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Diversidades na Contemporaneidade - Livro Texto

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Diversidades 
Étnico-Raciais, 
Sexuais e de Gênero
1ª edição
2017
Diversidades 
Étnico-Raciais, 
Sexuais e de Gênero
Presidente do Grupo Splice
Reitor
Diretor Administrativo Financeiro
Diretora da Educação a Distância
Gestor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas 
Gestora do Instituto da Área da Saúde
Gestora do Instituto de Ciências Exatas
Autoria
Parecerista Validador
Antônio Roberto Beldi
João Paulo Barros Beldi
Claudio Geraldo Amorim de Souza 
Jucimara Roesler
Henry Julio Kupty
Marcela Unes Pereira Renno
Regiane Burger
Elisangela da Silva Machieski
Fernanda Cíntia Costa Matos
Carla Fernandes Chiericatti
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte 
desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos 
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
44
Sumário
Unidade 1
Introdução: Diversidade ................................................6
Unidade 2
Gênero: um conceito ...................................................20
Unidade 3
Sexualidade ..................................................................37
Unidade 5
Comunidades Quilombolas ........................................72
Unidade 6
Educação Indígena .......................................................90
Unidade 7
Movimentos Sociais e sua importância na luta 
contra as desigualdades ...........................................109
Unidade 8
As diversidades no cotidiano escolar ......................128
5
Palavras do professor
Um tema atual, reflexivo e um tanto polêmico: Diversidade. Vivemos 
em um mundo cheio de padrões, comportamentos e regras sociais que 
nos são impostos todos os dias. Devemos aceitá-los sem ao menos uma 
reflexão? O que é ser homem/mulher? Há diferença entre ser negro e/ou 
branco? E, entre ser hétero e/ou homossexual? 
A sociedade, sem dúvida, é dinâmica, as relações que a compõe tam-
bém. Como exemplo disso, duas situações que podem nos parecer dis-
tante – tanto temporal, quanto espacial – no entanto, aconteceram aqui, 
em nosso país, e nem faz tanto tempo assim. A primeira diz respeito às 
mulheres: você sabia que as mulheres conquistaram o direito de votar 
somente em 1932? E, que uma das justificativas para tal impedimento era 
que o cérebro de uma mulher era menor e menos desenvolvido do que o 
de um homem? A segunda situação relaciona-se com a homossexuali-
dade que, até a década de 1990 era considerada uma doença.
Além dessas situações históricas, existem as cotidianas e a escola – não 
diferente da sociedade, pois, está nela inserida – pode ser interpretada 
como palco de discursos e atitudes racistas, sexistas e homofóbicas. Coi-
sas que podem parecer banais – uma piada de mau gosto, um apelido 
pejorativo – são atitudes que trazem a opressão de maneira velada, estig-
matizando e marginalizando mulheres, homossexuais, negros, indígenas 
e outras minorias. 
Assim, queremos discutir essas questões em conjunto, historiciz-las, pro-
blematizá-las, enfim, contribuir com a formação de pessoas com senso 
crítico, que se posicionem com equilíbrio em um mundo cheio de diver-
sidade. Queremos ir além de atitudes de tolerância para com a diferença. 
Queremos uma sociedade justa, na qual as diferenças sejam respeitadas 
e não utilizadas como critério para exclusão de pessoas. 
Se a sociedade é dinâmica e se renova de tempos em tempos, lançamos 
aqui, com essa disciplina, o desafio de refletir sobre o nosso dia a dia, pro-
blematizar as ações cotidianas, e assim produzir novas ideias, valores e, 
principalmente, novas práticas sociais.
1
6
Unidade de Estudo 1
Introdução: Diversidade
Para iniciar seus estudos
Diferença. Variedade. Divergência. Sortimento. Múltiplos. Todos esses ter-
mos são sinônimos de diversidade e essa última será a palavra que você 
mais encontrará nas páginas que seguem. A diversidade deve ser enten-
dida como construção histórica, social, cultural e política das diferenças. 
Somos e vivemos um amontoado de diversidades. Isso teria tudo para ser 
um fator positivo, tendo em vista, a dimensão populacional e territorial 
de nosso país. No entanto, essas diferenças foram (e ainda são) utiliza-
das para segregar, oprimir, violentar. Convidamos você para pensar sobre 
diversidade nos mais diversos aspectos: cultural, étnica, religiosa, sexual e 
seus respingos na constituição das múltiplas identidades.
Objetivos de Aprendizagem
• Conceitualizar etnocentrismo, estereótipo e preconceito;
• compreender o conceito de diversidade nos diferentes recortes 
temporais e contextos sociais; e, 
• contribuir para a identificação de identidades múltiplas.
7
Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
1.1 Etnocentrismo, estereótipo e preconceito.
Mulheres, crianças, homens, sonhos e realidade. As coisas no mundo podem ser designadas como isso ou aquilo. 
Quando acordou o ser humano foi quem classificou: homens e mulheres; ocidentais e orientais; ricos e pobres; 
judeus e árabes. Após dormir, num longo período de sua história, esqueceu que era uma só espécie, a humana, 
vivendo e convivendo em uma casa comum, a terra.
Uma das temáticas mais importantes para os dias atuais, não apenas na área acadêmica, mas no exercício da 
própria cidadania é a diversidade. Para compreender este conceito é preciso passar para um profundo exercício 
de reflexão sobre como pensamos e agimos em relação ao outro. 
A ideia de diversidade está pautada em noções: nos processos históricos no qual cada tópico dentro desse eixo é 
entendido em um determinado contexto; e na atitude ética que cada indivíduo tem em relação ao “outro”. Com-
preendendo o sentido da alteridade e questionando um sistema de valores que nos deixa inaptos e insensíveis 
em reconhecer e respeitar diferentes posições políticas, crenças e opiniões. 
Alteridade é mais do que se colocar no lugar do outro, mas apreender o outro nas suas diferenças gerando um 
conhecimento novo e uma atitude nova em relação a cada grupo e a cada indivíduo dentro da sociedade. Sem 
alteridade entramos em um barco furado e afundaremos cada qual remando para o lado que acredita estar mais 
próximo da terra firme.
Da língua à cor da pele, das culturas às religiões, dos modos de fazer, dos modos de sentir, dos modos de encarar 
a vida. As discussões dentro desse eixo temático buscam não só um conjunto de teorias nas áreas das ciências 
humanas, mas vislumbra um sentido prático amplo em relação a nossa ética humana. 
O etnocentrismo ganhou contorno mais nítido, para a história, a partir do advento da história moderna. Com a 
formação dos estados nacionais e a expansão marítima europeia, um mundo completamente novo e diverso se 
descortinava para um continente que emergia como detentor de um aparato organizacional, político, econômico 
e militar sem precedentes em sua história. Apesar dessa formação histórica clássica, o etnocentrismo é universal 
e sua base de referência não é a humanidade, mas um determinado grupo étnico.
Etnocentrismo consiste, basicamente, em ver o mundo a partir de padrões culturais próprios, ou seja, uma pessoa 
irá avaliar todo o restante do mundo a partir de sua cultura, segregando entre feio e bonito, normal ou anormal, 
tudo isso mediante a proximidade ou a semelhança com os seus padrões culturais. Quanto maior for a diferença 
mais feio, mais estranho, mais anormal será. Assim, o etnocentrismo consiste em afirmar e considerar um grupo 
de pessoas superior a outras.
Figura 1 – Etnocentrismo
Legenda: Representação do etnocentrismo, pessoas superiores a outras.
Fonte:123RF.
8
Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
Esse fato independe do contexto histórico-temporal em que se encontra. Pode ser um europeu, noséculo XVI, 
afirmando e considerando povos existentes – aqueles que eles mesmos nomearam como nativos americanos – 
como selvagens, bárbaros e atrasados. Nesse caso, nos referimos como uma prática eurocêntrica, nada mais do 
que um tipo de etnocentrismo. Ou, então, um brasileiro, no século XXI, que olha como se estivesse de costas para 
seus vizinhos, assim, meio de canto de olho, menosprezando paraguaios e bolivianos.
A falta de habilidade ou vontade de reconhecer e respeitar a diversidade resulta na intolerância. Há inúmeras 
formas de intolerância no nosso cotidiano, como a discriminação sexual, socioeconômica, religiosa, de gênero, 
entre outros. 
Intolerância: atitude caracterizada pelo não reconhecimento em respeitar as diferenças, 
depreciando o outro por sua sexualidade, opiniões, convicções políticas ou religiosas.
Glossário
Um dos exemplos históricos mais notórios da incompreensão da diversidade advém da Antiguidade greco-
-romana, quando o termo bárbaro foi utilizado para designar qualquer indivíduo de cultura diferente e que vivia 
fora dos limites do Império Romano. Os romanos reduziram a um único termo uma complexidade de povos com 
diferentes línguas e culturas somente pelo fato de falarem outra língua que não o latim, e por viverem fora dos 
padrões greco-romanos, por isso eram considerados de hábitos inferiores. Neste sentido, o termo bárbaro foi 
concebido historicamente dentro de um contexto de intolerância cultural e chega até os dias de hoje como uma 
palavra que designa, entre outras coisas: o incorreto, o grosseiro e o selvagem. E assim, se produz o estereótipo.
Sugerimos o filme: Hans Städen. Direção de Luiz Alberto Pereira, Brasil/Portugal, 1999, (92 
min.). O filme se passa em meados do século XVI quando o viajante alemão Hans Städen 
desembarca na colônia portuguesa na América. Um dos pontos altos do enredo é o relato 
sobre o ritual antropofágico dos Tupinambás. A antropofagia praticada pelos Tupinambás 
fazia parte de sua cultura. Era o ato de se alimentar do corpo dos prisioneiros de guerra, para 
adquirirem a força e a coragem do inimigo. O filme mostra a experiência real, o choque e a 
estranheza cultural deixada pelo viajante alemão em seus diários.
