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1 MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Prof.ª Renata Dayanne 1. INTRODUÇÃO 1 : Não obstante a riqueza semântica que envolve as múltiplas transformações ocorridas, o conceito de Constituição parece preservar um núcleo permanente: a ideia de um princípio supremo que determina integralmente o ordenamento estatal e a essência da comunidade constituída por esse ordenamento. A Constituição, no sentido estrito do termo, é formada pelas regras que disciplinam a criação das normas essenciais do Estado, organizam os entes estatais e consagram o procedimento legislativo. Ao lado deste conceito material, convive o conceito formal de Constituição, como sendo o conjunto de regras promulgadas com a observância de um procedimento especial e que está submetido a uma forma especial de revisão. Todavia, não se há de confundir a Constituição com uma regulamentação precisa e completa. E é exatamente, essa característica que empresta à Constituição a flexibilidade necessária ao contínuo desenvolvimento e permite que o seu conteúdo subsista aberto dentro do tempo. A Constituição escrita desempenha relevante papel como instrumento de estabilidade, de racionalização do poder e de garantia da liberdade. Ela contém uma perspectiva de legitimidade material e de abertura constitucional, possibilidade compatibilizar o controle de constitucionalidade com a dinâmica do processo político- social. JORGE MIRANDA assenta que esses ambos designam conceitos de relação, isto é, a relação que se estabelece entre uma coisa (a Constituição) e outra coisa (Comportamento) que lhe está ou não conforme. Cuida-se de uma relação de caráter normativo e valorativo. É essa relação de índole normativa que qualifica a inconstitucionalidade, pois somente assim logra-se afirmar a obrigatoriedade do texto. Foi RUI BARBOSA entre nós, quem primeiro detectou que a sanção à violação ao texto constitucional integra o próprio conceito de inconstitucionalidade. A disciplina emprestada aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade pelo constituinte austríaco e os desenvolvimentos posteriores do tema no direito constitucional de diversos países parecem recomendar a relativização dessa concepção unitária de inconstitucionalidade. Assenta KELSEN que uma Constituição que não dispõe de garantia para anulação de atos inconstitucionais não é, propriamente, obrigatória. Diz ele que uma Constituição que não institui uma Corte Constitucional ou órgão análogo para anulação de atos inconstitucionais, não se afigura de todos desprovida de sentido jurídico. A sua 1 Toda a introdução fora retirada de trechos do Manual de Direito Constitucional do Ministro Gilmar Ferreira Mendes 2 violação pode dar ensejo a sanções onde existe pelo menos o instituto da responsabilidade ministerial contra os órgãos que participaram da formação do ato, desde que admita sua culpa. KELSEN não se limita a reconhecer a sanção como elemento integrativo do conceito de inconstitucionalidade. Considera indispensável, igualmente, a existência de sanção qualificada, isto é, do procedimento de anulação do ato inconstitucional por órgão competente. Os conceitos de constitucionalidade e inconstitucionalidade abrangem apenas os atos e omissões do Poderes Públicos. 2. JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL: O termo jurisdição constitucional tem sofrido alterações com o tempo, de maneira que sua extensão tem aumentado cada vez mais, tornando sempre impreciso qualquer definição que seja feita sobre o tema. A priori, cumpre destacar que a existência da Jurisdição Constitucional prescinde de um país dotado de Constituição e com mecanismos que visem sua proteção. A função jurisdicional é uma das três funções exercidas pelo Estado no uso de seu Poder Político, enquanto instância controladora da sociedade. Por isso, antes de adentrar ao tema propriamente dito, façamos alguns esclarecimentos epistemológicos, começando com a definição desta função do Estado na qual se insere o controle de constitucionalidade, qual seja, a Jurisdição. No dizer do Professor Ivo Dantas “a Função Jurisdicional é aquela que, quando provocada a fim de manter ou restebalecer a ordem jurídica violada ou ameaçada, tem o dever, a que corresponde por outro lado o direito de quem a provoca, reconhecido e consagrado pela Constituição, de prestar a