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Aluisio Gonçalves de Castro Mendes OS IMPACTOS DO NOVO CPC NA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

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OS IMPACTOS DO NOVO CPC NA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO
Revista de Processo | vol. 241/2015 | p. 15 - 25 | Mar / 2015
DTR\2015\2141
Aluisio Gonçalves de Castro Mendes
Pós-Doutor pela Universidade de Regensburg, Alemanha. Doutor e Mestre em Direito pela UFPR.
Mestre em Direito pela Johann Wolfgang Goethe Universität (Frankfurt am Main, Alemanha).
Especialista em Direito Processual Civil pela UnB. Professor Associado nos cursos de graduação e
pós-graduação da UERJ e Professor Titular da Universidade Estácio de Sá (Unesa). Diretor do
Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Diretor de Cursos e Pesquisas da Escola da
Magistratura Regional Federal.
Larissa Clare Pochmann da Silva
Mestre e Doutoranda em Direito pela Universidade Estácio de Sá (Unesa). Professora no curso de
graduação da Universidade Candido Mendes (UCAM), campi Tijuca e Jacarepaguá. Advogada.
Área do Direito: Constitucional; Processual
Resumo: O presente trabalho tem como escopo analisar os impactos das principais inovações
contidas no texto do novo Código de Processo Civil na duração razoável do processo. Para tanto,
procurou-se, inicialmente, identificar a matriz propulsora da nova legislação, para, em seguida,
elencar seus pontos mais relevantes e possíveis impactos na duração razoável do processo.
Palavras-chave: Novo Código de Processo Civil - Duração razoável do processo - Impactos.
Abstract: This paper aims to analyze the impacts of the main innovations contained in the design of
the new Civil Procedure Code to the reasonable time of the claims. To do so, it begins identifying the
guidelines of the new legislation to, afterward, list the most relevant aspects of the bill and its potential
impacts on reasonable time of claims.
Keywords: New Civil Procedure Code - Reasonable Time - Impacts.
Sumário:
- 1.A duração razoável e a democratização do processo, o democratismo e a busca de um ponto de
equilíbrio - 2.O fortalecimento do contraditório - 3.A ordem de julgamento dos processos - 4.Prazos
processuais em dias úteis - 5.Aumento de prazos - 6.Técnica de julgamento fracionado quando o
julgamento não for unânime - 7.Admissibilidade de recursos feita somente pelo órgão ad quem -
8.Precedentes judiciais - 9.Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) - 10.Recursos
repetitivos - 11.Calendário processual: ideal a ser perseguido? - 12.Referências bibliográficas
Recebido em: 29.12.2014
Aprovado em: 12.02.2015
O presente trabalho1 tem como escopo levantar e analisar, sem caráter exaustivo, os impactos das
principais inovações contidas no texto do novo Código de Processo Civil na duração razoável do
processo. Para tanto, procura, inicialmente, identificar a matriz propulsora da nova legislação,
elencando, em seguida, e alguns dos principais impactos das inovações legislativas no tempo dos
processos.
Nessa perspectiva, são apontados e analisados 10 aspectos: o fortalecimento do contraditório; a
ordem de julgamento dos processos; os prazos em dias úteis; a ampliação dos prazos; a técnica de
julgamento fracionado das apelações quando o julgamento não for unânime; a admissibilidade
recursal feita somente pelo órgão ad quem; os precedentes judiciais; o incidente de resolução de
demandas repetitivas; os recursos repetitivos e o calendário processual. Em todos esses pontos há
uma sucinta exposição e consideração crítica, de forma a concluir quais inovações poderão contribuir
com a duração razoável do processo.
