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Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 1 GEOGRAFIA DO NORDESTE Prof. Italo Trigueiro E-mail: prof.italotrigueiro@gmail.com Prof. Joanilson Jr. E-mail: prof.joanilson@gmail.com APRESENTAÇÃO “Eu viajo para conhecer a minha Geografia!” Walter Benjamin. A matéria de Geografia – associada a Conhecimentos Gerais – têm feito parte do programa de estudo de diversos concursos, incluindo o concurso do Banco do Nordeste, retratando o caráter inovador da disciplina a partir da abordagem crítica. O material traz uma visão una e múltipla sobre a Geografia, abordando especificidades físicas e humanas. Natureza e sociedade se misturam e moldam o planeta em seus vários recantos. Os temas abordados adentram na explicação da natureza e do dia-a-dia dos habitantes do planeta, abordando os mais variados temas. Várias temáticas vêm acompanhadas de textos complementares para que um maior arcabouço teórico possa ser oferecido ao candidato. Acreditamos que a partir dessa leitura possamos ampliar o conhecimento de nossa realidade. Sucesso! Prof. Italo Trigueiro. Prof. Joanilson Jr. “Não é, somente, agindo sobre o corpo dos flagelados, roendo-lhes as vísceras e abrindo chagas e buracos na sua pele, que a fome aniquila a vida do sertanejo, mas, também, atuando sobre o seu espírito, sobre a sua estrutura mental, sobre sua conduta social. (...) Nenhuma calamidade é capaz de desagregar tão profundamente e num sentido tão nocivo a personalidade humana como a fome quando alcançada os limites da verdadeira inanição.” Josué de Castro. In: Geografia da Fome. INTRODUÇÃO O Nordeste é uma das cinco macrorregiões do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apresentando uma superfície de 1.554.257,004 km², ocupando cerca de 18,2% do território nacional, o que lhe assegura a posição de terceira região em extensão territorial do país, atrás do Norte e do Centro-Oeste e bem maior que o Sul e o Sudeste. As últimas estimativas do IBGE apontam para um crescimento demográfico no qual a população da região atingiu, em 2009, o número de 53.591.197 habitantes. ESTADOS ÁREA (km²) POPULAÇÃO MARANHÃO 331.983,293 6.367.138 PIAUÍ 251.529,186 3.145.325 CEARÁ 148.825,602 8.547.809 R. G. DO NORTE 52.796,791 3.137.541 PARAÍBA 56.439,838 3.769.977 PERNAMBUCO 98.311,616 8.810.256 ALAGOAS 27.767,661 3.156.108 SERGIPE 21.910,348 2.019.679 BAHIA 564.692,669 14.637.364 Fonte: IBGE, 2009. É composta por nove estados – Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte (incluindo o Atol das Rocas), Paraíba, Pernambuco (incluindo o arquipélago de Fernando de Noronha e o arquipélago de São Pedro e São Paulo), Alagoas, Sergipe e Bahia –, sendo assim a região que apresenta o maior número de estados. Porém este Nordeste, enquanto região e posto da forma como se encontra, não é uma área cristalizada, ela apresentou inúmeras alterações ao longo dos anos até atingir a atual configuração. Está situado entre os paralelos de 01° 02' 30" e 18° 20' 07" de latitude sul e entre os meridianos de 34° 47' 30" e 48° 45' 24" a oeste do meridiano de Greenwich. Limita-se a norte e a leste com o Oceano Atlântico; ao sul com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e a oeste com os estados do Pará, Tocantins e Goiás. Contudo, a consciência de uma “unidade territorial” construiu-se apenas no século XX. Ela foi, em grande parte, fruto das mitologias existentes em torno de sua região que foram criadas pelas elites aliadas a figura da mídia. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 2 O PRECONCEITO CONTRA O NORDESTINO “O Nordeste, como recorte espacial, como uma identidade regional à parte, nem sempre existiu, como faz crer quase toda a produção artística, literária e acadêmica contemporâneas, que normalmente se referem ao Nordeste como este tendo existido desde o período colonial; os portugueses já teriam desembarcado no Nordeste e teria sido esta a área onde primeiro se efetivou a implantação da colonização portuguesa, com o sucesso da produção açucareira. Esta designação Nordeste para nomear uma região específica do país, tendo pretensamente uma história particular, só vai surgir, no entanto, muito recentemente, na década de 10 do século XX. Antes, a divisão regional do Brasil se fazia apenas entre o Norte, que