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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE HISTÓRIA – FH HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 2 SEGUNDO ANO – 2018/2 FICHAMENTO – A Revolução Russa como uma revolução permanente interrompida OBRA – MACIEL, David. “A Revolução Russa como uma revolução permanente interrompida” In: PINHEIRO, Milton (Org.). Os cem anos que abalaram o mundo: a revolução russa na cena do futuro. São Paulo: ICP, 2017. POR DYEENMES PROCÓPIO DE CARVALHO GOIÂNIA-GO, 13 de setembro de 2018. 2 Fichamento - História Contemporânea 2 Professor: Dr. David Maciel Aluno: Dyeenmes Procópio de Carvalho OBRA – MACIEL, David. “A Revolução Russa como uma revolução permanente interrompida” In: PINHEIRO, Milton (Org.). Os cem anos que abalaram o mundo: a revolução russa na cena do futuro. São Paulo: ICP, 2017. 1)- “Neste trabalho busca-se entender o processo revolucionário russo a partir do contraponto entre as tendências estruturais, as tendências de longo prazo da sociedade russa, cujo processo de atualização em relação à sociedade contemporânea se iniciam na segunda metade do século XIX, e os movimentos conjunturais, pontuados por momentos definidores como 1861, 1905, 1917, 1921 e 1928, capazes de interromper determinadas tendências, inaugurar outras ou ainda atualizar outras tantas. Como resultado do jogo entre estrutura e conjuntura, entre necessidade e liberdade, ou ainda entre processo e projeto a revolução russa sintetiza a contradição entre as tendências estruturais da sociedade russa, e mesmo aquelas da dinâmica internacional, e as iniciativas e projetos para atualizar seu curso ou mesmo alterá-lo radicalmente.” – Pg. 1. 2)- “Neste sentido, aqui se procura demonstrar como num país economicamente atrasado, dependente e semi-feudal o processo revolucionário oscilou entre a revolução passiva, ou seja, a mudança controlada de cima, onde a atualização da ordem vigente é o critério definidor da ação e da reação dos sujeitos históricos, e a revolução permanente, onde o protagonismo pertence às classes subalternas e o processo de solapamento da ordem é um imperativo, tornando o processo social altamente fluído e fazendo com que as fases do processo histórico sejam condensadas e superadas num movimento ininterrupto de mudanças até que a transição ao comunismo se estabeleça e concretize’ – Pg. 1. 3)- “No entanto, diante de um cenário internacional adverso e das enormes dificuldades internas os bolcheviques não conseguiram levar às últimas consequências sua opção pelos soviets e pelo protagonismo das massas 3 trabalhadoras, optando pelo resgate dos métodos autocráticos e do dirigismo econômico estatal para superar os obstáculos e salvar a nova ordem política e social [...]” – Pg. 2. 1- Uma revolução passiva falhada e incompleta (1861-1917) 1)- “Apesar de compor o pequeno grupo das cinco potências do concerto europeu, até meados do século XIX a Rússia ainda era uma sociedade baseada na servidão feudal, com um Estado absolutista sustentado por uma aristocracia reacionária e por uma burguesia extremamente débil em termos políticos” – Pg. 2. 2)- “Desse modo, enquanto na Europa Ocidental a aristocracia perde força política e econômica diante das outras classes, principalmente da burguesia, mas também do movimento popular ascendente, tendo que conviver com um processo de alteração do aparelho de Estado no sentido do seu “aburguesamento” e com a desagregação parcial ou total da servidão; na Rússia a aristocracia feudal reforça sua dominação como nunca, fundindo-se com o Estado e intensificando a exploração feudal [...]” – Pg. 3. 3)- “No entanto, o atraso político e econômico russo em relação à Europa Ocidental começou a cobrar seu preço, manifesto dramaticamente na derrota para a Inglaterra e a França na Guerra da Criméia (1856) e no aumento vertiginoso do descontentamento camponês com o aumento da opressão feudal e o “cercamento” das terras pela aristocracia. Entre as décadas de 1820 e 1860 do século XIX a agitação no campo decuplica, com o aumento exponencial das sabotagens, pilhagens, assassinatos de nobres e funcionários do Estado e insurreições locais (NÉRÉ, 1991, p. 281; WOLF, 1984, p. 77). Tais fatores levaram a monarquia czarista a desenvolver um esforço de atualização da economia, da sociedade e da estrutura política, desencadeando assim um movimento de revolução passiva no império” – Pg. 3. 