tutela jurisdicional, declarando ou realizando o direito, ou seja, ao lado de quem a lei se encontra, fazendo-a cumprir, se necessário, coercitivamente.” Assim, a atividade jurisdicional é função do Estado por meio da qual ele visa garantir a pacificação social dos ou conflitos ou a segurança jurídica de suas instituições e institutos. Dentro dessa atividade, encontramos uma parte específica dela que diz respeito à Constituição que é chamada de Jurisdição Constitucional. Para André Ramos de Tavares, a Jurisdição Constitucional é “parcela de atividade pela qual se realiza jurisdicionalmente, vale dizer, consoante um método jurídico processual, a proteção da Constituição em todas as suas dimensões.” Para ele, esse tipo de atividade visa a atuação da Constituição, seguindo um rito processual, “a Jurisdição Constitucional traduz-se em toda e qualquer aplicação das normas constitucionais na solução dos litígios judiciais.” Em sentido parecido, se tem a definição de Baracho: “a Jurisdição Constitucional é compreendida como a parte da administração da justiça que tem como objeto específico matéria jurídico-constitucional de um determinado Estado. Em seu princípio, a Jurisdição Constitucional foi entendida como instância controladora das leis ordinárias, uma vez que estas deveriam estar em conformidade com a Constituição. Isso nada mais é do que o chamado controle de constitucionalidade 3 das leis frente à Lei Maior. Resumir a Jurisdição Constitucional apenas a este aspecto é um erro recorrente, por sua vez, e como fora dito anteriormente, essa forma de atividade jurisdicional foi mudando com o tempo se adequando aos anseios sociais e ao próprio desenvolvimento no constitucionalismo no mundo. Hoje este termo tem uma acepção bastante ampla, e pode ser grosseiramente resumido à defesa da Constituição sob todos os seus aspectos. Na tentativa de esquematizar o assunto, Walber de Moura Agra enumera as seguintes atividades como compreendidas na Jurisdição Constitucional: proteção e garantia de concretização dos direitos fundamentais; controle e fiscalização do sistema eleitoral, englobando os institutos da democracia participativa, como o plebiscito e o referendo, com o escopo de velar pela lisura das eleições; funcionamento como instância judiciária, para assegurar o equilíbrio federativo, solucionando os litígios entre os entes componentes do Estado; demarcação dos limites de incidência das competências dos entes federativos; controle dos poderes públicos para que possam atuar com eficiência e atender ao bem comum da sociedade; por fim, a atividade que de fato interessa ao conteúdo do trabalho, o controle de constitucionalidade das normas e atos normativos. Partindo de um conceito mais procedimental, menos analítico, o Prof. Ivo Dantas sintetiza a Jurisdição Constitucional a partir de uma perspectiva orgâniza, assim entendida como o conjunto de órgãos que, integrando ou não, a Jurisdição como Poder do Estado, têm competência para conhecer e julgar as ação de controle da constitucionalidade e os remédios constitucionais. Partindo desta concepção, o Prof. Ivo Dantas sistematiza uma diferença que comporta toda a ideiado que viria ser jurisdição constitucional a partir de uma distinção entre direito constitucional processual e direito processual constitucional. Eis a definição: a) Direito Constitucional Processual: volta-se para o estudo das garantias principiológicas do processo e do procedimento, ou seja, à análise do Due process of law (devido processo legal). b) Direito Processual Constitucional: traz consigo dois objetos: > preocupa-se com a denominada Jurisdição Constitucional ou Tribunal Constitucional (composição, mandato, formas de indicação, etc) e com a as ações que visam a integridade e defesa da própria Constituição (seja em controle concentrado, seja em difuso) > consagração de ações tipicamente constitucionais e que dizem respeito à Jurisdição Constitucional das liberdades, denominadas remédios constitucionais. Desta forma, o controle de constitucionalidade se apresenta como um dos pontos da chamada jurisdição constitucional, como aquela parte da atividade jurisdicional que visa garantir a superioridade da Constituição. 