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Modelos de Controle de Constitucionalidade

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MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
 
Prof.ª Renata Dayanne 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO
1
: 
 
 Não obstante a riqueza semântica que envolve as múltiplas transformações 
ocorridas, o conceito de Constituição parece preservar um núcleo permanente: a ideia de 
um princípio supremo que determina integralmente o ordenamento estatal e a essência 
da comunidade constituída por esse ordenamento. A Constituição, no sentido estrito do 
termo, é formada pelas regras que disciplinam a criação das normas essenciais do 
Estado, organizam os entes estatais e consagram o procedimento legislativo. Ao lado 
deste conceito material, convive o conceito formal de Constituição, como sendo o 
conjunto de regras promulgadas com a observância de um procedimento especial e que 
está submetido a uma forma especial de revisão. 
 
 Todavia, não se há de confundir a Constituição com uma regulamentação precisa 
e completa. E é exatamente, essa característica que empresta à Constituição a 
flexibilidade necessária ao contínuo desenvolvimento e permite que o seu conteúdo 
subsista aberto dentro do tempo. 
 
 A Constituição escrita desempenha relevante papel como instrumento de 
estabilidade, de racionalização do poder e de garantia da liberdade. Ela contém uma 
perspectiva de legitimidade material e de abertura constitucional, possibilidade 
compatibilizar o controle de constitucionalidade com a dinâmica do processo político-
social. 
 
 JORGE MIRANDA assenta que esses ambos designam conceitos de relação, 
isto é, a relação que se estabelece entre uma coisa (a Constituição) e outra coisa 
(Comportamento) que lhe está ou não conforme. Cuida-se de uma relação de caráter 
normativo e valorativo. 
 
 É essa relação de índole normativa que qualifica a inconstitucionalidade, pois 
somente assim logra-se afirmar a obrigatoriedade do texto. Foi RUI BARBOSA entre 
nós, quem primeiro detectou que a sanção à violação ao texto constitucional integra o 
próprio conceito de inconstitucionalidade. 
 
 A disciplina emprestada aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade pelo 
constituinte austríaco e os desenvolvimentos posteriores do tema no direito 
constitucional de diversos países parecem recomendar a relativização dessa concepção 
unitária de inconstitucionalidade. 
 
 Assenta KELSEN que uma Constituição que não dispõe de garantia para 
anulação de atos inconstitucionais não é, propriamente, obrigatória. Diz ele que uma 
Constituição que não institui uma Corte Constitucional ou órgão análogo para anulação 
de atos inconstitucionais, não se afigura de todos desprovida de sentido jurídico. A sua 
 
1 Toda a introdução fora retirada de trechos do Manual de Direito Constitucional do Ministro Gilmar Ferreira Mendes 
 2 
violação pode dar ensejo a sanções onde existe pelo menos o instituto da 
responsabilidade ministerial contra os órgãos que participaram da formação do ato, 
desde que admita sua culpa. KELSEN não se limita a reconhecer a sanção como 
elemento integrativo do conceito de inconstitucionalidade. Considera indispensável, 
igualmente, a existência de sanção qualificada, isto é, do procedimento de anulação do 
ato inconstitucional por órgão competente. 
 
 Os conceitos de constitucionalidade e inconstitucionalidade abrangem apenas os 
atos e omissões do Poderes Públicos. 
 
2. JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL: 
 
O termo jurisdição constitucional tem sofrido alterações com o tempo, de 
maneira que sua extensão tem aumentado cada vez mais, tornando sempre impreciso 
qualquer definição que seja feita sobre o tema. A priori, cumpre destacar que a 
existência da Jurisdição Constitucional prescinde de um país dotado de Constituição e 
com mecanismos que visem sua proteção. 
 
A função jurisdicional é uma das três funções exercidas pelo Estado no uso de 
seu Poder Político, enquanto instância controladora da sociedade. Por isso, antes de 
adentrar ao tema propriamente dito, façamos alguns esclarecimentos epistemológicos, 
começando com a definição desta função do Estado na qual se insere o controle de 
constitucionalidade, qual seja, a Jurisdição. 
 