1. A duração razoável e a democratização do processo, o democratismo e a busca de um
ponto de equilíbrio
Os impactos do novo CPC na razoável duração do
processo
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Em setembro de 2009, iniciaram-se os trabalhos da Comissão de Juristas, instituída no Senado
Federal, responsável pela elaboração do Anteprojeto do novo Código de Processo Civil. Cumprindo
o seu desiderato, apresenta-se, em junho de 2010, o texto que seria submetido ao Senado, como PL
166/2010. Na sua exposição de motivos, já se salientavam os cinco objetivos que orientaram
precipuamente os trabalhos da Comissão: 1) estabelecimento de sintonia fina com a Constituição; 2)
criação de condições para que o juiz possa proferir decisão mais rente à realidade fática da causa; 3)
simplificação; 4) efetivação do rendimento de cada processo; e 5) maior grau de organicidade ao
sistema.2
No mesmo ano de 2010, o PLS 1663 foi aprovado no Senado e seguiu para a Câmara dos
Deputados, recebendo, nesta Casa, a identificação de PL 8.046/20104, em tramitação conjunta com
o PL 6.025/2005. Na Câmara dos Deputados, recebeu aprovação final no dia 26.03.2014.
Sensivelmente modificado, após a tramitação nas duas Casas do Congresso Nacional, retornou o
texto ao Senado, na forma de Substitutivo da Câmara, para a apreciação final. No Senado, o
texto-base foi aprovado no dia 16.12.2014 e, no dia 17.12.2014, foram votados 16 destaques, sendo
apenas dois rejeitados: o cabimento de agravo de instrumento em face de decisão que redistribui o
ônus da prova e o cabimento de agravo de instrumento em face de decisão que indefere a prova
pericial. No dia 24 de fevereiro de 2015, o texto foi remetido para a sanção presidencial,5 quando
começou a contar o prazo de 15 (quinze) dias úteis para sanção.
Embora propalado como um resultado desejado, a menor duração do processo nunca esteve
arrolada como um dos objetivos expressos e específicos que orientaram os trabalhos dos sujeitos
que arquitetaram o novo Código de Processo Civil. De modo indireto, sim, o princípio da razoável
duração do processo estaria relacionado com a sintonia fina com a Constituição, como enunciado na
Exposição de Motivos que acompanhou o Anteprojeto, conforme acima enunciado.
Decorridos cinco anos de tramitação do projeto, pode-se reiterar, hoje, com relativa segurança, que o
princípio da duração razoável do processo não foi o mote direto, imediato e expresso do projeto em
qualquer uma das suas versões: na inicial, na primeira aprovada no Senado Federal ou na da
Câmara dos Deputados e nem na versão final remetida para sanção após a aprovação do Senado.
Isso não quer dizer que não se almeje a maior celeridade. Porém, esta, se vier a ocorrer, será fruto
do resultado a médio ou longo prazo do tratamento dado ao sistema, especialmente no que diz
respeito à capacidade e materialização das inovações pertinentes às demandas repetitivas, no
âmbito do incidente e dos recursos, e aos precedentes judiciais, conforme será analisado.
O novo CPC parece ter priorizado valores relacionados à democratização do processo judicial,
buscando fortalecer o contraditório, a transparência e a necessidade de fundamentação. O texto
possui um viés muito forte de democratização do processo, de ampliação do debate e da
participação, fazendo com que o Poder Judiciário tenha de desenvolver a atividade jurisdicional com
o fortalecimento da fundamentação, das razões de decidir (ratio decidendi) do julgamento.
É de se ressaltar que a democracia nem sempre coincidirá com celeridade, uma vez que o debate
ampliado no processo poderá até incrementar o seu tempo de tramitação. Por exemplo, o
fortalecimento do amicus curiae, ocasionará mais interlocutores no processo e um controle maior por
parte da atividade jurisdicional, até sob o ponto de vista da decisão judicial, exigindo o fortalecimento
do ônus argumentativo do próprio juiz.
Esse é o primeiro código após a democratização do Brasil. Os dois últimos foram gerados em
períodos de autoritarismo. Será, portanto, um código de experiência da democracia, que não deve se
confundir com democratismo, sob o ponto de vista de gerar uma demora processual. A democracia
incute a ideia de busca da justiça, de ouvir sempre a outra parte, mas essa busca da justiça não
pode acabar em uma solução sem fim, no sentido de sempre se ouvir a outra parte, de modo
ilimitado e a ponto de procrastinar indefinidamente os julgamentos. É o momento de se buscar o
ponto de equilíbrio, de se prestigiar a democratizaçãodo processo, sem, contudo, recair em um
democratismo e em uma demora desmedida.
