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FACULDADE BOA VIAGEM CURSO DE DIREITO PROFª WANDA CARDOSO LÍNGUA PORTUGUESA ( 1ª Unidade ) Recife 2015 2 1. O HOMEM, A LINGUAGEM E A COMUNICAÇÃO Desde os primórdios, o homem sempre quis se comunicar, a fim de compartilhar seus pensamentos, ideias e experiências de mundo. A aquisição da capacidade de transmitir uma determinada mensagem e ser compreendido pelo seu interlocutor tornou-se uma espécie de busca incansável do indivíduo através dos tempos, e, por esse motivo, o homem está sempre desenvolvendo novas formas de comunicação. Há vários meios eficazes para a veiculação de uma mensagem, no entanto, sem dúvida alguma, a linguagem humana se sobrepõe a qualquer outro meio de comunicação. Entende-se por comunicação o ato de tornar algum acontecimento comum a outras pessoas. Comunicação pressupõe comunidade. A comunidade é composta por indivíduos que se comunicam entre si, usando o mesmo código, isto é, o mesmo sistema convencional de palavras. Não haverá comunidade, se não houver comunicação ou entendimento entre as pessoas que compõem aquela mesma comunidade. Se não houver comunicação entre os integrantes de uma mesma comunidade, existirá apenas um grupo de pessoas reunidas, uma vez que elas não se entendem. Não se pode afirmar que existe interação social entre essas pessoas, exatamente, porque elas não se entendem. A comunicação é considerada um ato praticado entre os indivíduos que usam os mesmos signos linguísticos, ou seja, as mesmas palavras, cuja finalidade é transmitir uma determinada mensagem. Quem se comunica, age. A comunicação representa um importante processo social, permitindo o relacionamento de qualquer grupo ou sociedade, recebe influências do meio físico, absorve traços culturais e psicológicos de grupos humanos. Não obstante o desenvolvimento dos meios de comunicação, com os aparatos tecnológicos viáveis nas mídias, sonoro e visual, a linguagem verbal é uma das mais utilizadas como meio de comunicação entre os indivíduos, representando-a individualmente ou reunidas em grupos ou classes. É através da linguagem que se expressam ideias, sentimentos e comportamentos. Seja qual for o tipo de linguagem – verbal (oral ou escrita), não-verbal (expressão facial, postura, aparência), mímica, imagens etc. – ela reúne um conjunto de códigos do qual o emissor (interlocutor 1) se comunica com o receptor ( interlocutor 2). O receptor efetiva a comunicação ao decodificar a mensagem. Dessa forma, no processo tem-se um receptor que recebe a mensagem, um emissor que a emite e um canal de comunicação, que é o meio físico através do qual ela é transmitida. Para que exista a mensagem é preciso um tema, isto é, um motivo, que é a própria razão da comunicação. A linguagem oral, por sua natureza, é efêmera e se perde no tempo com facilidade. Daí ser a escrita um meio de expressão e de comunicação entre os seres humanos responsável pelo levantamento da história de antigas civilizações que a utilizavam. Os povos da Mesopotâmia foram os primeiros a se comunicar através de sinais e símbolos encontrados nas cavernas que datam de 3.500 a.C. Os egípcios, igualmente, deixaram em túmulos de seus reis e nobres, símbolos no ano 3.000 a.C. através dos quais se levantou a história dessa desenvolvida civilização. Na Índia, as gravações datam de 2.500 a.C. O primeiro alfabeto surgiu em Canaã, no ano de 1.400 a.C., dando origem aos alfabetos aramaico, hebreu, grego e, posteriormente, latino. Alguns povos simplificaram sua escrita. Outros conservaram ideogramas e pictogramas. Alguns absorveram o alfabeto já existente em grupos sociais e o adaptaram, como é o caso dos coreanos. Sabe-se que palavras e conjuntos de sinais utilizados pelo ser humano em sua comunicação mudam de significado com o passar do tempo e, enquanto palavras caem em desuso, surgem outras novas. Para tanto, contribuem as transformações sociais. O sentido das palavras varia, também dentro do texto. 3 A linguagem adotada na escrita dependerá de vários fatores, bem como do tipo de redação. Enquanto na redação literária se emprega uma forma mais livre de escrever, na técnica e especializada existem manuais e regras específicas. Dessa forma, um diálogo entre advogados não pode ser o mesmo que o verificado entre dois caboclos, dois operários ou duas crianças. Assim, costuma-se distinguir a linguagem em coloquial ou afetuosa, regional e culta ou formal. Isso não significa que um nível é superior ao outro. Existe a liberdade linguística, mas o sucesso de quem escreve está na objetividade e clareza que permitem a comunicação com o maior número possível de receptores. De acordo com o texto: O humor do texto de Dik Browne está diretamente atrelado a uma oposição entre a visão do monge que observa Hagar e sua família e o sonho do próprio Hagar, que revela os verdadeiros pensamentos e sentimentos do bárbaro. Para o monge, a personagem, dormindo um sono tranquilo com um sorriso de beatitude nos lábios, seria prova de que um viking vive em paz com a natureza, mansamente próximo aos seus. No entanto, nós, leitores dessa história, conhecemos também o sonho da personagem e sabemos que o sorriso de Hagar advém da lembrança de seu dia a dia e de seu prazer em saquear, atacar, pilhar. O monge menciona a “reputação injusta” dos vikings, que eles não seriam horríveis, e sim “verdadeiros cordeirinhos”. O fim da história, porém, apenas reafirma a fama de Hagar e do povo que ele representa. Embora se trate de uma história em quadrinhos e, portanto, não tenha pretensão de ser um retrato fiel da realidade, podemos dizer que o autor aborda uma questão importante e facilmente - O que você está fazendo? - Estou escrevendo o primeiro relato verdadeiro sobre os vikings. - As pessoas simplesmente não os compreendem – Eles são verdadeiros cordeirinhos. - São mesmo? - Você já viu uma cena mais tranquila? - Eu estou convencido de que os vikings têm uma reputação muito injusta! - Olhe só o Hagar recostado tranquilamente na sua casinha – um retrato de repouso digno. - Como alguém poderia chamar um homem com um sorriso como aquele de “Horrível”? - Você já viu um sorriso mais pacífico, satisfeito? - Não, desde o “Saque de Roma”. 4 comprovável: cada povo tem sua maneira de ser, de ver o mundo. Cada povo possui seus próprios valores, suas criações. Cada povo possui sua cultura e uma língua própria para traduzi-la. Segundo Bosi (1992), “Cultura pressupõe uma consciência grupal operosa e operante que desentranha da vida presente os planos para o futuro”. E como se desenvolve uma cultura? Vejamos. 1.1. O Homem é um ser social O homem, como ser social, precisa se comunicar e viver em comunidade, que é onde troca seus conhecimentos e suas experiências. Estes, por sua vez, irão levá-lo a assimilar e compreender o mundo em que vive, dando-lhe meios para transformá-lo. Por ser social, o homem se difere dos outros seres que vivem reunidos pela capacidade de julgar e discernir, estabelecendo regras para a vida em sociedade. Tal concepção, nascida em A Política, de Aristóteles, implica estabelecer a necessidade de linguagem para que o homem possa se comunicar com os outros e, juntos, estabelecerem um código de vida em comum. Então, a linguagem, capacidade comunicativa dos seres, constrói vínculos entre os homens e possibilita a transmissão de culturas, além de garantir a eficácia dos mecanismos de funcionamento dos grupos sociais. Ao acumular as experiências de sua comunidade, o homem vai construindo uma cultura própria que é transmitida de geraçãopara geração. Para transmitir sua cultura e para suprir a necessidade de buscar a melhor expressão de suas emoções, suas sensações e seus sentimentos, o homem se viu diante de certos desafios: um deles foi o de criar e desenvolver uma maneira de comunicar-se com seus semelhantes. 2. LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBAL Existem várias formas de comunicação. Quando o homem se utiliza da palavra, ou seja, na modalidade oral ou escrita da linguagem, dizemos que ele está utilizando uma linguagem verbal, pois o código usado é a palavra. Tal código está presente, quando falamos com alguém, quando lemos, quando escrevemos. A linguagem verbal é a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano. Mediante a palavra falada ou escrita, expomos aos outros as nossas idéias e pensamentos, comunicando-nos por meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas. - ela está presente em textos em propagandas; - em reportagens (jornais, revistas etc.); - em obras literárias e científicas; - na comunicação entre as pessoas; - em discursos (Presidente da República, representantes de classe, candidatos a cargos públicos etc.); - e em várias outras situações. As linguagens não-verbais: Problemas e questões. Analisemos uma página interessante do livro Comunicação em Língua Portuguesa de Maria Margarida Andrade e João Bosco Medeiros. Vejam-se, na ilustração, os diferentes significados de um mesmo gesto: Este sinal demonstra que é proibido fumar em um determinado local. A linguagem utilizada é a não-verbal, pois não utiliza do código "Língua portuguesa" para transmitir que é proibido fumar. 