4 3. PRESSUPOSTOS DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: A doutrina diverge a respeito destes pressupostos, mas nos parece incontestável a ideia de que o substrato teórico deste tipo de exercício de poder está na supremacia e supralegalidade que detém a Constituição dentro de um ordenamento jurídico. A Supremacia é qualidade da Constituição que lhe garantia um superioridade valorativa, por ser ela o documento que contém as chamadas decisões políticas fundamentais de uma sociedade. A supralegalidade é a qualidade que põe a Constituição em grau superior às demais leis de uma país, partindo do ponto de vista da validade das leis. 4. CONCEITO DECONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: O controle de constitucionalidade é parte da atividade jurisdicional de um país que se dedica à solução de conflitos entre normas infraconstitucionais e/ou conformação da legislação infraconstitucional aos preceitos constitucionais, garantindo assim a supremacia e supralegalidade da principal decisão de uma sociedade. 5. MARCO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – OS ESTADOS UNIDOS E O CASO MARBURY Vs MADISON: O caso mais emblemático da história da Suprema Corte americana partiu de uma decisão cujo objeto era, especialmente, político. O partido federalista, então no governo, havia sido derrotado pelo partido republicano em 1800, tanto na chefia do Poder Executivo, quanto na representação no Congresso Nacional. O presidente federalista derrotado John Adams, enxergou no judiciário e no poder que os juízes tinham, a possibilidade de uma certa perpetuação dos ideais federalista mesmo após sua saída e da ascensão congressista dos republicanos. Com essa motivação John Adams enviou ao Congresso um projeto de lei que resultou no Judiciary Act of 1801, tendo sido aprovado pelo Congresso no final de seu mandato. No conteúdo desta lei estava a criação de um elevado número de cargos de juízes federais e, também, a criação da Corte da Colúmbia que seria compostas de juízes de paz. A intenção era distribuir tais cargos a pessoas do partido federalista. Acontece que, vários dos juízes nomeados por John Adams não conseguiram tomar posse em tempo por questões burocráticas, dentre eles estava William Marbury que assumiria o cargo de Juiz de Paz do distrito da Colúmbia. Quando Thomas Jefferson chega a chefia do Poder Executivo, como um de seus primeiros atos, determinou que seu secretário de Estado, James Madison, suspendesse a posse de todos os juízes que restavam ainda sem titulação de juiz, incluindo William Marbury. Este veio a acionar primeiro o secretário de Estado, exigindo-lhe informações que, não tendo lhe sido prestadas, o motivou a procurar a Suprema Corte para conseguir sua nomeação. Assim, William Marbury impetrou com o writ of mandamus contra James Madison diante da Suprema Corte daquele país. A relatoria deste processo ficou a cargo 5 do Chief of Justice John Marshal que, pela efervescência do momento de transição política, acabou por adiar sua decisão por dois anos, declarando apenas em 1803. Vale destacar que o juiz John Marshall havia sido secretário de Estado de John Adams, tendo sido nomeado por este ao cargo de Chief of Justice, ou seja, Chefe do Poder Judiciário dos Estados Unidos. Em sua decisão, o juiz John Marshall estabeleceu duas premissas: primeiro a de que Thomas Jefferson não podia negar posse a William Marbury, contudo destacou que a Suprema Corte não poderia conceder o writ of mandamus, pois tal competência era inconstitucional. Isso porque, o fundamento da pretensa competência da Suprema Corte para esse caso estava no Judiciary Act de 1789, ato que ampliou a competência daquela corte para processar e julgar ações em que figurassem autoridades do Governo norte- americano no pólo passivo da demanda. John Marshall entendeu que aquele ato que ampliara, consideravelmente, a competência da Suprema Corte era inconstitucional, pois dilatava as competências constitucionais que originariamente haviam sido designadas àquela corte. Entendeu ele que o tribunal não poderia se utilizar de uma competência que, muito embora tenha sido concedida pelo parlamento, era incompatível com a Constituição. Segundo Oscar Vilhena Vieria, palavras do juiz John Marshal: Os poderes do legislador são definidos e limitados; e para que esses limites não sejam confundidos ou esquecidos, a Constituição é escrita. Para que propósito os poderes são limitados e para que propósito esta limitação é firmada por escrito, se estes limites podem a qualquer momento, ser desprezados