2. O fortalecimento do contraditório
Um dos primeiros pontos com reflexo na duração razoável é o fortalecimento do contraditório, nos
termos do art. 10 do Novo CPC. Em qualquer grau de jurisdição, o juiz não poderá decidir com base
em fundamento a respeito do qual não tenha oportunizado a manifestação das partes, ainda que se
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trate de matéria sobre a qual deveria decidir de ofício.
Essa previsão já existe no direito estrangeiro.6 O Código de Processo Civil alemão,7 no § 139, possui
um dispositivo semelhante,8 prevendo que o órgão judicial deve, mediante comunicação registrada
nos autos, oportunizar a manifestação das partes sobre os fatos relevantes, sobre as questões em
litígio e até mesmo sobre questões que podem ser conhecidas de ofício; bem como que as partes
discutam os pontos que fundamentarem a decisão judicial.
Esse fortalecimento do contraditório previsto no novo código, por um lado, pode tender a uma maior
dilação do processo, por haver um lapso temporal maior até a causa estar pronta para julgamento.
Por outro lado, tal previsão, ao assegurar previamente a manifestação das partes, poderá ensejar um
lapso temporal menor para que haja a prestação jurisdicional definitiva, evitando recursos
desnecessários ou até mesmo discussões sobre intempestividade, já que as partes poderão
esclarecer o que for relevante, trazendo informações necessárias ao julgamento.
3. A ordem de julgamento dos processos
Outro reflexo da duração razoável do processo está no art. 12 do novo Código, que é a ordem de
julgamento dos processos. Essa ordem, de acordo com o caput do dispositivo, leva em consideração
principalmente a data da conclusão. Em princípio, a ideia de uma ordem cronológica é positiva, mas
possui algumas falhas, que foram, em parte, corrigidas durante a tramitação do projeto do novo
código. Na primeira redação, não havia exceção relacionada às metas estabelecidas pelo CNJ. Não
havia, também, exceção em relação aos processos em que outras leis estabeleciam prioridades.
Após as alterações no texto do projeto, houve a previsão de hipóteses excepcionais relevantes,
como o julgamento dos recursos repetitivos e a extinção do processo sem julgamento do mérito.
Contudo, ainda resta um problema em relação ao art. 12, que se revela de difícil equação. O novo
diploma trata apenas da data de conclusão, sem referência à data de propositura da demanda.
Na prática forense, muitas vezes existem processos conclusos há algum tempo, mas que não são
tão antigos, enquanto existem processos com pequeno tempo de conclusão, mas ajuizados há
muitos anos. É duvidoso o que deve ser priorizado. O novo diploma talvez pudesse prever uma
exceção quanto à data da propositura da demanda. Pela redação final, uma possível solução para os
processos mais antigos está na flexibilidade trazida pelo inc. IX, que exclui da ordem cronológica de
julgamentos, mediante decisão fundamentada, a causa que exija urgência no julgamento.
A inovação legislativa de uma ordem de julgamento não deve ser um empecilho à duração razoável
do processo, na medida que permite o controle das partes em relação à espera de seu julgamento,
mediante a publicidade das datas de conclusão dos autos e dos casos que se referem às exceções
legais.
4. Prazos processuais em dias úteis
Outra questão que poderá ter impacto na duração razoável do processo é a modificação dos prazos
processuais, que deixam de ser contados em dias corridos e passam a ser em dias úteis, nos termos
do art. 219.
A medida prolongará os prazos, mas não se revela injusta. Pelo contrário, a expectativa dos
profissionais de direito, no sentido de que tenham que realizar os seus serviços, de modo regular,
durante os dias úteis, é mais do que razoável. O normal, portanto, é que os atos processuais sejam
realizados e contados, para todos, em dias úteis. Somente as situações excepcionais é que devem
ensejar a atuação dos sujeitos do processo nos demais dias. Destaque-se que os prazos em dias
úteis são apenas os processuais, os demais prazos continuam regidos pelo direito material.
