Buscar

Fichamento A Revolução Russa como uma revolução permanente interrompida História Contemporânea 2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS 
FACULDADE DE HISTÓRIA – FH 
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 2 
SEGUNDO ANO – 2018/2 
 
 
 
 
FICHAMENTO – A Revolução Russa como uma revolução permanente 
interrompida 
OBRA – MACIEL, David. “A Revolução Russa como uma revolução 
permanente interrompida” In: PINHEIRO, Milton (Org.). Os cem anos que 
abalaram o mundo: a revolução russa na cena do futuro. São Paulo: ICP, 2017. 
 
 
 
POR 
DYEENMES PROCÓPIO DE CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
GOIÂNIA-GO, 13 de setembro de 2018. 
2 
 
Fichamento - História Contemporânea 2 
Professor: Dr. David Maciel 
Aluno: Dyeenmes Procópio de Carvalho 
OBRA – MACIEL, David. “A Revolução Russa como uma revolução permanente 
interrompida” In: PINHEIRO, Milton (Org.). Os cem anos que abalaram o mundo: 
a revolução russa na cena do futuro. São Paulo: ICP, 2017. 
1)- “Neste trabalho busca-se entender o processo revolucionário russo a partir 
do contraponto entre as tendências estruturais, as tendências de longo prazo da 
sociedade russa, cujo processo de atualização em relação à sociedade 
contemporânea se iniciam na segunda metade do século XIX, e os movimentos 
conjunturais, pontuados por momentos definidores como 1861, 1905, 1917, 1921 
e 1928, capazes de interromper determinadas tendências, inaugurar outras ou 
ainda atualizar outras tantas. Como resultado do jogo entre estrutura e 
conjuntura, entre necessidade e liberdade, ou ainda entre processo e projeto a 
revolução russa sintetiza a contradição entre as tendências estruturais da 
sociedade russa, e mesmo aquelas da dinâmica internacional, e as iniciativas e 
projetos para atualizar seu curso ou mesmo alterá-lo radicalmente.” – Pg. 1. 
2)- “Neste sentido, aqui se procura demonstrar como num país economicamente 
atrasado, dependente e semi-feudal o processo revolucionário oscilou entre a 
revolução passiva, ou seja, a mudança controlada de cima, onde a atualização 
da ordem vigente é o critério definidor da ação e da reação dos sujeitos 
históricos, e a revolução permanente, onde o protagonismo pertence às classes 
subalternas e o processo de solapamento da ordem é um imperativo, tornando 
o processo social altamente fluído e fazendo com que as fases do processo 
histórico sejam condensadas e superadas num movimento ininterrupto de 
mudanças até que a transição ao comunismo se estabeleça e concretize’ – Pg. 
1. 
 
3)- “No entanto, diante de um cenário internacional adverso e das enormes 
dificuldades internas os bolcheviques não conseguiram levar às últimas 
consequências sua opção pelos soviets e pelo protagonismo das massas 
3 
 
trabalhadoras, optando pelo resgate dos métodos autocráticos e do dirigismo 
econômico estatal para superar os obstáculos e salvar a nova ordem política e 
social [...]” – Pg. 2. 
 
1- Uma revolução passiva falhada e incompleta (1861-1917) 
1)- “Apesar de compor o pequeno grupo das cinco potências do concerto 
europeu, até meados do século XIX a Rússia ainda era uma sociedade baseada 
na servidão feudal, com um Estado absolutista sustentado por uma aristocracia 
reacionária e por uma burguesia extremamente débil em termos políticos” – Pg. 
2. 
 
2)- “Desse modo, enquanto na Europa Ocidental a aristocracia perde força 
política e econômica diante das outras classes, principalmente da burguesia, 
mas também do movimento popular ascendente, tendo que conviver com um 
processo de alteração do aparelho de Estado no sentido do seu 
“aburguesamento” e com a desagregação parcial ou total da servidão; na Rússia 
a aristocracia feudal reforça sua dominação como nunca, fundindo-se com o 
Estado e intensificando a exploração feudal [...]” – Pg. 3. 
 
3)- “No entanto, o atraso político e econômico russo em relação à Europa 
Ocidental começou a cobrar seu preço, manifesto dramaticamente na derrota 
para a Inglaterra e a França na Guerra da Criméia (1856) e no aumento 
vertiginoso do descontentamento camponês com o aumento da opressão feudal 
e o “cercamento” das terras pela aristocracia. Entre as décadas de 1820 e 1860 
do século XIX a agitação no campo decuplica, com o aumento exponencial das 
sabotagens, pilhagens, assassinatos de nobres e funcionários do Estado e 
insurreições locais (NÉRÉ, 1991, p. 281; WOLF, 1984, p. 77). Tais fatores 
levaram a monarquia czarista a desenvolver um esforço de atualização da 
economia, da sociedade e da estrutura política, desencadeando assim um 
movimento de revolução passiva no império” – Pg. 3. 
 
