a credibilidade do veículo e 
atentar para as indagações e os benefícios dos leitores. Entretanto, a circunstância do 
ombudsman ser escolhido pela direção do jornal coloca em questão a efetividade em ser uma 
representação do leitor dentro desse mesmo veículo, o que pode comprometer a independência 
e autonomia do seu trabalho. Por um lado, o profissional escolhido dentre os jornalistas daquele 
canal tem um grande conhecimento do jornal que vai criticar, de outro, manteve relações 
pessoais com os profissionais da redação. “A forma como o ombudsman é escolhido dá a ideia 
do lobo tomando conta dos carneiros” (MENDES, 2002 p. 18). 
Por essa ótica, pode ser constatado que há uma diferença entre o modelo de ombudsman 
de imprensa definido pela ONO e a real prática vivenciada pelos jornalistas que exercem essa 
função: 
 
[...] distingue-se uma representação dominante segundo a qual o traço 
principal da função é a autonomia em relação da direção da mídia que a 
contrata. Essa autonomia é traduzida pela produção de uma análise crítica do 
tratamento da informação, que toma corpo na publicação de uma coluna não 
censurável que significa a disposição do jornal de tornarem públicas as suas 
falhas (MACHADO, 2007 p. 7 apud MAIA, 2006 p. 03). 
 
Um conceito que explica melhor esse local ocupado pelo ombudsman no jornal é o 
media criticism6 que se assemelha às colunas de ombudsman. Christofoletti (2008) e Mendes 
 
6 As colunas de media criticism diferenciam-se das colunas de ombudsman apenas pelo fato de não enfatizarem 
suas críticas ao jornal em que são publicadas. Além de não desempenharem um papel de ouvidor, ou seja, não 
apresentam os questionamentos e manifestações dos leitores em seus textos (MENDES, 2002). 
26 
 
(2002) apontam os movimentos de media criticism, ou de crítica de mídia, como precursores 
da figura do ombudsman na imprensa brasileira. Assim, para Mendes (2002), a presença do 
ombudsman possibilita o esquema “a crítica dentro da crítica”, apresentando a possibilidade de 
que tudo pode ser questionado, inclusive o trabalho de um media critic (crítico de mídia), dessa 
maneira o ombudsman pode criar uma imagem de crítico de mídia, exterior a ela, mas o seu 
discurso é também midiático. 
É perceptível que a informação é um dos elementos fundamentais para que o indivíduo 
possa exercer plenamente os seus direitos. A imprensa é um veículo que fornece informações 
aos cidadãos e, simultaneamente, os dá a possibilidade de levar suas demandas até os 
responsáveis pelas decisões que afetam a vida em sociedade. A visibilidade é uma condição da 
democracia, e a imprensa tem por função dar visibilidade à "coisa pública". As primeiras 
medidas dos regimes autoritários geralmente são restringir a liberdade de expressão e 
informação, e a censura é imediatamente imposta às estações de rádio e televisão e à imprensa 
de maneira geral. Por outro lado, a informação é decisiva para os movimentos de libertação 
contra a opressão. E é a imprensa que permite ao cidadão alargar o seu conhecimento sobre as 
questões públicas, evidentemente, não sobre o todo, e sim sobre parte do que se passa na 
sociedade (ABREU, 2003). 
 Dessa maneira, Silva (2005), elucida que na democracia o jornalismo é um terreno de 
mediação, que possibilita a circulação e troca entre os diferentes espaços que compõem o 
espaço público (SILVA, 2005 p. 9). Segundo Wolton (2004), o espaço público pode ser dividido 
em três espaços, que são eles: o espaço público, o espaço comum e o espaço político. O último, 
porém, seria o menor, mas o mais poderoso e importante nas tomadas de decisões. Nesse 
contexto, o jornalista é aquele que circula entre os três espaços, daí seu poder de influenciar a 
sociedade e de interferir na agenda-setting7 (id, 2004 p. 197). Para Wolton (2004), não existe 
democracia sem comunicação e, além disso, deve-se entender a comunicação através das mídias 
e pesquisa, mas também o modelo cultural favorável à troca entre elites, governo e cidadãos. 
 Tais espaços compreendem a forma da esfera pública estudada por Habermas, a qual 
tem como principal característica o fato de se constituir em um "meio de comunicação isento 
de limitações, no qual é possível captar melhor novos problemas, conduzir discursos 
expressivos de entendimento recíproco e articular, de modo mais livre, identidades coletivas e 
interpretações de necessidades" (HABERMAS, 1997 p. 33). Dessa maneira, é possível 
 
