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SUMÁRIO 1. MINERAIS E METABOLISMO ÓSSEO .............................................................................. 4 1.1 O CÁLCIO ........................................................................................................................ 4 1.1.1 Vitamina D ................................................................................................................. 6 1.1.2 Hipercalcemia ............................................................................................................ 7 1.1.3 Hipocalcemia ............................................................................................................. 7 1.2 OS FOSFATOS ................................................................................................................. 8 1.2.1 Hiperfosfatemia ........................................................................................................ 10 1.2.2 Hipofosfatemia ......................................................................................................... 10 1.2.3 Fosfato urinário ....................................................................................................... 11 2. ENZIMOLOGIA ................................................................................................................... 12 2.1 LIPASE ........................................................................................................................... 13 2.2 AMILASE ....................................................................................................................... 14 2.3 FOSFATASE ALCALINA ............................................................................................. 15 2.4 FOSFATASE ÁCIDA ..................................................................................................... 17 2.5 GAMA GLUTAMIL TRANSPEPTIDASE (GGT) ....................................................... 18 2.6 ASPARTATO AMINOTRANSFERASE (AST) ........................................................... 18 2.7 ALANINA AMINOTRANSFERASE (ALT) ............................................................... 19 2.8 DESIDROGENASE LÁTICA ....................................................................................... 20 2.9 MARCADORES DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ..................................... 20 2.9.1 Mioglobina ............................................................................................................... 21 2.9.2 Creatinofosfoquinase .............................................................................................. 21 2.9.3 Troponinas ............................................................................................................... 24 2.9.4 Miosina de cadeia leve e pesada .............................................................................. 25 3. FUNÇÃO HORMONAL ...................................................................................................... 27 3.4 HIPÓFISE ....................................................................................................................... 30 3.4.1 Adeno-hipófise ......................................................................................................... 31 3.4.2 Neuro-hipófise ......................................................................................................... 35 3.4.3 Hiperpituitarismo .................................................................................................... 37 3.4.4 Hipopituitarismo ...................................................................................................... 38 3.5 TIREÓIDE ...................................................................................................................... 39 3.5.1 Hipertireoidismo ..................................................................................................... 40 3.5.2 Hipotireoidismo ....................................................................................................... 41 3.6 PARATIREÓIDE ............................................................................................................ 42 3.7 SUPRA-RENAIS ............................................................................................................ 45 3.7.1.1 Aldosterona ...........................................................................................................46 3.7.1.2 Cortisol .................................................................................................................. 47 3.7.1.3 Hormônios androgênios ........................................................................................ 48 3.8 PÂNCREAS .................................................................................................................... 48 3.8.1 Insulina ..................................................................................................................... 49 3.8.2 Glucagon .................................................................................................................. 51 3.8.3 Somastostatina ......................................................................................................... 51 3.9 SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO ................................................................... 52 3.9.1 Testosterona ............................................................................................................. 53 3.10 SISTEMA REPRODUTOR FEMININO ..................................................................... 54 3.10.1 Hormônios Sexuais Femininos .............................................................................. 55 3.10.2 Ciclo menstrual ...................................................................................................... 56 3.11 HORMÔNIOS DA GRAVIDEZ .................................................................................. 59 3.11.1 O estrógeno na gravidez ......................................................................................... 60 3.11.2 Progesterona na gravidez ....................................................................................... 60 3.11.3 Função da gonadotropina coriônica durante a gravidez ......................................... 61 3.11.4 Funções da somatomamotropina coriônica humana .............................................. 61 3.11.5 Lactação ................................................................................................................. 62 3.11.6 Retorno dos ciclos menstruais após o parto ........................................................... 63 4. LÍQUIDO SEMINAL .......................................................................................................... 64 4.1 VOLUME E VISCOSIDADE ........................................................................................ 65 4.2 pH .................................................................................................................................... 66 4.3 ESPERMOGRAMA ....................................................................................................... 66 4.3.1 Motilidade ................................................................................................................ 69 4.3.2 Morfologia ............................................................................................................... 69 5. EQUILÍBRIO HIDRO-ELETROLÍTICO E ÁCIDO-BÁSICO ........................................... 73 5.1 ÁGUA E ELETRÓLITOS .............................................................................................. 74 5.1.1 Metabolismo da água e eletrólitos ........................................................................... 75 5.2 REGULAÇÃO DO EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO ....................................... 77 5.3 PRINCIPAIS DISTÚRBIOS HIDRO-ELETROLÍTICOS ............................................. 78 6. EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO .......................................................................................... 79 6.1 BIOQUÍMICA DA RESPIRAÇÃO ................................................................................ 80 6.2 MECANISMOS RESPIRATÓRIOS DE COMPENSAÇÃO ......................................... 82 6.3 MECANISMOS RENAIS DE COMPENSAÇÃO ......................................................... 83 6.4 TAMPÕES FISIOLÓGICOS .......................................................................................... 83 6.5 GASOMETRIA ARTERIAL .......................................................................................... 