abrangia todo o atual Nordeste e toda a atual Amazônia e o Sul que abarcava toda a parte do Brasil que ficava abaixo do estado da Bahia. Por isso, ainda hoje, os nordestinos são comumente chamados de nortistas em São Paulo ou em outros estados do Sul e do Sudeste e os moradores destas regiões dizem que vão passar férias no Norte, para se referirem ao Nordeste. Isto indica, também, que a criação da idéia de Nordeste e, conseqüentemente, da idéia de ser nordestino, surgiram nesta própria área, foram produzidas pelas elites políticas e pelos letrados deste próprio espaço, não foi uma criação feita de fora, por membros das elites de outras regiões. O sentimento, as práticas e os discursos regionalistas que irão dar origem à região que conhecemos, hoje, como Nordeste, emergiram entre as elites ligadas às atividades agrícolas e agrárias tradicionais, como à produção do açúcar, do algodão ou ligadas à pecuária, mesmo que muitos destes vivessem nas cidades, exercessem profissões liberais ou fossem comerciantes, de parte do então chamado Norte do país, no final do século XIX. Este regionalismo, como vimos, é fruto da própria forma como se constituiu o Estado Nacional brasileiro, caracterizando, por um lado, pela centralização das decisões, e por outro, por sua presença episódica e sua incapacidade de dar soluções para os problemas que afetam os interesses das elites de certas áreas do país, notadamente daquelas que representavam áreas que eram ou se tornaram periféricas do ponto de vista econômico ou que ficavam distantes do centro das decisões políticas.” JÚNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. Preconceito contra a origem geográfica e de lugar: as fronteiras da discórdia. São Paulo: Ed. Cortez, 2007, p. 90. OCUPAÇÃO As primeiras mudas de cana chegaram ao Brasil com Martim Afonso de Sousa, em 1531. Em pouco tempo a lavoura canavieira foi introduzida na Zona da Mata nordestina. Na segunda metade do século XVI, a região nordeste da colônia havia se firmado como o centro da empresa agrícola. O açúcar produzido nos engenhos era transportado por rios ou em carros de boi até os portos exportadores – Recife e Salvador. A maioria dos navios era de origem portuguesa, porém, os comerciantes eram holandeses que refinavam e negociavam o produto. A empresa agrícola implantada pelos colonizadores no século XVI fincou-se no litoral. O século XVII marcou a expansão pastoril e a exportação de fumo nas receitas coloniais. O tabaco produzido principalmente no Recôncavo Baiano e em Alagoas era exportado para o mercado europeu, além de servir como moeda de troca com os aparelhos negreiros da costa africana. Com o sucesso comercial do açúcar na Europa, houve um aumento da área de cultivo e as terras de pasto diminuíram substancialmente. O gado foi expulso das terras nobres da zona litorânea e ganhou os sertões. O século XVIII marca a decadência da região nordeste do país e a era do ouro nas Minas Gerais, no sudeste brasileiro. Na segunda metade do século XIX, o comércio do café se tornou o núcleo das relações no Brasil, confirmando a hegemonia econômica da região centro-sul do país. ECONOMIA COLONIAL NORDESTINA – SÉC.XVI FAE. Atlas histórico escolar. São Paulo: 1993, p.15. O Nordeste concentra um conjunto de mitologiaspolíticas e sociais de bases geográficas. O Nordeste é, antes de tudo, uma “invenção”, uma região “socialmente produzida”. No século XVI, ele praticamente se resumia à cana-de-açúcar, onde se expandiam as plantations e se multiplicavam os engenhos de cana. O cultivo da cana-de-açúcar foi a primeira atividade econômica que deu origem a várias cidades e iniciou a ocupação territorial do Nordeste. Os engenhos de açúcar localizavam-se na faixa litorânea, onde as condições naturais eram mais favoráveis ao cultivo do produto. O litoral úmido do Nordeste, que se estende do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, foi uma das primeiras áreas brasileiras a serem colonizadas pelos portugueses. Engenho de açúcar, litogravura de Johann Moritz Rugendas (1802-1858). Por ter sido a primeira área de ocupação esta área foi – por praticamente dois séculos – a área mais desenvolvida do país, e o estado de Pernambuco o mais rico. Porém, o declínio da cana-de-açúcar na metade do século XIX, devido a concorrência exercida pelas Antilhas