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Expositiva Prof. Gustavo Nascimento Paes prática Indaial – 2022 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof. Gustavo Nascimento Paes Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI P126p Paes, Gustavo Nascimento Prática expositiva. / Gustavo Nascimento Paes – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 182 p.; il. ISBN 978-85-515-0632-5 ISBN Digital 978-85-515-0627-1 1. Museu e exposição – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD069.22 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Prática Expositiva! Nele, compreenderemos como o museu formula e comunica sentidos a partir do acervo que abarca. Podemos considerar que o museu é um ambiente que oferta conhecimentos, saberes, subjetividades, situações e emoções. Os museus assumem um papel fundamental de comunicação, não só museológica, mas social. A depender do discurso institucional, ganha-se um novo direcionamento. Os processos de criação e de elaboração de uma exposição, seja de longa ou curta duração, itinerante ou ao ar livre, fazem com que o setor de comunicação, em museus, adquira um papel de suma importância no processo museológico. Já a função social de um museu ocorre na medida em que a instituição museológica possibilita a formação e a comunicação de sentidos com base no acervo. Atualmente, há dispositivos legais voltados para a organização do setor museal brasileiro e para a proteção dos patrimônios culturais musealizado e passível de musealização, por exemplo, a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que institui o Estatuto de Museus e legitima o plano museológico. A lei nos indica um conjunto de programas que corresponde a diferentes atividades que integram a gestão de museus, dentre eles, a pesquisa, que aborda o processamento e a disseminação da informação, a fim de evidenciar as linhas de pesquisa que o museu segue e contribuir para compreender e viabilizar os estudos de público etc. (BRASIL, 2009). Um programa de exposições, com diversas ações, deve levar em consideração a consulta à comunidade, para, assim, entender a demanda, as expectativas e as reações face às exposições realizadas, além de um permanente trabalho de avaliação dos resultados obtidos, visando aprimorar a atuação. Para isso, direcionaremos a leitura e o estudo na área de exposição, posto que todos os museus, independentemente das tipologias deles, são instituições culturais, e com a comunicação imbricada, tanto que podemos falar de comunicação cultural. Na Unidade 1, compreenderemos a relação entre museu, comunicação e exposição. As discussões teóricas apresentadas servirão de base para entendermos os projetos expográficos e como o planejamento estratégico deles é fundamental para mitigar possíveis sinistros. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os elementos que constituem uma exposição, mais especificamente, a pré-produção, o que perpassa pelas questões educativas e pela acessibilidade em exposições, ou seja, daremos o primeiro passo para a elaboração de uma exposição, tendo, como referências, o tema, o conceito, o acervo a ser selecionado para compô-la, o público, dentre outros fatores. APRESENTAÇÃO Por fim, na Unidade 3, abordaremos o processo que envolve a execução de uma exposição, ou seja, as etapas de produção e de pós-produção. Ao se idealizar um projeto expográfico, é construída, ao fim de tudo, uma narrativa, associada desde a escolha do tema, dos objetos, da iluminação, das tipologias textuais, do local e acessibilidades, enfim, todo um conjunto, uma forma de comunicar. Assim, entende-se que a exposição é comunicação, e que a semiótica é um fator intrínseco, é inerente, pois, por meio do estudo dos signos que compõem uma narrativa, obtêm-se melhores resultados. Esperamos que os conteúdos abordados, com os materiais selecionados, estimulem a sua leitura, e que o livro didático seja útil e relevante para a sua aprendizagem e formação profissional. Boa leitura e bons estudos! Prof. Gustavo Nascimento Paes Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. QR CODE Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! SUMÁRIO UNIDADE 1 — O QUE É UMA EXPOSIÇÃO ................................................................1 TÓPICO 1 — MUSEU E COMUNICAÇÃO ................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 MUSEOLOGIA E COMUNICAÇÃO ......................................................................... 3 2.1 INTRODUÇÃO AO CONTEXTO DA EXPOSIÇÃO ...............................................................9RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 14 TÓPICO 2 — CONCEITUAÇÃO MUSEOLÓGICA ......................................................17 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................17 2 CONCEITOS BÁSICOS ........................................................................................ 18 2.1 MUSEOGRAFIA E EXPOGRAFIA .......................................................................................18 2.2 CENOGRAFIA ......................................................................................................................20 2.3 CURADORIA .........................................................................................................................21 2.4 O QUE É UM PROJETO..................................................................................................... 23 3 DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES PARA EXPOSIÇÕES ...................................24 3.1 TIPOLOGIAS EXPOGRÁFICAS .......................................................................................... 24 3.1.1 Exposições comerciais ou feiras mundiais ........................................................ 26 3.1.2 Exposições virtuais ...................................................................................................27 3.2 MODALIDADE E DURAÇÃO .............................................................................................28 3.2.1 Exposições de longa e curta durações, ou temporárias ................................28 3.2.2 Exposições itinerantes e extramuros .................................................................31 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................33 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................34 TÓPICO 3 — INTRODUÇÃO AO PENSAR EXPOGRÁFICO ..................................... 37 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 37 2 UMA PROPOSTA EXPOSITIVA ...........................................................................38 2.1 LEVANTAMENTOS INFORMACIONAIS INICIAIS ...........................................................40 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................45 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 51 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................52 REFERÊNCIAS .......................................................................................................55 UNIDADE 2 — ELEMENTOS CONSTITUINTES EXPOGRÁFICOS .........................59 TÓPICO 1 — CADEIA OPERATÓRIA PARA DESENVOLVIMENTO DE UMA EXPOSIÇÃO ....................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 61 2 GERENCIAMENTO DE PROJETO .......................................................................62 2.1 PLANEJAMENTO ................................................................................................................ 63 2.2 RECURSOS FINANCEIROS ...............................................................................................67 2.3 ITINERÂNCIA DE EXPOSIÇÃO ........................................................................................68 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 72 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 73 TÓPICO 2 — PROJETO EXPOGRÁFICO ................................................................ 77 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 77 2 PRÉ-PRODUÇÃO ................................................................................................78 2.1. DOCUMENTAÇÃO REFERENTE AOS EMPRÉSTIMOS .................................................81 2.2 RECURSOS EXPOGRÁFICOS ..........................................................................................82 2.3 MÓDULOS EXPOSITIVOS E CIRCULAÇÃO ...................................................................84 2.4 CONSERVAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO ................................................................................ 87 2.5 COR .......................................................................................................................................88 2.6 ILUMINAÇÃO.......................................................................................................................89 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................92 TÓPICO 3 — EDUCAÇÃO NÃO FORMAL EM MUSEUS ..........................................95 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................95 2 AÇÕES EDUCATIVAS .........................................................................................96 3 AÇÃO CULTURAL .............................................................................................100 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................103 AUTOATIVIDADE .................................................................................................104 TÓPICO 4 —ACESSIBILIDADE EM MUSEUS ....................................................... 