5 O autor Roger Axtell enumera também, o segundo artigo publicado na Folha de São Paulo, algumas atitudes de significação diversa em diferentes países, sob o título: Como não cometer gafes no exterior. Eis alguns exemplos: Na Alemanha, apertar mãos com a outra mão no bolso é considerado falta de educação; cortar batatas ou panquecas com a faca sugere que estão duras. Na China, aponta-se com toda a mão e não com o dedo indicador. Na Coreia do Sul, não abra um presente logo após recebê-lo, somente mais tarde, quando estiver sozinho. Na França, formar um círculo com o polegar e o indicador, colocá-lo sobre o nariz e torcê-lo significa que alguém está bêbado. Na Índia, é falta de educação assobiar em público. Na Holanda, chupar o polegar significa que alguém está mentindo ou inventando uma história. No Líbano, lamber o dedo mínimo e depois passá-lo pela sobrancelha indica que alguém é homossexual. Na Noruega, se quiser deseja boa sorte para um pescador, cuspa para ele. No Peru, bater com o indicador no meio da testa significa que a outra pessoa é burra. Na Polônia, quem bater de leve com o dedo no pescoço está convidando seu interlocutor para beber. Na Turquia, considera-se falta de educação cruzar os braços sobre o peito enquanto se conversa com alguém. No Zaire, se seu anfitrião comer com os dedos, faça o mesmo, mas use apenas a mão direita (ANDRADE e MEDEIROS, 2006). As mensagens podem ser verbais (faladas ou escritas) ou não verbais: gestuais, tácteis, pictóricas ou gráficas. A comunicação não verbal envolve também outros aspectos, de natureza cultural, psicológica ou emocional, tais como: a) receber outra pessoa, sentado ou em pé; b) Estender a mão para apertar ou não estender; c) Curvar um pouco a cabeça ou a coluna; d) Ficar mais perto ou mais distante da pessoa com quem se fala; e) Apresentar-se com sorriso ou ―cara fechada; f) Demonstrar interesse (ler um papel que lhe é entregue) ou desinteresse (ignorar o papel); g) Demonstração de nervosismo/insegurança etc. (ou o contrário). O tipo de linguagem, cujo código não é a palavra, denomina-se linguagem não-verbal, isto é, usam-se outros códigos (o desenho, a dança, os sons, os gestos, a expressão fisionômica, as cores). Assim, a comunicação é uma ação intersubjetiva (falante e produtor de um enunciado e outro falante, chamado interlocutor de quem se espera a escuta e ou uma resposta explícita ou implícita). 6 Como se vê, as pessoas são os atores da comunicação. Para os teóricos da Linguística e da telecomunicação, a comunicação é o fato de uma informação ser transmitida de um ponto a outro (pessoa ou lugar). Filosoficamente, a comunicação é uma necessidade humana. Ela é dada como uma resposta à grande questão da comunidade social. A comunicação tem seus problemas, tais como: 1. os mal-entendidos; 2. as ambiguidades; 3. as falsas interpretações; 4. As incompreensões (individuais e coletivas). Assim sendo, a linguagem não-verbal consiste na utilização de imagens, com o intuito de promover a interação entre sujeitos em um discurso. É importante não fazer a esse tipo de imagem uma interpretação rígida. Veja a figura abaixo de uma criança com a metade do rosto branca e a outra metade negra. Ao associar a imagem (não-verbal) com as indagações (verbal), Quem vai estudar? Quem vai trabalhar? Quem vai viver? Observa-se que ela oferece duas opções, que segundo reflexões de cunho racial feitas por toda a sociedade, demonstra a inclinação para a resposta: é a criança branca. Os valores ideológicos, além das relações de poder, mostram que o branco é quem vai estudar, trabalhar e viver. Mesmo que não seja essa a sua opinião, é isso que o texto verbal + não-verbal retrata. 2.1. Linguagem Oral e Linguagem Escrita Em qualquer sociedade, há variações na linguagem. Num primeiro plano, distingue-se a língua escrita da língua oral, modalidades que respeitam regras diferentes. Na língua escrita, a expressão é mais formal, já que as ideias são explicitadas e concatenadas, de sorte a permitir a compreensão, estando ausentes os interlocutores. Na língua oral, dada a presença dos interlocutores, são frequentes simplificações, omissões e repetições, resolvidas na situação contextual. Entretanto, em qualquer dessas modalidades há variações. O grau de formalismo de uma carta de apresentação não é o mesmo de um bilhete deixado para um amigo, da mesma forma que uma conversa com o chefe pode ser mais formal que uma conversa com um colega. Num outro plano, observa-se variação de linguagem entre profissionais de diferentes áreas. O “discurso” de um advogado difere do “discurso” de um médico, seja pelo vocabulário, seja pelos tipos de textos produzidos, seja mesmo pela sintaxe empregada. Assim, o discurso do advogado tem particularidades que definem o jargão da área, ou seja, o conjunto de palavras, de tipos de textos, de construções que são próprios desse grupo sócio/profissional. Ainda é preciso notar que há diferentes graus de formalismo. Um profissional pode valer-se de uma linguagem mais formal, quando apresenta um relatório, por exemplo, e de uma linguagem menos formal quando transmite informações internas no seu setor de trabalho. São, pois, as circunstâncias que determinam o grau de formalismo da linguagem. Por razões políticas e sociais, define-se como língua padrão uma variante mais conservadora e de prestígio. Por abranger todas as relações cotidianas do homem, a língua precisa de certos cuidados para que desempenhe o importante papel da comunicação. Convém, por isso, notar que entre a língua oral ou falada e a escrita há diferenças bem acentuadas. Escrever uma história, por mais simples que ela seja, é diferente do ato de contá-la oralmente. Cada uma dessas modalidades de expressão tem suas características, seus fundamentos, suas necessidades e suas realizações. Veja como Jô Soares faz essa distinção com humor: 7 Nesse trecho, podemos observar que o humorista tentou uma aproximação entre a língua falada e a escritae pôde, até, “copiá-la”; porém, “essa cópia é sempre uma transposição ou uma deformação”* da fala. Para melhor entender o assunto, veja algumas das características de cada uma: LÍNGUA FALADA LÍNGUA ESCRITA Numa situação de comunicação, a mensagem é transmitida de forma imediata. Numa situação de comunicação, a mensagem é transmitida de forma não imediata. Em geral, o emissor e o receptor devem conhecer bem a situação e as circunstâncias que rodeiam. Se, por qualquer motivo, isso não acontecer, pode haver problemas de comunicação ou, simplesmente, não haver mensagem. O reconhecer não precisa conhecer de forma direta a situação do emissor nem contexto da mensagem. A mensagem costuma ser transmitida de forma mais breve, notando-se nítida tentativa de economizar palavras. Com a presença de um interlocutor, que pode, a qualquer momento, interromper a conversa, é comum o emprego de construções mais simples, frases incompletas, com ênfase nas orações coordenadas, “mais espontâneas e mais livres, menos reflexivas”. São empregadas construções mais complexas, mais planejadas, pois se subentende que o emissor teve mais tempo para elaborar a mensagem, repensando-a, modificando-a. É, por isso, mais comum o uso de orações mais complexas, subordinadas, que exigem mais esforço de memória ou de raciocínio. Há elementos prosódicos, como entonação, pausa, ritmo e gestos, que enfatizam o significado dos vocábulos e das frases. Como não é possível, na língua escrita, a utilização dos elementos prosódicos da língua falada, o emprego dos sinais de pontuação tenta reconstruir alguns desses elementos. 2.2. Variações Linguísticas Existem várias especulações acerca da palavra ERRO. É comum ouvir expressões, como: “Veja só como ele fala errado!” “Seus erros de português são imperdoáveis...”. Você concorda com esse tipo de expressão? Se sua resposta for positiva, realmente precisa rever seus conceitos linguísticos. Para tanto, é necessário conceber a língua enquanto interação, pois a língua só faz sentido em uso. Não existe língua que gire em volta de si mesma, temos que ter, como na física, um referencial de uso; este referencial chama-se registro linguístico (diversas situações de comunicação) e a “língua” usada para adequar-se aos diversos registros linguísticos será chamada de dialetos. Observe, a título de exemplo, um surfista, em Maracaípe/PE ( espaço típico de surfistas), interagindo em meio aos seus amigos, da seguinte maneira: ‘Estão todos bem? Como passaram o final de semana?” Então, o que você pensa sobre essa relação discurso & situação comunicativa? O que houve, efetivamente, foi uma inadequação entre os dois pilares básicos que regem a comunicação, tendo como base a interação social. O indivíduo não é um ser isolado do mundo, isto é, “representa papéis em Português é Fácil de Aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala. Pois é. U português é muinto fáciu di aprender, porque é uma língua qui a gente inscrevi exatamente cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontade di ri quandu a genti descobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só perstátenção. U alemão pur exemplu. Quê coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferente. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabe inscrevê. 