84 7. VITAMINAS ........................................................................................................................ 89 7.1 VITAMINA A ................................................................................................................ 91 7.2 VITAMINA D ................................................................................................................92 7.3 VITAMINA E ................................................................................................................ 93 7.4 VITAMINA K ................................................................................................................ 94 7.5 VITAMINA B1 ............................................................................................................... 95 7.6 VITAMINA B2 .............................................................................................................. 96 7.7 NIACINA ....................................................................................................................... 97 7.8 VITAMINA B6 .............................................................................................................. 98 7.9 BIOTINA ....................................................................................................................... 98 7.10 ÁCIDO FÓLICO E VITAMINA B12 ......................................................................... 99 7.11 VITAMINA C ............................................................................................................ 101 8. LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO ............................................................................... 102 8.1 COLHEITA DE AMOSTRAS ...................................................................................... 103 8.2 LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO NO LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA ............................................................................................................................................. 104 8.2.3 Contagem celular ....................................................................................................... 106 8.3 LCR NO LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA ........................................................... 113 8.4 LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA ............................................................................................................................................. 120 8.5 LCR NO LABORATÓRIO DE SOROLOGIA ............................................................ 121 9. LÍQUIDOS CAVITÁRIOS ................................................................................................ 123 9.1 FORMAÇÃO ................................................................................................................ 123 9.2 TRANSUDATOS E EXSUDATOS ............................................................................. 124 9.3 PROCEDIMENTOS GERAIS DE LABORATÓRIO .................................................. 125 9.4 LÍQUIDO PLEURAL ................................................................................................... 125 9.5 LÍQUIDO PERICÁRDICO .......................................................................................... 127 9.6 LÍQUIDO ASCÍTICO ................................................................................................... 128 9.7 LÍQUIDO SINOVIAL .................................................................................................. 130 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 133 1. MINERAIS E METABOLISMO ÓSSEO Os ossos constituem um tecido metabolicamente ativo que sofre um processo contínuo de renovação e remodelação. Essa atividade é conseqüência, em sua maior parte, da atividade de dois tipos celulares principais, característicos do tecido ósseo: os osteoblastos e os osteoclastos. Um terceiro tipo celular, os osteócitos, derivados dos osteoblastos, são metabolicamente menos ativos, e sua função é menos conhecida. O tecido ósseo exerce duas funções primordiais: uma mecânica, relacionada à proteção de órgãos nobres e ao apoio e sustentação contra a gravidade; e uma metabólica, bastante complexa e não menos importante. Quanto à função metabólica, o tecido ósseo é a maior fonte de sais minerais e participa ativamente do equilíbrio eletrolítico do organismo como um todo. Os principais minerais envolvidos no metabolismo ósseo são o cálcio e o fosfato. Os ossos estão em contínua remodelação, obedecendo a estímulos físicos e hormonais, sendo que estes últimos podem ser sistêmicos ou locais. Dentre os controles hormonais sistêmicos destacam-se o paratormônio e a vitamina D, que são os maiores responsáveis pela manutenção de níveis séricos estáveis de cálcio, fundamentais para inúmeras funções orgânicas. 1.1 O CÁLCIO O cálcio está presente no organismo em quantidades maiores do que qualquer outro elemento mineral. Cerca de 99% do cálcio do organismo está no esqueleto, onde ele corresponde aos depósitos de fosfato de cálcio impregnados em uma matriz fibrosa e mole. A pequena quantidade de cálcio que não está no esqueleto está nos fluidos do organismo, onde ele se encontra ionizado em parte. É de grande importância na coagulação sangüínea, na manutenção da excitabilidade normal do coração, de músculos e nervos, e nos aspectos diferenciais da permeabilidade da membrana. Entre os alimentos comuns, o leite e o queijo são, sem dúvida, as fontes mais ricas em cálcio. 4 O cálcio é absorvido por um processo de transporte ativo que ocorre principalmente na parte superior do instestino delgado. O processo é regulado pela 1,25-diidroxicolecalciferol, um metabólito da vitaminaD que é produzido no rim em resposta a concentrações baixas de cálcio. Assim, a absorção de cálcio é ajustada às necessidades do organismo. A absorção é facilitada pela vitamina D, lactose e proteínas. Em uma dieta hiperprotéica, cerca de 15% do cálcio dietético é absorvido, comparado com 5% que se absorve em uma dieta baixa em proteínas. Quanto mais alcalino o conteúdo intestinal, menos solúveis os sais de cálcio. Um aumento na flora acidófila (por exemplo, pelos lactobacilos) é recomendado para reduzir o pH, o que favorecerá a absorção de cálcio. A absorção de cálcio é inibida por inúmeros fatores dietéticos que ocasionam as formações de sais insolúveis de cálcio no intestino, incluindo o fitato (por exemplo, grãos de cereais), oxalatos (por exemplo, espinafre) e fosfatos. Quando a absorção de gorduras é comprometida, há um aumento na quantidade dos ácidos graxos livres, os quais reagem com o cálcio para formar sabões insolúveis de cálcio. A regulação do metabolismo do cálcio é realizada pelos hormônios paratireiodianos (paratormônio) e pela calcitonina. A principal função das paratieóides é manter a concentração de cálcio ionizado plasmático entre os limites estreitos desse eletrólito, apesar das grandes variações na ingestão, excreção e deposição nos ossos. Além do efeito sobre o cálcio ionizado do plasma, o paratormônio controla a excreção renal do cálcio e o fosfato. 5 A administração do paratormônio eleva o cálcio sérico e reduz o fosfato sérico; aumenta a excreção urinária de fosfato, porém diminui a excreção de cálcio; remove o cálcio dos ossos, particularmente se a ingestão dietética de cálcio for inadequada; aumenta a fosfatase alcalina sérica, se houverem sido produzidas alterações no osso, e ativa a vitamina D no tecido renal, pelo aumento da velocidade de conversão de 25-hidroxicolecalciferol a 1,25-diidroxicolecalciferol. A secreção do hormônio paratireoidiano está sujeita ao controle de um mecanismo de retroalimentação (feedback) aos níveis de cálcio ionizado no plasma. A calcitonina é um hormônio que ocasiona a redução do cálcio sangüíneo, sendo produzida nas células C da glândula tireoidiana. A liberação de calcitonina é estimulada por níveis elevados de cálcio ionizado no soro. A calcitonina é efetiva diretamente sobre o osso, onde ela ocasiona efeitos metabólicos opostos aos do paratormônio, embora eles não atuem pelos mesmos mecanismos. 