7 A agenda setting ou a teoria do agendamento surgiu no começo da década de 70 e defende a ideia de que os 
meios de comunicação pautam as conversas dos consumidores. Ou seja, a mídia diz sobre o que falar e agendam 
as relações (PENA,2015). 
27 
 
compreender como a democracia e o jornalismo nutrem uma relação e são temas tradicionais 
no campo da Comunicação (MARTINS, 2005). 
 
2.1.1 - Esfera Pública e Opinião Pública 
 
 No início da década de 60, Jürgen Habermas,com o livro “Mudança Estrutural da Esfera 
Pública” apresenta um estudo da esfera pública burguesa determinando seu conceito em meio 
a uma diversidade histórica de usos e significados para termos relacionado ao público, a opinião 
pública e à própria esfera pública. O conceito passou por mudanças teóricas reproduzindo as 
mudanças, sociais, econômicas e políticas que ao longo do tempo influenciaram a fecundação 
de espaço público. Entre os séculos XVIII e XIX, o surgimento da esfera pública é marcado 
pelo declínio dos poderes feudais, da Igreja, da nobreza que se dividem em elementos privados 
e públicos e dão lugar a uma esfera autônoma que se contrapõe ao poder do Estado (KOTHE, 
2003). 
A Esfera Pública pode ser entendida “como o espaço de mediação entre Estado e 
sociedade, que permite a discussão pública em um reconhecimento comum da força da razão e 
a riqueza da troca de argumentos entre indivíduos, confronto de ideias e de opiniões 
esclarecidas” (MATTELART, A.; MATTELART, M. apud KOTHE, 2003 p. 82). Por isso, a 
percepção deste espaço de debate, centra-se na opinião pública compreendendo opinião como 
reputação, ou seja, deve se levar em consideração a aprovação da opinião do todo. 
Com todas as modificações que foram ocorrendo ao longo do tempo na esfera pública a 
produção capitalista toma o lugar do velho modo de produzir e a sociedade civil burguesa passa 
a criar seus alicerces. O contexto em reestruturação faz com que se desenvolva a legitimidade 
da imprensa e intelectuais passam a ser escolhidos para escrever ao público descobertas que 
pudessem ser desenvolvidas e colocadas em prática. Assim, nesse processo histórico, os que 
eram obrigados a escrever passam a desenvolver suas próprias ideias e a se posicionar contra 
seus ordenadores. Forma-se então a opinião pública. A sociedade civil ocupa esse espaço e 
passa a usá-lo para intimidar o Estado. Essa massa é chamada por Habermas de “esfera pública 
burguesa”, constitui uma categoria da sociedade liberal que passaria a influenciar o poder de 
decisão sobre as políticas públicas da época (KOTHE, 2003). 
A esfera pública em Habermas é constituída no espaço livre da influência do poder do 
Estado, em que os atores sociais manifestam de forma pública suas opiniões e pensamentos 
sobre as questões de interesse da sociedade promovendo debates e decisões coletivas para 
benefício do bem comum. Dos conceitos sobre opinião até seu sentido de opinião pública, 
28 
 
Habermas explica que o vocábulo passou a indicar a posição de um público pensante com poder 
de reflexão e de levantar uma discussão. Esse conceito, em todas as suas noções, remete à ideia 
de que opinião, por meio de uma discussão crítica na esfera pública, é despoluída em uma 
opinião verdadeira, vencendo o contraste entre crítica e opinião (KOTHE, 2003). 
A opinião pública, por sua vez, para que seja entendida será preciso conhecer a fundo a 
estrutura social, o sistema educativo, os meios de comunicação de massa e saber como se 
produz inter-relações entre os indivíduos. Seria, portanto, o resultado da discussão dos públicos 
a respeito de questões coletivas, trata-se de uma opinião que não é unânime, ou seja, não é, 
necessariamente a opinião da maioria. É uma opinião composta, formada das diversas opiniões 
existentes no público e está em contínuo processo de formação em direção a um consenso 
completo, sem nunca o alcançar (LIPPMAN, 2008). 
 
