Buscar

OITAVA AULA MYCOBACTERIUM

Prévia do material em texto

Mycobacterium
HISTÓRICO
Há séculos as relações entre a tuberculose dos animais e a do homem constituem motivo de preocupação para as autoridades sanitárias.
São numerosas as referências feitas anteriormente à era bacteriana, ao perigo que representa para o homem o consumo de carne de animais sofrendo de caquexia e é muito provável que nesta designação estivesse incluída a tuberculose bovina.
No Talmud, codificado em fins do século II, os rabinos proibiam ao povo hebreu utilizar-se de carne de bovinos em cujos pulmões fossem encontradas lesões ulcerativas (Vaccarezia & Arena, 1942, apud Feldman, 1955).
Em 24 de março de 1882, ROBERT KOCH anunciou publicamente que havia observado e cultivado o bacilo responsável pela doença do homem e dos bovinos, o que significou o grande divisor de águas na história da tuberculose. KOCH denominou-o "Tuberkelbacillen" (bacilo da tuberculose), ZOPF (1883) propos a denominação "Bacterium tuberculosis" e LEHMANN & NEUMANN (1896) incluíram-no como espécie do gênero Mycobacterium.
Em 1938, Torres & Pacheco informaram sobre o isolamento do bacilo do tipo bovino de lesões humanas, tratando-se da primeira publicação na literatura médica nacional sobre o assunto.
Dados do Centro Pan Americano de Zoonoses (Argentina, 1982) indicam a ocorrência, entre 1941 e 1955, de cerca de 24 casos de tuberculose bovina em humanos, entre 235 cepas examinadas.
A tuberculose bovina é uma enfermidade bacteriana crônica que acomete os animais e o homem (ARAUJO, 2004). Ela voltou a ter uma grande importância em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento, acometendo 3,5 milhões de animais só entre Brasil e Argentina. As perdas econômicas com baixa produtividade e condenação de carcaças são crescentes (BIANCHINI, 2008).
O agente causador de tuberculose bovina pertence ao gênero Mycobacterium. São bastonetes finos, caracteristicamente álcool-ácido-resistentes (A.A.R.), aeróbios, de crescimento lento, geralmente de vida livre ou patógenos de vertebrados (LABACVET 2007-II).
FAMÍLIA Mycobacteriaceae
ESPÉCIES 
M. tuberculosis homem (primatas mantidos em cativeiro, cães, gatos, papagaios) 
M. bovis  bovinos (todos os mamíferos)
M. avium  aves
M. paratuberculosis bovinos, ovinos e caprinos
M. intracellulare  suínos (Linfadenite Caseosa Tuberculóide dos Suínos)
Complexo MAIS (M. avium; M. intracellulare; M. scrofulaceum
A propriedade de A.A.R. é devido à grande quantidade de material gorduroso da parede celular, importante para o reconhecimento da micobactéria. São descritas como álcool-ácido-resistentes, isto é, após a coloração resistem ao efeito descolorizante do álcool ácido, bem como ácidos minerais fortes (LABACVET 2007-II). 
O Mycobacterium bovis é o agente causador de tuberculose em bovinos, suínos, felinos, eqüinos, primatas, caninos, ovinos e caprinos. O M. bovis são bastonetes curtos e gordos em esfregaços de tecidos; sendo maiores e mais finos, em meio de cultivo líquido. Cora-se em vermelho pelo corante de Ziehl-Neelsen (A.A.R.) (LABACVET 2007-II). 
As bactérias da espécie Mycobacterium bovis são imóveis, sem cápsula nem esporos. Além disso, são bastonetes delgados, retos ou ligeiramente encurvados, por vezes ramificados. São, também, aeróbios obrigatórios e, em colônias, crescem aderindo paralelamente entre si, dando um aspecto de corda
6
PATOGENIA
Via de infecção  multiplicação na porta de entrada  migração de neutrófilos, macrófagos e linfócitos  agentes são transportados pelo fagócito para os linfonodos regionas (foco secundário)  7 –15 dias, células gigantes de Langhans  secrção de enzimas (linfócitos B)  foco necrótico caseoso no centro, com área ao redor de infiltração de fibroblastos formando uma cápsula de conectivo.