4 4)- “O primeiro passo neste sentido se deu com a abolição da servidão feudal, em 1861. Decretada pelo czar Alexandre II, a abolição da servidão tornou os camponeses homens livres, permitindo-lhes a compra da terra, porém não os livrou de diversos condicionantes, nem de um conjunto de obrigações típicas da servidão. Em primeiro lugar, as terras disponibilizadas eram menores do que aquelas que eles tradicionalmente poderiam utilizar por meio do direito de uso, portanto, expropriando-os, reduzindo seu acesso à terra e aumentando as terras sob controle absoluto da aristocracia. Em segundo lugar, a maior parte das terras seria comprada sob a mediação das comunas rurais, o mir, ou seja, as comunas adquiririam as terras e as distribuiriam entre os camponeses periodicamente de acordo com critérios como número de homens na família, totalidade dos membros da família e/ou capacidade de investimento; a propriedade individual absoluta sobre a terra só se generalizaria bem mais tarde. Em terceiro lugar, os nobres deveriam ser indenizados pela cessão das terras, com o pagamento de parcelas pelos camponeses por 49 anos, quando então teriam o direito à propriedade absoluta de seus lotes. Como a maior parte das indenizações foi adiantada pelo Estado à aristocracia, os camponeses passaram a dever as indenizações ao Estado, cobradas na forma de impostos. Enquanto as indenizações não fossem quitadas os camponeses só teriam acesso mediante vínculo com a comuna rural ou algum grupo doméstico, que se responsabilizava pelo pagamento do imposto e pela redistribuição periódica das terras. Mais uma vez a comuna aparece como instância mediadora do acesso à terra pelos camponeses, pois na maior parte dos casos as parcelas eram pagas coletivamente, em nome da comunidade. Em termos gerais, os camponeses passaram a ter direito à pouco mais do que 30% das terras, área menor do que à que tinham acesso antes pelo direito de uso feudal, enquanto a aristocracia passou a deter diretamente 24%” – Pg. 4 5)- “Portanto, a abolição da servidão não aboliu o feudalismo totalmente porque transformou a corvéia em formas variadas de exações feudais adiantadas pelo Estado à aristocracia e cobradas por este dos camponeses. Também manteve a preponderância aristocrática no controle da terra, métodos de produção tradicionais e a solidariedade camponesa em torno da comuna rural, o que a fortaleceu como instrumento de resistência camponesa [...]” – Pg. 5. 5 6)- “Na prática, a abolição da servidão “contornou” o entrave que o feudalismo representava ao desenvolvimento econômico, pois nem criou as condições para a aristocracia aderir à agricultura mercantil, como na “via prussiana”, mesmo que concentrando a terra em suas mãos e preservando certos privilégios; nem promoveu um processo de democratização do acesso à terra, como na “via americana”, de acordo com os conceitos de Lênin [...]” – Pg. 5. 7)- “[...]Na verdade, o decreto do fim da servidão procurou isentar a aristocracia de qualquer perspectiva de partilha das terras, desviando a “fome de terras” dos camponeses para as terras a que eles já tinham acesso pelo antigo direito de uso,desencadeando uma disputa intercamponesa pela terra [...]” – Pg. 5. 8)- “[...] As comunas rurais, mir, passaram a ter uma importância econômica e uma força política ainda maior, porque passaram a administrar a carência de terras entre os camponeses, por meio de redistribuições periódicas, em muitos lugares favorecendo os kulaks, isentando o Estado e a aristocracia da responsabilidade política por este problema social.” – Pg 6. 9)- “[...]Por isto, em termos econômicos a maior parte da aristocracia continuou vivendo dos rendimentos obtidos pelas exações arrancadas dos camponeses, pelo aluguel da terra, pela venda de terras e/ou das sinecuras estatais, num processo de redução das áreas agrícolas sob controle aristocrático e de endividamento que se prolongou pelas décadas seguintes. Em outras palavras, a aristocracia russa não era a aristocracia alemã. Esta contradição evidencia os limites do projeto de modernização da agricultura russa, tornando a transição à agricultura mercantil bastante lenta e oscilante nos primeiros anos após a abolição da servidão. Em 1917, a economia agrária russa ainda era predominantemente feudal” – Pg. 6. 10)- “Também fazem parte das reformas conduzidas por Alexandre II a introdução de algumas mudanças políticas e militares, visando racionalizar o 6 aparato militar e administrativo e promover alguma descentralização política [...]” – Pg. 6. 11)- “Porém apesar destes limites, a “Era das Reformas” iniciada em 1861 favoreceu a transição para o capitalismo na economia russa, permitindo o avanço das relações de produção e propriedade capitalistas no campo, principalmente no sul, com o crescimento das relações assalariadas e da propriedade individual sobre a propriedade comunal. Também fortaleceu os kulaks, camponeses ricos que possuíam maiores terras e tornaram-se capazes de explorar o trabalho de outros camponeses; além dos investimentos dos capitalistas urbanos no campo, com a compra de terras da aristocracia por comerciantes, banqueiros e industriais, e o crescimento vertiginoso da agricultura de exportação. Entre as décadas de 1850 e 1890 a exportação de cereais se multiplica por seis [...]” – Pg. 7. 12)- “[...] A grande indústria russa já nasce altamente concentrada, tanto em termos econômicos, quanto em termos geográficos, “pulando” o processo de concentração e centralização progressiva ocorrido em outros países, principalmente como consequência das crises cíclicas do capitalismo” – Pg. 8. 