4 
 
4)- “O primeiro passo neste sentido se deu com a abolição da servidão feudal, 
em 1861. Decretada pelo czar Alexandre II, a abolição da servidão tornou os 
camponeses homens livres, permitindo-lhes a compra da terra, porém não os 
livrou de diversos condicionantes, nem de um conjunto de obrigações típicas da 
servidão. Em primeiro lugar, as terras disponibilizadas eram menores do que 
aquelas que eles tradicionalmente poderiam utilizar por meio do direito de uso, 
portanto, expropriando-os, reduzindo seu acesso à terra e aumentando as terras 
sob controle absoluto da aristocracia. Em segundo lugar, a maior parte das terras 
seria comprada sob a mediação das comunas rurais, o mir, ou seja, as comunas 
adquiririam as terras e as distribuiriam entre os camponeses periodicamente de 
acordo com critérios como número de homens na família, totalidade dos 
membros da família e/ou capacidade de investimento; a propriedade individual 
absoluta sobre a terra só se generalizaria bem mais tarde. Em terceiro lugar, os 
nobres deveriam ser indenizados pela cessão das terras, com o pagamento de 
parcelas pelos camponeses por 49 anos, quando então teriam o direito à 
propriedade absoluta de seus lotes. Como a maior parte das indenizações foi 
adiantada pelo Estado à aristocracia, os camponeses passaram a dever as 
indenizações ao Estado, cobradas na forma de impostos. Enquanto as 
indenizações não fossem quitadas os camponeses só teriam acesso mediante 
vínculo com a comuna rural ou algum grupo doméstico, que se responsabilizava 
pelo pagamento do imposto e pela redistribuição periódica das terras. Mais uma 
vez a comuna aparece como instância mediadora do acesso à terra pelos 
camponeses, pois na maior parte dos casos as parcelas eram pagas 
coletivamente, em nome da comunidade. Em termos gerais, os camponeses 
passaram a ter direito à pouco mais do que 30% das terras, área menor do que 
à que tinham acesso antes pelo direito de uso feudal, enquanto a aristocracia 
passou a deter diretamente 24%” – Pg. 4 
5)- “Portanto, a abolição da servidão não aboliu o feudalismo totalmente porque 
transformou a corvéia em formas variadas de exações feudais adiantadas pelo 
Estado à aristocracia e cobradas por este dos camponeses. Também manteve 
a preponderância aristocrática no controle da terra, métodos de produção 
tradicionais e a solidariedade camponesa em torno da comuna rural, o que a 
fortaleceu como instrumento de resistência camponesa [...]” – Pg. 5. 
5 
 
 
6)- “Na prática, a abolição da servidão “contornou” o entrave que o feudalismo 
representava ao desenvolvimento econômico, pois nem criou as condições para 
a aristocracia aderir à agricultura mercantil, como na “via prussiana”, mesmo que 
concentrando a terra em suas mãos e preservando certos privilégios; nem 
promoveu um processo de democratização do acesso à terra, como na “via 
americana”, de acordo com os conceitos de Lênin [...]” – Pg. 5. 
7)- “[...]Na verdade, o decreto do fim da servidão procurou isentar a aristocracia 
de qualquer perspectiva de partilha das terras, desviando a “fome de terras” dos 
camponeses para as terras a que eles já tinham acesso pelo antigo direito de 
uso,desencadeando uma disputa intercamponesa pela terra [...]” – Pg. 5. 
 
8)- “[...] As comunas rurais, mir, passaram a ter uma importância econômica e 
uma força política ainda maior, porque passaram a administrar a carência de 
terras entre os camponeses, por meio de redistribuições periódicas, em muitos 
lugares favorecendo os kulaks, isentando o Estado e a aristocracia da 
responsabilidade política por este problema social.” – Pg 6. 
 
9)- “[...]Por isto, em termos econômicos a maior parte da aristocracia continuou 
vivendo dos rendimentos obtidos pelas exações arrancadas dos camponeses, 
pelo aluguel da terra, pela venda de terras e/ou das sinecuras estatais, num 
processo de redução das áreas agrícolas sob controle aristocrático e de 
endividamento que se prolongou pelas décadas seguintes. Em outras palavras, 
a aristocracia russa não era a aristocracia alemã. Esta contradição evidencia os 
limites do projeto de modernização da agricultura russa, tornando a transição à 
agricultura mercantil bastante lenta e oscilante nos primeiros anos após a 
abolição da servidão. Em 1917, a economia agrária russa ainda era 
predominantemente feudal” – Pg. 6. 
 
10)- “Também fazem parte das reformas conduzidas por Alexandre II a 
introdução de algumas mudanças políticas e militares, visando racionalizar o 
6 
 
aparato militar e administrativo e promover alguma descentralização política [...]” 
– Pg. 6. 
 
11)- “Porém apesar destes limites, a “Era das Reformas” iniciada em 1861 
favoreceu a transição para o capitalismo na economia russa, permitindo o 
avanço das relações de produção e propriedade capitalistas no campo, 
principalmente no sul, com o crescimento das relações assalariadas e da 
propriedade individual sobre a propriedade comunal. Também fortaleceu os 
kulaks, camponeses ricos que possuíam maiores terras e tornaram-se capazes 
de explorar o trabalho de outros camponeses; além dos investimentos dos 
capitalistas urbanos no campo, com a compra de terras da aristocracia por 
comerciantes, banqueiros e industriais, e o crescimento vertiginoso da 
agricultura de exportação. Entre as décadas de 1850 e 1890 a exportação de 
cereais se multiplica por seis [...]” – Pg. 7. 
 