8 diversos cenários da vida”, por isso sua “linguagem deve adequar-se às situações para que se possa realmente interagir socialmente. O que socialmente não importa em todas as situações de uso? Se esta linguagem está ou não prevista na gramática normativa, não obstante existir extratos distintos na Norma Culta. A forma de enunciação prevista na gramática normativa não abrange todas as formas de uso que fazemos na vida, mas somente pelo fato de estar na gramática, já usufrui de um prestígio inigualável; logo o que não é Norma Culta, para muitos é erro, desvalorização social/econômica, até porque, segundo Bagno ( 1999), o preconceito linguístico está atrelado ao preconceito social. Diz-se que o "brasileiro não sabe Português" e que "Português é muito difícil". Estes são alguns dos muitos que compõem um preconceito muito presente na cultura brasileira: o linguístico. Tudo por causa da confusão que se faz entre língua gramática normativa (que não é a língua, mas só uma descrição parcial dela). Portanto, não existe erro, e sim, adequação ou inadequação linguística, uma vez que temos que analisar o conjunto: Língua + Situação de Comunicação. De acordo com Travaglia (2003), há dois tipos de Variações Linguísticas: os dialetos e os registros. Os estudos sobre variação linguística registram pelo menos cinco dimensões de variação dialetal: a territorial ou geográfica, a social, a de idade, a de sexo e a de geração (variação histórica). Quanto à variação de registro, pode ser classificada em três tipos: grau de formalismo, modo ( oral ou escrito) e sintonia. Observe o seguinte quadro: Quadro 1. Variedades linguísticas Variedades Geográficas Falares regionais ou dialetos Linguagem urbana X Linguagem rural Variedades socioculturais Variedades devidas ao falante: dialetos sociais; grau de escolaridade, profissão, idade, sexo etc. Variedades devidas à situação: níveis de fala ou registros (formal/coloquial); tema, ambiente, intimidade ou não entre os falantes, estado emocional do falante. Variedades devidas à Situação O humor da tira a seguir é determinado pelo “excesso de informalidade” por parte do namorado que acaba de ser apresentado aos pais da garota. Como uma norma de boa educação, espera-se que a pessoa estranha seja gentil, dirija-se aos donos da casa com respeito e manifeste alguma cerimônia, como um pedido de licença. Cabe à pessoa visitada dispensar as formalidades e fazer com que o estranho se sinta bem. Nesse caso, observe que o namorado nem mesmo cumprimenta a garota e se dirige aos pais dela com tanta grosseria que Hagar toma uma posição “defensiva”, ameaçando o rapaz com um machado. 9 A ilustração nos mostra o emprego de uma linguagem pouco adequada à situação que envolve os personagens. Analisando nossa própria maneira de falar, cada um de nós é capaz de perceber que dominamos várias “línguas”, ou seja, temos várias maneiras de “registrar” a língua. A cada momento fazemos uso de um desses registros. Observe: uma criança de dois anos, quando cai, pode dizer que machucou o bumbum. Sua mãe, ao agradá-la, pergunta: “O nenê machucou a bundinha?”. Ocorrendo um problema mais grave, ao levá-la ao médico, os pais provavelmente diriam que o problema é nas nádegas. E o médico? Bem, ele poderia anotar que a dor é na região glútea... Veja que todas essas expressões são de nosso conhecimento e sabemos, quase intuitivamente, qual é o momento adequado para empregar uma ou outra. EXERCÍCIOS 01. O texto híbrido em questão foi usado em uma das provas da UFPE realizada pela COVEST no início de 2010. Quem são consideradas as raças? Preta e branca. Quais são as várias áreas abordadas? Estudo, trabalho e, em suma, vida. Objetivando transmitir sua mensagem-denúncia, o autor do Texto abaixo estabelece uma relação entre: a) as raças e os coeficientes de inteligência, em nosso país. b) as raças e os níveis de desnutrição infantil, no Brasil. c) as raças e a garantia da assistência à saúde, ao longo da vida. d) as raças e a possibilidade de sucesso em várias áreas. e) as raças, a garantia à saúde e a expectativa devida. 02. Analise atentamente os textos. TEXTO I (Fonte: sosriosdobrasil.blogspot.com) TEXTO II 10 Após um ano de discussões, Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou reformado Código Florestal que anistia proprietários rurais acusados de desmatamento ilegal até 22 de julho de 2008. A organização ambientalista Greenpeace revelou que, com essa decisão, o governo terá de abrir mão de aproximadamente R$ 8 bilhões relativos às multas aplicadas na Amazônia Legal no período que vai de 1998 até 2008. O Ibama informa que não tem condições de calcular o quanto deixará de arrecadar. (Fonte: http://oglobo.com. Adaptado. Acesso em 23 maio 2013). Julgue as proposições abaixo. I. O texto I é uma charge, um texto misto, com imagem e linguagem verbal escrita. De forte apelo crítico e humorístico, por meio de uma relação intertextual com o texto II, ganha sentido com o desenho da árvore sendo cortada por um homem, que corresponderia aos desmatadores, e das folhas da árvore em formato de papel de bloco, imitando registros de multas que serão desconsideradas. II. O texto II é um texto em linguagem verbal escrita, de valor expositivo-informativo, em que não há juízos expressos pelo autor. Como sua função primordial é informar, não cabem críticas ou traços de humor. É fundamental para o estabelecimento de relações intertextuais com o texto I, porque explicita os sentidos subjacentes à mensagem exposta anteriormente. III. O texto I mantém uma relação de sentido com o texto II por meio da aproximação entre os dados numéricos apresentados neste e as folhas da árvore, numerosas, desenhadas naquele. IV. O texto II deixa transparecer as intenções de seu autor pelo uso bastante forte dos dados numéricos, que enfatizam o rombo que a anistia para os desmatadores causará não só para o Ibama, mas também, moralmente, para a nação. Assinale a alternativa correta. a) Todas as proposições estão corretas. b) Somente as proposições I e II estão corretas. c) Somente as proposições I, III e IV estão corretas. d) Somente as proposições I e IV estão corretas. e) Todas as proposições estão erradas. 03. A charge a seguir faz parte de uma campanha que promove uma academia de musculação. O humor – criado a partir da linguagem verbo-visual- faz parte da estratégia de visibilidade do anunciante. Sobre o efeito linguístico gerado, não se pode afirmar que: a) a palavra "localizada" remete ao universo da musculação. b) a fotossíntese está, para a musculação, assim como a folha da planta está para um músculo do ser humano. c) o público-alvo da propaganda são pessoas interessadas em desenvolver uma parte específica de seu corpo. d) a palavra "localizada", gatilho do humor, pode ser substituída pelo sinônimo "situada", sem prejuízo de sentido. e) o uso da linguagem coloquial em "tou fazendo" está adequado ao contexto linguístico em questão. 03. Observe a ilustração de uma matéria sobre o projeto de lei de autoria da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), cujo objetivo é proibir os pais de usar castigos corporais na educação dos filhos. 11 (Fonte: http://combatepocicial.com. Adaptado. Acesso em 29 dez. 2013) Pela leitura da imagem e do texto verbal que a acompanha, pode-se concluir: a) Por um mecanismo argumentativo de oposição, o objetivo exposto pelo texto verbal abaixo da ilustração não é o mesmo que se verifica na própria ilustração. Esta, por sua vez, mostra claramente que a educação dos filhos pode não estar na palma da mão, no sentido de que os pais não têm controle sobre tais ações. b) Por um mecanismo argumentativo de complementação, o objetivo exposto pelo texto verbal abaixo da ilustração é exatamente o mesmo que se verifica na própria ilustração. A proibição de usar a palmada na educação dos filhos também é alvo do título da matéria, que sugere, pela pergunta, que os pais não têm as ações educativas na palma da mão, no sentido de não exercerem controle sobre elas. c) Pelo mecanismo argumentativo do duplo sentido, o texto do título da matéria, associado ao fato de ser uma pergunta, propõe que os pais não têm controle sobre as ações educativas, ou seja, a educação dos filhos não está na palma da mão, e, por isso, empregam castigos com a palma da mão. A proibição à palmada vem expressa, na ilustração, pelo uso do recurso da placa de trânsito, cujo significado é “proibido”. d) Pelo mecanismo argumentativo da intimidação, o uso de uma placa de trânsito com o significado de “proibido” sobre a mão de um adulto, na ilustração, faz o leitor sentir-se questionado sobre se a que vem abaixo da ilustração demonstra claramente que algumas famílias já estão mudando de atitude. e) Pelo mecanismo argumentativo da interrogação, o título da matéria leva o leitor a questionar se a mão é mesmo o melhor mecanismo empregado pelas famílias para dar a palmada na criança e, assim, educá-la. O texto verbal que vem abaixo da ilustração complementa esse sentido ao afirmar que a ação educativa pela palmada estaria com os dias contados. 04. Observando os anúncios institucionais, pode-se afirmar que os recursos foram usados para: a) seduzir o consumidor pela lógica racional notada no predomínio do uso das cores preta e branca, prometendo-lhe vida saudável após a prática incitada. b) mobilizar racional e emocionalmente o consumidor para a escolha de práticas respeitosas à individualidade e à coletividade. c) persuadir o consumidor inteligente pela identificação com os protagonistas, estimulando-o a agir é contrariamente ao indicado nos recursos verbais. 12 d) moralizar o público-alvo, aqueles que descumprem a lei seca e aqueles que, por fumarem em local fechado, geram o fumante passivo. e) manipular o espectador, levando-o à percepção da própria inteligência na adoção de atitudes politicamente corretas. Charge para as questões 05 e 06 (Fonte: Glauco. Folha de São Paulo. 