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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI ESTUDO DO SISTEMA DE COLETA DE ESGOTO Ana Flávia Moraes Guilherme Teixeira Martins Yasmin Abdala Ouro Branco 2017 ESTUDO DO SISTEMA DE COLETA DE ESGOTO Ana Flávia Moraes Guilherme Teixeira Martins Yasmin Abdala Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 3 ESTUDO DO SISTEMA DE COLETA DE ESGOTO Dissertação apresentada como Trabalho Final do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de São João Del Rei, como requisito para obtenção de nota, na disciplina de Hidráulica. Área de concentração: Coleta de Esgoto Linha de pesquisa: Coleta de Esgoto Orientador: Emmanuel Teixeira Ouro Branco Escola de Engenharia da UFSJ 2017 Ana Flávia Moraes Guilherme Teixeira Martins Yasmin Abdala Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ i AGRADECIMENTOS Agradecemos ao professor Emmanuel pelos dois ótimos períodos em que passamos juntos. O conhecimento que adquirimos, as brincadeiras em sala e o modo como as matérias de Mecânica dos Fluidos e Hidráulica foram passadas nunca serão esquecidos por nós. (JEQUITI) Agradecemos também aos nossos colegas de grupo e de classe, que, juntos com nós, venceram mais um difícil semestre. Ficamos felizes em poder concluir essa etapa juntos! Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ ii RESUMO O sistema de esgoto é essencial no desenvolvimento de toda e qualquer cidade. Sendo uma condição básica de infraestrutura urbana, é de suma importância que exista o tratamento do mesmo, visando a promoção da saúde pública e a melhoria das condições de higiene de toda a população. Em muitos casos o esgoto é composto por elementos químicos que, quando não são devidamente tratados, podem causar diversas doenças no corpo das pessoas. O tratamento é feito pela ETA (Estação de Tratamento de Água) e, para que se chegue nesse local, o esgoto deve sair de cada residência e percorrer um extenso caminho. Para que esse transporte do resíduo ocorra de maneira apropriada, é necessário que se faça uma boa avaliação sobre o relevo e as condições de uso de cada população. Infelizmente, em muitas cidades do Brasil, o esgoto é apenas descartado, sem que ocorra o tratamento do mesmo. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 3 ABSTRACT The sewage system is essential in the development of every city. Being a basic condition of urban infrastructure, it is important to have the treatment of the same, aiming at the promotion of public health and the improvement of the hygiene conditions of the entire population. In many cases, sewage is composed of chemical elements that, when not properly treated, can cause various diseases in the body of people. The treatment is done by the ETA (Water Treatment Station) and, in order to get there, the sewage must leave each residence and go a long way. In order for this transport of the waste to occur properly, it is necessary to make a good evaluation of the relief and conditions of use of each population. Unfortunately, in many cities in Brazil, sewage is only discarded, without treatment occurring. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 4 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................................ 5 LISTA DE TABELAS ................................................................................................................................ 6 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ........................................................................ 7 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 8 OBJETIVOS ............................................................................................................................................. 10 1.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................................... 10 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................................ 10 2 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................................... 11 2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A REALIDADE DO SISTEMA DE COLETA DE ESGOTO ................................ 11 2.1.1 Alguns aspectos sobre a realidade no Brasil e no mundo .................................................. 11 2.2 COMO AUMENTAR O NÚMERO DE PESSOAS ATENDIDAS ................................................................. 13 3 ESPECIFICAÇÃO E MÉTODOS ................................................................................................ 