12)- “[...] A grande indústria russa já nasce altamente concentrada, tanto em 
termos econômicos, quanto em termos geográficos, “pulando” o processo de 
concentração e centralização progressiva ocorrido em outros países, 
principalmente como consequência das crises cíclicas do capitalismo” – Pg. 8. 
 
13)- “O caráter absolutista do Estado russo fez com que predominasse uma 
perspectiva estatista em que as indústrias eram financiadas pelo Estado ou eram 
de sua propriedade direta. A contraparte deste estatismo era o endividamento 
externo, a busca por dividendos obtidos por meio das exportações agrícolas e o 
arrocho fiscal imposto sobre o campesinato. Daí a relação ao mesmo tempo 
contraditória e complementar entre a estrutura semi-feudal da agricultura e o 
capitalismo nascente na indústria e nas cidades [...]” – Pg. 8. 
 
14)- “Paralelamente, o capital externo também contribui poderosamente para o 
avanço industrial na Rússia, particularmente o capital francês, que responde por 
um terço do total das inversões externas. Mais uma vez a trajetória da indústria 
7 
 
está vinculada à questão militar, pois a primazia francesa se deve 
fundamentalmente à aliança militar franco-russa, estabelecida em 1892 após o 
colapso definitivo da aliança dos três imperadores (Rússia, Áustria e Prússia). 
Assim, o capitalismo russo, que se torna predominante na formação social russa 
no final do século XIX, tinha no Estado e no capital externo seus principais 
agentes, revelando uma burguesia nativa economicamente fraca e politicamente 
omissa [...]” – Pg. 8. 
 
15)- “Neste sentido, a abolição da servidão não só não resolveu os problemas 
do campesinato, como os agravou, na medida em que além do baixo nível 
técnico, dos altos encargos devidos ao Estado e aos nobres e da extrema 
pobreza, há um grande crescimento demográfico no campo, com a população 
rural aumentando em mais de 60% entre a década de 1860 e o final do século, 
tornando a “fome de terras” ainda mais aguda. Isto porque em muitos lugares o 
critério fundamental para o acesso à terra era o numero de membros da família 
camponesa, daí o aumento populacional, acirrando ainda mais a disputa 
intercamponesa pela terra. O governo czarista percebeu a gravidade da situação 
no campo e tentou atenuá-la, reduzindo as anuidades a serem pagas e criando 
um banco para financiar o resgate das terras pelos camponeses e outro para 
que a aristocracia financiasse suas dívidas sem que precisasse vender suas 
terras. No entanto, tais medidas não arrefeceram a crise agrária, nem o ódio 
camponês pela aristocracia e pelo czarismo. Ao mesmo tempo em que se deu o 
auge das exportações de cereais a década de 1890 foi marcada pela “grande 
fome” no campo, revelando uma situação social explosiva [...]” – Pg. 9. 
 
16)- “Após a Revolução de 1905, que abalou o czarismo, mas não foi capaz de 
derrubá-lo, o governo adotou um conjunto de novas reformas, com vistas a 
desarmar a “bomba relógio” no campo e favorecer o avanço definitivo do 
capitalismo na agricultura. As reformas de Stolypin (1906-1911), verdadeira 
política de “cercamentos” no campo russo, estimularam a desintegração da 
comuna com o avanço da propriedade absoluta e hereditária da terra e a 
colonização da Sibéria. Daí em diante os camponeses poderiam adquirir 
8 
 
individualmente a terra, sem a mediação da comuna rural e a ameaça de 
redistribuições periódicas, além de poderem concentrar suas posses numa única 
área contígua, superando o sistema de lotes parcelados em áreas distintas. O 
objetivo era fortalecer a classe dos kulaks, que serviriam como base de massa 
de apoio à aristocracia e ao governo no campo. Enquanto isto, a aristocracia 
manteve sua postura reticente diante desta perspectiva conservadora de 
modernização no campo, agarrando-se ainda mais ao seu tradicional 
parasitismo econômico [...]” – Pg. 9-10. 
 
17)- “Resulta daí uma revolução passiva burguesa “falhada”, quando comparada 
com outros processos como os casos alemão ou italiano, que criou uma 
formação social compósita, sob predomínio capitalista na economia urbana e 
industrial e em parte da agricultura, porém com sobrevivências feudais 
importantes no campo, emperrando o pleno desenvolvimento de um mercado 
consumidor interno e do próprio capitalismo agrário. Esta combinação criou um 
capitalismo francamente dependente do estatismo e do capital externo, com uma 
burguesia débil politicamente e um Estado feudal-absolutista dominado política 
e burocraticamente pela aristocracia e que preservou sua integridade, 
mantendo-se imune às formas políticas burguesas representadas pelo 
constitucionalismo e pelo parlamentarismo. A força do absolutismo russo se 
revela não só no controle “mercantilista” do Estado sobre a economia industrial, 
mas na própria relação deste com o nascente movimento operário, tratado por 
meio de uma combinação de repressão pura e simples com infiltração das 
direções sindicais pela polícia. Neste sentido as tendências sócio-econômicas 
desencadeadas pela “Era das Reformas” e pelo processo de transição ao 
capitalismo na Rússia foram a forte presença estatal na economia industrial; o 
fortalecimento da propriedade privada no campo, particularmente da propriedade 
dos kulaks, e o desenvolvimento de uma sociedade civil estatizada, como no 
caso da Igreja e da escola, ou controlada de perto pelo Estado, como no caso 
dos sindicatos.[...]” – Pg. 10. 
 