Aqueles aspectos do mundo que têm a ver com o comportamento de outros 
seres humanos, na medida em que o comportamento cruza com o nosso, que 
é dependente do nosso ou que nos é interessante, podemos chamar rudemente 
de opinião. As imagens na cabeça destes seres humanos, a imagem de si 
próprios, dos outros, de suas necessidades, propósitos e relacionamentos, são 
suas opiniões públicas (LIPPMAN, 2008 p. 40). 
 
Por essa ótica e frente ao papel dos meios de comunicação como influenciadores e 
cooperadores na formação da opinião pública, cabe ressaltar que uma das maiores preocupações 
da imprensa reside em conquistar a atenção do público e vendê-la aos anunciantes do que servir 
com informação privilegiada e relevante aos indivíduos. A imprensa serve à comunidade 
diariamente com informações que vão ao encontro do leque dos desejos, expectativas e 
estereótipos já cultivados, privilegiando o noticiário local sobre o nacional, e o nacional sobre 
o internacional. Dessa forma, é predominante a conveniência de horário, de custo, de esforço e 
de interesse imediato sob influência de uma enunciação empresarial (LIPPMAN, 2008). 
Se, de um lado, essas práticas discursivas de negociação entre o público e o privado 
realizadas na esfera pública podem ser tomadas como positivas e transformadoras, de outro 
lado, é preciso avaliar como essas mudanças participativas estão ocorrendo. Acredita-se ser 
necessário observar criticamente as estratégias discursivas dos atores sociais que, em nome de 
uma maior proximidade com os cidadãos, têm investido em uma comunicação pública 
assentada sobre princípios democráticos como a participação e a coautoria das decisões. Para 
serem adequadas, as opiniões públicas precisam ser organizadas para a imprensa e não pela 
imprensa (KOTHE, 2003). 
29 
 
Muitos filósofos e teóricos abordam o conceito da opinião pública em seus estudos, 
como por exemplo Sigmund Freud8 (1856-1939), que diz trata-se de um mecanismo de defesa 
do indivíduo. Ou até mesmo, Émile Durkheim9 (1858-1917) que também já se referiu a este 
tipo de questão refletindo sobre o fenômeno da imitação. O pioneiro na abordagem desse 
conceito foi o filósofo Jean-Jacques Rousseau. Em seu estudo sobre a opinião pública, ele 
estrutura o Estado em três tipos de leis, são elas: o direito civil, público e privado. Entretanto, 
relata a existência de uma quarta lei. 
 
Além dessas três classes de leis há uma quarta, a mais importante, que não 
está gravada em mármore e bronze e sim no coração dos cidadãos; uma 
verdadeira constituição do Estado cuja forças se renova a cada dia, que dá vida 
às outras leis e as substitui quando envelhecem ou desaparecem [...] Refiro-
me à moral, aos costumes e, sobretudo, à opinião pública. (ROUSSEAU apud 
HOHLFELDT, 2001 p. 224). 
 
A cientista política Elisabeth Noelle-Neumann elucida que a opinião pública se trata de 
um fenômeno que pode ser compreendido pelo medo que se instala no indivíduo diante da 
ameaça de ficar isolado por ter uma opinião desviante daquilo que acredita ser a tendência do 
grupo. Em seus estudos, Neumann trouxe a tona a Teoria da Espiral do Silêncio muito utilizada 
no meio da comunicação. Essa teoria será abordada no próximo subcapítulo com o intuito de 
entender a fundo a relação entre mídia e opinião pública. 
 
 2.1.2 - Teoria da Espiral do Silêncio 
 
Entre os anos 20 e 70 foram desenvolvidas muitas teorias ligadas ao processo de 
comunicação, uma delas, porém merece um destaque maior nesse trabalho. A Teoria da Espiral 
do Silêncio surge na contramão dos outros estudos que antecedem a área comunicacional, como 
a teoria do agendamento já citada no presente trabalho. Trata-se de uma teoria bastante rica para 
as técnicas de pesquisas, sobretudo em estudos que visam entender as questões éticas da 
comunicação e em como resolvê-las, assim como, evitar situações de desvios da democracia 
(HOHLFELDT, 2001). 
 