e o desenvolvimento da região Sudeste do país tornaram-na a mais desenvolvida do país, aliada é claro a estagnação do território nordestino. O Nordeste hoje concentra mais de 50 milhões de habitantes distribuídos nos nove estados da região. E Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 3 onde três cidades destacam-se como metrópoles nacionais: Salvador, Fortaleza e Recife. O NORDESTE E SEU PAPEL NO MUNDO ATUAL O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO NORDESTE O crescimento econômico da região Nordeste foi discutido no encontro promovido pela Federação Nacional das Agências de Propaganda (FENAPRO), realizado em junho de 2008. Na ocasião, foi apresentado o estudo “Um país chamado Nordeste”, que aborda o desenvolvimento regional e o potencial de expansão da propaganda na região. “(...) não é apenas de sol, praias e Carnaval que vive o Nordeste. A região vem se transformando, redesenhando seu perfil. O programa bolsa-família injetou mais dinheiro na região, há muitas indústrias vindo pra cá, e isto exige que se pense o Nordeste de outra forma”, afirmou o sócio-diretor da agência que elaborou o documento. Os dados do estudo reforçam essa avaliação. A renda per capita do Nordeste cresceu 50% nos últimos 25 anos. O PIB da região, de R$ 214 598 milhões já equivale a 14% do PIB brasileiro e tem crescido, em média, acima deste. O perfil da população, com 53 milhões de consumidores potenciais – o equivalente a um terço da população brasileira –, aponta um crescimento das classes A, B e C, que eram 55% da população em 1996 e passaram a 59% em 2006. O Nordeste passou de produtor de bens tradicionais a produtor de itens de base tecnológica, como aços especiais, automóveis, equipamentos para irrigação e softwares, entre outros. Na região, são fabricados, por exemplo, produtos como eletrônicos, equipamentos para irrigação, barcos chips e calçados. No agronegócio, a participação da região é expressiva. O Nordeste é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, o maior pólo exportador de uva de mesa do Brasil, o maior produtor de matéria-prima para biodiesel e o segundo de cana-de-açúcar. Além disso, destaca-se que a extração de petróleo e gás natural na região responde por cerca de 35% da produção nacional. Em Pernambuco, o pólo gesseiro instalado em Araripina atende 95% do consumo do país. Adicione-se a isso o crescimento do turismo na região, que conta com 3.338 km de praias, e o fato de que Olinda, São Luís e o Pelourinho são Patrimônio Cultural da Humanidade. Adaptado de “Crescimento econômico da região Nordeste é um dos destaques do encontro da Fenapro”, 16/06/2008. In: O mundo em transição. José William Vesentini. O Nordeste ocupa – no plano nacional – a condição de periferia, é dependente dos produtos industrializados do Centro-Sul, além de ser o maior “gerador” de mão-de-obra barata do Brasil, mão-de-obra esta que abastece a região Centro-Sul. O baixo nível de desenvolvimento social e econômico, caracterizado entre outros motivos, pela reduzida oferta de empregos e péssimos salários, tem colaborado para a expulsão do nordestino, que nas últimas décadas vêm se reduzindo. A “região-problema” é a que apresenta os piores indicadores sociais do país. A atual situação socioeconômica do Nordeste é caracterizada em boa parte, pela estrutura fundiária desigual e pela influência dos líderes políticos, geralmente grandes empresários ou grandes proprietários de terra. QUADRO NATURAL RELEVO Jurandyr L. S. Ross (org.). Geografia do Brasil. Edusp/FDE, 1996. Na topografia1 nordestina encontram-se duas formas predominantes de relevo: planaltos e depressões, porém, todo o litoral nordestino é composto por planícies e tabuleiros. Praticamente por toda a extensão do Maranhão, Piauí e extremo oeste da Bahia estendem-se os planaltos e chapadas da Bacia do Parnaíba. PLANALTO NORDESTINO O Planalto Nordestino faz parte do Planalto Atlântico, estendendo-se do Ceará até a Bahia. É formado por rochas cristalinas do período pré-cambriano com elevações sedimentares como as do Araripe e da Ibiapaba, no Ceará. Pode ser dividido em: •Serras Cristalinas: localizam-se na parte leste da região Nordeste; é formada pelas áreas elevadas da Borborema, Diamantina, Pereiro, Baturité, interferindo no clima da região como um todo. •Chapadas