30/05/2008) 05. A crítica contida na charge visa, principalmente, ao a) ato de reivindicar a posse de um bem, o qual, no entanto, já pertence ao Brasil. b) desejo obsessivo de conservação da natureza brasileira. c) lançamento da campanha de preservação da floresta amazônica. d) uso de slogan semelhante ao da campanha “O petróleo e nosso”. e) descompasso entre a reivindicação de posse e o tratamento dado a floresta. 06. O pressuposto da frase escrita no cartaz que compõe a charge é o de que a Amazônia está ameaçada de a) fragmentação. b) estatização. c) descentralização. d) internacionalização. e) partidarização. Leia a tirinha de Recruta Zero, de Mort e Greg Walker, para responder às questões de 07 a 10. (Fonte: http:// historiasdomaluco.com) 07. O humor da tirinha é resultado a) da dificuldade do recruta para entender o que o sargento solicitava. b) do desrespeito do recruta quanto à ordem específica do sargento. c) da desatenção do recruta quanto à ordem específica do sargento. d) da impossibilidade do recruta de executar a tarefa exigida pelo sargento. e) da complexidade da comunicação do sargento para formular seu pedido ao recruta. As expressões sem demora e com determinação (da 1ª fala do recruta Zero) são base para as questões 08 e 09. 08. Essas expressões são substituídas, sem alteração de sentido, por a) demoradamente e determinadamente. 13 b) imediatamente e determinadamente. c) demasiadamente e indeterminadamente. d) brevemente e indeterminadamente. e) apressadamente e indeterminadamente. 09. Elas exprimem ideia de a) lugar e tempo. b) dúvida e lugar. c) tempo e modo. d) modo e lugar. e) tempo e dúvida. 10. Em - “Você fez o que pedi pra você, Zero?”- o termo ‘o’ tem o mesmo emprego que na alternativa a) Visitei o Museu do Louvre, por várias vezes. b) Vi-o ontem, à saída de casa. c) Repetia que o ladrão tinha tomado sua bolsa. d) O que magoou a jovem sensível foi a agressão. e) Ele, ninguém o escuta na repartição. Observe o texto abaixo e depois responda.(Fonte: http:// folhaspoliticas.wordpress.com) 11. Através do texto se pretende: a) divulgar melhorias efetuadas nos meios mais comuns de transporte público. b) convencer as pessoas a mudarem um hábito, no que se refere ao meio de transporte. c) denunciar a péssima qualidade dos transportes públicos usuais nas cidades grandes. d) propagar novas formas de exercícios físicos e, assim, melhorar a saúde da população. e) apelar para que os motoristas dirijam prestando atenção aos ciclistas. 12. Observe a tirinha da personagem Mafalda, de Quino. (QUINO, J.L. Mafalda. Tradução de Mônica S.M. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1988). O efeito de humor foi um recurso utilizado pelo autor da tirinha para mostrar que o pai de Mafalda: a) revelou desinteresse na leitura do dicionário. 14 b) tentava ler um dicionário, que é uma obra muito extensa. c) causou surpresa em sua filha, ao se dedicar à leitura de um livro tão grande. d) queria consultar o dicionário para tirar uma dúvida, e não ler o livro, como sua filha pensava. e) demonstrou que a leitura do dicionário o desagradou bastante, fato que decepcionou muito sua filha. A CAMPANHA ABAIXO É TEMA DAS QUESTÕES 13 e 14. 13. O texto tem o objetivo de solucionar um problema social, a) descrevendo a situação do país em relação à gripe suína. b) alertando a população para o risco de morte pela influenza A. c) informando a população sobre a iminência de uma pandemia de influenza A. d)orientando a população sobre os sintomas da gripe suína e procedimentos para evitar a contaminação. e) convocando toda a população para se submeter a exames de detecção da gripe suína. 14. Os principais recursos utilizados para envolvimento e adesão do leitor à campanha institucional incluem: a) o emprego de enumeração de itens e apresentação de títulos expressivos. b) o uso de orações subordinadas condicionais e temporais. c) o emprego de pronomes como “você” e “sua” e o uso do imperativo. d) a construção de figuras metafóricas e o uso de repetição. e) o fornecimento de número de telefone gratuito para contato. 15. As imagens seguintes fazem parte de uma campanha do Ministério da Saúde contra o tabagismo. 15 O emprego dos recursos verbais e não-verbais nesse gênero textual adota como uma das estratégias persuasivas a) evidenciar a inutilidade da terapêutica do cigarro. b) indicar a utilidade do cigarro como pesticida contra ratos e baratas. c) apontar para o descaso do Ministério da Saúde com a população infantil. d) mostrar a relação direta entre o uso do cigarro e o aparecimento de problemas no aparelho respiratório. e) indicar que os que mais sofrem as consequências do tabagismo são os fumantes ativos, ou seja, aqueles que fazem uso direto do cigarro. 16. Leia, a seguir, a tirinha de Chico Bento. Chico Bento, personagem bastante conhecida de Maurício de Sousa, expressa-se combinando uma variedade linguística regional e determinado registro de uso da língua portuguesa. As falas de Chico Bento e de seu pai, na tirinha, definem-se por representarem exemplos do linguajar: a) Caipira, marcado pelas alterações fonéticas, em registro oral e coloquial, dados os desvios gramaticais. b) Rural, marcado pelas seleções de vocabulário específico, em registro oral e coloquial, dados os desvios gramaticais. c) Sertanejo, marcado pela atividade de agricultor do pai, em registro oral e coloquial, dados os desvios gramaticais. d) Masculino adulto, marcado pela atividade na roça, e do linguajar masculino infantil, marcado pela constituição da personagem Chico Bento, em registro oral e coloquial, dados os desvios gramaticais. 16 e) Regional, marcado pelos vocábulos típicos da cultura local, em registro oral e coloquial, dados os desvios gramaticais. 17. Leia o excerto a seguir, extraído de um texto escrito para uma coluna na internet. “Placar: Brasil 1, investidores 0.” Com essas palavras se inicia uma reportagem segundo a qual as medidas para conter a apreciação do real estão fazendo efeito no mercado. Com o título “Brasil ganha o round 1 da guerra cambial”, explica-se que os ganhos que os investidores costumavam ter com uma das operações mais atrativas para estrangeiros no país foram solapados depois que o governo passou a adotar medidas contra a alta do real. Investidores internacionais tomam empréstimos em moeda de países desenvolvidos, pagando juros baixos, trazem o dinheiro ao país e compram títulos públicos em reais, com um retorno atualmente de 9,75% ao ano. Nessa operação, ganha-se com a diferença dos juros e a variação do câmbio. No último trimestre do ano passado, esse tipo de operação gerava ganhos de 5,2% aos investidores, segundo a reportagem. Neste ano, no entanto, o ganho baixou para 2%. No México, a mesma operação gera 7,9% atualmente. Além das medidas cambiais (compra de dólares à vista e no mercado futuro pelo Banco Central e aumento do IOF pelo Ministério da Fazenda), a desaceleração maior que o esperado da economia brasileira também é apontada por analistas como um fator da redução da entrada de dólares no país. http://blogs.estadao.com.br (acesso em 23 mar. 2012) A julgar pelas marcas linguísticas típicas de uma variante bastante específica da língua portuguesa, pode-se afirmar que o texto reproduzido: a) Pertence ao universo da economia e, portanto, emprega termos característicos desse contexto, como “efeito”, “mercado” e “guerra”. Deve figurar publicado em um jornal específico sobre economia e finanças. b) Pertence igualmente ao universo da economia e do futebol. Prova disso é a primeira sentença, “Placar: Brasil 1, investidores 0”, cujo intuito é marcar a economia referente ao futebol entre brasileiros e investidores. Deve figurar publicado em um jornal específico sobre economia e finanças que esteja discutindo a Copa de 2014. c) É marcadamente pertencente ao universo da economia e das finanças porque emprega com alta frequência termos técnicos, dentre eles “tomar empréstimo”, “comprar títulos públicos” e “variação do câmbio”. Deve figurar publicado em um jornal específico sobre economia e finanças ou em um jornal de conteúdo genérico que tenha um caderno sobre economia. d) É típico do contexto da economia, apesar de relacioná-la à temática característica da física, pelo emprego do termo “desaceleração”. Deve figurar publicado em um jornal de conteúdo genérico, em qualquer uma das seções, sem vincular-se a uma discussão específica. e) Não apresenta qualquer característica marcante de uma área específica de conhecimento e, portanto, não oferece dificuldades de leitura para leigos. Pode ser encontrado facilmente em diferentes publicações, para diversos públicos. 