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TEXTOS ECONOMIA BRASILEIRA

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CAP 1
Introdução
Ao se fazer uma análise sobre a formação econômica do Brasil, busca-se compreender os aspectos fundamentais que impactaram a trajetória do país desde seu descobrimento.
Ao longo da maior parte de sua história o país atuou basicamente como exportador de produtos agrários, como cana-de-açúcar, ouro e café, seguindo a lógica de uma colônia, mas, também, mantendo o mesmo estilo após a sua independência. Somente a partir da década de 1930 é que o país passou por um processo de industrialização mais consistente, com o Estado sendo o responsável por direcionar os caminhos da industrialização por meio do Processo de Substituição de Importação (PSI).
Portanto, caro(a) estudante, ao ler esse livro-texto você vai: compreender a formação econômica do Brasil; analisar o funcionamento de uma economia agroexportadora primária; analisar o deslocamento do centro dinâmico brasileiro; entender o Processo de Substituição de Importação (PSI); e verificar o papel de Getúlio Vargas na industrialização.
Economia Colonial
O Brasil foi “descoberto” pelos portugueses em 22 de abril de 1500, proporcionando modificações, muitas vezes baseadas nos conflitos entre europeus e nativos, sobre a estrutura local econômica e social. Contudo, esse movimento não ocorreu rapidamente, pois nas primeiras décadas as terras, atualmente denominadas brasileiras, foram pouco atrativas para a estratégia de dominância portuguesa.
Como ressalta Furtado (2007), o processo de colonização do continente americano, incluindo o do Brasil, ocorreu devido à expansão dos interesses comerciais na Europa. Nessa perspectiva, cabe compreender o papel da primeira atividade que permitiu a inserção e maior importância do atual território brasileiro na dinâmica econômica portuguesa. Prezado(a) estudante, você sabe qual é?
No período inicial das descobertas das terras americanas, o território brasileiro não proporcionou rápido encontro de materiais preciosos (ouro e prata), diminuindo o interesse português. Dessa forma, o território brasileiro não tinha grande utilidade para Portugal no período inicial. De maneira diferente ocorreu com os territórios dominados pela Espanha, em decorrência dos metais preciosos terem sido encontrados de maneira mais rápida, com extração mais viável.
A exploração econômica das terras americanas deveria parecer, no século XVI, uma empresa completamente inviável. Por essa época nenhum produto agrícola era objeto de comércio em grande escala na Europa. O principal produto da terra – o trigo – dispunha de abundantes fontes de abastecimento dentro do continente. Os fretes eram de tal forma elevados – em razão da insegurança no transporte a grandes distâncias – que somente os produtos manufaturados e as chamadas especiarias do Oriente podiam comportá-los (FURTADO, 2007, p. 29).
Contudo, o avanço do açúcar permitiu que a economia colonial fosse estabilizada em terras brasileiras. Isso possibilitou que uma colônia de exploração fosse estabelecida no Brasil por Portugal para a exploração da cana-de-açúcar. Desse modo:
As colônias de exploração centravam-se na produção de gêneros que interessassem ao mercado internacional. A diversidade de condições naturais, em comparação às europeias, propiciava a obtenção de gêneros diferentes e atrativos, considerados artigos de luxo, como o açúcar, chamado, então, de “ouro branco”. Tais produtos ofereciam altas taxas de retorno para quem neles investisse (LACERDA et al., 2018, p. 6).
A colônia de exploração tinha como característica seu atraso político (democrático) e econômico, ficando sob controle direto da metrópole (Portugal). No entanto, a elevada possibilidade de lucros, decorrente do preço elevado do açúcar na época, proporcionou as possibilidades de imigração de portugueses para o território descoberto (LACERDA et al ., 2018). Dessa forma, a produção do açúcar foi a primeira empresa agrícola implementada pelos portugueses para a exploração na colônia latino-americana (Brasil), como aponta Furtado (2007).
O Complexo Empresarial da Cana-de-Açúcar
O açúcar foi a saída para utilização da colônia por Portugal entre o século XVI e XVIII, mas se no início não era viável a utilização das terras do Brasil, quais fatores contribuíram para modificar essa realidade? Existiram parcerias para potencializar as negociações? Como se deu a alocação do fator de produção nos canaviais? Prezado(a) estudante, por meio das respostas a essas perguntas, é possível compreender a instalação da empresa agrícola de cana-de-açúcar.
Portugal já possuía experiência na produção de açúcar nas Antilhas. Os holandeses tinham capital e inserção comercial no mercado europeu, portanto, por meio dessa parceria, a produção do açúcar tornou-se mais viável. Contudo, ainda faltava conseguir número suficiente de trabalhadores para a empreitada de uma grande empresa que serviria para abastecer o principal mercado consumidor do mundo: a Europa. Com o conhecimento português sobre o mercado escravocrata no continente africano foi possível fechar toda a equação, o que permitiu a produção do açúcar de maneira eficiente, com baixos custos (FURTADO, 2007).
Cada um dos problemas referidos – técnica de produção, criação de mercado, financiamento, mão de obra – pôde ser resolvido no tempo oportuno, independentemente da existência de um plano geral preestabelecido. O que importa ter em conta é que houve um conjunto de circunstâncias favoráveis sem o qual a empresa não teria conhecido o enorme êxito que alcançou (FURTADO, 2007, p. 35).
Desse modo, por meio da plantação em um ambiente em que a terra não era o fator limitante, sendo o açúcar produzido por um modelo de engenho e o sistema administrativo organizado em capitanias hereditárias via latifúndios de monocultura, foi possível o desenvolvimento da primeira grande empresa agrícola no país. Em suma, o modelo de produção brasileiro se resumiu em uma economia agroexportadora para a Europa, com o produto sendo o açúcar (SOUZA; PIRES, 2010).
A Queda da Produção Açucareira no Brasil
A viabilidade política e econômica da produção de açúcar na colônia de Portugal permitiu a exploração local ao longo das décadas. Contudo, problemas no quadro político e econômico entre Portugal e Espanha permitiram a ascensão da Holanda, que já controlava todo o comércio marítimo. Essa ascensão decorreu do conhecimento da empresa agrícola açucareira no Nordeste brasileiro (aspectos técnicos e de organização), como aponta Furtado (2007).
Por meio do conhecimento da produção da empresa do açúcar, foi possível transferir a tecnologia de produção para o Caribe, quebrando o monopólio português de produção no território brasileiro. Assim, o aumento na oferta de produção diminuiu o preço do produto no mercado europeu, prejudicando Portugal e beneficiando a Holanda a partir do final do século XVII (FURTADO, 2007). Em suma, depois de praticamente um século de domínio na produção do açúcar, o Brasil (Portugal) viu seu monopólio ruir e a crise na empresa açucareira se instalar.
A Ascensão dos Metais Preciosos no Brasil: O Caso do Ouro
Com o passar das décadas, ocorreu no Brasil a expansão da ocupação de terras em direção ao Sul. Lembre-se de que o início da colonização ocorreu pelo Nordeste. A procura por metais preciosos foi uma das prioridades desde o início da descoberta do território, contudo apenas no século XVIII tornou-se rentável a descoberta de metais preciosos na região do atual estado de Minas Gerais. Vale ressaltar que a crise e o declínio da produção de açúcar potencializaram a migração para o Sul.
[...] a colonização portuguesa estendeu-se pelo litoral brasileiro, sem interiorizar-se, até o início do século XVII. As primeiras iniciativas de interiorização, por meio das entradas e bandeiras, datam de 1601. O objetivo primordial era o de encontrar metais preciosos ou índios para escravizar. Entre 1709 e 1721, expedições realizadas desde os primeiros anos do descobrimento finalmente encontraram riquezas minerais (ouro, prata e pedras preciosas) no interior da capitania de São Paulo,em sítio posteriormente nomeado região das Minas Gerais (SOUZA; PIRES, 2010, p. 16).
Como ressalta Furtado (2007), a queda da empresa do açúcar fez com que a única saída para a viabilidade da colônia fosse a descoberta de metais preciosos, melhorando as condições financeiras da metrópole e colônia. Com essa descoberta, ocorreu um deslocamento de mão de obra escrava do Nordeste e uma nova rodada de imigração de Portugal. Contudo, o autor ressalta que apesar da utilização de escravos, a economia do ouro não utilizou de forma massiva esse tipo de mão de obra, não chegando a ser a maioria da população como na empresa agrícola do complexo da cana-de-açúcar.
Essa segunda empresa colonial baseou sua exploração no ouro de aluvião, ou seja, os depositados às margens dos rios, portanto, diferente das minas exploradas pelos espanhóis. Porém, apresentavam alta lucratividade para a empresa.
A natureza mesma da empresa mineira não permitia uma ligação à terra do tipo da que prevalecia nas regiões açucareiras. O capital fixo era reduzido, pois a vida de uma lavra era sempre algo incerto. A empresa estava organizada de forma a poder deslocar-se em tempo relativamente curto. Por outro lado, a elevada lucratividade do negócio induzia a concentrar na própria mineração todos os recursos disponíveis. A combinação desses dois fatores – incerteza e correspondente mobilidade da empresa, alta lucratividade e correspondente especialização – marca a organização de toda a economia mineira (FURTADO, 2007, p. 121).