107 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 107 2 ACESSIBILIDADE NA EXPOSIÇÃO ..................................................................108 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 114 RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................ 118 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................119 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 123 UNIDADE 3 — ELEMENTOS CONSTITUINTES EXPOGRÁFICOS ....................... 127 TÓPICO 1 — PROJETO EXPOGRÁFICO ............................................................... 129 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 129 2 PRÉ-PRODUÇÃO E PRODUÇÃO ......................................................................130 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 139 AUTOATIVIDADE .................................................................................................140 TÓPICO 2 — SEGURANÇA EM MUSEUS..............................................................145 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................145 2 SEGURANÇA PARA EXPOSIÇÃO .....................................................................146 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 157 AUTOATIVIDADE .................................................................................................158 TÓPICO 3 — INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO E CONTINUIDADE .......................161 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................1612 MANUTENÇÃO .................................................................................................. 162 3 DESMONTAGEM ............................................................................................... 163 4 AVALIAÇÃO ......................................................................................................164 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 172 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................177 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 178 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 181 1 UNIDADE 1 — O QUE É UMA EXPOSIÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os aspectos teóricos relacionados à museologia e à comunicação; • debater, conceitualmente, os principais elementos que fundamentam a concepção de exposições; • estimular a reflexão a respeito do processo de idealização, referente às diferentes tipologias expográficas existentes; • estudar e contextualizar os processos museológicos, ao direcioná-los para as áreas de comunicação museológica e exposição. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – MUSEU E COMUNICAÇÃO TÓPICO 2 – CONCEITUAÇÃO MUSEOLÓGICA TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO AO PENSAR EXPOGRÁFICO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 MUSEU E COMUNICAÇÃO TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO As relações humanas e as manifestações culturais delas envolvem o indivíduo e grupos de indivíduos em múltiplas possibilidades de processos de comunicação. Pode- se questionar o que é comunicação, além de como se efetiva esse ato, porém, não se comunicar é impossível, pois, mesmo não querendo, um sujeito emite mensagens para outro. Já parou para observar que o silêncio, diante de uma situação, é uma comunicação? Ainda, uma vez que se comunica algo, não é possível voltar atrás. O ato de comunicar envolve um emissor, o qual envia uma mensagem ao receptor, aquele que recebe. Nessa relação, estabelece-se um código, o modo por meio do qual a mensagem é transmitida, por exemplo, pela escrita, gestos, falas etc. Tudo isso em um dado contexto, o qual envolve o emissor e o receptor, a estrutura-base do processo comunicacional. Na atualidade, fala-se da comunicação museológica, além do papel das exposições nessa comunicação. Cury (2005, p. 34) entende a comunicação museológica como a denominação genérica de referência às diversas formas de extroversão do conhecimento em museus, sendo, a mais específica delas, a exposição, pois, por meio dela, “o público tem a oportunidade de acesso à poesia das coisas”. De fato, cabe, a uma exposição de um museu, a responsabilidade de mediar a relação entre o homem e as culturas material e imaterial. Como comenta Gonçalves (2004), a exposição pode utilizar diferentes recursos comunicacionais, como a cenografia, que demarca a localização cultural da produção; o próprio desenho do espaço; os usos da luz e da cor, dentre outros recursos tecnológicos. Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos os debates conceituais, tendo, como base, as definições de museu e de código de ética. Dialogaremos, nesses debates, a respeito da área da Museologia, envolvidas a comunicação e a exposição, para que, assim, possamos compreender, teórica e conceitualmente, as relações que envolvem a cadeia operatória da Museologia. Aproveitem para conhecer um pouco mais as relações pertinentes ao campo do museu e para compreender como as exposições se inserem nesse universo. 2 MUSEOLOGIA E COMUNICAÇÃO A definição de museu, segundo o Conselho Internacional de Museologia (ICOM), é: Instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade (ICOM, 2007, s. p.). 4 Observa-se, na passagem anterior, que as instituições denominadas de museus, dentre as diferentes atuações que englobam, devem ser comprometidas com o comunicar e o expor. Vale sinalizar que o grande público tem a possibilidade de conhecer melhor um museu, devido a uma realização constante e/ou periódica de exposições. Dentre as diferentes estratégias comunicacionais, a exposição é considerada a principal, a forma mais comum de comunicação em museus, seja devido à coleção, para interpretação e socialização do patrimônio humano, ou a coleções pertencentes a outras instituições, públicas e privadas, para a estruturação do discurso expositivo. Vale ressaltar que a cadeia operatória museológica está estruturada na definição e no conceito de musealização, o que, de forma geral, consiste na seleção de um dado objeto por valorização. O processo de musealização aproxima a Museografia e a Museologia, pois “descreve (o quê), especifica (para quem) e analisa (como) o processo no qual a sociedade atribui o status patrimonial a determinados objetos e os preserva para distintos usos” (BRUNO, 2007, p. 147). De um ponto de vista, mais estritamente, museológico, a musealização é a operação de extração, física e conceitual, de uma coisa do meio natural, ou cultural, de origem, conferindo, a ela, um estatuto museal – isto é, transformando-a em musealium, ou musealia, em um “objeto de museu” que se integre no campo museal (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 35). Diante disso, como alega Cury (2006), a musealia estrutura as ações básicas institucionais, a saber: aquisição de acervo, pesquisa, documentação, conservação, gestão e comunicação. Ainda, segundo a autora, no museu, estão os sujeitos promotores da musealização, como o pesquisador, o documentalista, o conservador, o museólogo, o historiador e o educador, dentre outros que compõem os recursos humanos da instituição. Esses atores participam, também, da construção do discurso museológico, tendo, como base, a missão da instituição e a fomentação dos discursos comunicacionais institucionais. O termo “objeto de museu” é, por vezes, substituído pelo neologismo musealia (pouco utilizado), construído a partir do latim, com plural neutro: as musealia NOTA 5 O processo comunicacional, dentre diferentes ações, viabiliza, por exemplo, os projetos expositivos, ao levar em consideração os princípios éticos e morais, como sinaliza o Código de Ética do ICOM para Museus Versão Lusófona, de 2009. 