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ORIGEM DO CONCEITO DE GÊNERO Dado da natureza ou construção social Muitas pesquisadoras e pesquisadores perguntam-se, há bastante tempo, se essas diferenças entre homens e mulheres são mesmo "naturais." Margaret Mead, uma antropóloga norte-americana, que estudou os povos Arapesh, Mundugumor e Tchambuli, em Nova-Guiné, nos anos 1930, tentando entender diferenças de "temperamento" entre homens e mulheres, se surpreendeu ao perceber que cada povo criava formas diferentes de definir o masculino e o feminino. Formas muito distintas entre si e de como a cultura ocidental os definia. A conclusão da pesquisadora foi que, se é possível encontrar formas tão diferentes de entender o feminino e o masculino nas diversas sociedades, então os temperamentos que atribuímos a homens e mulheres não estão determinados pelo o sexo, mas são definidos pela cultura. Com o resultado dessas pesquisas, Mead publicou várias obras importantes para a Antropologia, como Masculino e Feminino (1949) e Growth and Culture (1951). A notoriedade de Mead veio pelo tratamento que dava às questões delicadas para a Antropologia, como sexo e gênero e cultura. Alguns anos depois, Simone de Beauvoir, escritora e ativista francesa, lançou no seu livro "O segundo sexo", em 1949, a ideia de que não se nasce mulher, torna-se mulher. Essa afirmação chamou atenção para a dimensão social da experiência feminina, remetendo a uma distinção entre como nascemos e quem nos tornamos, a partir da vivência na nossa cultura. Contudo, foi o psicólogo John Money, o primeiro a usar a palavra "gênero" para se referir à dimensão social da distinção entre homens e mulheres. Money trabalhava com crianças intersexuais, cuja formação corporal apresentava características que tornavam difícil enquadrá-las, binariamente, em um dos sexos. No seu trabalho, ele percebeu que as pessoas identificavam-se e comportavam-se mais de acordo com maneira que foram criadas, do que com o sexo ao qual efetivamente pertenceriam. Essas distinções entre a anatomia e o comportamento foi traduzida conceitualmente como uma diferença entre sexo (dimensão física) e gênero (dimensão social). "O que a ciências nos diz hoje é que as ideias que temos sobre masculino e feminino, tão incorporadas à nossa vida cotidiana, que orientam a construção da nossa identidade e nossas interações sociais, não podem ser creditadas simplesmente à natureza. Para Antropologia (quando olhamos para outras sociedades) que permite afirmar que o modo como compreendemos e vivemos o feminino e o masculino não são universais nem atemporais, mas se transformam ao longo do tempo e das culturas. Se nossa sociedade tem um jeito de ensinar o que é ser homem e o que é ser mulher, cada um de nós, a partir da sua vivência, desenvolverá uma relação particular com o universo masculino/feminino e construirá a sua própria identidade de gênero. Identidade de gênero é a compreensão pessoal que cada sujeito constrói sobre si em relação às definições sociais de masculinidade e feminilidade, fazendo com que cada um se localize dentro desse universo de gênero. Cisgênero e Transgêneros Muitas vezes nossa identidade de gênero corresponde, em maior ou menos grau, às expectativas sociais que depositaram sobre a pessoa, a partir do sexo que atribuíram a ela quando nasceu. Quando isso acontece, dizemos que esta pessoa é "CISGÊNERA". Isso mesmo! Cisgênera, ou simplesmente cis, trata-se de uma pessoa cujo pertencimento de gênero, que a sociedade projeta para que ela assuma, e a identidade/compreensão que ela tem de si mesma coincidem. Uma criança que disseram ser do sexo masculino, ensinada a ser um homem, entende-se e identifica-se como homem. Uma criança, que disseram ser do sexo feminino, ensinada a ser uma mulher, entende-se e identifica-se como mulher. Ainda que possam existir, numa mesma sociedade e ao mesmo tempo, formas diferentes de ser mulher e de ser homem, se o gênero que lhe identificaram no nascimento coincide com a identidade de gênero que você construiu para si, então você é uma pessoa cisgênera. Algumas vezes, o sexo que nos atribuíram no nascimento, as expectativas sociais quanto ao nosso pertencimento ao universo masculino/feminino e a percepção e a identidade que construímos de nós mesmos são bastante diferentes. Há pessoas, por exemplo, que não se identificam de maneira alguma com a identidade masculina ou feminina que lhe atribuíram no nascimento e constroem uma identidade de gênero diametralmente oposta. Há pessoas que se posicionam entre ou fora dessas categorias. Há pessoas que transitam entre elas, sem necessariamente