No dizer do Professor Ivo Dantas “a Função Jurisdicional é aquela que, quando 
provocada a fim de manter ou restebalecer a ordem jurídica violada ou ameaçada, tem o 
dever, a que corresponde por outro lado o direito de quem a provoca, reconhecido e 
consagrado pela Constituição, de prestar a tutela jurisdicional, declarando ou realizando 
o direito, ou seja, ao lado de quem a lei se encontra, fazendo-a cumprir, se necessário, 
coercitivamente.” 
 
 Assim, a atividade jurisdicional é função do Estado por meio da qual ele visa 
garantir a pacificação social dos ou conflitos ou a segurança jurídica de suas instituições 
e institutos. Dentro dessa atividade, encontramos uma parte específica dela que diz 
respeito à Constituição que é chamada de Jurisdição Constitucional. 
 
Para André Ramos de Tavares, a Jurisdição Constitucional é “parcela de 
atividade pela qual se realiza jurisdicionalmente, vale dizer, consoante um método 
jurídico processual, a proteção da Constituição em todas as suas dimensões.” Para ele, 
esse tipo de atividade visa a atuação da Constituição, seguindo um rito processual, “a 
Jurisdição Constitucional traduz-se em toda e qualquer aplicação das normas 
constitucionais na solução dos litígios judiciais.” 
 
Em sentido parecido, se tem a definição de Baracho: “a Jurisdição 
Constitucional é compreendida como a parte da administração da justiça que tem como 
objeto específico matéria jurídico-constitucional de um determinado Estado. 
 
Em seu princípio, a Jurisdição Constitucional foi entendida como instância 
controladora das leis ordinárias, uma vez que estas deveriam estar em conformidade 
com a Constituição. Isso nada mais é do que o chamado controle de constitucionalidade 
 3 
das leis frente à Lei Maior. Resumir a Jurisdição Constitucional apenas a este aspecto é 
um erro recorrente, por sua vez, e como fora dito anteriormente, essa forma de atividade 
jurisdicional foi mudando com o tempo se adequando aos anseios sociais e ao próprio 
desenvolvimento no constitucionalismo no mundo. 
 
Hoje este termo tem uma acepção bastante ampla, e pode ser grosseiramente 
resumido à defesa da Constituição sob todos os seus aspectos. Na tentativa de 
esquematizar o assunto, Walber de Moura Agra enumera as seguintes atividades como 
compreendidas na Jurisdição Constitucional: proteção e garantia de concretização dos 
direitos fundamentais; controle e fiscalização do sistema eleitoral, englobando os 
institutos da democracia participativa, como o plebiscito e o referendo, com o escopo de 
velar pela lisura das eleições; funcionamento como instância judiciária, para assegurar o 
equilíbrio federativo, solucionando os litígios entre os entes componentes do Estado; 
demarcação dos limites de incidência das competências dos entes federativos; controle 
dos poderes públicos para que possam atuar com eficiência e atender ao bem comum da 
sociedade; por fim, a atividade que de fato interessa ao conteúdo do trabalho, o controle 
de constitucionalidade das normas e atos normativos. 
 
Partindo de um conceito mais procedimental, menos analítico, o Prof. Ivo 
Dantas sintetiza a Jurisdição Constitucional a partir de uma perspectiva orgâniza, assim 
entendida como o conjunto de órgãos que, integrando ou não, a Jurisdição como Poder 
do Estado, têm competência para conhecer e julgar as ação de controle da 
constitucionalidade e os remédios constitucionais. 
 