por aqueles que por eles deveriam estar limitados? Trata-se de uma proposição muito simples para ser contestada: ou a Constituição deve controlar qualquer ato do legislativo a ela repugnante; ou o legislativo pode alterar a Constituição por qualquer ato ordinário. ( 2002, p. 65) Com esse raciocínio John Marshall desenvolveu a ideia explícita de supralegalidade da Constituição e o mecanismo de sua defesa mais eficaz. Porém, pode- se notar desde a matéria que ele decidiu, até mesmo com a postergação da decisão todo o envelope político que envolveu a causa. Ao declarar que Thomas Jefferson não podia negar a posse a Willian Marbury ele felicitou os federalistas, mas quando disse que não poderia conceder o writ of mandamus porque tal competência seria inconstitucional, ele acenava para os Republicanos e, por fim, acentuava a unidade do país. A verdade é que, já sob a égide da era das Constituições escritas, pela primeira vez um juiz impunha ao legislador ordinário a vontade da Constituição. Com isso, estava assentada uma nova forma de ver a democracia e o dogma da soberania popular. “A base sobre a qual se ergueu toda a estrutura americana é ter o povo o direito original de estabelecer, para o futuro governo, princípios tais que, a seu ver, conduzam à sua própria felicidade.” (PADOVER, 1964, p. 90) 6. MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: Basicamente três tipos de modelos de controle de constitucionalidade se apresentaram ao mundo: o norte-americano, o austríaco e o francês. a) O modelo norte-americano: conhecido também como modelo difuso de controle de constitucionalidade. Surgiu a partir do caso supracitado, Marbury Vs Madison e tem por característica a poder- 6 dever que qualquer órgão judicial incumbido de aplicar a lei a um caso concreto tem de afastar a sua aplicação se a considerar incompatível com a ordem constitucional. Desta forma, a última palavra não deixade ser da Suprema Corte, contudo, qualquer órgão tem o poder de exercer tal controle, chegando à Corte através da via recursal, sendo que os filtros para que se chegue a Suprema Corte são bem rigorosos. Não há ação específica para o denominado controle, ele é exercido de maneira incidental e concreta no curso de um processo judicial comum. Sua decisão tem caráter declaratório, pois os Estados Unidos adota a teoria da nulidade onde a lei declarada inconstitucional é tida desta forma desde de sua origem, resultando em uma decisão com efeitos ex tunc. b) O modelo austríaco: conhecido também como controle concentrado. Imaginado e desenhado por Hans Kelsen para a Constituição austríaca de 1920. Ele imagina que a Constituição é instrumento tão fundamental e de caráter obrigatório que deve ter uma instância específica para fazer valer seus preceitos. Assim, ele imagina o chamado Tribunal Constitucional que é um órgão independente, situado fora da formação tripartida dos poderes e que têm por finalidade assegurar a supralegalidade da Constituição enquanto instância última de validade para qualquer ato do Poder Público. Esse tribunal exerce essa função de maneira abstrata e de maneira concentrada e exclusiva. Pela adoção da teoria da anulabilidade, a decisão deste tribunal tem efeitos constitutivo e caráter ex nunc, ou seja, a partir da decisão a norma se torna inconstitucional, podendo inclusive o tribunal decidir que sua decisão possa ter efeitos prospectivos até o limite de um ano, para que se resguarde certos inconvenientes que poderiam ocorrer caso a decisão viesse a produzir efeitos de pronto. c) O modelo francês: a França com sua convicção da soberania do parlamento e da impossibilidade de se conceder a juízes não eleitos o poder de anular atos de representantes populares, demorou um pouco mais para adotar qualquer forma de controle de constitucionalidade. Assim, apenas em 1958 foi criado do Conselho Constitucional órgão vinculado ao parlamento francês e que tem por finalidade realizar um controle prévio da Constitucionalidade, antes mesmo que a aquele projeto venha a se tornar lei propriamente dita. É o chamado controle político, porque exercido por um órgão de natureza política. O controle de constitucionalidade das leis é exercido da seguinte forma: um texto legislativo ou um tratado internacional já elaborado, mas ainda não promulgado, pode ser enviado ao Conselho pelo Presidente da República, Primeiro Ministro ou