15 3.1 COMO FUNCIONAM AS REDES DE ESGOTO ..................................................................................... 15 3.2 CARACTERIZAÇÃO DE UMA REDE DE ESGOTO ............................................................................... 16 3.3 CÁLCULO DE UMA REDE DE ESGOTO ............................................................................................. 20 4 RESULTADOS ............................................................................................................................... 26 5 CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 27 6 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 28 Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 5 LISTA DE FIGURAS IMAGEM 2.1: Saneamento, evolução da cobertura de água e esgoto....................... 05 IMAGEM 3.1: Esgoto residencial ligado à rede pública ............................................ 08 IMAGEM 3.2: Coleta e tratamento do esgoto ..............................................................09 IMAGEM 3.3: Profundidade da rede de coleta .............................................................20 IMAGEM 3.4: Diferença de nível ..................................................................................21 IMAGEM 3.5: Diferença de nível ..................................................................................22 Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 6 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Melhores e piores cidades com coleta de esgoto ....................................06 Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 7 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS PAC Programa de Aceleração do Crescimento ETA Estação de Tratamento de Água ABNT Associação Brasileiras de Normas Técnicas Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 8 1 INTRODUÇÃO Cada vez mais o bem estar social vem sendo discutido, já que a saúde de uma população está diretamente condicionada ao meio em que ela está inserida e ao modo como ela trata esse ambiente.São vários os fatores que, combinados, nos propiciam um local mais agradável de viver. Atualmente as questões ambientais estão sendo mais evidenciadas devido a grande degradação que vem ocorrendo e, consequentemente, influenciando no modo de vida de todas as pessoas. A qualidade do ar está piorando a cada dia e acarretando crises de doenças respiratórias; o aquecimento global preocupa todo planeta devido ao aumento gradativo da temperatura mundial; o derretimento das geleiras ocasiona a elevação dos níveis do mar podendo causar o desaparecimento de muitas ilhas e cidades litorâneas. São muitos os danos ocasionados ao ambiente devido ao crescimento das indústrias e das cidades. Este crescimento, muitas vezes sem controle, acarreta em vários efeitos diretos e indiretos na vida das pessoas que ali habitam. Além do desgaste físico e mental das pessoas que trabalham nessas indústrias, existem os transtornos de não poderem contar com vias e transportes de qualidade, e com a falta de tratamento dos rejeitos produzidos pela sociedade, que vai desde o descarte de forma inadequada do lixo até falta de redes de coleta de esgoto. A falta de redes de saneamento acarreta no desperdício de água, o que atualmente é um problema mundial por se tratar de um bem cada vem mais escasso. Além disso, o descarte inadequado dos detritos provenientes do esgoto, que muitas vezes são feitos em áreas abertas, ocasionam a proliferação de insetos e roedores. Com isso, ocorre o consequente surgimento de doenças e diversos outros transtornos. É evidente que a falta de redes de saneamento é um dos problemas mais graves das cidades atualmente, independentemente de seu porte. Problemas como fortes odores e baixa qualidade visual poderiam ser sanados se houvesse o tratamento adequado do esgoto, o que propicia uma melhor qualidade de vida. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 9 Até os anos 80, as políticas municipais se restringiam ao falar em saneamento apenas na canalização dos córregos e abastecimento de água, ignorando questões mais abrangentes. O país passou a ter normas relacionadas ao setor de preservação do meio ambiente apenas depois da RIO 92, onde houve o encontro de várias nações do mundo no Rio de Janeiro, e os países se comprometeram a realizar ações voltadas para o meio ambiental. A princípio, a grande preocupação era a camada de ozônio com a liberação de gás carbônico, porém, foram assinados acordos de desenvolvimento sustentável. Mesmo com esse avanço, apenas em 2007, com o PAC, houve uma melhora nos sistemas de coleta de esgoto. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 10 OBJETIVOS 1.1 Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho é apresentar a importância das coletoras de esgoto e como funciona o tratamento adequado dos resíduos do mesmo. Para isso será apresentado como é feita a instalação das redes de esgoto: desde os cálculos para instalação das redes adutoras até que se chegue à Estação de Tratamento de Água (ETA). 1.2 Objetivos específicos Podemos apontar como objetivos diretos do trabalho: Apresentar a importância de um sistema de coleta de esgoto eficiente, que, além da coleta, também realize o tratamento deste material; Apresentar o déficit de redes de coleta no país, além de mostrar as diferenças de dados entre as regiões; Apresentar como deve ser realizado o dimensionamento de uma rede, até que seja tratado o esgoto. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 11 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Considerações sobre a realidade do Sistema de coleta de Esgoto 2.1.1 Alguns aspectos sobre a realidade no Brasil e no mundo Atualmente, o Brasil apresenta um enorme déficit em suas redes de coleta de esgoto, principalmente quando o assunto é o tratamento do mesmo. Dados apontam que apenas 50% dos domicílios urbanos apresentam coleta de redes coletoras, sendo que, quando falamos no tratamento deste material, apenas 15% o fazem. Com isso, 35% realizam o descarte inadequado em rios, lagos, dentre outros. Quando comparamos esse número a nível mundial, podemos perceber a diferença entre os percentuais. Na Alemanha, 100% do território possui coleta de esgoto e em 99% deles acontece o tratamento do coletado. Já na Itália os índices são 90% e 94%, em Portugal, 95% e 84% e, na França, 95% e 84%. É importante salientar que um modelo sanitário incorpora vários âmbitos como o ambiental, social, político, econômico e o comportamental. Esses fatores são determinantes para a saúde da população. O crescimento da população mundial, inclusive o do Brasil durante as últimas décadas, agravado pelo êxodo rural, fez com que as pessoas viessem para a cidades a procura de condições melhores de vida, acarretando no crescimento sem controle de muitas cidades. Com isso, famílias com poucas condições financeiras acabam habitando bairros que não tem nenhuma infraestrutura. Essas condições inapropriadas acarretam na proliferação de doenças entre essa população. Além dos inúmeros problemas de saúde, a situação se transforma em um efeito dominó. A saúde da população influencia, mesmo que indiretamente, na economia e no desenvolvimento de toda uma região. Se há uma população doente, o governo terá que destinar seus recursos a ela. Esses recursos vão desde os medicamentos até tratamentos e remunerações por afastamento. A economia também é afetada com a diminuição de turistas em praias e centros históricos do país e com a desvalorização do preço de imóveis. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 12 O Brasil em 2007 assinou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado para a expansão do saneamento, mas, infelizmente, ele permanece muito longe das condições ideais, como é possível ver na Imagem 2.1. Quando o assunto é água tratada os índices são melhores, chegando a quase 84%. IMAGEM 2.1: Saneamento, evolução da cobertura de água e esgoto. Fonte: g1.globo.com/economia/noticia/saneamento-melhora-mas-metade-dos-brasileiros- segue-sem-esgoto-no-pais. Os dados apresentados na Imagem 2.1 apresentam uma realidade muito distorcida quando comparamos a situação da região sudeste com as regiões norte e nordeste. Isso porque as cidades do sudeste apresentam maior investimento nestas áreas, tendo uma cobertura de rede de esgoto superior aos 50% apresentados, enquanto as outras cidades apresentam uma cobertura muito inferior. Os dados coletados entre cidades de maior população em cada estado apontam que os 10 melhores índices estão na rede sudeste e os piores na norte e nordeste, como é possível ver na Tabela 2.1. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 13 TABELA 2.1: Melhores e piores cidades com coleta de esgoto. Fonte: www.tecnologiademateriais.com.br/portal/noticias/composites/2016/marco/Metade-dos- investimentos-de-saneamento-basico-no-pais. Os dados forem coletados em 2014, mas é nítido como há falta de investimento nesta área, mesmo depois do PAC. Em um comparativo de redes de esgoto com dezessete países da América Latina, o Brasil aparece na décima primeira posição, ficando atrás de países como Peru e Bolívia. Quando comparamos a nível mundial, levando em consideração 200 países, ele aparece na 112ª posição. Com essa situação, é evidente que o Brasil se encontra em condições precárias de redes coletoras.Em muitos casos são realizadas as obras para a coleta, porém, estas são mal dimensionadas ou mal acabadas, agravando ainda mais o problema. Um investimento maior por parte dos governantes é fundamental para que esses problemas públicos possam ser supridos. 2.2 Como aumentar o número de pessoas atendidas Para que se possam melhorar os índices referentes ao tratamento do esgoto, é indiscutível que deve haver maiores investimentos na área. Conseguindo este investimento é necessário que se faça um estudo apropriado de cada localidade para, assim, analisar como atender melhor esta determinada região. Nesse estudo deve conter uma avaliação de quais as condições ideais para se implantar um sistema de rede coletora eficiente e, de preferência, que se consiga implantar a ETA, para que ocorra o tratamento adequado da água ao ser devolvida ao meio ambiente. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 14 É necessário que tenha equipes bem formadas e com conhecimento técnico sobre o assunto na hora da realização do projeto. Para a execução é necessário que se tenha equipes mais bem formadas, que garantam que será executado o que consta em projeto. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 15 3 ESPECIFICAÇÃO E MÉTODOS 3.1 Como funcionam as redes de esgoto Quando falamos em sistemas de coleta de esgoto, muitas devem ser as considerações a serem levantadas antes da realização dos cálculos para a instalação dos canais de coleta de esgoto. Deve-se conhecer a população que será atendida por este projeto e quais são as suas necessidades, sendo analisadas todas as questões topográficas que influenciam diretamente na locação das galerias e tubulações. Essa análise topográfica é importante porque toda a matéria é transportada por gravidade, não existindo um sistema de bomba para que este material se desloque. A inclinação deve ficar dentro de certos percentuais, visto que existe uma velocidade máxima que pode ser admitida. É importante salientar que nas cidades que possuem as estações de tratamento, as redes de esgoto devem ser independentes das redes de água provenientes da chuva. Isso acontece porque estas não precisam de tratamento, como percebemos na Imagem 3.1, nos itens 7 e 8. As redes de abastecimento de água potável devem ficar longe das redes de esgoto para evitar que haja contaminação da água potável. IMAGEM 3.1: Esgoto residencial ligado à rede pública. Fonte: www.curitiba.pr.gov.br/noticias/equipes-verificam-se-casas-estao-ligadas-a-rede-de- esgoto/31747 Nas cidades que contam com o tratamento de esgotos, dejetos são levados até as estações de tratamento e, após serem tratadas, são descartadas nos rios. O lodo que é Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 16 produzido pode ser aplicado na agricultura após ter o tratamento adequado, ou mesmo ser incinerado ou descartado em aterros, o que não é a melhor opção. O tratamento deste esgoto envolve várias etapas e exige que a água alcance um certo nível de pureza até que possa ser novamente descartada na natureza, como pode ser visto na Imagem 3.2. O processo exige um investimento inicial muito elevado e equipes qualificadas para operar e efetuar um controle eficiente de todo processo. A Imagem 3.2 mostra como funciona todo processo. IMAGEM 3.2: Coleta e tratamento do esgoto. Fonte: www.copasa.com.br/media2/PesquisaEscolar/COPASA_TratamConvencionalEsgoto.pdf 3.2 Caracterização de uma rede de esgoto O sistema de esgoto sanitário é composto por rede coletora, emissários, estações de tratamento, entre outros. A rede coletora é todo o conjunto dos coletores, os quais tem a Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 17 função de recolher e transportar as vazões das águas residuais, que podem ser doméstica, industrial, de ocorrência urbana, de infiltração ou turística. Em um dimensionamento clássico de rede coletora, é considerado o regime permanente e uniforme de escoamento, mesmo havendo motivos para ir contra este conceito, como o fato da vazão ser variável ao longo do dia, a presença de sólidos ou não e a vazão crescer para jusante devido aos acréscimos provenientes das instalações prediais. Portanto, para efeito de cálculos, deve-se considerar a vazão máxima, pois assim estará dimensionado a