 Partindo desta concepção, o Prof. Ivo Dantas sistematiza uma diferença que 
comporta toda a ideiado que viria ser jurisdição constitucional a partir de uma distinção 
entre direito constitucional processual e direito processual constitucional. Eis a 
definição: 
 
a) Direito Constitucional Processual: volta-se para o estudo das garantias 
principiológicas do processo e do procedimento, ou seja, à análise do Due 
process of law (devido processo legal). 
 
b) Direito Processual Constitucional: traz consigo dois objetos: 
> preocupa-se com a denominada Jurisdição Constitucional ou 
Tribunal Constitucional (composição, mandato, formas de indicação, etc) 
e com a as ações que visam a integridade e defesa da própria 
Constituição (seja em controle concentrado, seja em difuso) 
> consagração de ações tipicamente constitucionais e que dizem 
respeito à Jurisdição Constitucional das liberdades, denominadas 
remédios constitucionais. 
 
 Desta forma, o controle de constitucionalidade se apresenta como um dos pontos 
da chamada jurisdição constitucional, como aquela parte da atividade jurisdicional que 
visa garantir a superioridade da Constituição. 
 
 
 
 
 
 4 
3. PRESSUPOSTOS DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: 
 
 A doutrina diverge a respeito destes pressupostos, mas nos parece incontestável 
a ideia de que o substrato teórico deste tipo de exercício de poder está na supremacia e 
supralegalidade que detém a Constituição dentro de um ordenamento jurídico. 
 
 A Supremacia é qualidade da Constituição que lhe garantia um superioridade 
valorativa, por ser ela o documento que contém as chamadas decisões políticas 
fundamentais de uma sociedade. 
 
 A supralegalidade é a qualidade que põe a Constituição em grau superior às 
demais leis de uma país, partindo do ponto de vista da validade das leis. 
 
 
4. CONCEITO DECONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: 
 
 O controle de constitucionalidade é parte da atividade jurisdicional de um país 
que se dedica à solução de conflitos entre normas infraconstitucionais e/ou conformação 
da legislação infraconstitucional aos preceitos constitucionais, garantindo assim a 
supremacia e supralegalidade da principal decisão de uma sociedade. 
 
5. MARCO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO CONTROLE DE 
CONSTITUCIONALIDADE – OS ESTADOS UNIDOS E O CASO MARBURY 
Vs MADISON: 
 
O caso mais emblemático da história da Suprema Corte americana partiu de uma 
decisão cujo objeto era, especialmente, político. O partido federalista, então no governo, 
havia sido derrotado pelo partido republicano em 1800, tanto na chefia do Poder 
Executivo, quanto na representação no Congresso Nacional. O presidente federalista 
derrotado John Adams, enxergou no judiciário e no poder que os juízes tinham, a 
possibilidade de uma certa perpetuação dos ideais federalista mesmo após sua saída e da 
ascensão congressista dos republicanos. 
 
Com essa motivação John Adams enviou ao Congresso um projeto de lei que 
resultou no Judiciary Act of 1801, tendo sido aprovado pelo Congresso no final de seu 
mandato. No conteúdo desta lei estava a criação de um elevado número de cargos de 
juízes federais e, também, a criação da Corte da Colúmbia que seria compostas de juízes 
de paz. A intenção era distribuir tais cargos a pessoas do partido federalista. 
 
 Acontece que, vários dos juízes nomeados por John Adams não conseguiram 
tomar posse em tempo por questões burocráticas, dentre eles estava William Marbury 
que assumiria o cargo de Juiz de Paz do distrito da Colúmbia. Quando Thomas 
Jefferson chega a chefia do Poder Executivo, como um de seus primeiros atos, 
determinou que seu secretário de Estado, James Madison, suspendesse a posse de todos 
os juízes que restavam ainda sem titulação de juiz, incluindo William Marbury. Este 
veio a acionar primeiro o secretário de Estado, exigindo-lhe informações que, não tendo 
lhe sido prestadas, o motivou a procurar a Suprema Corte para conseguir sua nomeação. 
 