Presidente de uma ou outra câmara do Parlamento, para que se avalie a constitucionalidade ou não da pretensa lei ou tratado. Para algumas leis, ditas orgânicas (concernente à organização dos poderes públicos) o pronunciamento do Conselho será sempre obrigatório. As decisões desse conselho são sempre irrecorríveis e uma disposição declarada inconstitucional por ele não pode ser promulgada ou aplicada. Assim como propagou Hans 7 Kelsen quando criou o Tribunal Constitucional, os membros do Conselho Constitucional exercem mandato pelo período de nove anos, sendo sua composição efetuada por indicação de três nomes pelo Presidente da República, três pelo Presidente da Assembléia e três pelo Presidente do Senado e, além deles, também é dado o direito aos ex-presidentes tomarem assento no Conselho. Em recente reforma e vigorando desde março de 2010, o sistema francês começa a admitir a possibilidade de controle posterior e incidental de constitucionalidade. A chamada Questão Prioritária de Constitucionalidade garante a qualquer pessoa que seja parte em um processo, em qualquer instância, administrativa ou judiciária, o direito de questionar um dispositivo legal sob o argumento de que ele atenta contra os direitos e liberdades garantidos na Constituição. Uma vez suscitada a questão, ela é remetida à Corte de Cassação ou ao Conselho de Estado que fará uma prévio juízo de admissibilidade e, admitindo, a remeterá para o Conselho Constitucional que poderá revogar a disposição. Seus requisitos são: a) suscitação por uma das partes no curso de um recurso de apelo; b) dúvida manifesta sobre a constitucionalidade da norma aplicável; c) não haver manifestação anterior do Conselho no sentido da constitucionalidade da norma, salvo mudanças das circunstâncias. 2.1. O Controle de Constitucionalidade no Reino Unido: Uma inovação recente veio a corroborar com o fortalecimento do controle de constitucionalidade. Deu-se no Reino Unido, com criação da Suprema Corte em 1º de outubro de 2009. A Constituição inglesa sempre foi apontada pela doutrina, quanto à sua estabilidade, como um documento sem rigidez constitucional, pois flexível e, por isso, sem caráter de supralegalidade. Acontece que em 1998 a casa dos comuns aprovou o Human Rights Act, incorporando à legislação do Reino Unido as principais normas da Convenção Europeia de Direitos Humanos de 1950,2 compondo a Constituição daquele país. O dispositivo deste ato que cria um verdadeiro paradigma não apenas para o direito inglês, como para o estudo do direito constitucional, é o inscrito no item 1 da seção 3 do mesmo, que possibilita que toda a legislação do Estado seja revista e aplicada em compatibilidade com o Human Rights Act.3 Com isso, se consagrou a supralegalidade da matéria constitucional que fora complementada com a previsão, na reforma constitucional de 2005, da Suprema Corte do Reino Unido, estabelecendo a definitiva separação e independência do Poder Judiciário do Poder Legislativo, uma vez que aquele era, na prática, exercido pelo Comitê de Apelação que compunha o Poder Legislativo daquele país.4 Segundo explanou o professor britânico Jeffrey Jowell, em palestra proferida no Supremo Tribunal Federal em 2010, cabe a Suprema Corte analisar a compatibilidade ou não das normas com a Constituição, mas apenas o governo tem a competência de 2 VARGAS, Denise. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 184. 3 Assim dispõe: “So far as it is possible to do so, primary legislation and subordinate legislation must be read and given effect in a way which is compatible with the Convention rights.” (REINO UNIDO, 1998). 4 Nesse sentido é a manifestação do Lord Mance integrante da primeira composição da Suprema Corte que ao ser instaurada, aproveitou os Lords que compunham o Comitê de Apelação da Casa dos Lords. (MANCE, 2009). 