Lacerda et al . (2018) ressalta que apesar do ouro contribuir para a continuação da exploração da colônia, o valor de produção global nunca chegou ao proporcionado pelo complexo produtivo da cana-de-açúcar. No tocante à relação entre trabalho (social) e capital (lucro), Furtado (2007, p. 121) apresenta questões voltadas ao aspecto social no período da exploração dos metais preciosos na atual região de Minas Gerais:
Sendo a lucratividade maior na etapa inicial da mineração, em cada região, a excessiva concentração de recursos nos trabalhos mineratórios conduzia sempre a grandes dificuldades de abastecimento. A fome acompanhava sempre a riqueza nas regiões do ouro. A elevação dos preços dos alimentos e dos animais de transporte nas regiões vizinhas constituiu o mecanismo de irradiação dos benefícios econômicos da mineração.
Nessa perspectiva, existiam muitas dificuldades do ponto de vista social para a empresa de metais preciosos. Do ponto de vista dos escravos, existia maior possibilidade de mobilidade social, até mesmo por existirem trabalhadores livres em busca do ouro de aluvião. Esses trabalhadores livres tinham que pagar uma taxa conhecida como quinto (quinta parte do que conseguiam nos garimpos), que era recolhida pela derrama (LACERDA et al ., 2018).
Contudo, assim como o complexo açucareiro, no fim do século XVIII, a mineração brasileira entrou em decadência, pois havia cada vez mais escassez do ouro, ou seja, dificuldade em encontrá-lo. Como para Portugal o Brasil era apenas uma colônia de exploração, não houve investimentos em tecnologia para melhorar o processo, tanto em relação ao capital quanto ao trabalho (LACERDA et al ., 2018).
praticar
Vamos Praticar
O atual Estado brasileiro passou por um longo período como colônia de exploração de Portugal, que era o responsável por determinar toda a dinâmica de produção do país. Basicamente, durante esse período, o Brasil teve suas atividades produtivas voltadas para o mercado externo. Assim, qual foi esse modelo de produção?
a) Modelo de indústria primária.
b) Modelo agroexportador.
c) Modelo agroindustrial.
d) Modelo de povoamento.
e) Modelo distributivo interno.
Crise Cafeeira
Após o declínio da produção de metais preciosos (ouro, principalmente) decorrentes da empresa mineira, o Brasil conseguiu avançar para a produção de novas culturas agrícolas, primeiramente com o algodão. Esse processo foi possível, basicamente, devido à Revolução Industrial na Inglaterra. O açúcar voltou a ser viável na colônia, mas não no mesmo patamar do século anterior. Também existiram produções de arroz e cacau, dentre outros (LACERDA et al ., 2018).
No entanto, nenhum desses produtos obtiveram elevado sucesso para se transformar na fonte indutora do crescimento econômico brasileiro, como foram o açúcar e o ouro no passado. O sucesso de produção seria proporcionado pelo café. Produzido ainda na primeira metade do século XVIII, ele seria o grande produto da colônia de exploração agroexportadora entre os séculos XIX e XX. Portanto, o café teve seu auge após a independência do Brasil, que ocorreu em 7 de setembro de 1822. Contudo, Souza e Pires (2010) ressaltam que não ocorreram mudanças drásticas no modelo agroexportador quanto à exploração do trabalho após a independência da colônia em relação a Portugal.
A lavoura de café do início do século passado não enfrentou nenhuma crise mais séria de escassez de mão de obra. O mercado de trabalho para a produção funcionava adequadamente, pois a questão da mão de obra fora resolvida a partir da década de 1870, com a abundante imigração europeia. Além disso, a terra não constituía obstáculo à expansão da produção do café, já que vastas regiões do estado de São Paulo encontravam-se desocupadas, podendo vir a ser cultivadas no futuro, ainda mais na presença de uma rede ferroviária que se expandia na medida da necessidade de ocupação das novas terras (LACERDA et al., 2018, p. 30).
O período do café contou com trabalho escravo (no início) e, após a libertação dos escravos (13 de maio de 1888, com a Princesa Isabel por meio da Lei Áurea), houve a mão de obra assalariada dos imigrantes (principalmente italianos) e dos escravos livres. Vale destacar que a partir do aumento da mão de obra assalariada, o país passou a ter uma dinâmica de consumo interno melhor, dado que existia maior renda circulando na sociedade. Ainda nessa época ocorreu a Proclamação da República (1989), iniciando o período da Primeira República, que durou entre 1889 e 1930.
Os recursos financeiros na lavoura de café são importantes por dois motivos: I) ao se tratar de uma cultura permanente, necessita de um período longo para sua formação; II) elevadas exigências do trato do cafezal, como a limpeza ao longo do ano para conservar a lavoura limpa e produtiva. Com a remuneração monetária do trabalho (após o fim da escravidão), a lavoura exigia muito capital de giro para sua operação, portanto tornava dependente o fazendeiro de café diante do comerciante (LACERDA et al ., 2018).
Figura 1.1 - Brasil, exportação de café (1821-1890, 1.000 sacos de 60 kg)
Fonte: Tesouro Nacional, IBGE, 1990 apud Souza e Pires (2010, p. 29).
Por meio da Figura 1.1, é possível observar a importância crescente do café ao longo do século XIX, sendo a fonte dinâmica que permitia ao país obter recursos com a exportação para importar todos os demais itens não produzidos no mercado interno. Prezado(a) estudante, durante o período de vigência da produção cafeeira, existiram outros produtos, contudo não tinham grande importância para a dinâmica da economia brasileira. Souza e Pires (2010) apontam que durante esse período de produção de café, o principal parceiro comercial do Brasil era a Inglaterra. Isso porque esse país era responsável por absorver 32,9% das exportações brasileiras e fornecia 54,8% das mercadorias estrangeiras que entravam no país.
Isso posto, a produção de café desenvolveu-se comercialmente em decorrência da fragilidade do antigo grande produtor (Haiti), adaptação ao território brasileiro, possibilidade de utilização de mão de obra escrava e imigrante, pouco investimento necessário para a produção (as terras eram mais importantes). Em relação aos produtores, eram homens de negócios; produção e comércio eram bem planejados (forma superior à primeira empresa agrícola), com a classe de produtores se tornando a classe dirigente do Brasil (FURTADO, 2007).
A Crise no Mercado de Café
A cultura do café proporcionou ao Brasil uma nova inserção no comércio global (Europa), dependendodessas exportações para a aquisição de produtos importados. O fim da escravidão proporcionou um aumento na dinâmica interna decorrente dos salários pagos aos antigos escravos e aos imigrantes da Europa. Porém, a elevada quantidade de trabalho disponível impediu que houvesse fortes aumentos da renda interna, devido à pouca dinâmica de bens e serviços produzidos no país reforçando, assim, a tendência ao baixo salário.
De acordo com Furtado:
Transformando-se qualquer aumento de produtividade em lucros, é evidente que seria sempre mais interessante produzir a maior quantidade possível por unidade de capital, e não pagar o mínimo possível de salários por unidade de produto. A consequência prática dessa situação era que o empresário estava sempre interessado em aplicar seu capital novo na expansão das plantações, não se formando nenhum incentivo à melhora dos métodos de cultivo (FURTADO, 2007, p. 233).
Desse modo, o país dependia fortemente das exportações e do preço do café no mercado internacional e, na questão interna, o trabalho assalariado melhorou a dinâmica interna, mas muito pouco em decorrência do excesso de mão de obra. Assim, grande parte dos produtos consumidos no Brasil dependiam das importações que, por sua vez, necessitavam do contínuo aumento nas exportações e do preço do café.
Prezado(a) estudante, vale destacar que, durante o século XIX e o início do século XX, existiram períodos de crise sobre a produção cafeeira por diferentes motivos. Contudo, o fato do Brasil dominar a maior parte da produção mundial permitiu um melhor gerenciamento sobre o preço do café, mesmo sendo uma commodity sem grande capacidade de afetar o preço pelo produtor. Dessa maneira, houve diferentes planos elaborados para a defesa do café e, por consequência, a defesa da renda sobre a classe dominante (elite cafeeira).
É importante não se esquecer de que:
Entre 1902 e 1933, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu acentuadamente, apesar das fortes oscilações na taxa de variação real do PIB [...] nota-se a extrema dependência do crescimento da economia brasileira das exportações do café, nas primeiras décadas do século XX. Os picos de crescimento de 1906, 1920 e 1928 correspondem justamente a valorizações do preço do café devidas à compra de estoques pelo governo. Já, os refreamentos e as depressões do ritmo de crescimento brasileiro podem perfeitamente ser atribuídos à queda dos preços do café (SOUZA; PIRES, 2010, p. 54).
Esse processo de proteção de defesa da economia cafeeira (e sua elite) funcionou relativamente bem até o final da década de 1920, mas o surgimento da crise financeira de 1929 (atualmente conhecida como a maior crise do capitalismo) modificou esse cenário, dificultando a proteção do café visto que a elite perdeu o poder de pressionar o governo. O aumento na oferta do café devido aos estímulos do Estado brasileiro e a estabilidade na quantidade exportada faziam com que o cenário de controle pelo Estado do preço (retenção de oferta) impulsionasse os agricultores em aumentar a produção (FURTADO, 2007).
Como medidas para amenizar a crise, foram adotadas políticas protecionistas para manter a renda do setor cafeeiro e a moeda estrangeira para garantir a capacidade de importação da economia. Para tal, foram adotadas medidas de desvalorização cambial no governo de Getúlio Vargas, como a compra do excedente do café produzido para, literalmente, queimar (controle de oferta); ressalta-se o financiamento sendo por meio do crédito e da emissão de moeda (MARIANO, 2012).