O conceito de estereótipo consiste na atribuição de um valor, quase sempre negativo, a determinado grupo. Quer 
um exemplo? Quando no trânsito uma mulher está dirigindo mais devagar que o normal, alguém grita: “tinha 
que ser mulher mesmo!”. Há no senso comum o estereótipo de que a mulher dirige mal. Isso também pode ser 
pensado para os nordestinos. Você já deve ter escutado a expressão: “nordestino é tudo devagar”. Colocando 
inúmeras pessoas que nasceram no nordeste do país dentro de um mesmo estereótipo.
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
Por sua vez, é a partir do estereótipo que se molda o preconceito. À medida que você hierarquiza o que é bonito 
ou feio, o que é normal ou não, você cria o excesso, cria o que ficará à margem, o que é inferior. O que nos é dife-
rente nos causa repulsa. Precisamos tirar as lentes do etnocentrismo para olharmos a pluralidade que há mundo.
1.2 Diversidade Cultural
O conjunto de conhecimentos, crenças, leis e hábitos, formados e adquiridos ao longo do tempo formam a cul-
tura de cada sociedade. A cultura como produto social e como formadora da própria sociedade, está sempre 
em movimento, em mudanças. Isto porque um mesmo grupo social absorve elementos culturais exteriores pas-
sando a transformar aspectos de sua própria cultura. 
Neste sentido, devemos entender o ser humano na sua interação cultural, herdada de um longo processo histó-
rico cumulativo, que manifesta o conhecimento e a experiência de gerações que o antecederam. A habilidade 
de lidar com esse patrimônio cultural é o que permite a humanidade criar e inovar. Este processo não acontece 
apenas verticalmente, de geração em geração, mas, também, horizontalmente, quando interagimos com outros 
grupos sociais. Viver em sociedade respeitando, compreendendo e apreendendo com cada grupo faz parte de 
um complexo processo de aprendizado cultural. 
Nesse sentido, a diversidade cultural pode ser compreendida pelos processos de aproximação e distanciamento 
entre várias culturas que existem. Isso pode se dar com diferentes recortes de escala, ou seja, pode ser pensado 
e articulado em um pequeno território como um estado ou um país, ou em um contexto mais amplo, como um 
continente ou no próprio planeta como um todo.
Figura 2 - Diversidade cultural.
Legenda: Representação da diversidade cultural no mundo. 
Fonte:<http://pt.123rf.com/search.php?word=DIVERSIDADE+CULTURAL&imgtype=2&t_word=cultural+diversity&t_lang=p
t&oriSearch=xenofobia&srch_lang=pt&mediapopup=21280252>.
http://pt.123rf.com/search.php?word=DIVERSIDADE+CULTURAL&imgtype=2&t_word=cultural+diversity&t_lang=pt&oriSearch=xenofobia&srch_lang=pt&mediapopup=21280252
http://pt.123rf.com/search.php?word=DIVERSIDADE+CULTURAL&imgtype=2&t_word=cultural+diversity&t_lang=pt&oriSearch=xenofobia&srch_lang=pt&mediapopup=21280252
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
Pensar a diversidade cultural é pensar a sociedade em sua pluralidade, na variedade de suas manifestações, na 
sua maneira heterogênea de ver e sentir o mundo. Para que isso aconteça em sua plenitude temos que conhecer, 
respeitar e, acima de tudo, potencializar, no sentido de fortalecer a noção de pertencimento de um grupo dentro 
de uma diversidade cultural mais abrangente. O respeito à diversidade cultural e o entendimento do planeta 
como espaço comum entre todos os grupos, contribui para acharmos um caminho na construção de um mundo 
melhor.
1.3 Diversidade Religiosa
A temática da diversidade religiosa vem cada vez mais se impondo na reflexão educacional atual. Cristianismo, 
islamismo, budismo, espiritismo, candomblé são algumas das manifestações religiosas que fazem parte da diver-
sidade do universo religioso. Com o processo de globalização, não existem mais limites geográficos que impeçam 
as religiões de chegarem aos quatro cantos do universo.
A sociedade brasileira é historicamente espiritualizada e mística. Em um sentido que muito do que passa pelas 
religiões, ditas oficiais, tem uma raiz sincrética passada muito latente. Até em expressões populares podemos 
perceber o quanto a religiosidade está impregnada em nossa cultura e em nossos hábitos cotidianos. Expressões 
como: “meu Deus, graças a Deus, Deus lhe pague, queira Deus, Deus o abençoe, Deus lhe acompanhe, fique com 
Deus, Deus me livre, Deus nos acuda”. De forma consciente ou inconsciente as pessoas utilizam essas expressões 
por conta da carga histórico-cultural que está presente em nossa sociedade contemporânea.
Porém, a religião em si é muito mais do que uma manifestação cultural. Ela é aquilo que liga o indivíduo ao 
sagrado. Esta ligação é manifestada através, de um conjunto de crenças, dogmas e ritos. Sendo um dogma, ela 
também abre caminho para a intolerância. Não é à toa que, historicamente, guerras em nome de Deus ou de 
uma determinada crença, aconteceram. Quando uma determinada religião acredita que a sua verdade é a única 
e que todas as outras cometem desvios ou pregam a mentira, chamamos de fundamentalismo.
O fundamentalismo está na base da discriminação religiosa. Porém, mesmo os indivíduos não religiosos, que 
se autodenominam ateus, que passam a desrespeitar determinada religião, correm o risco de se enquadrarem 
como fundamentalistas. Acreditar ou não em uma religião não faz de você mais ou menos tolerante. O respeito à 
diversidade não é um componente moral, recheado de regras ou crenças, mas uma ação ética em relação àquilo 
que outras pessoas ou grupos manifestam em relação ao sagrado.
Lembrando que a religião é um fato sociológico, assim como a cultura, a sociedade, as classes sociais, e que por 
isso há uma gama de estudiosos que se debruçam sobre este tema. Pensar nos diasde hoje sobre diversidade 
religiosa nos leva para uma teia conservadora mais complexa na qual se entrecruzam manifestações homofóbi-
cas, xenofóbicas e vários tipos de discriminação. O exercício neste ponto é filosófico de questionamento a uma 
verdade absoluta criada por um determinado grupo social ou indivíduo. A busca da verdade é uma atitude sau-
dável quando não existem muros. Porém, quando cristalizamos uma verdade, ficamos fechados em nossa pró-
pria caverna e achamos que todas as sombras projetadas pela luz do lado de fora são desvios, ilusões, mentiras 
ou mesmo a morte. Superar a intolerância religiosa não extingue nenhuma maneira de relacionamento com o 
sagrado, apenas modifica nossas práticas e ações em relação ao sagrado dos outros.
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
Figura 3 - Diversidade religiosa)
Legenda: Representação de indivíduos de diversas religiões.
Fonte:<http://pt.123rf.com/search.php?word=DIVERSIDADE+religiosa&imgtype=2&t_word=religious+diversity&t_lang=pt
&oriSearch=DIVERSIDADE+CULTURAL&srch_lang=pt&mediapopup=20296449>
Recomendamos a leitura dos livros: A nova era: civilização planetária. Rio de Janeiro: Sex-
tante, 2000; e, Ética e eco-espiritualidade. Campinas: Verus, 2003, ambos de autoria de 
Leonardo Boff, professor de ética e filosofia da religião e de ecologia filosófica na Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro. Também um dos pensadores mais respeitados e reconhe-
cidos no mundo.
1.4 Diversidade Sexual
O tema da diversidade sexual tem uma urgência na reflexão do mundo contemporâneo. Os últimos anos têm se 
mostrado um período de questionamentos aos direitos das pessoas e uma forte reação vem se insurgindo contra 
minorias e grupos sociais mais vulneráveis. Este movimento reacionário tende a conservar uma estrutura passa-
dista patriarcal e moralista em que a manifestação mais clara é o machismo. Um machismo que na maioria das 
vezes é verbal, mas que alimenta diariamente todo tipo de violência contra as mulheres ou contra grupos LGBTI 
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais).
C:\\Users\\Delinea\\Downloads\\<http:\\pt.123rf.com\\search.php?word=DIVERSIDADE+religiosa&imgtype=2&t_word=religious+diversity&t_lang=pt&oriSearch=DIVERSIDADE+CULTURAL&srch_lang=pt&mediapopup=20296449
C:\\Users\\Delinea\\Downloads\\<http:\\pt.123rf.com\\search.php?word=DIVERSIDADE+religiosa&imgtype=2&t_word=religious+diversity&t_lang=pt&oriSearch=DIVERSIDADE+CULTURAL&srch_lang=pt&mediapopup=20296449
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
O fundamento desses discursos, que acabam propagando o ódio a estes grupos sociais reduz a questão sexual 
à moralidade social. A questão da diversidade sexual vai muito além de um reducionismo religioso e moral. A 
sexualidade, ou melhor, sexualidades, envolve um diálogo mais amplo de disciplinas e estudos que vai desde a 
biologia até a filosofia, passando por muitas outras. 
Embora sejamos, por nascimento, homem ou mulher e em casos raros intersexual, não podemos entender a 
diversidade sexual somente por isso, pelo nosso sexo biológico. Ou então, por nossa orientação sexual, sejamos 
nós heterossexuais ou homossexuais. Diversidade sexual vai além disso, é um conjunto de vivências, são nos-
sas práticas, nossos desejos, nossos comportamentos, nossas expressões, a forma como agimos, como vemos e 
como mostramos a nossa sexualidade.
Neste sentido, é preciso estar muito atento ao que vem sendo trabalhado e pesquisado sobre o assunto. Definir 
estes estudos ou estas pesquisas como ideologia de gênero, é reduzir a temática ao manifesto sexual de um 
determinado grupo, deixando de lado um conjunto de reflexões muito bem datadas sobre o assunto e que, de 
alguma forma, são partes fundamentais das discussões sobre diversidade e tolerância no mundo atual.
