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O Plano de Metas e a Industrialização Pesada Juscelino Kubitschek

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O Plano de Metas e a Industrialização Pesada Juscelino Kubitschek (1956-1961)
Cenário Externo 
O período compreendido entre 1950 e 1975 foi um período excepcional do desenvolvimento capitalista. “A produção mundial de manufaturas quadruplicou entre o início da década de 1950 e o início da década 1970, e, o que é ainda mais impressionante, o comércio mundial de produtos manufaturados aumentou dez vezes”(Hobsbawm,1998:257). Neste período excepcional, denominado por alguns de “Os Trinta Anos Gloriosos” ou “Era de Ouro”, as economias capitalistas cresceram, de maneira mais ou menos sincronizada, à taxas extremamente elevadas, o emprego e os salários cresceram e aumentou a segurança no emprego.
Essa “performance” da economia capitalista, que prosperou sob a liderança americana, correspondeu a um novo padrão de desenvolvimento formado sobre a base da IIª Revolução Industrial. Fundamental para o êxito deste ciclo de crescimento acelerado foi a reconstrução das economias Européias e Japonesas, o processo de internacionalização do capital produtivo, o relativo sucesso da nova ordem internacional que emerge do acordo de Bretton Woods e a polarização determinada pela guerra fria.
Cenário Interno 
• Efervescência política 
• Restrição de divisas (“escassez de dólares”)
• Efervescência política • Restrição de divisas (“escassez de dólares”)
O Plano de Metas 1956/1961 
O Plano de Metas marca o momento final da industrialização brasileira: etapa que com a plena constituição do setor produtor de bens de produção, se constituíram de modo pleno as forças produtivas especificamente capitalistas.
É nesse período que se concretiza a forma particular da industrialização brasileira: uma estrutura oligopólica específica, articulando de uma forma particular as grandes empresas estrangeiras, as empresas privadas nacionais e as empresas públicas.
O período do pós-guerra foi um período excepcional. A institucionalidade criada em Bretton Woods deu aos Estados Nacionais amplo raio de manobra para praticarem políticas autônomas de desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, as altas taxas de crescimento da economia e do comércio internacionais e a disponibilidade de liquidez no mercado internacional, permitiam aos países uma relativa tranquilidade na gestão de seus Balanços de Pagamentos.
O Brasil, aproveitando-se desse período, talvez único, do desenvolvimento capitalista e mediante a regulação pública, ingressa numa nova fase em seu processo de industrialização. Nessa fase que se inaugura em 1956 e que se prolonga até 1961, implantar-se-ão de forma autônoma os setores de ponta da indústria produtora de bens de capital e do setor pesado da indústria produtora de bens duráveis.
Esses novos setores, acoplados ao maciço investimento estatal em infra-estrutura (energia, transporte, etc) e nas indústrias de base, configurará um novo padrão de acumulação na economia brasileira, delineando um processo de industrialização pesado. A capacidade produtiva instalada nos setores de bens de capital e de bens de consumo duráveis cresce a frente da demanda, puxando a reboque o departamento produtor de bens de consumo não-duráveis.
Um tal salto no processo de desenvolvimento das forças produtivas capitalistas só foi possível devido a ação do Estado e a entrada das empresas multinacionais.
Salto no sentido que permitiu superar aqueles problemas de descontinuidade tecnológica e de concentração e centralização de capitais necessários ao investimento, que eram praticamente insolúveis dentro do padrão de acumulação de capital anterior, ou seja, aquele que configurava a industrialização restringida.
No caso das empresas multinacionais, há que se lembrar que o período a que estamos nos referindo coincide com o processo de internacionalização do capital produtivo. Assim, a entrada das empresas multinacionais no Brasil foi determinada, do ponto de vista externo, pela nova fase no processo de concorrência interempresas em âmbito internacional, inaugurada com a instalação de filiais de empresas americanas na Europa e Japão, no bojo do Plano Marshall.
As empresas americanas, ao penetrarem nos mercados europeu e japonês, alargando seus territórios para a acumulação de capital, obrigaram suas congêneres européias e japonesas a fazerem o mesmo, sob a pena de se fragilizarem e ficarem atrás no âmbito da concorrência inter-capitalista. É isso que explica a predominância no país da entrada de empresas de origem européia neste período.
Ao mesmo tempo em que, no âmbito externo, “fatores de expulsão” explicam o interesse pela exportação de capital produtivo, fatores internos explicam a “atração” destes fluxos de capital produtivo para o Brasil: Encontrando um esquema de acumulação bastante bem definido em que se apoiar e gozando de amplos incentivos, a grande empresa oligopólica estrangeira, predominantemente a européia, decidiu investir no Brasil. Resolviam-se, simultaneamente, dois graves problemas: o da estreiteza da capacidade para importar, que ela própria criava ao exportar capital, e o de mobilização e concentração de capitais, pois que suas transferências para aqui eram marginais em termos dos blocos de capitais manejados pelas matrizes” (Mello, 1987: 118 e 119).