Como resultado dessa política,
entre 1931 e 1944 aproximadamente 78 milhões de sacas de café foram destruídas. Somente no ano de 1937 ocorreu a destruição de 70% do café produzido no país. Além da queima de sacas, as políticas protecionistas direcionadas ao café fizeram com que a queda na atividade econômica tenha sido menos intensa no Brasil do que a observada na economia mundial. A partir de 1933, já se iniciava a recuperação da atividade econômica do país (MARIANO, 2012, p. 2).
Nesse contexto, o Quadro 1.1 a seguir apresenta os principais produtos agrícolas produzidos no mercado brasileiro no período anterior e posterior à Grande Depressão de 1929.
Produtos		Participação no período	
1925/29	1932/36	1939/43
Algodão	5,9	14,9	21,6
Arroz	5,2	6,7	11,0
Cacau	1,4	1,8	2,2
Café	48	29,5	16,1
Cana-de-açúcar	3,5	5,7	7,5
Feijão	5,4	3,8	5,5
Fumo	2,9	2,6	2,2
Mandioca	4,7	6,8	7,0
Milho	16,3	15,9	16,0
Trigo	0,9	0,8	1,3
Outros	5,8	12,4	9,6
Total	100	100	100
Quadro 1.1 - Valor da produção agrícola segundo as principais culturas no Brasil - 1925/29, 1932/36 e 1939/43
Fonte: Vilela (2001 apud MARIANO, 2012, p. 3).
Por meio do Quadro 1.1, é possível observar o rápido declínio da produção do complexo cafeeiro no país decorrente da crise econômica de 1929. Contudo, cabe ressaltar que, apesar da crise no mercado de café no período, modificando o centro dinâmico do país, no tocante às divisas externas provenientes das exportações, o café persiste como um produto exportável do país, permitindo que a industrialização pudesse ser continuada ao longo das décadas seguintes, como foi o caso com Getúlio Vargas.
A Mudança Estrutural Brasileira
Desde o final do século XIX e início do século XX, existiram tentativas de implementar o setor industrial na economia brasileira. Entretanto, as tentativas foram falhas já que a própria elite brasileira no período não tinha interesse na industrialização, preferindo continuar na produção do café devido aos lucros. O Estado também auxiliou nessa dinâmica ao proteger a renda do café já que a elite cafeeira dominava a política, mas, também, a proteção do café protegia o emprego e a renda nacional. Soares (2015) aponta que essa proteção também ocorreu durante a crise de 1929, sustentando o nível de emprego e renda durante a crise.
Contudo, a defesa do café não era mais capaz de sustentar a atividade econômica, sendo a dependência de suas exportações insustentável, colocando em xeque o modelo agroexportador baseado no café. Nessa perspectiva, emergiu a discussão sobre a necessidade de industrialização para melhorar o desenvolvimento econômico e superar a dependência das exportações do café para conseguir bens e serviços do exterior (importação).
reflita
Reflita
Desde o seu descobrimento, o Brasil foi basicamente uma colônia agroexportadora, mesmo após sua independência. Durante esse longo período, o Estado cumpriu o papel de defesa de seu produto de exportação (açúcar e café, principalmente), defendendo, por consequência, sua elite econômica. Pouca dinâmica no mercado interno existiu em decorrência dos salários baixos e falta de uma estrutura mais robusta no mercado monetário. A modificação nesse eixo dinâmico só foi possível após a maior crise da história do capitalismo em 1929 (Grande Depressão).
É nesse contexto que deve ser compreendido o Governo de Getúlio Vargas, por meio do Estado Novo, permitindo o fortalecimento do Estado Nacional e fazendo com que a industrialização entrasse na agenda política. De fato, a industrialização passou a representar o novo modelo de desenvolvimento em substituição ao anterior modelo agroexportador (SOARES, 2015). Furtado (2007) argumenta que, com o cenário externo deteriorado, tornou-se necessário melhorar a dinâmica interna na formação de capital, deslocando o centro dinâmico da economia para o mercado interno.
praticar
Vamos Praticar
O país passou boa parte de sua história, desde o descobrimento, como uma colônia de exploração de Portugal caracterizada pela produção agrícola voltada para a exportação, modelo conhecido como agroexportador. Contudo, um choque exógeno acabou por impulsionar o desenvolvimento industrial. Qual foi esse choque?
a) Crise financeira internacional de 1929.
b) Primeira Guerra Mundial.
c) Segunda Guerra Mundial.
d) Aumento nos preços do café.
e) Fim da escravidão no país.
Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial
A Grande Depressão, apesar de seu impacto negativo sobre a economia brasileira principalmente ao seu modeloagroexportador (café), proporcionou condições favoráveis para a mudança do centro dinâmico da economia para o setor industrial a partir do Estado Novo, com Getúlio Vargas. Em suma, a queda no preço do café, a diminuição das receitas obtidas com sua venda e a desvalorização cambial resultando no aumento dos preços dos produtos importados contribuíram para a formação de um cenário ideal para o avanço da industrialização no país.
Getúlio Vargas, ao assumir o poder, em novembro de 1930, encontrou uma situação bastante difícil na área econômica, com os termos de troca (café x importados) declinando em 30% entre 1930 e 1932 decorrente. Assim, o aumento dos preços sobre os produtos importados e manutenção de parte da demanda interna, auxiliou a produção nacional em detrimento da produção externa. A partir desse período, o Estado passou a ter importância crescente no país (CORSI, 2010a):
O crescimento da procura de bens de capital, reflexo da expansão da produção para o mercado interno, e a forte elevação dos preços de importação desses bens, acarretada pela depreciação cambial, criaram condições propícias à instalação no país de uma indústria de bens de capital [...] a capacidade para importar não se recuperou nos anos 30. Em 1937 ela ainda estava substancialmente baixo do que havia sido em 1929 [...] a renda criada pelas exportações havia decrescido em termos reais [...] A produção industrial cresceu em cerca de cinquenta por cento entre 1929 e 1937, e a produção primária para o mercado interno cresceu em mais de quarenta por cento no mesmo período (FURTADO, 2007, p. 279-281).
A recuperação da crise econômica e a industrialização dependeram, em parte, de um conjunto de iniciativas estatais. Deve-se ressaltar, ainda, a importância dos déficits públicos e a expansão na base monetária para auxiliar o processo de industrialização da nação. Durante esse período, foi desenvolvida, também, a primeira legislação trabalhista por meio da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), como aponta Corsi (2010a):
[...] a relação entre o Estado e a classe trabalhadora passou por três fases entre 1930 e 1945. A primeira, que se estendeu até 1934, foi caracterizada pela introdução gradual da legislação trabalhista e pela repressão à esquerda e aos setores da classe trabalhadora por ela organizado. A segunda, entre 1935 e 1942, foi marcada pela forte repressão à esquerda, pela organização independente dos trabalhadores e pelo avanço da estrutura sindical controlada pelo Estado, que, porém, carecia de conteúdo. O objetivo era anular qualquer possibilidade de organização independente da classe trabalhadora. A partir de 1943, Vargas busca estimular a mobilização dos trabalhadores e transformar os sindicatos corporativos em organismos ativos, capazes de envolver amplos setores da classe e dar suporte às iniciativas estatais (FAUSTO, 1988, p. 2627 apud CORSI, 2010a, p. 68).
Nesse contexto, o período após a Grande Recessão resultou em dados da produção agrícola e industrial surpreendentes no tocante ao seu dinamismo. Prezado(a) estudante, lembre-se de que o período foi de uma crise econômica mundial fortíssima. Nesse período, ocorreu aumento da renda nacional, induzido, basicamente, a partir do próprio mercado interno, e aumento do processo de industrialização na economia brasileira (LACERDA et al ., 2018).
A Segunda Guerra Mundial
Apesar de Getúlio Vargas ter subido ao poder ainda em 1930, o Estado Novo foi instituído em 1937 por meio de um golpe militar que manteve o presidente no poder. Esse período de ditadura durou até 1945, portanto, abrangendo a Segunda Guerra Mundial, com o Estado tomando a frente no processo de industrialização.
Consequentemente, esse período foi de consolidação de um projeto nacional, no qual caberia ao Estado assumir o papel de indutor do desenvolvimento industrial, quer implantando agências governamentais para a regulação das atividades econômicas, quer estabelecendo uma nova legislação trabalhista, quer, ainda, assumindo o papel de produtor direto (LACERDA et al ., 2018).
É importante ressaltar que:
Com relação à guerra, no início houve redução dos saldos comerciais. Porém, em 1942, ocorreu novamente crescimento das exportações e produção de fortes superávits comerciais. Também deve-se destacar que a redução das importações contribuiu para a produção desses superávits. O aumento das vendas externas resultou dos seguintes fatores: (i) aumento das exportações para os Estados Unidos; (ii) aumento das exportações para mercados que, antes do início da guerra, eram supridos pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido; (iii) maciças compras de carne e de algodão pelo Reino Unido e (iv) melhoria nos preços do café. No que se refere às importações, houve forte contração, especialmente entre 1942 e 1945, em decorrência da baixa disponibilidade de oferta no mercado internacional (SOARES, 2015, p. 25).
Nessa perspectiva, no início da década de 1940, o país conseguiu acelerar o crescimento industrial, ampliando a acumulação de reservas internacionais e melhorando a quantidade de entrada de investimento estrangeiro direto (principalmente dos Estados Unidos). Durante esse período, as políticas fiscais, monetárias e creditícias foram expansionistas, impactando no avanço da aceleração inflacionária e, conforme em outros períodos da história brasileira, o financiamento do déficit público por meio da emissão primária de moeda (SOARES, 2015).