8 decidir se ela deve ou não ser retirada do sistema, esclarecendo que até então, não houve caso em que o governo não tenha seguido a orientação do tribunal 7. TIPOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: 7.1. Quanto à espécie de inconstitucionalidade: a) Inconstitucionalidade Formal: quando os vícios formais afetam o ato normativo singularmente considerado, sem atingir seu conteúdo, referindo-se aos pressupostos e procedimentos relativos à formação da lei. Os vícios formais traduzem defeito de inobservância de um princípio de ordem técnica ou procedimental ou pela violação de regras de competência. b) Inconstitucionalidade material: dizem respeito ao próprio conteúdo ou ao aspecto substantivo do ato, originando-se de um conflito com regras ou princípios estabelecidos na Constituição. Envolve também a aferição do desvio de poder ou do excesso de poder legislativo. c) Inconstitucionalidade por ação: é aquela que resulta da incompatibilidade de um ato normativo com a Constituição. d) Inconstitucionalidade por omissão: dá-se quando a Constituição necessitada de uma regulação e ela não ocorre ou ocorre de maneira deficiente. Em 1911KELSEN achava inadmissível a configuração de um dever do Estado de editar normas. Sob o império da Constituição de Weimar negava-se a possibilidade de se formular qualquer pretensão contra o legislador. Há dois tipos de omissão: - Omissão absoluta ou total: quando o legislador não empreende a providência legislativa reclamada. - Omissão parcial: ocorre quando um ato normativo atende apenas parcialmente ou de modo insuficiente a vontade constitucional. Caso clássico é a chamada exclusão de benefício incompatível com o princípio da igualdade que pode se verificar de forma concludente (a lei oferece benefícios apenas a determinado grupo) ou de maneira explícita (a lei outorga benefícios e exclui de seu aproveitamento determinadas pessoas). A relatividade do postulado da igualdade leva, a uma inconstitucionalidade relativa, isso porque não se afigura a inconstitucionalidade da norma ‘A’ ou ‘B’, mas a disciplina diferenciada das situações. Provoca situação que dificilmente será resolvida com o caso da declaração de nulidade. 7.2. Quanto ao parâmetro do controle: a) Toda a Constituição formal; b) Apenas alguns dispositivos da Constituição; 9 c) Ou o chamado bloco de constitucionalidade que compreende normas que estão contidas no texto constitucional ou, até mesmo, fora dele, mas que tenham conteúdo constitucional. 7.3. Quanto ao objeto do controle: a) Atos normativos; b) Atos do poder público de caráter concreto. 7.4. Quanto ao momento da realização do controle: a) Controle prévio: exercido antes da promulgação da lei; b) Controle sucessivo ou repressivo: exercido após a promulgação da lei. 7.5. Quanto a natureza do órgão de controle: a) Controle político: exercido por um órgão de natureza política; b) Controle jurisdicional: exercido por um órgão que exerce a função jurisdicional, seja integrante do Poder Judiciário ou não. 7.6. Quanto ao número de órgãos que exercem o controle de constitucionalidade: a) Controle difuso: aquele que é exercido por todos os órgãos que exercem jurisdição; b) Controle concentrado: é o controle exercido por um único órgão, com caráter exclusivo. 7.7. Quanto ao modo de manifestação do controle: a) Por via incidental (ou de exceção): aquele que é exercido em caráter prejudicial no curso de uma demanda em que se discute outro assunto. Não é o controle de constitucionalidade o objeto da demanda, mas sim, mero incidente que ocorre no curso do processo. Ele é sempre concreto, constituindo a causa de pedir da ação; b) Por via de ação (ou principal): quando o controle de constitucionalidade é o objeto principal da ação, não é ele a causa de pedir da ação, mas sim, o próprio pedido. Ele é, em regra, de caráter abstrato. c) Controle abstrato (ou em tese): ocorre quando não há um litígio de fato, mas a mera averiguação, em abstrato, da conformidade de um ato com a Constituição; d) Controle concreto: vincula-se a um caso concreto, onde a questão sobre a constitucionalidade aparece como fundamento de um pedido ou da defesa. 10 ******************************************************************** BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Processo Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1984. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 4ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2009. CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Juspodivm, 2008. DANTAS, Ivo. Constituição e Processo. 2ª Edição. Curitiba: Juruá, 2008. _______. O valor da constituição. Edição histórica. 3ª Edição. Curitiba: 2010. TAVARES, André Ramos de. Teoria da Justiça Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2005. _______. Tribunal e Jurisdição Constitucional. São Paulo: Celso Bastos editor, 1998, p. 107.
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