5. Aumento de prazos
Ainda analisando a duração razoável do processo e os prazos, o novo Código de Processo Civil
amplia, de modo geral, os prazos, o que pode repercutir na extensão do tempo de duração dos
processos.. Um exemplo de aumento, em termos de recursos, foi a tentativa de unificação em 15
(quinze) dias. Outro exemplo é o do prazo para a manifestação do Ministério Público, que, de acordo
com o art. 178 do novo diploma, foi para 30 (trinta) dias úteis, o que parece demasiado . O prazo
para publicação dos acórdãos foi ampliado para 30 (trinta) dias, de acordo com o art. 944, o que já
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parece mais consentâneo com a complexidade que envolve o ato, tendo em vista a necessidade de
gravação, conferência e juntada de votos, inclusive vencidos, e de possíveis adaptações decorrentes
de mudanças ocorridas ao longo do julgamento colegiado.
6. Técnica de julgamento fracionado quando o julgamento não for unânime
Outra modificação que pode trazer impacto na duração razoável do processo é a própria técnica de
julgamento, prevista no art. 942, para os recursos de apelação, que poderia ser denominada de
“embargos infringentes de ofício”. A previsão não exige que haja a provocação das partes e será
cabível diante de julgamento não unânime, sem distinguir se a sentença atacada analisou ou não o
mérito. Prosseguindo o julgamento não unânime em outra sessão próxima, salvo se possível na
mesma sessão, com a presença de outros julgadores, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial, ofertando-se nova sustentação oral para as partes.
Poderá haver retratação do voto pelos julgadores e a previsão de cabimento dessa técnica de
julgamento é aplicável, também, à ação rescisória, quando o julgamento não unânime for pela
rescisão da sentença, e ao julgamento do agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão
que julgar parcialmente o mérito. A técnica não será aplicada nos casos de julgamento do incidente
de resolução de demandas repetitivas, na assunção de competência, no julgamento da remessa
necessária e quando o julgamento não unânime for do plenário ou do órgão especial.
No âmbito dos Tribunais de Justiça (TJs) e Tribunais Regionais Federais (TRFs), essa nova técnica
de julgamento terá um impacto grande porque, diante das decisões por maioria, haverá a
necessidade de outro julgamento, o que provavelmente alongará a tramitação do processo.
7. Admissibilidade de recursos feita somente pelo órgão ad quem
Em termos de recursos, há uma modificação significativa, porque o juízo de admissibilidade, tanto da
apelação, como do recurso especial e do extraordinário, será realizado pelo órgão ad quem, e não
mais no órgão a quo.
No que tange à duração razoável do processo, o exame da admissibilidade recursal realizado pelo
órgão ad quem, agilizará a remessa do recurso ao tribunal, mas, alongará o tempo de tramitação de
recursos intempestivos ou de outras hipóteses de inadmissibilidade.
8. Precedentes judiciais
Outro ponto relevante são os precedentes judiciais. Conforme constou no relatório do Senador Vital
do Rêgo, “o respeito aos precedentes jurisprudenciais é uma das marcas do futuro Código, o que
reduzirá o grau de imprevisibilidade jurídica que impera sobre os atores da vida civil”.9
O art. 926 indica que a jurisprudência dos tribunais deve se manter íntegra, coerente e estável, além
da previsão de que os tribunais devem respeitar seus precedentes e dar-lhes publicidade.
O atual sistema brasileiro se refere especialmente à jurisprudência ou apenas a um dos seus
instrumentos de exteriorização, a súmula. Entretanto, a evolução do sistema, tal como vem retratadono novo Código, pressupõe o amadurecimento do tratamento conferido tanto à jurisprudência quanto
aos precedentes. Precedente não se confunde com jurisprudência, como bem observa Michele
Taruffo10 em precisa diferenciação:
“Quando se fala em precedente se faz normalmente referência a uma decisão relativa a um caso
particular, enquanto que quando se fala da jurisprudência se faz normalmente referência a uma
pluralidade, frequentemente bastante ampla relativa a vários e diversos casos concretos (…) em
regra a decisão que se assume como precedente é uma só, de modo que fica fácil identificar qual
decisão faz precedente. Ao contrário nos sistemas nos quais se alude à jurisprudência, se faz
referência normalmente a muitas decisões: às vezes são dúzias até mesmo centenas”.