Nessa década (1940), ocorreu a concessão de créditos e materiais pelo EUA, para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A intervenção do Estado no domínio econômico também foi caracterizada pela instalação da Companhia Vale do Rio Doce. Ocorrem, ainda, avanços sociais por meio da implantação da legislação social (trabalhista), dentre outros fatores (SOARES, 2015).
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Em relação ao relacionamento externo brasileiro no período, Getúlio Vargas procurou manter contato tanto com a Alemanha nazista quanto com os Estados Unidos. Contudo, a relação com os norte-americanos foi a que prevaleceu, inclusive com envio de soldados para a guerra, mas em número bastante reduzido, com o Brasil possuindo uma participação marginal nas batalhas realizadas no período.
Para mais informações sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, consultar o material elaborado pelo Ministério da Defesa (Governo Federal).
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O Processo de Substituição de Importação (PSI)
Desde o momento que o modelo agroexportador começou a entrar em xeque em consequência da crise financeira de 1929, o país passou a avançar em seu processo de industrialização, por meio de um modelo chamado de Processo de Substituição de Importação (PSI). Como o próprio nome já diz, o país passou a focar na produção de bens que costumava ser importado das demais economias.
Como ressalta Lacerda et al. (2018), o saldo desse processo para a economia brasileira foi a rápida ascensão da indústria, que passou a ser o fator dinâmico principal de criação da renda interna. Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2017) complementam a análise ao explicar que o motor dinâmico do PSI era o estrangulamento externo. Tal estrangulamento externo era recorrente e relativo:
O conceito de substituição de importações, além de significar o início da produção interna de um bem antes importado, denota também uma mudança qualitativa na pauta de importações do país. Conforme aumenta a produção interna de bens de consumo anteriormente importados, aumenta também a importação de bens de capital e de bens intermediários necessários para essa produção. Além disso, dentro do modelo de industrialização por substituição de importações, muitas vezes a produção interna de um produto novo não estava, a rigor, “substituindo importações”, na medida em que aquele produto não era importado anteriormente (LACERDA et al., 2018, p. 65-66).
Nessa perspectiva, o PSI conseguiu dinamizar o mercado interno ao produzir diversos produtos antes importantes e, ainda, ao auxiliar no desenvolvimento industrial deoutros setores que nem ao menos eram importados. Ainda, cabe destacar que a industrialização permitiu o aumento da renda interna, proporcionando maior acesso de bens e serviços a diversos agentes econômicos da sociedade. Assim, observe a Figura 1.2 a seguir:
Figura 1.2 - Participação dos setores no valor adicionado (1928-1945)
Fonte: Haddad (1978 apud GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017, p. 381).
Por meio da Figura 1.2, é possível analisar o avanço da industrialização brasileira após o início da crise financeira internacional de 1929, passando de 22,7% de participação no valor adicionado da produção brasileira em 1928/29, para pouco mais de 36% na primeira metade da década de 1940. De forma concomitante, o setor rural (agricultura) passou por contínua diminuição no mesmo período, saindo de 52,5% em 1928/29 para 37,1% em 1940/45. Apesar do pouco aumento na participação estatal no período analisado, o setor público foi de suma importância para direcionar o desenvolvimento do modelo PSI no período analisado.
Esse primeiro momento de industrialização no país focou nos bens de consumo antes importados, sem avançar para a produção de bens de capital que necessitam de maior complexidade econômica e conhecimentos técnicos mais sofisticados. Nessa linha, Lacerda et al . (2018) analisam esse período (década de 1930) como de mudança na dinâmica da economia brasileira caminhando para o mercado interno. Contudo, também tratam da industrialização incompleta dado que os setores produtores de bens de capital e de bens intermediários, os chamados bens de produção, eram muito pouco desenvolvidos no país. Logo, observe o infográfico a seguir com as principais medidas adotadas para proteger a indústria.
“[...] promovendo-se uma forte desvalorização da taxa nominal de câmbio, acima do aumento de preços internos, acaba-se por aumentar o preço dos produtos importados frente aos nacionais,o que se constitui em uma proteção aos produtores nacionais. A desvantagem desse sistema é que a desvalorização cambial implicava também o aumento dos preços de equipamentos e matérias-primas importados, dificultando os investimentos”.
“[...] estabelece-se um sistema de licenças para importar, controlando o acesso dos demandantes de divisas à moeda estrangeira. Ao se conceder um reduzido número de licenças,diminuem as importações; ao mesmo tempo, se essas licenças são concedidas com base em critérios de essencialidade ou de existência de similares nacionais,pode-se proteger a indústria nacional com a vantagem de possibilitar um investimento (com produtos importados) com baixo custo, já que não há a necessidade de desvalorizar o câmbio”.
“[...] estabelecem-se vários mercados cambiais (denominados, por exemplo, câmbio livre, flutuante,comercial, financeiro etc.), destinando-se a cada um deles alguns tipos de demanda e oferta de divisas. Em cada mercado, surge uma taxa específica de câmbio. Quando o governo define em que mercado cada participante pode atuar,acaba também definindo as condições de cada um desses mercados: se existe excesso ou falta de dólares em cada mercado, ou seja, se as taxas deve me levar-se ou cair em cada mercado”.
“[...] elevam as tarifas de importação, diminuindo-as. Se for estabelecida uma diferenciação significativa das tarifas, também é possível obter um efeito protecionista sobre alguns produtos (tarifas elevadas) ao mesmo tempo em que barateiam outros produtos, principalmente os que significam custo nos investimentos (tarifas baixas ou isenção tarifária para determinada quota de algum produto)”.
Prezado(a) estudante, esse modelo teórico de industrialização por substituição de importações não foi uma criação unicamente brasileira, dado que já havia sido delineado pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), organismo da ONU criado em 1948. Segundo a Cepal, o relacionamento comercial dos países exportadores de matérias-primas com os países desenvolvidos era caracterizado pela deterioração das relações de troca (LACERDA et al ., 2018).
Desse modo, ao atuar no mercado internacional ofertando produtos primários, como o café brasileiro, e importando bens e serviços de complexidade industrial, os países tinham um deterioramento nos termos de troca já que os produtos primários também são cotados no mercado externo, prejudicando a economia doméstica. Consequentemente, os produtos primários costumavam se depreciar em relação aos bens industrializados, tornando necessário expandir as exportações dos produtos primários, sendo que a demanda muitas vezes não aumentava o suficiente mesmo com as quedas nos preços.
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Em decorrência da crise financeira internacional de 1929 que, por sua vez, acabou por derrubar a cotação do café, acabou por viabilizar as ideias de industrialização já existentes na economia brasileira. Assim, a partir desse período, ocorreu uma atuação estatal direcionada para industrialização. Qual o nome desse processo?
a) Desvalorização real do câmbio.
b) Dinamização agrícola.
c) Colônia de exploração.
d) Modelo agroexportador.
e) Processo de substituição de importação.
O Pós-Guerra
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas sai do governo, voltando a democracia por meio da eleição de Dutra que teve como característica central as ideias liberais sobre os rumos econômicos (ao contrário da ditadura do governo Vargas). Nesse período, existiu uma ilusão sobre as divisas externas em decorrência do “grande” volume de reservas internacionais do país. Outro ponto de ilusão foi considerar o país como um credor político dos Estados Unidos em função de sua colaboração com os aliados na Segunda Guerra. O governo considerava, ainda, que a política liberal (mercado livre) sobre o mercado de câmbio proporciona investimento estrangeiro direto para o país (LACERDA et al ., 2018).
Destaca-se que:
Ao liberarem-se as importações no pós-guerra e ao regularizar-se a oferta externa, o coeficiente de importações subiu bruscamente, alcançando, em 1947, quinze por cento. Aos observadores do momento, esse crescimento relativo das importações pareceu refletir apenas a compressão da procura nos anos anteriores. Tratava-se, entretanto, de um fenômeno muito mais profundo. Ao restabelecer-se o nível de preços relativos de 1929, a população novamente pretendeu voltar ao nível relativo de gastos em produtos importados, que havia prevalecido naquela época (FURTADO, 2007, p. 302).
O resultado dessa política resultou em rápida queima das divisas, só em parte gastas com importações de máquinas e matérias-primas essenciais em decorrência da política ortodoxa adotada. Outro foco de preocupação no governo foi a ascensão inflacionária, que já atingira 20% em 1944 e 15% em 1945. Em julho de 1947, diante da impossibilidade de sustentar a política anterior, voltam os controles cambiais, enquanto o país enfrenta escassez de moedas fortes, sobretudo de dólares (LACERDA et al ., 2018).
Os problemas brasileiros no mercado externo foram aliviados em decorrência da elevação no preço do café no final da década de 1940, permitindo auferir maiores receitas (superávit na balança comercial). Já no tocante a evolução do PSI, a utilização de taxa de câmbio diferenciada (valorizada) permitiu a importação de bens de capital e intermediários mais baratos, utilizados para fabricar os bens básicos internos. Ainda: a proteção da fabricação local e garantia do mercado interno (rentabilidade) auxiliou a industrialização (LACERDA et al ., 2018).
O Governo Dutra e o Plano SALTE
Após um início de governo baseado em políticas ortodoxas ligadas ao livre mercado, o governo Dutra passou da política contracionista para uma política monetária, fiscal e cambial mais flexível (SOARES, 2015). Desse modo, o governo passou a desenhar um novo plano econômico para continuar o processo de desenvolvimento da economia brasileira, com base em maior presença do Estado, nascendo o Plano Salte.