13)- “O caráter absolutista do Estado russo fez com que predominasse uma perspectiva estatista em que as indústrias eram financiadas pelo Estado ou eram de sua propriedade direta. A contraparte deste estatismo era o endividamento externo, a busca por dividendos obtidos por meio das exportações agrícolas e o arrocho fiscal imposto sobre o campesinato. Daí a relação ao mesmo tempo contraditória e complementar entre a estrutura semi-feudal da agricultura e o capitalismo nascente na indústria e nas cidades [...]” – Pg. 8. 14)- “Paralelamente, o capital externo também contribui poderosamente para o avanço industrial na Rússia, particularmente o capital francês, que responde por um terço do total das inversões externas. Mais uma vez a trajetória da indústria 7 está vinculada à questão militar, pois a primazia francesa se deve fundamentalmente à aliança militar franco-russa, estabelecida em 1892 após o colapso definitivo da aliança dos três imperadores (Rússia, Áustria e Prússia). Assim, o capitalismo russo, que se torna predominante na formação social russa no final do século XIX, tinha no Estado e no capital externo seus principais agentes, revelando uma burguesia nativa economicamente fraca e politicamente omissa [...]” – Pg. 8. 15)- “Neste sentido, a abolição da servidão não só não resolveu os problemas do campesinato, como os agravou, na medida em que além do baixo nível técnico, dos altos encargos devidos ao Estado e aos nobres e da extrema pobreza, há um grande crescimento demográfico no campo, com a população rural aumentando em mais de 60% entre a década de 1860 e o final do século, tornando a “fome de terras” ainda mais aguda. Isto porque em muitos lugares o critério fundamental para o acesso à terra era o numero de membros da família camponesa, daí o aumento populacional, acirrando ainda mais a disputa intercamponesa pela terra. O governo czarista percebeu a gravidade da situação no campo e tentou atenuá-la, reduzindo as anuidades a serem pagas e criando um banco para financiar o resgate das terras pelos camponeses e outro para que a aristocracia financiasse suas dívidas sem que precisasse vender suas terras. No entanto, tais medidas não arrefeceram a crise agrária, nem o ódio camponês pela aristocracia e pelo czarismo. Ao mesmo tempo em que se deu o auge das exportações de cereais a década de 1890 foi marcada pela “grande fome” no campo, revelando uma situação social explosiva [...]” – Pg. 9. 16)- “Após a Revolução de 1905, que abalou o czarismo, mas não foi capaz de derrubá-lo, o governo adotou um conjunto de novas reformas, com vistas a desarmar a “bomba relógio” no campo e favorecer o avanço definitivo do capitalismo na agricultura. As reformas de Stolypin (1906-1911), verdadeira política de “cercamentos” no campo russo, estimularam a desintegração da comuna com o avanço da propriedade absoluta e hereditária da terra e a colonização da Sibéria. Daí em diante os camponeses poderiam adquirir 8 individualmente a terra, sem a mediação da comuna rural e a ameaça de redistribuições periódicas, além de poderem concentrar suas posses numa única área contígua, superando o sistema de lotes parcelados em áreas distintas. O objetivo era fortalecer a classe dos kulaks, que serviriam como base de massa de apoio à aristocracia e ao governo no campo. Enquanto isto, a aristocracia manteve sua postura reticente diante desta perspectiva conservadora de modernização no campo, agarrando-se ainda mais ao seu tradicional parasitismo econômico [...]” – Pg. 9-10. 17)- “Resulta daí uma revolução passiva burguesa “falhada”, quando comparada com outros processos como os casos alemão ou italiano, que criou uma formação social compósita, sob predomínio capitalista na economia urbana e industrial e em parte da agricultura, porém com sobrevivências feudais importantes no campo, emperrando o pleno desenvolvimento de um mercado consumidor interno e do próprio capitalismo agrário. Esta combinação criou um capitalismo francamente dependente do estatismo e do capital externo, com uma burguesia débil politicamente e um Estado feudal-absolutista dominado política e burocraticamente pela aristocracia e que preservou sua integridade, mantendo-se imune às formas políticas burguesas representadas pelo constitucionalismo e pelo parlamentarismo. A força do absolutismo russo se revela não só no controle “mercantilista” do Estado sobre a economia industrial, mas na própria relação deste com o nascente movimento operário, tratado por meio de uma combinação de repressão pura e simples com infiltração das direções sindicais pela polícia. Neste sentido as tendências sócio-econômicas desencadeadas pela “Era das Reformas” e pelo processo de transição ao capitalismo na Rússia foram a forte presença estatal na economia industrial; o fortalecimento da propriedade privada no campo, particularmente da propriedade dos kulaks, e o desenvolvimento de uma sociedade civil estatizada, como no caso da Igreja e da escola, ou controlada de perto pelo Estado, como no caso dos sindicatos.[...]” – Pg. 10. 