Sugerimos a leitura do artigo Gênero e diversidade sexual nas escolas: uma questão de 
direitos humanos. Escrito por Vanessa Alves Vieira, coordenadora do Núcleo Especializado 
de Combate a Discriminação, Racismo e Preconceito da Defensoria Pública do Estado de São 
Paulo, disponível em: <http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85802&lang
ref=PT&cat=>.
Figura 4 - Diversidade sexual
Legenda: Representação de casais homoafetivos.
Fonte:<http://pt.123rf.com/search.php?word=DIVERSIDADE+sexual&start=100&t_word=sexual%20diversity&t_lang=pt&i
mgtype=2&oriSearch=DIVERSIDADE%20religiosa&searchopts=&itemsperpage=100&mediapopup=28644101>
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85802&langref=PT&cat
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85802&langref=PT&cat
http://pt.123rf.com/search.php?word=DIVERSIDADE+sexual&start=100&t_word=sexual%20diversity&t_lang=pt&imgtype=2&oriSearch=DIVERSIDADE%20religiosa&searchopts=&itemsperpage=100&mediapopup=28644101
http://pt.123rf.com/search.php?word=DIVERSIDADE+sexual&start=100&t_word=sexual%20diversity&t_lang=pt&imgtype=2&oriSearch=DIVERSIDADE%20religiosa&searchopts=&itemsperpage=100&mediapopup=28644101
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
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1.5 As múltiplas identidades
Outro tópico importante dentro do contexto da diversidade é a identidade. A identidade é o elemento de coesão 
nos quais indivíduos ou grupos se sentem unidos. Esta coesão é manifestada através de elementos de união 
dos indivíduos que reconhecem entre si características similares, como língua, representações, práticas sociais e 
culturais. A identidade como manifestação aglutinadora perpassa por outras categorias já vistas nesta unidade, 
como sociedade, grupo, etnia, comunidade religiosa e outras. Neste sentido, sem a percepção da identidade fica 
difícil pertencermos a algo.
A identidade também passou e passa por transformações históricas, não só no sentido conceitual, mas também 
prático, já que se relaciona a nosso ver, perceber, sentir e estar no mundo. Tomando como exemplo a nossa cul-
tura ocidental, voltaremos às questões envolvendo gregos e romanos com os estrangeiros. Havia um modo de 
ser grego, que dentre outras coisas, passava pelo viés linguístico e cultural. Estava condicionada a vida da polis 
e ao exercício da cidadania, este último conceito, diga-se de passagem, era bem restrito e excludente naquele 
contexto. 
O sentido mais moderno de identidade é aquele que aparece com a formação dos estados nacionais. Naquele 
momento, territórios passaram a ser estruturados, de forma mais homogênea, a fim de organizar o próprio 
estado. Regiões onde havia uma multiplicidade de dialetos, ou mesmo línguas, passaram a ter que falar um 
mesmo idioma, o nacional. O que antes pertencia a um grupo ou a um povo com território flexível, passou ser 
uma demanda política. Porém, esta construção não foi feita sem conflitos ou de forma acabada. Ainda (hoje) 
temos formas inacabadas desses processos. 
Apenas para ficar em um exemplo, vejamos a Comunidade Autônoma do País Basco. Este território pertencente 
à Espanha e tem sua nacionalidade reconhecida pela própria constituição espanhola. No entanto, há um conflito 
constante relacionado aos interesses bascos de proclamar sua independência.
Atualmente este conceito de identidade vem se alterando profundamente. De um lado, por fatores de ordem 
prática, como a globalização que desde os últimos 20 anos do século XX vêm minimizando o tempo e o espaço 
entre as pessoas de diferentes lugares no mundo. A globalização reajustou os deslocamentos no sentido físico. 
Pessoas conseguem se deslocar para qualquer parte do mundo, com um custo menor e a uma velocidade maior, 
mesmo que isso ainda não seja possível para a maioria. E ainda, a globalização, ajudada pelo próprio desenvolvi-
mento tecnológico, tornou possíveis os deslocamentos virtuais. As pessoas se conectam, interagem e produzem 
conhecimentoscom a ferramenta da internet. O mundo ficou pequeno para os nossos deslocamentos físicos e 
virtuais, porém, grande demais para o nosso velho conceito de identidade.
14
Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
Por outro lado, esta identidade que anteriormente era bem definida, passa agora a entrar no mesmo nível de 
complexidade dos valores estabelecidos em nossa sociedade. Se há uma crise de valores na sociedade contempo-
rânea, também podemos falar de uma crise de identidade. Muito destas mudanças, devem-se ao individualismo 
crescente na sociedade atual. Todas estas transformações fazem com que os indivíduos ora se sintam melhor 
representados em categorias de classe, ora de gênero, ora de etnia, ora de nacionalidade e em alguns momentos 
em muitas coisas juntas, conforme sua localização no tempo e até no espaço. Estas mudanças, segundo Stuart 
Hall, não ocorrem sem conflitos e gera uma perda de ‘sentido em si’:
Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou des-
centralização do sujeito. Esse duplo deslocamento – descentralização dos indivíduos tanto do 
lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui uma “crise de identidade” para 
o indivíduo (HALL, 1998, p. 9).
A crise de identidade, principalmente a identidade nacional, também vem de uma reação contra o processo de 
homogeneização excessiva gerada pela globalização. Levar em consideração esta crise de identidade apontada 
por Hall é importante, pois ela ajuda a entender porque muitos indivíduos buscam no fundamentalismo ou no 
conservadorismo uma válvula de escape para se firmar no mundo. Historicamente, o ser humano teme aquilo 
que não compreende. Na falta de compreensão, de entendimento e reflexão, apega-se ao mais simples e se fixa 
no mundo como ser intolerante. No caso, não tolera aquilo que não conhece. Portanto, cabe àqueles que estão 
à frente da educação formal ou informal, trabalhar as múltiplas identidades.
O apego às tradições, às religiões e a apologia à sua cultura são manifestas quando há essa crise de identidade. A 
falta de diálogo e a eleição do ‘outro’ como inimigo é uma faceta histórica da humanidade para se reconhecerem 
dentro de uma identidade. No entanto, esse processo ciclicamente vem acompanhado de intolerância, conflitos 
e ódio.
Por outro lado, todo o processo de globalização e mundialização econômica oferece a oportunidade ao diálogo. 
Esse diálogo requer um esforço entre os interlocutores e um exercício de renúncia de nossas próprias visões de 
mundo. Isso não significa ter de mudar de opinião e adotar o ponto de vista do outro. Mas, admitir outras manei-
ras de pensar, viver e ser no mundo. O diálogo sempre requer um consenso mínimo a fim de uma identidade mais 
coletiva e humanamente mais tolerante. O desafio é possibilitar que todos possam se expressar livremente e de 
forma mais harmoniosa.
Figura 5 - Múltiplas identidades (ID da imagem: 1562837)
Legenda: Representação da multiplicidade de identidades.
Fonte: <https://pixabay.com/en/human-silhouettes-group-1562837/>. 
https://pixabay.com/en/human-silhouettes-group-1562837/
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 1 – Introdução: Diversidade
1.6 Identidade interseccional
Identidade interseccional é um termo recente utilizado para tratar de maneira mais ampla os problemas rela-
cionados à raça/etnia, classe e gênero. De maneira geral estas temáticas estão sempre sendo problematizadas 
e estudadas isoladamente. A proposta dos estudos voltados à identidade interseccional é justamente encontrar 
um ponto de intersecção entre elas, e com isso articular melhor determinados problemas.
Para facilitar a compreensão pensaremos a categoria mulheres. Se analisarmos a violência contra a mulher, per-
ceberemos diferenças se consideramos o quesito raça/etnia e classe social. Uma coisa é uma mulher branca e 
rica que sofre qualquer tipo de violência, outra, bem diferente, é uma mulher negra e pobre. Segundo os estudio-
sos, refletir articuladamente sobre esses problemas ajuda no entendimento do assunto estudado.
Articular não é hierarquizar, ou seja, não existe nos estudos de identidade interseccional for-
mas mais ou menos opressoras. O que existe é um contexto articulado em que problemas de 
etnia, gênero e classe social passam a ser analisados.
Um exemplo da emergência dos estudos de identidade interseccional, foi na década de 1970, quando grupos de 
feministas negras, autodenominado de ‘panteras negras’ nos EUA, começaram a criticar feministas brancas, de 
classe média, cuja base de reinvindicações não levava em consideração os problemas de classe, etnia e gênero. 
Havia divergências em muitas das demanda do movimento feminista negro nos EUA com os demais movimentos 
feministas.
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Considerações finais
Nesta unidade você conheceu melhor os seguintes conceitos:
• Etnocentrismo consiste em avaliar o mundo a partir de padrões 
culturais próprios, ou seja, uma pessoa irá julgar todo o restante 
do mundo a partir de sua cultura.
• O conceito de estereótipo consiste na atribuição de um valor, 
quase sempre negativo, a determinado grupo.
• A cultura é formada pelo conjunto de conhecimentos, crenças, 
leis e hábitos, formados e adquiridos ao longo do tempo.
• Diversidade cultural pode ser compreendida pelos processos de 
aproximação e distanciamento entre várias culturas que existem. 
Isso pode acontecer com diferentes recortes de escala, ou seja, 
pode ser pensado e articulado em um pequeno território ou em 
um contexto mais amplo.
• Cristianismo, islamismo, budismo, espiritismo, candomblé são 
algumas das manifestações religiosas que fazem parte da diver-
sidade do universo religioso. O respeito à diversidade não é um 
componente moral, recheado de regras ou crenças, mas uma 
ação ética em relação àquilo que outras pessoas ou grupos mani-
festam em relação ao sagrado.
• Diversidade sexual é um conjunto de vivências, são nossas práti-
cas, nossos desejos, nossos comportamentos, nossas expressões, 
a forma como agimos, como vemos e como mostramos a nossa 
sexualidade.