O Plano Salte teve como objetivo coordenar os gastos públicos nas áreas de saúde, alimentação, transporte e energia, estabelecendo investimentospara o período 1949-1953. No entanto, como não foram asseguradas as fontes de financiamento para esses investimentos, na prática o Plano Salte mal saiu do papel (LACERDA et al ., 2018). Esse plano quinquenal (1949-1953) foi a primeira tentativa de retomar o planejamento econômico depois do fim do Estado Novo. Contudo, não se tratava de um plano consistente, mas de um programa de dispêndio público (CORSI, 2010b).
Essas áreas foram escolhidas porque o crescimento urbano industrial não tinha sido acompanhado pela ampliação da infraestrutura. No final da década de 1940, existiam graves pontos de estrangulamentos (transporte e energia), necessitando de avanços rápidos para a retomada da industrialização. Contudo, o Plano Salte foi um fracasso por não existir projetos abrangentes e estudos bem desenhados, inexistência de cronograma para liberação de verbas, sem coordenação central, dentre outros fatores (CORSI, 2010b).
Em suma, Dutra esperava enfrentar o problema central do financiamento do desenvolvimento por meio da captação de recursos externos, oficiais ou privados. Os capitais externos seriam utilizados para enfrentar os pontos de estrangulamento e para desenvolver a indústria de base. O governo acreditava no interesse dos Estados Unidos em financiar a industrialização brasileira (CORSI, 2010b). Apesar de todos esses problemas, no período ainda foram levadas adiante os trabalhos de organização da Companhia Hidrelétrica do São Francisco e criaram-se a Comissão do Vale do São Francisco e a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, só constituída efetivamente em 1953 (LACERDA et al ., 2018).
O Governo Vargas e o Colapso Cambial
O Brasil do início da década de 1950 já tinha passado por intenso processo de industrialização e urbanização, com a indústria tornando-se o setor dinâmico da economia. As classes urbanas tinham adquirido maior peso político e econômico. No debate econômico, o conceito de industrialização como o caminho para o desenvolvimento econômico e social tinha respaldo pela sociedade. Contudo, não existia consenso quanto à melhor política para fomentá-la (CORSI, 2010b).
Para o Governo Vargas, o projeto de desenvolvimento seria, entre outros aspectos, fundamental para articular sua heterogênea base de sustentação política. O crescimento acelerado da economia responderia aos interesses do empresariado e, ao mesmo tempo, criaria as condições necessárias para o incremento do emprego e dos salários (CORSI, 2010b). Lacerda et al . (2018) argumenta sobre a necessidade de na época avançar na industrialização de bens de consumo duráveis, necessitando avançar no processo produtivo localmente.
O projeto governamental consistiu em duas fases: I) a busca do equilíbrio nas finanças públicas, permitindo a realização de uma política monetária contracionista consistente com o controle da inflação; II) a fase dos empreendimentos e realizações através da Comissão Mista Brasil–Estados Unidos (CMBEU) para atrair recursos dos EUA e conseguir os aportes necessários à realização de investimentos em infraestrutura, com destaque para os setores de energia, transportes e portos, ou seja, na infraestrutura brasileira (SOARES, 2015).
Em suma, o planejamento econômico de Vargas estava direcionado para:
I) equilíbrios fiscal e monetário.
II) controle da inflação.
III) afluxo de capitais.
IV) investimentos em infraestrutura (SOARES, 2015).
A proposta nacionalista de Vargas restringiu as possibilidades de financiamento externo desses projetos ou a participação de capitais estrangeiros na forma de investimentos diretos (LACERDA et al ., 2018):
A criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), em 1952, financiado por intermédio de um adicional sobre o Imposto de Renda, foi fundamental para o financiamento de projetos de infraestrutura de transporte e energia e, posteriormente, de projetos de implantação industrial (LACERDA et al., 2018, p. 74).
Ainda com o intuito de manter um controle cambial eficiente que potencializasse o desenvolvimento industrial brasileira, o segundo Governo Vargas criou a instrução 70 da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) que:
condicionava as importações aos interesses industriais, mediante o leilão de divisas com câmbio diferenciado conforme a essencialidade da importação. Os leilões passaram a representar uma importante fonte de arrecadação para o Estado, além de manter a política cambial de favorecimento às indústrias substitutivas de importações (LACERDA et al., 2018, p. 74).
A tentativa de Vargas de implantar o setor de bens capital e intermediários enfrentou as dificuldades políticas típicas de um projeto nacionalista. Isso porque necessitava manter o equilíbrio entre diferentes bases para sustentação do governo como os trabalhadores da indústria (principal) e a burguesia industrial. Os trabalhadores aumentavam suas reivindicações de salários. A burguesia era contrária à instrução 70 que aumentava o preço dos produtos importados (LACERDA et al ., 2018).
Outro fator que contribuiu para a instabilidade do governo foi a nova crise na agricultura cafeeira, prejudicando Vargas politicamente em seu objetivo de desenvolver a indústria pesada e de produção de bens intermediários. No tocante ao financiamento, a dependência do mercado externo, aliada à necessidade de tecnologia externa, limitou as possibilidades de expansão industrial (LACERDA et al ., 2018).
De forma semelhante, Corsi (2010) ressalta que a falta de apoio dos EUA prejudicou o desenvolvimento industrial, com a CMBEU não auxiliando efetivamente a indústria, como Vargas desejava. Desse modo, o país acabou passando por uma forte crise cambial no período, elevando a fragilidade e instabilidade econômica. Em partes, também, porque Vargas para controlar a inflação, relaxou os controles sobre as importações, aumentando as importações e depreciando a moeda nacional, resultando em desequilíbrio externo até a crise cambial de 1952.
Ainda, no segundo governo Vargas, além do BNDE, também foi criada a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) em 1953. Durante seu governo, Vargas procurou avançar na complexidade industrial para a produção de bens intermediários. Contudo, os diversos problemas enfrentados acabaram por resultar em seu suicídio e com Café Filho assumindo a Presidência da República.
CAP 2
A industrialização brasileira passou pelo avanço em seu planejamento a partir do plano de metas de Juscelino Kubitschek, com objetivos claros e realistas para o país. Contudo, problemas de ordem política e econômica fizeram com que o início da década de 1960 fosse complicado para a economia brasileira, ampliando a instabilidade no país e resultando no rompimento democrático (ditadura militar) durante o governo de João Goulart.
Já na segunda metade da década, reformas institucionais, aliadas à melhoria da conjuntura externa, propiciaram o rápido avanço na economia brasileira durante o período conhecido como “Milagre Econômico”, caracterizado pelo elevado crescimento econômico, inflação controlada e equilíbrio externo.
Anos Dourados e a Emergência da Indústria Pesada
A economia brasileira deslocou seu centro dinâmico do setor externo (exportação) para o mercado interno (industrialização) a partir da década de 1930, na esteira da Grande Depressão (maior crise do sistema capitalista da história). Em um primeiro momento, foram incentivadas as indústrias voltadas para a produção dos bens de consumo duráveis, com auxílio do Estado por meio do controle cambial e tarifas aduaneiras que tornavam os produtos importados relativamente mais caros.
Durante a maior parte desse período inicial de industrialização, o Presidente da República foi Getúlio Vargas como ditador (1930-1945) e democrata (1951-1954), com uma breve passagem de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951). Nessa época, foram desenvolvidas a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Petrobrás, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), dentre outros projetos.
Em relação ao polo petroquímico, que vinha sendodelineado desde o governo Dutra, Couto (2012) explica que o município de Cubatão foi o escolhido para sediar esse primeiro grande polo, onde já estava sendo construída a Refinaria Presidente Bernardes Cubatão desde 1952. Ainda durante a década de 1950, a Petrobrás viria a desenvolver diversos outros projetos para ampliar o polo petroquímico, tais como: I) fábrica de fertilizantes para a produção de adubos (1953); II) fabricação de eteno e propano-propeno (1954); III) fábrica de asfalto (1956); dentre outros projetos visando expandir o polo petroquímico nacional, como aponta Couto (2012).
Apesar desse desenvolvimento industrial em direção a uma maior complexidade, cabe ressaltar os problemas enfrentados pela economia brasileira ainda na primeira metade da década de 1950, em decorrência da falta de financiamento externo, principalmente os esperados pelos Estados Unidos (EUA) por meio da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU).
A queda de Vargas, em 1954, expressa, entre outros aspectos, os obstáculos para a implementação de um projeto de desenvolvimento com certa autonomia econômica e política para o Brasil, apesar de essa autonomia por ele preconizada implicar forte articulação com o capital estrangeiro e o não afastamento em relação aos Estados Unidos. Nas condições sociais e políticas internas e externas da época, parecia extremamente difícil qualquer tentativa nesse sentido. Vargas enfrentou enormes dificuldades no equacionamento de duas questões-chave do período: a do financiamento do avanço do desenvolvimento e a da inserção da classe trabalhadora na vida política do país (CORSI, 2010a, p. 126).
Além desses pontos, o problema inflacionário persistia agravado pelo desalinhamento das contas externas. No tocante ao processo industrial, existia a necessidade de avançar em pontos de estrangulamento ligados à maior complexidade industrial (indústria pesada), como nos setores de transporte e energia. Mesmo com o suicídio de Vargas e com Café Filho assumindo a presidência, o país não voltou a ter estabilidade nos 16 meses de governo (CORSI, 2010a).