EPIDEMIOLOGIA DA TUBERCULOSE BOVINA
A tuberculose em um rebanho pode ser introduzida principalmente pela aquisição de animais infectados, podendo propagar-se nos bovinos, independentemente do sexo, raça ou idade. A estabulação, que propicia o contato estreito e freqüente entre os animais, contribui para que a enfermidade se propague com maior rapidez.
Animais tuberculosos podem eliminar nas fezes um grande número de bacilos, contaminando as pastagens; entretanto, tal fonte de infecção parece não possuir importância epidemiológica. Tal observação pode ser confirmada quando novilhas sadias são colocadas em pastagens, juntamente com vacas comprovadamente infectadas, permanecendo baixa a incidência de infecção dos animais sadios, o que não ocorre quando as mesmas são estabuladas com vacas tuberculosas (Morris et al., 1994).
Apesar da tuberculose bovina ser definida como uma doença crônica debilitante, também pode assumir caráter agudo e progressivo. Qualquer tecido pode ser afetado, mas as lesões de aspecto caseoso são mais comumente observadas nos linfonodos de cabeça, pescoço, mediastínicos e mesentéricos, pulmões, intestinos, fígado, baço, pleura e peritôneo.
Os sintomas da doença nos animais podem não estar presentes em infecções recentes e quando da evolução do quadro, podem aparecer sinais característicos como emaciação progressiva, aumento de volume dos linfonodos e em alguns casos tosse, dispnéia e episódios de diarréia intercalados com constipação (HAAGSMA, 1995).
O Brasil reúne algumas condições que favorece a implementação de um programa de controle da tuberculose bovina, dentre as quais poderiam ser destacadas a existência de serviços veterinários com experiência no controle de doenças animais, de laboratórios capacitadas para a produção de antígenos e realização de diagnóstico e, além disso, a existência de bacias leiteiras relativamente organizadas.
 
Por outra lado, dentre os fatores que dificultariam tal ação poderiam ser lembrados: a dimensão do rebanho bovino brasileiro, maior rebanho comercial do mundo; a grande extensão territorial; a existência de fronteiras com outros dez países; as grandes diferenças regionais quanto a infra-estrutura e condições sócio-econômicas; a grande heterogeneidade das criações quanto ao modo de produção e situação sanitária; a insuficiência dos recursos financeiros destinados aos órgãos oficiais que se ocupam da saúde animal.
O primeiro passo para se estabelecer com sucesso um programa de controle e erradicação de qualquer enfermidade é o conhecimento da distribuição e prevalência destas doenças bem como as características da produção e dos produtores. (Paixão Ribeiro, 2002)
DIAGNÓSTICO 
Testes de tuberculinização têm sido utilizados para diagnóstico de tuberculose em bovinos, por mais de um século. Tais testes avaliam respostas de hipersensibilidade retardada, 72 horas após uma injeção intradérmica de tuberculina (PPD–derivado protéico purificado de Micobacterium). Atualmente, duas modalidades de testes são utilizadas: o teste intradérmico simples, que utiliza apenas tuberculina bovina e o teste intradérmico comparado, que utiliza tuberculina bovina e aviária.
A tuberculinização comparada permite minimizar diagnósticos falsos positivos por reações desencadeadas por agentes do complexo MAIS (Micobacterium avium, M. infracelulareae, M. scrofulaceum), que não são patogênicos para bovinos, porém são capazes de desencadear reações positivas.
TUBERCULINA
Distinguem-se três tipos de preparações de tuberculinas: 1) a O.T. (Old Tuberculin) nos moldes originalmente preparada por Koch; 2) a HCSM (heat concentrated sintetic medium) ou tuberculina preparada em meio sintético e concentrada pelo calor; e 3) PPD (purified protein derivate).