• Identidade interseccional é um termo recente utilizado para 
tratar de maneira mais ampla os problemas relacionados à etnia, 
classe e gênero. 
Referências bibliográficas
17
ARAÚJO, C.; PICANÇO, F.; SCALON, C. Novas conciliações e antigas ten-
sões: gênero, família e trabalho em perspectiva comparada. São Paulo: 
Edusc, 2008.
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BOFF, L. A nova era: civilização planetária. Rio de Janeiro: Sextante, 
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BRANDÃO, C. R. A Educação como Cultura. Campinas: Mercado das 
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Silva e Guaracira L. Louro. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
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Vozes, 2010.
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.
MORENO, M. Como se ensina a ser menina: o sexismo na escola. São 
Paulo: Moderna; Campinas: UNICAMP, 1999.
2
20
Unidade de Estudo 2
Gênero: um conceito
Para iniciar seus estudos
Educamos meninase meninos da mesma maneira? Existem compor-
tamentos que são considerados adequados para homens e não para 
mulheres? No senso comum essas diferenças, identificadas como dife-
renças de gênero, são compreendidas como naturais, determinadas pelo 
sexo biológico. No entanto, para as ciências sociais o conceito de gênero 
é interpretado como uma construção sociocultural a partir do sexo ana-
tômico. Nesse sentido, as questões de gênero apontam a maneira que 
homens e mulheres se organizam e se comportam em sociedade, na ten-
tativa de seguir (ou então romper) com as prescrições estabelecidas para 
cada gênero. Mas, afinal, qual o conceito de gênero? É exatamente isso 
que abordaremos nessa unidade. Vamos conferir!
Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar a trajetória da construção de um conceito (de mulher 
a gênero).
• Compreender gênero como uma categoria de construção de 
conhecimento. 
• Interpretar as diferenças entre sexo e gênero; 
• Compreender o conceito de gênero nos diferentes recortes tem-
porais e contextos sociais.
• Problematizar os conceitos de violência, violência de gênero e vio-
lência contra mulher.
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
1.1 Questões de Gênero (masculinidades/feminilidades)
Gênero não é sinônimo de mulher, nem mesmo de mulheres e também não se trata da diferença sexual. Gênero 
é relacional, pois aborda a relação social entre pessoas (mulheres e homens, homens e homens, mulheres e 
mulheres) na tentativa de entender como se constroem enquanto sujeitos sociais.
Essa categoria não é apenas analítica, mas também é histórica. Nesse sentido, desde o seu surgimento, o con-
ceito de gênero ganhou novo significado e uma nova categoria surgiu com a finalidade de discutir/problematizar 
a subordinação da mulher e, consequentemente, a supremacia e o poder do homem na sociedade. Atualmente, 
gênero pode ser pensada como uma ferramenta para a desnaturalização do ser homem e ser mulher, ultrapas-
sando o caráter binário, desvendando, assim, inúmeras masculinidades e feminilidades.
Se gênero pode ser utilizado para analisar as relações sociais estabelecidas entre homens e mulheres, devemos 
compreender que as relações de gênero perpassam por várias facetas, desde as construções de papéis masculi-
nos e femininos, a constituição de identidades, da sexualidade, da pluralidade de masculinidades e feminilidades, 
da hierarquia de gênero e consequentemente da violência de gênero. 
Se, inicialmente, gênero surgiu para problematizar a subordinação feminina, afirmando que ela não é natural, 
com o passar do tempo a concepção de gênero passou a ser entendida como relacional, ou seja, a maneira que 
as relações sociais acontecem, um modo de ressignificar as relações de poder. Com isso, as identidades passaram 
a ser compreendidas como não estáticas, mas em constante transformação, além de serem plurais e diversas.
Desde antes do nascimento de uma criança, com o resultado do ultrassom em mãos, a família começa a moldar 
seu lugar no mundo. E a partir de suas genitálias é que tudo se definirá, se for menina sua cor será rosa, deco-
ração, roupas e acessórios terão a predominância dessa tonalidade. Caso seja menino, o padrão será a cor azul. 
Com o crescimento das crianças essa dicotomia continua a ser sentida no modo de vestir, no entanto, é por meio 
dos brinquedos e das brincadeiras adquiridos/permitidos para um e para outro - no caso, para outra – que isso 
será percebido de maneira mais enfática.
Figura1 - Quarto de menino prevalece o azul
Legenda: Representação de um quarto de menino
Fonte: <http://pt.123rf.com/search.php?word=dormit%F3rio+menino&imgtype=0&t_word=bedroom+boy&t_lang=pt&ori
Search=dormit%F3rio&srch_lang=pt&sti=lbmqs6ax5isho04mz5|&mediapopup=29214423>
http://pt.123rf.com/search.php?word=dormit%F3rio+menino&imgtype=0&t_word=bedroom+boy&t_lang=pt&oriSearch=dormit%F3rio&srch_lang=pt&sti=lbmqs6ax5isho04mz5|&mediapopup=29214423
http://pt.123rf.com/search.php?word=dormit%F3rio+menino&imgtype=0&t_word=bedroom+boy&t_lang=pt&oriSearch=dormit%F3rio&srch_lang=pt&sti=lbmqs6ax5isho04mz5|&mediapopup=29214423
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
Figura 2 - Quarto de menina prevalece o rosa
Legenda: Representação de um quarto de menina.
Fonte:<http://pt.123rf.com/search.php?word=dormit%F3rio+menina&imgtype=0&t_word=sleeping+girl&t_lang=pt&oriS
earch=dormit%F3rio+menino&srch_lang=pt&sti=mdwjl6ucbhahw4duk8|&mediapopup=29214447> 
Se essa segregação, entre coisas de meninos e coisas de meninas, correspondente a cada um dos gêneros, nos 
é imposta desde a infância, na fase adulta continuamos a reforçar as diferenças entre atitudes que são cabíveis 
aos homens e às mulheres. É assim que, no senso comum, acontece a naturalização do gênero, como se para 
ser homem ou ser mulher bastasse nascer com uma ou outra genitália. Mas, será que isso é assim tão simples?
Na década de 1950, Simone de Beauvoir já dizia que “ninguém nasce mulher: torna-se” (BEAUVOIR, 1980, p. 9). 
Isso se estende, também, para os homens. Nesse sentido, essa dicotomia entre o ser feminino e/ou masculino 
não é definida apenas pelo determinismo biológico. Queremos com isso afirmar que tanto o homem, quanto a 
mulher são produtos de uma dada realidade sociocultural. Foi tentando problematizar essas relações de poder, 
estabelecidas entre homens e mulheres, que nasceu o conceito de gênero.
O termo surgiu no mundo acadêmico, na década de 1980, em um diálogo constante entre o movimento femi-
nista e pesquisadoras das mais diversas áreas: história, sociologia, antropologia, ciência política, entre outras. Foi 
por meio dos estudos sobre mulheres que o processo de desnaturalização do papel de submissão/inferioridade, 
da qual a mulher estava destinada socialmente, passou a ser desconstruído. 
Foi com esse intuito que o conceito de gênero surgiu: refletir e desconstruir a ideia de que as desigualdades e as 
convenções sociais estivessem associadas apenas ao determinismo biológico. Afinal, é a sociedade que, pautada 
na genitália, estabelece padrões e papéis distintos para homens e mulheres. Como afirmou Guacira Lopes Louro:
Para que se compreenda o lugar e as relações de homens e mulheres numa sociedade importa 
observar não exatamente seus sexos, mas sim tudo que socialmente se construiu sobre eles 
(LOURO, 1997, p. 55).
Nesse sentido, diferentes povos, em distintos períodos históricos, estabeleceram comportamentos, atividades e 
papéis diferentes para homens e mulheres. Caso contrário, fosse o sexo anatômico, ou seja, os dados biológicos o 
elemento definidor das condutas e parâmetros sociais, pautado na genitália, viveríamos até hoje com as mesmas 
regras e condutas. Nada teria mudado.
http://pt.123rf.com/search.php?word=dormit%F3rio+menina&imgtype=0&t_word=sleeping+girl&t_lang=pt&oriSearch=dormit%F3rio+menino&srch_lang=pt&sti=mdwjl6ucbhahw4duk8|&mediapopup=29214447
http://pt.123rf.com/search.php?word=dormit%F3rio+menina&imgtype=0&t_word=sleeping+girl&t_lang=pt&oriSearch=dormit%F3rio+menino&srch_lang=pt&sti=mdwjl6ucbhahw4duk8|&mediapopup=29214447
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
Com a leitura realizada até aqui conseguimos diferenciar sexo e gênero. O primeiro é um dado biológico, tudo 
aquilo relacionado ao nosso corpo físico – a genitália, os seios, o formato do corpo – o segundo, um fato, uma 
construção sociocultural. 
Sexo é um dado biológico, tudo aquilo relacionado ao nosso corpo físico (a genitália, os seios, 
o formato do corpo); Gênero é um fato, uma construção sociocultural.
No entanto, cabe ressaltar que categoria gênero não é uma norma mecanicamente imposta, tampouco, as 
encontraremos escritas em um código de leis. Ela se estabelece no cotidiano, em um jogo constante de poder e 
resistência. Essas relações são estabelecidas em todos os campos: educação, saúde, trabalho, política, religião e 
também nosmomentos de lazer.
É importante frisar que o próprio conceito de gênero está inserido em um contexto sociocultural, ou seja, ele 
também é uma construção, e sujeito a transformações. Existe, por exemplo, uma grande diferença entre ser uma 
mulher em nosso país ou no Oriente. Essa diferença também pode ser articulada em relação ao tempo, ou seja, 
há diferença entre ser mulher atualmente e ter sido mulher no começo do século XX.
Inicialmente gênero estava associado às discussões de/e para mulheres, focando na condição feminina e na per-
cepção de como a categoria mulher era construída. O resultado disso foi uma homogeneização das mulheres, 
como sendo uma categoria única, sem atentar-se para outras diferenças: classe, etnia/raça, geração e orienta-
ção sexual. 