Um elemento crucial do sucesso da implementação da política econômica de Kubitschek foi sua capacidade de unir os interesses do capital nacional à penetração do capital estrangeiro. No desenho dos novos blocos setoriais de investimento, comandados pela empresa estrangeira, oferecia-se ao capital nacional uma nova fronteira de acumulação com taxas de lucros elevadas. A demanda derivada dos setores metal-mecânico que se instalam, incentiva o surgimento, crescimento e modernização da pequena e média empresa nacional, tanto fornecedora quanto distribuidora dos produtos gerados pela grande empresa estatal e estrangeira.
Nos setores onde a empresas nacionais já dominavam e estavam tradicionalmente bem situadas, o governo garantiu a continuidade de seu predomínio cerceando a competição estrangeira. 
Ao mesmo tempo, a ampliação da demanda agregada e, especialmente, da massa de salários, impulsiona o crescimento das empresas nacionais produtoras de bens de consumo não-duráveis. 
Ao capital nacional - o elo mais fraco na corrente formada pelo Estado, capital estrangeiro e capital nacional , foi reservado um papel passivo, mas nem por isso menos importante.
Ao capital estrangeiro, por outro lado, o governo oferecia incentivos, isenções fiscais, facilidades de importação de equipamentos, etc., através dos quais negociava as condições de entrada e associação com o capital nacional, estabelecendo rigorosos prazos e limites para a nacionalização do produto.
Mediante essa articulação entre investimento estatal e estrangeiro garantiu-se um período de intenso crescimento e mudança estrutural na economia brasileira. 
Assim, a expansão econômica durante o período 1956-1961 gera uma intensa solidariedade entre o capital nacional, o capital estrangeiro e o Estado.
Com a industrialização pesada, o processo de industrialização brasileiro está completo, no sentido de que a acumulação de capital pode, doravante, autodeterminar sua reprodução ampliada. Porém, dado o pequeno peso relativo dos setores líderes (bens de capital e bens de consumo duráveis) na produção industrial global, a economia brasileira está sujeita a ciclos econômicos mais acentuados que as economias desenvolvidas.
A expansão, apoiada no crescimento do investimento e da produção corrente das indústrias de bens de capital e bens de consumo duráveis, embora possa ser acentuada, não consegue se sustentar por muito tempo. Assim, terminados os efeitos dinâmicos de cada onda de investimentos industriais, a reversão tende a ocorrer de maneira acentuada.
Para conseguir articular esse esquema de acumulação sem enfrentar resistências e fricções, o governo Kubitschek contava com os instrumentos e aparelhos de política e regulação econômica herdados do segundo governo Vargas (BNDE e os instrumentos de política cambial). Mas criou tambémnovos e eficientes instrumentos e formas de articular políticas para garantir a coordenação necessária para a implantação do Plano de Metas.
• Do ponto de vista do financiamento, houve esforços para se ampliar de modo progressivo a carga tributária, através de mecanismos não convencionais e, portanto, sem avançar numa reforma profunda do sistema tributário. 
• A fragilidade das bases financeiras e fiscais do Estado, frente aos requisitos de financiamento do Plano de Metas, e a escassez de divisas, forçou o governo a recorrer a emissão de moeda e a importação sem cobertura cambial .
Para configurar o plano, o Governo Juscelino Kubitschek utilizou, de forma inovadora no Brasil, o instrumental de planejamento, técnica então recémintroduzida no país, para sintetizar a sua proposta política de desenvolvimento industrial acelerado. Naquele momento, a ideologia desenvolvimentista, identificada com a industrialização, tornava-se a palavra de ordem de vencimento da condição de subdesenvolvimento. Para tanto, impunha-se o desenvolvimento industrial do departamento produtor de insumos básicos – bens de capital e insumos industriais –, propiciando o avanço da indústria de bens duráveis, na qual a indústria automobilística era o principal elemento.
O Plano de Metas, mesmo apresentando uma certa continuidade nas ações estatais em favor do desenvolvimento, marcava uma mudança significativa de concepção com o Governo anterior de Getúlio Vargas, cujo projeto era nacionalista. No caso do Governo Juscelino, havia uma clara aceitação da predominância do capital externo, limitando-se o capital nacional ao papel de sócio menor deste processo. Os grandes investimentos estatais em infra-estrutura, bem como as empresas estatais do setor produtivo, estariam a serviço da acumulação privada.