A tuberculina HCSM também pode ser chamada de O.T., pois a princípio não mais se admite a produção de tuberculinas que não sejam preparadas em meio totalmente sintético.
As tuberculinas O.T. e PPD não são comparáveis biologicamente, pois possuem composições distintas e diferentes relações dose/efeito.
A tuberculina O.T. é obtida a partir da concentração pelo calor de um filtrado de cultura de Mycobacterium tuberculosis ou M. bovis, dependendo do país, para uso intradérmico em mamíferos.BRUCELOSE BOVINA
INTRODUÇÃO
Definição
	A brucelose bovina, geralmente, é causada pela bactéria Brucella abortus. Os bovinos também podem infectar-se, ainda que raramente, por Brucella suis, quando compartilham pastagens ou instalações com suínos infectados. Em países onde existe a Brucella melitensis (não há notificação do Brasil) também ela pode infectar os bovinos, pelas mesmas razões comentadas antes.
Espécies suscetíveis:
	Homem, bovinos, caprinos, suínos, ovinos, cães, outras.
Conseqüências:
	Aborto, infertilidade temporária ou permanente, perdas econômicas
Etiologia
B. abortus (8 biotipos) - Bovinos, homem
B. mellitensis (3 biotipos) - Caprinos, bovinos, homem
B. suis (5 biotipos) - Suínos, bovinos, homem
B. canis* - Cães, homem
B. ovis* - Ovinos
* patogênicas na fase rugosa
Distribuição mundial da B. abortus
Biotipo 1 - em todo o mundo
Biotipos 1, 2, 3 e 4 - América Latina
Biotipos 1, 2 e 4 - EE.UU.
Biotipo 5 - Inglaterra 
Biotipo 3 - África
CARACTERÍSTICAS
1. Microrganismos típicos
Gram -, aeróbios, imóveis, não esporulados, forma cocobacilares (cocos-bastonetes)
Colônias lisas e convexas
Crescimento na presença de CO2
Patogenia
Preferência
Fêmeas
Machos
Invasão inicial - linfonodos
Disseminação - tecidos linfóides, baço, linfonodos mamários e ilíacos
A via de entrada de importância prática no campo é a oral, já que a maioria dos bovinos adquirem a infecção comendo, lambendo ou bebendo materiais contaminados.
A via sexual, através da monta natural no bovino, não tem a importância epidemiológica que tem na brucelose suína. 
 PATOGENIA: 
 Mucosas do trato digestivo ( principalmente)
Fagocitadas pelos macrófagos 
Linfonodos regionais (multiplicação) 
Corrente sanguínea (dentro de macrófagos ou livres) 
Baço, Fígado, linfonodos (supra-mamários) 
 
Predileção por útero gravídico, tecidos mamários, e ósteo articulares, órgãos do sistema reprodutivo masculino.
Terço final da gestação – produção de eritritol aumenta - multiplicação da Brucella – necrose e/ou deposição de fibrina na região dos cotilédones placentários.
A vacinação das fêmeas bovinas entre 3 e 8 meses faz com que o organismo também forme IgM e IgG. Porém, as IgG originadas pela vacina, tendem a desaparecer cerca de 6 meses após a vacinação, o que reduz a possibilidade de confundir uma reação por vacinação de uma por infecção, quando utilizam-se as provas sorológicas apropriadas com fins diagnósticos e são aplicadas em fêmeas maiores de 24 meses de idade, que já foram vacinadas entre 3 e 8 meses de idade. 
BRUCELOSE CAPRINA
Patogenia:
Invasão inicial - linfonodos, úbere e útero Placentite/aborto no final da gestação
Infecção uterina - 5 meses
Infecção da glândula mamária - > anos
Epidemiologia:
- Europa, América Central, USA, África, América do Sul (Argentina, Perú)
- Suscetibilidade alta
- Infecção oral ou de mucosa
- Infecção latente em cabritos
 Definição - Doença infecto-contagiosa causada pela Brucella melitensis.
