Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Sidney Ferreira de Moraes Neto Módulo Endocrinologia Campo Grande 2018 Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Resumo de Endocrinologia Problema 1 Síndrome Consumptiva Perda de peso significativa pode ser definida como perda maior que 5,0% do peso habitual no período de 6 a 12 meses. Perda de peso maior que 10,0% é considerada estado de desnutrição associado à deficiência humoral e celular mediada. Variações no tamanho das roupas utilizadas também podem indicar indiretamente o início e a magnitude da perda de peso. Fisiopatologia e Classificação da Perda de Peso Divide-se a base fisiopatológica da perda de peso em três categorias: ➔ Diminuição da ingestão de alimentos, ➔ Metabolismo acelerado ou, ➔ Aumento da perda de energia. A perda de peso pode ser traduzida como um sintoma de desordem multifatorial que inclui alteração ➔ Da ingesta calórica, ➔ Da absorção intestinal, ➔ Da motilidade intestinal, ➔ Do uso de medicamentos e abuso de drogas ou, ➔ Da produção aumentada de substâncias endógenas como fator de necrose tumoral, a interleucina 6, substâncias bombesina-like e fatores liberadores de corticotropina. Outros fatores como náusea e vômito causados pela quimioterapia também são importantes processos associados à perda de peso, bem como dor oncológica e compressões tumorais do trato gastrintestinal, quando provocam disfagia e distensão abdominal. A regulação do apetite sofre alterações com o envelhecimento (“anorexia fisiológica da idade”), há aumento da circulação de colecistocinina, por exemplo, que associada à diminuição do metabolismo basal pode levar à perda de peso importante. A maioria dos homens atinge o máximo de peso corporal ao redor dos 40 anos e as mulheres aos 50 anos. Logo após, ocorre progressiva perda de massa magra corporal, principalmente nas extremidades e estoque de gordura central. Atrofia gordurosa também pode ocorrer gerando aparência caquética. Alguns estudos mostram que há declínio natural da Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 sensibilidade ao paladar e olfato com o aumento da idade, o que pode contribuir para a diminuição de peso. Distúrbios de visão e cognição no idoso também podem contribuir para a diminuição de ingesta calórica. Classifica-se perda de peso em dois grandes grupos: ➔ Perda de peso involuntária com umento ou diminuição do apetite; ➔ Perda de peso voluntária; Perda de peso involuntária com AUMENTO do apetite Esta condição está associada com aumento do gasto energético ou perda de calorias pelas fezes ou urina. Neste caso, a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o deficit energético. São causas deste tipo de condição: hipertireoidismo, diabetes mellitus (DM) descompensado, síndrome de má absorção, feocromocitoma, aumento importante de atividade física. No hipertireoidismo, a perda de peso está associada com aumento do gasto energético basal e com o deficit na absorção intestinal devido ao aumento da motilidade gastrointestinal. Em idosos com hipertireoidismo, também pode ocorrer a associação desta doença com anorexia. No diabetes mellitus descompensado, principalmente no DM tipo 1, a causa da perda de peso está associada à deficiência de insulina (hormônio anabólico) e à hiperglicemia com glicosúria (diurese osmótica), causando depleção de líquido extra e intracelular (desidratação). No feocromocitoma a atividade adrenérgica exacerbada aumenta a taxa de metabolismo basal. Outra causa não orgânica deste tipo de perda de peso é a baixa condição econômica, que pode resultar em dificuldades para comprar alimentos adequados para a manutenção do equilíbrio calórico. Perda de peso involuntária com DIMINUIÇÃO do apetite Neste grupo de doenças incluíam-se as doenças psiquiátricas como depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade e paranoia, uso crônico de drogas, doenças como câncer, endocrinopatias, doenças crônicas, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças gastrointestinais. A perda de peso devido ao câncer (síndrome anorexia-caquexia) é comum e ocasionalmente pode ser a única manifestação de tumores ocultos. Qualquer câncer pode evoluir com perda de peso, tanto como primeira manifestação ou manifestação tardia do tumor (tabela 1). Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 As malignidades acometem aproximadamente um terço dos pacientes que apresentam síndrome consumptiva. Afecções gastrointestinais benignas, tais como úlcera e colecistite, também têm sido causas de perda de peso em 11,0 a 17,0% dos pacientes investigados. Nos pacientes com vírus da imunodeficiência humana (HIV) positivos ou soro- reagentes a perda de peso é sintoma relativamente comum, mas ao contrário dos cânceres, esta redução de peso está associada primariamente à diminuição da ingestão calórica, já que o gasto energético é igual ao paciente sem a doença. Perda de peso súbita no paciente com HIV geralmente está relacionada à infecção secundária, enquanto que perda gradual geralmente está relacionada à redução de ingesta calórica. Dentre as endocrinopatias, a insuficiência adrenal pode cursar com anorexia, náusea e perda de peso, assim como a hipercalcemia e alguns pacientes com hipertireoidismo, geralmente idoso. Nos pacientes com diabetes mellitus, pode ocorrer a perda de apetite como sintoma da gastroparesia, má absorção intestinal por neuropatia intestinal e insuficiência renal. Diabético tipo um pode também apresentar doença de Addison associada. Pacientes com doenças psiquiátricas frequentemente apresentam perda de peso como critério de diagnóstico, como por exemplo, na depressão maior (perda de mais de 5,0% em um mês). A caquexia pode ser induzida por uso crônico de neuroléptico e deve ser descontinuada neste caso. O uso crônico do álcool, nicotina, opiáceos e estimulantes do sistema nervoso central diminuem o apetite e causam perda de peso. Outro distúrbio psiquiátrico, a anorexia nervosa é classificada como perda de peso voluntária. Nas doenças cardiopulmonares, a perda de peso relaciona-se à insuficiência cardíaca (caquexia cardíaca) ou à doença pulmonar obstrutiva crônica. No entanto, esta perda de peso pode ser ocultada pelo edema concomitante. Doenças neurológicas como o acidente vascular cerebral, demências, esclerose múltipla, Parkinson, podem estar associadas com alteração de motilidade gastrintestinal bem como disfagia, alteração do olfato, paladar (disgeusia), constipação, disfunção Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 esfincteriana e falta de apetite. A doença de Parkinson relaciona-se com anorexia e aumento do gasto energético. Uremia induz anorexia, náusea e vômito, assim como perda de proteína pela urina, por exemplo, na síndrome nefrótica, contribuindo para o balanço negativo calórico. Pacientes em situações de isolamento social tendem a apresentar diminuição do apetite. Nos idosos, o isolamento se refere não apenas ao ato de comer, mas também à dificuldade em comprar e preparar os alimentos. A tabela 2 resume as principais causas de perda de peso involuntária. Diagnóstico Clínico e Diferencial Anamnese Durante investigação etiológica de síndrome consumptiva, é necessário perguntar ao paciente sobre seu apetite, atividade física, como é o padrão da perda de peso (flutuante ou estável), por quanto tempo vem perdendo peso e se a perda é voluntária ou involuntária. Como auxílio no raciocínio diagnóstico para síndromeconsumptiva, Robbins publicou regra mnemônica que consiste em nove “D”s de causas de perda de peso nesta população: Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 ➔ Dentição: alteração na cavidade oral ➔ Disfagia ➔ Distúrbio do paladar (Disgeusia) ➔ Diarreia ➔ Depressão ➔ Doença crônica ➔ Demência ➔ Disfunção (física, cognitiva e psicosocial) ou dependência. ➔ Drogas Outra regra mnemônica para lembrar-se dos diagnósticos diferenciais para perda de peso é MEALS ON WHEELS: ➔ Medication: medicamentos; ➔ Emotional problems: problemas emocionais, principalmente depressão; ➔ Anorexia nervosa, alcoolismo; ➔ Late Life paranóia Swallowing: deglutição; ➔ Oral factors: fatores orais; ➔ No Money: problemas financeiros; ➔ Wandering ou comportamentos alterados; ➔ H: hiper/hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, hipoadrenalismo; ➔ Enteric problems: problemas entéricos; ➔ Eating: problemas para se alimentar sozinho; ➔ Low salt, low cholesterol: dieta sem gordura e sal; ➔ Stones, social problems: problemas sociais; A tabela 3 cita alguns medicamentos capazes de induzir perda de peso por alterar o paladar, causar disfagia ou causar anorexia. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Ainda como roteiro da anamnese, deve-se quantificar a Medida de Independência Funcional (MIF) dos pacientes no intuito de avaliar o grau de dependência nas atividades de vida diária (figura 1). O instrumento avalia 18 categorias pontuadas de um a sete e classificadas quanto ao grau de dependência para a realização da tarefa. As categorias são agrupadas em seis dimensões: autocuidados, controle de esfíncteres, transferências, locomoção, comunicação e cognição social. Cada dimensão é analisada pela soma de suas categorias referentes; quanto menor a pontuação, maior é o grau de dependência. Somando-se os pontos das dimensões da MIF obtém-se escore total mínimo de 18 e máximo de 126 pontos. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Existem diversos instrumentos validados que poderão auxiliar na avaliação da perda de peso do paciente, tal como Mini Nutritional Assessment (MNA), que avalia o risco de desnutrição em idosos, e inclui a medida de circunferência do braço (valores menores que 22 cm para mulher e 23 cm para homem são sugestivos de deficiência crônica de energia). Exame Físico O exame físico do paciente com perda de peso deve ser detalhado e incluir exame da pele (observar sinais de desnutrição, deficiência vitamina e oligoelementos), cavidade oral, avaliação da tireóide, propedêutica cardiovascular, pulmonar e abdominal, toque retal, palpação de linfonodos, exame neurológico, incluindo o Mini Exame do Estado Mental, medidas antropométricas para cálculo do IMC (kg/m2), além dos sinais vitais. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Exames Complementares Iniciais Para uma avaliação inicial da etiologia em casos em que a história e o exame físico não forem indicativos da causa, os seguintes exames complementares são sugeridos: 1) Hemograma; 2) Eletrólitos; 3) Glicemia; 4) Função renal e hepática; 5) TSH; 6) Sorologia para HIV; 7) Proteína C Reativa; 8) Parasitológico de fezes; 9) Raio-X de tórax; 10)Urina 1; 11)PPD. Embora concentrações de albumina sérica, pré-albumina, transferrina, colesterol e contagem de leucócitos possam ajudar a estabelecer o diagnóstico de desnutrição, suas determinações não contribuem para determinar a causa do problema. Na ausência de alteração no exame físico e nos exames iniciais complementares, deve-se seguir a investigação com exames de rastreamento para câncer, conforme sexo e idade (tabela 4). Marcadores Tumorais Os marcadores tumorais geralmente não são diagnósticos de neoplasias, embora possam contribuir para o diagnóstico15 (tabela 5). O valor diagnóstico do marcador Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 tumoral depende da prevalência da doença na população, podendo auxiliar no diagnóstico diferencial (ex: câncer de células germinativas) e, especialmente, predizer metástases. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Fisiopatologia e Etiologia da Síndrome Consumptiva Fisiopatologicamente, a perda ponderal ocorre como resultado de diminuição do aporte de energia, aumento do gasto energético e perda de energia, podendo culminar em caquexia e suas complicações. Porém, essa divisão é didática, pois, geralmente, ela é multifatorial, principalmente no paciente idoso. Diminuição de aporte de energia: refere-se a jejum digestivo/celular, como anorexia, dificuldade de mastigação e deglutição, falta de acesso à alimentação e saciedade precoce. Aumento do gasto energético: ocorre por catabolismo aumentado desadaptado, por liberação de hormônios e cininas inflamatórias, como nas doenças orgânicas, elou excesso de atividades físicas, como nos maratonistas. Aumento de perdas de energia: pode ocorrer pela pele (febre, sudorese profusa), pela urina (glicosúria, proteinúria) e pelas fezes (esteatorreia), com diminuição da incorporação dos nutrientes, água e sais minerais, podendo se manifestar por poliúria, vômitos e má absorção. As principais causas de emagrecimento, de acordo com a fisiopatologia, estão listadas na Tabela 3. Chama-se a atenção nesta tabela para o caráter multifatorial e perpetuador (ciclo vicioso) que se estabelece em um paciente portador de emagrecimento involuntário. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 El em pacientes oncológicos: geralmente apresentam baixa ingestão alimentar consequente a vários fatores, como perda do olfato, hiporexia, incapacidade de alimentar- se por distúrbios da mastigação e deglutição associados a imunodepressão e quimioterápicos, infecção secundária com disgeusia (alteração do sabor), xerostomia e mucosites secundárias, disfagia, náuseas, vômitos. cólicas e distensões abdominais, ascites, má absorção por mucosa careca ou invasão/ressecção tumoral, saciedade precoce por gastroparesia elou ação de citocinas inflamatórias no centro da fome, dor crônica e depressão. No entanto, a perda de peso nesses pacientes não pode ser atribuída somente à falta de ingesta. A perda ponderai nesses casos está associada ao aumento de consumo de energia com hipercatabolismo e consequente depleção de nutrientes, ambos culminando com balanço energético negativo e emagrecimento, podendo evoluir para caquexia. Os estados hipercatabólicos são caracterizados por consumo de massa magra com graves consequências por conta da trofia muscular de membros e caixa torácica. Entre elas, pode-se citar: ➔ Perda da funcionalidade motora e respiratória, ➔ Fadiga, ➔ Imobilidade no leito, ➔ Predisposição a tromboses, ➔ Embolias e riscos de escaras, ➔ Aumento do trabalho respiratório, ➔ Diminuição da capacidade de tosse e eliminação de secreções pulmonares, ➔ deficit de musculatura lisa com retardo do esvaziamento gástrico (gastroparesia) e aumento da saciedade, ➔ Diminuição do trânsito intestinal. ➔ Perda da estabilidade de resposta cardiovascular, alteração do sistema imunológico com consequente predisposição a infecções (linfopenia e alteração de anticorpos), ➔ Piora do metabolismo (enzimas, cininas, moléculas de expressão, hormônios e membranas), ➔ Piora da reparação tissular. Os mecanismos metabólicos, que tentam preservar a massa magra como um mecanismo de autoproteção como antioxidantes e sinalização celular de síntese proteica, são bloqueados e ultrapassados pela ativação da resposta inflamatória, ou resposta hormonal desadaptada pores· tresse físico ou psíquicodo hipercatabolismo. O insulto catabólico também induz aumento de hormônios catabólicos (adrenalina e cortisol). Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 diminuição dos hormônios anabólicos (insulina, GH e testosterona), aumento acentuado da conversão de aminoácidos em glicose pelo fígado pela neoglicogênese, rápida quebra de musculatura com utilização de aminoácidos como fonte de energia (sobretudo com consumo do aminoácido glutamina). canalização anormal de nutrientes (produção excessiva acima das necessidades de glicose), falta de cetose, indicando que a gordura não é a maior fonte de caloria e ausência de resposta do catabolismo ao aporte de nutrientes. A ação catabólica induz caquexia muscular ou doença resultante de demanda aumentada de produção de energia, porém ineficiente, levando a produção predominante de calor (perda de energia). A resposta alterada à insulina e a diminuição da lipase dos tecidos adiposos, induzindo hiperglicemia e hipertrigliceridemia, podem também contribuir para a falta de apetite em pacientes oncológicos. Kayacan et al descrevem que as cininas pró-inflamatórias TNF-alfa, fL· I beta e IL- 6, produzidas por tumores e liberadas também em processos inflamatórios, agem independentemente, induzindo proteólise e lipólise no hipermetabolismo via resistência à insulina nesses pacientes. A proteólise se faz predominantemente via ubiquitina- proteossomo induzida pelo PIF – fator indutor de proteólise (proteolysis inducing factor) e TNF-alfa, associados a aumento de moléculas de adesão celular, lipólise, endotelite com hipoalbuminemia, liberação de proteínas de fase aguada como o VHS (velocidade de hemossedimentação) e PCR (proteína C-reativa). Vários autores concordam que esta pode ser a via final comum que medeia a degradação proteica na caquexia. A lipólise se faz pelo LMF (fator de mobilização de lípides – lipid mobilizing factor). que atua via AMP cíclico por meio dos receptores beta-adrenérgicos. O processo inflamatório induz a liberação de IL· 12 e interferon gama, que agrava a caquexia e os sintomas sistêmicos como mal-estar e anorexia, podendo causar até 42% de redução da carcaça de tecido adiposo. Modelos experimentais sugerem que o consumo desses mediadores pró- inflamatórios seja dirigido predominantemente contra a cadeia pesada da musculatura esquelética. O alvo para a musculatura esquelética traduz perda de massa magra e alterações metabólicas graves. Linfomas liberam IL-6 e TNF-alfa e. quando associados aos outros marcadores de fase aguda, como VHS e proteína C-reativa, t~m relação direta com caquexia e pior prognóstico. Conceitos de Amenorreia Merecem avaliação as pacientes que apresentam sangramento vaginal anormal em duração, frequência ou quantidade. Padrões de sangramento: Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 ➔ Menstruação normal – fluxo menstrual com duração de três a oito dias com perda sanguínea de 30 a 80ml; ciclo com duração de 30 ± 4 dias. ➔ Menstruação anormal – sangramento que ocorre a intervalos de 21 dias ou menos, com mais de sete dias de fluxo e/ou volume total > 80ml. ➔ Amenorreia – ausência completa de menstruação em uma mulher na fase reprodutiva da vida. Pode ser amenorreia primária (ausência de menarca aos 16 anos de idade) ou secundária (ausência de menstruação por mais de seis meses ou, pelo menos, três dos intervalos de ciclos menstruais precedentes em uma mulher que tenha ciclos menstruais normais previamente). ➔ Oligomenorreia – ciclos menstruais com intervalos maiores que 40 dias. ➔ Polimenorreia – ciclos regulares com intervalos de 21 dias ou menos. ➔ Hipermenorreia (menorragia) – sangramento uterino excessivo em quantidade e duração, ocorrendo a intervalos regulares. ➔ Metrorragia – Sangramento uterino geralmente não-excessivo ocorrendo em intervalos irregulares. ➔ Menometrorragia – Sangramento uterino geralmente excessivo e prolongado ocorrendo a intervalos irregulares. ➔ Hipomenorreia – Sangramento uterino regular mas reduzido em quantidade. ➔ Sangramento intermenstrual – Sangramento que ocorre entre ciclos menstruais regulares. Esteroidogênese Ovariana O ovário não só é o depósito das células germinativas, mas também produz e secreta hormônios que são vitais para a reprodução e o desenvolvimento das características sexuais secundárias. Esta seção discute brevemente a biossíntese dos hormônios ovarianos. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 No ovário, a maior fonte de produção hormonal é o folículo em maturação. Os componentes do folículo são ➔ As células da teca (androgênios), ➔ As células da granulosa (estrogênios) e, ➔ O oócito primário. As células da teca produzem androgênios e as células da granulosa produzem estrogênios. As outras células do estroma que contribuem para a produção de androgênios podem ser divididas em duas populações de células: ➔ As células intersticiais secundárias (derivadas da teca) e, ➔ As células do hilo. Estas células são as maiores envolvidas na produção de hormônios ovarianos durante a menopausa (ver adiante). Os hormônios ovarianos são derivados do colesterol. As células esteroidogênicas adquirem o colesterol de uma de três fontes. A fonte mais comum é a lipoproteína plasmática carregadora de colesterol, primariamente na forma de lipoproteína de baixa densidade (LDL). Uma fonte menor inclui a síntese de novo a partir do acetato e a liberação das gotas de lipídeos armazenadas (ésteres de colesterol). A estimulação das células ovarianas pelos hormônios tróficos como o FSH e o LH facilitam a captação do colesterol aumentando o número de receptores LDL na superfície celular. A partícula LDL é internalizada e degradada nos lisossomos. O colesterol livre que é liberado do lisossoma é entregue à mitocôndria por um mecanismo desconhecido, possivelmente via microfilamentos e microtúbulos. Então, o colesterol é translocado para a mitocôndria pela proteína reguladora da esteroidogenese aguda (StAR). Assim, a StAR é a etapa limitante e regula a disponibilidade de substrato para a esteroidogênese. Embora alterações agudas na produção de esteroides resultem de mudanças na oferta de colesterol às mitocôndrias, o controle de longo tempo na síntese de esteroides resulta da regulação de expressão gênica. A maioria dos genes envolvidos na esteroidogênese contém no mínimo um elemento de resposta fator-1 esteroidogênico (SF-1) na região promotora. Estes elementos são críticos para a regulação dos genes esteroidogênicos, bem como o desenvolvimento da suprarrenal, ovários e testículos. A importância do SF-1 para a esteroidogênese é destacado em camundongos knockout deficientes neste fator de transcrição com falta de suprarrenais e gônadas. Embora o SF- 1 seja essencial, a expressão específica de cada gene envolve vários outros fatores de transcrição que atuam independentemente ou em conjunto com o SF-1. O passo determinante da velocidade que oferece colesterol para a síntese de esteroides é a reação enzimática da clivagem da cadeia lateral do colesterol (P450scc) Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 (Figura 13-3). Esta reação converte o colesterol para pregnenolona, o precursor dos hormônios esteroides e ocorre na mitocôndria. A pregnenolona é transportada para fora da mitocôndria e as etapas restantes da produção de esteroides ocorrem primariamente no interior do retículo endoplasmático liso (REL). Uma vez que a pregnenolona está formada, o hormônio particular que será sintetizado depende do órgão endócrino e do tipo celular. Por exemplo,a principal fonte de esteroides sexuais na mulher vem das suprarrenais, ovários e da periferia. O tipo específico de hormônio sintetizado é dependente da expressão gênica específica dentro de cada tipo celular. Nas suprarrenais há três zonas: ➔ Glomerulosa (Aldosterona), ➔ Fasciculada (Cortisol) e ➔ Reticular (Androgênios). As células nas diferentes zonas começam com o mesmo hormônio precursor, mas diferem nos seus produtos de secreção. A glomerulosa produz principalmente aldosterona, enquanto cortisol e androgênios são produzidos pelas zonas fasciculada e reticular respectivamente. O principal androgênio produzido pela suprarrenal é o sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA). A diferença na atividade enzimática entre as células das diversas zonas é o que regula a produção hormonal. A zona reticular e a fasciculada carecem de 11B-hidroxilase, necessária para síntese de aldosterona. A zona glomerulosa carece de 17-hidroxilase e 17,20-liase (CYP17), que são necessárias para a síntese de esteroides sexuais. De modo similar, as células ovarianas secretam diferentes hormônios por causa de diferentes atividades enzimáticas. As células intersticiais da teca e as intersticiais secundárias carecem de aromatase e, portanto, são as produtoras de androgênios no córtex ovariano. As células granulosas, por outro lado, carecem de CYP 17 e, por isso, secretam estrogênios, principalmente estradiol, a partir dos androgênios derivados das células da teca na fase proliferativa e progesterona na fase lútea (ver adiante). O tecido adiposo e a pele contribuem significativamente para a concentração plasmática de alguns esteroides sexuais. O tecido adiposo é capaz de sequestrar a maioria dos esteroides devido a sua lipossolubilidade. A gordura também expressa genes capazes de metabolizar esteroides sexuais (i.e., aromatase). A pele contribui significativamente às concentrações plasmáticas de testosterona utilizando o SDHEA e a androstenediona como precursores. Os principais androgênios circulantes incluem SDHEA, androstenediona e testosterona. Durante os anos reprodutivos, os ovários são diretamente responsáveis pela Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 produção de um terço da testosterona. Os restantes dois terços vêm da periferia (l 7í3'" -hidroxiesteroide desidrogenase [HSD] tipos 3 e 5) e são derivados de precursores dos ovários e suprarrenais – notavelmente androstendiona, que é produzida em proporções iguais pelas suprarrenais e ovários. A suprarrenal pode secretar testosterona diretamente, mas sua principal contribuição é derivada da produção de precursores. Por isso os ovários são responsáveis por cerca de dois terços da testosterona circulante. Isso é diferente dos homens nos quais apenas 5% da testosterona circulante é derivada da conversão periférica de androstenediona. Também é estimado que mais de 60% do androgênio mais potente, a di-hidrotestosterona (DHT) nas mulheres, é produzido na pele (5cx-redutase dos tipos 1 e 2) e origina-se da androstenediona. O SDHEA é o principal androgênio produzido pelas suprarrenais. As suprarrenais são responsáveis por mais de 95% dos níveis circulantes de SDHEA. Ainda que seja o androgênio mais abundante circulando pelo organismo, ele contribui minimamente aos níveis séricos de testosterona. Os estrogênios circulantes incluem estrona, sulfato de estrona, estradiol e estriol (gestação). Mais de 95% do estradiol na circulação é produzido no ovário. Em contraste com o estradiol, aproximadamente metade da estrona circulante é secretada pelo ovário, enquanto o restante é derivado de conversão periférica. A androstenediona, precursor mais significativo, é aromatizada no tecido adiposo, folículos pilosos e no fígado à estrona. A estrona também é derivada do estradiol por meio da atividade dal 7í3'" -HSD tipo 2 e do sulfato de estrona (sulfatase esteroidal). Quase todo o estriol é produzido durante a gestação e é secretado pela placenta. Em última análise, a concentração sérica dos esteroides sexuais é ditada pela velocidade de secreção (VS), velocidade de produção (VP) e velocidade de depuração metabólica (VDM), conforme mostrado na Tabela 13-2. A VS dos hormônios sexuais de cada órgão determina a VP do hormônio. Se a VS para um hormônio específico no ovário é igual ao VP, então não há formação extragonadal. Entretanto, se há formação extragonadal, então o VP excede a VS. VDM é o volume de sangue por unidade de tempo depurado do hormônio. A depuração metabólica dos esteroides sexuais é inversamente relacionada com a afinidade da albumina e/ou da globulina ligadora pelo hormônio sexual (SHBG). Antes da excreção, os esteroides são conjugados para torná-los hidrossolúveis. A maior parte da testosterona está ligada a SHBG ( ~ 65%) e em menor extensão à albumina ( ~ 35%); só 1 % (hormônio livre) é ativo e disponível para metabolização. O restante dos androgênios tem afinidade negligenciável pela SHBG. A testosterona livre pode ser convertida em androgênios mais potentes como o DHT ou pode ser metabolizada para androstenediona. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Os metabólitos da androstenediona e DHT são conjugados com sulfato ou glicuronídeos e são excretados na urina. A maioria do estradiol também é ligada, ainda que tenha menor afinidade de ligação do que a testosterona por SHBG (38%) e mais pela albumina (60%); cerca de 2% é livre. O estradiol pode ser conjugado diretamente (16cx-hidroxilado ou 2- hidroxilado) ou é metabolizado para estrona antes da conjugação. O restante dos estrogênios é fracamente ligado a proteínas. A progesterona é metabolizada em vários intermediários antes da conjugação. O glicuronídeo de pregnanediol é o principal metabólito observado na urina. Uma variedade de condições clínicas resulta ou causa alteração nas velocidades normais de secreção, levando a distúrbios no ciclo mentrual. Este capítulo discute a fisiologia normal e trata de vários destes distúrbios hormonais. Fisiologia da Glândula Tireoide Estrutura e Síntese dos Hormônios Tireóideos Os hormônios da tireoide são tironinas iodadas compostas por dois núcleos unidos por uma ligação de éter (Figura 7-5). As células foliculares da glândula tireoide são especializadas em sintetizar a grande proteína precursora tireoglobulina, concentrar o iodo proveniente da circulação sanguínea intracelularmente e expressar um receptor que se liga ao tireotrofina (TSH), o qual promove o crescimento dos tirócitos e suas funções biossintéticas. Metabolismo do Iodo O iodo é um componente estrutural indispensável para os hormônios tireóideos. Por consequência, é um micronutriente essencial consumido na água ou na comida como iodo ou iodeto, que é convertido a iodo no estômago. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda uma ingestão diária dietética de 150 µg para adultos, 200 µg para mulheres grávidas ou lactantes e 50 a 250 µg para crianças. Uma vez que a maior parte do iodo é excretada pelos rins, a excreção urinária de iodo consiste em um excelente indicador da ingestão dietética. Durante milênios, o iodo tem sido retirado do solo em várias regiões montanhosas no mundo inteiro. Por consequência, de acordo com a OMS, a deficiência dietética de iodo, definida como uma ingestão diária de iodo menor do que 100 µg/ dia, afeta cerca de 2 bilhões de pessoas, o que consiste em aproximadamente um terço da população mundial. Quando a ingestão de iodo é menor do que 50 µg/ dia, uma tireoide de dimensões normais não pode manter uma produção hormonal adequada, resultando noaumento das dimensões da glândula (bócio) e, em última instância, em hipotireoidismo. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 As consequências de uma deficiência dietética de iodo endêmica são especialmente devastadoras para fetos e crianças em desenvolvimento, os quais necessitam do hormônio tireóideo para o desenvolvimento neurológico e o crescimento normais. Na dieta norte-americana, o iodo é derivado principalmente de sal iodado, conservantes com iodo em alimentos cozidos, laticínios contendo traços de agentes antibacterianos iodóforos utilizados na coleta do leite, corantes alimentícios e frutos do mar. Os tirócitos expressam abundantemente o NIS (transportador de sódio-iodo), que causa vãos nas membranas basais celulares e transporta ativamente o iodo proveniente do sangue. A glândula tireoide concentra e utiliza apenas uma fração do iodo fornecido a ela para a síntese hormonal, e o restante retorna ao poll do líquido extracelular. Consequentemente, a captação fraciona! normal de iodo, a qual pode ser quantificada com um marcador radiativo iodado, é de cerca de 10 a 30% após 24 horas. Devido a seu mecanismo de concentração ativo e à subsequente organificação do iodo intracelular, a reserva intratireoidiana de iodo é bastante grande, 8 a 1 O mg na forma de hormônios tireóideos estocados e tirosinas iodadas. Este iodo proporciona uma reserva no caso de uma deficiência de iodo dietético temporária. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Síntese e Secreção do Hormônio Tireóideo A síntese de T4 e T3 pela glândula tireoide envolve seis etapas principais: 1) Transporte ativo do iodo através da membrana basal para dentro da célula tireóidea (aprisionamento); 2) Oxidação do iodo e iodização dos resíduos de tirosil na tireoglobulina (organificação); 3) ligação de pares de moléculas de tirosina na tireoglobulina para a formação das Iodotireoninas T3 e T4 (pareamento); 4) Pinocitose e proteólise da tireoglobulina com liberação das iodotironinas e iodotirosinas livres para a circulação; 5) Deiodinação das iodotirosinas nas células da tireoide, com conservação e reutilização do iodo liberado; e 6) 5'-deiodínação intratireoidiana do T4 em T3. A síntese do hormônio tireóideo necessita que o NIS, a tireoglobulina e a enzima TPO estejam presentes, funcionais e não inibidas. Este processo é resumido nas Figuras 7-6 e 7-7. Tireoglobulina A tireoglobulina é uma grande molécula de glicoproteína (MW 660.000 kD), composta por duas subunidades, cada uma delas contendo 5.496 aminoácidos. A tireoglobulina possui aproximadamente 140 resíduos de tirosil, porém apenas quatro sítios de tirosil são orientados para a hormonogênese efetiva em cada molécula. O conteúdo de iodo da tireoglobulina pode variar desde 0,1 a 1 %, de acordo com o peso. Na tireoglobulina contendo 0,5% de iodo, por exemplo, existem aproximadamente três moléculas de T4 e uma molécula de T3. O gene da tireoglobulina, que se situa no braço longo do cromossomo 8, contém aproximadamente 8.500 nucleotídeos que codificam o monômero da proteína pré- tireoglobulina, incluindo um peptídeo sinalizador de 19 aminoácidos. O TSH regula a expressão do gene da tireoglobulina. Após a tradução do mRNA tireoglobulina no retículo endoplasmático rugoso (RER), a proteína é glicosilada durante o transporte pelo aparelho de Golgi (ver Figura 7-7), onde os dímeros de tireoglobulina são incorporados às Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 vesículas exocíticas. Essas vesículas fundem-se com a membrana basal das células apicais, das quais são liberadas no lúmen folicular. Ali, na borda apical-coloide, os resíduos de tirosina na tireoglobulina são iodados. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Transporte de Iodo O iodo (I-) é transportado pela membrana dos tirócitos pelo NIS. O NIS ligado à membrana, que retira sua energia de uma Na+ _K+ ATPase, permite que a glândula tireoide humana mantenha uma concentração de iodo livre 30 a 40 vezes mais alta do que a plasmática. A ação do NIS é estimulada fisiologicamente pelo TSH e fisiopatologicamente pelo anticorpo estimulador do receptor de TSH da doença de Graves. Apesar de os tecidos salivar, gástrico e mamário expressarem o NIS e concentrarem iodo em menor quantidade do que a tireoide, esses outros tecidos não armazenam ou organificam o iodo, e suas atividades do NIS não são estimuladas pelo TSH. Grandes quantidades de iodo suprimem tanto a atividade do NIS como a expressão do gene NIS, representando mecanismos de autorregulação do iodo (ver adiante). O íon percloreto (ClO4-) compete com o iodo pelo NIS; o percloreto tem sido utilizado para o tratamento do hipertireoidismo e tem o potencial de ser um inibidor ambiental da função da tireoide. O NIS também pode concentrar o pertecnetato (TcO4-) nas células da tireoide, facilitando o uso do radionuclídeo pertecnetato sódico (99mTcO4-) para a visualização da glândula tireoide e para a quantificação de sua atividade de armazenamento. Na borda apical do tirócito, uma segunda proteína transportadora de iodo, a pendrina, transporta o iodo para a interface membrana-coloide, onde torna-se substrato para a hormoniogênese tireoidiana (ver Figuras 7-6 e 7-7). Mutações no gene da pendrina (PDS ou SLC26A4) que afetam sua função causam síndrome de bócio e perda auditiva adquirida na infância (síndrome de Pendred). Tireoperoxidase A tireoperoxidase (TPO), uma glicoproteína ligada à membrana (MW 102 kD) contendo uma porção heme, catalisa tanto a oxidação do iodo como a ligação covalente do iodo aos resíduos de tirosina da tireoglobulina. A expressão do gene TPO é estimulada pelo TSH. Após ser sintetizada no RER, a TPO é inserida nas membranas cisternas dos RER, das quais ela é transferida para a superfície das células apicais por meio dos elementos do aparelho de Golgi e das vesículas exocíticas. Então, na interface célula- coloide, a TPO facilita tanto a iodinação como a ligação dos resíduos de tirosina na tireoglobulina. lodinação da tireoglobulina No interior da célula tireoide, na interface apical-coloide, o iodo é rapidamente oxidado pelo peróxido de hidrogênio produzido localmente, em uma reação catalisada pela TPO; o iodo ativo resultante é ligado aos resíduos de tirosil na tireoglobulina. O Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 peróxido de hidrogênio necessário provavelmente seja gerado por uma NADPH oxidase na presença de cátions de cálcio, um processo que também é estimulado pelo TSH. A TPO também pode catalisar a iodinação das moléculas de tirosil em outras proteínas além da tireoglobulina, como a albumina ou fragmentos de tireoglobulina; no entanto, não são originados hormônios ativos dessas proteínas. Ligação dos resíduos de iodotirosil na tireoglobulina A ligação dos resíduos de iodotirosil na tireoglobulina também é catalisada pela TPO. Acredita-se que este seja um processo intramolecular que envolve a oxidação de dois resíduos de iodotirosil trazidos por estruturas terciárias e quaternárias de tireoglobulina, sua ligação como um éter de quinol intermediário e a separação do éter de quinol, formando uma iodotironina (ver Figura 7-8). Dentro da molécula de tireoglobulina, duas moléculas de DIT ligam-se para formar o T4, e uma molécula de MIT e uma de DIT ligam-se para formar o T3. Os fármacos tiocarbamato, incluindo o metimazole, o carbimazole e o propiltiuracil (PTU) são inibidores competitivos da TPO. Sua capacidade de bloquear a síntese hormonal da tireoide(Figura 7-9) torna-os úteis no tratamento do hipertireoidismo. Proteólise da Tireoglobulina e secreção do Hormônio da Tireoide O processo de proteólise e secreção da tireoglobulina na hormoniogênese tireoidiana é ilustrado na Figura 7-7. Na membrana apical do tirócito, o coloide é envolto em vesículas por pinocitose, sendo absorvido pela célula. Lisossomos contendo enzimas proteolíticas fundem-se com essas vesículas de coloide; isso ocasiona a liberação de T4 e T3, assim como iodotirosinas inativas, peptídeos e aminoácidos individuais. Os hormônios tireóideos biologicamente ativos T3 e T4 entram na circulação; o DIT e o MIT são deiodizados e seu iodo é conservado. A secreção do hormônio da tireoide é estimulada pelo TSH e inibida pelo iodo em excesso (ver posteriomente) e pelo lítio. Uma pequena quantidade de tireoglobulina intacta é liberada normalmente da célula tireoideana e circula pelo sangue. A concentração sérica de tireoglobulina é acentuadamente aumentada em vários distúrbios da tireoide, incluindo tireoidite, bócio nodular e doença de Graves. Uma vez que a tireoglobulina também é sintetizada na maioria das malignidades originadas do epitélio tireóideo, como os cânceres de tireoide papilar e folicular, ela constitui um marcador tumoral útil. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Deiodinação intratireoidiana O MIT e o DIT formados durante a síntese de hormônio tireóideo são deiodinados pela deiodinase intratireoidiana uma flavoproteína NADPH dependente encontrada na mitocôndria e nos microssomos que age sobre as iodotirosinas MIT e DIT, mas não sobre T3 e T4. A maioria do iodo liberado é reutilizada para a síntese hormonal, e apenas uma pequena parte sai da glândula tireoide (Figura 7-10). A 5' -deiodinase que converte o T4 em T3 nos tecidos periféricos também é encontrada na glândula tireoide. Quando existe deficiência de iodo e nas várias condições de hipertireoidismo, a atividade dessa enzima aumenta a quantidade de T3 secretada pela glândula, aumentando a eficiência metabólica da síntese hormonal. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Anormalidade na Síntese e Liberação do Hormônio da Tireoide Deficiência dietética de Iodo e Defeitos Hereditários Uma dieta com muito pouca quantidade de iodo e defeitos hereditários nos genes codificadores das proteínas necessárias para a biossíntese do hormônio da tireoide (disormonogênese) podem resultar em uma produção hormonal insuficiente. Em resposta ao conteúdo limitado do iodo intratireoidiano ou da produção hormonal, a glândula aumenta as proporções de MIT-para-DIT dentro da tireoglobulina, assim como a proporção da secreção de T3 em relação a T4. O eixo hipotálamo-hipófise- -tireoide também responde à deficiência de hormônio da tireoide por meio do aumento da secreção de TSH. Como consequência, os indivíduos afetados geralmente apresentam um aumento da glândula tireoide (bócio), que pode ser suficiente para compensar a produção ineficiente do hormônio da tireoide; caso contrário, ocorre hipotireoidismo. Recém- nascidos e crianças gravemente afetadas podem sofrer os efeitos irreversíveis da deficiência do hormônio da tireoide sobre o desenvolvimento, resultando em cretinismo. Distúrbios hereditários específicos são descritos com mais detalhes na seção de bócio atóxico, a seguir. Efeitos do excesso de iodo sobre a biossíntese hormonal Apesar de o iodo constituir um substrato essencial para a produção dos hormônios da tireoide, o excesso dessa substância, na verdade, inibe três etapas na produção dos hormônios tireóideos: ➔ A captura do iodo, ➔ A iodinação da tireoglobulina (efeito de Wolff-Chaikoff) e ➔ A liberação dos hormônios da tireoide a partir da glândula. Essas ações inibitórias são transitórias, e a glândula tireoide normal escapa desses efeitos do excesso de iodo após 10 a 14 dias. Esses efeitos autorregulatórios do iodo isolam a função fisiológica da tireoide de oscilações de curta duração na ingestão de iodo. Essas ações decorrentes do excesso de iodo também possuem importantes implicações clínicas, ocasionalmente causando uma disfunção da tireoide induzida pelo iodo e permitindo o tratamento com iodo de certos distúrbios da tireoide. Caso a tireoide seja afetada por uma tireoidite autoimune ou certas formas herdadas de disormonogênese, ela pode ser incapaz de evitar a inibição do funcionamento da glândula induzida pelo iodo, podendo ocorrer o hipotireoidismo. Por outro lado, uma sobrecarga de iodo pode produzir hipertireoidismo (efeito de Jod-Basedow) em alguns pacientes com bócio multinodular, doença de Graves oculta e, raramente, em indivíduos com glândula tireoide com aspecto normal. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Transporte dos Hormônios Tireóideos Ambos os hormônios tireóideos circulam no sangue ligados a proteínas plasmáticas; apenas 0,04% do T4 e 0,4% do T3 não estão ligados a proteínas ou estão livres e, consequentemente, disponíveis para penetração e ação nos tecidos-alvo (Figura 7-11). Existem três proteínas de transporte dos hormônios tireóideos de maior importância: ➔ A TBG; ➔ A transtiretina, anteriormente denominada pré-albumina ligadora de tiroxina (TBPA), e ➔ A albumina. A ligação a proteínas no plasma permite o fornecimento sanguíneo das iodotireoninas, as quais são pouco solúveis em água. Ela também cria uma grande reserva de hormônios tireóideos circulantes com uma meia-vida plasmática estável de sete dias, assegurando a distribuição homogênea dos hormônios da tireoide nos tecidos- alvo. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Globulina ligadora de Tiroxina A globulina ligadora de tiroxina (TBG, do inglês thyroxine- -binding globulin) é uma glicoproteína produzida pelo fígado e membro da família SERPIN de antiproteases serinas compostas por uma cadeia única de polipeptídeos de 54-kDa, aos quais estão ligadas quatro cadeias de carboidratos contendo normalmente cerca de 10 resíduos de ácido siálico. Cada molécula de TBG possui um único local de ligação para o T4 ou T3. A concentração sérica de TBG é entre 15 e 30 µg/mL (280 a 560 mmol/L), e sua alta afinidade ligadora pelo T4 ou T3 permite transportar aproximadamente 70% dos hormônios tireóideos circulantes. A TBG e sua ligação com os hormônios da tireoide pode ser alterada por desarranjos congênitos da TBG, algumas situações fisiológicas e fisiopatológicas e vários tipos de fármacos. A deficiência da TBG ocorre em uma frequência de 1:5.000 nascidos vivos, com muitas variantes descritas em vários grupos étnicos e raciais. É um traço recessivo ligado ao X que, por consequência, é expresso com muito mais frequência em indivíduos do sexo masculino. Apesar dos baixos níveis circulantes de T4 e T3 nos indivíduos afetados, os níveis de hormônios livre são normais e esses pacientes permanecem eutireóideos. A deficiência congênita de TBG frequentemente é associada à deficiência da globulina ligadora de corticosteroides. Por outro lado, o excesso de TBG, que é raro, é caracterizado pela elevação dos níveis totais de T4 e T3 no sangue, porém por concentrações normais dos hormônios livres e um estado clínico eutireóideo. A gestação, os tumores secretores de estrogênio e a reposição estrogênica podem aumentar o conteúdo de ácido siálico da molécula de TBG, resultando em uma redução da depuração metabólica e na elevação dos níveis séricos de TBG. Os níveis de TBG podem diminuir nas doençassistêmicas e, devido à clivagem das proteases leucocitárias, sua afinidade ligadora pelos hormônios tireóideos também pode ser reduzida. Ambos os efeitos diminuem as concentrações séricas totais dos hormônios tireóideos em pacientes enfermos (Tabela 7-1). Certos fármacos também podem reduzir (esteroides androgênicos, glicocorticoides, danazol, L-asparaginase) ou aumentar (estrogênios, 5-fluorouracil) as concentrações plasmáticas de TBG. Outros (p. ex., salicilatos, altas doses de fenitoína e furosemida intravenosa) podem ligar-se à TBG, deslocando o T4 e o T3. Nesta circunstância, o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide (discutido adiante) preserva as concentrações de hormônios livres, diminuindo os níveis séricos totais de hormônios tireóideos. Similarmente, o estímulo da heparina da lipoproteína lipase libera ácidos graxos livres que deslocam os hormônios da tireoide da TBG. ln vivo, isso pode resultar em concentrações mais baixas Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 dos hormônios da tireoide, ao passo que in vitro (p. ex., amostra sanguínea heparinizada), a heparina aumenta os níveis aferidos de T4 e T3 livres. Transtiretina (pré-albumina ligadora de tiroxina) A transtiretina, um polipetídeo globular de 55 kDa composto por quatro subunidades idênticas de 127 aminoácidos, liga 10% do T4 circulante. Sua afinidade pelo T4 é 10 vezes maior do que pelo T3. A dissociação do T4 e do T3 da transtiretina é rápida, de modo que a transtiretina é uma fonte de T4 rapidamente disponível. O aumento da afinidade da ligação da transtiretina pelo T4 pode ocorrer na forma de uma condição hereditária. Os indivíduos afetados apresentam uma elevação do T4 total, porém níveis normais de T4 livre. A produção ectópica de transtiretina, relatada em pacientes com tumores pancreáticos e hepáticos, também pode ocasionar uma hipertiroxinemia eutireoidea. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Albumina A albumina liga-se ao T4 e ao T3 com menor afinidade em comparação com a TBG ou a transtiretina, porém, suas altas concentrações plasmáticas resultam no transporte de 15% do T4 e do T3 circulantes. As taxas de dissociação rápidas dos hormônios da tireoide da albumina a tornam uma grande fonte de hormônio livre para os tecidos. A hipoalbuminemia, como ocorre na nefrose ou cirrose, está associada a níveis baixos de T4 e T3 totais, mas os hormônios livres encontram-se normais. A hipertiroxinemia familiar disalbuminêmica é um distúrbio autossômico dominante no qual 25% da albumina exibe uma afinidade ligadora de T4 acima do normal. Isso ocasiona um nível de T4 total elevado, porém um nível normal de T4 livre e eutireoidismo. Na maioria dos familiares afetados, a afinidade de ligação do T3 é normal. Uma vez que essas variantes da albumina não ligam-se aos análogos da tiroxina utilizados em vários imunoensaios de T 4 livre, elas ocasionam uma falsa elevação do T4 livre nos indivíduos afetados. Metabolismo dos Hormônios Tireóideos A glândula tireoide normal secreta cerca de 100 nmol de T4 e apenas 5 nmol de T3 diariamente; menos de 5 nmol de T3 reverso metabolicamente inativo (rT3) é produzido (Figura 7-13). A maior parte da reserva plasmática de T3 (80%) é derivada do anel externo periférico ou de 5'-monodeiodinação do T4 nos tecidos externos à glândula tireoide, particularmente o fígado, os rins e o músculo esquelético (Tabela 7-2). Uma vez que o T3 possui maior afinidade de ligação para os receptores nucleares do T3 que afetam a ação do hormônio da tireoide, a 5'-monodeiodinação gera uma iodotironina mais ativa. Por outro lado, a deiodinação do anel interno do T4 (5-deiodinação) produz 3,3' ,5' -tri-iodotironina reversa (rT3), a qual é metabolicamente inerte. As três enzimas deiodinase que catalisam essas reações diferem quanto à localização tecidual, especificidade do substrato e modulação fisiológica e fisiopatológica, conforme apresentado na Tabela 7-2. A 5'-deiodinase tipo 1, a forma mais abundante, é encontrada predominantemente no fígado e nos rins, e em menores quantidades na glândula tireoide, no músculo esquelético e cardíaco e em outros tecidos. A 5'-deiodinase tipo 1 contém um núcleo selenocisteína que é provavelmente o local deiodinante ativo. A principal função da 5' -deiodinase tipo 1 é fornecer T3 para a circulação. Sua atividade encontra-se aumentada no hipertireoidismo e reduzida no hipotireoidismo. Isto é parcialmente responsável pelos níveis de T3 circulantes relativamente mais altos, quando comparados com os níveis de T4, vistos em pacientes hipertireóideos. A enzima é inibida pelo fármaco antitireoidiano tionamida PTU, porém não pelo metimazole e pela droga Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 antiarrítmica amiodarona e pelos radiocontrastes iodinados, como o ipodato sódico. A deficiência dietética de selênio também pode dificultar a conversão do T4 em T3. A deiodinase tipo 2 5' é predominantemente expressa no cérebro e na glândula hipófise, onde mantém um nível constante de T3 intracelular no sistema nervoso central. Esta deiodinase é muito sensível ao T4 circulante, de modo que um T4 baixo rapidamente eleva a concentração desta enzima no cérebro e na hipófise, por meio da alteração da taxa de degradação e inativação de T4. Deste modo, são mantidos o nível de T3 intracelular e suas funções neuronais. Por outro lado, um T4 plasmático elevado reduz os níveis de 5' -deionodase tipo 2, protegendo as células do cérebro do excesso de T3. Consequentemente, esta deiodinase representa um mecanismo pelo qual o hipotálamo e a hipófise podem responder aos níveis circulantes de T4. O rT3 também pode modificar a atividade da 5'-deiodinase tipo 2 no cérebro e na hipófise, e os compostos a-adrenérgicos estimulam a 5'-deiodinase tipo 2 na gordura marrom, porém a significância fisiológica desses efeitos não está esclarecida. A 5'-deiodinase tipo 3 é encontrada nas membranas coriônicas da placenta e nas células gliais do sistema nervoso central, onde inativa o T4 por meio da conversão em rT 3 e inativa o T3 convertendo-o em 3,3' -di-iodotironina (3,3'-T2) (Figura 7-14). Os níveis de deiodinase tipo 3 encontram-se elevados no hipertireoidismo e reduzidos no hipotireoidismo e, sendo assim, podem auxiliar na proteção do feto e do cérebro contra o excesso ou a deficiência de T4. A deiodinase tipo 3 placentária acelera a utilização da tiroxina em gestantes, o que explica parcialmente as necessidades crescentes de tiroxina em mulheres com hipotireoidismo tratado. De maneira geral, as funções das deiodinases são fisiologicamente importantes de três maneiras. Em primeiro lugar, elas permitem a modulação tecidual e celular das ações dos hormônios tireóideos. Em segundo lugar, elas auxiliam o organismo a adaptar-se a estados alterados, incluindo deficiência de iodo ou doenças crônicas. Em terceiro lugar, elas regulam as ações dos hormônios da tireoide no desenvolvimento inicial de muitos vertebrados, incluindo anfíbios e mamíferos. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Aproximadamente 80% do T 4 é metabolizado por meio da deiodinação, 35% em T3 e 45% em rT3 (ver Figura 7-13). Orestante é inativado principalmente por glucurodinação no fígado e secreção biliar, e, em menor quantidade, pela sulfatação no fígado ou nos rins. Outras reações metabólicas incluem a deaminação da cadeia lateral da alanina, formando derivados do ácido tiroacético de baixa atividade biológica; ou a descarboxilação ou clivagem da ligação de éter, formando componentes inativos. Como resultado dessas vias metabólicas, aproximadamente 10% do total de 1.000 nmol da reserva deT4 extratireoidiano é degradado a cada dia, e a meia-vida plasmática do T4 é de sete dias. Devido à menor afinidade de ligação do T3 às proteínas plasmáticas, a renovação de sua reserva extratireoidiana bem menor é mais rápida, com uma meia-vida plasmática de um dia. A reserva corporal total de rT 3 é aproximadamente do mesmo tamanho da de T 3, porém o rT 3 possui uma renovação ainda mais rápida, com uma meia-vida plasmática de apenas 0,2 dias. Controle da Função da Tireoide e Ação Hormonal O crescimento e a função da glândula tireoide são controlados pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireoide (Figura 7-15) e, conforme previamente discutido, pelo iodo por meio dos elementos de autorregulação. O hipotalâmico tireotrofina TRH estimula as células tireotróficas na adeno-hipófise a produzir o TSH, o qual, por sua vez, promove o crescimento da glândula tireoide e a secreção hormonal. Além disso, as deiodinases na hipófise e nos tecidos periféricos modulam os efeitos dos hormônios da tireoide por meio da conversão específica tecidual do T4 em T3, uma iodotironina mais ativa. Por fim, os efeitos moleculares do T3 nos tecidos individuais são modulados pelo receptor específico de T3 com o qual interage; pela resposta de ativação ou repressão do gene específico que induz; e, de maneira recentemente revelada, pela interação dos receptores de T3 com outros ligantes, receptores intimamente relacionados (p. ex., receptor retinoide X; RXR), e coativadores e correpressores que interagem na modulação da expressão genética. Hormônio liberador de Tireotrofina O hormônio liberador de tireotrofma (TRH) é um tripeptídeo, o piroglutamil-histidil- prolina (pyro-Glu-His-Pro-NH2), sintetizado por neurônios dos núcleos supraóptico e supraventricular do hipotálamo (Figura 7-16). O TRH é armazenado na eminência mediana do hipotálamo e então transportado via sistema venoso porta-hipofisário pela haste hipofisária até a hipófise anterior, onde controla a síntese e a liberação de TSH. O TRH é também encontrado em outros locais do hipotálamo, cérebro e medula espinal, Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 onde pode ter funções distintas como neurotransmissor. O gene pré-pró TRH, que codifica uma grande molécula com cinco cópias da sequência progenitora de TRH Glu-His-Pró- Gli, está localizado no cromossomo 3. A expressão do gene TRH é regulada negativamente pelos hormônios da tireoide – tanto o T3 proveniente da circulação como aquele originado da deiodinação do T4 nos neurônios peptidérgicos (ver Tabela 7-2). Na adeno-hipófise, o TRH liga-se a um receptor de membrana específico localizado nas células secretoras de TSH e prolactina, estimulando a síntese e a liberação de seus respectivos hormônios. O receptor de TRH é um membro da família de receptores ligados pela proteína G com sete domínios transmembrana. O TRH liga-se à terceira hélice transmembrana, ativando o seu complexo produtor de monofosfato de guanosina cíclica e a cascata de sinalização de inositol 1,4,5-trifosfato (IP3), a qual libera Ca+2 intracelular e gera 1,2-diacilglicerol, ativando deste modo a proteína quinase C. Essas vias são responsáveis pelo estímulo da liberação de TSH. Elas coordenam a transcrição dos genes codificando as subunidades de TSH e a glicosilação pós-translacional do TSH, a qual é necessária para a atividade biológica completa. A secreção de TSH estimulada pelo TRH é pulsátil, com uma amplitude média do pulso de TSH de 0,6 mU/L a cada 2 horas. Indivíduos normais possuem um ritmo circadiano da liberação de TSH, com o pico máximo circulante entre meia-noite e 04 horas, o que presumivelmente é controlado por um gerador de pulso neuronal hipotalâmico, proporcionando a síntese de TRH. Os hormônios