4.1. Mostras, exposições e atividades especiais – Mostras e exposições temporárias, materiais ou virtuais, devem estar de acordo com a missão, a política e os objetivos do museu. Não devem comprometer a qualidade e as adequadas proteção e conservação dos acervos (ICOM, 2009, p. 21). As instituições museológicas devem contemplar o processo de gestão, conforme passagem citada, ou, ainda, com base no plano museológico, Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que informa, no Art. 23, os agrupamentos das ações, dentre elas, “(d) de exposições - abrangem a organização e a utilização de todos os espaços e processos de exposição do museu, intra ou extramuros, de longa ou curta duração” (BRASIL, 2009). Um dos setores, ou departamentos, responsáveis por efetivar a extroversão comunicacional é a comunicação institucional. Pode-se compreendê-la como a atividade, dentro da gestão organizacional, que cuida da divulgação das realizações institucionais nos ambientes internos e externos. Para que se possa compreender melhor esse processo, utiliza-se overbete apresentado na publicação a seguir: A Comunicação (C) é a ação de se veicular uma informação entre um ou vários emissores (E) e um ou vários receptores (R), por meio de um canal (segundo o modelo ECR de Lasswell, 1948). Esse conceito é tão geral que não está restrito aos processos humanos portadores de informação de caráter semântico, mas se encontra, também, nas máquinas, no mundo animal ou na vida social (Wiener, 1948) (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 35). A partir da definição relatada, têm-se dois níveis de comunicação presentes nos museus: unilateral e interativa. Entretanto, como comenta Cury (2005, p. 370), o modelo unilateral, ou unidirecional, “é hegemônico, e, dele, parte a ideia de “modelo simplificado” de comunicação, ou seja, aquele, comumente, esquematizado por uma seta que parte do emissor e chega ao receptor por um meio”. FIGURA 1 – MODELO UNILATERAL OU UNIDIRECIONAL COMUNICAÇÃO RECEPTORESEMISSORES FONTE: O autor 6 Compete, assim, aos museus, comunicarem. Essa é a comunicação que possibilita a “transmissão, entendida como a comunicação unilateral no tempo, com o objetivo de permitir, a cada um, apropriar-se da bagagem cultural que assegura as próprias humanidade e inserção na sociedade” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 35). O feedback, ou seja, a volta da seta do receptor para o emissor, orienta o emissor para ajustes no meio, para que a mensagem chegue conforme as expectativas. Essa concepção provoca a confusão entre o sentido do processo e as práticas de comunicação, com a significação da mensagem (CURY, 2005). NOTA Vale destacar que, até a segunda metade do século XX, a função principal de um museu era a de preservação dos bens culturais ou naturais acumulados, que, eventualmente, poderiam, ou não, ser expostos, “sem que fosse formulada, explicitamente, uma intenção de comunicar, isto é, de fazer circular uma mensagem, ou uma informação, a um público receptor” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 35). Por um lado, a ideia de uma mensagem museal só surgiu muito tarde, especialmente, com as exposições temáticas nas quais prevaleceu, por muito tempo, a intenção didática. Por outro, Cury (2005) informa que o receptor permaneceu desconhecido há muito tempo, e, apenas, recentemente, desenvolveram-se estudos de visitação e pesquisas de público. Isso possibilitaria, portanto, uma comunicação mais interativa. A comunicação não é, essencialmente, verbal, e não pode ser comparada com a leitura de um texto; diferentemente, ela opera pela apresentação sensível dos objetos expostos: Como sistema de comunicação, o museu depende, então, da lin- guagem não verbal dos objetos e dos fenômenos observáveis. Ele é, antes de tudo, uma linguagem visual que pode se tornar uma linguagem audível, ou tátil. Seu poder de comunicação é tão intenso que, eticamente, sua utilização deve ser uma prioridade para os profissionais de museus (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 35). NOTA 7 Segundo Almeida (2004), marcaram presença outros modelos que envolveram a comunicação e a semiótica da informação, porém, predominaram a informação unidirecional, com pequenas brechas para o caráter negocial. Por exemplo, a questão do feedback seria agregada, posteriormente, aos debates. Em 1968, Duncan Cameron desenhou um modelo de comunicação, distinto do tradicional entendimento de comunicação da época. Ao modelo simples, centrado em um emissor, em um meio de transmissão e em um receptor, esse autor acrescentou o feedback, ao defender que era a base que permitia um exame crítico efetivo de uma exposição1 e ao informar, ao emissor, se os visitantes do museu compreenderam, corretamente, a mensagem transmitida. O modelo possibilita que o visitante ganhe pauta nos processos comunicacionais. Como sinaliza Paes (2012), o feedback, cuja principal função é avaliar a eficácia da comunicação, surgiu, então, como elemento complementar no processo de comunicação, que permitiu conhecer a resposta do visitante, ou seja, com o intuito de compreender o processo de comunicação, ao longo dos tempos, surgiram vários autores que definiram alguns modelos. Paes (2012) comenta que Eilean Hopper-Greenhill apresentou o modelo comunicacional para os museus, pelo qual o emissor foi substituído por uma equipe de comunicadores, que inclui curador, designers, conservadores, e, até mesmo, públicos. Já o receptor deixa de ser visto como uma figura que, apenas, recebe alguma informação, e passa a ser entendido como um elemento capaz de interpretar a informação disponibilizada para construir significados. Junto a isso, no centro do processo comunicativo, tem-se um novo espaço central, que se encontra em permanente alteração, onde convergem os significados que são, constantemente, feitos e refeitos. Quando a comunicação é unilateral e opera no tempo, não apenas no espaço, é chamada de transmissão (DEBRAY, 2000). ATENÇÃO 8 Um dos marcos referenciais dessa aproximação de campos – ciência da comunicação e museologia – foi proposto por Duncan Cameron, no final da década de 1960, na América do Norte. Cameron, em 1968, buscou, na obra Teoria Matemática da Comunicação, de 1949, o modelo original de Claude E. Shannon e W. Weaver, desenvolvido para explicar a comunicação elétrica. O modelo de Shannon e Weaver entendia que a unidade de informação era o número binário – bit –, pelo qual era possível medir a quantidade de informação gerada (por uma fonte) e enviada (pelo transmissor) por segundo, por meio de determinado canal de comunicação, além da recebida (pelo receptor), incluindo codificar a mensagem oriunda de uma determinada fonte (CURY, 2005). NOTA Na atualidade, o processo de comunicação museológica é dialógico, pela interação entre os agentes envolvidos na musealização, pela (re)significação e pelas trocas simbólicas dos sentidos patrimoniais atribuídos, intercambiados, negociados e que prescindem, sempre, de uma interação com o outro (SANTANA, 2011). NOTA O expositor transmite uma mensagem que pode ter várias interpretações, conforme as estruturas socioculturais e cognitivas de cada um dos visitantes do museu. As diversas interpretações dos visitantes podem ser visões diferentes, mas, também, complementares, na medida em que são as diferentes perspectivas que permitem ter uma visão conjunta e alargada de um tema. O diálogo entre os expositores e os visitantes permite não só alargar o conhecimento dos indivíduos, mas, também, estreitar as ligações entre eles, criando, igualmente, uma estreita relação de fidelidade e de permanente contacto. De maneira mais geral, a comunicação ganharia pauta nas instituições, no fim do século XX, no sentido de que os museus se comunicam de forma específica, por meio de métodos próprios, e utilizam todas as outras técnicas de comunicação, “correndo o risco, talvez, de investir menos nas características mais específicas” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 35). 9 A exposição museológica é o resultado de várias intervenções, não apenas conceituais, mas físicas, de cunho comunicacional. Através da aplicação de técnicas e estilos, combinados à forma e à função, é possível atingir os efeitos pretendidos, o que permite a avaliação visual, estética e sensível junto do processo de compreensão da informação contida nesse universo de imersão (PAES, 2016). ATENÇÃO 2.1 INTRODUÇÃO AO CONTEXTO DA EXPOSIÇÃO As exposições têm uma relação histórica e indissociável com o museu e a evolução dos meios de comunicação. “A necessidade de exibição de coleções particulares foi um dos fatores responsáveis pela própria origem da instituição, que foi se transformando ao longo dos séculos” (ABREU, 2014, p. 19). No período posterior à Segunda Guer ra Mundial, surgiram associações interna- cionais de profissionais de museus, como o Conselho Internacional de Museus (ICOM), de 1946. Isso viabilizou a trocas de ideias e de experiências, “não só entre as instituições museológicas,como, também, o diálogo multidisciplinar dos diferentes profissionais que atuavam nesses espaços, ampliando os conceitos de museu e de patrimônio” (NAVAS; CONTIER; SOUZA, 2013, p. 16). Visite o site do ICOM internacional: www.icom.museum. DICA Nesse mesmo período, vivenciaríamos uma mudança nas relações dos museus com a sociedade e uma ampliação das funções sociais dessas institui ções: de locais de guarda e estudo de coleções passaram a locais de debate de ideias a respeito do patrimônio preservado. As exposições passariam a ser, cada vez mais, compreensíveis para as pessoas comuns, com legendas, textos e objetos interativos, a fim de ajudarem no entendimento das coleções expostas. Nesse movimento gradativo, as exposições começaram a ser concebidas a partir de objetivos, que levavam em consideração o que, como e para quem comunicar. https://icom.museum/es/ 10 Navas, Contier e Souza (2013) comentam que partes do acervo passaram a ser selecionadas (ou, mesmo, produzidas), de acordo com os objetivos desejados. A forma de se exporem os objetos se voltou à uti lização de cenografias, ambientação e outros artifícios de comunicação. O desenvolvimento de tecnologias também começou a influenciar as exposi