9 18)- “O tempo histórico em que sedá a transição para o capitalismo na Rússia, final do século XIX e início do XX, e suas relações com o capital externo, ajudam a explicar por que as reformas não serviram para fundamentar a transformação capitalista do Estado russo, mas para reforçar seu caráter feudal-absolutista. Isto porque os influxos do imperialismo permitiram que a transição para o capitalismo se desenvolvesse sem que a estrutura do Estado precisasse ser quebrada; daí a criação de uma formação social desigual e combinada em escala não vista antes. O aporte tecnológico e de recursos disponibilizado pela capital externo permitiu que a indústria russa “queimasse etapas”, atingindo altos níveis de concentração e capacidade produtiva sem que tivesse que passar por um processo de evolução lenta e gradual desde o artesanato e a manufatura, até a maquinofatura, nem que dependesse de um vigoroso processo de acumulação primitiva [...]” – Pg. 11. 19)- “Por isto, em princípio a revolução passiva russa, ou revolução-restauração, reproduz em suas linhas gerais o padrão teórico analisado por Gramsci nos casos em que ocorre uma transição para o capitalismo e o Estado burguês nos países em que não ocorreu uma revolução burguesa clássica. Esta transição se dá por meio de um processo de “modificações moleculares, que, na realidade, modificam progressivamente a composição anterior das forças e, portanto, transformam-se em matriz de novas modificações”, conforme definição lapidar de Gramsci (2002, p. 317), dirigido pela classe dominante e pelo Estado a partir de cima com vistas ao esvaziamento da perspectiva revolucionária e à atualização da estrutura econômico-social e da estrutura política, promovendo mudanças revolucionárias ao mesmo tempo em que restauram elementos fundamentais da velha ordem, repondo-os em novas bases” – Pg. 11-12. 20)- “Porém, o caso russo guarda peculiaridades que o afastam bastante do caso clássico da revolução passiva, particularmente daquele representado pela Alemanha e, em menor grau, pela Itália. Em primeiro lugar, salta aos olhos a fraqueza da burguesia russa não só do ponto de vista político, mas também do ponto de vista econômico. O desenvolvimento industrial foi muito mais fruto da 10 ação do Estado e do capital externo do que propriamente da burguesia russa. Ao contrário da burguesia alemã, que consegue impor a livre circulação de mercadorias e mão de obra no interior da federação alemã antes mesmo do abalo de 1848 e se torna a principal credora do Estado prussiano, além de conquistar espaço político no Parlamento e em instâncias de poder locais, a burguesia russa só consegue a liberdade de movimentação da mão de obra muito tardiamente e ainda assim de maneira parcial [...]” – Pg. 12. 21)- “Em segundo lugar, a aristocracia buscou se contrapor ao anacronismo e à crise da ordem econômica e social feudal reforçando seus laços com a autocracia, suas posições no interior do Estado como burocracia e seu “parasitismo” econômico, ao invés de aderir maciçamente à agricultura mercantil e à perspectiva empresarial. Ou seja, à crise da ordem social feudal e do absolutismo a aristocracia russa reagiu defensivamente, restaurando seus privilégios econômicos e reforçando suas posições tradicionais, não buscando dar a direção do processo de mudanças. Neste sentido, os setores reformistas da burocracia que dirigiram a revolução passiva falhada na Rússia, não só careceram do apoio da classe dominante fundamental, mas sofreram dela dose considerável de resistência, como se evidencia na ineficácia do banco estatal para financiar sua adesão à agricultura mercantil” – Pg. 13. 22)- “Em terceiro lugar, a autocracia czarista e a burguesia russa nunca foram capazes de desenvolver um movimento transformista bem sucedido em favor de sua perspectiva de revolução passiva sobre seus adversários. As tentativas de transformar a comuna rural num bastião em defesa do czarismo fracassaram completamente, como evidenciam seu papel nos levantes camponeses e na defesa dos seus interesses contra o Estado e a aristocracia. A força dos “populistas russos”, narodnikis, e depois do partido socialista revolucionário no campo também é outra evidencia importante da hostilidade do campesinato diante da autocracia czarista. Em relação ao movimento operário o fracasso é ainda maior, pois tanto a social-democracia, quanto o anarquismo sempre vislumbraram a perspectiva revolucionária [...]” – Pg. 13. 11 2- Uma revolução permanente em processo: da irrupção à paralisia (1917- 1928) 1)- “Ao contrário do que se dá nas revoluções passivas bem sucedidas, a revolução passiva russa não só não afastou a ameaça da revolução social, como a tornou mais necessária à medida que as contradições devidas ao caráter compósito de sua formação social se acirravam. A Revolução de 1905 abriu uma era de revolução social, evidenciando tanto a necessidade histórica da revolução, quanto a incapacidade orgânica do czarismo de anulá-la em favor da perspectiva passiva por meio de um movimento de cooptação das forças revolucionárias. Com o refluxo da revolução as pequenas modificações promovidas na estrutura política foram rápida e decididamente anuladas, restaurando o czarismo em sua inteireza sob a capa de uma monarquia semiconstitucional, enquanto o avanço do capitalismo foi acelerado com as reformas de Stolypin” – Pg. 13-14. 