tireóideos exercem uma retroalimentação negativa adicional sobre a produção de TSH ao nível da hipófise por meio de uma diminuição do número de receptores de TRH nos tireotrofos hipofisários. Por consequência, em pacientes com hipertireoidismo, os pulsos de TSH e seu pico noturno encontram-se acentuadamente Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 diminuídos; em pacientes com hipotireoidismo, a amplitude do pulso de TSH e o pico noturno encontram-sebastante elevados. Em experimentos com animais e recém- nascidos humanos, a exposição a baixas temperaturas aumenta a secreção de TRH e TSH. Outros hormônios e fármacos (p. ex., vasopressina e agonistas a-adrenérgicos) estimulam a síntese e a liberação deTRH. Quando o TRH sintético é administrado por via intravenosa em seres humanos em bolo de 200 a 500 µg, ocorre uma elevação imediata de 3 a 5 vezes na concentração sérica de TSH, com um pico após 30 minutos e com duração de 2 a 3 horas (ver Figura 7- 14). Em pacientes com hipotireoidismo primário, nos quais o TSH basal está elevado, ocorre uma resposta exagerada do TSH ao TRH exógeno; e esta resposta está suprimida em pacientes com hipertireoidismo, em casos de terapia de altas doses de tiroxina e em pacientes com hipotireoidismo central. O TRH também é encontrado nas ilhotas pancreáticas, no trato gastrintestinal, na placenta, no coração, na próstata, nos testículos e nos ovários. A produção de TRH nesses tecidos periféricos não é inibida pelo T3; o papel do TRH nesses tecidos permanece desconhecido. Tireotrofina (hormônio estimulador da tireoide) O hormônio estimulador da tireoide (TSH) é uma glicoproteína de 28 kD composta por subunidades ex e í3 ligadas de forma não covalente. A subunidade ex é comum a duas outras glicoproteínas hipofisárias, o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), e também ao hormônio placentário hCG, ao passo que a subunidade í3 é única para cada glicoproteína hormonal, conferindo propriedades de ligação e atividade biológica específicas. Os genes para as subunidades ex e í3 do TSH estão localizadas nos cromossomos 6 e l, respectivamente. A subunidade ex humana possui um núcleo de apoproteína de 92 aminoácidos e contém duas cadeias de oligossacarídeos; a subunidade í3 de TSH possui um núcleo de apoproteinas de 112 aminoácidos e contém uma cadeia de oligossacarídeos. As cadeias de aminoácidos das subunidades ex e í3 de TSH formam três alças que são entrelaçadas por um nó de cistina (Figura 7-18). A glicosilação ocorre no RER e no aparelho de Golgi, onde os resíduos de glicose, manose e fucose e o sulfato terminal ou ácido siálico estão ligados a um núcleo de apoproteina. Esses resíduos de carboidratos prolongam sua meia-vida plasmática e aumentam sua capacidade de induzir a ativação do receptor de TSH. O TSH controla o crescimento das células da tireoide e a produção hormonal por meio da ligação a um receptor de TSH específico, 1 entre aproximadamente 1.000 localizados na membrana basolateral de cada célula da tireoide. A ligação do TSH ativa Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 tanto o monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) como as vias fosfoinositol para a transdução. O gene do receptor de TSH está localizado no cromossomo 14; o produto é uma glicoproteína de cadeia única composta por 764 aminoácidos. O receptor de TSH é um membro da família de receptores ligados pela proteína G, com sete domínios transmembrana, com um ectodomínio envolvido na ligação e uma porção intramembrana e intracelular responsável pela ativação das vias de sinalização que promovem o crescimento das células da tireoide e a síntese e liberação dos hormônios (ver Figura 7- 19). O receptor de TSH está envolvido na patogênesede numerosas formas congênitas e adquiridas de hipotireoidismo e hipertireoidismo. Foram descritos defeitos hereditários que resultam na síntese ou ação deficiente do TSH, incluindo genes mutantes para os fatores de transcrição necessários para a diferenciação do tirotropo hipofisário (POUlFl, PROPl, LHX3, HESXl), receptor do TRH, cadeia B TSH, receptor de TSH e G, o qual faz a transdução do receptor ligador de TSH para a ativação da adenilciclase. Os anticorpos de bloqueio do TSH adquiridos também podem causar hipotireoidismo. A causa mais comum de distúrbio do receptor de TSH que ocasiona hipertireoidismo é a doença de Graves, na qual anticorpos ligam-se e estimulam o receptor de TSH. No entanto, o receptor de TSH está envolvido na etiologia de várias outras formas de hipertireoidismo. Mutações em linhagens germinativas ativadoras do o receptor de TSH podem ocasionar hipertireoidismo familiar, e mutações ativadoras somáticas resultam em adenomas tóxicos. Outras mutações podem levar a ativações aberrantes do receptor de TSH pelo hCG, hormônio glicoproteico placentário que é estruturalmente similar ao TSH no hipertireoidismo gestacional familiar. Efeitos do TSH sobre as células da tireoide O TSH tem várias ações sobre as células da tireoide. A maioria de suas ações é mediada pelo sistema proteína G-adenilciclase-AMPc, porém a ativação do sistema fosfatidilinositol resultando no aumento do cálcio intracelular também está envolvido. As principais ações do TSH incluem: A. Alterações na morfologia das células da tireoide – O TSH induz rapidamente os pseudópodos na borda coloide da célula folicular, acelerando a reabsorção de tireoglobulina. O conteúdo coloide é diminuído ao formarem-se gotículas de coloide intracelular, e a formação de lisossomas é estimulada, aumentando a hidrólise da tireoglobulina e a liberação do hormônio tireóideo. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 B. Crescimento celular – As células individuais da tireoide aumentam de tamanho; a vascularização é aumentada; e, em certo período, desenvolve-se o aumento da tireoide ou bócio. C. Metabolismo do iodo – O TSH estimula todas as fases do metabolismo do iodo, desde um aumento na absorção e no transporte do iodo até o aumento da iodinação da tireoglobulina e o aumento da secreção dos hormônios da tireoide e da tireoglobulina. O aumento da expressão de NIS e a estimulação da produção de AMPc medeiam o aumento do tansporte de iodo, e a hidrólise da PIP3 e o aumento do Ca+2 intracelular estimulam a iodinação da tireoglobulina. O efeito do TSH sobre o transporte de iodo por meio da célula é bifásico: inicialmente, ele é diminuído (efluxo de iodo) e, então, após um intervalo de várias horas, a captação de iodo aumenta. O efluxo de iodo pode ser ocasionado pela rápida hidrólise de tireoglobulina com liberação do hormônio e escape do iodo para fora da glândula. A estimulação mediada pelo TSH da captação de iodo pelo tirócito e a secreção de tireoglobulina também ocorrem após a administração de TSH recombinante para o tratamento com iodo radiativo e a monitoração de pacientes com cânceres de tireoide bem diferenciados. D. Outros efeitos do TSH – Outros efeitos incluem aumento da transcrição dos mRNAs para tireoglobulina e TPO; aumento da incorporação do iodo em MIT, DIT, T3 e T4; e aumento da atividade lisossômica, com secreção aumentada de T4 e T3 da glândula. Também ocorre aumento da atividade da 5'-deiodinase tipo l, a qual auxilia na preservação do iodo intratireóideo. O TSH tem efeitos adicionais sobre a glândula tireoide, incluindo o estímulo à captação de glicose, ao consumo de oxigênio e à oxidação da glicose. Existe um turnover acelerado dos fosfolipídeos e a estimulação da síntese dos precursores de purina e pirimidina, com aumento da síntese de DNA e RNA. TSH sérico O TSH intacto e a subunidade a isolada estão presentes no sangue circulante e são detectáveis por meio de imunoensaios em concentrações normalmente entre 0,5 e 4,0 mU/L e 0,5 a 2,0 µg/L, respectivamente. O nível do TSH sérico encontra-se aumentado no hipotireoidismo primário e diminuído na tireotoxicose, tanto endógena como pela ingestão oral excessiva de hormônios tireóideos. A meia-vida plasmática do TSH é de aproximadamente 30 minutos, e a taxa de produção diária é de cerca de 40 a 150 mU/d. A subunidade glicoproteica a com frequência encontra-se desproporcionalmente elevada em pacientes com tumores hipofisários secretores de TSH (ver adiante); também Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 está elevada em mulheres pós-menopáusicas normais devido ao aumento da síntese e da secreção relacionado ao aumento da produção de gonadotrofinas. Controle da secreção hipofisária de TSH Dois principais fatores controlam a síntese e a liberação de TSH: 1) O nível de T3 no interior das células tireotróficas, que regula a expressão do mRNA, a translação do TSH e a liberação do hormônio; e 2) O TRH, que controla a glicosilação pós-translacional e também a liberação. A síntese e a liberação de TSH são inibidas por altos níveis séricos de T 4 e T 3 (hipertireoidismo) e é estimulada por baixos níveis dos hormônios da tireoide (hipotireoidismo). Além disso, certos hormônios e fármacos inibem a secreção de TSH. Tais substâncias incluem a somatostatina, a dopamina e os agonistas da dopamina, como a bromocriptina, e altas doses de glicocorticoides. Doenças graves podem ocasionar inibição da secreção de TSH, podendo ocorrer um aumento rebote do TSH à medida que o paciente se recupera. A intensidade desses efeitos é variável; as substâncias supracitadas suprimem o TSH sérico apenas parcialmente, porém