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Online 10 Curadoria de Museus

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Online 10 Curadoria de Museus
Introdução
Esta nossa última aula aprofunda os temas abordados nas aulas 4 a 7. Nela, você vai expandir seus conhecimentos sobre a comunicação museológica.   Vai aprender como são criadas as estratégias de comunicação para que uma experiência expositiva seja prazerosa e sua mensagem bem compreendida pelo público. E para isso, é imprescindível que você conheça o trabalho da curadoria em museus.   É isso que veremos nesta aula. Bons estudos!
Revisão
Esta aula aprofunda os temas abordados nas aulas 4, 5, 6 e 7. Nela, você vai expandir seus conhecimentos sobre a comunicação museológica.
Vai aprender como são criadas as estratégias de comunicação para que uma experiência expositiva seja prazerosa e sua mensagem bem compreendida pelo público. E para isso, é imprescindível que você conheça o trabalho da curadoria em museus.
A partir desses conhecimentos, você poderá criar roteiros ecos-culturais que combinam os estudos de História com caminhadas, passeios e viagens.
Você vai poder inventar experiências lúdicas para aprender e ensinar a História, utilizando os ambientes onde os fatos aconteceram. Vai aprender como fazer as pessoas “viajarem" no tempo histórico.
Curadoria: o que significa?
A palavra “curador" vem da expressão latina tutor, e significa "aquele que cuida".  Nos museus, os curadores são os responsáveis pela administração de uma exposição em todas as suas fases e níveis – desde a concepção, montagem, supervisão e elaboração dos seus conteúdos didáticos.
Geralmente são profundos conhecedores do tema abordado ou, conforme o tipo da mostra, especialistas em História, Filosofia ou estética.
A curadoria diz respeito ao estudo e à interpretação dos objetos – ou coleções de um museu –, seus significados e capacidades de expressão.
Você deve lembrar que os objetos musealizados são aqueles que possuem sentido, e por isso mesmo são escolhidos para serem exibidos num cenário expositivo.
Essas escolhas são feitas pelo curador, ou por uma equipe de curadores, a partir do estudo dos seus significados e capacidades expressivas. Por isso o seu trabalho, na fase de seleção, tende a ser mais interpretativo.
As demais responsabilidades e tarefas administrativas são distribuídas – às vezes pelo próprio curador – para os demais integrantes da equipe que, como você também já viu, é constituída de profissionais de diversas áreas e formações.
Esse foco na interpretação explica por que a curadoria é sempre considerada o coração de uma exposição museológica.
Seja quando o museu expõe suas próprias coleções ou quando recebe acervos de outras instituições, é preciso que haja uma curadoria.
Curador é o profissional que se responsabiliza pela administração desse material, isso é, pela recepção, conservação, segurança, transporte e pelo estudo desse acervo, para usá-lo como transmissor da mensagem expositiva.
Mesmo naquelas exposições em que não existe uma coleção a ser mostrada – como as dos centros de ciências ou de museus para crianças –, é necessário interpretar a pesquisa feita pela curadoria, pois é através dela que será elaborada a narrativa do conteúdo que a exposição irá apresentar ao público.
Quando não há um curador indicado, normalmente são os museólogos ligados à própria instituição que se incumbem dessa responsabilidade, ou à própria equipe do museu.
Mas esse papel pode também ser compartilhado com outros profissionais escolhidos para atuar como “curadores convidados” – artistas, educadores, especialistas, colecionadores, representantes do público para o qual a exposição é dirigida ou membros da comunidade da qual a coleção se origina.
Isso não altera o caráter fundamental da curadoria, que se mantém como parte integrante da missão do museu. Seja individualmente ou em equipe, é uma função estratégica que exige esforço de pesquisa e deve ser bem executada.
A curadoria no planejamento de uma exposição
No planejamento de uma exposição museológica, cabem à curadoria as seguintes responsabilidades:
. Idealizar e formular o conceito da exposição;
. Pesquisar o tema;
. Analisar e selecionar os objetos da coleção a serem expostos;
. Documentar esses objetos (justificar as suas escolhas e traçar uma estratégia de comunicação para transmitir os seus significados);
. Preparar e ordenar as legendas, os textos, os gráficos e demais instrumentos a serem usados para explicar o conceito da exposição;
. Avaliar o resultado da mostra em relação ao público-alvo.
O estágio inicial no desenvolvimento de uma exposição é escolha de uma ideia central, isto é, um conceito que define o seu objetivo. Isto pode ser facilmente demonstrável quando a ideia é explícita; por exemplo: uma mostra cujo tema é diretamente anunciado e o seu objetivo é evidente.
Os eventos de grandes proporções e as exposições comemorativas têm, em geral, esse perfil. Imagine a comemoração da Independência do Brasil no dia 7 de setembro, com seus desfiles por todo o país.