2)- “Como se sabe, a perspectiva da revolução permanente foi desenvolvida por Marx e Engels no âmbito da Revolução de 1848-49 na então Alemanha, a partir da análise da experiência histórica da Revolução Francesa (1789-1799). Para eles a revolução em permanência se colocava como uma necessidade histórica num país ainda predominantemente feudal, dividido em diversas entidades políticas, governado por príncipes absolutistas e bastante atrasado em termos econômicos e sociais. Em sua perspectiva a classe operária deveria compor o bloco de forças antiabsolutistas liderado pela burguesia e apoiar a revolução democrático-burguesa, sem, no entanto, perder sua autonomia politico- ideológica e organizativa. Após a derrubada do feudal-absolutismo e a criação de uma república democrática unificada na Alemanha a classe operária deveria apoiar resolutamente a luta da pequena burguesia contra a burguesia, fazendo a revolução avançar numa perspectiva mais popular e democrática, até o momento em que esta tomaria o poder. A partir daí a classe operária deveria pressionar o máximo possível a pequena burguesia e seu governo no sentido da 12 adoção de medidas socializantes, conquistar instâncias de poder exclusivamente operárias e avançar em sua organização política e militar com vistas à sua constituição como classe dominante” – Pg. 15. 3)- “Uma revolução permanente na Rússia era a aposta de Trotsky desde 1906, quando, avaliando a experiência da Revolução de 1905 e a própria história da Rússia, conclui pela impossibilidade de uma revolução burguesa que não fosse dirigida pela classe operária e conduzida por um governo operário, pois a burguesia russa era demasiado débil politicamente para operar tal tarefa histórica. Conclui ainda pela impossibilidade da classe operária no poder se limitar a realizar uma revolução burguesa, devendo concatená-la com as tarefas de uma revolução socialista, sob o risco de tornar o seu poder provisório e ser vítima de uma reação implacável [...]” – Pg. 16. 4)- “A revolução permanente também se tornou a aposta de Lênin mais tarde, quando a partir da eclosão da Primeira Guerra Mundial passa a conceber a possibilidade da guerra patriótica se transformar numa guerra civil, abrindocaminho para uma revolução de caráter mundial que estouraria primeiramente no elo mais fraco da cadeia imperialista, a Rússia. Conseqüentemente, ao retornar do exílio Lênin propõe todo o poder aos soviets e a criação de um governo operário-camponês que realizaria as tarefas burguesas e proletárias da revolução sob a mediação da nacionalização/estatização das grandes empresas e da criação de um capitalismo de Estado como ante-sala do socialismo. Na prática, a concatenação entre revolução burguesa e revolução socialista se deu paulatinamente ao longo de 1917 e consumou-se em outubro com a tomada do poder pelos bolcheviques” – Pg. 16-17. 5)- “[...] A participação dos partidos de esquerda no governo não alterou este cenário, tornando a insurreição liderada pelos bolcheviques em outubro uma necessidade para salvar a revolução. A própria história dos sucessivos governos provisórios entre fevereiro e outubro expressa de modo acelerado a dinâmica 13 clássica da revolução permanente, evoluindo de uma revolução política para uma revolução social quando no interior do bloco revolucionário a burguesia vai sendo deslocada pela pequena burguesia e posteriormente esta é deslocada pelo proletariado. De um governo formado exclusivamente pelos liberais (burguesia e aristocratas “esclarecidos”), preocupado fundamentalmente em normalizar a vida social diante da radicalização popular, a situação política evolui em maio para a montagem de um governo de coalizão com os socialistas moderados, que assumem sua direção política em julho, quando os liberais abandonam o governo. No entanto, o fracasso da nova ofensiva militar desencadeada em junho, somada à intensificação das greves e ocupações de terras curtocircuita a perspectiva burguesa do governo socialista abrindo caminho para a radicalização política e a superação do impasse [...]” – Pg. 17. 6)- “O dínamo por trás desta escalada em direção à revolução socialista é a contradição entre a inércia do governo provisório acerca do atendimento das demandas da Revolução de Fevereiro e o avanço político e ideológico dos trabalhadores e soldados. No início do processo revolucionário os operários defendiam a convocação de uma assembléia constituinte, a criação de uma republica democrática, melhorias salariais e a implantação de direitos trabalhistas; os camponeses defendiam que a terra fosse dada a quem nela trabalhasse e os soldados pediam um tratamento disciplinar mais humano com o fim dos castigos físicos, indenização aos feridos e mutilados e abono às famílias dos soldados (idem, p. 41-43). No entanto, a partir de maio, com a crise do governo Miliukov e o lockout da burguesia, há uma retomada das greves e um processo de ocupação das fábricas e de estabelecimento de sua gestão pelos soviets e comissões de fábrica. Enquanto isto, os camponeses passam a ocupar as terras abandonadas ou improdutivas e se apropriar do gado e dos equipamentos agrícolas e os soldados passam a