9 
 
18)- “O tempo histórico em que sedá a transição para o capitalismo na Rússia, 
final do século XIX e início do XX, e suas relações com o capital externo, ajudam 
a explicar por que as reformas não serviram para fundamentar a transformação 
capitalista do Estado russo, mas para reforçar seu caráter feudal-absolutista. Isto 
porque os influxos do imperialismo permitiram que a transição para o capitalismo 
se desenvolvesse sem que a estrutura do Estado precisasse ser quebrada; daí 
a criação de uma formação social desigual e combinada em escala não vista 
antes. O aporte tecnológico e de recursos disponibilizado pela capital externo 
permitiu que a indústria russa “queimasse etapas”, atingindo altos níveis de 
concentração e capacidade produtiva sem que tivesse que passar por um 
processo de evolução lenta e gradual desde o artesanato e a manufatura, até a 
maquinofatura, nem que dependesse de um vigoroso processo de acumulação 
primitiva [...]” – Pg. 11. 
 
19)- “Por isto, em princípio a revolução passiva russa, ou revolução-restauração, 
reproduz em suas linhas gerais o padrão teórico analisado por Gramsci nos 
casos em que ocorre uma transição para o capitalismo e o Estado burguês nos 
países em que não ocorreu uma revolução burguesa clássica. Esta transição se 
dá por meio de um processo de “modificações moleculares, que, na realidade, 
modificam progressivamente a composição anterior das forças e, portanto, 
transformam-se em matriz de novas modificações”, conforme definição lapidar 
de Gramsci (2002, p. 317), dirigido pela classe dominante e pelo Estado a partir 
de cima com vistas ao esvaziamento da perspectiva revolucionária e à 
atualização da estrutura econômico-social e da estrutura política, promovendo 
mudanças revolucionárias ao mesmo tempo em que restauram elementos 
fundamentais da velha ordem, repondo-os em novas bases” – Pg. 11-12. 
 
20)- “Porém, o caso russo guarda peculiaridades que o afastam bastante do caso 
clássico da revolução passiva, particularmente daquele representado pela 
Alemanha e, em menor grau, pela Itália. Em primeiro lugar, salta aos olhos a 
fraqueza da burguesia russa não só do ponto de vista político, mas também do 
ponto de vista econômico. O desenvolvimento industrial foi muito mais fruto da 
10 
 
ação do Estado e do capital externo do que propriamente da burguesia russa. 
Ao contrário da burguesia alemã, que consegue impor a livre circulação de 
mercadorias e mão de obra no interior da federação alemã antes mesmo do 
abalo de 1848 e se torna a principal credora do Estado prussiano, além de 
conquistar espaço político no Parlamento e em instâncias de poder locais, a 
burguesia russa só consegue a liberdade de movimentação da mão de obra 
muito tardiamente e ainda assim de maneira parcial [...]” – Pg. 12. 
 
21)- “Em segundo lugar, a aristocracia buscou se contrapor ao anacronismo e à 
crise da ordem econômica e social feudal reforçando seus laços com a 
autocracia, suas posições no interior do Estado como burocracia e seu 
“parasitismo” econômico, ao invés de aderir maciçamente à agricultura mercantil 
e à perspectiva empresarial. Ou seja, à crise da ordem social feudal e do 
absolutismo a aristocracia russa reagiu defensivamente, restaurando seus 
privilégios econômicos e reforçando suas posições tradicionais, não buscando 
dar a direção do processo de mudanças. Neste sentido, os setores reformistas 
da burocracia que dirigiram a revolução passiva falhada na Rússia, não só 
careceram do apoio da classe dominante fundamental, mas sofreram dela dose 
considerável de resistência, como se evidencia na ineficácia do banco estatal 
para financiar sua adesão à agricultura mercantil” – Pg. 13. 
 
22)- “Em terceiro lugar, a autocracia czarista e a burguesia russa nunca foram 
capazes de desenvolver um movimento transformista bem sucedido em favor de 
sua perspectiva de revolução passiva sobre seus adversários. As tentativas de 
transformar a comuna rural num bastião em defesa do czarismo fracassaram 
completamente, como evidenciam seu papel nos levantes camponeses e na 
defesa dos seus interesses contra o Estado e a aristocracia. A força dos 
“populistas russos”, narodnikis, e depois do partido socialista revolucionário no 
campo também é outra evidencia importante da hostilidade do campesinato 
diante da autocracia czarista. Em relação ao movimento operário o fracasso é 
ainda maior, pois tanto a social-democracia, quanto o anarquismo sempre 
vislumbraram a perspectiva revolucionária [...]” – Pg. 13. 
11 
 
 
2- Uma revolução permanente em processo: da irrupção à paralisia (1917-
1928) 
 
1)- “Ao contrário do que se dá nas revoluções passivas bem sucedidas, a 
revolução passiva russa não só não afastou a ameaça da revolução social, como 
a tornou mais necessária à medida que as contradições devidas ao caráter 
compósito de sua formação social se acirravam. A Revolução de 1905 abriu uma 
era de revolução social, evidenciando tanto a necessidade histórica da 
revolução, quanto a incapacidade orgânica do czarismo de anulá-la em favor da 
perspectiva passiva por meio de um movimento de cooptação das forças 
revolucionárias. Com o refluxo da revolução as pequenas modificações 
promovidas na estrutura política foram rápida e decididamente anuladas, 
restaurando o czarismo em sua inteireza sob a capa de uma monarquia 
semiconstitucional, enquanto o avanço do capitalismo foi acelerado com as 
reformas de Stolypin” – Pg. 13-14. 
 