8 Sigmund Schlomo Freud, mais conhecido como Sigmund Freud foi um importante pensador na área Social e 
Psicológica. Médico neurologista por formação, desenvolveu muitos estudos na área da Psicanálise. Publicou 
inúmeros livros durante sua vida, como: “A interpretação dos Sonhos” (1899), “Três ensaios sobrea Teoria da 
Sexualidade” (1905). 
9 É considerado um dos grandes fundadores das ciências sociais, além de antropólogo, sociólogo, filósofo, cientista 
político, também desenvolveu estudos na área da psicologia social. Seus estudos buscavam entender o 
comportamento coletivo da sociedade. Um dos seus mais importantes livros é “O Suicídio” (1897). 
30 
 
 Em 1972 foi a primeira vez em que se ouviu falar sobre a Espiral do Silêncio. A 
pesquisadora Elisabeth Noelle-Neumann, começou a chamar a atenção para o poder que a mídia 
possuía, em especial a televisão, que intervinha sobre as ideias e pensamento dos 
telespectadores. Desta forma, Noelle-Neumann destaca a ubiquidade da mídia como autora e 
transformadora de opinião em detrimento do que se conhece como realidade. Por essa ótica, 
Neumann ressalta ainda que de modo igual a mídia que diz disseminar o que é de opinião 
pública é aquela que é apática à sociedade quando esta necessita. 
 
“Os meios de comunicação tendem a priorizar as opiniões dominantes, ou 
melhor, as opiniões que parecem dominantes, consolidando-as e ajudando a 
calar as minorias (na verdade, maiorias) isoladas [...] Assim, opiniões que 
parecem consensuais se perpetuam, pois, a maioria silenciosa não se expressa 
e não é ouvida pela mídia, o que leva à conclusão de que o conceito de opinião 
pública está distorcido” (PENA, 2015 p. 156). 
 
A Teoria do Espiral do Silêncio contribui para o entendimento de como a mídia funciona 
em sua ligação com a opinião pública e a maneira como acaba por silenciar as concepções do 
coletivo. Noelle-Neumann elucida que para entender melhor a Espiral do Silêncio opera, é 
necessário tomar conhecimento das três engrenagens pelas quais a teoria controla a mídia em 
detrimento do público: Consonância (configuração do modo como as notícias são construídas 
e propagadas), a Ubiquidade (onipresença da mídia) e a Acumulação (superabundância da 
veiculação de determinados temas na mídia). Em conjunto, esses mecanismos atrelados a mídia 
ocasionam uma forte influência sobre o público e que embora não seja tão absoluta como a 
teoria hipodérmica10, é decisiva no fortalecimento dos valores da classe dominante e em formar 
nossa percepção da realidade (HOHLFELDT, 2001). 
Uma forma de exemplificar como funciona a espiral do silêncio é o período eleitoral, 
ou até mesmo as relações interpessoais entre vizinhos. Em muitas eleições, candidatos que estão 
em primeiro lugar nas pesquisas acabam recebendo mais votos ainda por conta da percepção da 
população de que eles certamente irão ganhar a votação por terem preferência da maioria. Ou 
até mesmo, no convívio com a vizinhança de seu bairro, quando o medo do isolamento o faz 
aceitar a opinião do todo. Esse cenário é o que Neumann chama de clima de opinião, “As 
pessoas imaginam diferente da maioria, calam-se e, posteriormente, adaptam-se à opinião 
 
10 A teoria hipodérmica é baseada nos estudos dos efeitos da comunicação no indivíduo. Ou seja, o poder da 
mídia sobre o receptor da mensagem que é concebido como uma vítima indefesa de toda e qualquer mensagem 
emitida por alguma fonte. A partir dessa teoria surge o conceito da Agulha Hipodérmica. 
 