18. Leia o excerto a seguir. Há alguns bons anos, venho refletindo muito sobre o conceito de erro gramatical. Acho que muitas vezes alguns “erros” por aí apregoados não passam de maneiras diferentes de empregar a língua. [...] Nada é tão democrático quanto a língua. Mas... como toda democracia, ela requer sacrifícios e concessões no seu emprego. Democracia não é fazer o que se quer, mas, sim, o que é possível fazer, com respeito aos demais. O mesmo se pode dizer da língua: não se pode usá-la de qualquer jeito, mas, sim, de acordo com certo padrão. Que padrão é esse? Quem estabeleceu esse padrão? Por que esse padrão e não outro padrão? Muitas perguntas, mas basta uma resposta. Temos de garantir à língua sua função primordial: promover a comunicação e, com ela, garantir a inteligibilidade das mensagens. Ora, para isso, é preciso usar um padrão linguístico que garanta a universalização de entendimento dentro da língua. Esse padrão é conhecido como norma culta e é usado pelos meios de comunicação, pelos livros não literários e literários, pelas pessoas de boa formação cultural... Basicamente,a norma-padrão ou culta é conhecida e reconhecida. É a ensinada nas escolas ou, pelo menos, deveria ser. A escola deve partir da língua usada pelos seus 17 alunos e ensinar-lhes a norma culta. Senão, a escola para nada serve, pois todas as disciplinas e todo o repertório humanos são consolidados pela língua-padrão. Empregar a língua culta amplia a possibilidade de ascensão social. Se aceitássemos como padrão os vários regionalismos e mesmo dialetos, acabaríamos por formar outras línguas. O latim vulgar nos deu exemplo disso e transformou-se em várias línguas, incluindo a nossa. Talvez aqui possamos ampliar o conceito de poliglota. Deixa de ser só aquele que fala várias línguas para incluir também aquele que consegue pelo menos compreender e falar razoavelmente os vários regionalismos e dialetos de sua própria língua. Adaptado de http://linguaportuguesa.uol.com.br (acesso em 23 mar. 2012). Pode-se entender da leitura do trecho apresentado que: a) O falante de regionalismos e dialetos de sua própria língua não necessita conhecer e praticar a norma-padrão, haja vista que já é um verdadeiro poliglota em seu idioma. b) Qualquer que seja o falante, ele deve ser levado a conhecer várias possibilidades de manifestação da língua; a mais importante, no entanto, é a sua própria variante, para que garanta a comunicação com os seus iguais. c) É preciso que as comunidades de falantes possam se comunicar como bem entendam para que participem dos processos de formação de outras línguas, como os que geraram o próprio português. d) Sendo a língua um mecanismo democrático, deve obedecer às mesmas regras da democracia entendida como regime político, o que pressupõe que deve haver liberdade para que se use o padrão mais adequado, independentemente das situações em que se vai comunicar. e) É preciso garantir que todos os falantes sejam capazes de ter acesso às manifestações científicas e culturais de sua sociedade por meio do conhecimento da norma-padrão do idioma, variante na qual se expressam todos os grandes meios de comunicação e as instituições fundamentais que organizam e regem a vida do cidadão. Texto para as questões 19 a 22. SEMANA QUE VEM (...) Esse pode ser o último dia de nossas vidas última chance de fazer tudo ter valido a pena Diga sempre tudo que precisa dizer Arrisque mais, pra não se arrepender Nós não temos todo o tempo do mundo E esse mundo já faz muito tempo O futuro é o presente e o presente já passou O futuro é o presente e o presente já passou Não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar Não deixe nada pra semana que vem Porque semana que vem pode nem chegar Pra depois, o tempo passar Não deixe nada pra semana que vem Porque semana que vem pode nem chegar. (...) Fonte: http://www.vagalume.com.br/pitty/semana-que-vem.html#ixzz2EePHAOHF 19. Pela compreensão do texto ‘Semana que vem’, a ideia global é a de que a) o tempo é infinito e por isso não há pressa. b) há necessidade de se viver intensamente o presente. c) o passado não existe. d) deve-se planejar tudo e esperar é uma prioridade. e) a vida deve ser considerada na perspectiva de futuro. 20. A respeito do uso das reticências, pode-se afirmar que: a) é um marcador de discurso direto. b) funciona como delimitador de período. c) é utilizado para isolar o termo tempo. d) marca a suspensão da sequência lógica de forma intencional. e) substitui a vírgula na enumeração. 21. O uso do termo pra, a abreviação de para, pode ser justificado em: a) é a inserção da variante padrão formal. 18 b) é adequada apenas para gêneros textuais versificados. c) é uma adequação ao propósito textual. d) é uma estratégia linguística que distancia o leitor do texto. e) é a ênfase no preconceito linguístico. 22. Pode-se justificar a acentuação dos termos último e já, porque são respectivamente: a) paroxítono e oxítono. b) oxítono e dissílabo tônico. c) proparoxítono e paroxítono. d) trissílabo e monossílabo tônico. e) proparoxítono e monossílabo tônico. 23. O personagem Chico Bento pode ser considerado um típico habitante da zona rural, comumente chamado de "roceiro" ou "caipira". Considerando a sua fala, essa tipicidade é confirmada primordialmente pela (A) transcrição da fala característica de áreas rurais. (B) redução do nome "José" para "Zé", comum nas comunidades rurais. (C) emprego de elementos que caracterizam sua linguagem como coloquial. (D) escolha de palavras ligadas ao meio rural, incomuns nos meios urbanos. (E) utilização da palavra "coisa", pouco frequente nas zonas mais urbanizadas. 24. A sociedade atual testemunha a influência determinante das tecnologias digitais na vida do homem moderno, sobretudo daquelas relacionadas com o computador e a internet. Entretanto, parcelas significativas da população não têm acesso a tais tecnologias. Essa limitação tem pelo menos dois motivos: a impossibilidade financeira de custear os aparelhos e os provedores de acesso, e a impossibilidade de saber utilizar o equipamento e usufruir das novas tecnologias. A essa problemática, dá-se o nome de exclusão digital. No contexto das políticas de inclusão digital, as escolas, nos usos pedagógicos das tecnologias de informação, devem estar voltadas principalmente para (A) proporcionar aulas que capacitem os estudantes a montar e desmontar computadores, para garantir a compreensão sobre o que são as tecnologias digitais. (B) explorar a facilidade de ler e escrever textos e receber comentários na internet para desenvolver a interatividade e a análise crítica, promovendo a construção do conhecimento. (C) estudar o uso de programas de processamento para imagens e vídeos de alta complexidade para capacitar profissionais em tecnologia digital. (D) exercitar a navegação pela rede em busca de jogos que possam ser "baixados" gratuitamente para serem utilizados como entretenimento. (E) estimular as habilidades psicomotoras relacionadas ao uso físico do computador, como mouse, teclado, monitor etc. 25. José Dias precisa sair de sua casa e chegar até o trabalho, conforme mostra o Quadro 1. Ele vai de ônibus e pega três linhas: 1) de sua casa até o terminal de integração entre a zona norte e a zona central; 2) deste terminal até outro entre as zonas central e sul; 3) deste último terminal até onde trabalha. Sabe-se que há uma correspondência numérica, nominal e cromática das linhas que José toma, conforme o Quadro 2. 19 José Dias deverá, então, tomar a seguinte sequência de linhas de ônibus, para ir de casa ao trabalho: (A) L. 102 - Circular zona central - L. Vermelha. (B) L. Azul - L. 101 - Circular zona norte. (C) Circular zona norte - L. Vermelha - L. 100. (D) L. 100 - Circular zona central - L. Azul. (E) L. Amarela - L. 102 - Circular zona sul. 3. PRESSUPOSTO E SUBENTENDIDO / DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Pressupostos são aquelas ideias não expressas de maneira explícita, mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras ou expressões contidas na frase. Assim, quando se diz O tempo continua chuvoso, comunica-se de maneira explícita que no momento da fala o tempo é de chuva, mas, ao mesmo tempo, o verbo continuar deixa perceber a informação implícita de que antes o tempo já estava chuvoso. Na frase: Pedro deixou de fumar diz-se explicitamente que, no momento da fala, Pedro não fuma. O verbo deixar, todavia, transmite a informação implícita de que Pedro fumava antes. A informação explícita pode ser questionada pelo ouvinte, que pode ou não concordar com ela. Os pressupostos, no entanto, têm que ser verdadeiros ou pelo menos admitidos como verdadeiros, porque é a partir deles que constroem as informações explícitas. Se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem cabimento. No exemplo acima, se Pedro nãofumava antes, não tem cabimento afirmar que ele deixou de fumar. Na leitura e interpretação de um texto, é muito importante detectar os pressupostos, pois o seu uso é um dos recursos argumentativos utilizados com vistas a levar o ouvinte ou o leitor a aceitar o que está sendo comunicado. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressuposto, o falante transforma o ouvinte em cúmplice, uma vez que essa ideia não é posta em discussão e todos os argumentos subsequentes só contribuem para confirmá-la. Por isso, pode-se dizer que o pressuposto aprisiona o ouvinte ao sistema de pensamento montado pelo falante. A demonstração disso pode ser encontrada em muitas dessas verdades incontestáveis postas como base de muitas alegações do discurso político. Quando se diz “O tempo continua chuvoso”, comunica-se de maneira explícita que no momento da fala o tempo é de chuva, mas, ao mesmo tempo, o verbo continuar deixa perceber a informação implícita de que antes o tempo já estava chuvoso. Observe a seguinte frase: Fiz faculdade, mas aprendi algumas coisas. Nela, o falante transmite duas informações de maneira explícita: a) que ele frequentou um curso superior; b) que ele aprendeu algumas coisas. Ao ligar essas duas informações com um “mas”, o falante comunica também, de modo implícito, sua crítica ao sistema de ensino superior, pois a frase passa a transmitir a ideia de que nas faculdades não se aprende nada. Um dos aspectos mais intrigantes da leitura de um texto é a verificação de que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo: além das informações explicitamente enunciadas, existem outras que ficam subentendidas ou pressupostas. Para realizar uma leitura eficazmente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos. Leitor perspicaz é aquele que consegue ler nas entrelinhas. Caso contrário, ele pode passar por cima de significados importantes e decisivos ou o que é pior pode concordar com coisas que rejeitaria se as percebesse. Não é preciso dizer que alguns tipos de 20 texto exploram, com malícia e com intenções falaciosas, esses aspectos subentendidos e pressupostos. Assim, temos como índices de pressupostos: certos advérbios - O resultados da prova ainda não foi divulgado. (Pressuposto - O resultado já devia ter sido divulgado ou O resultado será divulgado com atraso.) certos verbos - O esquema da mala tornou-se público. (Pressuposto - O esquema não era público.) orações adjetivas - Os candidatos a prefeito, que só querem defender seus interesses, não pensam no povo. (Pressuposto - Todos os candidatos a prefeito têm interesses individuais.) adjetivos - Os partidos radicais acabarão com a democracia no Brasil. (Pressuposto - Existem partidos radicais no Brasil.) ATENÇÃO: ORAÇÕES ADJETIVAS - As orações subordinadas adjetivas fazem o papel de um adjetivo, ou seja, restringem ou explicam o sentido de um substantivo ou de um pronome da oração principal. Ex.: Pedro é um jovem que estuda muito. “que estuda muito” modifica o substantivo jovem e equivale ao adjetivo " estudioso ". - As adjetivas são introduzidas por pronomes relativos: que (= qual), qual, quem, cujo, onde e quando. - A adjetiva restritiva contribui para definir, apontar, individualizar um nome ou pronome expresso anteriormente. Ex.: O livro que comprei é uma gramática. Dizemos " que comprei " para definir qual livro é uma gramática. Lemos, sem qualquer pausa, “o livro que comprei ", pois tal grupo de palavras forma um todo no sentido; daí não usamos vírgula. - A adjetiva explicativa revela outra intenção por parte do autor: a de acrescentar mais uma ideia, merecedora de realce. Ex.: “A inteligência, que nos distingue dos irracionais, tem um valor inestimável ", querendo dizer que " A inteligência tem um valor inestimável "; " que nos distingue dos irracionais " São duas coisas separadas, embora uma venha explicando a outra: " A inteligência tem um valor inestimável " ( ideia principal ) e a " inteligência nos distingue dos irracionais " ( ideia secundária ), de acordo com o texto. Como são ideias separadas, devemos ler fazendo pausa entre uma e outra, abaixando a voz ao proferirmos a adjetiva explicativa. A Vírgula entre elas é obrigatória. - Resumindo: 1 - Restritiva: a) Restringe a significação do substantivo ou do pronome; b) É indispensável ao sentido da frase; c) Não se separa por vírgula da oração principal. 2 - Explicativa: a) Acrescenta uma qualidade de acessória ao antecedente; b) É dispensável; c) Vem separada por vírgula da oração principal. (Fonte: CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: IBEP Nacional, 2008.) Os subentendidos são as insinuações escondidas por trás de uma afirmação, sendo este contextual, pragmático, e de responsabilidade do ouvinte, por isso, altamente variável, uma vez que o falante camufla as palavras protegendo-se, porque, com ele, diz-se sem dizer, sugere-se, mas não diz, sem comprometer-se. Quando um transeunte com o cigarro na mão pergunta: Você tem fogo? acharia muito estranho se você dissesse: Tenho e não lhe acendesse o cigarro. Na verdade, por trás da pergunta subentendesse: Acenda-me o cigarro, por favor. 21 1) Num diálogo entre A e B: A: Estou procurando alguém para consertar meu carro. B: Meu irmão está em casa. A: Mas ele está sempre tão ocupado! Nesse pequeno discurso existem muitas informações implícitas, ou seja, subentendidas, quais sejam: “A” sabe que ali naquele local mora alguém que conserta carro. É o irmão de “B” que conserta carro. “A” fica surpreso ao encontrar o irmão de “B” em casa, já que ele encontra-se sempre muito atarefado. 2) Um enunciado como: “Conheço muito bem os políticos de hoje.” Este enunciado pode querer dizer que os políticos são desonestos, isentando o locutor de qualquer responsabilidade, escondendo-se atrás do significado literal das palavras, já que a interpretação é particular daqueles que a realizam. 3) Ninguém é tão ignorante que não possa ensinar algo a alguém. Subentende-se que: O locutor confia na capacidade das pessoas para ensinar; O interlocutor tem capacidade de ensinar; Há diferentes graus de sabedoria ou de ignorância; Não há ninguém verdadeiramente ignorante; Há alguém que deseja ou precisa de ensino; Há alguma coisa para ensinar. O subentendido difere do pressuposto num aspecto importante: o pressuposto é um dado posto como indiscutível para o falante e para o ouvinte, não é para ser contestado; o subentendido é de responsabilidade do ouvinte, pois o falante, ao subentender, esconde-se por trás do sentido literal das palavras e pode dizer que não estava querendo dizer o que o ouvinte depreendeu. O subentendido, muitas vezes serve para o falante proteger-se diante de uma informação que quer transmitir para o ouvinte sem se comprometer com ela. Para entender esse processo de descomprometimento que ocorre com a manipulação dos subentendidos, imaginemos a seguinte situação: Um funcionário público do partido de oposição lamenta, diante dos colegas reunidos em assembleia, que um colega de seção, do partido do governo, além de ser sido agraciado com uma promoção, conseguiu um empréstimo muito favorável do banco estadual, ao passo que ele, com mais tempo de serviço, continuava no mesmo posto e não conseguia o empréstimo solicitado muito antes que o referido colega. Mais tarde, tendo sido acusado de estar denunciando favoritismo do governo para com os seus adeptos, o funcionário reclamante defende-se prontamente, alegando não ter falado em favoritismo e que isso era dedução de quem ouvira o seu discurso. (Fonte: Platão e Fiorin. Para Entender o Texto: leiturae redação.2008) Na verdade, ele não falou em favoritismo, mas deu a entender, deixou subentendido para não se comprometer com o que disse. Fez a denúncia sem denunciar explicitamente. A frase sugere, mas não diz. A distinção entre pressupostos e subentendidos em certos casos é bastante sutil. Não vamos aqui ocupar-nos dessas sutilezas, mas explorar esses conceitos como instrumentos úteis para uma compreensão mais eficiente do texto. EXERCÍCIOS 01. Observe as duas passagens que seguem: a) Os índios brasileiros, que abandonaram suas tradições, estão em fase de extinção. ____________________________________________________________________________ b) Os índios brasileiros que abandonaram suas tradições estão em fase de extinção. 22 ____________________________________________________________________________ A oração adjetiva (que abandonaram suas tradições) implica os mesmos pressupostos em ambas as passagens? 02. “COMEMORAÇÃO” Um senador pelo Distrito Federal, às vésperas de ser cassado, e um ex-juiz de São Paulo, amigos íntimos, se encontraram em Brasília: -E então Meritíssimo, vamos tomar alguma para comemorar? O juiz prontamente responde: -Vamos! De quem agora? a) Em que expressão exatamente se encontra a graça da piada acima? Por quê? ____________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ b) Qual o subentendido que se esconde por trás da expressão principal dessa piada? ____________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ c) Qual o subentendido contido no título dessa piada(“Comemoração”) e também na expressão “de quem agora”? ____________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 03. Pedro vendeu seu fusquinha. Pressuposto_____________________________ 04. Todos vieram; até Maria. Pressuposto:____________________________ 05. Manuel parou de fumar. Pressuposto:_____________________________ 06. Os noivos chegaram. Pressuposto:_____________________________ 07. Paulo dançou a noite toda com Maria. Pressuposto;_____________________________ 08. Ela é pobre, mas é limpa. Pressuposto:_______________________________________________ 09. Sou pobre, porém sou honesto. Pressuposto:_______________________________________________ 10. Somos pouco estudados, mas temos vergonha. Pressuposto:_______________________________________________ 11. Ele é negro, mas é inteligente. Pressuposto:_______________________________________________ 12. É analfabeto, mas é decente. Pressuposto:_______________________________________________ 23 13. Creme dental e Gel Even: basta um pingo. Pressuposto:_______________________________________________ 14. Nossas promoções são promoções mesmo. Aqui não tem enrolada. Pressuposto:_______________________________________________ 15. Meu candidato é um homem de mãos limpas. Pressuposto:_______________________________________________ 16. Ela é muito inteligente, apesar de ser mulher. (Mário Amato – Presidente da FIESP – referindo-se à ministra Dorothéa Werneck – Governo Fernando Henrique Cardoso). Pressuposto:_______________________________________________ 17. Observe os seguintes diálogos e demonstre os subentendidos de cada diálogo: a) – Maria virá à festa de João no próximo sábado? – Davi quer ir ao teatro. ________________________________________________________________________ b) – Oi Juliana, e aí, está de pé? - Olha, o negócio está firme, tudo em cima. Suba rápido. ________________________________________________________________________ 18. Sobre a frase “isso é tão simples que até uma mulher faz” responda: a) Qual a palavra que dá sentido machista à frase? _______________________________________________________________________ b) É possível ter certeza de que a direção argumentativa do enunciador dessa frase é desfavorável às mulheres? _______________________________________________________________________ 19. 