 Espécies suscetíveis:
	Homem, bovinos, caprinos, suínos.
BRUCELOSE SUÍNA
DEFINIÇÃO
A brucelose suína é uma doença infecto-contagiosa causada por Brucella suis que acomete principalmente os suínos e secundariamente outros animais incluindo o homem.
 ETIOLOGIA
- Brucella suis - biotipos 1 e 3 em suínos, biotipo 2 (suínos e lebres) e o 4 (rena e ruminantes selvagens)
- B. abortus e B. melitensis
 EPIDEMIOLOGIA
- Distribuição mundial, estando controlada em países desenvolvidos.
- Saúde pública.
- Idade do animal.
- Resistência ao ambiente
 PATOGENIA
Via de infecção oral ou venérea.
- Linfonodos, bacteremia, reticuloendoteliose difusa, disco intervertebral (espondilite) placenta, córion, vesícula seminal e testículos.
- Aborto no terceiro mês
 Fêmeas - infertilidade, estro irregular, aborto
Machos - orquite, com necrose de um ou dois testículos, esterilidade, paralisia do trem posterior
BRUCELOSE OVINA
Em ovinos a infecção por B. ovis causa uma doença conhecida como Epididimite dos Carneiros. A enfermidade foi descrita pela primeira vez na Nova Zelândia sendo posteriormente reconhecida em vários países como um problema na população de ovinos.
DEFINIÇÃO
Enfermidade causada pela Brucella ovis caracterizando-se pela infertilidade observada nos carneiros devido a uma epididimite.
ETIOLOGIA
Brucella ovis e B. melitensis
 EPIDEMIOLOGIA
 - Ovinos (naturalmente) - reprodutores
- Caprinos e cervos (experimentalmente)
- Placenta, secreções vaginais e leite
 PATOGENIA
Após a penetração ocorre uma bacteremia o MO instala-se no epidídimo (epididimite)
A principal forma de transmissão é a venérea passiva, onde machos sadios se infectam cobrindo ovelhas previamente cobertas por carneiros infectados.
A transmissão de carneiro para carneiro também pode ocorrer, quando os machos dominantes “cobrem” os dominados, ou através da lambedura do prepúcio. As fêmeas podem eliminar o agente pelas descargas vaginais ou pelo leite, mas, demonstram relativa resistência a infecção.
A bactéria na fêmea não persiste por longos períodos sendo seu papel menos importante como fonte de infecção quando comparada com o reprodutor que permanece infectado por toda a vida. 
Nem todos os animais infectados apresentam os sinais clínicos característicos e a enfermidade deve ser diferenciada de traumas ou de outros agentes infecciosos como Actinobacillus seminis, Histophilus ovis, Haemophilus spp., Corinebacterium pseudotuberculosis ovis, Chlamydophila abortus que também podem causar epididimite.
CARACTERIZAÇÃO DO AGENTE
A Brucella canis é um cocobacilo, gram-negativo, imóvel e de pequena dimensão
Os hospedeiros principais deste agente são principalmente os cães e canídeos selvagens.
Apenas 35 casos de brucelose em humanos devido à infecção por Brucella canis foram relatados, decorrentes de manipulações em cães infectados. 
A Brucelose constitui-se em doença infecciosa com característica de zoonose. Nos cães, o principal agente causal é a Brucella canis, mas eles podem também infectar-se por outras espécies do gênero Brucella .
BRUCELLA CANIS
O homem pode adquirir a Brucella canis (Carmichael, 1968) de forma semelhante as dos cães (Germano et al, 1987). Casos de infecção humana tem sido relatados em tratadores, proprietários, veterinários e laboratoristas.
O contato com secreções vaginais e outras secreções mucosas de animais contaminados, podem promover a contaminação com a Brucella canis através da penetração dos microrganismos em ferimentos na pele do homem ou por contato com mucosas como a conjuntival ou até via genital (Acha & Szyfres, 1986)
BRUCELOSE NO HOMEM

Continue navegando