ções. Elementos audiovisuais, técnicas de holografia, projetores e diversos tipos de elementos gráficos passaram a ser utilizados nesses espaços, para possibilitar outras formas de comunicação. “Neste cenário de transformações na abordagem dos museus, um dos aspectos da Nova Museologia é a reconfiguração da instituição como produtora de uma memória totalizante para o uso da memória como um espelho múltiplo da sociedade” (ABREU, 2014, p. 34). Ennes (2008) recorda que a palavra exposição, derivada da raiz latina expositio, significava, inicialmente, explicação, com o sentido geral de apresentação, porém, o significado dela, hoje, está ligado a apresentações de formas variadas, com explicação ao público. Atualmente, os termos exposition (em francês) e exhibition (em inglês) têm o mesmo sentido do termo em português, “exposição”, que possui o mesmo radical do primeiro, e se aplicam ao conjunto de coisas de naturezas variadas e formas distintas, expostas ao público, e ao lugar onde acontece essa manifestação (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 35). Nesse contexto, os museus também vão progressivamente agregando espaços para exposições temporárias, ofertando oportunidades para a apresentação e a divulgação de outras produções, além das próprias coleções (ABREU, 2014). Um dos espaços responsáveis por essa diversificação, segundo Abreu (2014), é o Centro Georges Pompidou, fundado em 1977, na capital francesa. Trazia, além das galerias, espaços para a realização de atividades, como conferências, oficinas, encontros e refeições. FIGURA 2 – FACHADA CENTRO GEORGES POMPIDOU FONTE: <https://lusojornal.com/o-critico-de-arte-egidio-alvaro-morreu-em-montrouge/>. Acesso em: 24 abr. 2021. https://lusojornal.com/o-critico-de-arte-egidio-alvaro-morreu-em-montrouge/ 11 Cury (2006) sinaliza que a comunicação museológica é a denominação genérica dada às diversas formas de extroversão do conhecimento em museus, uma vez que há um trabalho de introversão. Propões duas manifestações de comunicações: lato sensu e stricto sensu. • Lato sensu: utilização de mediadores, ações educativas, visitas guiadas, totens informativos, áudio de guia, catálogos, vídeos, material de divulgação etc. • Stricto sensu: principal forma de comunicação em museus. São as exposições museológicas. É na exposição que se potencializa a relação profunda entre o Homem e o Objeto no cenário institucionalizado (a instituição) e no cenário expositivo (a exposição, propriamente). A relação profunda se refere ao encontro entre as pessoas e a poesia, sendo que a poesia está nos objetos. A nós, profissionais de museus, cabe a construção desse encontro, e, isso, fazemos elaborando exposições e estudando as formas através das quais o público se relaciona com os objetos face àquela organização (CURY, 2006, p. 340). As exposições devem ofertar as relações e os encontros entre os públicos e os objetos, ou, ainda, refletir a personalidade do museu e o posicionamento social dele. Os museus e as exposições que proporcionam podem variar de dinâmica, para estudos, vivência ou diversão, dentre outras propostas. Ainda, conforme Cury (2005), a exposição é o local de encontro e de relacionamento entre o que o museu quer apresentar e como deve, visando a um comportamento ativo do público e à síntese subjetiva. Autores, como Ennes (2008) e Paes (2012), sinalizam que faz parte do processo expográfico trabalhar o objeto dentro de uma estrutura narrativa, a partir da qual o conjunto desses objetos estabelece uma relação entre si, baseado em um tema possível de elaborar tal narrativa. Desse modo, pode-se considerar que os objetos alocados nas instituições museais são materiais das mais diversas espécies, os quais funcionam como paradigmas visuais que recriam, simbolicamente, a ordem do mundo e o espaço do exercício de poder. Scheiner (2012) nos esclarece que, por definição, todo museu efetua uma seleção no mundo dos objetos. Por outro lado, é função documental, do museu, a de garantir as democratizações da experiência e do conhecimento humano. Por fim, vale ressaltar que as exposições, na maioria dos museus, são baseadas nas coleções e no conhecimento pesquisado e documentado pelo próprio museu. Os objetos, físicos ou conceituais, utilizados nessas exposições, refletem uma tipologia e entregam a função básica de pesquisa, enfatizando todas as atividades desenvolvidas pelos museus, além das exposições. 12 Após apresentar essa trajetória, é importante salientar que a pesquisa de público ganha destaque nas ações propostas pelos museus. “A avaliação museológica é uma linha de pesquisa em museologia, ampla o suficiente para abordar todos os aspectos do cotidiano museal. A bibliografia da área está sistematizada de maneira a propor abordagens para avaliação em museus” (CURY, 2005, p. 371). Essa ação, dentre múltiplos significados, colabora, por exemplo, para verificar se os objetivos deliberados são alcançados. Avaliar é desvelar a realidade, aprimorar ações, promover atitudes e posturas, atribuir valores. Por promover a transformação que se processa, a partir da vontade institucional, é entendido como a “cultura da avaliação”, a qual permeia a tomada de decisão em todos os níveis de trabalho em um museu (CURY, 2005). Falar de exposição significa falar de uma apresentação intencionada, que estabelece um canal de contato entre um transmissor e um receptor (GONÇALVES, 2004). ATENÇÃO O museu é um espaço extraordinário de ficção, pois mobiliza formas para representar o mundo e, assim, permitir que, dele, possamos dizer alguma coisa (MENESES, 2008). NOTA 13 Neste tópico, você aprendeu: • O museu seleciona os “vestígios” do passado, da cultura material, e viabiliza discursos para promover e veicular representações no presente, o que deve permanecer para o deleite e o estudo humanos. • A comunicação, durante muito tempo, predominou quando o emissor detinha grande parte do poder do processo comunicacional, e, ao receptor, era reservado o papel de observador. Na atualidade, a museologia não articula mais esses pressupostos e visa compreender a realidade social que a insere e potencializar uma relação comunicacional dialógica. • Segundo Cury (2006), a comunicação museológica é a denominação genérica às diversas formas de extroversão do conhecimento. Pode ser classificada como lato sensu e stricto sensu. • O museu é um sistema de comunicação e de informação. Devemos levar em conta todo o potencial dele, que as exposições são uma das formas de acesso ao grande público que o visita, ou seja, a comunidade civil. Para que isso ocorra, as demais funções devem coadunar com as ações diárias institucionais,por exemplo, documentação, pesquisa, educação etc. RESUMO DO TÓPICO 1 14 1 Cury (2005) informa que a comunicação museológica é uma denominação genérica dada às diversas formas de extroversão do conhecimento em museus, como artigos científicos que versam sobre o estudo de coleções, catálogos, materiais didáticos, vídeos e filmes, palestras e oficinas. Partindo desse pressuposto, analise as sentenças a seguir: I- A aproximação entre o campo da comunicação e o museu, e, consequentemente, as exposições e outras ações, é recente. Vale dizer que refletir a respeito de como o museu atua comunicacionalmente, considerando os avanços das pesquisas da Ciência da Comunicação, é, relativamente, algo novo. II- Um dos marcos referenciais dessa aproximação de campos – Ciência da Comunicação Museológica – foi proposto por Duncan Cameron, no final da década de 1960, na América do Norte. III- O museu tem origem, exclusivamente, no colecionismo. A institucionalização dele foi rápida e se concentrou na Europa, ao ofertar grandes exposições. IV- No contexto dos museus, a comunicação aparece, simultaneamente, como a apresentação dos resultados da pesquisa efetuada das coleções (catálogos, artigos, conferências, exposições) e como o acesso aos objetos que compõem essas coleções (exposições de longa duração e informações associadas). Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças I e III estão corretas. c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças I, II, IV estão corretas. 2 Os debates conceituais fazem parte da estruturação conceitual da área, assim, leia o excerto a seguir: O museu formula e comunica sentidos a partir do próprio acervo. Esses dois atos são indissociáveis, e, por isso, a área museológica e o público atribuíram, a essa instituição, um grande papel social (CURY, 2005). Assim, com relação à comunicação museológica, considere as afirmativas a seguir: I- No contexto dos museus, a comunicação aparece, simultaneamente, como a apresentação dos resultados da pesquisa efetuada das coleções e como o acesso aos objetos que compõem essas coleções. II- O debate relativo aos métodos de comunicação, utilizados pelo museu, levanta a questão da transmissão. AUTOATIVIDADE 15 III- Quando a comunicação é unilateral e opera no tempo, não apenas, no espaço, é chamada de transmissão. IV- Cury (2006) sinaliza que a comunicação museológica é a denominação genérica dada às diversas formas de extroversão do conhecimento em museus, uma vez que há um trabalho de introversão. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a afirmativa II está correta. b) ( ) Somente a afirmativa I está correta. c) ( ) Somente a afirmativa III está correta. d) ( ) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. 3 Na atualidade, podemos observar a oferta de diferentes modelos de exposição, por exemplo, a exposição Rio São Francisco, navegado por Ronaldo Fraga, que teve gênese no desfile apresentado no evento de moda São Paulo Fashion Week, para o verão de 2009, para, então, transformar-se em uma exposição que já passou por sete cidades brasileiras até o momento. A mostra convida o visitante a passear por esse rio, segundo o olhar do estilista, em uma montagem cenográfica repleta de referências históricas e afetivas (ABREU, 2014). Assim, podemos afirmar que uma exposição é: a) ( ) O resultado da ação de expor. A exposição se apresenta, atualmente, como uma das funções menos prioritárias do museu. b) ( ) A ausência de relação histórica com o museu e a evolução dos meios de comunicação. Pelo contrário, cada uma seguiu de forma independente. c) ( ) A única forma de garantir visitantes nos museus. Por isso, é importante uma divulgação intensa dela. d) ( ) O resultado da ação de expor, o conjunto daquilo que é exposto e o lugar onde se expõe. 4 A museologia é a área que permite a ligação do social com o patrimonial. É, por isso, uma transdisciplinar porque trabalha, necessariamente, com a transversalidade, pois é a possibilidade de recorte da realidade que une desenvolvimento social, dinâmica cultural, políticas públicas, práxis cotidiana, progresso humano e processo educacional, com patrimônio cultural, conhecimento e preservação. Assim, disserte a respeito do papel da comunicação em museus. Quais são as problemáticas enfrentadas pelas instituições museológicas que, ainda, mantêm uma comunicação unidirecional? Justifique. 5 Falar de exposição significa falar de uma apresentação intencionada, que estabelece um canal de contato entre um transmissor e um receptor (GONÇALVES, 2004). Partindo do conceito de exposição, disserte a respeito da importância histórica dela. 16 17 CONCEITUAÇÃO MUSEOLÓGICA UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Podemos considerar que exposição e museu caminham juntos. Ao analisarmos a etimologia das palavras, observamos que “museu deriva do latim museum, que, por sua vez, vem do grego mouseîon, o templo dedicado às musas. Significa, portanto, como origem, a “casa das musas”” (GONÇALVES, 2004, p. 13). Já a palavra exposição é derivada, também, do latim – exponere –, isto é, “pôr para fora”, “entregar à sorte”. Museu e exposição estão ligados à própria história humana, sendo testemunhos e referências da cultura da humanidade. Com uma trajetória histórica, a exposição aparece como pressuposto-chave da ideia de museu, um meio pelo qual são reunidos e evidenciados objetos, com valores informacionais de uma cultura. Contudo, os significados dessas palavras, atribuídos, atualmente, são diferentes dos conceitos originais, já que se remetem ao Século das Luzes, a um contexto elitista, até o fim do século XVIII. Somente com a ruptura social, produzida pela “Revolução Francesa (1789), e ao longo do século XIX, que o museu se configura como uma instituição aberta ao público, democrática, voltada para a memória do passado e para a construção do futuro” (GONÇALVES, 2004, p. 14). A partir dessa breve contextualização, informamos que vários estudiosos, ao analisarem o percurso histórico que insere a exposição e o contexto museológico, contribuíram para efetivar as ações em museus, não só como uma disciplina a ser estudada, mas como uma ciência, com características próprias. Evidenciamos os estudos teóricos de Marília Xavier Cury, Bruno Brulon Soares, Waldisa Rússio Guarnieri, Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses, Heloisa Barbuy Tereza Scheiner, Manuelina Maria Duarte Cândido, Maria Cristina Oliveira Bruno, dentre outros brasileiros. Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos os conceitos mais recorrentes ao falarmos de um museu, e, junto a isso, apresentaremos as tipologias de exposições existentes e as durações delas. É preciso compreendê-los para que os diferentes profissionais, atuantes em museus, possam dialogar, e com base em pressupostos. 18 “Museu e museologia, muito embora não constituam categorias de pensamento autoexplicativas, cada vez mais, caracterizam-se como conceitos fundadores de um campo do saber em ascensão” (SOARES, 2009, p. 32). No campo internacional da Museologia, desde os anos 1960-1970, houve um grande debate que veio a se contrapor às concepções e aos modelos, até então, vigentes. Isso aconteceu com a chamada Nova Museologia. Esta expressão Nova Museologia contém oposição ao que seria um museu tradicional, afirmando que este é elitista e voltado para si mesmo, distanciado do cotidiano dos indivíduos e dos grupos. Em contrapartida ao tradicionalismo, os teóricos da Nova Museologia apontam que os museus devem assumir uma função social e superar os limites de uma cultura voltada à produção e à circulação de bens culturais da elite (PAIVA; PRIMON, 2013, p. 4). Em 1976, o Comitê Consultivo do ICOM sugere o estabelecimento de um comitê voltado para o estudo da Museologia, ao considerar o fato de que todo ramo de atividade profissionalnecessita ser estudado. Teoricamente, surge um novo comitê internacional, especificamente dedicado ao estudo da Museologia, nesse caso, o Comitê Internacional para a Museologia – ICOFOM, em 15 de junho de 1976. Teve a existência oficializada em maio de 1977, na 12ª Assembleia Geral do ICOM, em Moscou (SCHEINER, 2005). A concepção de museu – aqui, entendido como o fenômeno Museu, a partir do qual os diferentes museus são modos específicos de representação –, enfatizada no final do século XX, pelas ideias da Nova Museologia, leva-nos, diretamente, a compreender uma Museologia que tem o humano como objeto primeiro. Pensar nessa Nova Museologia como uma ciência humana que começa a nascer é, talvez, a principal consequência trazida por essa noção de museu, esse objeto mutante e dinâmico, livre e democrático (SOARES, 2009, p. 34). A Museologia se forma e se apoia em um paradigma, ainda, em formação, resultado de mudanças que originaram as discussões no seio de uma comunidade científica recém-nascida, que passa a discutir os próprios limites como ciência (SOARES, 2009). Entendida como a ciência que estuda os museus, ou, mais recentemente, o fenômeno Museu, é importante reconhecer esse movimento e as proposições históricas suscitadas e como os compreendemos na contemporaneidade. 2.1 MUSEOGRAFIA E EXPOGRAFIA Museografia e expografia são termos em voga, porém, como sinaliza Cury (2005), são mal utilizados, assim, é conveniente esclarecê-los. A museografia é o termo que engloba todas as ações práticas ou aplicadas em um museu, como: planejamento, arquitetura, acessibilidade, documentação, conservação, exposição, segurança etc. Já a expografia faz parte da museografia, e tem como finalidade a pesquisa de uma linguagem e de uma expressão fiel para a tradução de programas científicos de uma exposição. 2 CONCEITOS BÁSICOS 19 O termo “museografia”, que apareceu, pela primeira vez, no século XVIII (NEICKEL, 1727), é mais antigo do que o termo “museologia”. A palavra em si foi, por muito tempo, utilizada em concorrência com o termo “museologia”, para designar as ações, intelectuais ou práticas, de responsabilidade do museu (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013). INTERESSANTE “Deve-se, então, pensar, didaticamente, na exposição como conteúdo e forma, sendo o conteúdo dado pela informação científica e pela concepção de comunicação como interação” (CURY, 2005, p. 42). Já a forma diz respeito à maneira como se organiza. Deve-se levar em consideração o tema e o desenvolvimento e perpassar pela seleção do objeto e pela articulação dele no contexto narrativo, paralelamente, com as elaborações espacial e visual, associadas a outras estratégias que, juntas, revestem a exposição de qualidades sensoriais (CURY, 2005). Com relação à expografia, o conceito, ainda, é recente, e seria o equivalente ao termo inglês exhibition design. No Brasil, essa atividade aparece com diversas nomenclaturas, e recebe, muitas vezes, o nome de cenografia, embora alguns profissionais entendam que essa palavra se remeta a peças de teatro e concertos (ABREU, 2014). NOTA A museografia (museologia aplicada) é um campo do conhecimento responsável pela execução dos projetos museológicos por meio de diferentes recursos – planejamento da disposição de obje tos, vitrines, suportes expositivos, legendas e sistemas de iluminação, segurança, conservação e circulação (IBRAM, 2014). NOTA 20 2.2 CENOGRAFIA As ambientações e as cenografias são outras possibilidades de intervenção, no espaço, expositivas, a fim de se buscar um resultado integral. Paes (2016) nos informa que o termo expografia se refere às técnicas para concepção, organização e manutenção do espaço expositivo. Os recursos cenográficos, utilizados nas exposições, “são estratégias que permitem a apreensão dos conteúdos a partir da experiência estética, como um mis en exposition, para apresentar narrativas e discursos” (ENNES, 2008, p. 55). Deve-se