A delimitação das razões de decidir (ratio decidendi) e das circunstâncias essenciais do caso julgado
é fundamental para a caracterização dos limites do entendimento firmado pela corte. Esta operação
costuma distinguir, portanto, a essência da tese jurídica assumida (ratio decidendi) de elementos
acidentais (obter dicta) ao julgamento.
Os precedentes precisam dispor de clareza, solidez e profundidade nos seus fundamentos, pois, do
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contrário, dificilmente serão respeitados e seguidos. O respeito ao precedente decorre e é
proporcional, em boa medida, à capacidade de fundamentação contida nas razões da decisão (ratio
decidendi). Devem ter sido submetidas ao contraditório,11 e a distinção de um caso submetido a
julgamento em relação ao precedente pode ser realizada por qualquer órgão jurisdicional,
independente do precedente invocado.12
Sem adentrar em uma explanação mais detalhada sobre os precedentes,13 no que tange à duração
razoável do processo, do ponto de vista macro, a vinculação ao precedente judicial pode significar
uma celeridade maior, porque, com o acolhimento dos precedentes judiciais no julgamento, há uma
tendência à coerência, à integridade e à estabilidade dos julgamentos e, como consequência,
também uma tendência à redução do número de recursos, com a diminuição no tempo de tramitação
os processos.
9. Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR)
O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas está previsto no novo Código de Processo Civil
e terá lugar em demandas que possam gerar significativa multiplicação de processos baseada em
uma questão idêntica de direito, bem como causar grave insegurança jurídica, devido ao risco de
decisões contraditórias. Terá, portanto, a perspectiva de trazer racionalização e eficiência diante dos
conflitos de massa, evitando que haja ofensa à isonomia e à segurança jurídica nos julgamentos de
questões comuns de direito, material ou processual. As questões submetidas ao incidente serão
registradas no Conselho Nacional de Justiça, e não haverá custas para esse mecanismo.
O incidente poderá, no início, proporcionar uma maior morosidade aos processos, por sua
sistemática processual prever, ao ser instaurado, a suspensão dos processos individuais ou coletivos
pendentes, por até um ano,14 prazo a partir do qual, nos termos do art. 980, não analisado o
incidente, cessa a suspensão, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário.15 Porém,
em tese, a médio e longo prazo, o efeito desse novel mecanismo será a racionalização do sistema
processual, já que a tese jurídica firmada em sede de incidente será aplicada, nos termos da nova
previsão legislativa, a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão
de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, bem como aos casos futuros, o
que poderá proporcionar celeridade aos processos.
10. Recursos repetitivos
Em relação aos recursos repetitivos, a sistemática do novo código permite a suspensão expressa de
todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão submetida à
apreciação dos tribunais superiores em sede repetitiva.
Inicialmente, cabe destacar que, com essa previsão, o novo diploma legal corrige um problema
existente à luz do Código de Processo Civil de 1973, qual seja: a suspensão de processos cuja
questão discutida está submetida à análise em sede de recursos repetitivos é, atualmente, uma
construção da jurisprudência dos tribunais superiores. Os arts. 543-B e C do CPC de 1973 preveem
expressamente apenas a suspensão na tramitação dos recursos extraordinários e especiais
submetidos à sistemática repetitiva, mas não dos processos, em todas as instâncias, que versem
sobre a questão a ser discutida.