2)- “Como se sabe, a perspectiva da revolução permanente foi desenvolvida por 
Marx e Engels no âmbito da Revolução de 1848-49 na então Alemanha, a partir 
da análise da experiência histórica da Revolução Francesa (1789-1799). Para 
eles a revolução em permanência se colocava como uma necessidade histórica 
num país ainda predominantemente feudal, dividido em diversas entidades 
políticas, governado por príncipes absolutistas e bastante atrasado em termos 
econômicos e sociais. Em sua perspectiva a classe operária deveria compor o 
bloco de forças antiabsolutistas liderado pela burguesia e apoiar a revolução 
democrático-burguesa, sem, no entanto, perder sua autonomia politico-
ideológica e organizativa. Após a derrubada do feudal-absolutismo e a criação 
de uma república democrática unificada na Alemanha a classe operária deveria 
apoiar resolutamente a luta da pequena burguesia contra a burguesia, fazendo 
a revolução avançar numa perspectiva mais popular e democrática, até o 
momento em que esta tomaria o poder. A partir daí a classe operária deveria 
pressionar o máximo possível a pequena burguesia e seu governo no sentido da 
12 
 
adoção de medidas socializantes, conquistar instâncias de poder 
exclusivamente operárias e avançar em sua organização política e militar com 
vistas à sua constituição como classe dominante” – Pg. 15. 
 
3)- “Uma revolução permanente na Rússia era a aposta de Trotsky desde 1906, 
quando, avaliando a experiência da Revolução de 1905 e a própria história da 
Rússia, conclui pela impossibilidade de uma revolução burguesa que não fosse 
dirigida pela classe operária e conduzida por um governo operário, pois a 
burguesia russa era demasiado débil politicamente para operar tal tarefa 
histórica. Conclui ainda pela impossibilidade da classe operária no poder se 
limitar a realizar uma revolução burguesa, devendo concatená-la com as tarefas 
de uma revolução socialista, sob o risco de tornar o seu poder provisório e ser 
vítima de uma reação implacável [...]” – Pg. 16. 
 
4)- “A revolução permanente também se tornou a aposta de Lênin mais tarde, 
quando a partir da eclosão da Primeira Guerra Mundial passa a conceber a 
possibilidade da guerra patriótica se transformar numa guerra civil, abrindocaminho para uma revolução de caráter mundial que estouraria primeiramente 
no elo mais fraco da cadeia imperialista, a Rússia. Conseqüentemente, ao 
retornar do exílio Lênin propõe todo o poder aos soviets e a criação de um 
governo operário-camponês que realizaria as tarefas burguesas e proletárias da 
revolução sob a mediação da nacionalização/estatização das grandes empresas 
e da criação de um capitalismo de Estado como ante-sala do socialismo. Na 
prática, a concatenação entre revolução burguesa e revolução socialista se deu 
paulatinamente ao longo de 1917 e consumou-se em outubro com a tomada do 
poder pelos bolcheviques” – Pg. 16-17. 
 
5)- “[...] A participação dos partidos de esquerda no governo não alterou este 
cenário, tornando a insurreição liderada pelos bolcheviques em outubro uma 
necessidade para salvar a revolução. A própria história dos sucessivos governos 
provisórios entre fevereiro e outubro expressa de modo acelerado a dinâmica 
13 
 
clássica da revolução permanente, evoluindo de uma revolução política para 
uma revolução social quando no interior do bloco revolucionário a burguesia vai 
sendo deslocada pela pequena burguesia e posteriormente esta é deslocada 
pelo proletariado. De um governo formado exclusivamente pelos liberais 
(burguesia e aristocratas “esclarecidos”), preocupado fundamentalmente em 
normalizar a vida social diante da radicalização popular, a situação política evolui 
em maio para a montagem de um governo de coalizão com os socialistas 
moderados, que assumem sua direção política em julho, quando os liberais 
abandonam o governo. No entanto, o fracasso da nova ofensiva militar 
desencadeada em junho, somada à intensificação das greves e ocupações de 
terras curtocircuita a perspectiva burguesa do governo socialista abrindo 
caminho para a radicalização política e a superação do impasse [...]” – Pg. 17. 
 
6)- “O dínamo por trás desta escalada em direção à revolução socialista é a 
contradição entre a inércia do governo provisório acerca do atendimento das 
demandas da Revolução de Fevereiro e o avanço político e ideológico dos 
trabalhadores e soldados. No início do processo revolucionário os operários 
defendiam a convocação de uma assembléia constituinte, a criação de uma 
republica democrática, melhorias salariais e a implantação de direitos 
trabalhistas; os camponeses defendiam que a terra fosse dada a quem nela 
trabalhasse e os soldados pediam um tratamento disciplinar mais humano com 
o fim dos castigos físicos, indenização aos feridos e mutilados e abono às 
famílias dos soldados (idem, p. 41-43). No entanto, a partir de maio, com a crise 
do governo Miliukov e o lockout da burguesia, há uma retomada das greves e 
um processo de ocupação das fábricas e de estabelecimento de sua gestão 
pelos soviets e comissões de fábrica. Enquanto isto, os camponeses passam a 
ocupar as terras abandonadas ou improdutivas e se apropriar do gado e dos 
equipamentos agrícolas e os soldados passam a defender o fim da guerra e o 
estabelecimento da democracia soviética no Exército e na Marinha, com a 
escolha dos comandantes pelos soldados e o controle das tropas pelos soviets 
[...]” – Pg. 17-18 
 