criar condições para a leitura do tema apresentado, ou seja, construir a inteligibilidade com a composição de elementos e recursos próprios ao museu. “A cenografia em exposição, a depender de como é constituída, tem a capacidade de alcançar a clareza pela sensorialidade dos elementos” (PAES, 2016, p. 35). A expografia é um dos termos para designar o projeto arquitetônico, ou cenográfico, de uma exposição, e gera espaços narrativos a partir de ideias, objetos, acontecimentos, personagens, feitos e histórias (ABREU, 2014). NOTA Segundo Ennes (2008, p. 55), a cenografia contribui para a compreensão da proposta e dos conteúdos a serem articulados, e ratifica que a “função dela vai muito além de, simplesmente, reunir os elementos em uma composição, mas facilitá-los para o visitante, para a elaboração de sentido”. Somada a essa composição, tem-se uma “atmosfera específica, com a aplicação de luzes, cores e ambientes que servem como suporte para as narrativas das exposições” (ENNES, 2008, p. 55). O conceito de cenografia, adotado por Gonçalves (2004), compreende uma aproximação com o que ocorre no teatro, no qual as cenas são apresentadas em uma caixa preta, composta pelo espaço físico do palco, e complementada pelo cenário. “Adota-se o conceito de “cenografia” no lugar do conceito de “museografia da exposição” porque se considera que há, na comunicação da exposição, uma aproximação muito direta com o que ocorre no teatro” (GONÇALVES, 2004, p. 20). Leia Cenografia no Teatro e nos Espaços Expositivos: Uma Abordagem Além da Representação, de Elcio Rossini, disponível em https://www. scielo.br/j/tinf/a/PNr4zpkcgxTKNJHKW7NtRrn/?format=pdf&lang=pt. DICA https://www.scielo.br/j/tinf/a/PNr4zpkcgxTKNJHKW7NtRrn/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/tinf/a/PNr4zpkcgxTKNJHKW7NtRrn/?format=pdf&lang=pt 21 As mudanças nas concepções expositivas são recíprocas às transformações da produção artística. Existe uma percepção de que a expografia, ao longo da segunda metade do século XX, adquiriu flexibilidade e migrou do cubo branco para a caixa preta, para a alegoria, a cenografia e os múltiplos estímulos do teatro. Essa mudança seria uma herança do experimentalismo das décadas de 1950-1970, e da noção de que as concepções da exposição deveriam ser mutáveis e possibilitar formas diversas. Assim, pondo em xeque o conceito do “cubo branco”, o espaço expositivo parece adquirir uma flexibilidade semelhante à da “caixa preta” teatral. Nesse aspecto, há que se registrar, também, a influência que a cenografia de espetáculos de ópera e teatro exerceu na de exposições. Em ambos os casos, muitas das técnicas de iluminação e de construção se equivalem, e, notadamente, os avanços, nessas áreas, beneficiam ambas as aplicações (ABREU, 2014). NOTA 2.3 CURADORIA A história dos museus testemunha, pelo menos, há quatro séculos, o surgimento das atividades de curadoria em torno das ações de seleção, estudo, salvaguarda e comunicação das coleções e dos acervos (BRUNO, 2008). Desde o início deste percurso, as ações curatoriais denotaram uma certa cumplicidade com o pensar e o fazer em torno de acervos de espécimes da natureza e artefatos, evidenciando o envolvimento simultâneo com as questões ambientais e culturais. Dessa forma, o conceito de curadoria tem, nas raízes, as experiências dos gabinetes de curiosidades e dos antiquários do Renascimento e dos primeiros grandes museus europeus surgidos a partir do século XVII (BRUNO, 2008, p. 2). Oguibe (2004) informa que a figura do curador, diretor, ou comissário de exposição, ganha destaque na segunda metade do século XX, e se sobressairia ao historiador da arte com o discurso da arte contemporânea. Antes, o curador era, principalmente, um agente provinciano, com uma referência estrutural limitada, etnocêntrica, e, também, excêntrica, sustentada pela autoridade da qualificação e especialização acadêmica. O curador de arte contemporânea era um historiador daarte, ou alguém com uma qualificação em arte, história da arte ou estética, que, nas trajetórias de treinamento e carreira, interessou- se, especialmente, por um aspecto do período ao qual se dedicou, destinando o próprio tempo ao estudo do trabalho produzido de uma forma ou técnica específica […]. Esse conhecimento específico, também, condenou o curador ao vínculo e à dependência institucionais, além dos quais o único recurso possível era um emprego acadêmico (OGUIBE, 2004, p. 7). 22 Esse referencial direcionado para uma única área, e, até mesmo, o processo histórico da curadoria, teria uma mudança representativa, no fazer curatorial. Conforme Oguibe (2004), ocorreria no final do século XX, incluindo um conhecimento mais amplo. Vale ressaltar que “as funções iniciais da curadoria eram zelar e cuidar (curar) de um determinado acervo, ou coleção, o que exigia uma especialização acadêmica que, consequentemente, tornava a vinculação institucional inevitável” (PEQUENO, 2012, p. 17-18). Segundo Cauê Alves, por exemplo, “espera-se, da curadoria”, em um sentido amplo do termo, “que saiba compreender e relacionar o trabalho de arte, senão na história da arte, numa sequência de outros trabalhos ou no contexto de uma discussão atual”, defendendo que “há pouco ou nenhum sentido na curadoria e na crítica, que não possui embasamentos histórico e teórico” (RAMOS, 2010, p. 44). Se a prática curatorial não instrumentaliza, explicitamente, um saber histórico, deve-se ter em mente que este, muitas vezes, orienta a tomada de decisões e a abordagem do curador (REINALDIM, 2015, p. 24). A diferenciação entre o curador, o crítico, o teórico e o historiador, por outro lado, é bem elucidativa, já que a “formação, específica em curadoria, é recente, e muitos curadores, hoje, atuantes, formaram-se em áreas afins, como história da arte, filosofia, história, museologia, ciências sociais, educação ou comunicação” (PEQUENO, 2012, p. 17-18). Smith afirma, então, que a empatia é necessária para os quatro ofícios, mas, enquanto o teórico lida com especulações, o historiador trabalha com fatos estéticos e o crítico escreve a respeito dessas intuições. Já o curador precisa ligá-las a contingências práticas, institucionais e comerciais da arte. Ou seja, o trabalho do curador é teórico-prático (PEQUENO, 2012, p. 20). A prática curatorial é algo que ocorre a médio e longo prazo, por um diálogo de aproximação crítica entre o curador e o artista, com uma vivência teórico-prática. Para Pequeno (2012, p. 20), “o curador é mais do que, apenas, um “arranjador de exposições”, mas alguém que pensa junto com o artista e que contribui para um outro olhar”. Assim, também, fica evidente que ambos os trabalhos não são excludentes, mas codependentes. Sem a existência do artista, ou da obra de arte, o curador, provavelmente, ficaria desempregado (PEQUENO, 2012). 23 Nos anos que antecederam a década de 1960, as exposições eram já organizadas por profissionais qualificados, comissários e diretores de museu. No entanto, esses profissionais tinham um papel reservado e institucionalizado, surgindo, por isso, uma necessidade de se mudar a forma de expor, ao ser questionada a eficácia das práticas estéticas e expositivas instituídas. Aqui, surgem os projetos curatoriais, os quais desenvolveram uma relação entre conceito e espaço expositivo. Contribuíram, desse modo, para o incremento de exposições, de produção e de mediação artística, com origem a uma nova abordagem de como a arte deve ser tratada (ALEGRIA, 2013). NOTA Pode-se considerar que a curadoria é a somatória de distintas operações que entrelaçam intenções, reflexões e ações, cujo resultado evidencia os seguintes compromissos: a identificação de possibilidades interpretativas reiteradas, desveladas as rotas de ressignificação dos acervos e das coleções; a aplicação sistêmica de procedimentos museológicos de salvaguarda e de comunicação aliados às noções de preservação, extroversão e educação; e a capacidade de decodificar as necessidades das sociedades com relação à função contemporânea dos processos curatoriais (BRUNO, 2008). NOTA 2.4 O QUE É UM PROJETO As propostas, para uma exposição, devem ser estudadas e analisadas com antecedência, pois demandam tempo e equipe para viabilizar a existência dela. Para que isso ocorra, é importante a elaboração de projetos, “um instrumento técnico e estratégico [...] que possui características próprias que o definem como tal, independentemente de tamanho, complexidade ou duração” (INSTITUTO ALVORADA BRASIL, 2014, p. 19). Um projeto pode durar uma semana, um mês ou um ano, mas sempre chega ao fim, que é quando o objetivo, para o qual foi criado, é atingido, ou, mesmo, quando se constata que não há como realizá-lo. Portanto, não confunda a natureza temporária do projeto com o tempo de vida do produto gerado por ele. O produto pode ser duradouro, e essa possibilidade depende das próprias características e finalidades (INSTITUTO ALVORADA BRASIL, 2014). ATENÇÃO 24 Vale ressaltar que um projeto, também, possui um ciclo de vida, o que compreende elaboração, execução, prestação de contas e encerramento. Um projeto é dividido em fases, com características próprias, as quais, juntas, constituem esse ciclo de vida. Normalmente, compreendem: conceituação, planejamento, execução e conclusão (INSTITUTO ALVORADA BRASIL, 2014). O projeto cultural é um instrumento técnico, estratégico e de comunicação, no entanto, com especificidades. Destacaremos algumas delas: possui, como eixo central, a cultura e as artes, quaisquer que sejam as linguagens artísticas; não necessariamente, contempla algum retorno financeiro; e, normalmente, não requer cálculos complexos (INSTITUTO ALVORADA BRASIL, 2014). NOTA 3 DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES PARA EXPOSIÇÕES O ato de ofertar uma exposição envolve diferentes processos e profissionais, e, para que isso ocorra, devemos levar em consideração, por exemplo, a duração dessa exposição, pois influencia a escolha dos materiais a serem utilizados para o mobiliário, a conservação preventiva do acervo, a equipe educativa, a manutenção, a segurança etc. Cury (2005) concebe e monta uma exposição a partir do viés da experiência do público. Significa escolhas, decisões com relação ao que e como. NOTA Seguem as tipologias expográficas, as modalidades e as durações na atualidade. 