Em segundo lugar, essa suspensão deverá ser realizada pelo presidente ou vice-presidente do órgão
a quo, na área de jurisdição do respectivo tribunal que recebe o recurso especial ou extraordinário e
seleciona dois ou mais recursos representativos da controvérsia, nos termos do art. 1036, evitando a
delonga de recebimento no tribunal ad quem. Porém, essa decisão não vincula o relator no tribunal
superior, que poderá selecionar outros recursos representativos da controvérsia, independente da
iniciativa do tribunal a quo, determinado a suspensão do processamento de todos os processos
pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.
O prazo de suspensão será de no máximo um ano, começando a contar da suspensão no órgão a
quo, de modo que eventual demora no julgamento não comprometa indefinidamente a celeridade
dos processos pendentes.
Por fim, cabe, ainda, destacar em relação ao tema que a comunicação do julgamento ao órgão ou à
agência reguladora para fiscalização do cumprimento da tese esposada também é outra importante
previsão, no sentido de que haja a observânciado entendimento judicial firmado. Toda vez que
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houver julgamento de recursos repetitivo, haverá comunicação ao órgão ou à agência reguladora,
para que haja fiscalização do cumprimento da tese firmada em recurso repetitivo, assegurando, em
maior escala, a efetividade do provimento jurisdicional.
11. Calendário processual: ideal a ser perseguido?
Por fim, cabe destacar o tema do calendário processual, previsto no art. 191. O julgamento de um
processo não depende apenas da vontade do juiz, mas também da colaboração das partes,
destacada pelo art. 6.º , para a obtenção de uma decisão em tempo razoável.
O jurisdicionado espera pontualidade da justiça e talvez seja um desafio construir um calendário
processual, em colaboração com as partes, estabelecendo previamente datas de atos processuais e
de julgamento, que deverão ser cumpridos, salvo em casos excepcionais, independente de
intimação, em qualquer grau de jurisdição. Coloca-se, portanto, um desafio, ou um ideal, a ser
perseguido.
12. Referências bibliográficas
ALEMANHA. Zivilprozessordnung (Código de Processo Civil). Berlim: Bundesministerium der Justiz
und für Verbraucherschutz, 2005.
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Precedentes e evolução do direito. Direito jurisprudencial. São
Paulo: Ed. RT, 2012.
BRASIL. Câmara dos Deputados. PL 8.046. Brasília: Câmara dos Deputados, 2010.
______. Senado Federal. Comissão de Juristas “Novo CPC”. Brasília: Senado, jan. 2010. Disponível
em [www.senado.leg.br/senado/novocpc/pdf/Comiss_Juristas_Novo_CPC.pdf]. Acesso em:
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______.Parecer n. 1.111, de 2014: Redação Final do Substitutivo da Câmara dos Deputados ao
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_____. PLS 166. Brasília: Senado, 2010.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Lançamento do Relatório Justiça em Números 2013. Brasília:
CNJ, 2013. Disponível em:
[www.cnj.jus.br/evento/eventos-novos/lancamento-do-relatorio-justica-em-numeros-2013/apresentações].
Acesso em: 23.06.2014.
FÓRUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS. Enunciados do II Fórum Permanente de
Processualistas Civis (FPPC). Salvador, 2014._____. Enunciados do III Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC). Rio de Janeiro, 2014.
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos
no direito comparado e nacional. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2014.
TARUFFO, Michelle. Precedente e jurisprudência. Revista de Processo. vol. 199. p. 139-158. São
Paulo: Ed. RT, set. 2010.
1. O presente texto tem como base a palestra apresentada pelo coautor Aluisio Gonçalves de Castro
Mendes, no dia 06.06.2014, na IV Jornada de Direito Processual Civil, promovida pela Escola da
Magistratura Federal da 1.ª Região, em Brasília e foi atualizado de acordo com a versão do novo
Código de Processo Civil remetida para a sanção em 24 de fevereiro de 2015.
2. BRASIL. Senado Federal. Comissão de Juristas “Novo CPC”. Brasília: Senado, jan. 2010.
Disponível em: [www.senado.leg.br/senado/novocpc/pdf/Comiss_Juristas_Novo_CPC.pdf]. Acesso
em: 23.06.2014.
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3. BRASIL. Senado Federal. PLS 166. Brasília: Senado, 2010.