defender o fim da guerra e o estabelecimento da democracia soviética no Exército e na Marinha, com a escolha dos comandantes pelos soldados e o controle das tropas pelos soviets [...]” – Pg. 17-18 14 7)- “É em reação a isto e à incapacidade do governo provisório de estancar a radicalização popular que o general Kornilov tenta tomar o poder e instituir uma ditadura militar. Portanto, de um lado a contra-revolução levanta a cabeça, com a tentativa de golpe do general Kornilov; de outro lado os bolcheviques avançam, conquistando posições nos soviets, sindicatos e comitês de fábrica e habilitando- se à tomada do poder, como em julho. Após o fracasso do golpe de Kornilov, em grande medida graças à mobilização bolchevique, o governo provisório não dirige mais o processo revolucionário. Criam-se as condições para a dualidade de poderes com o soviet de Petrogrado e a insurreição de Outubro. Ao contrário da revolução alemã de 1848, vivida e teorizada por Marx e Engels, interrompida com a derrota da pequena burguesia diante da recomposição da burguesia com as forças feudal-absolutistas, no processo revolucionário russo a revolução em permanência se acelera nos planos político e social, com a classe operária assumindo a direção do processo revolucionário e o governo através dos soviets e do partido bolchevique” – Pg. 18. 8)- “A Revolução de Outubro se configura como uma revolução socialista não só porque institucionaliza politicamente e amplia o processo de ocupação das fábricas e das terras pelos trabalhadores, que já ocorria desde a queda do czar, e o controle operário da produção; mas também porque cria um governo baseado nos soviets, órgãos de democracia direta dos trabalhadores, implodindo de vez o sistema político representativo criado em fevereiro e o calendário político por ele definido, como a assembléia constituinte [...]” – Pg. 18-19. 9)- “[...] Mas a Revolução de Outubro também se configura como uma revolução democrático-burguesa, na medida em que rompe com a grande propriedade da aristocracia e da burguesia no campo, referendando e legalizando o processo de ocupação das terras pelos camponeses. Este processo de ocupação camponesa das terras se dá de forma combinada, pois são as comunas rurais e cooperativas que organizam a distribuição das terras, prevalecendo a perspectiva da pequena propriedade individual” – Pg. 19 15 10)- “[...]O controle operário das empresas conviveu com grandes dificuldades devido à inexperiência administrativa dos trabalhadores, à falta de articulação entre as empresas socializadas, à resistência e sabotagem de patrões e gerentes, à escassez de matérias primas. Em muitos casos a produção industrial era interrompida logo que o estoque de matérias primas era consumido, mas não reposto. Além disso, o comércio reduziu-se em grande parte às trocas naturais, abrindo caminho para o mercado negro e a especulação, enquanto a maior parte da produção agrícola retrocedia para a mera produção de subsistência dos camponeses, rompendo a unidade econômica entre e campo e cidade [...]” – Pg. 19. 11)- “[...]O processo de desorganização no abastecimento e na distribuição dos bens favoreceu o comércio clandestino e a ação de especuladores, os chamados “caixeiros-viajantes”, que enriqueciam diante da situação de caos. Isto afetou diretamente o abastecimento das cidades e do Exército Vermelho, motivando medidas centralizadoras e o choque entre a perspectiva do controle social e aquela do controle estatal [...]” – Pg. 20. 12)- “[...] No entanto, a perspectiva socialista presente nas formas de controle operário da produção, de controle camponês da distribuição das terras e na nacionalização da propriedade convivem contraditoriamente com duas perspectivas burguesas. De um lado a perspectiva do capitalismo de Estado, presente no estatismo representado pelo dirigismo administrativo, que submeteu paulatinamente o controle operário à gestão individual dos gerentes indicados pelo governo; pela centralização decisória, cada vez mais intensa no âmbito do partido e do governo; pelo esvaziamento dos soviets como instâncias efetivas de poder, pela submissão dos comitês de fábrica aos sindicatos e destes ao governo e pelo privilegiamento dos “especialistas” no plano da gestão econômica e do comando militar, aprofundando a divisão social do trabalho, a diferenciação salarial e favorecendo a adesão de segmentos burgueses e burocráticos identificados com a velha ordem ao partido e ao novo regime. De outro lado, a perspectiva privatista pequeno-burguesa, representada pela propriedade 16 individual camponesa e artesanal, que garantiu o apoio camponêsao governo bolchevique e a manutenção da aliança operário-camponesa, particularmente diante da ameaça da restauração aristocrático-burguesa representada pelos Exércitos Brancos, mas ao preço de tornar o campo russo ainda mais impermeável à perspectiva socialista. Ora, na medida em que a revolução mundial era derrotada e deslocada do horizonte político, permitindo a salvação do sistema imperialista e abortando a perspectiva de auxilio externo por parte de uma revolução socialista vitoriosa num