Sedimentares: localizam-se na porção oeste; são fruto de intensa erosão e formada pelas chapadas do Araripe, Apodi e Ibiapaba. É aí onde se formam os chamados “morros testemunhos”. PLANÍCIE LITORÂNEA Acompanha o litoral: mais larga no Maranhão, estreita-se em direção ao sul até a Bahia. É formada, predominantemente, por terrenos recentes, os tabuleiros2, onde aparecem: •Mangues: vegetação lodosa que se desenvolve ao longo do litoral. •Dunas: acumulações de areia encontradas especialmente no litoral do Maranhão, com a denominação de lençóis maranhenses. •Recifes: acumulações de sedimentos de rochas (arenito) ou matéria orgânica (coral) junto ao litoral de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. •Falésias: acumulações fixas de areia junto ao litoral, muito comuns no Ceará (Formação Barreiras). 1 TOPOGRAFIA: Configuração de uma porção do terreno com todos os acidentes geográficos. 2 TABULEIRO: Superfície com altitude entre 20 e 50 metros, com topo plano, situada ao longo da faixa litorânea. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 4 SUB-UNIDADES •Planícies e Tabuleiros Litorâneos – correspondem a inúmeras porções do litoral brasileiro e quase sempre ocupam áreas muito pequenas. Geralmente localizam-se na foz de rios que deságuam no mar, especialmente daqueles de menor porte. Apresentam-se muito largas no litoral norte e quase desaparecem no litoral sudeste. E em trechos do litoral nordestino, essas pequenas planícies apresentam-se intercaladas com áreas de maior elevação – as barreiras – também de origem sedimentar. •Planalto da Borborema3 – corresponde a uma área de terrenos formados de rochas pré-cambrianos e sedimentares antigas, aparecendo na porção oriental no nordeste brasileiro, a leste do estado de Pernambuco, como um grande núcleo cristalino e isolado, atingindo altitudes em torno de 1.000 m. •Depressão Sertaneja e do São Francisco – ocupam uma extensa faixa de terras que se alonga desde as proximidades do litoral do Ceará e Rio Grande do Norte, até o interior de Minas Gerais, acompanhando quase todo o curso do rio São Francisco. Apresentam variedade de formas e de estruturas geológicas, porém destaca-se a presença do relevo tabular, as chapadas,como as do Araripe (PE-CE) e do Apodi (RN). •Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba – constituem-se também de terrenos de uma bacia sedimentar, estendendo-se das áreas centrais do país (GO-TO), até as proximidades do litoral, onde se alargam, na faixa entre Pará e Piauí, sendo cortados de norte a sul, pelas águas do rio Parnaíba. Aí encontramos a predominância das formas tabulares, conhecidas como chapadas. •Depressão do Tocantins – acompanha todo o trajeto do rio Tocantins, quase sempre em terrenos de formação cristalinas pré-cambrianas. Suas altitudes declinam de norte para sul, variando entre 200 e 500 m. RELEVO E HIPSOMETRIA Jurandyr L.S. Ross (org.). Geografia do Brasil. Edusp/FDE, 1996. 3 BORBOREMA: O Planalto da Borborema (com quase 1.000 metros de altitude) exerce enorme influência no clima da região. Devido a sua localização, o Planalto atua como barreira natural da dinâmica de ventos. Isso faz com que esses ventos depositem toda sua umidade no litoral oriental, enquanto o Sertão é a área mais seca do país. •Chapada Maranhense – Sedimentar (MA). •Cuesta – Ibiapaba – Sedimentar (CE-PI). •Chapada do Araripe – Sedimentar (CE-PE). •Chapada do Apodi – Sedimentar (CE-RN). •Serra de Baturité (inselberg) – Cristalino (CE). •Planalto da Borborema – (Agreste) Cristalino – essa elevação se estende do norte de Alagoas até o sul do Rio Grande do Norte. •Serra do Espinhaço – Cristalino (BA-MG). •Chapada do Espigão Mestre – Sedimentar (BA-GO). •Chapada Diamantina (maior morro testemunho do Nordeste) – Cristalino (BA). O maior pico do Nordeste, o Pico das Almas, com 1.850m localiza-se na Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Vista aérea da Chapada Diamantina (BA). APROPRIAÇÕES DA NATUREZA NA CHAPADA DIAMANTINA “(...) A região denominada Chapada Diamantina se destaca, na agenda das questões ambientais e no cenário do ecoturismo, como uma porção do território baiano dotado de atributos excepcionais que justificaram tanto a implantação de várias unidades de conservação, em especial o Parque Nacional da Chapada Diamantina, quanto a