1.1.1 Vitamina D A ação principal da vitamina D é aumentar a absorção instestinal do cálcio e do fósforo. Também possui efeito direto no processo de calcificação. A forma metabolicamente ativa da vitamina é 6 o 1,25-diidroxicolecalciferol (calcitriol), o qual induz o transporte do cálcio através da membrana intestinal e a mobilização do cálcio ósseo. A conversão do colecalciferol em um derivado metabolicamente ativo começa com a formação de 25-hidroxicolecalciferol (calcifediol) por uma enzima mitocondrial hepática. Posteriormente, esse composto é convertido nos rins para 1,25- diidroxicolecalciferol. Essa etapa é fortemente afetada pelos níveis séricos de cálcio e paratormônio, além de estrógeno e prolactina. As células sangüíneas contêm muito pouco cálcio. A maior parte do cálcio sangüíneo, portanto, está no plasma (em concentrações em torno de 8,5 a 10,4 mg/dl), onde ele existe em três frações: ionizado (cálcio difusível), ligado a proteínas (não-difusível) e uma pequena quantidade sob a forma de complexo (citrato e fosfato). A fração ionizada exerce as funções fisiológicas. Todas essas formas do cálcio sérico estão equilibradas entre si. 1.1.2 Hipercalcemia Suas causas mais comuns são o hiperparatireoidismo primário e a hipercalcemia maligna. Pode ser detectada atualmente devido ao uso de analisadores com multicanais antes do aparecimento dos sintomas e constitui sempre um resultado inesperado, visto que esta sintomatologia é inespecífica, sendo: letargia, desnorteamento, irritabilidade, depressão, anorexia, vômito, náusea, constipação, poliúria, cálculo renal e arritmia. Vários fatores induzem o aumento da calcemia: hiperparatireoidismo, uso de diuréticos, hipervitaminose A e D, mieloma múltiplo, sarcoidose, imobilização após fratura óssea, osteíte fibrosa cística e doenças de Addison e Hodkim. Portanto, devem ser considerados e ponderados no diagnóstico. Se a concentração de cálcio não for maior que 3,5 mmol/L, o tratamento deve ser urgente. Porém, a causa deve ser tratada como, por exemplo, a remoção do adenoma, que pode curar completamente o paciente com hiperparatireoidismo primário. 1.1.3 Hipocalcemia 7 A hipocalcemia é uma situação séria que leva às mais diversas alterações das funções de órgãos que dependem da concentração normal de cálcio no sangue, tais: como eletrocardiograma anormal, formigamento, tetania, alterações mentais e desordens ósseas. As principais causas de hipocalcemia são: • o hipoparatireoidismo idiopático ou após cirurgia do pescoço, porque, nesses casos, o hormônio da paratireóide está sendo secretado em pequena ou nenhuma quantidade, tendo- se, assim, ausência dos efeitos reguladores da concentração plasmática de cálcio desse hormônio; • deficiência de vitamina D, que pode ser por pouca exposição à luz solar, o que impede o início das reações que irão formar o metabólito ativo da vitamina D, 1,25 diidróxicolecalciferol; • doenças renais também podem levar a hipocalcemia, uma vez que a excreção de cálcio pode estar alterada ou o rim não possa sintetizar o 1,25 didiidroxicolecalciferol. Em decorrência disso, outro problema pode surgir visto que, em resposta à hipocalcemia, a secreção do hormônio da paratireóide estará aumentada, o que pode levar a doença óssea uma vez que uma das ações desse hormônio é a reabsorção de cálcio do osso para manter a calcemia normal. Os receptores do hormônio da paratireóide também podem estar ineficientes, incapazes de responder ao hormônio, levando a um falso hipoparatireoidismo. Valores de referência para o cálcio Adultos (soro) 8,8 a 10,2 mg/dl Recém-nascidos 7 a 12 mg/dl Recém-nascidos prematuros 6 a 10 mg/dl Crianças 8,8 a 11 mg/dl Urina adultos (dieta normal) 150 a 300 mg/dia 1.2 OS FOSFATOS 8 O organismo de um adulto contém 500 a 600 gramas de fósforo amplamente distribuído. É o sexto elemento mais abundante do organismo. Os papéis biológicos do fósforo são: • confere resistência estrutural ao osso quando combinado com o cálcio na forma de hidroxiapatita; • participam como agentes essenciais no metabolismo energético e no metabolismo dos carboidratos e gorduras; • atuam como tampão no plasma e na urina; • mantêm a integridade celular; • regulam a atividade de algumas enzimas; • regulam o transporte de oxigênio através do 2,3 difosfoglicerato eritrocitário. O fósforo está presente virtualmente em todos os alimentos. A média do consumo de fósforo por adultos é 800 a 1500 mg/d, dos quais cerca de 70% é absorvido principalmente pelo jejuno e o restante é excretado pelas fezes. No organismo, o fósforo está assim distribuído: • Fosfato no esqueleto (80 a 90% do total); • Fosfato intracelular (10 a 20 % do total); • Fosfato extracelular (menos de 0,1% do total). Níveis de fosfatos anormalmente elevados ocasionalmente precipitam na forma de fosfato de cálcio com a formação de cálculos nos rins e na bexiga. O metabolismo do fósforo é controlado por três órgãos principais: intestino delgado, rins e o esqueleto. Os fatores que regulam os níveis de fosfatemia são, em muitos casos, os mesmo que atuam sobre os teores de cálcio no sangue. Os níveis séricos de fósforo são inversamente proporcionais aos de cálcio sérico. O hormônio da paratireóide (PTH) é secretado em resposta à hipocalcemia ou hipomagnesemia. O PTH libera o cálcio e o fósforo para a circulação, mas, como a reabsorção tubular do fósforo é inibida, o nível de fosfato não se eleva, podendo mesmodiminuir, provocando o aumento 9 do cálcio sangüíneo. Habitualmente, 85 a 95% do fósforo filtrado pelo glomérulo são reabsorvidos; a secreção de PTH bloqueia esse mecanismo. A vitamina D exerce efeito sobre os níveis de fosfato pelo aumento da reabsorção óssea e, também, não elevação da absorção no lúmen intestinal. Além disso, a vitamina D em sua formula ativa, 1,25-dihidroxicolecalciferol, eleva a reabsorção tubular de fosfato. O hormônio do crescimento regula o crescimento ósseo, promove a absorção intestinal e a reabsorção renal de cálcio e fósforo. Quando secretado excessivamente, reduz os teores de fosfatemia, pela utilização de fosfato na formação óssea. 1.2.1 Hiperfosfatemia Considera-se hiperfosfatemia presente quando os níveis séricos são maiores que 5 mg/dl em adultos e 7 mg/dl em crianças e adolescentes. A hiperfosfatemia causa hipocalcemia pela precipitação do cálcio, redução na produção de vitamina D e o impedimento da reabsorção óssea mediada por PTH. As principais causas de hiperfosfatemia são: redução da excreção renal, aumento da ingestão, endocrinopatias, aumento do catabolismo e dano celular. A maioria das causas de hiperfosfatemia são indicadas pelo quadro clínico e pela avaliação dos níveis de eletrólitos no soro. Se a etiologia for obscura, o seguinte esquema deve ser seguido: • excluir a hiperfosfatemia em crianças e a causada por hemólise; • excluir a insuficiência renal pela determinação da creatinina sérica; • em casos de calcemia aumentada ou normal, considerar o excesso de vitamina D, malignidade óssea, Diabetes mellitus não tratado e acidemia. 1.2.2 Hipofosfatemia 10 A hipofosfatemia é definida como leve (2 a 2,5 mg/dl), moderada (1 a 2 mg/dl) ou severa (menos que 1 mg/dl). As causas mais comuns são retirada repentina do álcool e tratamento de cetoacidose diabética. Devem ser investigadas as causas mais comuns de hipofosfatemia severa, como alcalose respiratória, alcoolismo crônico, cetoacidose alcoólica, cetacidose diabética, ansiedade, hiperparatireidismo baseado na observação clínica e testes bioquímicos de rotina. Se a etiologia não for óbvia, proceder a determinação da velocidade de excreção urinária de fosfato. Outros eletrólitos a serem medidos: • Magnésio: a hipomagnesemia muitas vezes está associada ao o deslocamento de fosfato para o interior das células; • Cálcio: a hipercalcemia é comum no hiperparatiredismo primário; • Potássio: alterações do potássio sérico estão associadas a certas causas, de hipofosfatemia, tais como cetoacidose diabética e alcoolismo. 1.2.3 Fosfato urinário O fosfato urinário varia com a idade, massa muscular, função renal, nível de hormônio paratireóideo, hora do dia e dieta. Nessa avaliação, emprega-se urina de 24 horas colhida sem conservante. Valores de referência para o fósforo Adultos 2,2 a 4,5 mg/dl Recém-nascidos 3,5 a 9,6 mg/dl Crianças 4,0 a 7,0 mg/dl Urina (adultos) 400 a 1300 mg/dia 11 2. ENZIMOLOGIA Chamamos de enzimas as proteínas complexas (heteroproteínas ou proteínas derivadas) que atuam como catalisadores nos processos biológicos. Assim, as reações que ocorrem nos organismos vivos são catalisadas pelas enzimas. Em outros casos, atuam fora da célula em que são produzidas. Daí serem chamadas de enzimas extracelulares ou exoenzimas. Elas são compostos facilmente destruídos pelo calor (temperatura acima de 70º C), por agitação intensa, por ondas ultravioletas e ultra-sonoras, por substâncias como o cianeto de sódio, o fluoreto de sódio, traços de metais pesados, ácidos ou bases etc. Quanto à ação, a teoria mais aceita é a de que a enzima e a substância sobre a qual vai agir (chamada substrato) formam um composto intermediário que, posteriormente, sofre um desdobramento, regenerando a enzima. Elas são catalisadores altamente específicos, ou seja, para cada substrato devem existir poucas (ou apenas uma) enzimas. A nomenclatura é feita a partir do nome do substrato sobre o qual a enzima atua, seguido da terminação ase. Por exemplo : urease, que catalisa a hidrólise da uréia; maltase, que catalisa a hidrólise da maltose. 