país desenvolvido; em que o atraso econômico-social mostrou-se mais sólido e renitente que o ideário da mudança social e cultural, cobrando um preço econômico gigantesco; em que o cerco internacional e a guerra civil impunham uma situação dramática, dizimando física e socialmente a classe operária russa e forçando a criação de uma economia de guerra, prevalecem sobre a perspectiva socialista a composição com as forças sociais da velha ordem, o privatismo e as tendências centralizadoras e burocráticas, esvaziando o horizonte socialista da revolução. Neste aspecto desagrega-se uma das condições para o êxito da revolução permanente na ótica de Marx e Engels, qual seja a autonomia política, ideológica e organizativa do proletariado e sua transformação em classe dominante, processo iniciado em 1905, reforçado em 1917 e agora contra-restado pelo estatismo e pelo centralismo decisório [...]” – Pg. 21. 13)- “A NEP (1921-1927) restaura em parte as tendências históricas desencadeadas durante a revolução passiva burguesa, porém sob poder bolchevique, manifestas no estatismo, no privatismo e no kulakismo. O estatismo expresso na propriedade estatal das grandes empresas e no controle estatal sobre a economia privada; o privatismo expresso nas concessões à economia privada e no restabelecimento das relações de mercado; e o kulakismo no estímulo à propriedade privada no campo e à produção para o mercado, que beneficiou prioritariamente os camponeses ricos, kulaks. Assim, durante a NEP a perspectiva socialista é afastada, mesmo que intencionalmente de maneira provisória, em nome da manutenção da aliança operário-camponesa que garantiu a Revolução de Outubro e a vitoria na Guerra Civil” – Pg. 22. 17 14)- “[...] Paralelamente o controle operário da produção era definitivamente enterrado, na medida em que a tendência a entregar a gestão das empresas para os “Gerentes Vermelhos”, recrutados entre os antigos gerentes e proprietários das indústrias, se consolidou, conferindo-lhes uma série de privilégios, salários diferenciados e permitindo-lhes a adoção de métodos administrativos despóticos. Se a proposta de militarização dos sindicatos foi rejeitada, por outro lado os mesmos passaram a ser considerados órgãos auxiliares do Estado, com a função de estimular o aumento da produtividade e a disciplina no trabalho, paralelamente à sua condição de órgão de defesa dos interesses dos trabalhadores. O descontentamento operário não se fez esperar, com a ocorrência de diversas greves e a denúncia por parte de diversos setores de que o governo bolchevique traía a perspectiva socialista da revolução [...]” – Pg. 23. 15)- “Assim, ao restabelecer o avanço da iniciativa privada, mesmo que sob controle estatal, atraindo investimentos de capitalistas nacionais e estrangeiros, os nepmen; fortalecer os kulaks no campo, apesar da manutenção da comuna rural, e restabelecer o livre-mercado, o governo bolchevique solapou o controle operário e o papel político dos soviets, base política para qualquer perspectiva socialista efetiva. É fato que no campo o controle de parte das terras pela comuna rural e pelas cooperativas camponesas continuou, mas o setor mais dinâmico da agricultura era claramente baseado na grande propriedade camponesa e no enriquecimento dos kulaks [...]” – Pg. 24. 3- Uma revolução passiva burocrática (1928-1941) 1)- “A partir de 1925 o debate sobre os rumos da NEP se instala, fundamentalmente por conta das preocupações de alguns setores do partido com as dificuldades de desenvolvimento da indústria de bens de capital e dos novos problemas com o abastecimento nas cidades. A liberação das práticas de mercado e a abertura à propriedade privada na indústria beneficiaram fundamentalmente o setor de bens de consumo, mantendo o setor de bens de capital, sob predomínio da propriedade estatal, carente de recursos, tecnologia 18 e mesmo maquinário, apesar do grande avanço em termos de concentração e centralização econômica. A retomada do desenvolvimento econômico e o avanço tecnológico nos países capitalistas tornaram-se fonte de preocupação ante a possibilidade de um novo ataque militar, particularmente na conjuntura de rompimento diplomático com a Inglaterra (1927) e isolamento internacional da URSS [...]” – Pg. 24-25. 2)- “Em função da proposta da industrialização acelerada, que tem como eixo fundamental o apoio integral à indústria de bens de capital, e de guerra aos kulaks e à iniciativa privada no campo, o governo passa a instituir a planificação econômica, com a definição de prioridades, fontes de financiamento e metas de produção e distribuição. O Primeiro Plano Qüinqüenal é aprovado em maio de 1929. Toda a economia passa a girar em torno da priorização maciça da indústria de bens de capital (metalurgia, siderurgia, eletricidade, maquinário), da indústria bélica (aeronáutica, tanques, armas, além da indústria química) e dos setores de infra-estrutura e transportes (auto-estradas, ferrovias, automóveis, caminhões e tratores). Entre 1928 e 1940 enquanto a porcentagem de bens de consumo cai de mais de dois terços da produção total para menos de um quinto, a produção de bens de produção sobe de pouco menos de um terço para mais de 60%, evidenciando não só a prioridade dada à indústria pesada, mas o próprio processo de depressão do consumo das classes trabalhadoras” – Pg. 25-26. 