favor da segurança quanto a sua capacidade, em seção semelhante a da seção final. Neste método utilizado não é levado em consideração o modo da distribuição das contribuições na rede, que é uma consequência do tipo e distribuição do consumo de água. Isso depende da simultaneidade da utilização dos aparelhos, visto a complexidade do estudo de hidrogramas, geralmente elaborados através de suposições teóricas. No entanto, o método clássico é considerado eficiente, principalmente em pequenos projetos como loteamentos e pequenas cidades. Apesar disso, esse método pode resultar em projetos superdimensionados nos condutos principais, caso não seja considerado o efeito do amortecimento. Para o dimensionamento de uma rede coletora de esgoto, é necessário levar em consideração uma série de condições específicas. Isso permitirá o bom funcionamento da rede, uma longa vida útil, menores possibilidades de vazamentos e condições mais desfavoráveis ao surgimento de anaerobiose (o que pode danificar o material utilizado). Serão apresentadas a seguir as condições específicas relacionadas pela NBR 9649/86 – ABNT. Seção A(área) - Nos sistemas de esgotamento em geral, a seção circular é a mais empregada, considerando-se que essa é a que apresenta maior rendimento se comparada às demais seções em condições equivalentes. Ela é a que apresenta maior raio hidráulico, além de menor consumo de matéria-prima para moldagem dos seguimentos (tubos). Grandes vazões, no entanto, implicam em grandes diâmetros, o que pode inviabilizar sua especificação diante de várias circunstâncias. As normas e Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 18 especificações brasileiras indicam, para os diversos tipos de materiais, um diâmetro mínimo de d = 100mm. Vazão (Q) - Para todos os trechos da rede serão sempre estimadas as vazões de início (Qi) e final de plano (Qf), para verificação do funcionamento do trecho nas situações extremas de vida do projeto. A vazão a considerar para a determinação das dimensões de qualquer trecho não será inferior a 1,50 L/s, o que equivale, aproximadamente, a descarga de uma bacia sanitária. Tensão Trativa () - A tensão trativa tem sido reconhecida como um bom critério de projeto e tem substituído o critério anterior (até os anos 70), que era o da velocidade mínima para dimensionamento de coletores. Para assegurar a autolimpeza, evitando que os sólidos pesados sedimentem-se ao longo dos condutos e possam obstruí-los com o tempo, e limitar a espessura da camada de limo interna nas paredes, reduzindo a produção de sulfetos, a NBR 9649/86 recomenda que para cada trecho seja verificado um valor mínimo de tensão trativa média igual a 1,0 Pa ( = 1N/m²) para a vazão inicial (Qi), se n = 0,013. Segundo a mencionada norma, este valor de tensão é suficiente para arrastar grãos de areia de 1,5mm de diâmetro ou menores e outros materiais sedimentáveis. Velocidade (V) - É notório que quanto maior a velocidade, melhores serão as condições de arraste. Entretanto, por outro lado, velocidades excessivas colocariam em risco a estrutura das tubulações, principalmente nas juntas, além de danificar as próprias paredesinternas pelo efeito da abrasão ao longo do tempo. Além disso, a turbulência acentuada contribuiria para a entrada de ar no meio líquido, aumentando assim, a lâmina líquida no interior do trecho. A NBR 9649 indica como limite máximo a velocidade de 5,0m/s, que, logicamente, só ocorreria em condições finais de projeto. Para que não haja preocupações do ponto de vista da engenharia é recomendável não se trabalhar em trechos consecutivos com velocidades superiores a 3,0m/s. É importante que se verifique a tensão trativa para as condições iniciais de projeto e as velocidades máxima e crítica esperadas para o fim do plano. Tradicionalmente são recomendados os seguintes limites de velocidades V: Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 19 o Ferro fundido V até 6,0 m/s o PVC, manilhas cerâmicas V até 5,0 m/s o Concreto V até 4,0 m/s o Fibrocimento V até 3,0 m/s Rugosidade (n) - O coeficiente de rugosidade de Manning depende do diâmetro, da forma e do material da tubulação, da relação y/do e das características do esgoto. Independente desta gama de influências é usual o emprego de n = 0,013 para esgotos sanitários tendo em consideração que o número de singularidades (PV, TIL, entre outros) independe do material da tubulação, bem como a formação logo após a entrada em uso e da camada de limo junto às paredes. Em climas mais quentes e declividades