12 2.1 LIPASE A lipase é a enzima digestiva produzida principalmente pelas células acinares do pâncreas exócrino. Tem o papel fisiológico de hidrolisar as longas cadeias de triglicerídeos no intestino delgado (lipólise). Sua avaliação é essencial no diagnóstico das patologias pancreáticas. Ela se eleva nas primeiras 8 horas após o início da agressão pancreática, atingindo valores mais altos em 24 horas e mantendo-se elevada em torno de 7 a 14 dias. Seus níveis geralmente não permanecem elevados por mais de 2 semanas. Quando isso acontece, sugere complicações como abscessos e pseudocistos. Normalmente, seus níveis elevam-se quase que paralelamente aos da amilase, um pouco mais tarde, mantendo-se elevados por um período mais longo. Seu aumento não necessariamente se correlaciona com a gravidade da doença. O uso combinado da avaliação sérica da lipase e de amilase permite um melhor diagnóstico. Cerca de 20% dos casos de pancreatite aguda cursam com níveis de amilase normais e com a lipase isoladamente elevada. Nas parotidites agudas, em que a amilase pode se apresentar elevada, os níveis séricos de lipase não se alteram, auxiliando no diagnóstico diferencial. A lipase é, portanto, um marcador mais específico de doença pancreática aguda do que a amilase. Seus níveis estão aumentados em pacientes com pancreatite aguda e recorrente, abscesso ou pseudocisto pancreático, trauma, carcinoma de pâncreas, obstrução dos ductos pancreáticos, e no uso de fármacos (opiáceos). Está também aumentada na maior parte das condições inflamatórias da cavidade abdominal, nas doenças do trato biliar, nos abscessos abdominais e na insuficiência renal aguda e crônica (com menor freqüência do que a amilase). A lipase é filtrada pelos glomérulos, devido ao seu baixo peso molecular. Em condições usuais, é totalmente reabsorvida pelos túbulos proximais, estando ausente da urina de pacientes normais. Nos distúrbios renais que cursam com alteração da capacidade de reabsorção tubular, a lipase pode ser detectada na urina, numa relação inversa com o clearance da creatinina. Valor de referência: 28 a 280 U/l. 13 2.2 AMILASE As amilases são enzimas que catalisam a hidrólise da amilopectina, da amilose e do glicogênio. A amilase presente no sangue e na urina de indivíduos normais é de origem pancreática (predominantemente forma P) e das glândulas salivares (forma S). A avaliação dos níveis séricos da amilase tem grande utilidade clínica no diagnóstico das doenças do pâncreas e na investigação da função pancreática. Na pancreatite aguda, os níveis de amilase podem alcançar valores de quatro a seis vezes o limite superior de referência, elevando-se em 2 a 12 horas e retornando a níveis normais em 3 a 4 dias. A magnitude da elevação da amilase não se correlaciona com a gravidade da lesão pancreática. Cerca de 20% dos casos de pancreatite aguda podem cursar com valores normais de amilase. Por isso, a dosagem concomitante dos níveis de lipase é importante, permitindo o diagnóstico desses casos. Nos casos que evoluem com formação de pseudocistos, os níveis de amilase continuam elevados por mais tempo. Os abscessos pancreáticos também podem elevar os níveis séricos da amilase. As pancreatites crônicas cursam com níveis normais ou pouco elevados de amilase. O carcinoma pancreático cursa com níveis normais; a elevação é vista em menos de 5% dos pacientes. Na maior parte dos casos, os níveis de amilase só se elevam quando o tumor provoca a obstrução do ducto pancreático principal. As causas não-pancreáticas de aumento da amilase incluem lesões inflamatórias das glândulas salivares, como parotidite, apendicite aguda, gravidez tubária rota, úlcera péptica perfurada, trauma pancreático, obstrução intestinal, aneurisma dissecante da aorta,pós-operatório de cirurgias torácicas e abdominais, queimaduras, doenças do trato biliar, traumas e uso de um grande número de drogas como morfina e derivados. A amilase pode estar elevada também em neoplasias, como as pulmonares e as ovarianas, e estudos apontam que a elevação se dá à custa da amilase do tipo S. Os níveis urinários de amilase permanecem alterados por períodos mais longos que os séricos. Nos casos de complicação com pseudocisto de pâncreas, a amilase urinária pode permanecer elevada por semanas, após os níveis séricos terem retornado ao normal. Nos indivíduos com função renal normal, a proporção entre o clearance de amilase e a creatinina é constante, com valores de referência usuais de 2 a 5%. Na pancreatite, o clearance da amilase está aumentado, e, portanto, a proporção entre o clearance de amilase/creatinina está elevada. Valores acima de 8% são comuns na pancreatite 14 aguda. Valores elevados podem ser encontrados também em queimados, na insuficiência renal e no mieloma múltiplo. Na macroamilasemia, a amilase encontra-se ligada a uma imunoglobulina, e o complexo formado é muito grande para ser filtrado pelos glomérulos, o que leva a uma hiperamilasemia aparente que não indica doença; os valores séricos são muito altos, e os valores urinários, normais. Nesses casos, utilizam-se os resultados da relação entre o clearance de amilase/creatinina para se fazer o diagnóstico diferencial. Isso porque, na macroamilasemia, a relação é muito baixa, ao contrário da relação encontrada na pancreatite aguda. Valores de referência para amilase Soro de adultos 60 a 160 U/dl Urina 1500 a 1800 U/dia ou 70 a 275 U/h Líquido duodenal 50.000 a 80.000 Ud/l 2.3 FOSFATASE ALCALINA É uma enzima presente em praticamente todos os tecidos do organismo, especialmente nas membranas das células dos túbulos renais, ossos (osteoblastos), placenta, trato intestinal e fígado. Portanto, a fosfatase alcalina encontrada no soro é resultado da presença de diferentes isoenzimas originadas em diferentes órgãos, com predomínio das frações ósseas e hepáticas. Embora até hoje sua função ainda não esteja bem definida, a fosfatase alcalina parece estar envolvida com o transporte de lipídios no intestino e nos processos de calcificação óssea. A fosfatase alcalina óssea e a hepática partilham proteínas estruturais, codificadas por um mesmo gene. A fosfatase intestinal só se expressa em indivíduos dos grupos sangüíneos Lewis O e B. Além das isoenzimas conhecidas – óssea, hepática, intestinal e placentária -, podem ser encontradas isoformas patológicas, como a carcinoplacentária ou Regan, que ocorre por uma desrepressão do gene da fosfatase placentária em neoplasias. Outras isoformas incomuns têm sido descritas em várias neoplasias. Na prática, a grande utilidade da sua dosagem está na investigação de doenças hepatobiliares e nas doenças ósseas que cursam com aumento da atividade osteoblástica. 15 Como é totalmente excretada pela bile, durante muito tempo acreditou-se que sua elevação nas patologias hepatobiliares resultava da falência de excreção da enzima. Hoje sabe-se que a resposta hepática a qualquer tipo de agressão da árvore biliar é sintetizar fosfatase alcalina, principalmente nos canalículos biliares. Isso explica sua marcada elevação nas patologias do trato biliar. A elevação tende a ser maior nas obstruções extra-hepáticas (litíase e carcinoma de cabeça de pâncreas) do que nas intra-hepáticas (processos invasivos). Isso acontece por uma combinação de aumento de produção associado à diminuição da excreção. Por isso, é considerada um marcador importante para processos obstrutivos hepáticos. Níveis elevados podem ser também encontrados em outras lesões hepáticas ativas e nas infiltrativas com níveis mais moderados de elevação. Também aumenta nos carcinomas hepáticos primários e secundários. Nas doenças ósseas, o maior aumento dos níveis séricos da fosfatase alcalina é encontrado na doença de Paget (valores de 10 a 25 vezes o normal). Níveis moderadamente elevados podem ser encontrados na osteomalacia, em alguns tumores ósseos e no hiperparatireoidismo primário e secundário. As fraturas levam a um aumento transitório, e na, osteoporose, os valores são normais. Nas neoplasias, os níveis da fosfatase alcalina são úteis para avaliar a presença de metástases envolvendo fígado e osso. Valores muito elevados são vistos em pacientes com lesões osteoblásticas, como as encontradas no carcinoma de próstata com metástase óssea. Elevações menores são vistas quando as lesões são osteolíticas, como as encontradas no carcinoma metastático de