Você considera todas as mulheres iguais, ou então, que todas as mulheres reivindicam e 
lutam pela mesma pauta? Será que há diferença entre ser mulher branca, negra ou indí-
gena? E ser rica ou pobre? Ser heterossexual, lésbica ou travesti?
Nesse contexto, faz-se importante ressaltar que o movimento feminista, responsável por grandes mudanças 
ocorridas durante o século XX, problematizou o cotidiano das mulheres, demonstrando à sociedade as diver-
sas formas de discriminações à qual as mulheres estavam constantemente submetidas. Seja no espaço privado, 
designadas a obediência às ordens masculinas, ou, no espaço público, na ausência de direitos políticos e sociais.
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
O movimento feminista, no final do século XIX e início do XX, encontrava-se no que foi intitulado de primeira 
onda, uma luta travada pela conquista de direitos políticos e sociais. As principais reinvindicações estavam pau-
tadas no direito ao voto e de trabalhar, sem autorização do marido ou do pai no segundo caso. O movimento 
sufragista obteve saldo positivo em 1932, quando as mulheres (no Brasil) conquistaram o direito ao voto.
O Movimento Sufragista foi um movimento social, político e econômico que visava estender 
para as mulheres o direito de votar.
Glossário
Nesse mesmo período, muitas mulheres participaram, sendo inclusive protagonistas, de diversas manifestações 
e greves que aconteceram no Brasil nas primeiras décadas do século XX. Outra grande reinvindicação das mulhe-
res foi o direito à educação, fato que possibilitou o acesso às carreiras consideradas masculinas, como por exem-
plo, a medicina e o direito.
Figura 3 - Mulher e o direito de voto no Brasil
Legenda: As mulheres conquistaram o direito de voto em 1932, como resultado do movimento sufragista.
Fonte: <http://pt.123rf.com/search.php?word=mulheres+elei%E7%E3o&imgtype=0&t_word=women+election&t_lang=pt
&oriSearch=mulheres+votando&srch_lang=pt&sti=mfr1d5x388lsfeqtde|&mediapopup=56290513>
Nos anos de 1960 e 1970, o movimento feminista alcançava outros desdobramentos e se encontrava na intitu-
lada segunda onda. Novas preocupações políticas e sociais passaram a ocupar a pauta. Grupos organizados – 
ONGs, lideranças políticas e principalmente grupos de estudos de universidades, passaram a reivindicar o direito 
de igualdade entre homens e mulheres. Cabe destacar duas reivindicações importantes: 1) as questões referen-
tes ao espaço privado - como a violência doméstica e os direitos reprodutivos – que passaram a ser apontadas 
como questões sociais, ou seja, como objeto de políticas públicas; 2) a luta pela autonomia do próprio corpo, com 
http://pt.123rf.com/search.php?word=mulheres+elei%E7%E3o&imgtype=0&t_word=women+election&t_lang=pt&oriSearch=mulheres+votando&srch_lang=pt&sti=mfr1d5x388lsfeqtde|&mediapopup=56290513
http://pt.123rf.com/search.php?word=mulheres+elei%E7%E3o&imgtype=0&t_word=women+election&t_lang=pt&oriSearch=mulheres+votando&srch_lang=pt&sti=mfr1d5x388lsfeqtde|&mediapopup=56290513
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
a frase “nosso corpo nos pertence”, as mulheres reivindicavam a escolha de ser mãe ou não, o direito ao prazer 
sexual e de ser vestirem e se comportarem da forma que desejassem.
No espaço acadêmico, as feministas passaram a tecer suas próprias construções teóricas, a categoria mulher – no 
singular – passou a ser utilizada em contraposição ao conceito universal de homem. Essa foi uma forma, inicial, 
de (re)afirmar a identidade de mulher, em um espaço predominantemente masculino. Embora o conceito de 
mulher, como categoria única, tenha sido o pontapé inicial para se questionar os direitos das mulheres, as pes-
quisadoras passaram a utilizar a categoria mulheres – no plural – pois perceberam que o conceito no singular não 
dava conta de expressar a diversidade das condições femininas. Pois, a identidade de sexo não era fator único, 
havia outros elementos – classe, etnia/raça, geração, diversidade regional – que pautavam distintas reivindica-
ções e lutas.
Na década de 1980 estudos e pesquisas sobre mulheres brasileiras ganharam um grande espaço, no entanto, 
continuava como referência a unidade biológica, ou seja, somente eram reconhecidas como mulheres aquelas 
que tinham uma genitália feminina. 
Foi a partir daí que o conceito de gênero passou a ser interpretado como uma categoria relacional, constituído 
no processo de socialização das pessoas, implicando em relações de poder. No Brasil, o termo ganhou espaço a 
partir de publicação de Joan Scott, pois, esse artigo permitiu que pesquisadores das ciências humanas passassem 
a (re)pensar as relações sociais sendo pautadas nas diferenças estabelecidas entre homens e mulheres. A partir 
desse momento apresentou-se um leque de possibilidades, inclusive para estudos sobre as masculinidades. 
O artigo de Joan Scott é, apesar de ser um texto datado, considerado um clássico para as 
pesquisadoras da área, por isso vale uma leitura: Gênero: uma categoria útil de análise histórica. 
Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.
1.2 Relações de Gênero
Se pensarmos em gênero como uma categoria relacional, ao utilizarmos o termo relações de gênero estamos 
tornando explícito o que se mantinha nas entrelinhas. Nesse sentido, toda a ação humana, seja em qual for o 
espaço, é permeada por relações de gênero. E é aí que se constroem as identidades de gênero, ou seja, é no 
contraste com o outro que acontece a (re)significação, é nesse momento que a pessoa se identifica como isso ou 
aquilo. Desse modo, como afirmou Scott (1995), percebe-se que gênero é o primeiro modo de dar significados às 
diferenças. E essas diferenças, como já afirmado, são construídas socialmente. Nesse sentido, o gênero feminino 
e o gênero masculino estão em um processo social contínuo. Essa categoria relacional é o que define ser homem 
e ser mulher e o que se espera socialmente de um, é diferente do que se espera do outro. 
Essa divisão binária entre o masculino e o feminino foram as primeiras concepções das relações de gênero, ou 
seja, ainda com o enfoque pautado no sexo, não conseguindo se desvincular das características biológicas. Uma 
estrutura essencialista e fixa, esquema que começou a apresentar-se limitado para explicar a complexidade 
social a que as pessoas e suas relações estavam imersas.
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
Apesar dos estereótipos ainda existirem, eles estão sendo, a cada dia, mais questionados. Por exemplo: atual-
mente não se tem estranhamento ao ver um homem usando brinco. Há algumas décadas sua orientação sexual, 
pautada na heteronormatividade, seria questionada diante de tal situação. Se pensarmos em meio século atrás, 
seria inconcebível, nem se quer se imaginaria que homens passariam a utilizar brincos no futuro, usar brinco era 
“coisa de mulher”. Queremos com isso dizer que esta divisão entre o masculino e o feminino, que no passado era 
cristalizada, praticamente estagnada, foi aos poucos sendo relativizada. 
Heteronormatividade: termo que se refere e limitao desejo sexual ao par binário: homem e 
mulher. Toda a manifestação contrária a esse modelo é marginalizada, oprimida, violentada.
Glossário
Abriu-se espaço para as pluralidades, tanto de mulheres, quanto de homens. Na atualidade, por exemplo, é 
impossível afirmar que exista uma divisão estática entre o que é masculino e o que é feminino, inclusive, existem 
identidades de gênero que não se encaixam totalmente nessa divisão binária.
Vamos pensar aqui: Onde se encaixaria uma pessoa que nasceu com a genitália feminina, 
mas que em determinada fase da vida passou a se ver, se sentir e se comportar como homem. 
Seria uma mulher, afinal ela tinha uma vagina, ou, seria um homem já que agia como tal? E 
se ela fizesse uma cirurgia de mudança de sexo? Bom, com um pênis e se comportamento 
como homem, agora sim, sua identidade de gênero seria masculina. Mas, se ele decidisse 
gestar uma criança? Bem, você não precisa responder todas essas indagações. Elas tem o 
objetivo de fazê-lo pensar que identidade de gênero é algo subjetivo, e que muitas vezes não 
cabe nessas duas caixinhas definidas como: ser masculino ou ser feminino.
Não deixe de participar do Fórum Desafio no Ambiente Virtual e dividir suas ideias com os 
colegas!
A identidade de gênero está associada, de maneira direta, à subjetividade, ou seja, à percepção que determi-
nada pessoa tem sobre si, sobre ser masculino ou feminino, ou, ainda, sobre ser ora um, ora outro. A maneira 
como a pessoa se vê, se sente e se apresenta para a sociedade na condição de homem ou mulher (ou de ambos 
como é o caso de algumas travestis), no entanto, não está vinculada ao sexo biológico, nem à orientação sexual. 
Em outras palavras: identidade de gênero nos dá a possibilidade de percebermos que o fato de termos uma ou 
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
outra genitália (pênis ou vagina) não nos obriga, necessariamente, a nos sentirmos pertencentes a determinado 
grupo (masculino ou feminino), ou seja, quando uma pessoa que nasceu com um pênis, mas, que se vê, age e 
se comporta como uma mulher tem a identidade de gênero feminina, seu corpo biológico não condiz com sua 
identidade de gênero. 
O termo identidade de gênero teve sua origem no campo médico-psiquiátrico com o propósito de diagnosticar o 
desconforto criado pela divergência entre o sexo biológico e a identificação subjetiva com o sexo oposto, o cha-
mado transtorno de identidade de gênero. No entanto, nos últimos anos, outros campos se apropriaram dessa 
denominação para questionar a segregação binária na qual as pessoas estavam submetidas.