14 
 
7)- “É em reação a isto e à incapacidade do governo provisório de estancar a 
radicalização popular que o general Kornilov tenta tomar o poder e instituir uma 
ditadura militar. Portanto, de um lado a contra-revolução levanta a cabeça, com 
a tentativa de golpe do general Kornilov; de outro lado os bolcheviques avançam, 
conquistando posições nos soviets, sindicatos e comitês de fábrica e habilitando-
se à tomada do poder, como em julho. Após o fracasso do golpe de Kornilov, em 
grande medida graças à mobilização bolchevique, o governo provisório não 
dirige mais o processo revolucionário. Criam-se as condições para a dualidade 
de poderes com o soviet de Petrogrado e a insurreição de Outubro. Ao contrário 
da revolução alemã de 1848, vivida e teorizada por Marx e Engels, interrompida 
com a derrota da pequena burguesia diante da recomposição da burguesia com 
as forças feudal-absolutistas, no processo revolucionário russo a revolução em 
permanência se acelera nos planos político e social, com a classe operária 
assumindo a direção do processo revolucionário e o governo através dos soviets 
e do partido bolchevique” – Pg. 18. 
 
8)- “A Revolução de Outubro se configura como uma revolução socialista não só 
porque institucionaliza politicamente e amplia o processo de ocupação das 
fábricas e das terras pelos trabalhadores, que já ocorria desde a queda do czar, 
e o controle operário da produção; mas também porque cria um governo 
baseado nos soviets, órgãos de democracia direta dos trabalhadores, implodindo 
de vez o sistema político representativo criado em fevereiro e o calendário 
político por ele definido, como a assembléia constituinte [...]” – Pg. 18-19. 
9)- “[...] Mas a Revolução de Outubro também se configura como uma revolução 
democrático-burguesa, na medida em que rompe com a grande propriedade da 
aristocracia e da burguesia no campo, referendando e legalizando o processo de 
ocupação das terras pelos camponeses. Este processo de ocupação camponesa 
das terras se dá de forma combinada, pois são as comunas rurais e cooperativas 
que organizam a distribuição das terras, prevalecendo a perspectiva da pequena 
propriedade individual” – Pg. 19 
 
15 
 
10)- “[...]O controle operário das empresas conviveu com grandes dificuldades 
devido à inexperiência administrativa dos trabalhadores, à falta de articulação 
entre as empresas socializadas, à resistência e sabotagem de patrões e 
gerentes, à escassez de matérias primas. Em muitos casos a produção industrial 
era interrompida logo que o estoque de matérias primas era consumido, mas não 
reposto. Além disso, o comércio reduziu-se em grande parte às trocas naturais, 
abrindo caminho para o mercado negro e a especulação, enquanto a maior parte 
da produção agrícola retrocedia para a mera produção de subsistência dos 
camponeses, rompendo a unidade econômica entre e campo e cidade [...]” – Pg. 
19. 
 
11)- “[...]O processo de desorganização no abastecimento e na distribuição dos 
bens favoreceu o comércio clandestino e a ação de especuladores, os chamados 
“caixeiros-viajantes”, que enriqueciam diante da situação de caos. Isto afetou 
diretamente o abastecimento das cidades e do Exército Vermelho, motivando 
medidas centralizadoras e o choque entre a perspectiva do controle social e 
aquela do controle estatal [...]” – Pg. 20. 
 
12)- “[...] No entanto, a perspectiva socialista presente nas formas de controle 
operário da produção, de controle camponês da distribuição das terras e na 
nacionalização da propriedade convivem contraditoriamente com duas 
perspectivas burguesas. De um lado a perspectiva do capitalismo de Estado, 
presente no estatismo representado pelo dirigismo administrativo, que submeteu 
paulatinamente o controle operário à gestão individual dos gerentes indicados 
pelo governo; pela centralização decisória, cada vez mais intensa no âmbito do 
partido e do governo; pelo esvaziamento dos soviets como instâncias efetivas de 
poder, pela submissão dos comitês de fábrica aos sindicatos e destes ao 
governo e pelo privilegiamento dos “especialistas” no plano da gestão econômica 
e do comando militar, aprofundando a divisão social do trabalho, a diferenciação 
salarial e favorecendo a adesão de segmentos burgueses e burocráticos 
identificados com a velha ordem ao partido e ao novo regime. De outro lado, a 
perspectiva privatista pequeno-burguesa, representada pela propriedade 
16 
 