Para a elaboração do Plano de Metas foram aproveitadas algumas atividades pró-planejamento anteriores. Entre 1951/53, ainda no Governo Vargas, foi constituída a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU), com o objetivo de elaborar projetos que seriam financiados pelo Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos – EXIMBANK e pelo Banco Internacional de Reconstrução e desenvolvimento – BIRD. Posteriormente, em 1954, foi constituído o Grupo Misto BNDE-CEPAL, que, sem sombra de dúvida, constitui a base do Plano de Metas. O trabalho do Grupo Misto foi o de fazer um levantamento exaustivo dos principais pontos de estrangulamento da economia brasileira – sobretudo os setores de transporte, energia e alimentação –, além de identificar áreas industriais com demanda reprimida, que não poderiam ser satisfeitas com importações, dada a escassez estrutural de divisas na economia brasileira. 
A partir deste diagnóstico, caberia às comissões propor projetos e planos específicos para a superação dos pontos de estrangulamento, considerando as repercussões e as necessidades criadas pela introdução de novos ramos industriais, como a indústria automobilística.
Os setores de energia, transporte, siderurgia e refino de petróleo receberam a maior parte dos investimentos do governo. Subsídios e estímulos foram concedidos para a expansão e diversificação do setor secundário, produtor de equipamentos e insumos com alta intensidade de capital. Para a implementação efetiva do Plano, especialmente nos aspectos de responsabilidade do setor privado, foram criados grupos executivos, colegiados que congregavam representantes públicos e privados, para a formulação conjunta de políticas aplicáveis às atividades industriais. Os grupos mais conhecidos e atuantes foram o grup o executivo da indústria automobilística (GEIA), da construção naval (GEICON), de máquinas agrícolas e rodoviárias (GEIMAR), de exportação de minério de ferro (GEMF), de armazenagem (Comissão Consultiva de Armazéns e Silos) e de material ferroviário (GEIMF). Os incentivos dados ao capital estrangeiro iam desde a instrução da SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito), que permitia o investimento direto sem cobertura cambial, até uma série de isenções fiscais e garantias de mercado (protecionismo para os novos setores).
No período 1957/1961, o PIB cresceu à taxa anual de 8,2%, resultando em um aumento de 5,1% ao ano na renda per capita, superando o próprio objetivo do Plano. Esses resultados devem ser atribuídos ao impacto da implantação do plano, na medida em que as projeções do Grupo Misto, publicadas em 1956, eram pessimistas com relação ao qüinqüênio que se iniciava. A avaliação da implementação do plano é também positiva quando se examinam as metas setoriais que, em sua maioria, alcançaram boas taxas de realização em relação às previsões.
• O Plano pode ser analisado a partir de três objetivos principais:
 • Uma série de investimentos estatais em infra-estrutura, com destaque para os setores de transporte e energia elétrica. No que diz respeito aos transportes, cabe destacar a mudança de prioridades, que, até o Governo Vargas, centrava-se no setor ferroviário, e no Govern o JK passou para o rodoviário, que estava em consonância com o objetivo de introduzir o setor automobilístico no país; 
• Estímulo ao aumento da produção de bens intermediários, como o aço, o carvão, o cimento, o zinco etc., que foram objeto de planos específicos; 
• Incentivos à introdução dos setores de bens de consumo duráveis e bens de capital.
É interessante observar a coerência que existia entre as metas do plano, em que se visava impedir o aparecimento de pontos de estrangulamento na oferta de infra-estrutura e bens intermediários para os novos setores, bem como, através dos investimentos em estatais, garantir a demanda necessária para a produção adicional. Assim, além de alguns investimentos setoriais servirem para atacar alguns pontos de estrangulamento, outros setores eram tomados como pontos de germinação, onde o investimento gerava demandas derivadas, que acarretavam novos investimentos, sustentando a taxa de crescimento do país.
• Meta Síntese – Brasília – a cidade foi construída num tempo recorde e estima-se que as despesas com a construção da cidade tenham sido da ordem de 250 a 300 bilhões de cruzeiros, em preços de 1961, ou seja, Brasília mobilizou 2,3% do PNB.
O cumprimento das metas estabelecidas foi bastante satisfatório, sendo que em alguns setores estas foram inclusive superadas. Com isso, observou-se rápido crescimento econômico no período, com profundas mudanças estruturais, em termos de base produtiva. O pior desempenho relativo foi da agricultura, o que está totalmente de acordo com as metas do plano, que praticamente desconsideravam a agricultura e a questão social. O objetivo é simplesmente a rápida industrialização, o que foi atingido, principalmente a partir de 1958.
Os principais problemas do plano colocavam-se do lado do financiamento. O financiamento dos investimentos públicos, na ausência de uma reforma fiscal condizente com as metas e os gastos estipulados, teve que se valer principalmente da emissão monetária, com o que se observou no período uma aceleração inflacionária. Do ponto de vista externo, há uma deterioração do saldo em transações correntes e o crescimento da dívida externa. A concentração de renda ampliou-se em razão do desestímulo à agricultura e investimentos intensivos na indústria. Portanto, percebe-se que, apesar das transformações estruturais na produção industrial, o Plano de Metas aprofundou todas as contradições do período anterior, tornando claro os limites do estilo do desenvolvimento naquelas condições institucionais.

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