mama. Outras condições malignas com infiltração hepática, como leucemias, linfomas e sarcoma, podem cursar também com elevação da fosfatase alcalina. Recém-nascidos e crianças, mas especialmente adolescentes, apresentam valores significativamente mais elevados do que os adultos, devido ao crescimento ósseo. Durante a fase de crescimento rápido da adolescência (estirão da puberdade), são encontrados níveis extremamente elevados. Normalmente, os valores são discretamente mais elevados em homens do que em mulheres, e essa diferença desaparece durante e após a menopausa. Em população idosa, existe uma diminuição dos níveis séricos habitualmente encontrados, como conseqüência do aumento da incidência de osteoporose nessa faixa etária. Níveis elevados em duas a três vezes podem ser encontrados durante a gravidez, especialmente no terceiro trimestre, por produção placentária. Níveis diminuídos podem ser encontrados no hipotireoidismo, na anemia perniciosa, nas hipofosfatemias e no uso de drogas, como contraceptivos orais. Aumentos dos níveis séricos podem 16 ser encontrados após uma refeição com alimentos ricos em gordura, especialmente em pacientes do grupo sangüíneo O ou B, devido à elevação da fração intestinal. Recomenda-se, portanto, que seja avaliada sempre em jejum. Valores de referencia para a fosfatase alcalina Adultos 20 a 105 U/L Crianças de 0 a 3 meses 70 a 220 U/l Crianças de 3 meses a 10 anos 60 a 150 U/l Jovem de 10 a 15 anos 60 a 260 U/l 2.4 FOSFATASE ÁCIDA O termo fosfatase ácida designa um grupo heterogêneo não específico de fosfatases que exibem pH ótimo entre 4,5 a 7 e catalisam a hidrólise de monoéster ortofosfórico produzindo um álcool e um grupo fosfato. A fosfatase ácida é amplamente distribuída pelos tecidos. As maiores concentrações ocorrem na próstata, no fígado, na medula óssea, nos eritrócitos e nas plaquetas. No homem adulto, a próstata contribui com mais de 50% da enzima presente no soro. Os níveis de fosfatase ácida no soro apresentam importância clínica no diagnóstico e monitorização do câncer de próstata, em especial pelo emprego da fração prostática da fosfatase. Os pacientes com carcinoma de próstata confinados dentro da cápsula normalmente apresentam níveis normais da fosfatase ácida sérica; já nos casos com metástases, mais da metade dos pacientes apresenta níveis elevados. Níveis alterados podem ser também observados em pacientes com hipertrofia benigna de próstata, retenção urinária de monta e após manipulação prostática. A fração não-prostática encontra-se fisiologicamente elevada nas crianças em fase de crescimento e patologicamente aumentada em condições em que existe um hipermetabolismo ósseo. Valores elevados são encontrados na doença de Paget e em outras patologias ósseas, no hiperparatireoidismo, nas metástases ósseas, como no câncer de mama, de pulmão, de tireóide, nos mielomas e em situações de grande destruição de eritrócitos e de plaquetas. Elevam-se também em doenças metabólicas, como doença de Gaucher, doença de Niemann-Pick e em leucemias e outras patologias hematológicas. 17 Valor de referência da fosfatase ácida prostática em adulto: 0,5 a 1,9 U/l. 2.5 GAMA GLUTAMIL TRANSPEPTIDASE (GGT) A gama glutamil transpeptidase ou transferase(GGT) é uma enzima presente nas membranas celulares e nas frações microssômicas envolvidas no transporte de aminoácidos através da membrana celular. Está presente em ordem decrescente de abundância no túbulo proximal renal, fígado, pâncreas e intestino. Os níveis séricos da GGT são principalmente de origem hepática. Sua meia-vida é de 7 a 10 dias, aumentando para 28 dias nas lesões hepáticas ligadas ao álcool. Os valores são aproximadamente 50% mais elevados nos homens do que nas mulheres, e são diretamente proporcionais à massa corporal, ao consumo de álcool, ao fumo e ao nível de atividade física. Por mecanismo ainda não muito bem esclarecido, pacientes com Diabetes mellitus, hipertireoidismo, artrite reumatóide e doença pulmonar obstrutiva crônica freqüentemente apresentam valores aumentados de GGT. Valores muito elevados são encontrados nos quadros de colestase crônica, como na cirrose biliar primária ou na colangite esclerosante e em outras patologias hepáticas e biliares. Apresenta-se freqüentemente elevada em alcoólatras, mesmo sem hepatopatia; na obesidade e no uso de drogas, como analgésicos, anticonvulsivantes, quimioterápicos, estrogênio e contraceptivos orais. Nos períodos após infarto agudo do miocárdio, a GGT pode permanecer alterada por semanas. Valores de referência: 5 a 25 U/l para homens e 8 a 40 U/l para mulheres 2.6 ASPARTATO AMINOTRANSFERASE (AST) A aspartato aminotransferase (AST), antigamente denominada transaminase oxaloacética, é encontrada em diversos órgãos e tecidos, incluindo coração, fígado, músculo esquelético e eritrócitos. Está presente no citoplasma e também nas mitocôndrias, e, portanto, sua elevação indica um comprometimento celular mais profundo. No caso do hepatócito, isso se revela por uma elevação por 18 tempo mais prolongado no curso das hepatites virais agudas e uma elevação seletiva nos casos de hepatites alcoólicas, metástases hepáticas e necroses medicamentosas e isquêmicas. Aumentos da AST no soro são comumente encontrados no infarto agudo do miocárdio, elevando-se nas primeiras 12 horas e apresentando um pico sérico após algo em torno de 24 horas, com retorno aos valores normais em um período de 3 a 5 dias. Valores discretamente elevados podem ser encontrados também no infarto pulmonar, no infarto renal ou em casos de grandes tumores, na embolia pulmonar, distrofias musculares, traumas da musculatura esquelética, no pós-operatório, especialmente de cirurgias cardíacas, cirrose alcoólica, hepatite induzida por drogas, mononucleose infecciosa, citomegaloviroses, anemias hemolíticas, pancreatite aguda e acidente vascular cerebral. Valores de referência: 5 a 34 U/l. 2.7 ALANINA AMINOTRANSFERASE (ALT) A alanina aminotransferase (ALT), antigamente denominada transaminase pirúvica, é encontrada abundantemente no fígado, em quantidades moderadas no rim e em pequenas quantidades no coração e na musculatura esquelética. Sua origem é predominantemente citoplasmática, fazendo com que se eleve rapidamente após a lesão hepática, tornando-a um marcador sensível da função do fígado. Como marcador hepatocelular, apresenta valores alterados em patologias que cursam com necrose do hepatócito, como hepatites virais, mononucleose, citomegalovirose e hepatites medicamentosas. Entretanto, é um marcador menos sensível que a AST para hepatopatias alcoólicas, cirrose ativa, obstruções extra-hepáticas e lesões metastáticas no fígado. Pode apresentar-se elevada, em situações de trauma da musculatura esquelética, miosites e miocardites, e normal ou discretamente elevada nos casos de infarto agudo do miocárdio. Em recém-nascidos, podem ser encontrados valores superiores aos de referência, o que é atribuído à imaturidade dos hepatócitos nos neonatos, que apresentam as membranas celulares mais permeáveis. Os valores se igualam aos níveis do adulto em torno dos 3 meses de idade. Valores de referência: 6 a 37 U/l 19 2.8 DESIDROGENASE LÁTICA É uma enzima intracelular responsável pela oxidação reversa do lactato em piruvato. É amplamente distribuída em todas as células do organismo, concentrando-se mais especialmente no miocárdio, rim, fígado, hemácias e músculos. Possui cinco formas de isoenzimas. Seus valores encontram-se elevados em todas as situações em que ocorre grande destruição celular. Os níveis séricos elevados são encontrados em diferentes condições, como anemia megaloblástica e hemolítica, leucemias, linfoma, hemoglobinopatias, infarto agudo do miocárdio, infarto pulmonar, insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência coronariana, choque e hipóxia importantes, doenças musculares, lesões hepáticas, neoplasias primárias ou secundárias (metastáticas), hepatites, icterícias obstrutivas e cirrose. Valores de referência para a lactato desidrogenase (U/l) Soro 95 a 225 Urina 42 a 98 Líquor 7 a 30 2.9 MARCADORES DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO O infarto agudo do miocárdio continua a ser a emergência médica de maior morbidade e mortalidade cardiovascular. O objetivo de seu tratamento é salvar o miocárdio, o que é mais bem obtido quando o diagnóstico é realizado o mais precocemente possível. Como o coração é um órgão essencialmente contrátil, as proteínas estruturais e as enzimas requeridas para a produção de energia para a contração são potenciais marcadores de injúria miocárdica. O tamanho e a distribuição subcelular das proteínas e enzimas determinarão a rapidez com que estas enzimas localizadas no citoplasma celular atingirão a circulação mais precocemente após o início do quadro agudo. As proteínas e as enzimas localizadas no núcleo e na mitocôndria aparecerão mais tardiamente, pois deverão atravessar outras membranas antes de atingirem a circulação. As proteínas estruturais serão as últimas a elevarem-se; pois são liberadas somente após a degradação da matriz ser iniciada pelos macrófagos e pelas enzimas do lisossoma. 