No primeiro momento, o novo presidente procurou cortar os gastos públicos e se alinhar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para estabilizar o setor externo (câmbio), recebendo críticas da burguesia industrial devido à queda de financiamento. Nesse período, foi instituída a Instrução n° 113 da Sumoc, pelo Ministro da Fazenda Eugênio Gudin, para importação de máquinas e equipamentos sem cobertura cambial. Logo, ficou definido que “o importador não dependeria de divisas para realizar as importações e que o montante das máquinas e dos equipamentos importados seria contabilizado no capital da empresa, o qual serviria de base para o cálculo das remessas de lucro” (CORSI, 2010a, p. 127).
Com as críticas às políticas econômicas decorrentes do diagnóstico de que a inflação ocorria devido à monetização dos déficits públicos (impressão monetária) e política contracionista de Gudin, José Maria Whitaker assumiu o ministério, enfrentando uma crise bancária e procurando diminuir os mercados múltiplos de câmbio que beneficiavam o modelo de substituição de importação (PSI). Contudo, não obteve sucesso por falta de apoio político (LACERDA et al ., 2018).
Assim, na sequência, o processo de industrialização voltou com a eleição de Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK), que governou entre 1956 e 1961. Como ressalta Vilella (2016), durante o governo JK, a combinação de crescimento econômico acelerado, transformação estrutural da economia brasileira e pleno gozo das liberdades democráticas no país foi um sucesso, com o período sendo conhecido como “anos dourados”.
Padrões de Acumulação Econômica
Prezado(a) estudante, até 1930 a economia primária exportadora foi o centro dinâmico do país, por meio da produção de açúcar, ouro e café, principalmente. Ao longo desse tempo, a exportação desses bens proporcionou a acumulação de capital no país, que era basicamente reinvestido no próprio setor primário para expansão da produção via aumento da área plantada. Com a grande crise financeira internacional de 1929, houve a possibilidade de modificação do eixo dinâmico, permitindo que o capital acumulado pelo setor primário fosse “extravasado” para o setor industrial. Essa é a tese apontada pelo capitalismo tardio, desenvolvida por João Manuel Cardoso de Mello, como aponta Souza e Pires (2010, p. 42):
a acumulação de capital industrial teria ocorrido juntamente com a acumulação de capital no setor exportador cafeeiro, nos períodos de expansão das exportações. Por último, outra tentativa de explicação das origens do desenvolvimento industrial brasileiro, embora reconheça um mercado para produtos manufaturados, enfatiza o papel das políticas do governo, realizadas com o intuito de promover o desenvolvimento industrial, especialmente proteção aduaneira e concessão de subsídios da indústria.
Desse modo, ainda no processo inicial de industrialização, o setor primário exportador cumpria importante papel na acumulação de capital nacional. Com o passar dos anos e a industrialização ganhando mais força, passou a existir a necessidade de a acumulação de capital também vir da indústria, por meio do avanço na complexidade industrial, ampliando a formação da renda no setor industrial-urbano doméstico (SOUZA; PIRES, 2010).
Por exemplo, durante o segundo governo Vargas ocorreu a tentativa de ampliar a acumulação interna de capital por meio de uma articulação com o capital estrangeiro, que acabou por não chegar no país como planejado, fazendo com que Vargas tivesse que tocar os projetos com aumento do déficit público e criação de moeda. Nesse padrão de acumulação interna de capital, a taxa de câmbio, nacionalização de setores estratégicos, contenção de salários e ganhos da produtividade para o setor privado eram utilizados para ampliação da acumulação de capital no Brasil.
O padrão de desenvolvimento, calcado nos setores de bens de capital e intermediários e na expansão da infraestrutura, foi apenas parcialmente implementado, devido à ausência de um esquema consistente de financiamento da acumulação e também em virtude da falta de um decidido apoio das classes dominantes a uma ação mais abrangente do Estado na economia (FIORI, 1995 apud CORSI, 2010b).
Nessa perspectiva analisada, conforme avançava a industrialização ao longo dos anos, se não existisse o setor dos bens de produção no país, os estímulos e as interações interdepartamentais seriam transferidas para o país produtor desse bem. Portanto, para que a acumulação de capital pudesse ser ampliada, seria necessário existir uma sinergia na produção doméstica que encaminhasse à produção de bens de consumo e aos bens de produção, que serviriam para produzir os bens de consumo, ampliando a possibilidade do processo de acumulação das economias de mercado (LACERDA et al ., 2018).
O Governo Juscelino Kubitschek
Na segunda metade da década de 1950, JK governou o Brasil após quase 30 anos do Processo de Substituição de Importação (PSI). A produção de bens básicos já possuía certa consolidação, com a existência de uma burguesia industrial no país. Nesse contexto, existiam problemas que ainda precisavam ser resolvidos acerca da industrialização? Sim, a industrialização precisava avançar para bens mais complexos, melhorando a acumulação de capital nacional.
À época, começou parecer mais factível ampla associação com o capital es- trangeiro como forma de enfrentar os impasses do desenvolvimento. Embora com matizes diferentes, essa saída há muito era proposta por várias correntes, como é o caso dos setores defensores de uma política econômica ortodoxa, que consideravam a poupança externa fundamental para o desenvolvimento do país. Eugênio Gudin, quando no Ministério da Fazenda, iniciou a abertura para o exterior. O Governo Juscelino Kubitschek aprofundaria essa linha, o que seria decisivo para a constituição de um novo padrão de acumulação que vigoraria nas décadas subsequentes (CORSI,2010b, p. 127).
Isso posto, JK procurou ampliar a acumulação do capital, considerando a poupança externa, possibilitando maior nível de investimentos no Brasil. Diferentemente do governo Vargas, em que a conjuntura externa não permitiu a entrada de capital no país, com Kubitschek foi diferente, possibilitando a implementação do seu Plano de Metas.
Plano de Metas
O Plano de Metas foi o plano mais bem elaborado para o desenvolvimento da industrialização do país, apontando as metas, despesas e receitas que seriam utilizadas durante  o período de vigência. Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2017) ressaltam que esse plano foi além do PSI, visto que procurou promover a estrutura industrial integrada, diferente do PSI que foi uma resposta aos estrangulamentos externos. Assim, é uma evolução do PSI na medida em que aumentou a industrialização e as contradições na acumulação de capital,  necessitando avançar para a produção de bens mais complexos (bens de produção, intermediários ou de capital).
Para a execução do Plano de Metas, foram utilizados os estudos baseados na Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU), já existentes no período Vargas, e os estudos do grupo BNDE-Cepal, responsável por identificar a existência de uma demanda reprimida por bens de consumo duráveis. Por meio do desenvolvimento desse setor, poderia haver efeitos interindustriais sobre a demanda por bens intermediários. Com a geração de emprego, aumentaria também a demanda por bens de consumo leves. Em suma, ocorreriam estímulos para o desenvolvimento de novos setores industriais no país, eliminando pontos de estrangulamento no setor industrial (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017).
Esse processo também seria responsável por criar incentivos para a vinda do capital estrangeiro aos setores os quais se pretendia implementar. Além disso, o plano deu origem a diferentes comissões setoriais para criar e administrar os incentivos que deveriam ser realizados no cumprimento da meta do setor, utilizando como instrumento central a Instrução 113 da Sumoc para os investimentos estrangeiros diretos, sem cobertura cambial (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017).
Nesse contexto, o governo também utilizou incentivos fiscais e reserva de mercado por meio do protecionismo à indústria nascente, para atrair capital externo com a construção de multinacionais. Portanto, o plano possuía grande coerência na medida em que procurou resolver os pontos de estrangulamento e, ao mesmo tempo, impedir o surgimento de novos. Para tal, foram utilizados investimentos estatais (transporte rodoviário, por exemplo), incentivos para produção de bens intermediários (aço, carvão, cimento) e introdução aos setores de consumo de bens duráveis e de capital (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017).
Na mesma linha, Lacerda et al . (2018) ressaltam que o plano de metas procurou desenvolver os setores de energia, transporte, siderurgia e refino de petróleo, sendo os responsáveis por receber a maior parte dos investimentos do governo. Consequentemente, seriam utilizados recursos para subsidiar e estímulos seriam concedidos para expansão e diversificação do setor secundário, produtor de equipamentos e insumos com alta intensidade de capital. Desse modo, observe o Quadro 2.1 a seguir, que apresenta os principais setores beneficiados pelo plano, com suas respectivas previsões e quantidade realizada.
	Setor
	Previsão
	Realizado
	%
	Energia Elétrica (1.000 KW)
	2.000
	1.650
	82
	Carvão (1.000 t)
	1.000
	230
	23
	Produção de petróleo (1.000 barris/dia)
	96
	75
	76
	Refino de petróleo (1.000 barris/dia)
	200
	52
	26
	Ferrovias (1.000 km)
	3
	1
	32
	Rodovias – construção (1.000 km)
	13
	17
	138
	Aço (1.000 t)
	5
	-
	-
	Cimento (1.000 t)
	1.100
	650
	60
	Carros e caminhões (1.000 unid.)
	170
	133
	78
	Nacionalização de carros (%)
	90
	75
	-
	Nacionalização de caminhões (%)
	95
	74
	-
Quadro 2.1 - Plano de Metas: expansão prevista e resultados (1957-1961)
Fonte: Giambiagi et al . (2005, p. 56 apud CORSI, 2010, p. 132).