31 
 
contrária. Assim, aquela ideia que talvez não fosse majoritária acaba prevalecendo” (PENA, 
2015 p. 156). 
A cerne desta teoria consiste no argumento de que as que as pessoas que têm uma 
opinião pertencente à minoria são propensos a aceitar e se silenciar frente a opinião pública 
geral. Contudo, apesar desta explicação está correta, Noelle-Neumann julga ser essencial ir 
além e não deixar este argumento colocado de forma tão resumida. Toda essa perspectiva sobre 
a Espiral do Silêncio começou pelos estudos de Neumann que buscou entender o significado da 
opinião pública, portanto para a Teoria da Espiral do Silêncio é necessário entender como essa 
opinião interfere no comportamento das pessoas. Porém, esta teoria não pretende ser um ideal 
teórico, porque não é estática uma vez que estamos lidando com o coletivo/massa 
(HOHLFELDT, 2001). De acordo com os estudos baseados nesse estudo, os meios de 
comunicação podem influenciar, e muito, o processo da “Espiral do Silêncio”, quando numa 
questão moral tomam determinada posição e exercem influência no processo. 
 
Os processos individuais de formação da opinião são então reforçados pelas 
observações individuais do meio ambiente social. Nós entendemos que as 
concepções sobre quais opiniões são dominantes em um determinado meio, 
ou quais opiniões podem tornar-se dominantes neste meio, então sendo 
influenciadas pelos mídia. Este processo, digo, é mais pronunciado que muita 
gente admite (NEUMANN apud HOHLFELDT, 2001 p. 233). 
 
Por esse raciocínio e pensando na prática de um jornalismo multifacetado e pluralizado, 
Pena (2015) desvenda a necessidade da existência do que ele chama de “jornalismo de 
resistência”. Esse termo consiste na aplicabilidade de normas ligadas à função social da prática 
profissional. Ou seja, contrapor a ideia mercadológica de jornalismo. Ele revela ainda não se 
contentar com as notícias como simples mercadorias ou com as limitações das rotinas 
produtivas. Mas acredita na construção social da realidade através do jornalismo e vê o 
jornalista como parte importante desse contexto. Vale ressaltar que o desejo não é transformar 
a sociedade por uma via revolucionária, ou fazer do jornalista o salvador da pátria. Ainda 
segundo o autor o que caberia nessa ideologia é a capacidade de reflexão crítica de cada 
profissional. 
 
2.2 - Discurso Jornalístico 
 
Vive-se em uma rede de poderes, que capturam, dividem e classificam, atravessando os 
indivíduos inerentes ao meio. E essa capacidade do jornalismo de decidir o que informar e como 
32 
 
informar resulta no exercício diário de um poder concreto. O poder deve ser percebido como 
algo que funciona em cadeia, ou seja, que tem um ciclo contínuo. (FOUCAULT, 2000). 
Dessa forma, quando se pensa na prática do ombudsman de imprensa, se lida com 
diferentes poderes em disputa. Foucault (2000), designa que o poder é feito nas relações, ou 
seja, nas relações de poder, que por sua vez possui vários centros. Assim, o poder está em todos 
os lugares, não existindo sociedades livres dessa relação. 
 
A posição que um indivíduo ocupa dentro de um campo ou instituição é muito 
estreitamente ligada ao poder que ele ou ela possui. No sentido mais 
geral, poder é a capacidade de agir para alcançar os próprios objetivos ou 
interesse, a capacidade de intervir no curso dos acontecimentos e em suas 
consequências. No exercício do poder, os indivíduos empregam os recursos 
que lhe são disponíveis; recurso são os meios que lhes possibilitam alcançar 
efetivamente seus objetivos e interesses. Ao acumular recurso dos mais 
diversos tipos, os indivíduos podem aumentar seu poder – do mesmo modo 
que, por uma propriedade. Há recursos controlados pessoalmente, e há 
também recursos acumulados dentro de organizações institucionais, que são 
bases importantes para o exercício do poder. Indivíduos que ocupam posições 
dominantes dentro de grandes instituições podem dispor de vastos recursos 
que os tornam capazes de tomar decisões e perseguir objetivos que têm 
consequências de longo alcance (THOMPSON, 1998 p. 21). 
 