3.1 TIPOLOGIAS EXPOGRÁFICAS Na contemporaneidade, a instituição museológica vem revendo a missão e a atuação dela enquanto espaço de memória. Isso se reflete nas exposições que esses espaços ofertam ou sediam. Podemos classificar essas exposições segundo diferentes naturezas, com relação ao tipo de acervo, ao tema apresentado, ao público esperado, às expectativas, ou, ainda, ao local que as recebe, seja um parque a céu aberto, uma galeria de arte, centros comerciais ou o próprio museu (ABREU, 2014). 25 A partir das exposições históricas, são exibidos aspectos de um período histórico. Ainda, há as institucionais, “localizadas geralmente, dentro de empresas ou instituições públicas. As exposições dessa natureza exibem a história e a missão dessas entidades, contextualizados processos, produtos e serviços através dos tempos” (ABREU, 2014, p. 56-57). Esse modelo de exposição possibilita a inserção dos colaboradores no contexto da instituição, que os acolhe para trabalharem. Geralmente, marca presença um caráter didático e informativo, com longa duração ou temporária, a fim de celebrar algum fato relevante e aberto para a comunidade civil. Já as “exposições culturais, realizadas geralmente em museus e centros culturais, mas, também, em espaços alternativos, com estruturas temporárias instaladas em espaços públicos, visam informar, entreter e educar, dentre outros objetivos” (ABREU, 2014, p. 57). Apresentam, segundo Abreu (2014), acervos diversos e com temas de interesses social, cultural e educacional:de arte à etnografia, de ciências à história, de esporte a comportamentos, dentre muitos outros. Há uma outra tipologia, formada pelas “exposições temáticas”. Mais do que expor objetos, esse tipo de exposição tem, na história a ser contada, o principal motivo de existência, podendo, até mesmo, prescindir de acervos materiais. Um dos perigos a ser enfrentado na construção das exposições temáticas é iniciar o desenvolvimento das estratégias e das técnicas de exibição antes de definir os conceitos da exposição, privilegiando o efeito em relação ao conte údo da mensagem (FRANCO, 2018). NOTA Já conhecemos quatro tipologias de exposição e as diferenciações delas: • Exposição Histórica. • Exposição Institucional. • Exposição Cultural. • Exposição Temática. NOTA 26 3.1.1 Exposições comerciais ou feiras mundiais O objetivo dessas exposições era mostrar a força e a consolidação do sistema fabril ao grande público e a outras nações, ou seja, evidenciavam-se, nesses eventos, o progresso industrial e a superioridade das potências imperialistas, reservado, assim, um lugar para todas as nações do globo, sendo que o ato de conhecer, também, era um fator político (SANTOS, 2013). “A exposição de Londres, de 1851, entrou para as crônicas das histórias da ciência e da tecnologia, pelo fato de ter sido a primeira exposição de caráter “internacional” e por ter sido capaz de criar e de modelar todo um imaginário de modernidade da época” (SANTOS, 2013, p. 2). As exposições universais eram grandes laboratórios para as visibilidades nacional e internacional, pois, conforme Santos (2013), buscava-se mostrar o que as nações tinham alcançado de progresso industrial e novos maquinários que pudessem servir de incentivo ao avanço tecnológico. A maior lembrança que ficou dessa exposição foi o Palácio de Cristal, estrutura de ferro e vidro construído em, apenas, um ano. O prédio mostrava, não apenas, os usos de novos materiais, mas, também, o da técnica que permitia agir sobre o espaço-tempo, ao ser criada uma nova sensibilidade. No decorrer da segunda metade do século XIX, outros prédios tão grandiosos foram construídos, a fim de sediarem as exposições, mas nenhum deles seria tão recordado como o Palácio de Cristal, o qual entregava firmeza, maleabilidade e transparência, tudo em uma única estrutura (SANTOS, 2013). NOTA FIGURA 3 – EXPOSIÇÃO UNIVERSAL PALÁCIO DE CRISTAL FONTE: encurtador.com.br/lxGV7>. Acesso em: 24 abr. 2021. 27 Também chamado de feira, esse tipo de exposição tem objetivos comerciais, e, geralmente, apresenta produtos e serviços de uma organização ou segmento: uma empresa, um país, ou, mesmo, um determinado setor industrial, como a Feira Internacional do Mármore e Granito, do Espírito Santo; a Feira do Livro, de Frankfurt; ou as exposições agropecuárias que acontecem por todo o Brasil (ABREU, 2014). As exposições comerciais são dirigidas, especialmente, a fabricantes e empresas de distribuição e revenda, mas algumas também atraem um público mais amplo, de consumidores finais interessados em conhecer as últimas novidades do mercado. Os locais desses eventos são, geralmente, espaços com grandes dimensões, capazes de abrigar verdadeiras multidões, como o Pavilhão de Exposições do Anhembi, que recebeu 750 mil pessoas no último dia do Salão do Automóvel 2012 (ABREU, 2014). NOTA 3.1.2 Exposições virtuais As exposições virtuais podem ocorrer em museus que existem fisicamente ou de forma digital. Encontramos denominações, como webmuseu, cibermuseu, museu digital ou museu virtual, com “acervos” com reprodução digital, ou obras criadas em meio on-line, originalmente (MAGALDI, 2010). A respeito das exposições virtuais, não existem na forma material, a não ser através de um possível registro, com um código informacional. A demonstração acontece, apenas, por meio da tela de um computador. Ainda, podem apresentar todas as características de um dos demais tipos de exposição. Não têm público, pela acepção tradicional do termo, mas visitantes individuais, sendo que cada apreciador tem o potencial de alteração da exposição. NOTA O museu virtual é, essencialmente, sem fronteiras, capaz de criar um diálogo virtual com o visitante, ao dar, a ele, uma visão dinâmica, multidisciplinar, e um contato interativo com a coleção e com o espaço expositivo. “Ao tentar representar o real, cria- se uma nova realidade, paralela e coexistente com a primeira, que deve ser vista como uma nova visão, ou um conjunto de novas visões, do museu tradicional” (MUCHACHO, 2005, p. 582). 28 Essa modalidade tem uma forte capacidade de ampliação de público, ao permitir a extroversão de conteúdos com baixo custo e efetividade. É preciso, contudo, buscar orientação jurídica para a questão do licenciamento de imagens, além de obter uma avaliação mais qualitativa da apreensão pelo público (FRANCO, 2018). Acesse dois museus virtuais: Museu da Pessoa: https://museudapessoa.org/. Museu dos Memes: https://museudememes.com.br/. DICA Uma outra modalidade expositiva, cada vez mais frequente, é a exposição virtual, feita de forma independente, pela instituição ou em parceria com outras. Essa modalidade tem uma grande capacidade de ampliação de público, ao permitir a extroversão de conteúdos com baixo custo e efetividade. É preciso, contudo, buscar orientação jurídica para a questão do licenciamento de imagens, além de obter uma avaliação mais qualitativa da apreensão pelo público (FRANCO, 2018). NOTA 3.2 MODALIDADE E DURAÇÃO Conforme visto anteriormente, há diferentes tipologias de exposições, as quais podem ser classificadas de acordo com critérios. Ao ser levada em consideração a duração, marcam presença três tipos: (1) Exposições de longa duração; (2) Exposições de curta duração, ou temporárias; e (3) Exposições itinerantes e extramuros. 