Como é possível observar no Quadro 2.1, a prioridade dada por JK foi a indústria automobilística, com carros e caminhões alcançando 78% do planejamento e a construção de rodovias que, inclusive, superou a meta estabelecida. Outros destaques ficaram para a indústria do cimento, pertencente ao polo petroquímico, e energia elétrica (viabilizando as demais indústrias). O destaque negativo ficou por conta das ferrovias (priorizadas por Vargas), que além de quase não estarem previstas no plano, ficaram com baixa taxa de realização (32%).
Plano de Estabilização Monetária
Além do desenvolvimento do plano de metas, JK procurou equilibrar as contas públicas e seu impacto sobre a inflação por meio do plano de estabilização monetária lançado em 1958. Enquanto no plano de metas as políticas monetárias e de crédito atuaram para ampliar o crescimento econômico, no plano de estabilização monetária, propunha-se maior controle sobre a expansão do governo, para atingir o objetivo de controlar o processo inflacionário do período. Prezado(a) estudante, apesar de parecerem objetivos antagônicos, a ideia da estabilização monetária era proporcionar recursos para o avanço do plano de metas, sem que ocorressem pressões sobre o nível de inflação externa (Balanço de Pagamentos).
Nessa perspectiva, Corsi (2010b) argumenta sobre o plano de estabilização como a tentativa de JK subordinar a política monetária e creditícia ao objetivo de garantir altas taxas de crescimento econômico. Para a efetivação do plano, auxiliando no crescimento não inflacionário, JK necessitava de que as negociações em curso com o Eximbank e o Fundo Monetário Internacional (FMI) fossem um sucesso. No entanto, as negociações não tiveram o efeito esperado.
Ao passo que as negociações avançaram, o FMI apresentou medidas duras para o combate à inflação, para auxiliar na validação do empréstimo com o banco Eximbank. Essas medidas tinham a capacidade de interromper todo o projeto desenvolvido no plano de metas (projeto inicial e mais importante do governo), como explica Corsi (2010b).
Sob fortes críticas do próprio FMI, do Congresso e dos empresários, que não aceitavam políticas de corte do crédito, Juscelino optou por romper com o órgão e dar continuidade ao seu ambicioso plano de desenvolvimento, apesar de essa decisão agravar os problemas da inflação e dos desequilíbrios nas contas externas e do governo (CORSI, 2010b, p. 134).
Apesar dos problemas enfrentados, JK continuou o projeto de industrialização do Brasil, inclusive tocando a grandiosa obra de Brasília, que era a meta-síntese do plano, ajudando a deslocar parte do crescimento econômico do país na direção do interior.
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Durante o governo de Juscelino Kubitschek ocorreu a mudança da capital do Estado brasileiro, que até então estava localizada no Rio de Janeiro, para o Distrito Federal, mais especificamente em Brasília. Um dos motivos foi a ideia de avançar no desenvolvimento da economia para o interior do país.
Você conhece a história de Brasília? Para mais informações, consulte a história contada pelo Museu de Brasília.
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Nessa perspectiva apresentada, JK procurou implementar um ambicioso plano de desenvolvimento econômico para o país, avançando na complexidade industrial para bens de produção (intermediários e de capital), proporcionando melhorias na acumulação capitalista brasileira. Contudo, medidas de financiamento externo acabaram dificultando o plano, fazendo com que fosse necessário o avanço dos gastos públicos, independentemente do problema inflacionário, para finalizar as grandes obras do período.
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Durante o governo do Presidente da República Juscelino Kubitschek, o país ampliou a questão do planejamento estatal para um plano eficiente por meio de metas bem estabelecidas. Nesse contexto, assinale a alternativa que apresenta corretamente o que foi o Plano de Estabilização Monetária (PEM).
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a) Ambicioso projeto de crescimento econômico.
b) Imposição de metascom receitas e despesas apresentadas.
c) Política monetária expansionista para o crescimento.
d) Equilíbrio nas contas públicas e inflação.
e) Parceria com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Parte inferior do formulário
Planejamento Estatal e Consolidação da Indústria
Durante o governo de JK, a industrialização avançou por meio de um plano bem elaborado, que buscava promover o avanço na complexidade industrial para os bens de produção e, assim, consolidar a indústria nacional. Nesse sentido, o plano de metas procurou conciliar o planejamento estatal e a consolidação da indústria do país, aprofundando o Processo de Substituição de Importação (PSI). Corsi (2010b) apresenta a política de JK como uma política industrializante com base no mercado interno, com aumento na participação de capital estrangeiro (multinacionais). Assim, observe os resultados do planejamento estatal de JK para consolidação da indústria no Quadro 2.2 a seguir.
	Ano
	Variação do PIB (%)
	FBCF (%)
	Variação da produção industrial (%)
	Taxa de inflação IGP-DI (%)
	1956
	2,9
	14,5
	5,5
	24,6
	1957
	7,7
	15,0
	5,4
	7,0
	1958
	10,8
	17,0
	16,8
	24,4
	1959
	9,8
	18,0
	12,9
	39,4
	1960
	9,4
	15,7
	10,6
	30,5
	1961
	8,6
	13,1
	11,1
	47,8
Quadro 2.2 - Variação do PIB, Formação Bruta do Capital Fixo (FBCF), Variação da produção industrial e Índice de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI)
Fonte: IBGE apud Lacerda et al . (2018, p. 90).
Prezado(a) estudante, observe a evolução do PIB. Conforme o plano de metas foi posto em marcha, com seus objetivos sendo cumpridos, ocorreu um rápido crescimento econômico no país, com forte elevação da variação da produção industrial, apontando para a dinâmica interna de acumulação de capital. A FBCF, ligada aos investimentos, apesar do pico em 1959 (18%), passou por queda nos anos seguintes devido a problemas estruturais endógenos na economia brasileira. Por fim, o Quadro 2.2.2 apresenta a evolução da inflação. Como o plano de estabilização monetária não foi aprovado pelo FMI e Eximbank, JK acabou tomando a decisão de avançar com gastos públicos e monetização da dívida (rompendo com o FMI em 1959), o que impactou o processo inflacionário.
reflita
Reflita
A partir da década de 1950, a economia brasileira passou por um processo de avanço na complexidade econômica da produção industrial. Você sabe em quais setores o país obteve crescimento durante o período de Kubitschek no poder?
“O desenvolvimento industrial durante o Plano de Metas foi liderado pelo crescimento do departamento produtor de bens de capital e do departamento produtor de bens de consumo duráveis; suas taxas anuais de crescimento médio no período 1955-1962 atingiram 26,4% e 23,9%, respectivamente. Já a participação desses setores nos investimentos industriais apresentaria um desempenho ainda mais notável. O investimento na indústria de transformação cresceu a uma taxa média anual de 22% no período 1955-1959”.
Fonte: Lacerda et al . (2018, p. 86).
Nessa linha, Lacerda et al . (2018) argumentam para a mudança na acumulação de capital nacional em direção à indústria, isso porque o nível dos investimentos passa a ser a variável fundamental para explicar os movimentos cíclicos da economia. Contudo, os autores explicam que apesar do avanço na produção de bens de capital e intermediários, o plano de metas não foi capaz de completar a criação do setor (bens de produção), o que tornaria o processo de acumulação de capital autônomo. “Essa possibilidade revelou-se de difícil consecução, porque o mercado brasileiro era ainda relativamente pequeno, não sustentando as escalas de produção que a fabricação de bens de alta tecnologia exigia (LACERDA et al ., 2018, p. 89).
Capital Estrangeiro e Oligopólios
Durante o período do governo JK, o plano de metas foi vendido com a ideia de desenvolvimento brasileiro de “50 anos em 5”, dados os volumosos investimentos e os grandes projetos industriais, inclusive com facilidade para o capital estrangeiro investir no país, trazendo multinacionais. Para avançar nas indústrias de bens de produção rapidamente, o país precisava da participação dominante do capital externo, deixando de lado o projeto nacional (somente capital interno) (LACERDA et al ., 2018).
Contudo,  a entrada de capitais externos no período de 1955-1962 não ocorreu na forma de investimentos diretos: 81,7% desses investimentos foram financiamentos externos para projetos específicos. Esses grandes projetos industriais, incluindo o capital externo, resultaram no desenvolvimento de grandes empresas e, por consequência, em mercados com características de oligopólios, que já eram a dinâmica das grandes empresas mundiais no período (década de 1950).
As transformações estruturais que ocorreram na segunda metade dos anos 1950 resultaram na consolidação da oligopolização da economia brasileira, quando os principais ramos industriais passaram a ser constituídos por um reduzido número de grandes empresas, reproduzindo o processo que se iniciara ainda no final do século XIX com as economias capitalistas desenvolvidas (LACERDA et al., 2018, p. 7).
Nesse período, grandes organizações oligopolistas ampliaram a participação no mercado interno brasileiro, como foi o caso da Ford e da General Motors, até mesmo para evitar que outras empresas oligopolistas da Europa e do Japão dominassem o mercado brasileiro. Consequentemente, as empresas multinacionais passaram a dominar amplamente a produção industrial brasileira, especialmente os setores mais dinâmicos da indústria de transformação (LACERDA et al ., 2018).
Considerando-se as mil maiores empresas do país por volume de vendas em 1974, dois terços delas eram empresas industriais. As EMN correspondiam a 12% do número total, 50% do valor das vendas e 43% do estoque de capital. Em 1970, as EMN dominavam amplamente a produção de bens duráveis de consumo (85% das vendas) e eram majoritárias na produção de bens de capital (57% das vendas). No subsetor de bens de consumo não duráveis, controlado basicamente por empresas privadas nacionais, a participação das EMN era bastante significativa (43% das vendas). Mesmo no subsetor produtor de bens intermediários, onde ocorreria forte participação estatal, a presença dessas empresas chegaria a 37% das vendas (LACERDA et al., 2018, p. 88).