20 O marcador ideal deve localizar-se no órgão alvo (o coração). Embora a CK-MB seja o padrão- ouro para o diagnóstico de IAM atualmente, não é o ideal, pois está presente em outros órgão, diminuindo assim sua especificidade. A utilização de imunoensaios com anticorpos monoclonais e policlonais aumentou a especificidade desses exames e diminuiu a possibilidade de reação cruzada com outras proteínas. Para facilitar o diagnóstico, devem atingir precocemente a circulação permitindo uma triagem adequada. Testes com baixa sensibilidade não permitem o diagnóstico de pequenas lesões miocárdicas como as encontradas na angina instável; por isso, devem possuir precisão e alta sensibilidade. 2.9.1 Mioglobina A mioglobina é uma proteína de 18 quilodaltons (Kda) presente tanto em músculo esquelético como no cardíaco; constitui 2% da proteína muscular total e está localizada no citoplasma. Os valores normais de mioglobina variam de 6ng/ml a 110ng/ml, dependendo do imunoensaio utilizado, e é 25% mais elevado em homens do que em mulheres. Em pacientes com IAM, eleva-se após uma hora, atinge o pico entre seis e nove horas e retorna aos níveis normais entre 24 e 36 horas após o infarto. Níveis elevados de mioglobina, entretanto, devem ser interpretados com cautela em presença de doença renal ou muscular. Devido a isto, uma mioglobina negativa entre 2 e 12 horas após início do quadro praticamente afasta o diagnóstico de IAM; se positiva, necessita de uma melhor confirmação. 2.9.2 Creatinofosfoquinase A creatinofosfoquinase (CK) existe como um dímero, e é uma enzima reguladora da produção e da utilização do fosfato de alta energia em tecidos contráteis. A CK catalisa a fosforilação da creatinina produzida em rins, fígado, pâncreas pelo trifosfato de adenosina para formar o fosfato de creatina e o difosfato de adenosina. Devido ao seu tamanho (acima de 80 Kda), a CK não é eliminada pelos rins, sendo provavelmente eliminada pelo sistema retículo-endotelial.Sua análise no sangue pode ser realizada por vários métodos, que são muito similares, com pequenas alterações nos reagentes, nas condições e nas concentrações. 21 Resultados anormais podem ocorrer devido à interferência com os testes laboratoriais, com as doenças associadas ao clearence de proteínas e pela liberação de tecidos necróticos. A CK é um marcador muito sensível de lesão miocárdica acima de 90%, porém muitas outras condições elevam seus níveis diminuindo sua especificidade: as lesões musculares agudas, como a rabdomiólise, os exercícios extenuantes, as injeções intramusculares; as doenças crônicas, como as distrofias musculares, as polimiosites, o hipotireoidismo; o uso de drogas como a cocaína, o alcoolismo, a heroína; medicamentos, como os antidepressivos, os hipnóticos, o halotano, os sedativos, a hipertermia maligna e a sepse, todos podem determinar elevação de CK. A CK não se altera em nadadores, mesmo naqueles que treinam longa distância. Devido à variação de métodos e à sua especificidade, a CK total está sendo substituída por enzimas mais específicas. 2.9.2.1 Isoenzimas da CK A CK possui três isoenzimas compostas pela associação de duas subunidades; a “B” e a “M”. A CK-MM é muscular, pois sua mais elevada concentração ocorre em músculos estriados (99% em músculos esqueléticos e 77% no miocárdio). A CK-BB é a forma cerebral, pois é predominante neste órgão, mas pode ser encontrada também em outros órgãos (100% no cérebro, 96% no cólon e no íleo, 95% no estômago, 92% na bexiga, na próstata e no útero). A CK-MB é a forma predominante no coração (15% a 40% no coração, 1% a 4% em músculo esquelético), e é a enzima cuja dosagem é a escolhida atualmente para o diagnóstico de lesão miocárdica. O valor normal da CK-MB depende de método utilizado; para os testes que medem a atividade da CK-MB, como a eletroforese, a coluna cromatográfica ou a imunoinibição o valor varia de 10 U/L a 70 U/L; para os testes imunológicos que medem a massa (CK-MB massa); o normal é de 5 a 10ng/ml. A CK-MB, na ausência de reperfusão, eleva-se entre quatro e 12 horas após o início da dor, com pico em 24 horas e retorno ao normal em 48 a 72 horas. Em pacientes reperfundidos, eleva-se mais precocemente, sendo o pico enzimático mais precoce. Embora a dosagem da CK-MB seja ligada ao IAM, sendo o padrão-ouro para seu diagnóstico, várias cirurgias, como a revascularização miocárdica; as trocas valvares; os procedimentos de intervanção percutânea; as doenças musculares agudas e crônicas; o uso de cocaína; o 22 hipotireoidismo; a doença renal crônica; o alcoolismo e as isoenzimas variantes da CK (a macro – CK tipo I e a macro CK II) podem elevar seus níveis, levando a um falso-positivo. A macro-CK tipo I é encontrada em 4% dos pacientes hospitalizados, não está relacionada a doenças e é mais freqüente em mulheres idosas. A macro-CK tipo II é encontrada em pacientes com cirrose hepática e doença metastática. Atualmente, a introdução de testes com a utilização de anticorpos monoclonais e policlonais (CK – MB massa), que medem a concentração de enzimas protéicas em ng/ml e não-atividade enzimática U/L, e a utilização da subunidade MB tornaram os testes mais sensíveis e específicos. A dosagem da CK-MB massa permite o diagnóstico mais precoce e acurado do IAM; eleva-se três a quatro horas após o início dos sintomas e apresenta valor preditivo positivo de 100%, com medida única após 12 horas do início do quadro. A CK-MB massa tem sido avaliada também para estratificação de risco em pacientes com angina instável. Estudos de Petterson et al., avaliaram a CK-MB massa elevada ou a razão CK total/CK-MB massa em pacientes admitidos com suspeita de IAM, sem alterações eletrocardiográficas na unidade coronária. Em 25% dos pacientes, a CK-MB massa ou a razão estavam elevados. Em um seguimento de quatro anos, 64% destes faleceram devido a eventos coronários, comparados a 5% daqueles que não alteram a CK-KB massa (p= 0.001). Atualmente, vários serviços utilizam a CK-MB massa como marcadora de lesão miocárdica (ng/ml) e não mais a CK-MB atividade (U/L). Pode-se dizer que existe grande comparação entre os resultados de CK-MB massa e os das troponinas em sensibilidade e especificidade na ausência de doenças renais e musculares. Na tentativa de aumentar a especialidade da CK e CK-MB, alguns autores propuseram a utilização da razão CK total/CK-MB. Razão inferior a 5% estaria relacionada à lesão muscular; superior a 25%, à presença de variantes de macro-CK ou à CK-BB. Valores de 5% a 25% estariam relacionados ao IAM. Entretanto, pacientes com doença muscular crônica e portadores de lesões extensas musculares podem apresentar resultado falso-positivo de IAM. 2.9.2.2 Isoformas CK As isoformas da CK são as variantes das isoenzimas CK-MM e CK-MB. 23 A isoenzima CK-MM possui três isoformas (MM3, MM2 e MM1), cuja denominação advém da migração durante a eletroforese. A MM3 é a forma presente no músculo cardíaco e esquelético; após lesão muscular, a MM3 é liberada na circulação, sofre uma clivagem, produzindo MM2 e após MM1. A razão das isoformas no sangue aumenta a sensibilidade diagnóstica do IAM. É precoce, pois eleva-se após uma hora do início da dor precordial e normaliza-se após 16 horas. A isoforma CK-MB (MB2, MB1) é mais específica que a CK-MM para o diagnóstico da IAM. O critério diagnóstico de MB2 acima de 1,0 U/L e a razão MB2/MB1 acima de 1,5 U/L apresenta uma sensibilidade de 59% após duas a quatro horas e de 92% após quatro a seis horas após início dos sintomas. Apesar de vários relatos a seu favor, alguns autores não a consideram melhor do que a dosagem da CK-MB massa. Devido a sua elevação precoce e a sua rápida normalização na corrente sangüínea, as isoformas possuem utilidade somente nas primeiras horas de evolução do IAM (de uma a 18 horas). Após 18 horas de evolução, elas perdem em sensibilidade. Possuem papel importante no diagnóstico de reinfarto; uma razão MB2/MB1 positiva após 24 horas é indicativa de reinfarto ou extensão do IAM. Pode-se dizer que a mioglobina possui uma performance semelhante às isoformas, porém com uma menor especificidade. Atualmente, a maior limitação da utilização das isoformas seria seu custo e o tempo gasto para realização do exame. Pesquisas estão sendo realizadas para o aperfeiçoamento desse método. 