ele permanece detectável. Em contrapartida, o hipertireoidismo acentuado pode suprimir a concentração do TSH abaixo dos limites de detecção até mesmo nos imunoensaios de TSH mais sensíveis. Tumores e outros distúrbios do hipotálamo ou da adeno-hipófise podem afetar a secreção de TRH e TSH, respectivamente. Os distúrbios da hipófise que causam hipotireoidismo são denominados secundários, ao passo que a doença hipotalâmica que resulta em hipotireoidismo é denominada terciária. O diagnóstico diferencial dessas lesões é discutido a seguir (ver Avaliação da Tireoide). Outros estimuladores e inibidores da Tireoide O folículo da tireoide possui um rico suprimento de capilares que carreiam fibras nervosas noradrenérgicas originadas do gânglio cervical superior e fibras nervosas acetilcolina esterase positivas derivadas do nervo vago e dos gânglios tireóideos. As células parafoliculares C secretam calcitonina e o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP). Em experimentos com animais, estes e outros neuropeptídeos modificam o fluxo sanguíneo e a secreção hormonal da tireoide. Além disso, fatores de crescimento como a insulina, fator de crescimento insulin-like-1, proteínas ligadoras do fator de crescimento insulin-like, fator de crescimento epidérmico, fator de crescimento de transformação B1, fatores de crescimento fibroblásticos e seus receptores, assim como fatores autócrinos, como prostaglandinas e citocinas, modificam o crescimento celular da Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 tireoide e a produção hormonal. No entanto, ainda não está clara a importância clínica desses efeitos. Papel das deiodinases periféricas e hipofisárias A 5'-deiodinase hipofisária tipo 2 converte o T4 em T3 no cérebro e na hipófise, consistindo na principal fonte de T3 nos tireotrofos. Sua atividade aumentano hipotireoidismo, inicialmente mantendo um nível intracelular normal de T3 no cérebro, apesar da redução da concentração plasmática de T4. No hipertireoidismo, a redução de sua atividade modera a exposição da hipófise e das células neurais ao excesso do hormônio tireóideo. Em contrapartida, a 5'-deiodinase tipo 1 encontra-se reduzida no hipotireoidismo, conservando o T4, e aumentada no hipertireoidismo, acelerando o metabolismo do T4 e também causando aumento dos níveis séricos de T3 (ver Tabela 7- 2). Autorregulação da Tireoide A autorregulação pode ser defmida como a capacidade da tireoide de modificar sua função, a fim de adaptar-se às alterações da disponibilidade do iodo, independentemente do TSH hipofisário. Assim, os seres humanos podem manter uma secreção normal dos hormônios da tireoide, com ingestões de iodo que variam desde 50 µg a várias miligramas ao dia. Alguns dos efeitos da deficiência de iodo ou de seu excesso foram discutidos anteriormente. A maior adaptação à baixa ingestão de iodo é a síntese preferencial de T 3 em vez de T 4, aumentando a efetividade metabólica do hormônio secretado. Por outro lado, o excesso de iodo inibe várias funções da tireoide, incluindo o transporte de iodo, a formação de AMPc, a geração de peróxido de hidrogênio e a síntese e secreção hormonal. Alguns desses efeitos podem ser mediados pela formação de ácidos graxos iodinados intratireoidianos. A capacidade da tireoide normal de escapar desses efeitos (efeito de Wolff- Chaikof) permite que a glândula continue a secretar hormônios apesar de que este efeito é diferente uma alta ingestão de iodo na dieta É importante observar do efeito terapêutico do iodo no tratamento da doença de Graves. Neste caso, os altos níveis de iodo persistentemente inibem a endocitose da tireoglobulina e a atividade lisossômica, reduzindo a liberação do hormônio da tireoide e reduzindo o nível de hormônios circulantes. Além disso, quantidades farmacológicas de iodo reduzem a vascularização da glândula, o que pode ser benéfico durante a cirurgia da tireoide para doença de Graves. No entanto, este efeito também é transitório, com duração de 10 a 14 dias. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 Ações dos Hormônios da Tireoide 1. Receptores dos Hormônios da Tireoide e Mecanismos de Ação Os hormônios da tireoide exercem suas ações por meio de dois mecanismos gerais: 1) Ações genômicas exercidas por meio de interações do T3 com seus receptores nucleares, regulando a atividade genética; e 2) Ações não genômicas mediadas por interações do T3 e T4 com certas enzimas (p. ex., cálcio atpase, adenilato ciclase piruvatoquinase monomérica), transportadores de glicose e proteínas mitocondriais. Os hormônios da tireoide, não ligados no plasma, são transportados intracelularmente por carreadores específicos, incluindo o monocarboxilato transportador 8 (MCT8), o MCTlO e o polipetídeo ânion orgânico transportador (OATPlCl). O OATPlCl é expresso predominantemente nos capilares cerebrais e no plexo coroide, transportando preferencialmente o T4, ao passo que o MCT8 e o MCTlO são expressos em muitos tecidos e transportam tanto o T4 como o T3. Os hormônios tireóideos são transportados através da membrana celular para o citoplasma e subsequentemente para o núcleo, onde o T3 liga-se ao seu receptor específico. As síndromes clínicas associadas a mutações desses transportadores foram reconhecidas recentemente, como a síndrome de Allan- Herndon- -Dudley, na qual uma criança do sexo masculino afetada desenvolve retardo mental, miopatia, um distúrbio do movimento associado à elevação dos níveis séricos de T3 e baixos níveis séricos de T4. O receptor nuclear de T3 é um membro de uma superfamília de receptores nucleares que inclui receptores nucleares de glicocorticoides, mineralocorticoides, estrogênios, progestogênios, vitamina D3 e retinoides. Existem dois genes de receptores de hormônios da tireoide (RHI) em humanos: o RHTa localizado no cromossomo 17 e o RHTB localizado no cromossomo 3. Cada um dos genes possui pelo menos dois produtos de divisão, o RHTa 1 e 2 e RHTB 1 e 2, apesar de acreditar-se que o RHTa2 seja biologicamente inativo. Cada um destes receptores possui um domínio fixador de ligante carboxiterminal e um domínio fixador de DNA localizado centralmente, com dois dedos de cisteína zinco que facilitam sua ligação específica aos elementos de resposta dos hormônios da tireoide (TERs) nos promotores dos genes-alvo e regulam sua transcrição. A concentração dos receptores varia entre os tipos de tecido e seu estágio de desenvolvimento. Por exemplo, o cérebro contém predominantemente o RHTa, o fígado contém principalmente o RHTB e o músculo cardíaco contém ambos. As mutações Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2018 pontuais no domínio fixador de ligante do gene RHTB demonstraram ser responsáveis pela síndrome de resistência generalizada aos hormônios tireóideos (RGHT). Os RHTs ligam-se aos TERs, os quais geralmente consistem em sequências pareadas específicas de oligonucleotídeos (p. ex., AGGTCA). Os RHTs também podem funcionar como heterodímeros com receptores para outros fatores de transcrição, como os receptores de ácido retinoico e retinoide X. Os TERs geralmente estão localizados na porção superior do local de início das regiões codificadoras dos genes responsivos aos hormônios da tireoide. Naqueles genes positivamente regulados, os RHTs interagem com correpressores (p. ex., correpressor receptor nuclear [NCoR] e o mediador silencioso para o ácido retinoico e os receptores dos hormônios da tireoide [SMRT]) para reprimir a transcrição basal por meio do recrutamento das histonas deacetilases que alteram a estrutura da cromatina próxima. Quando os RHTs ligam-se ao T3, estes complexos correpressores são liberados e os RHTs ligados ao T3 associam-se a complexos coativadores que promovem a acetilação da histona local; eles também associam-se a outro complexo proteico (proteína de interação com o receptor de vitamina D/proteínas associadas ao RHT), o qual recruta a RNA polimerase II e inicia a transcrição do gene. Alguns genes são regulados negativamente pelos RHTs ligados ao T3 como a pré-pró-TRH e os genes das subunidades do TSH a e 13, porém os mecanismos moleculares envolvidos atualmente não são bem compreendidos. Os hormônios da tireoide alteram os níveis de expressão de mRNAs, e suas proteínas geram uma constelação de respostas teciduais específicas (ver Figura 7-21). As ações não genômicas dos hormônios da tireoide têm estado sob suspeita, com base em certas respostas teciduais rápidas que ocorrem antes que a transcrição de RNA possa ocorrer e pelo reconhecimento dos locais de ligação de T3 e T4 fora do núcleo. Por exemplo, recentemente foi demonstrado que os hormônios da tireoide ligam-se à proteína da membrana integrina aVB3, a qual está envolvida na ativação mediada pelos hormônios da tireoide da cascata de MAP quinase e na estimulação da angiogênese. 2. Efeitos fisiológicos dos hormônios tireóideos Os efeitos transcricionais do T 3 caracteristicamente demonstram um intervalo de horas ou dias para alcançar seu efeito total. Estas ações genômicas possuem vários efeitos vitais, incluindo crescimento tecidual, maturação cerebral, aumento da calorigênese e do consumo de oxigênio, assim como outros efeitos específicos sobre o coração, fígado, rins, músculo esquelético e pele. Entretanto, acredita-se que algumas ações do T3 não sejam genômicas, incluindo sua redução da atividade da 5'-deiodinase
Compartilhar