As autoridades presentes, os veículos militares, os uniformes, os armamentos, as bandas de música marcando o passo e o ritmo dos hinos, as bandeiras, as evoluções das tropas, das esquadrilhas e das cavalarias formam um grande conjunto simbólico, cuja ideia é reafirmar o sentimento de unidade, nacionalidade e patriotismo. Esse objetivo é evidentemente demonstrado; é explícito.
 De outro modo, pode-se conceber uma mostra cuja intenção esteja subjacente e seja gradualmente apresentada ao longo da narrativa. Imagine uma exposição sobre as expressões do estilo barroco – na arquitetura, na pintura, na escultura – onde nos objetos exibidos aparecem cenas das crueldades praticadas na época da Inquisição. Certamente, essa mostra irá impactar o público não apenas pelas belas características do estilo, mas também pela crueza das imagens.
Nesse caso, as obras são usadas como "janelas" através das quais são transmitidas informações não anunciadas de antemão, mas o público as percebe e as assimila por meio dos "outros" significados daqueles objetos.
Portanto, a ideia central de uma exposição é a estratégia criada pela curadoria para abordar uma questão e propor uma reflexão. Assim, atinge seu objetivo, estando ele explícito ou implícito.
Para isso, é necessário ter claro esse objetivo e tudo fazer para alcançá-lo, isto é, prever os resultados de toda a ação, desde a escolha do momento propício, do lugar e dos objetos pelos seus significados até à forma de apresentá-los e para quem.
A ideia central de uma mostra define a estratégia de comunicação.
 É a tese criada pela curadoria para reunir e associar assuntos em torno de um tema e apresentá-los e explicá-los intencionalmente através de "janelas". E essas janelas são os objetos inseridos em um cenário-narrativa.
As exposições vistas pelos olhos dos visitantes: a chave para o sucesso
 Você já sabe que os objetos são o principal ingrediente de uma exposição. Portanto, o modo de distribuí-los no espaço físico é a primeira preocupação dos organizadores de uma mostra.
Ainda que o objetivo seja organizar o acervo de modo a facilitar a assimilação do conteúdo, este deve ser disposto de forma a causar impacto e enfatizar sua importância.
Lembre-se que os objetos são as “musas” de uma mostra, e a sua posição em relação ao observador, ao ambiente como um todo e aos demais objetos "concorrentes" irá determinar se ele será mais ou menos atraente.
Imagine um ambiente superlotado; além de prejudicar a experiência do visitante, pode até comprometer a integridade do acervo.
Quando você visitar uma mostra, assuma uma postura crítica em relação ao tema proposto e a forma como ele está sendo apresentado. Analise a escolha dos objetos. Julgue seus significados e suas capacidades de exprimi-los.
Lembre-se: os objetos não competem entre si; complementam-se.  São partes de um todo. Um todo-significado, um todo-expressão, um todo-mensagem, um todo-ideia, um todo-reflexão, um todo-ação.
Aprecie minuciosamente a mostra e faça-lhe um julgamento– severo – de acordo com o que você aprendeu. Debata com seus colegas. Como você apresentaria esse tema?  Proponha uma forma diferente – mais do seu jeito – para convidar o público à reflexão-ação.
 Lembre que a qualidade de uma mostra pode ser medida pela soma qualitativa dos seus elementos. Uma boa mostra deve propor uma reflexão que leve a uma ação sobre a realidade; para modificá-la para melhor, claro!
O público pode ter diferentes reações quando convidado a refletir sobre uma realidade – e mais ainda quando consegue se projetar dentro dessa realidade.
Exposições de tipo estético
Em uma mostra que apela para o sentido estético, a reação mais comum é a simples contemplação. Diante de uma obra de arte, ou quando se está imerso em um cenário que convida à fruição estética, geralmente a experiência convida à observação dos efeitos plásticos da criação artística.
Assim, esse tipo de mostra propõe uma experiência mais orientada às emoções e sentimentos, com menor nível de informação.
Esse tipo de exposição se concentra mais na percepção de cada objeto como uma entidade em si mesma, única, tal como as pinturas, gravuras, esculturas, montagens e instalações.
Também podem ser incluídas nesse tipo de mostra as artes decorativas – objetos interessantes e belos de diferentes culturas que não foram concebidos originalmente como obras de arte, embora sejam exibidos como tais.
Esse tipo de exposição pode, contudo, exibir também objetos tridimensionais - mobiliário, veículos, joalheria, indumentária etc. 
– que geralmente são percebidos como partes de um cenário estético.
Seja como for, o convite apela à contemplação, à fruição da beleza plástica.
Exposições de tipo histórico
Nas exposições de tipo histórico – ou temático –, os objetos são organizados dentro de vitrines ou inseridos em dioramas( representação de uma cena) , ou ainda dispostos em galerias, geralmente junto a outros meios de informação - gráficos, mapas e outros acessórios –, usados para auxiliar a compreensão do tema ou relacioná-los entre si dentro de um contexto.