2.9.3 Troponinas As troponinas foram reconhecidas como marcadoras de lesão miocárdica a partir dos anos 70. Em 1971 descreveu-se o complexo troponina contendo três componentes: a troponina C (TnC), a troponina I (TnI) e a troponina T (TnT), e sua utilização a partir de 1973, baseada em suas propriedades funcionais. O complexo troponina regula a interação entre a actina e a miosina nos músculos estriados, possuindo, portanto, papel no acoplamento eletromecânico desta musculatura. São encontradas nos filamentos finos entre a musculatura, assim como, nos filamentos finos entres os sarcômeros destes músculos (rápidos, lentos e cardíacos). Não são encontrados na musculatura lisa 24 onde existe outro regulador. A unidade estrutural mínima do músculo estriado fino consiste de uma ponte de sete monômeros de actina para um único complexo tropomiosina. A dosagem única de um marcador de lesão miocárdica na admissão é de pouco valor para afastar o diagnóstico do IAM. A sensibilidade da mioglobina é de 50%, da CK-MB massa de 60%, e da TnT de 64%, quando medidos na admissão de pacientes no pronto-socorro. A utilização das troponinas no diagnóstico do IAM apresenta vantagem sobre a dosagem da CK-MB massa devido à sua vantagem sobre a dosagem da CK-MB massa devido à sua especificidade, portanto, superior em pacientes renais e portadores de doenças musculares agudas e crônicas. Como se mantêm elevadas por vários dias não seria a dosagem de escolha para diagnóstico de reinfarto. Sua eficiência é maior na detecção delesão miocárdica mínima quando o paciente apresenta injúria miocárdica não diagnosticável pela utilização da CK-MB atividade, mas com elevação dos níveis séricos das troponinas. A sua grande limitação no momento é o custo, que deve diminuir no futuro devido à competição, como ocorreu com os kits de glicose. Sua utilização adequada para estratificação de risco, evitando admissões, e procedimentos desnecessários justificam o seu uso. 2.9.4 Miosina de cadeia leve e pesada O aparato celular dos músculos esqueléticos e cardíacos é composto por sarcômeros. Estes são compostos por filamentos grossos e finos que contêm o complexo troponina-tropomiosina. Os filamentos grossos são compostos por moléculas de miosina, as miosinas de cadeia leve (MCL) e as miosinas de cadeia pesada. A MCL existe em ambos os músculos, mas a utilização de anticorpos monoclonais pode diferenciá-las, tornando-a mais específica. A MCL eleva-se no plasma três a seis horas após o início do quadro e persiste por 10 dias. Como a MCL é uma proteína estrutural, estudos em animais têm demonstrado uma alta correlação com o tamanho do infarto, superior a outras enzimas. O valor pico da MCL apresenta alta correlação com a evolução e a injúria miocárdica pós-IAM comparada aos testes enzimáticos. 25 Em pacientes com angina instável, um estudo mostrou maior identificação de pacientes de alto risco em relação à TnT e/ou CK-MB massa. Níveis elevados de MCL correlacionaram-se com alterações eletrocardiográficas e com severidade da doença coronária comprovada por estudo hemodinâmico. Sua limitação atual seria a reação cruzada em pacientes renais crônicos e portadores de doença muscular, como também a inexistência de um método bem estabelecido para sua utilização clínica. As miosinas de cadeia pesada (MCP) no miocárdio possuem duas isoformas, alfa e beta, sendo que a MCP alfa parece específica para o coração. Além das limitações atuais pela reação cruzada com os músculos esqueléticos, por isso uma baixa especificidade, a liberação plasmática da MCP ocorre de 48 a 240 horas após o IAM, e o seu principal papel seria o de diagnóstico de IAM tardio. É de liberação contínua, parece ser pouco influenciada, mesmo pela reperfusão. Devido a isto, a MCP deve ser um marcador do tamanho do infarto. 2.10 UTILIZAÇÃO DOS MARCADORES À BEIRA DO LEITO Com a necessidade de um diagnóstico mais precoce de isquemia miocárdica, os testes à beira do leito foram desenvolvidos. Embora controverso na literatura, e muito criticados, os testes à beira do leito são hoje bastante justificáveis. Proporcionam um resultado precoce em torno de 15 minutos, não necessitam de grande quantidade de sangue, proporcionam o diagnóstico em pacientes sem alterações eletrocardiográficas, permitem a estratificação de risco e, no futuro, permitirão o diagnóstico de reperfusão e da reoclusão. Sua utilidade depende muito do marcador utilizado, ou da associação destes (mioglobina, CK- MB massa, TnI, TnT), que deverão ser utilizados segundo a clínica e o tempo de evolução do quadro. Devemos lembrar que, quando do lançamento dos testes para dosagem de glicemia, somente os laboratórios centrais ofereciam resultado preciso, e, hoje, os testes à beira do leito para a glicemia são reais e custo-efetivos. 26 3. FUNÇÃO HORMONAL O sistema endócrino é constituído por um grupo de órgãos (algumas vezes referidos como glândulas de secreção interna), cuja função principal é produzir e secretar hormônios diretamente no interior da corrente sangüínea. Os hormônios atuam como mensageiros para coordenar atividades de várias partes do corpo. 3.1 GLÂNDULAS ENDÓCRINAS Os principais órgãos do sistema endócrino são o hipotálamo, a hipófise, a tireóide, as paratireóides, os testículos e os ovários. Durante a gravidez, a placenta também atua como uma glândula endócrina, além de suas outras funções. O hipotálamo secreta vários hormônios que estimulam a hipófise: alguns desencadeiam a liberação de hormônios hipofisários e outros a suprimem. Algumas vezes, a hipófise é denominada glândula-mestra por controlar muitas funções de outras glândulas endócrinas. Alguns hormônios hipofisários produzem efeitos diretos, enquanto outros simplesmente controlam a velocidade com que outros órgãos endócrinos secretam seus hormônios. A hipófise controla a velocidade de secreção de seus próprios hormônios através de um circuito de retroalimentação (feedback), no qual as concentrações séricas (sangüíneas) de outros hormônios endócrinos estimulam-na a acelerar ou a alentecer sua função. Nem todas as glândulas endócrinas são controladas pela hipófise. Algumas respondem de modo direto ou indireto às concentrações de substâncias presentes no sangue: as células pancreáticas secretoras de insulina respondem à glicose e aos ácidos graxos; as células paratireoídeas respondem ao cálcio e ao fosfato; a medula adrenal (parte da glândula adrenal) responde à estimulação direta do sistema nervoso parassimpático. Muitos órgãos secretam hormônios ou substâncias similares aos hormônios, mas, geralmente, eles não são considerados parte do sistema endócrino. Alguns desses órgãos produzem substâncias que atuam somente na área próxima de sua liberação, enquanto outros não secretam seus produtos na corrente sangüínea. Por exemplo, o cérebro produz muitos hormônios, cujos efeitos são limitados basicamente ao sistema nervoso. 27 3.2 HORMÔNIOS Os hormônios são substâncias liberadas na corrente sangüínea por uma glândula ou órgão e que afetam a atividade de células de um outro local. Em sua maioria, os hormônios são proteínas compostas de cadeias de aminoácidos de comprimento variável. Outros são esteróides, substâncias gordurosas derivadas do colesterol. Quantidades muito pequenas de hormônios podem desencadear respostas muito grandes no organismo. Os hormônios ligam-se aos receptores localizados sobre a superfície da célula ou no seu interior. A ligação de um hormônio a um receptor acelera, reduz ou altera a função celular de uma outra maneira. Em última instância, os hormônios controlam a função de órgãos inteiros. Eles controlam o 28 crescimento e o desenvolvimento, a reprodução e as características sexuais. Eles influenciam a maneira como o organismo utiliza e armazena a energia. Além disso, os hormônios controlam o volume de líquido e as concentrações de sal e de açúcar no sangue. Alguns hormônios afetam somente um ou dois órgãos, enquanto outros afetam todo o organismo. Por exemplo, o hormônio estimulante da tireóide é produzido na hipófise e afeta apenas a tireóide. Em contraste, o hormônio tireoidiano é produzido na tireóide, mas afeta células de todo o organismo. A insulina, produzida pelas células das ilhotas pancreáticas, afeta o metabolismo da glicose, das proteínas e das gorduras em todo o organismo. 