Isso posto, seguindo a dinâmica das economias de mercado centrais (EUA, Europa e Japão), o Brasil passou a trabalhar no desenvolvimento industrial aos moldes dos mercados oligopolistas, com as Empresas Multinacionais (EMN) dominando o mercado de maior conteúdo tecnológico do país e o capital nacional sendo o responsável por fornecer insumos e componentes para as EMN. Também existiram exceções, por exemplo, nos casos dos setores de finanças, mineração, construção civil e agricultura (LACERDA et al ., 2018). Essa dinâmica iria pautar as ações do Brasil nas próximas décadas.
João Goulart e o Plano Trienal
Ao longo da década de 1950, o PSI avançou para bens de produção, contudo o capital externo, por meio das grandes empresas oligopolistas, dominou o mercado brasileiro nos setores mais tecnológicos de bens de consumo duráveis e de capital (JK). Ainda nessa década, JK acabou rompendo as relações com o FMI (1959) em decorrência da reprovação do seu PEM, que procurava ampliar a industrialização sem pressão inflacionária por meio de empréstimos externos, mas, também, aplicando medidas para proteger a indústria nacional.
Nessa perspectiva, ao mesmo tempo em que promoveu o avanço industrial, o plano de metas acabou por resultar em instabilidades políticas e econômicas no país. É nesse contexto que deve ser interpretado o governo seguinte, de João Goulart, e o desenvolvimento do seu plano trienal. Contudo, vale destacar que apesar da crise política e econômica no início da década de 1960, ainda existiram grandes projetos industriais sendo desenvolvidos no Brasil, como aponta Couto (2012, p. 133):
Se nos anos 1950 Cubatão foi marcada pela construção da maior obra do país (a refinaria de petróleo), o início da década seguinte não foi diferente: estavaem ritmo acelerado a construção da primeira siderúrgica marítima brasileira: a Companhia Siderúrgica Paulista – Cosipa [...] Enquanto o país passava por um período de baixo crescimento, na primeira metade dos anos 1960, Cubatão crescia com a construção da Cosipa.
A década de 1960 iniciou-se com um processo de crise política e econômica. Em relação aos aspectos políticos, Jânio Quadros renunciou à Presidência da República. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente João Goulart, que não era bem-visto pela elite devido à sua preocupação com temas sociais e aproximação com a China e a União Soviética. Como explica Mariano (2012), para assumir o governo, ele teve que aceitar o parlamentarismo. No entanto, a briga política continuou até fazerem um plebiscito (1963) que resultou na volta ao presidencialismo, possibilitando colocar seu Plano Trienal em prática, comandado por Celso Furtado.
O Plano Trienal
O Plano Trienal foi instituído em 1963, com os objetivos de: I) conter o processo inflacionário herdado do governo de JK; II) implementar reformas de base (reformas agrária, fiscal e administrativa); III) reescalonamento da dívida externa (MARIANO, 2012). De forma complementar, Soares (2015) resume o Plano Trienal como uma tentativa de continuar o crescimento econômico, considerando reformas sociais e combate ao processo inflacionário. Nessa linha, Souza (2010a) aponta que o plano esteve, desde o início, envolto em grandes dificuldades políticas e econômicas devido à crise gerada pela inflação.
O plano não obteve êxito em combater a inflação. Uma das críticas que recebeu foi em relação ao diagnóstico simplificado do processo inflacionário. As restrições externas continuavam a pressionar os índices de inflação, e o governo era incapaz de reduzir o déficit fiscal, outro vetor que alimentava esse processo. Além desses aspectos, o fator político foi determinante, pois setores organizados da classe média pressionavam para que não ocorressem as Reformas de Base (MARIANO, 2012, p. 6).
Soares (2015) sintetiza bem o final trágico do governo de João Goulart: I) descontrole (déficit) das contas públicas; II) expansão monetária (monetização dos gastos), impactando na aceleração inflacionária; III) desequilíbrios do balanço de pagamentos (contas externas); IV) desaceleração da atividade econômica (PIB); V) instabilidade política, deposição do governo Goulart e instalação da ditadura militar. Uma ressalva é apresentada por Souza (2010a), que argumenta que o plano foi posto em prática após dois anos de crise política (1961-1962), ou seja, em 1963 (cenário de crise), tendo o golpe militar ocorrido em 1964, retirando qualquer chance do plano continuar.
Prezado(a) estudante, para facilitar a compreensão sobre o período e a situação crítica da economia brasileira no período, seguem alguns dados econômicos: I) o PIB brasileiro saiu de um crescimento real anual de 9,4% em 1960 para 0,6% em 1963; II) a indústria de transformação saiu de 11% em 1961 para -0,2% em 1963; III) consumo agregado em relação ao PIB caiu de 72,56% (1960) para 70,44% (1963); IV) saldo negativo (déficit) no comércio exterior em 1962, ampliando o desequilíbrio externo com Balanço de Pagamentos (BP) negativo em 1962, 1963 e 1964; V) crescimento negativo do PIB per capita de -2,34% (1963); dentre outros fatores negativos, como aponta Souza (2010a).
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Vamos Praticar
Durante a década de 1950 foi dada continuidade ao programa desenvolvimentista de industrialização por substituição de importação (PSI), na primeira metade da década com Getúlio Vargas, e na segunda metade, com Juscelino Kubitschek, permitindo avanços na matriz industrial brasileira. Assim, qual foi o plano que pretendeu equilibrar o crescimento econômico e a questão inflacionária, por meio do capital externo na década de 1950?
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a) Plano de Ação Econômica do Governo.
b) Plano Trienal.
c) Plano de Metas.
d) Plano de Estabilização Econômica.
e) Plano Econômico de Desenvolvimento.
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O Golpe de 1964: Ruptura Democrática e o Desenvolvimento Dependente
O início da década de 1960 foi de grande instabilidade política, culminando no Golpe Militar de 1964 através da deposição  do Presidente João Goulart. Nesse contexto, Souza (2010a) explica que a grande instabilidade econômica do período ocorreu devido ao acirramento nas brigas políticas entre o grupo desenvolvimentista (estava no poder desde 1930) e o grupo  político ligado à UDN. Além disso, ressalta o período do governo do Presidente Jânio Quadros como o início da crise de 1960, devido à desestruturação do sistema de taxas múltiplas de câmbio (Instrução 113 da Sumoc), em decorrência da implementação da Instrução n° 204 da Sumoc, que ampliou o desgaste da economia brasileira e o problema inflacionário.
A Primeira Crise Industrial Endógena
Além das questões políticas existentes durante a década de 1960, também o próprio modelo de crescimento econômico, com base sustentada no Processo de Substituição de Importação (PSI), responsável por modificar o eixo dinâmico da economia brasileira, estava em xeque. Isso porque, na década de 1960, começaram a surgir problemas no modelo PSI devido ao forte crescimento da indústria nos anos anteriores, impulsionando os problemas políticos. Assim, o período foi marcado por um momento de crise política e econômica.
Parte dessa desaceleração pode ser explicada pelos fortes investimentos do período JK e seu plano de metas, resultando em aumento da indústria e, consequentemente, em capacidade ociosa nelas, devido à superestimação do mercado nacional para alguns bens (como automóveis). Desse modo, existiam questões conjunturais e estruturais influenciando a economia.
· Problemas conjunturais:
O processo de aceleração inflacionária no período contribuiu para o aumento da instabilidade econômica. O acirramento político entre udenistas e desenvolvimentistas impediu que medidas políticas e econômicas mais concisas pudessem ser implementadas para evitar a desaceleração da economia. O aumento inflacionário decorrente dos déficits públicos e sua monetização causava distorções na economia, reduzindo a renda do trabalhador e, por consequência, impedindo que houvesse o aumento no consumo de bens (duráveis, por exemplo). Esse processo resultou em declínio no nível de investimento industrial no país.
· Problemas estruturais:
Parte dessa desaceleração pode ser explicada pelos fortes investimentos do período JK e seu plano de metas, resultando em aumento da indústria e, consequentemente, em capacidade ociosa nelas devido à superestimação do mercado nacional para alguns bens (como automóveis), portanto existiam questões conjunturais econômicas. No setor produtor de bens de consumo duráveis, existiram adversidades pelo fato de a demanda não acompanhar o ritmo de crescimento considerado ideal devido à baixa renda per capita decorrente da elevada concentração de renda no país (LACERDA et al ., 2018).
Ainda nessa linha, a inexistência de mecanismos para o financiamento a longo prazo do consumo ampliava as limitações à demanda. Outro motivo para a crise no período foi a falta de inovações tecnológicas na indústria devido ao PSI “copiar” a produção de bens e serviços existentes. Isso impedia aumentos consistentes na renda do trabalho e do capital, sendo preciso importar os bens de capital para a efetivação da produção (LACERDA et al ., 2018).
O problema central dos países subdesenvolvidos era adotar tecnologia poupadora de mão de obra e de alta intensidade de capital, em franco antagonismo com o baixo nível da acumulação de capital e com a abundância de mão de obra dos países atrasados. Nessas condições, a industrialização por substituição de importações emprega poucos trabalhadores, paga baixos salários e não é capaz de criar seu próprio mercado consumidor. Essa situação é agravada pelas características monopolistas das empresas que se instalam na periferia subdesenvolvida, utilizando grandes montantes de capital, devido à tecnologia sofisticada, e operando com

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