Em “A Ordem do Discurso”, o filósofo Foucault elucida que “[...] o discurso, longe de 
ser esse elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se desarma e a política se 
pacifica, fosse um dos lugares onde elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais 
temíveis poderes”. (FOUCAULT, 2014). Com esses apontamentos é possível perceber como o 
discurso estápresente no jornalismo. O ato de selecionar e hierarquizar faz com que outros 
discursos sejam silenciados. De acordo com os estudos baseados nessa obra pode-se perceber 
que o jornalismo é discursivo e há uma base por trás de toda essa enunciação. Foucault (2014) 
aponta, “Mas que ninguém se deixe enganar; mesmo na ordem do discurso verdadeiro, mesmo 
na ordem do discurso publicado e livre de qualquer ritual, se exercem ainda formas de 
apropriação de segredo e de não permutabilidade” (FOUCAULT, 2014 p. 38). 
Em “Teorias do Jornalismo”, Felipe Pena (2015) conta que o jornalismo implica a não 
existência de um reflexo do real, mas no fato de se basear e supor a produção de uma verdade: 
 
[...]a simples argumentação de que uma linguagem neutra é impossível já 
bastaria para refutar a teoria do espelho, pois não há como transmitir o 
significado direto (sem mediação) dos acontecimentos. Além disso, as 
notícias ajudam a construir a própria realidade, o que inviabiliza a 
existência de um simples reflexo do real. Na verdade, os próprios 
jornalistas estruturam representações do que supõem ser a realidade no 
33 
 
interior de suas rotinas produtivas e dos limites dos próprios veículos de 
informação (PENA, 2015 p. 128). 
 
Este silêncio da imprensa é exposto por Foucault em sua obra A Ordem do Discurso, já 
citada anteriormente. Nela o autor ressalta que o mais familiar e evidente processo de exclusão 
é a interdição, que ocorre quando determinado grupo ou pessoa não têm direito a voz, ao 
discurso. Diz ser sabido que qualquer um não pode falar de qualquer coisa, que não se têm o 
direito de falar de tudo. “ [...] ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas 
exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo. Mais precisamente: nem todas as 
regiões do discurso são igualmente abertas e penetráveis” (FOUCAULT, 2014 p. 35). O autor 
também afirma que além de ser o local onde se traduzem as lutas e os sistemas de dominação, 
o discurso é o poder do qual todos querem se apoderar. Dessa forma, a cultura dominante, ou 
absoluta, rege os meios de comunicação e a imprensa, formadores da subjetividade humana. 
Dessa maneira, Habermas no entanto explica que “o fenômeno fundamental do poder 
não consiste na instrumentalização de uma vontade alheia para os próprios fins, mas na 
formação de uma vontade comum, numa comunicação orientada para o entendimento 
recíproco” (HABERMAS apud CHAPARRO, 2007 p. 71). Dessa maneira, é perceptível que o 
jornalismo ao mesmo tempo que tem o poder de informar, também tem uma grande força em 
desinformar (CHAPARRO, 2007). 
No contrato de comunicação, e ainda na questão do silêncio, na tradução do Livro “O 
discurso: estrutura ou acontecimento” de Michel Pêcheux, a pesquisadora Eni Orlandi (1990) 
complementa que ao desempenhar seu papel os interlocutores precisam se dar conta de seus 
lugares de fala com base na sua concepção sobre o que é a prática jornalística e nesses espaços 
discursivos que estão logicamente estabilizados devido ao poder existente nas relações da 
sociedade. Além é claro, da enunciação de determinado segmento ou veículo. 
 
Supõe-se que todo sujeito falante sabe do que se fala, porque todo enunciado 
produzido nesses espaços reflete propriedades estruturais independentes de 
sua enunciação: essas propriedades se inscrevem, transparentemente, em uma 
descrição adequada do universo (tal qual esse universo é tomado 
discursivamente nesses espaços) (PÊCHEUX, 1938-1983 apud ORLANDI, 
1990 p. 31.) 
 