se identificarem com uma outra. A esse grupo diverso de pessoas, chamamos de "TRANSGÊNERAS" ou, simplesmente, pessoas trans. Do mesmo jeito que as pessoas cisgêneras, cada pessoa trans vive uma experiência própria de vida, constrói uma identidade única, que não se reduz, de forma alguma, ao seu pertencimento de gênero. Mas há algo que todas elas compartilham, de formas e intensidades diferentes: toda pessoa, trans ou cis, tem que lidar com o fato de viver numa sociedade "CISNORMATIVA." Dizemos que nossa sociedade é cisnormativa por que pressiona toda e cada pessoa, a partir do sexo que lhe foi atribuído no nascimento, a uma determinada e correspondente identificação como homem ou mulher. A crianças com pênis, atribui-se uma identidade, espera-se e ensina-se um comportamento masculino. A crianças com vagina, atribui-se uma identidade, espera-se e ensina-se um comportamento feminino. Na lógica cisnormativa, quem tem pênis - e só quem tem pênis - deve ser homem. Quem tem vagina - e só quem tem vagina - deve ser mulher. E ser homem e ser mulher significa um conjunto de coisas pré-definidas pela cultura. Uma sociedade cisnormativa (como a nossa) impele todas as pessoas a serem cisgêneras, e organiza-se como se todas as pessoas fossem de fato cisgêneras. Dessa forma, a sociedade discrimina, não reconhece, ou até mesmo violentando, quem não corresponde às expectativas sociais. A cultura cisnormativa estabelece uma série de obstáculos a pessoas trans: lhes negar a identidade, erotizar seus corpos, discriminá-las no que diz respeito ao acesso a direitos básicos, como educação e saúde, restringir suas possibilidades de trabalho e, até mesmo, ameaçar a sua própria vida. Resistência, portanto, é a palavra que guia a experiência de vida de muitas pessoas trans. Resistência para serem donas do seu próprio corpo, para definirem sua própria identidade, para terem seus direitos garantidos e respeitados. São histórias de luta e de muitas conquistas, muitas vivências e diferentes formas de se identificar: mulheres trans e travestis, homens trans, pessoas não binárias. São diferentes relações com o próprio corpo, diferentes modos de enfrentar uma sociedade cisnormativa. No universo de pessoas trans, há também aquelas que não se definem nem como homens nem como mulheres, mas constroem sua identidade fora dessas caixas de gênero: as pessoas não-binárias. O termo não-binário é um termo "guarda-chuva,'' que abarca várias formas de identificação fora do binário de gênero. Estas pessoas enfrentam o desafio de viver numa sociedade binária, que classifica praticamente tudo - das roupas aos gestos - em masculino e feminino e que insiste em lhes encaixar também. Muitas vezes o binarismo está tão arraigado ao nosso pensamento que é difícil até mesmo imaginar a possibilidade de uma pessoa viver sem se definir como mulher ou homem. Mas o fato é que pessoas não binárias existem, estão aí enfrentando os desafios da vida e fazendovaler sua identidade. O fato é que as pessoas trans existem, estão ai vivendo suas vidas e merecem respeito, reconhecimento e acesso a todos os direitos que são compartilhados por todas as pessoas. A começar pelo o direito à personalidade, pelo o direito de definirem, elas mesmas, quem são e como querem viver, pelo direito de construírem sua trajetória, sem terem que se submeter a imposições arbitrárias sobre seu corpo ou sua identidade. Falamos um pouco da forma organizacional da sociedade, diante das questões de gênero, em outros tópicos falaremos mas sobre as dificuldades enfrentadas no panorama Brasileiro, avanços e desafios, reconhecimento familiar, reconhecimento civil, saúde integral, respeito e reconhecimento, opção sexual etc... Referências: COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 4ª Edição. São Paulo: Moderna, 2010. ERIKSEN, T. H.; NIELSEN, F.S. História da antropologia. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru: Edusc, 2002. ____________. Anthropology and anthropologists: the morden British School. 3º Edition. Oxfordshire: Routledge, 1996. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. MARCONI, M. A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2014. MERCIER, Paul. História da antropologia. São Paulo: Moraes, s/d. EFE e ESTADO DE SÃO PAULO. Conheça a vida e obra de Claude Gustave LéviStrauss. Disponível em . Acesso em: 12 jan. de 2015, às 23h19m. Material suporte, curso de promoção em direitos humanos. Imagens 1,2,3 são imagens de arquivos públicos. publicado Agosto 31, 2018 - por: Filipe Almeida - falmeida@projetoentreaspas.org www.projetoentreaspas.org
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