24 a) Explique por que é possível que o enunciatário de uma mensagem como a que Calvin leu não entenda que, por exemplo, deve ligar os pontos em ordem numérica. ________________________________________________________________________________ b) Que efeito de sentido a repetição da palavra “regras” traz à fala de Calvin no último quadrinho da tirinha? ________________________________________________________________________________ 20. Assinale a interpretação sugerida pelo seguinte trecho publicitário: Fotografe os bons momentos agora, porque depois vem o casamento. a) O casamento não merece fotografias. b) A felicidade após o casamento dispensa fotografias. c) Os compromissos assumidos no casamento limitam os momentos dignos de fotografia. d) O casamento é uma segunda etapa da vida que também deve ser registrada. e) O casamento é uma cerimônia que exige fotografias exclusivas. 21. Identifique as informações pressupostas nas frases abaixo: a) “Capital da Líbia volta a ser bombardeada” b) “Estado do Rio registra primeiro caso de dengue tipo 4”. c) “Para Ronaldinho Gaúcho, proposta do Flamengo foi a melhor”. d) “Botafogo ainda não definiu treinador”. e) “Abel Braga volta a treinar o Fluminense”. f) “Vasco busca título inédito da Copa do Brasil”. 22. Identifique as informações subentendidas nas frases abaixo: a) “Você gostaria de ir ao cinema comigo qualquer dia?” (rapaz abordando uma moça numa festa). b) “E você é simpático” (mulher respondendo a um elogio feito por um admirador). c) “A bolsa da senhora está pesada?” (um rapaz). d) “Você tem horas?” (um homem apressado). e) “Filho, leve o guarda-chuva” (mãe). 4. LÍNGUA, LINGUAGEM E SUJEITO Para que entendamos como se processa a linguagem, é interessante fazermos uma incursão pelas concepções de linguagem, de sujeito, de texto e de sentido que foram utilizados pelos falantes nos diversos paradigmas estabelecidos no decorrer da história. 1ª CONCEPÇÃO: 1. LINGUAGEM 2. SUJEITO 3. TEXTO 4. SENTIDO Língua como representação do pensamento: -Consciência individual no uso da linguagem. Sujeito psicológico, individual, dono de suas vontades e de suas ações. Um ego que constrói uma representação mental. Deseja que o interlocutor Texto é um produto (lógico) do pensamento, representação mental. Nada cabe ao leitor. Modelo hermenêutico. Sentido é criado pelo intérprete. O sujeito do enunciado é responsável pelo sentido. 25 capte a mensagem como foi mentalizada. 2ª CONCEPÇÃO: 1. LINGUAGEM 2. SUJEITO 3. TEXTO 4. SENTIDO Língua como estrutura: quem fala é um sujeito anônimo. Sujeito determinado, assujeitado pelo sistema. Sujeito: repetidor, dependente, caracterizado por uma não-consciência, não é dono de seu discurso nem da sua vontade. Texto é um mero produto da codificação do emissor a ser codificado pelo leitor / ouvinte. Leitor é passivo. Texto codificado, explícito. Modelo criptológico: o sentido está no texto: descubra. 3ª CONCEPÇÃO: 1. LINGUAGEM 2. SUJEITO 3. TEXTO 4. SENTIDO Língua como lugar de interação: Sujeitos são atores sociais. Concepção interacional da língua. Sujeito: entidade psicossocial Caráter ativo. Sujeitos são atores, construtores sociais. Sujeito bakhtiniano, social, histórica e ideologicamentesituado. A identidade do sujeito é construída na relação com a alteridade. Participante do sentido. Sujeito é na interação. Texto é o lugar próprio da interação. No texto os sujeitos se constroem e são construídos. Possui implícitos, compreensíveis com o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. É um evento comunicativo. É construído na interação texto-sujeito. Modelo pragmático. O sentido é uma atividade interativa complexa. O sentido se realiza com ativação de saberes prévios. A coerência está associada ao contexto sociocognitivo e interativo. 4.1. TEXTO E CONTEXTO Todos os nossos atos se realizam através de textos, sejam verbais ou não-verbais. A leitura de um texto se dá primeiramente a partir do processo de decodificação, quando temos contato com o conteúdo e buscamos compreendê-lo. Existem elementos que nos ajudam a interpretar os textos que estão a nossa volta, mas para que se possa compreender bem um texto é necessário identificar o contexto (social, cultural, estético, político) no qual ele está inserido. Essa identificação vai depender do conhecimento sobre o que está sendo abordado e as conclusões referentes ao texto. Em determinados textos a informação sobre acontecimentos passados contribui para sua compreensão. Por isso, quanto mais variado o campo de conhecimento, mais facilidade encontrará o leitor para ler e interpretar textos. O texto é o lugar da interação dos atores sociais e o contexto em que ele foi produzido é constituído de aspectos internos e externos ao discurso, à fala. Ele é constituído pela situação social em que o discurso se realiza. A situação social é a forma como duas ou mais pessoas se comunicam sobre um determinado assunto. Dessa forma, o contexto é o conjunto das condições sociais consideradas para estudar as relações sociais existentes entre comportamento social e comportamento linguístico. O estudo do contexto não depende apenas de conhecimentos linguísticos, mas também de conhecimentos de mundo (conhecido como conhecimento enciclopédico). Aqui entra todo nosso estoque de conhecimentos, acumulado ao longo de nossa vida, de nossas leituras, de nossas experiências. Assim, o texto deve ser estudado em seu contexto de produção e deve ser compreendido não como um produto acabado, mas como um processo entre os interlocutores. 26 4.2. TEXTUALIDADE É aquilo que dá organização ou organicidade ao texto. É o que caracteriza que um texto é um todo coeso e organizado e não um amontoado de palavras. É a característica de um texto que torna claro que gênero textual se pretenda que ele seja; As propriedades que permitem identificar cada tipo de texto (textura). 4.3. INTERTEXTUALIDADE/POLIFONIA A Intertextualidade pode ser definida como um diálogo entre dois textos. Pode ser implícita ou explícita. Sabemos que todo texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente. Qualquer texto que se refere a assuntos abordados em outros textos são intertextos. Para caracterizar o romance de Dostoievski, Bakhtin trouxe o termo à linguagem. Explana a relação entre falante e ouvinte e o expressar de um em relação ao outro; e que “eu” dou-me forma enquanto parte integrante do grupo a que pertenço. O “eu se constrói constituindo o Eu do outro e por ele é constituído”. Outros autores chamam de “várias vozes” que constituem um texto. O autor pode falar várias vozes ao longo de seu texto. Não há um divisor de águas entre a terminologia ‘intertextualidade’ e ‘polifonia’. Ambas são as vozes que compõem um texto. EXERCÍCIOS 01. Enumere a 2ª coluna em consonância com a 1ª: (1) A língua é uma representação do pensamento. A língua é uma estrutura. (2) A língua é concebida como uma atividade dialógica e interacional. É o lugar próprio da interação. (3) O sujeito como uma atividade psicossocial, com caráter ativo. Os sujeitos são atores sociais e sua identidade é construída na relação com a alteridade. (4) O sentido do texto é criado pelo intérprete. Nada cabe ao leitor. (5) O sentido do texto está nele, explícito. O leitor descubra. ( ) Concepção contemporânea da noção de sujeito. Corresponde à concepção de língua como interação. ( ) Modelo criptológico de sentido. Compreende ao conceito de texto como produto da codificação do emissor a ser decodificado pelo leitor. ( ) Concepção contemporânea do conceito de língua . ( ) Concepções tradicionais e estruturalistas do conceito de língua. ( ) É o chamado modelo hermenêutico da concepção de sentido. O sentido do texto é criado pelo intérprete. 02. 1) É um lugar de interação. Concepção dialógica e interacional. (2) Entidade psicossocial, com caráter ativo. São atores e construtores sociais. (3) É o lugar próprio da interação. É um evento comunicativo. (4) É uma atividade interativa complexa. Além da base linguística, requer saberes. ( ) Concepção contemporânea de sentido. ( ) Concepção contemporânea de língua. ( ) Concepção contemporânea de sujeito. ( ) Concepção contemporânea de texto. 03. (1) Lugar próprio da interação. Nele, os sujeitos se constroem e são construídos. Possui informações explícitas e implícitas. É uma entidade comunicativa verbal e não-verbal. É uma realidade discursiva e social. (2) É um conceito que designa os aspectos internos e externos ao discurso, à fala. É concebido como o conjunto das atividades sociais consideradas para estudar as relações sociais ( ) Conceito de textualidade. ( ) Conceito de texto. ( ) Conceito de contexto. 27 existentes. É o entrono do texto. (3) É a característica que dá organização ou organicidade ao texto. É o que faz do texto um todo coeso e organizado e não um amontoado de palavras. (4) Pode ser definido como um diálogo entre dois textos. É explícito ou implícito. Qualquer texto que se refere a assuntos abordados em outros textos. (5) Etimologicamente significa ‘muitas vozes’. O eu se constrói constituindo o Eu do outro e por ele é constituído. ( ) Conceito de polifonia. ( ) Conceito de intertextualidade. 5. ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES DA LINGUAGEM Para entendermos com clareza as funções da linguagem, é bom primeiramente conhecermos as etapas da comunicação. Ao contrário do que muitos pensam, a comunicação não acontece somente quando falamos, estabelecemos um diálogo ou redigimos um texto, ela se faz presente em todos (ou quase todos) os momentos. Comunicamo-nos com nossos colegas de trabalho, com o livro que lemos, com a revista, com os documentos que manuseamos, através de nossos gestos, ações, até mesmo através de um beijo de “boa noite”. No ato de comunicação percebemos a existência de alguns elementos. Observe a tirinha abaixo para analisarmos. Analisando o que temos na lista do Calvin, verificamos que quase todos os elementos considerados fundamentais para a concretização da comunicação estão presentes: 28 Emissor alguém que transmite a mensagem (no caso, Calvin); Destinatário a quem a mensagem se dirige (no caso, Haroldo); Mensagem a informação que se pretende transmitir (no caso, o questionamento sobre o comportamento dos tigres); Código um conjunto comum ao emissor e ao destinatário formado de elementos e de regras que permitem o entendimento da mensagem (no caso, a língua portuguesa); Referente o assunto, a situação que envolve o emissor e o destinatário e o contexto linguístico que envolve a mensagem (no caso, a situação concreta de preguiça ou sono do tigre e a fala de Calvin, questionando os objetivos de vida de um tigre, por meio de um diálogo);Canal o meio físico para transmitir a mensagem e a conexão psicológica que leve o destinatário a se interessar no que lhe transmite o emissor e a procurar entender a mensagem (no caso, o ar e o interesse (ou melhor, a fala de) de Haroldo na mensagem emitida por Calvin). Nesse último elemento, percebemos o “problema” que impossibilita a comunicação entre emissor (Calvin) e destinatário (Haroldo): ou Haroldo está dormindo e, portanto, não ouve o que o garoto lhe diz (o canal físico não existe); ou Haroldo está tão sonolento que não consegue dar atenção a Calvin (falta conexão psicológica, vontade do tigre em ouvir e prestar atenção ao que lhe é dito). Há de se observar que diversos fatores impedem a comunicação entre emissor e receptor. Todo elemento que interfere na comunicação dos interlocutores recebe o nome de ruído, ou seja, ruído é qualquer obstáculo que impede a comunicação, a compreensão da mensagem transmitida. Partindo desses seis elementos, Roman Jakobson, linguista russo, elaborou estudos acerca das funções da linguagem, os quais são muito úteis para a análise e produção de textos. As seis funções serão abordadas no próximo item. 5.1. FUNÇÕES DA LINGUAGEM Para realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona as palavras, depois passa a organizá-las e combiná-las conforme a sua vontade. E todo este trabalho de seleção e combinação não é aleatório, não é realizado por acaso, mas está intimamente ligado à intenção do emissor. Assim sendo, a linguagem passa a ter funções, cuja importância é saber utilizar a linguagem adequada no momento adequado. O esquema proposto por Roman Jakobson compreende um remetente que envia uma mensagem a um destinatário; para ser eficaz a comunicação, são necessários um contexto a que se refere, um código, parcial ou totalmente comum a remetente e destinatário, e um canal físico. O código compreende um estoque estruturado de elementos que se apresentam como alternativas de seleção para a produção de mensagens. Os subcódigos introduzem a questão da variação linguística. Assim, códigos diferentes não permitem a comunicação. Uma petição escrita numa variante linguística não aceita nos meios forenses pode impedir a consecução do objetivo do profissional do direito na defesa dos interesses de um cliente seu. Nunca podemos esquecer que há variantes linguísticas que gozam de prestígio entre os usuários e há outras que são estigmatizadas. Para Jakobson, a linguagem deveria ser examinada não em relação à função informativa (denotativa, referencial), que foi considerada pelos teóricos da informação a única e a mais importante. 29 As funções estariam, para Jakobson, focadas em um dos elementos do processo de comunicação; a função emotiva estaria centrada no remetente; a referencial, no contexto ou referente; a poética, na mensagem; a fática, no contato; a metalinguística, no código; a conativa, no destinatário. FUNÇÃO REFERENCIAL É a mais comum das funções da linguagem e centra-se na informação. A intenção do emissor é transmitir ao interlocutor dados da realidade de uma forma direta e objetiva, sem ambiguidades, com palavras empregadas em seu sentido denotativo. Portanto, essa é a função da linguagem que predomina em textos dissertativos, técnicos, instrucionais, jornalísticos ─ informativos por excelência. Como está centrado no referente, ou seja, naquilo de que se fala, prevalece o texto escrito em 3ª pessoa, com frases estruturadas na ordem direta. A informação jurídica é precisa, objetiva, denotativa; fala-se, então, de função referencial. Nada impede, porém, que o texto jurídico se preocupe, por exemplo, com a sonoridade e ritmo das palavras, valorizando a forma da comunicação; tem-se, assim, a função poética. Os textos em que predomina a função referencial apresentam qualidades objetivas ou concretas, uso de nomes próprios, estratégias argumentativas lógicas, como provas e demonstrações. Em geral, evitam o uso de adjetivação imprecisa, como belo, feio, grande, pequeno etc., bem como de expressões subjetivas como eu acho, eu quero. Esses procedimentos visam criar o efeito de distanciamento do sujeito e de verdade dos fatos. O uso da função referencial tem em vista a transmissão objetiva de informação sobre o contexto, sobre os fenômenos extralinguísticos. FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA Quando a intenção do produtor do texto é posicionar-se em relação ao tema que está abordando, é expressar seus sentimentos e emoções, o texto resultante é subjetivo, um espelho do ânimo, das emoções, do temperamento do emissor. Nesse caso temos a função emotiva da linguagem (também chamada expressiva). A interjeição, o uso de pronomes e verbos na 1ª pessoa do singular, os adjetivos valorativos e alguns sinais de pontuação, como as reticências e os pontos de exclamação são algumas marcas da função emotiva utilizada para comover o receptor. Exemplo: linguagem do réu (que valoriza a primeira pessoa do singular); linguagem do advogado de defesa quando, no Júri, apela para o fato de que a condenação vai ultrapassar a pessoa do condenado e atingir outras pessoas inocentes. FUNÇÃO APELATIVA OU CONATIVA Observe que conativo significa “relativo ao processo da ação intencional sobre outra pessoa”: promover, suscitar, provocar estímulos, persuadir. A função apelativa ou conativa é, portanto, aquela em que há intenção do emissor de influenciar o destinatário. A mensagem se organiza em forma de ordem, chamamento, apelo ou súplica e está centrada no receptor. Para tentar persuadir o destinatário é preciso, antes de mais nada, falar a língua dele, apelar para exemplos e argumentos significativos em relação a sua classe social, a sua formação cultural, a seus sonhos e desejos. Cada leitor deve ter a sensação de que o texto foi escrito especialmente para ele, como se fosse uma conversa a dois. É o que os publicitários, por exemplo, fazem muito bem. Um produto sofisticado exige um anúncio também sofisticado, para atingir seu público-alvo. Por outro lado, um produto “popular” exige um anúncio objetivo, em linguagem clara e direta, explorando argumentos que fazem parte do repertório do consumidor-alvo. Marcam a função apelativa os verbos no imperativo, uso do vocativo e tratamento em 2ª pessoa (tu, vós, você, vocês). Sabe-se que o texto jurídico é, eminentemente, persuasório; dirige-se, especificamente, ao receptor; dele se aproxima para convencê-lo a mudar de comportamento, para alterar condutas já estabelecidas, suscitando estímulos, impulsos para provocar reações no receptor. O discurso persuasório apresenta duas vertentes: a vertente autoritária e a vertente exortativa. A vertente autoritária é típica do discurso jurídico; basta atentar-se para o Código Penal e para expressões como: “intime-se, “afixe-se e cumpra-se”, “revoguem-se as disposições em contrário”, “arquive-se”, conduzir “sob vara” ou manu militari, “justiça imperante” e muitas outras. Monteiro (1967, p14) é taxativo: “Além de comum a lei é, por igual, „obrigatória‟. Ela ordena e não exorta (jubeat non suadeat); também não teoriza. Ninguém se subtrai ao seu tom imperativo e ao seu campo de ação.” Já a vertente exortativa é utilizada mais pelos textos publicitários que, para maior efeito, apelam para a linguagem poética. O discurso persuasório coercitivo, autoritário, já caracterizou a igreja católica que hoje usa mais o discurso exortativo. 30 FUNÇÃO FÁTICA Tem como propósito prender a atenção do destinatário visando prolongar a comunicação, testando o canal com frases do tipo “veja bem”, “entendeu?”,”certo?” “olha aqui”, etc. O principal exemplo é o diálogo. FUNÇÃO POÉTICA Quando a intenção do produtor do texto está voltada para a própria mensagem,
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