acentuadas, esta camada de limo pode se tornar menos significativa em relação ao material das paredes, principalmente na parte inferior da seção molhada. Declividade (Io) - Definidas as vazões de projeto (inicial e final) em cada trecho, segue-se a determinação do diâmetro e da declividade. Esta declividade deverá ser de tal modo que, além de garantir as mínimas condições de arraste, deverá ser aquela que implique em menor escavação possível, associada a um diâmetro escolhido de tal maneira que transporte a vazão final de projeto em condições normalizadas, para cálculo de tubulações de esgotamento sanitário. A declividade mínima que satisfaz a condição de tensão trativa =1,0 N/m², g=10 KN/m³ e n = 0,013, pode ser determinada pela equação Io,mín = 0,0055 Qi-0,47 (3.1) Lâmina d'água (y) - As lâminas d’água devem alcançar no máximo 75% do diâmetro do coletor para garantia de condições de escoamento livre e de ventilação. São determinadas admitindo-se o escoamento em regime permanente e uniforme e para a vazão final (Qf), que é a situação de lâmina máxima de projeto. Quando a velocidade final (Vf) for superior à velocidade crítica (Vc), a maior lâmina admissível, segundo a NBR 9649/86, será de 50% do diâmetro. Para tubulação funcionando a 3/4 de seção e do até 300mm, a NBR 9649 recomenda que essa velocidade crítica pode ser calculada pela seguinte expressão Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 20 V = 6*(g*R)1/2 (3.2) 3.3 Cálculo de uma rede de esgoto Para a realização dos cálculos é necessário alguns conhecimento da área que se destina a realização das instalações dos coletores. É necessário, primeiramente, que se conheça a vazão e, para isso, precisamos determinar os seguintes itens: Estudo do crescimento populacional; Consumo de água “per capita” (q); Coeficiente de retorno (C = 0,80); Coeficientes de variação de vazão: Coeficiente do dia de maior contribuição: K1; Coeficiente da hora de maior contribuição: K2. O cálculo das vazões é encontrado através da equação: Q = Qd + Qinf + Qc (3.3) Onde: Q = vazão de esgoto sanitário (L/s) Qd = vazão doméstica (L/s) Qinf = vazão de infiltração (L/s) Qc = vazão concentrada ou singular (L/s) Para determinar a vazão correta para o dimensionamento de cada trecho, chamada contribuição em marcha, é feita uma multiplicação do comprimento do trecho em estudo pela taxa de contribuição linear. A taxa de contribuição linear corresponde a seguinte equação: Txi = K2 Qd,i + Tinf (3.4) Li Onde: Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 21 Li = comprimento de rede de esgoto inicial (m ou km); Tinf = taxa de contribuição de infiltração (L/s.m ou L/s.km). Em seguida é realizada a taxa de contribuição linear para o início do plano: Txf = K1K2 Qd,i + Tinf ( 3.5) Lf Onde: Lf = comprimento de rede de esgoto final (m ou km) Tinf = taxa de contribuição de infiltração (L/s.m ou L/s.km) Existem também as taxas de contribuição para redes duplas, porém não serão abordados neste trabalho. Primeiramente, para a realização do traçado de uma rede de esgoto, é preciso ter acesso a uma planta topográfica da local em questão, e ter as curvas de nível de metro a metro. Ficando atento a algumas profundidades e dimensões, como o passeio tem comprimentos que vão de 2 a 2,5 e as vias podem ter de 3 a 4 m, por exemplo. Sendo que o passeio tem cobertura de 0,65m a via 0,9m, logo, a profundidade mínima da tubulação será dada pela Equação 3.6. A imagem a seguir representa as respectivas indicações. P = a + IL + h + hc ( 3.6) Onde: P = profundidade mínima do coletor público (m) a = distância entre a geratriz inferior interna do coletor público até a geratriz inferior interna do ramal predial (m) I = declividade do ramal predial (m/m) L = distância entre o coletor público e a caixa de inspeção (m) h = desnível entre o leito da via pública e o piso do compartimento a esgotar (m) hc = altura da caixa de inspeção (0,50 m) Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 22 IMAGEM 3.3: Profundidade da rede de coleta. Fonte: www.copasa.com.br/media2/PesquisaEscolar/COPASA_TratamConvencionalEsgoto.pdf A declividade mínima que satisfaz a condição de tensão trativa mínima de 1 Pa e rugosidade (n) de 0,013 é encontrada através da seguinte equação: Imin = 0,0055Qi,max -0,47 (3.7) Onde: Imin = declividade mínima (m/m) Qi,max = vazão inicial máxima (m 3 /s) Já a declividade máxima é aquela em que é preciso manter a velocidade máxima de 5 m/s utilizando também a rugosidade de 0,013. Ela pode ser encontrada pela equação de declividade máxima: Imáx = 4,65Qf -0,67 (3.8) Quando a declividade do terreno é maior do que a declividade mínima e o coletor a montante está com a profundidade ou recobrimento mínimo, utiliza-se a Equação 3.9. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 23 IMAGEM 3.4: Diferença de nível. Fonte: EPUSP I = Zi - Zf (3.9) L Onde: Zi = cota inicial (m) Zf = cota final (m) L = comprimento entreas duas cotas (m) Quando a declividade do terreno é menor do que a declividade mínima e a profundidade a jusante pode ser calculada, é utilizada a seguinte equação: IMAGEM 3.5: Diferença de nível. Fonte: EPUSP I = Imin = (Zi- ri) – (Zf – rf) (3.10) L Onde: Zi = cota inicial (m) Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 24 Zf = cota final (m) L = comprimento entre as duas cotas (m) Para a determinação do diâmetro, é preciso manter a lâmina [Y/D]máx igual a 0,75, como determina a norma, e o diâmetro mínimo necessário deve ser calculado utilizando n = 0,013, através da equação de Manning, mostrada a seguir: D = [0,046(Qf/I 0,5 )] 0,375 (3.11) Onde: D = diâmetro mínino (m) Qf = vazão final (m 3 /s) I = declividade da tubulação (m/m) Depois, deve-se determinar a tensão trativa, que é uma tensão tangencial exercida sobre a parede do condutor pelo fluido escoado. Sua equação é dada por: i = Rhi I 375 (3.12) Onde: i = tensão trativa média (kgf / m2 ) = peso específico do líquido ( = 1000 kgf / m3 ) Rhi = raio hidráulico início de plano (m) I = declividade da tubulação (m/m) Por fim, é preciso encontrar a velocidade crítica, que é dada pela seguinte equação: Vc = 6(gRhf) 0,5 (3.13) Onde: Vc = velocidade crítica (m/s) Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 25 g = aceleração da gravidade (m/s²) Rhf = raio hidráulico final (m) No caso em que a velocidade final do condutor ultrapassar a velocidade crítica, a altura da lâmina d’água deve ser limitada a 50% do diâmetro do coletor, o que permitirá a ventilação adequada do trecho. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 26 4 RESULTADOS É notorio a falta de investimento na área de saneamento básico no Brasil, sendo que, quando falamos em coleta e tratamento de esgoto, percebemos o defict na área. O número de familias que não contam com um sistema de coleta de esgoto é enorme, sendo necessário ressaltar a diferença deste atendimento quando abordamos regiões diferentes. A cidades do sudeste, por exemplo, possuem a coleta do esgoto, enquanto a grande parte das cidades do norte e nordeste apresentam uma realidade bem diferente. Há capitais dessas referidas regiões que apresentam menos de 10% das casas com a correta coleto do esgoto. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 27 5 CONCLUSÕES A partir do estudo realizado sobre as redes coletoras de esgoto, constatou-se a precariedade do sistema. Foi provado, também, que na maioria dos locais que ocorre a coleta do resíduo não acontece o tratamento do material. Ainda falta investimento por parte dos governantes e das autoridades municipais para a execução das instalações e faltam pessoas qualificadas para executar tal serviço. O sistema coletor de esgotos é, sem dúvida, um investimento que propicia uma melhor qualidade de vida para a população em geral. Além de garantir um maior controle sobre a saúde urbana, ele propicia um maior cuidado e uma preservação do meio em que vivemos. Trabalho de Sistema de coleta de Esgoto, Disciplina de Hidráulica UFSJ 28 6 BIBLIOGRAFIA BENEVIDES, C., & RIBEIRO, E. (18 de Março de 2014). Saneamento: Brasil ocupa 112º posição em ranking de 200 países. Acesso em 16 de Dezembro de 2017, disponível em O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/saneamento-brasil-ocupa-112- posicao-em-ranking-de-200-paises-11918085 MACEDO, R. (3 de Maio de 2012). País rico é país com saneamento adequado. Acesso em 16 de Dezembro de 2017, disponível em Estadão: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,pais-rico-e-pais-com-saneamento-adequado- imp-,868042 Metade dos investimentos de saneamento básico no país está nas 100 maiores cidades. (s.d.). Acesso em 16 de Dezembro de 2017, disponível em Tecnologia dos Materiais: http://www.tecnologiademateriais.com.br/portal/noticias/composites/2016/marco/Metad e-dos-investimentos-de-saneamento-basico-no-pais.html Sistema convencional de coleta e tratamento de esgoto. (s.d.). Acesso em 16 de Dezembro de 2017, disponível em COPASA: http://www.copasa.com.br/media2/PesquisaEscolar/COPASA_TratamConvencionalEsg oto.pdf
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