Se gênero é um fenômeno social, e não biológico, a identidade de gênero também não se prende a esse deter-
minismo, ou seja, uma pessoa se identifica independente do seu sexo biológico. Assim: 
Temos os humanos ‘cis’ (do latim, do mesmo lado), as pessoas cuja identidade de gênero está ao 
lado do que socialmente se estabeleceu como o padrão para o seu sexo biológico; e os humanos 
‘trans’ (do latim, para além de), pessoas cuja identidade de gênero é diferente do que foi estabe-
lecido socialmente como padrão para seu sexo biológico (WOLFF, SALDANHA, 2016, p. 32).
Aqui entram em cena outros dois personagens: transexuais e travestis. Pessoas transexuais são aquelas que não 
se identificam com a genitália que possuem; sentem-se o oposto, assumindo uma identidade de gênero dife-
rente da que lhe foi determinada geneticamente. É importante frisar que um grande número delas, não todas, 
desejam – e algumas efetuam – a mudança de sexo, um jeito de resolver esse conflito de não pertencer ao corpo 
ao qual nasceu. O trans-homem é aquela pessoa que nasceu com genitália feminina, mas assumiu uma identi-
dade de gênero masculina, já a trans-mulher é uma identidade de gênero feminina em um corpo com genitália 
masculina. 
As pessoas travestis vão um pouco além, elas ultrapassam a noção da identidade de gênero: elas vivenciam seu 
cotidiano dentro do que é esperado pelo sexo oposto; geralmente modificam seus corpos, mas não travam gran-
des conflitos com suas genitálias. Além disso, rompem com o binarismo do corpo, ora assumem uma postura 
feminina, ora masculina. 
É importante não fazer confusão entre orientação sexual, identidade de gênero e identidade 
sexual. Orientação sexual refere-se à direção que as pessoas destinam o seu desejo e o seu 
afeto – atualmente são reconhecidos: heterossexual, homossexual, bissexual, pansexual ou 
assexual. Já identidade de gênero, refere-se ao gênero com o qual a pessoa se identifica, 
independentemente de sua genitália. E por último a identidade sexual que é a somatória dos 
dois anteriores, ou seja da orientação sexual e da identidade de gênero. Vale a pena assis-
tir esse vídeo no qual as pessoas trans (travestis e transexuais) respondem perguntas sobre 
vários temas relacionados até aqui. Segue o link: <https://www.youtube.com/watch?v=kPe_
C8xEAVw>.
https://www.youtube.com/watch?v=kPe_C8xEAVw
https://www.youtube.com/watch?v=kPe_C8xEAVw
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
Ao afirmarmos que gênero é uma categoria relacional, estamos também afirmando que gênero é poder, por-
tanto, ele hierarquiza. Em nosso cotidiano reforçamos essa hierarquia de gênero quando, ao descobrirmos o sexo 
da criança, traçamos toda a sua vida, a partir de sua genitália: a cor do seu enxoval, a graduação que cursará, o 
seu par afetivo, enfim, o que se espera de um ou outro gênero. Cabe mencionar que a nossa sociedade, e prati-
camente todas que conhecemos, é patriarcal, ou seja, o gênero masculino é o que ocupa o topo da pirâmide da 
hierarquia de gênero.
Hierarquia de gênero pode ser pensada como uma pirâmide social que organiza as relações 
assimétricas de gênero em diferentes espaços (vida política, educação, mercado de trabalho, 
dentre outras).
Glossário
Desse modo, a partir do conceito de gênero podemos compreender que a organização binária da sociedade, divi-
dida entre mulher e homem, gerou – e ainda gera –preconceito, discriminação, opressão e violência, ainda mais 
quando há um jeito “certo” de ser homem e de ser mulher. 
1.3 Gênero e Violência
Cena 1 – João e Fernando andavam de mãos dadas por uma das praças de uma grande cidade. Essa sim-
ples demonstração de carinho foi o suficiente para que um grupo de jovens os agredisse. João não resistiu 
aos ferimentos, Fernando saiu do hospital dias depois.
Cena 2 – Maria caprichou na maquiagem para ir ao trabalho. Não havia nada de especial, mas ela pre-
cisava esconder a marca roxa que estava estampada na parte superior de seus olhos, “tinha caído da 
escada” novamente.
Cena 3 – Luana namora Cristian há pouco mais de dois anos. A relação é bacana, exceto quando Cristian 
pede para ela se cuidar mais, pois ela está gorda. Ou, então, quando afirma, em meio a uma discussão, 
que ela está louca.
Cena 4 – Patrícia caminha por uma rua central de uma cidade do interior, passa por ela um rapaz e chama-
-a de “gostosa”. Duas quadras depois, um outro moço lhe chama de “delícia”. A única coisa que Patrícia 
desejava era chegar em casa tranquila depois de um dia de trabalho.
Você deve estar se perguntando o motivo de termos utilizado essas quatro cenas? Afinal, os personagens nada 
têm em comum, os cenários tampouco. Se observarmos, com um olhar mais atento, perceberemos que todas 
as cenas apresentam violência, e não é qualquer tipo de violência, é a violência pautada no gênero. Você nos 
perguntaria: Como assim? Ora, se nossa organização social é pautada pelas relações de gênero, que durante 
grande parte da história, privilegiou o masculino e mais que isso, privilegiou o homem, mas não qualquer um, 
existe uma masculinidade hegemônica, o topo da pirâmide da hierarquia de gênero (homem, heterossexual e 
branco). Todos os demais são inferiores a ele, respeitando uma escala que relaciona gênero, orientação sexual, 
classe, raça/etnia, cor e geração.
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DiversidadesÉtnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
Figura 4 - Hierarquia de gênero
Legenda: Esquema demonstrativo da hierarquia de gênero.
Fonte: Elaborada pelo autor.
A violência nos atinge todos os dias, se não de maneira direta, indiretamente ela se instala em nossas casas, 
basta ligarmos a televisão, o rádio ou acessarmos a internet. Ali está ela, mostrando suas várias facetas, fazendo 
infinitas vítimas cotidianas. Nesse espaço trataremos sobre a intitulada violência de gênero conceituando-a e 
articulando sua historicidade. Abordaremos aqui, nessa unidade, a violência contra as mulheres, pois a violência 
que se manifesta por meio de discriminação em razão da orientação sexual e/ou a identidade de gênero será 
abordada na unidade seguinte.
Para iniciar precisamos afirmar que é inegável que o fenômeno da violência de gênero tem sua explicação pau-
tada na questão cultural, na qual o agressor sente-se superior à vítima, enquadrando-se alguns degraus acima 
na pirâmide da hierarquia de gênero. A violência de gênero pode ser manifestada de diversas maneiras: por meio 
de agressões físicas, abuso sexual, estupro, ameaças, perseguição, linchamento, assédio moral ou sexual. 
Vale a pena conferir a pesquisa Énóis, realizada em 2015, em uma parceria dos Institutos: 
Patrícia Galvão e Vladimir Herzog. A pesquisa aborda diferentes facetas da violência contra a 
mulher, com jovens das classes C, D e E. Disponível em: <http://bit.ly/1FS0ERm>.
A violência pode acontecer em espaço público e, também, no espaço privado e seja qual for a sua forma ela estará 
condicionada à tentativa de manter as relações de poder desiguais, o que acaba por autorizar, mesmo sendo um 
ato ilegal, aos homens o “direito” de violar as mulheres e grupos LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros 
e Intersexuais).
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
Embora violência de gênero não possa ser interpretada como sinônimo de violência contra a mulher, se faz impor-
tante frisar que foi esse o pontapé inicial para toda essa discussão que perdura até os dias atuais. A discussão 
esteve pautada, entre as décadas de 1960 e 1970, nos episódios de violência doméstica. Nesses casos o agressor 
pensava ser dono da vítima, havia um sentimento de posse, por isso, ao ser contrariado, traído ou abandonado, 
achava-se no direito de agredir e em alguns casos assassinar a companheira. Outro fator importante para se 
considerar é que, em grande maioria, as mulheres não possuíam rendimentos, ou seja, eram dependentes finan-
ceiramente de seus companheiros.
Todas essas denúncias e reivindicação sobre a violência de gênero estão diretamente associadas ao movimento 
feminista e à noção de violência contra a mulher desde meados da década de 1970. Principalmente quando 
relacionada à luta contra a impunidade dos agressores que legitimavam a defesa da honra. Vale lembrar que até 
metade do século XX, inúmeros foram os casos em que mulheres foram assassinadas e seus agressores, geral-
mente o companheiro, foram absolvidos em nome da defesa da honra. 
Mas não parou por aí. O movimento feminista, associado a outros movimentos sociais, se fez presente, na década 
de 1980, quando houve um alargamento nos tipos de denúncia, incluindo espancamento e maus tratos no casa-
mento. A década de 1990, por sua vez, foi marcada pela institucionalização de serviços públicos especializados 
no atendimento de mulheres que haviam sido vítimas de violência. 
É importante salientar que desde a década de 1970, mas principalmente na década de 1990, a comunidade 
internacional passou a dar maior atenção às questões de gênero, principalmente para a questão da violência. 
Logo no final da década de 1970, mais precisamente em 1979, aconteceu a Convenção sobre a Eliminação de 
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher. Era o primeiro documento internacional de direitos huma-
nos, aprovado pelas Nações Unidas, que abordava exclusivamente a temática da violência contra a mulher.
No que diz respeito ao cenário nacional, dentre todas essas conquistas, merece destaque a lei 11.340/2006 que 
foi intitulada Lei Maria da Penha, em homenagem a uma biofarmacêutica que ficou paraplégica aos 38 anos, 
vítima de seu companheiro, que tentou matá-la por duas vezes. Atualmente a Lei Maria da Penha, com pouco 
mais de dez anos, é considerada um marco na legislação brasileira, principalmente por criar mecanismos para 
coibir a violência doméstica contra a mulher. Além disso, segundo o Instituto Pagu, 98% da população conhece 
a lei e sabe que seu conteúdo principal visa proteger as mulheres da violência. Lembra-se daquele velho ditado: 
em briga de marido e mulher ninguém mete a colher? Então, só no passado! Agora a violência contra mulher é 
um problema de políticas públicas. 