 Assim, William Marbury impetrou com o writ of mandamus contra James 
Madison diante da Suprema Corte daquele país. A relatoria deste processo ficou a cargo 
 5 
do Chief of Justice John Marshal que, pela efervescência do momento de transição 
política, acabou por adiar sua decisão por dois anos, declarando apenas em 1803. Vale 
destacar que o juiz John Marshall havia sido secretário de Estado de John Adams, tendo 
sido nomeado por este ao cargo de Chief of Justice, ou seja, Chefe do Poder Judiciário 
dos Estados Unidos. 
 Em sua decisão, o juiz John Marshall estabeleceu duas premissas: primeiro a de 
que Thomas Jefferson não podia negar posse a William Marbury, contudo destacou que 
a Suprema Corte não poderia conceder o writ of mandamus, pois tal competência era 
inconstitucional. Isso porque, o fundamento da pretensa competência da Suprema Corte 
para esse caso estava no Judiciary Act de 1789, ato que ampliou a competência daquela 
corte para processar e julgar ações em que figurassem autoridades do Governo norte-
americano no pólo passivo da demanda. 
 
John Marshall entendeu que aquele ato que ampliara, consideravelmente, a 
competência da Suprema Corte era inconstitucional, pois dilatava as competências 
constitucionais que originariamente haviam sido designadas àquela corte. Entendeu ele 
que o tribunal não poderia se utilizar de uma competência que, muito embora tenha sido 
concedida pelo parlamento, era incompatível com a Constituição. Segundo Oscar 
Vilhena Vieria, palavras do juiz John Marshal: 
 
Os poderes do legislador são definidos e limitados; e para que esses limites 
não sejam confundidos ou esquecidos, a Constituição é escrita. Para que 
propósito os poderes são limitados e para que propósito esta limitação é 
firmada por escrito, se estes limites podem a qualquer momento, ser 
desprezados por aqueles que por eles deveriam estar limitados? Trata-se de 
uma proposição muito simples para ser contestada: ou a Constituição deve 
controlar qualquer ato do legislativo a ela repugnante; ou o legislativo pode 
alterar a Constituição por qualquer ato ordinário. ( 2002, p. 65) 
 
 Com esse raciocínio John Marshall desenvolveu a ideia explícita de 
supralegalidade da Constituição e o mecanismo de sua defesa mais eficaz. Porém, pode-
se notar desde a matéria que ele decidiu, até mesmo com a postergação da decisão todo 
o envelope político que envolveu a causa. Ao declarar que Thomas Jefferson não podia 
negar a posse a Willian Marbury ele felicitou os federalistas, mas quando disse que não 
poderia conceder o writ of mandamus porque tal competência seria inconstitucional, ele 
acenava para os Republicanos e, por fim, acentuava a unidade do país. 
 
 A verdade é que, já sob a égide da era das Constituições escritas, pela primeira 
vez um juiz impunha ao legislador ordinário a vontade da Constituição. Com isso, 
estava assentada uma nova forma de ver a democracia e o dogma da soberania popular. 
“A base sobre a qual se ergueu toda a estrutura americana é ter o povo o direito original 
de estabelecer, para o futuro governo, princípios tais que, a seu ver, conduzam à sua 
própria felicidade.” (PADOVER, 1964, p. 90) 
 
6. MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: 
 
 Basicamente três tipos de modelos de controle de constitucionalidade se 
apresentaram ao mundo: o norte-americano, o austríaco e o francês. 
 
a) O modelo norte-americano: conhecido também como modelo difuso 
de controle de constitucionalidade. Surgiu a partir do caso 
supracitado, Marbury Vs Madison e tem por característica a poder-
 6 
dever que qualquer órgão judicial incumbido de aplicar a lei a um 
caso concreto tem de afastar a sua aplicação se a considerar 
incompatível com a ordem constitucional. Desta forma, a última 
palavra não deixade ser da Suprema Corte, contudo, qualquer órgão 
tem o poder de exercer tal controle, chegando à Corte através da via 
recursal, sendo que os filtros para que se chegue a Suprema Corte são 
bem rigorosos. Não há ação específica para o denominado controle, 
ele é exercido de maneira incidental e concreta no curso de um 
processo judicial comum. Sua decisão tem caráter declaratório, pois 
os Estados Unidos adota a teoria da nulidade onde a lei declarada 
inconstitucional é tida desta forma desde de sua origem, resultando 
em uma decisão com efeitos ex tunc. 
 