3.2.1 Exposições de longa e curta durações, ou temporárias Essas exposições, segundo Franco (2018), geralmente abordam temas mais amplos e panorâmicos das instituições, com um papel primordial de comunicação da missão para todos os públicos. Com relação à duração, pode variar conforme a política de comunicação da instituição, “o grau de produção das pesquisas a respeito do acervo, as temáticas e a capacidade de renovação institucional, mas é recomendável que seja revista em um intervalo médio de 5 a 10 anos” (FRANCO, 2018, p. 23). https://museudapessoa.org/ https://museudememes.com.br/ 29 Os idealizadores de uma exposição de longa duração devem presumir que o pú blico a visitará mais de uma vez. Nesse sentido, eles devem concebê-la com recur sos que favoreçam experiências, interações, e, até mesmo, contribuições por parte do público, geradas, com isso, novas descobertas a cada visita. Os museus, normalmente, destinam a maior parte da área construída às exposições de longa duração, que mobilizam uma parte substantiva dos recursos materiais e humanos disponíveis, seja na concepção e montagem, seja na manutenção. Dessa forma, recomenda-se que as técnicas construtivas priorizem a manutenção e a fácil reposição dos equipamentos a longo prazo (FRANCO, 2018, p. 23). A exposição de longa duração tem a potencialidade de diálogo com as áreas das ações cultural e educativa, para ofertar o retorno do público mais vezes, a fim de que ele vivencie temas transversais, ou, até mesmo, a complementação das narrativas apresentadas na exposição, por exemplo, visitas e seminários temáticos, bate-papo cultural, dentre outras opções. Já as exposições temporárias e itinerantes podem ofertar um aprofundamento ou complementação dos aspectos da exposição principal. Elas estão aptas a apresentar os resultados do estudo e da pesquisa de parte da coleção do museu. Além de mais específicos, os temas podem ser mais atuais, de modo a explorar as potencialidades de diálogo. O papel primordial, no entanto, é permitir a renovação mais ágil dos temas tratados pela instituição. Elas, também,podem fun cionar como uma espécie de laboratório de experimentação de novos materiais, recursos e processos expográficos, sem os custos operacionais de uma exposição com grandes dimensões e duração (FRANCO, 2018, p. 23). As exposições temporárias ofertam o dinamismo da instituição museu e potencializam novas relações comunicacionais. Seguem as características de cada uma das exposições – longa e curta durações –, com ponderação sobre o tema, os materiais utilizados, o monitoramento etc. 30 QUADRO 1 – MODALIDADES DE EXPOSIÇÕES ITENS Exposições de longa duração Exposições de curta duração ou temporárias TEMAS Abordam temas mais amplos, que sintetizam as coleções dos museus. Abordam temas mais específicos e atuais, de modo a explorar as potencialidades das coleções a partir de recortes cura toriais. TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EXPOGRÁFICAS Devem prezar pelos materiais mais resistentes, que garantam durabilidade e condições favoráveis para a conservação do acervo. É importante identificar, previamente, possibilidades de substituição de peças em exposição, sem comprometer a leitura geral do tema, ou do subtema, pela necessidade de recorrentes ações de conservação preventiva e pela atualização da exposição e da rotatividade do acervo em reserva técnica. São pensados, os materiais, para a produção da exposição, com pouca durabilidade e manutenção de curto ou médio prazo, mas sem deixar de assegu rar as condições favoráveis para a conservação das peças. ESTRUTURA DE APOIO É permanente, o que vai desde o monitoramento das peças e a manutenção dos espaços e dos recursos expográficos, como vitrines, cenários, iluminação, painéis, textos etc., até a mediação, que deve provocar a reflexão, ao oferecer possibilidades de leituras diferenciadas para a interpretação do visitante. Tem caráter temporário. CIRCUITO EXPOSITIVO Possibilita a criação de roteiros diferenciados, de modo que possam ser explorados, de acordo com o interesse de cada público. Entrega múltiplas possibilidades de experimentações e proposições. FONTE: Adaptado de IBRAM (2014) 31 Exposições de longa duração Uma exposição de longa duração também exerce o papel de refletir a proposta do museu, pois, principalmente, por meio dela, o museu se torna conhecido. Entretanto, essa exposição não se encerra na inauguração; deve estar, permanentemente, aberta a novas adaptações, à medida que a pesquisa, as atividades educacionais, a mediação e o público visitante contribuam com novas proposições para o acervo ou tema (IBRAM, 2014). NOTA Exposições de curta duração ou temporárias Com essas exposições, os museus podem tratar de diversos temas, ao exibir acervos que não pertencem às próprias coleções. Dão, a muitas pessoas, a oportunidade de conhecerem bens culturais importan tes, exemplares raros da fauna e da flora, aos que não teriam acesso por outros meios. Também, são um importante chamariz para o retorno daqueles que já visitaram o museu e de propaganda para atrair turistas que procuram diversificar e ampliar a visita que fazem (IBRAM, 2014). NOTA As exposições itinerantes são aquelas que saem dos museus e alcançam o público em outras instâncias. Elas têm, como objetivos, divulgar o trabalho da instituição, estimular a curiosidade dos públicos e promover discussões a respeito de temáticas específicas. Também, possuem o caráter temporário e são produzidas com a possibilidade de se adaptarem aos diferentes espaços, com facilidades de transporte, montagem e desmontagem. Como todas as exposições, o design, a temática, o acervo e a organização espacial pre cisam ser planejados, de forma a instigarem os públicos. 3.2.2 Exposições itinerantes e extramuros É importante destacar que a comunicação deve partir do princípio dialógico: os encontros entre as pessoas e o museu (que é composto por pessoas) precisam compartilhar experiências, a partir das quais ambas as partes se transformem. O museu não pode se colocar como emissor, ou transmissor de informações, sendo, o visitante, um mero receptor. Em um processo dialógico, a relação de quem se comunica precisa estar em pé de igualdade: os dois lados aprendem e ensinam, ambos se modificam e saem diferentes do que eram (IBRAM, 2014). NOTA 32 As modalidades expositivas devem ser colocadas em pauta, das proposições, com a idealização de uma exposição, pois, a depender do acervo, isso pode afetar a conservação. Assim, é importante o diálogo com a equipe de conservação, pois, às vezes, o modo de exibição de uma peça pode ser alterado. Por exemplo, uma vestimenta, ao invés de ser apresentada de uma forma natural, ou seja, em um manequim, pode ser vista em uma superfície plana, com a mitigação dos danos expositivos. Essa é uma das questões que são capazes de aparecer, então, o trabalho interdisciplinar e o planejamento estratégico são importantes ao se conceber o projeto expográfico. Observe como as tapeçarias são apresentadas ao público em uma exposição de longa duração, no Instituto Ricardo Brennand. FIGURA 4 – TAPEÇARIA INSTITUTO RICARDO BRENNAND FONTE: < https://www.viajecomigo.com/2018/01/02/instituto-ricardo-brennand-recife-brasil/>. Acesso em: 24 abr. 2021. 33 Neste tópico, você aprendeu: • A nível internacional, conhecemos o ICOM e o Comitê Internacional, dedicado à teoria museológica, o ICOFOM. Apesar de não ser uma instituição acadêmica, essa associação que congrega profissionais de museus do mundo todo, sempre, esteve motivada a entender e a estreitar as relações entre a grafia e a logia no locus museal, principalmente, após vir à tona a premência de se estabelecerem as teorias e os conceitos que alimentam a práxis museal. • As pesquisas nos museus contribuem para a amplia ção dos sentidos e das possibilidades de interpretação dos objetos, expo sições e públicos. São as ações de difusão que proporcio nam a compreensão de acervos e a aproximação dos pro fissionais dos museus, das atividades realizadas e dos públicos. Para tanto, é importante que o público seja pensado/inserido em todas as etapas de elaboração da exposição (IBRAM, 2014). • A curadoria vem se alternando ao longo do tempo, e, na atualidade, não diz respeito, somente, a montar exposições, ou a ser, simplesmente, um “curador”. Esse profissional deve, além do conhecimento de dada temática/assunto, integrar toda a equipe do projeto, visando uma a interatividade entre as áreas. • É importante reconhecer algumas tipologias de exposições, como institucionais, históricas, culturais, comerciais, virtuais etc. Podendo ser divididas, conforme a duração, em: longa, curta, ou temporária, além de itinerante/extramuro. RESUMO DO TÓPICO 2 34 1 O debate a respeito dos limites e das reciprocidades entre a museologia e a museografia não é recente, foi intensificado em 1946, após a criação do Conselho Internacional de Museus (CURY, 2014). Assim, podemos afirmar que a museografia é: a) ( ) Aquilo que concerne à salvaguarda, mais especificamente, à conservação preventiva, à restauração e à documentação. b) ( ) Aquilo que concerne à administração do museu e à salvaguarda (conservação preventiva, restauração e documentação). c) ( ) Aquilo que concerne à administração do museu, à salvaguarda (conservação preventiva, restauração e documentação) e à comunicação (exposição e educação). d) ( ) Uma disciplina teórica aplicada em museus e que tem, como principal objetivo, ofertar projetos expográficos. 2 Leia a notícia a seguir, referente às exposições do Centro Cultural Banco do Brasil e a unidades. Depois de passar por Belo Horizonte e Rio de Janeiro, a exposição do artista argentino Leandro Erlich chegará ao Centro Cultural do Banco do Brasil de São Paulo (CCBB-SP). Em “A Tensão”, obras criativas de ilusão de ótica mudam a forma através da qual o espaço é percebido. Na curadoria de Marcello Dantas, o visitante vê barco e elevador flutuantes, janelas para jardins
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