individual camponesa e artesanal, que garantiu o apoio camponêsao governo 
bolchevique e a manutenção da aliança operário-camponesa, particularmente 
diante da ameaça da restauração aristocrático-burguesa representada pelos 
Exércitos Brancos, mas ao preço de tornar o campo russo ainda mais 
impermeável à perspectiva socialista. Ora, na medida em que a revolução 
mundial era derrotada e deslocada do horizonte político, permitindo a salvação 
do sistema imperialista e abortando a perspectiva de auxilio externo por parte de 
uma revolução socialista vitoriosa num país desenvolvido; em que o atraso 
econômico-social mostrou-se mais sólido e renitente que o ideário da mudança 
social e cultural, cobrando um preço econômico gigantesco; em que o cerco 
internacional e a guerra civil impunham uma situação dramática, dizimando física 
e socialmente a classe operária russa e forçando a criação de uma economia de 
guerra, prevalecem sobre a perspectiva socialista a composição com as forças 
sociais da velha ordem, o privatismo e as tendências centralizadoras e 
burocráticas, esvaziando o horizonte socialista da revolução. Neste aspecto 
desagrega-se uma das condições para o êxito da revolução permanente na ótica 
de Marx e Engels, qual seja a autonomia política, ideológica e organizativa do 
proletariado e sua transformação em classe dominante, processo iniciado em 
1905, reforçado em 1917 e agora contra-restado pelo estatismo e pelo 
centralismo decisório [...]” – Pg. 21. 
 
13)- “A NEP (1921-1927) restaura em parte as tendências históricas 
desencadeadas durante a revolução passiva burguesa, porém sob poder 
bolchevique, manifestas no estatismo, no privatismo e no kulakismo. O estatismo 
expresso na propriedade estatal das grandes empresas e no controle estatal 
sobre a economia privada; o privatismo expresso nas concessões à economia 
privada e no restabelecimento das relações de mercado; e o kulakismo no 
estímulo à propriedade privada no campo e à produção para o mercado, que 
beneficiou prioritariamente os camponeses ricos, kulaks. Assim, durante a NEP 
a perspectiva socialista é afastada, mesmo que intencionalmente de maneira 
provisória, em nome da manutenção da aliança operário-camponesa que 
garantiu a Revolução de Outubro e a vitoria na Guerra Civil” – Pg. 22. 
 
17 
 
14)- “[...] Paralelamente o controle operário da produção era definitivamente 
enterrado, na medida em que a tendência a entregar a gestão das empresas 
para os “Gerentes Vermelhos”, recrutados entre os antigos gerentes e 
proprietários das indústrias, se consolidou, conferindo-lhes uma série de 
privilégios, salários diferenciados e permitindo-lhes a adoção de métodos 
administrativos despóticos. Se a proposta de militarização dos sindicatos foi 
rejeitada, por outro lado os mesmos passaram a ser considerados órgãos 
auxiliares do Estado, com a função de estimular o aumento da produtividade e a 
disciplina no trabalho, paralelamente à sua condição de órgão de defesa dos 
interesses dos trabalhadores. O descontentamento operário não se fez esperar, 
com a ocorrência de diversas greves e a denúncia por parte de diversos setores 
de que o governo bolchevique traía a perspectiva socialista da revolução [...]” – 
Pg. 23. 
 
15)- “Assim, ao restabelecer o avanço da iniciativa privada, mesmo que sob 
controle estatal, atraindo investimentos de capitalistas nacionais e estrangeiros, 
os nepmen; fortalecer os kulaks no campo, apesar da manutenção da comuna 
rural, e restabelecer o livre-mercado, o governo bolchevique solapou o controle 
operário e o papel político dos soviets, base política para qualquer perspectiva 
socialista efetiva. É fato que no campo o controle de parte das terras pela 
comuna rural e pelas cooperativas camponesas continuou, mas o setor mais 
dinâmico da agricultura era claramente baseado na grande propriedade 
camponesa e no enriquecimento dos kulaks [...]” – Pg. 24. 
 
3- Uma revolução passiva burocrática (1928-1941) 
1)- “A partir de 1925 o debate sobre os rumos da NEP se instala, 
fundamentalmente por conta das preocupações de alguns setores do partido 
com as dificuldades de desenvolvimento da indústria de bens de capital e dos 
novos problemas com o abastecimento nas cidades. A liberação das práticas de 
mercado e a abertura à propriedade privada na indústria beneficiaram 
fundamentalmente o setor de bens de consumo, mantendo o setor de bens de 
capital, sob predomínio da propriedade estatal, carente de recursos, tecnologia 
18 
 
e mesmo maquinário, apesar do grande avanço em termos de concentração e 
centralização econômica. A retomada do desenvolvimento econômico e o 
avanço tecnológico nos países capitalistas tornaram-se fonte de preocupação 
ante a possibilidade de um novo ataque militar, particularmente na conjuntura de 
rompimento diplomático com a Inglaterra (1927) e isolamento internacional da 
URSS [...]” – Pg. 24-25. 
 
2)- “Em função da proposta da industrialização acelerada, que tem como eixo 
fundamental o apoio integral à indústria de bens de capital, e de guerra aos 
kulaks e à iniciativa privada no campo, o governo passa a instituir a planificação 
econômica, com a definição de prioridades, fontes de financiamento e metas de 
produção e distribuição. O Primeiro Plano Qüinqüenal é aprovado em maio de 
1929. Toda a economia passa a girar em torno da priorização maciça da indústria 
de bens de capital (metalurgia, siderurgia, eletricidade, maquinário), da indústria 
bélica (aeronáutica, tanques, armas, além da indústria química) e dos setores de 
infra-estrutura e transportes (auto-estradas, ferrovias, automóveis, caminhões e 
tratores). Entre 1928 e 1940 enquanto a porcentagem de bens de consumo cai 
de mais de dois terços da produção total para menos de um quinto, a produção 
de bens de produção sobe de pouco menos de um terço para mais de 60%, 
evidenciando não só a prioridade dada à indústria pesada, mas o próprio 
processo de depressão do consumo das classes trabalhadoras” – Pg. 25-26. 
 