b) O modelo austríaco: conhecido também como controle concentrado. 
Imaginado e desenhado por Hans Kelsen para a Constituição austríaca 
de 1920. Ele imagina que a Constituição é instrumento tão 
fundamental e de caráter obrigatório que deve ter uma instância 
específica para fazer valer seus preceitos. Assim, ele imagina o 
chamado Tribunal Constitucional que é um órgão independente, 
situado fora da formação tripartida dos poderes e que têm por 
finalidade assegurar a supralegalidade da Constituição enquanto 
instância última de validade para qualquer ato do Poder Público. Esse 
tribunal exerce essa função de maneira abstrata e de maneira 
concentrada e exclusiva. Pela adoção da teoria da anulabilidade, a 
decisão deste tribunal tem efeitos constitutivo e caráter ex nunc, ou 
seja, a partir da decisão a norma se torna inconstitucional, podendo 
inclusive o tribunal decidir que sua decisão possa ter efeitos 
prospectivos até o limite de um ano, para que se resguarde certos 
inconvenientes que poderiam ocorrer caso a decisão viesse a produzir 
efeitos de pronto. 
 
c) O modelo francês: a França com sua convicção da soberania do 
parlamento e da impossibilidade de se conceder a juízes não eleitos o 
poder de anular atos de representantes populares, demorou um pouco 
mais para adotar qualquer forma de controle de constitucionalidade. 
Assim, apenas em 1958 foi criado do Conselho Constitucional órgão 
vinculado ao parlamento francês e que tem por finalidade realizar um 
controle prévio da Constitucionalidade, antes mesmo que a aquele 
projeto venha a se tornar lei propriamente dita. É o chamado controle 
político, porque exercido por um órgão de natureza política. O 
controle de constitucionalidade das leis é exercido da seguinte forma: 
um texto legislativo ou um tratado internacional já elaborado, mas 
ainda não promulgado, pode ser enviado ao Conselho pelo Presidente 
da República, Primeiro Ministro ou Presidente de uma ou outra 
câmara do Parlamento, para que se avalie a constitucionalidade ou 
não da pretensa lei ou tratado. Para algumas leis, ditas orgânicas 
(concernente à organização dos poderes públicos) o pronunciamento 
do Conselho será sempre obrigatório. As decisões desse conselho são 
sempre irrecorríveis e uma disposição declarada inconstitucional por 
ele não pode ser promulgada ou aplicada. Assim como propagou Hans 
 7 
Kelsen quando criou o Tribunal Constitucional, os membros do 
Conselho Constitucional exercem mandato pelo período de nove anos, 
sendo sua composição efetuada por indicação de três nomes pelo 
Presidente da República, três pelo Presidente da Assembléia e três 
pelo Presidente do Senado e, além deles, também é dado o direito aos 
ex-presidentes tomarem assento no Conselho. 
Em recente reforma e vigorando desde março de 2010, o 
sistema francês começa a admitir a possibilidade de controle posterior 
e incidental de constitucionalidade. A chamada Questão Prioritária de 
Constitucionalidade garante a qualquer pessoa que seja parte em um 
processo, em qualquer instância, administrativa ou judiciária, o direito 
de questionar um dispositivo legal sob o argumento de que ele atenta 
contra os direitos e liberdades garantidos na Constituição. Uma vez 
suscitada a questão, ela é remetida à Corte de Cassação ou ao 
Conselho de Estado que fará uma prévio juízo de admissibilidade e, 
admitindo, a remeterá para o Conselho Constitucional que poderá 
revogar a disposição. Seus requisitos são: a) suscitação por uma das 
partes no curso de um recurso de apelo; b) dúvida manifesta sobre a 
constitucionalidade da norma aplicável; c) não haver manifestação 
anterior do Conselho no sentido da constitucionalidade da norma, 
salvo mudanças das circunstâncias. 
 