3.3 CONTROLES ENDÓCRINOS Quando as glândulas endócrinas funcionam mal, as concentrações séricas dos hormônios podem tornar-se anormalmente altas ou baixas, alterando as funções orgânicas. Para controlar as funções endócrinas, a secreção de cada hormônio deve ser regulada dentro de limites precisos. O organismo precisa detectar, a cada momento, a necessidade de uma maior ou menor quantidade de um determinado hormônio. O hipotálamo e a hipófise secretam seus hormônios quando detectam que a concentração sérica de um outro hormônio por eles controlado encontra-se muito alta ou muito baixa. Os hormônios hipofisários, então, circulam na corrente sangüínea para estimular a atividade de suas glândulas-alvo. Quando a concentração sérica do hormônio-alvo é a adequada, o hipotálamo e a hipófise deixam de produzir hormônios, uma vez que eles detectam que não há mais necessidade de estimulação. Esse sistema de retroalimentação regula todas as glândulas que se encontram sob controle hipofisário. Determinados hormônios que são controlados pela hipófise variam de acordocom programas previstos. Por exemplo, o ciclo menstrual de uma mulher envolve flutuações mensais da secreção do hormônio luteinizante e hormônio folículo-estimulante pela hipófise. Os hormônios ovarianos (os estrogênios e a progesterona) também apresentam flutuações mensais. Ainda não está claro como o hipotálamo e a hipófise controlam esses biorritmos. No entanto, sabe-se com certeza que os órgãos respondem a algum tipo de relógio biológico. Existem outros fatores que também estimulam a produção de hormônios. A prolactina, um hormônio secretado pela hipófise, faz com que as glândulas mamárias produzam leite. O lactente, ao sugar o mamilo, estimula a hipófise a secretar mais prolactina. A sucção também aumenta a secreção de ocitocina, a qual provoca a contração dos canais lactíferos, 29 conduzindo o leite até o mamilo para alimentar o lactente. As glândulas que não são controladas pela hipófise (p. ex., ilhotas pancreáticas e paratireóides) possuem seus próprios sistemas para determinar quando é necessária uma maior ou uma menor secreção. Por exemplo, a concentração de insulina aumenta logo após as refeições, pois o organismo precisa processar os açúcares dos alimentos. Entretanto, se a concentração de insulina permanecesse elevada, a concentração sérica de açúcar diminuiria perigosamente. Outras concentrações hormonais variam por razões menos óbvias. As concentrações de corticosteróides e do hormônio do crescimento são mais elevadas pela manhã e mais baixas no meio da tarde. As razões dessas variações diárias não são totalmente conhecidas. 3.4 HIPÓFISE A hipófise, também denominada glândula pituitária, é uma pequena glândula com cerca de 1 cm de diâmetro e peso de 0,5 a 1 g, localizada na base do cérebro, e que está ligada ao hipotálamo pelo pedúnculo hipofisário. Fisiologicamente, a hipófise pode ser dividida em duas partes distintas: o lobo anterior da hipófise, também conhecido como adeno-hipófise, e o lobo posterior da hipófise, também denominado neuro-hipófise. O lobo anterior da hipófise secreta seis hormônios muito importantes, além de vários outros de menor importância, enquanto o lobo posterior secreta dois hormônios importantes. Os hormônios da adeno-hipófise desempenham papéis relevantes no controle das funções metabólicas em todo organismo. O hormônio do crescimento promove o crescimento ao afetar a síntese de proteínas, bem como a multiplicação e a diferenciação celulares. A corticotropina controla a secreção de alguns 30 hormônios córtico-suprarrenais, que, por sua vez, afetam o metabolismo da glicose, das proteínas e das gorduras. O hormônio tíreo-estimulante (tireotropina) controla a velocidade de secreção de tiroxina pela glândula tireóide, e, por sua vez, a tiroxina controla a velocidade da maioria das reações químicas em todo o organismo. A prolactina promove o desenvolvimento da glândula mamária e a produção de leite, e, por sua vez, os dois hormônios gonadotrópicos distintos, o hormônio folículo-estimulante e o hormônio luteinizante controlam o crescimento das gônadas, bem como as suas atividades reprodutivas. O hormônio antidiurético (também denominado vasopressina) controla a excreção de água na urina e, dessa maneira, ajuda a controlar a concentração de água nos líquidos corporais. A ocitocina ajuda a liberar o leite das glândulas da mama para os mamilos durante a sucção e, possivelmente, participa do parto ao final da gravidez. Quase todas as secreções da hipófise são controladas por sinais hormonais ou nervosos provenientes do hipotálamo. Com efeito, quando se remove a hipófise de sua posição normal sob o hipotálamo, transplantando-a para alguma outra parte do corpo, a velocidade de secreção de seus diferentes hormônios (à exceção da prolactina) cai para níveis muito baixos, atingindo zero no caso de alguns hormônios. A secreção do lobo posterior da hipófise é controlada por sinais nervosos, que se originam no hipotálamo e terminam na neuro-hipófise. Em contraste, a secreção pelo lobo anterior da hipófise é controlada por hormônios denominados hormônios ou fatores hipotalâmicos de liberação ou inibição, secretados pelo próprio hipotálamo e, posteriormente, transportados até a adeno-hipófise por meio de pequenos vasos sangüíneos conhecidos como vasos porta-hipotalâmico-hipofisários. Na adeno-hi- pófise, esses hormônios de liberação e inibição atuam sobre as células glandulares, controlando sua secreção. O hipotálamo é um centro coletor da informação relacionada com o bem-estar interno do organismo, sendo que grande parte dessa informação é utilizada no controle das secreções dos numerosos hormônios hipofisários importantes. 3.4.1 Adeno-hipófise 31 A adeno-hipófise é responsável pela síntese e secreção de basicamente seis hormônios: hormônio tireotrófico (TSH), hormônio luteinizante (LH), hormônio folículo-estimulante (FSH), prolactina (Prl), hormônio de crescimento (GH) e hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). 3.4.1.1 Hormônio Tireotrófico (TSH) O TSH, hormônio tireotrófico, também conhecido como hormônio tiroestimulante ou tireotrofina, é sintetizado nas células tirotróficas, e sua função principal é a de estimular o trofismo (nutrição) da glândula tiróide e a síntese e secreção de seus hormônios tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) mecanismo pelo qual participa do controle do metabolismo em geral. O TSH ativa todas as etapas que envolvem a biossíntese e secreção dos hormônios tiroidianos, como: 1 - transporte ativo do iodeto do líquido extracelular para as células foliculares; 2 - oxidação do iodeto e incorporação do iodo à molécula de tiroglobulina - proteína presente em grande quantidade no interior do colóide, cuja síntese também é estimulada pelo TSH; 3 - conjugação das iodotironinas, processo envolvido na síntese de T3 e T4; 4 - desencadeia o processo de secreção hormonal. 3.4.1.2 Gonadotrofinas (LH e FSH) Os dois hormônios gonadotróficos ou gonadotrofinas, conhecidos por hormônio folículo- estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH), são produzidos na mesma célula hipofisária. Os fatores que determinam a secreção preferencial de um ou outro hormônio não são completamente conhecidos. Esses hormônios agem fundamentalmente sobre as gônadas, estimulando o seu crescimento e dife- renciação, tornando-as aptas para sua função reprodutiva e endócrina. As ações do FSH sobre as gônadas femininas estimulam o crescimento e maturação dos folículos ovarianos, como na síntese dos esteróides sexuais femininos, conhecidos como estrógenos, pelas células tecais. Estes esteróides possuem várias ações: a) agem em conjunto com o FSH nas próprias células foliculares, participando do processo de maturação folicular; 32 b) são importantes para o desencadeamento do processo de ovulação que se completa com a ação do LH sobre o folículo ovariano maduro; c) exercem importantes efeitos sobre o trato reprodutor feminino, preparando-o para a concepção; d) agem sobre a mama, preparando-a para a lactação; e) são responsáveis pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários. O LH age conjuntamente com o FSH durante o período de desenvolvimento dos folículos ovarianos. É responsável também pelo processo de ovulação que ocorre aproximadamente na metade do ciclo sexual feminino e pelo estímulo da síntese de um outro esteróide sexual, a progesterona, que, antes da ovulação, é sintetizada nas células do estroma ovariano e, depois da ovulação, no corpo lúteo. A progesterona estimula as funções secretoras do endométrio e inibe a contratilidade uterina, ações relacionadas com a manutenção do feto no útero. Nas gônadas masculinas (testículos), o FSH é responsável pela espermatogênese, em conjunto com o esteróide sexual masculino a testosterona, cuja síntese se dá sob estímulo do LH. A testosterona também age nas estruturas que compõem o trato reprodutor masculino, sendo que, no homem,
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