Para serem mais compreendidas, essas exposições demandam um conhecimento prévio sobre o tema, e por isso apresentam um nível mais elevado de informação.  
Em geral, as informações são dispostas associando textos e imagens, convidando o público à assimilação.
Os objetos são expostos em pequenos grupos formando um conjunto lógico, podendo também incorporar outros elementos – espécimes, maquetes – e outros recursos audiovisuais, interativos ou gráficos em grande escala.
Exposições do tipo exploração
Exposições do tipo exploração ou descoberta tradicionalmente apresentam temas arqueológicos ou de história natural. Geralmente exibem coleções de mineralogia, artefatos de povos primitivos e espécimes taxidermizados, seguindo esquemas de classificação científica nos moldes dos antigos “gabinetes de curiosidades”. 
A disposição do acervo segue uma ordem cronológica, onde toda a superfície do piso e da parede é utilizada para exibi-lo.
 Para serem mais compreendidas, essas mostras exigem que o visitante possua um maior nível de informação. Daí a postura do público ser uma busca contínua pela informação, normalmente apresentada em sequência através de textos e imagens associadas.
 As peças menores e em maior quantidade – geralmente espécimes de invertebrados – são organizadas por espécie e exibidas em gavetas envidraçadas, e as peças maiores em pequenos nichos simulando seus ambientes naturais.
 Os objetos de maior tamanho – esqueletos de grandes animais e painéis que simulam seus ambientes naturais – são exibidos em galerias à parte, em destaque.
Podem ser explicados por outros recursos audiovisuais – filmes, desenhos, dioramas -, que permitem uma melhor assimilação do conteúdo pela boa visualização e circulação no espaço expositivo.
Exposições interativas
Já as exposições interativas incluem experimentos, simulações e demonstrações ao vivo. Em geral são apresentadas em museus de ciência e tecnologia, salas multimídia, aquários, planetários e parques temáticos. São mais direcionadas para o público jovem de estudantes e também crianças.
As interações podem ocorrer de diversas formas: quiosques de computadores, apresentações audiovisuais e oficinas de criação, onde a informação é obtida durante o próprio fazer interativo.
Essas exposições convidam ao experimento e à descoberta, tanto individuais como em grupos. Por isso podem permitir que várias pessoas participem ativamente de um experimento ao mesmo tempo.
Para melhor obter a informação disponibilizada, é preciso um razoável grau de conhecimento para manipular equipamentos multimídia. Geralmente esse tipo de mostra é acompanhada por monitores, e o número de visitantes-participantes é limitado conforme a atividade.
Propostas nas exposições
 As reflexões propostas nas exposições e outras ações educativas de museus podem sofrer a concorrência de informações conflitantes, geralmente repassadas pelas mídias de massa – televisão, internet, jornais e instituições religiosas – que podem deformar o sentido ou anular o experimento. Isso é mais comum de ocorrer com grupos de visitantes de uma mesma origem com forte apelo cultural – comunidades, instituições religiosas –, cujas reações passivas e automáticas tendem a ser parecidas – ou mesmo idênticas –, e a intenção didática da ação educativa pode ser constantemente questionada. Situações desse tipo podem acontecer e devem ser previstas, evitadas e neutralizadas, caso ocorram. Por isso, o conceito da mostra, a escolha do tema, a qualidade da pesquisa, a forma de apresentar as questões para reflexão e o público-alvo devem passar por uma rigorosa análise da curadoria logo na concepção do projeto. E devem ser constantemente revistas ao longo do projeto e modificadas, se preciso. Por exemplo: uma exposição aberta ao público pode receber visitantes de diferentes níveis de instrução oriundos de grupos sociais cujos hábitos e valores são próprios e diferenciados.
Esses visitantes não são pré-selecionados. Eles vêm espontaneamente, atraídos pelo tema ou por mera curiosidade. Daí suas reações diante de determinadas questões poderem ser distintas, conforme a carga cultural que trazem dos seus grupos de origem. Esse encontro entre as novas informações, as reflexões produzidas e os valores originais das pessoas deve ser mediado com cautela. Essa mediação é responsabilidade da curadoria. De outro modo, em uma ação educativa em que os participantes podem ser selecionados pelo interesse comum – convidados, como nas "aulas-passeio" que você vai criar –, o diálogo tanto pode se orientar para todo o grupo como para um interlocutor específico. Havendo conflito de informação sobre alguma questão, esta será mais facilmente mediada pela explicação que você vai dar – mesmo que seja para um participante específico – mas vai se diluir para todo o grupo e pode ser aceita ou não, de acordo com a qualidade da pesquisa anterior que você realizou sobre o tema. Lembre-se: nas aulas-passeio, a curadoria é sua responsabilidade.

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