 2.1. O Controle de Constitucionalidade no Reino Unido: 
 
Uma inovação recente veio a corroborar com o fortalecimento do controle de 
constitucionalidade. Deu-se no Reino Unido, com criação da Suprema Corte em 1º de 
outubro de 2009. A Constituição inglesa sempre foi apontada pela doutrina, quanto à 
sua estabilidade, como um documento sem rigidez constitucional, pois flexível e, por 
isso, sem caráter de supralegalidade. Acontece que em 1998 a casa dos comuns aprovou 
o Human Rights Act, incorporando à legislação do Reino Unido as principais normas da 
Convenção Europeia de Direitos Humanos de 1950,2 compondo a Constituição daquele 
país. 
O dispositivo deste ato que cria um verdadeiro paradigma não apenas para o 
direito inglês, como para o estudo do direito constitucional, é o inscrito no item 1 da 
seção 3 do mesmo, que possibilita que toda a legislação do Estado seja revista e 
aplicada em compatibilidade com o Human Rights Act.3 Com isso, se consagrou a 
supralegalidade da matéria constitucional que fora complementada com a previsão, na 
reforma constitucional de 2005, da Suprema Corte do Reino Unido, estabelecendo a 
definitiva separação e independência do Poder Judiciário do Poder Legislativo, uma vez 
que aquele era, na prática, exercido pelo Comitê de Apelação que compunha o Poder 
Legislativo daquele país.4 
Segundo explanou o professor britânico Jeffrey Jowell, em palestra proferida no 
Supremo Tribunal Federal em 2010, cabe a Suprema Corte analisar a compatibilidade 
ou não das normas com a Constituição, mas apenas o governo tem a competência de 
 
2
 VARGAS, Denise. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 184. 
3
 Assim dispõe: “So far as it is possible to do so, primary legislation and subordinate legislation must be 
read and given effect in a way which is compatible with the Convention rights.” (REINO UNIDO, 1998). 
4
 Nesse sentido é a manifestação do Lord Mance integrante da primeira composição da Suprema Corte 
que ao ser instaurada, aproveitou os Lords que compunham o Comitê de Apelação da Casa dos Lords. 
(MANCE, 2009). 
 8 
decidir se ela deve ou não ser retirada do sistema, esclarecendo que até então, não houve 
caso em que o governo não tenha seguido a orientação do tribunal 
 
 
 
7. TIPOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: 
 
 7.1. Quanto à espécie de inconstitucionalidade: 
 
 a) Inconstitucionalidade Formal: quando os vícios formais afetam o ato 
normativo singularmente considerado, sem atingir seu conteúdo, referindo-se aos 
pressupostos e procedimentos relativos à formação da lei. Os vícios formais traduzem 
defeito de inobservância de um princípio de ordem técnica ou procedimental ou pela 
violação de regras de competência. 
 
 b) Inconstitucionalidade material: dizem respeito ao próprio conteúdo 
ou ao aspecto substantivo do ato, originando-se de um conflito com regras ou princípios 
estabelecidos na Constituição. Envolve também a aferição do desvio de poder ou do 
excesso de poder legislativo. 
 
 c) Inconstitucionalidade por ação: é aquela que resulta da 
incompatibilidade de um ato normativo com a Constituição. 
 
 d) Inconstitucionalidade por omissão: dá-se quando a Constituição 
necessitada de uma regulação e ela não ocorre ou ocorre de maneira deficiente. Em 
1911KELSEN achava inadmissível a configuração de um dever do Estado de editar 
normas. Sob o império da Constituição de Weimar negava-se a possibilidade de se 
formular qualquer pretensão contra o legislador. 
 