3)- “Além do autofinanciamento pelas próprias indústrias, outras fontes de financiamento definidas pelo plano eram o imposto de renda, o imposto sobre a agricultura, o imposto sobre o consumo (este equivalendo a nada menos que um terço de toda a carga tributária) e o imposto sobre os setores privados ainda remanescentes. Portanto, não apenas os camponeses financiaram a industrialização acelerada, mas como vimos acima principalmente a própria classe operária, cujo crescimento demográfico se amplifica rapidamente após o fim da guerra civil, com a própria industrialização e com o êxodo rural criado no campo pela política de coletivização forçada. Se entre 1928 e 1940 calcula-se uma redução de mais de 10 milhões de habitantes na tendência de evolução 19 demográfica do país, no mesmo período a população urbana cresce de menos de um quinto para um quarto da população total, enquanto o operariado industrial quase triplica (idem, p. 45). Com a planificação ocorre o controle político da distribuição dos produtos e dos preços em geral, além do avanço acelerado da estatização das empresas, principalmente nas grandes empresas, com a propriedade privada tornando-se cada vez mais restrita e limitada às pequenas indústrias até o seu desaparecimento [...]” – Pg. 26. 4)- “A combinação entre industrialização acelerada e “coletivização” forçada do campo modifica drasticamente a paisagem social da URSS na década de 1930, com o crescimento vertiginoso da população urbana, particularmente do operariado industrial, graças em grande parte ao êxodo rural, ao mesmo tempo em que há uma redução significativa na população geral do país. Esta situação permitia aos trabalhadores do campo e da cidade buscarem melhores condiçõesde vida e trabalho, no entanto, gerava uma situação de instabilidade social que o governo procurou conter restabelecendo a antiga política czarista de passaportes internos e registro compulsório na polícia, aliada à uma legislação repressiva que proibia a mudança de emprego e a falta ao trabalho” – Pg. 27. 5)- “Na configuração da nova ordem política destacam-se o centralismo burocrático, que estabeleceu o esvaziamento definitivo das instâncias independentes e autônomas de organização dos trabalhadores, como os soviets e sindicatos; o controle da sociedade civil, que cresceu e se ampliou, mas voltou a ser rigidamente controlada pelo Estado; e uma ideologia legitimadora baseada no culto à personalidade, no nacionalismo russo travestido de teoria do “socialismo num só país” e na transformação do materialismo histórico numa ideologia estatolatra denominada “marxismo-leninismo”, que passou a justificar com ares de cientificidade e inevitabilidade histórica a realpolitik do Estado soviético. Assim, o stalinismo reviveu sob o manto do socialismo as tradições e práticas autocráticas do czarismo russo [...]” – Pg. 28. 20 6)- “A revolução passiva burocrática (1928) identificada com o stalinismo e desencadeada a partir da industrialização acelerada, da “coletivização forçada” no campo e da planificação estatal, significou a vitória definitiva do estatismo sobre o privatismo e o kulakismo com o reforço da antiga autonomia burocrática sobre a sociedade e o dirigismo estatal sobre toda a economia. Neste sentido, o Estado voltou a ser “tudo” e a sociedade civil “primitiva e gelatinosa”, pois se a revolução passiva burocrática significou uma revolução em relação à perspectiva privatista burguesa ao mesmo tempo significou uma contra-revolução em relação à perspectiva proletária e socialista” – Pg. 28. 7)- “Na dialética entre revolução e restauração a revolução passiva burocrática aboliu definitivamente a economia de mercado, a propriedade e acumulação privadas, eliminando a burguesia e a pequena burguesia enquanto classes, assim superando a própria revolução democrático-burguesa sob o imperativo da modernização econômica No entanto, a superação da revolução democrático- burguesa não implicou na retomada da revolução socialista, consumando a revolução permanente, mas na restauração de práticas e processos sociais da época do czarismo, sob a capa ideológica do “socialismo num só país”, configurando assim uma verdadeira contra-revolução em relação à perspectiva socialista original” – Pg. 28. 8)- “Por isto, com a vitória do stalinismo a revolução permanente é interrompida definitivamente, em favor de uma perspectiva burocrática que submete os trabalhadores à uma nova forma de dominação política e social e instala de maneira consolidada um capitalismo de Estado exitoso em termos de desenvolvimento industrial e tecnológico, mas francamente limitado em termos igualitários e libertários. Desse modo, as esperanças de emancipação dos trabalhadores suscitadas pela Revolução de Outubro naufragam no estabelecimento de uma nova forma de dominação social e política” – Pg. 29- 30. 21
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