Nesse mesmo olhar da prática discursiva, levando em consideração que o discurso é 
sempre a luz da opinião de um sujeito, o que é possível produzir são efeitos de sentido de 
objetividade ou efeitos de sentido de credibilidade. Para Orlandi (2007) e Foucault (2014), a 
linguagem nunca será neutra ou objetiva. Nas entranhas de posicionamento do sujeito no texto 
34 
 
jornalístico, o enunciador sempre deixa as marcas do lugar de onde está falando, de suas 
escolhas, das restrições editoriais, dos sentidos que se pretende produzir. 
O que é dito e o não dito no jornalismo diz respeito a uma prática discursiva que produz 
uma explicação sobre a realidade. Com isso, para que os silêncios do jornalismo sejam 
compreendidos é preciso, em um primeiro momento, entender os modos de produção de 
sentidos dessa função discursiva. Por ser uma prática que produz informações de uso e interesse 
público, o jornalismo como abordado anteriormente contribui para a construção social da 
realidade e se constitui uma forma de conhecimento sobre o tempo presente e a vida cotidiana 
(ORLANDI, 2007). 
Sob essa maneira de entender o silenciamento no âmbito do jornalismo, é necessário 
também compreender o silêncio como o não dito que também está constituído naquilo que é 
dito, pois quando se decide por pronunciar uma palavra se silenciam e/ou exclui outras que 
poderiam ser faladas. Como diz Orlandi (id, 2007 p. 12), “há um sentido no silêncio”. Isso 
porque “todo o discurso sempre se remete a outro discurso que lhe dá realidade significativa” 
(ORLANDI, 2007 p. 24). 
Nessa perspectiva e a partir do que afirma o Manual da Redação da Folha (2010), o 
papel de mediador atribuído ao ombudsman se torna incerto e duvidoso, pois desempenha o 
papel de estabelecer interações entre o campo interno (jornalistas, chefes) e externo (leitores, 
outros veículos de comunicação) do jornal. Por um lado, porque não há uma relação direta entre 
o ombudsman e os jornalistas, ela ocorre pela direção de redação da Folha. As críticas sobre os 
textos elaborados pela equipe de redação somente recebem resposta sob tutela da Folha. Por 
outro lado, através de sua coluna semanal publicada aos domingos, valores editoriais e do 
próprio campo jornalístico tornam-se instrumento de cobrança pública, dando visibilidade à 
atividade de crítica. De acordo com esse olhar, Mendes (2002) completa que o cargo 
institucional do ombudsman, apesar das ordenações peculiares da atividade permite pensar o 
jornalismo a partir de seu lugar discursivo. Discurso esse, que de acordo com Foucault (2014) 
está preso em uma disputa de poder, onde toda e qualquer enunciação está submetida a esse 
ciclo. Já na hipótese dos estudos de Orlandi (2007) o silêncio é a condição da produção do 
sentido, isto é “o silêncio não está apenas “entre” as palavras. Ele as atravessa” (ORLANDI, 
2007 p. 69). Dessa forma, o papel do ombudsman pode se desenvolver na função de produzir 
sentidos sobre o jornalismo. 
Para concluir o pensamento e partir para uma análise empresarial da criação do cargo 
na Folha, a existência do ombudsman de imprensa além de atuar como o canal de comunicação 
entre o leitor e o jornal, ele desenvolve um papel que divide opiniões entre diversos autores. Se 
35 
 
por um lado, exerce o papel de ponte entre o leitor e o jornal, por outro, presta serviço a uma 
empresa. Existe, portanto uma problematização do cargo do ombudsman na Folha de São Paulo. 
Na época em que houve a inserção do cargo, e segundo as diretrizes determinadas pelo manual 
da redação, o ombudsman da Folha foi indicado como uma provação pública do planejamento 
editorial do jornal, um diferenciador dos concorrentes (MENDES, 2002). 
 
2.3 - Comunicação e Libertação 
 
O presente subcapítulo busca compreender rapidamente a apropriação empresarial dos 
meios de comunicação de massa na atualidade. No dia 03 de Maio é celebrado o Dia Mundial 
da Liberdade de Imprensa, a data comemora o direito de todos os profissionais da mídia 
exercerem seus serviços de forma livre. Venício Lima, em seu livro “Liberdade de Expressão 
x Liberdade de Imprensa” aborda temas como democracia, jornais, censura, opinião pública. 
Para

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