Sugerimos que assistam o clip da música intitulada “Lei Maria da Penha” de Luana Hansen 
e Drika Ferreira, que foi a canção vencedora do Concurso de Músicas sobre a Lei Maria da 
Penha, promovido pelo Congresso Nacional e pelo Banco Mundial. Segue o link:<https://
www.youtube.com/watch?v=gO2pmqIFVNo>.
Mais recente que a Lei Maria da Penha, foi sancionada em 2015 a lei 13.104/2015, que trata sobre o feminicídio, 
crime caracterizado quando uma mulher é assassinada justamente pelo fato de ser mulher. Encaixam-se aqui as 
violências domésticas que resultam em morte, estupros seguidos de assassinatos e também assassinatos come-
tidos pelo fato de que a mulher ocupa um cargo considerado exclusivamente masculino. O que mudou com essa 
lei? Ocorreu uma alteração do Código Penal, ampliando os agravos, ou seja, vários elementos podem ser consi-
derados para aumentar o prazo da condenação. 
https://www.youtube.com/watch?v=gO2pmqIFVNo
https://www.youtube.com/watch?v=gO2pmqIFVNo
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
No entanto, vale lembrar que, ainda hoje, inúmeras mulheres sofrem violências, seja por seus companheiros, no 
interior de sua casa, seja por qualquer homem, conhecido ou estranho. O índice de mulheres agredidas continua 
alto, muitas mulheres continuam morrendo no Brasil.
Tabela 1 - Números de taxas (por 100 mil) de homicídios de mulheres no Brasil
Legenda: Demonstrativo do número de homicídios de mulheres x ano no país.
Fonte: Mapa da violência, 2015. Disponível em <http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_
mulheres.pdf> 
A tabela revela que, em 33 anos, morreram 106.093 mulheres, vítimas de homicídio. Pela tabela é possível perce-
ber que entre o primeiro e o último ano, há um ritmo crescente: de 1353, em 1980, saltou para 4762, em 2013. 
Apesar de todos esses avanços, na legislação e nas políticas públicas, um número expressivo de mulheres conti-
nua morrendo pelo simples fato de ser mulher.
Apesar de muitas mudanças sociais, de terem conquistado espaço no mercado de trabalho (embora ainda haja 
diferença salarial), muitos homens continuam agindo como se as mulheres fossem sua propriedade. Dúvida 
disso? Coloque em qualquer site de busca a expressão “homem mata ex”, aparecerão várias reportagens de 
assassinato e você verá quais são os motivos alegados para ele: ciúmes, posse, abandono, traição e afins.
As mulheres continuam em busca do direito de viver em uma sociedade mais justa. Através de manifestações 
coletivas e individuais, elas se expressam por meio de cartazes, filmes, música, pichações, panfletos, lambe-lam-
bes e pelo próprio corpo, basta querer ouvir.
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf
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Diversidades Étnico-Raciais, Sexuais e de Gênero | Unidade de Estudo 2 – Gênero: um conceito
Figura 5 - Machismo
Legenda: O machismo consiste na ideia de o homem ser superior à mulher.
Fonte: <http://pt.123rf.com/search.php?word=machismo&imgtype=0&t_word=machismo&t_lang=pt&oriSearch=mulher
es+elei%E7%E3o&srch_lang=pt&sti=n2g2f2gj08vzefdbui|&mediapopup=52572020>Para finalizar, vamos lembrar que a violência de gênero também engloba as agressões sofridas por qualquer pes-
soa desde que a violência tenha se pautado na orientação sexual ou na identidade de gênero. Abordaremos essa 
temática na próxima unidade. Mesmo assim, deixaremos aqui algo para que seja pensado: inúmeros são os casos 
em que gays, lésbicas e transgêneros são assassinados. Basta olhar o noticiário ou buscar na internet. Viu, são 
muitos! O que não nos damos conta é que os casos que ganham os noticiários são os extremos, aqueles em que 
a intolerância acabou resultando na morte de pessoas, e os outros? Sabe, tem inúmeros crimes que não chegam 
até as pessoas, pois não se tornam notícias. Por exemplo: homossexuais que sobreviveram às surras, que esca-
param de virar estatística. Sem falar, é claro, do preconceito e da discriminação cotidiana que acontece em todos 
os momentos, em todo lugar.
Precisamos, então, desconstruir essa masculinidade, questionar os papéis de gênero, acabar com a violência de 
gênero, promovendo assim um mundo mais justo e igualitário.
http://pt.123rf.com/search.php?word=machismo&imgtype=0&t_word=machismo&t_lang=pt&oriSearch=mulheres+elei%E7%E3o&srch_lang=pt&sti=n2g2f2gj08vzefdbui|&mediapopup=52572020
http://pt.123rf.com/search.php?word=machismo&imgtype=0&t_word=machismo&t_lang=pt&oriSearch=mulheres+elei%E7%E3o&srch_lang=pt&sti=n2g2f2gj08vzefdbui|&mediapopup=52572020
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Considerações finais
Nesta unidade, vimos que:
• Gênero não é sinônimo de mulher, não trata da diferença sexual, 
gênero é relacional, ele aborda a relação social entre pessoas 
(mulheres e homens, homens e homens, mulheres e mulheres) na 
tentativa de tentar entender como se constroem enquanto sujei-
tos sociais;
• O surgimento do conceito de gênero surgiu na década de 1980, 
em um diálogo constante entre o movimento feminista e pesqui-
sadoras das ciências humanas;
• Atualmente, gênero pode ser pensado como uma ferramenta 
para a desnaturalização do ser homem e ser mulher, ultrapas-
sando o caráter binário, desvendando inúmeras masculinidades 
e feminilidades; 
• As relações de gênero perpassam por várias facetas, desde as 
construções de papéis masculinos e femininos, a constituição de 
identidades, da sexualidade, da pluralidade de masculinidades e 
feminilidades, da hierarquia de gênero e consequentemente da 
violência de gênero. 
• A identidade de gênero é a percepção que determinada pessoa 
tem sobre si, sobre ser masculino ou feminino, ou, ainda, sobre 
ser ora um, ora outro. A maneira como a pessoa se vê, se sente e 
se apresenta para a sociedade na condição de homem ou mulher, 
independente da sua genitália.
• A violência de gênero tem sua explicação pautada na questão cul-
tural, na qual o agressor sente-se superior à vítima, podendo ser 
manifestada de diversas maneiras: por meio de agressões físicas, 
abuso sexual, estupro, ameaças, perseguição, linchamento, assé-
dio moral ou sexual. Ela atinge mulheres e pessoas LGBTI.
• Duas leis importante relacionadas a violência contra a mulher: a 
Lei Maria da Penha e a lei sobre feminicídio. 
Referências bibliográficas
34
ARAÚJO, C.; PICANÇO, F.; SCALON, C. Novas conciliações e antigas ten-
sões?: gênero, família e trabalho em perspectiva comparada. São Paulo: 
Edusc, 2008.
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Paulo: Contexto, 2006.
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Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
BENEDETTI, M. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro: 
Garamond; 2005.
BESSA, K. A. M. (Org.). “Dossiê Masculinidades”. Cadernos Pagu, v. 11, p. 
157-343, 1998. 
CONFERÊNCIA NACIONAL DE GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E 
TRANSEXUAIS – GLBT. Texto-base da conferência nacional de gays, lésbi-
cas, bissexuais, travestis e transexuais, direitos humanos e políticas públi-
cas: o caminho para garantir a cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, 
travestis e transexuais. Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 
[200-] 64 p. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/co/glbt/texba-
glbt.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2011.
GARCIA, L. P. et al. Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil. Ins-
tituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 2013.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2011.
LOURO. G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
-estruturalista. Petrópolis: Vozes,1997.
http://portal.mj.gov.br/sedh/co/glbt/texbaglbt.pdf
http://portal.mj.gov.br/sedh/co/glbt/texbaglbt.pdf
Referências bibliográficas
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alidade: um debate contemporâneo na educação. 6. ed. Rio de Janeiro: 
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Paulo: Moderna; Campinas: UNICAMP, 1999. 
MOTT, L. Homofobia: a violação dos direitos humanos de gays, lésbicas e 
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PINSKY, C. B. P.; PEDRO, J. M. (org). Nova História das Mulheres no Brasil. 
São Paulo: Contexto, 2012.
PRADO, M. A. M.; MACHADO, F. V. Preconceito Contra Homossexualida-
des: a hierarquia da invisibilidade. São Paulo: Cortez; 2008.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & 
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.
WOLFF, C. S.; SALDANHA, R. A.Gênero, Sexo, Sexualidade: categorias 
do debate contemporâneo. In: BUENO, A. da S. et al. Gênero, Educação 
e Sexualidades: reconhecendo diferenças para superar [pré]conceitos. 
Uberlândia: Ed. dos Autores, 2016.
3
37
Unidade 3
Sexualidade
Para iniciar seus estudos
Sexualidade e Diversidade sexual são conceitos que vêm ganhando 
espaço na mídia, principalmente na virtual. Você lembra da polêmica 
do kit Escola sem homofobia (pejorativamente chamado de kit gay)? O 
referido material tinha por objetivo discutir sobre gênero, homoafetivi-
dade, preconceito e violência contra a população LGBTI. Agora que você 
já conhece o conceito de gênero, vamos descobrir/aprofundar, nessa uni-
dade, os conceitos de sexualidade, orientação sexual, homoafetividade, 
heteronormatividade, homofobia.
Objetivos de Aprendizagem
• Conceitualizar identidade de gênero e orientação sexual;
• Incentivar o respeito à diversidade sexual;
• Compreender padrões e normas impostas como reforços da rea-
lidade excludente;
• Problematizar a homofobia como manifestação violenta do des-
respeito à diversidade.