3)- “Além do autofinanciamento pelas próprias indústrias, outras fontes de 
financiamento definidas pelo plano eram o imposto de renda, o imposto sobre a 
agricultura, o imposto sobre o consumo (este equivalendo a nada menos que um 
terço de toda a carga tributária) e o imposto sobre os setores privados ainda 
remanescentes. Portanto, não apenas os camponeses financiaram a 
industrialização acelerada, mas como vimos acima principalmente a própria 
classe operária, cujo crescimento demográfico se amplifica rapidamente após o 
fim da guerra civil, com a própria industrialização e com o êxodo rural criado no 
campo pela política de coletivização forçada. Se entre 1928 e 1940 calcula-se 
uma redução de mais de 10 milhões de habitantes na tendência de evolução 
19 
 
demográfica do país, no mesmo período a população urbana cresce de menos 
de um quinto para um quarto da população total, enquanto o operariado industrial 
quase triplica (idem, p. 45). Com a planificação ocorre o controle político da 
distribuição dos produtos e dos preços em geral, além do avanço acelerado da 
estatização das empresas, principalmente nas grandes empresas, com a 
propriedade privada tornando-se cada vez mais restrita e limitada às pequenas 
indústrias até o seu desaparecimento [...]” – Pg. 26. 
 
4)- “A combinação entre industrialização acelerada e “coletivização” forçada do 
campo modifica drasticamente a paisagem social da URSS na década de 1930, 
com o crescimento vertiginoso da população urbana, particularmente do 
operariado industrial, graças em grande parte ao êxodo rural, ao mesmo tempo 
em que há uma redução significativa na população geral do país. Esta situação 
permitia aos trabalhadores do campo e da cidade buscarem melhores condiçõesde vida e trabalho, no entanto, gerava uma situação de instabilidade social que 
o governo procurou conter restabelecendo a antiga política czarista de 
passaportes internos e registro compulsório na polícia, aliada à uma legislação 
repressiva que proibia a mudança de emprego e a falta ao trabalho” – Pg. 27. 
 
5)- “Na configuração da nova ordem política destacam-se o centralismo 
burocrático, que estabeleceu o esvaziamento definitivo das instâncias 
independentes e autônomas de organização dos trabalhadores, como os soviets 
e sindicatos; o controle da sociedade civil, que cresceu e se ampliou, mas voltou 
a ser rigidamente controlada pelo Estado; e uma ideologia legitimadora baseada 
no culto à personalidade, no nacionalismo russo travestido de teoria do 
“socialismo num só país” e na transformação do materialismo histórico numa 
ideologia estatolatra denominada “marxismo-leninismo”, que passou a justificar 
com ares de cientificidade e inevitabilidade histórica a realpolitik do Estado 
soviético. Assim, o stalinismo reviveu sob o manto do socialismo as tradições e 
práticas autocráticas do czarismo russo [...]” – Pg. 28. 
 
20 
 
6)- “A revolução passiva burocrática (1928) identificada com o stalinismo e 
desencadeada a partir da industrialização acelerada, da “coletivização forçada” 
no campo e da planificação estatal, significou a vitória definitiva do estatismo 
sobre o privatismo e o kulakismo com o reforço da antiga autonomia burocrática 
sobre a sociedade e o dirigismo estatal sobre toda a economia. Neste sentido, o 
Estado voltou a ser “tudo” e a sociedade civil “primitiva e gelatinosa”, pois se a 
revolução passiva burocrática significou uma revolução em relação à perspectiva 
privatista burguesa ao mesmo tempo significou uma contra-revolução em 
relação à perspectiva proletária e socialista” – Pg. 28. 
 
7)- “Na dialética entre revolução e restauração a revolução passiva burocrática 
aboliu definitivamente a economia de mercado, a propriedade e acumulação 
privadas, eliminando a burguesia e a pequena burguesia enquanto classes, 
assim superando a própria revolução democrático-burguesa sob o imperativo da 
modernização econômica No entanto, a superação da revolução democrático-
burguesa não implicou na retomada da revolução socialista, consumando a 
revolução permanente, mas na restauração de práticas e processos sociais da 
época do czarismo, sob a capa ideológica do “socialismo num só país”, 
configurando assim uma verdadeira contra-revolução em relação à perspectiva 
socialista original” – Pg. 28. 
 
8)- “Por isto, com a vitória do stalinismo a revolução permanente é interrompida 
definitivamente, em favor de uma perspectiva burocrática que submete os 
trabalhadores à uma nova forma de dominação política e social e instala de 
maneira consolidada um capitalismo de Estado exitoso em termos de 
desenvolvimento industrial e tecnológico, mas francamente limitado em termos 
igualitários e libertários. Desse modo, as esperanças de emancipação dos 
trabalhadores suscitadas pela Revolução de Outubro naufragam no 
estabelecimento de uma nova forma de dominação social e política” – Pg. 29-
30. 
 
21

Continue navegando