4. BRASIL. Câmara dos Deputados. PL 8.046. Brasília: Câmara dos Deputados, 2010.
5. BRASIL. Senado Federal. Parecer n. 1.111, de 2014: Redação Final do Substitutivo da Câmara
dos Deputados ao Projeto de Lei do Senado n. 166/20120. Brasília: DF, Senado, 2014.
6. Embora se destaque o Código de Processo Civil alemão, disposições semelhantes também são
registradas no Código de Processo Civil da França, que prevê no art. 16 que o juiz não pode decidir
com fundamento que não tenha sido exposto às partes em contraditório; no art. 183 do Código de
Processo Civil italiano, ao dispor que o tribunal deve pedir os esclarecimentos às partes em
audiência e no art. 3.º, 3, do novo Código de Processo Civil, que prevê que não é ilícito ao juiz, salvo
caso de manifesta desnecessidade, decidir questões, mesmo que possam ser conhecidas de ofício,
sem oportunizar previamente a manifestação das partes.
7. ALEMANHA. Zivilprozessordnung (Código de Processo Civil). Berlim: Bundesministerium der
Justiz und für Verbraucherschutz, 2005.
8. Disciplina o § 139, ZPO Alemã:
Ҥ 139 Materielle Prozessleitung
(1) Das Gericht hat das Sach- und Streitverhältnis, soweit erforderlich, mit den Parteien nach der
tatsächlichen und rechtlichen Seite zu erörtern und Fragen zu stellen. Es hat dahin zu wirken, dass
die Parteien sich rechtzeitig und vollständig über alle erheblichen Tatsachen erklären, insbesondere
ungenügende Angaben zu den geltend gemachten Tatsachen ergänzen, die Beweismittel bezeichnen
und die sachdienlichen Anträge stellen.
(2) Auf einen Gesichtspunkt, den eine Partei erkennbar übersehen oder für unerheblich gehalten hat,
darf das Gericht, soweit nicht nur eine Nebenforderung betroffen ist, seine Entscheidung nur stützen,
wenn es darauf hingewiesen und Gelegenheit zur Äußerung dazu gegeben hat. Dasselbe gilt für
einen Gesichtspunkt, den das Gericht anders beurteilt als beide Parteien.
(3) Das Gericht hat auf die Bedenken aufmerksam zu machen, die hinsichtlich der von Amts wegen
zu berücksichtigenden Punkte bestehen.
(4) Hinweise nach dieser Vorschrift sind so früh wie möglich zu erteilen und aktenkundig zu machen.
Ihre Erteilung kann nur durch den Inhalt der Akten bewiesen werden. Gegen den Inhalt der Akten ist
nur der Nachweis der Fälschung zulässig.
(5) Ist einer Partei eine sofortige Erklärung zu einem gerichtlichen Hinweis nicht möglich, so soll auf
ihren Antrag das Gericht eine Frist bestimmen, in der sie die Erklärung in einem Schriftsatz
nachbringen kann”.
9. O relatório do Senador Vital do Rêgo está disponível em:
[www.senado.leg.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=157517&tp=1]. Acesso em: 09.01.2015.
10. TARUFFO, Michelle. Precedente e jurisprudência. RePro 199/142-143.
11. FÓRUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS. Enunciado 2 do II Fórum Permanente
de Processualistas Civis (FPPC). Salvador, 2014.
12. FÓRUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS. Enunciado 174 do III Fórum
Permanente de Processualistas Civis (FPPC).Rio de Janeiro, 2014.
13. ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Precedentes e evolução do direito. Direito Jurisprudencial.
São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 11-95.
14. Se houver cumulação de pedidos, a suspensão do processo poderá ser apenas parcial, não
abrangendo o pedido cuja tese não será firmada no incidente (FÓRUM PERMANENTE DE
PROCESSUALISTAS CIVIS. Enunciado 205 do III Fórum Permanente de Processualistas Civis
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(FPPC). Rio de Janeiro, 2014).
15. MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Op. cit., p. 285-286.
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