 Há dois tipos de omissão: 
 
 - Omissão absoluta ou total: quando o legislador não empreende 
a providência legislativa reclamada. 
 
 - Omissão parcial: ocorre quando um ato normativo atende apenas 
parcialmente ou de modo insuficiente a vontade constitucional. Caso clássico é a 
chamada exclusão de benefício incompatível com o princípio da igualdade que 
pode se verificar de forma concludente (a lei oferece benefícios apenas a 
determinado grupo) ou de maneira explícita (a lei outorga benefícios e exclui de 
seu aproveitamento determinadas pessoas). 
 A relatividade do postulado da igualdade leva, a uma 
inconstitucionalidade relativa, isso porque não se afigura a inconstitucionalidade 
da norma ‘A’ ou ‘B’, mas a disciplina diferenciada das situações. Provoca 
situação que dificilmente será resolvida com o caso da declaração de nulidade. 
 
 7.2. Quanto ao parâmetro do controle: 
 
a) Toda a Constituição formal; 
b) Apenas alguns dispositivos da Constituição; 
 9 
c) Ou o chamado bloco de constitucionalidade que compreende normas 
que estão contidas no texto constitucional ou, até mesmo, fora dele, 
mas que tenham conteúdo constitucional. 
 
7.3. Quanto ao objeto do controle: 
 
a) Atos normativos; 
b) Atos do poder público de caráter concreto. 
 
7.4. Quanto ao momento da realização do controle: 
 
a) Controle prévio: exercido antes da promulgação da lei; 
b) Controle sucessivo ou repressivo: exercido após a promulgação da 
lei. 
 
7.5. Quanto a natureza do órgão de controle: 
 
a) Controle político: exercido por um órgão de natureza política; 
b) Controle jurisdicional: exercido por um órgão que exerce a função 
jurisdicional, seja integrante do Poder Judiciário ou não. 
 
7.6. Quanto ao número de órgãos que exercem o controle de 
constitucionalidade: 
 
a) Controle difuso: aquele que é exercido por todos os órgãos que 
exercem jurisdição; 
b) Controle concentrado: é o controle exercido por um único órgão, com 
caráter exclusivo. 
 
7.7. Quanto ao modo de manifestação do controle: 
 
a) Por via incidental (ou de exceção): aquele que é exercido em caráter 
prejudicial no curso de uma demanda em que se discute outro 
assunto. Não é o controle de constitucionalidade o objeto da 
demanda, mas sim, mero incidente que ocorre no curso do processo. 
Ele é sempre concreto, constituindo a causa de pedir da ação; 
b) Por via de ação (ou principal): quando o controle de 
constitucionalidade é o objeto principal da ação, não é ele a causa de 
pedir da ação, mas sim, o próprio pedido. Ele é, em regra, de caráter 
abstrato. 
c) Controle abstrato (ou em tese): ocorre quando não há um litígio de 
fato, mas a mera averiguação, em abstrato, da conformidade de um 
ato com a Constituição; 
d) Controle concreto: vincula-se a um caso concreto, onde a questão 
sobre a constitucionalidade aparece como fundamento de um pedido 
ou da defesa. 
 
 
 
 
 10 
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BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: 
 
 
BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Processo Constitucional. Rio de Janeiro: 
Forense, 1984. 
 
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar 
Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 4ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2009. 
 
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Juspodivm, 
2008. 
 
DANTAS, Ivo. Constituição e Processo. 2ª Edição. Curitiba: Juruá, 2008. 
 
_______. O valor da constituição. Edição histórica. 3ª Edição. Curitiba: 2010. 
 
TAVARES, André Ramos de. Teoria da Justiça Constitucional. São Paulo: Saraiva, 
2005. 
 
_______. Tribunal e Jurisdição Constitucional. São Paulo: Celso Bastos editor, 1998, p. 
107.

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