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Diversidade Étnico-Racial Sexual e de Gênero | Unidade 3 - Sexualidade
3.1 Identidade de Gênero e Orientação Sexual
Sexualidade é um termo amplo. Começamos o texto com essa frase para que você não siga associando sexuali-
dade apenas com o ato sexual. É muito mais que isso. A sexualidade é um conjunto de fatores que são constru-
ídos socialmente mediante o tempo e espaço. Assim, é importante frisar que:
Muitos consideram que a sexualidade é algo que todos nós, mulheres e homens, possuímos “natu-
ralmente”. Aceitando essa ideia, fica sem sentido argumentar a respeito de sua dimensão social 
e política ou a respeito de seu caráter construído. A sexualidade seria algo “dado” pela natureza, 
inerente ao ser humano. Tal concepção usualmente se ancora no corpo e na suposição de que 
todos vivemos nossos corpos, universalmente, da mesma forma. No entanto, podemos entender 
que a sexualidade envolve rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos, convenções... 
Processos profundamente culturais e plurais (LOPES, 2007).
Nesse sentido, a sexualidade, assim como gênero, é uma construção histórica e não pode ser interpretada como 
algo dado, como um fenômeno natural. Nessa perspectiva, devemos lembrar que as possibilidades da sexua-
lidade também são construídas a partir dessas relações sociais. Por exemplo: quando nascemos, ancorada em 
nosso corpo, a sociedade dirá com quem devemos nos relacionar sexualmente, e essa regra é heteronormativa, 
ou seja, devemos nos relacionar com pessoasque têm o sexo oposto ao nosso. Cabe mencionar que a sexuali-
dade também é normatizada, há uma pedagogia da sexualidade que nos ensina socialmente o que é certo e o 
que foge aos padrões. Desde a infância nos dizem o que podemos ou não fazer quando relacionados ao nosso 
corpo e à nossa sexualidade.
No Brasil, mas certamente não só aqui, é recente o diálogo mais aberto sobre sexo e suas possibilidades. Os 
nossos avós, em especial, são testemunhas de um tempo, que não se dialogava sobre tal assunto. A sexualidade 
era algo que se vivenciava sozinho durante a juventude e na fase adulta com um companheiro do sexo oposto. 
Era inconcebível pensar em sexualidade na infância, tanto como pensar em práticas sexuais diferentes da hete-
rossexualidade. No entanto, a partir da década de 1960, muita coisa mudou no campo da sexualidade: não é 
exagero dizer, que as pessoas deixaram de pensar o sexo como algo apenas para a reprodução, principalmente 
as mulheres. O surgimento da pílula anticoncepcional ofereceu, implicitamente, às mulheres, a oportunidade de 
novas vivências sexuais e uma liberdade talvez desconhecida, agora sem a “preocupação” primeira de uma gra-
videz indesejada. Um pouco mais adiante, no final da década de 1970, vieram à tona novas maneiras de viver a 
sexualidade. O movimento homossexual apresentava propostas que tinham o intuito de lutar contra a repressão 
sexual, principalmente contra a heteronormatividade, uma luta que visava com que os homossexuais saíssem 
dos “guetos” e tivessem a manutenção dos seus direitos, como cidadãos, e como qualquer outro cidadão. Esses 
foram os primeiros passos do grupo que hoje conhecemos por LGBTI.
No módulo anterior, vimos que o fato de você ter nascido com um pênis ou uma vagina, não te faz homem ou 
mulher. Lembra? Você pode ter nascido com o sexo masculino – cromossomos XY – e se sentir, se ver e se com-
portar como o sexo oposto, ou seja, como uma mulher. Chamamos isso de identidade de gênero, que não obri-
gatoriamente está associado à orientação sexual. Sim é um pouco complexo, mas vamos lá:
• Sexo – corpo, diferença fisiológica entre ser homem ou mulher.
• Identidade de gênero – modo de ser masculino ou feminino, independe da genitália.
• Orientação sexual – objeto de atração, desejo, afeto. 
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Diversidade Étnico-Racial Sexual e de Gênero | Unidade 3 - Sexualidade
Figura 1 Diferença entre sexo, orientação sexual e identidade de gênero
Acreditamos que as imagens anteriores tenham facilitado a sua compreensão. No entanto, vamos aprofundar 
os conceitos. Começaremos com o sexo biológico, passaremos para identidade de gênero e finalizaremos com 
o conceito de orientação sexual. 
Estamos em uma sala cirúrgica, uma mulher grávida encontra-se em procedimento de parto, o bebê nasce, o 
médico olha para sua genitália e diz: é um menino! Sem dúvida alguma você sabe o que o médico viu... Sim, era 
um pênis. Isso é o sexo biológico, a genitália que temos, é o que nos segrega em XX (fêmea) ou XY (macho). É a 
partir da genitália que somos identificados como homem, se tiver nascido com um pênis, e mulher, caso tenha 
nascido com uma vagina. Mas, e o que acontece quando uma pessoa nasce com as duas genitálias? 
Você já deve ter ouvido a expressão hermafrodita? Foi um termo usado durante muito tempo, atualmente se 
utiliza o intersexual. Para compreender, volte à Figura 1. A palavra intersexual encontra-se entre o macho e a 
fêmea, e é isso mesmo, o intersexual apresenta características de um e outro sexo. Existem várias possibilidades: 
nascer com as duas genitálias, nascer com órgãos de um sexo e o corpo externo de outro, dentre tantas outras 
possibilidades.
Sobre intersexualidade, vale assistir: “XXY”, um filme argentino, escrito e dirigido por Lucía 
Puenzo, em 2007. O filme trata a ambiguidade sexual de Alex, uma criança que nasceu com 
as duas genitálias. Para fugir dos médicos e suas intervenções, os pais mudam-se para o 
interior do Uruguai, na tentativa de deixar Alex livre para escolher com qual genitália ficaria.
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Diversidade Étnico-Racial Sexual e de Gênero | Unidade 3 - Sexualidade
Dois parágrafos atrás, citamos o nascimento de um menino, certo? Então, ele se chama Alex e cresceu. Alex 
se sentia estranho, parecia que algo com ele não estava certo, como se aquele corpo não fosse o dele, como 
se tivesse nascido no corpo errado. Alex nasceu com o sexo biológico masculino, ele nasceu com um pênis, no 
entanto, sentia-se como uma menina, se via como uma menina, era uma menina aprisionada no corpo de um 
menino. Isso é identidade de gênero, ou seja, é a percepção que determinada pessoa tem sobre si, sobre ser mas-
culino ou feminino. A maneira como a pessoa se vê, se sente e se comporta perante a sociedade, assumindo a 
condição de ser homem ou mulher e isso não está vinculada ao sexo biológico.
Se uma pessoa nasceu com o sexo biológico masculino, mas tem a identidade de gênero 
feminina, quando ela estiver em lugares públicos, qual o banheiro deve usar? 
Nesse sentido, a identidade de gênero nos dá a possibilidade de percebermos que o fato de termos pênis ou 
vagina não nos torna, necessariamente homem ou mulher. Alex nasceu com um pênis, mas se via, agia e se com-
portava como uma mulher, ele tinha a identidade de gênero feminina, assim, seu corpo biológico não condizia 
com sua identidade de gênero. Alex era transgênero.
Figura 2 Transexualidade
http://pt.123rf.com/search.php?word=transexual&t_word=Transvestite&t_lang=pt&imgtype=2&searchopts=&selectFresh
=&num_ppl=&color=&exclude=&mediapopup=19263209 
“Trans” é o prefixo do latim que significa “além de”. É também usado como abreviação de transexual, Portanto, 
transgênero é uma pessoa que vai além do corpo em que nasceu, alguém que se sente e se apresenta com um 
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Diversidade Étnico-Racial Sexual e de Gênero | Unidade 3 - Sexualidade
gênero diferente do sexo biológico quando da concepção. Diferente de Alex, que se entende como trans, existem 
os cisgêneros, que são aquelas pessoas que têm a identidade de gênero compatível com o sexo biológico.
Nesse grupo ainda existem as travestis, que são um “não gênero”, ou a mistura dos dois. Enfim, travestis são 
aquelas pessoas que nasceram com um sexo biológico, assumem um papel diferente do seu sexo, mas não têm 
nenhum problema com a sua genitália, nem com seu corpo. As travestis assumem um papel feminino, e por 
isso preferem e devem ser tratadas no feminino, no entanto, algumas travestis, mediante determinada situação, 
assumem papel masculino.
Vale a pena conferir o documentário “T”, produzido por alunas do Curso de Telejornalismo 
da UNESP (FAAC), datado de 2015, que trata da temática trans. Os assuntos abordados são: 
mudança de sexo, quando e como se descobriu trans, relacionamento afetivo, relaciona-
mento familiar e sobre cotidianos: escola, trabalho e afins. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=0Sit-1ZEx40>.
Chegamos ao último conceito, orientação sexual, que se refere à direção e às pessoas para as quais emanamos 
nossos desejos, nossos afetos. É a maneira que uma pessoa sente atração por outra. Uma pessoa pode se sentir 
atraída por um homem, por uma mulher ou por ambos. Há também aquelas pessoas que não sentem atração 
sexual por nenhuma outra, ou que sentem atração por pessoas, independentemente de seu sexo biológico ou 
sua identidade de gênero. Vamos às especificidades: 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
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Diversidade Étnico-Racial Sexual e de Gênero | Unidade 3 - Sexualidade
O quadro apresentado, facilita o entendimento, principalmente quando se é cisgênero (nasceu com o corpo 
“compatível” com a identidade de gênero). Mas, quando se é transgênero? Eles são homossexuais ou heterosse-
xuais? Primeiro é importante dizer que nada é fixo quando falamos em sexualidade. Dito isso, os/as transgêne-
ros/as em alguns casos serão heterossexuais, em outros, homossexuais. Vejamos: uma travesti que se relaciona 
com um homem é hétero, da mesma forma, quando um homem trans (sexo biológico feminino

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