sua ampla divulgação em roteiros de viagem disponíveis no mercado (...) No contexto da regionalização do território baiano, a Chapada Diamantina se insere na ‘grande área’ do sertão semi- árido que abrange 257 dos 417 municípios, 65% do território e quase 50% da população do estado da Bahia. É onde se verificam os mais altos índices de pobreza, baixos níveis de produtividade agrícola e alta concentração fundiária (...).” LÉDA, Renato. Apropriações da natureza da Chapada Diamantina: turismo, estratégias de reestruturação regional e suas representações discursivas. In: Litoral e Sertão: natureza e sociedade no nordeste brasileiro. Fortaleza, 2006. TREMORES DE TERRA NO NORDESTE BRASILEIRO No final do século passado e início deste século inúmeros registros de eventos sísmicos que ocorriam no Brasil e, em particular, no Nordeste brasileiro, marcaram a história geologia do país, e da região. ESTADO E DATA ESCALA RICHTER João Câmara (RN) – 30/11/1986 5,1graus Pacajus (CE) – 20/11/1980 5,2 graus João Câmara (RN) – 10/03/1989 5,0 graus Tapiraíba (CE) – 19/04/1991 4,9 graus Fonte: www.estadao.com.br (2007) NOTÍCIAS “Um tremor de terra de 2,5 graus na escala Richter foi registrado nos municípios de Sobral e Coreaú, no Ceará, às 0h28min, pelo Laboratório Sismológico da Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 5 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O tremor foi sentido por moradores, que perceberam a terra e as telhas da casa tremerem, mas segundo o coordenador da Defesa Civil de Sobral, Jorge Trindade, não houve danos materiais e ninguém ficou ferido. (...) De acordo com o técnico em sismologia da UFRN Eduardo Alexandre de Menezes, o epicentro do tremor foi na cidade de Coreaú, mas o fenômeno atingiu uma área de 30 quilômetros, sendo sentido também em Sobral, cidade vizinha. O tremor é considerado de pequeno efeito pela UFRN.” O Globo on Line, em 04/01/2010. “O Nordeste é a região com um dos maiores níveis de atividade sísmica do Brasil, segundo o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP). Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco têm maior incidência de abalos, de acordo com laboratório de sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (...) Até dois anos atrás, 60% dos tremores registrados com um espaço de tempo menor entre um e outro ficaram concentrados nesses três estados. É uma característica local por causa das falhas que existem na região, disse Eduardo Alexandre Menezes, da UFRN.” G1 – Portal de Notícias, em 13/01/2010. CLIMA DO NORDESTE Fonte: Atlas Nacional, IBGE, 2000. O clima é sem dúvida o aspecto natural mais marcante do Nordeste, com enorme influência nos fatores como vegetação, relevo, hidrografia, etc. O Nordeste do Brasil apresenta temperaturas elevadas cuja média anual varia de 20° a 28°C. Nas áreas situadas acima de 200m e no litoral oriental as temperaturas variam de 24° a 26°C. As médias anuais inferiores a 20°C encontram-se nas áreas mais elevadas da chapada Diamantina e da Borborema. O índice de precipitação anual varia de 300 a 2.000 mm. Três dentre os vários tipos de climas que existem no Brasil estão presentes no Nordeste, são eles: •Equatorial Úmido – Presente em uma pequena parte do Maranhão, na divisa com o Pará; com elevada pluviosidade e elevadas temperaturas. •Tropical Úmido – Presente do litoral da Bahia ao do Rio Grande do Norte; sofre ação da MPA (Massa Polar Atlântica) e MTA (Massa Tropical Atlântica) no inverno. •Tropical Semi-árido – Presente em todo o sertão. Apresenta chuvas irregulares e mal distribuídas, com chuvas de verão. “O domínio das caatingas brasileiras é um dos três espaços semi-áridos da América do Sul. Fato que o caracteriza como um dos domínios de natureza de excepcionalidade marcante no contexto climático e hidrológico de um continente dotado de grandes e contínuas extensões de terras úmidas (...) O contraste é sobretudo mais expressivo quando se sabe que nosso país apresenta 92% do seu espaço total dominado por climas úmidos e subúmidos intertropicais e subtropicais, da Amazônia ao Rio Grande do Sul. As razões da existência de um grande espaço semi-árido, insulado num quadrante de um continente predominantemente úmido, são relativamente complexas. De certo, há uma certa importância no fato de a massa de ar EC (equatorial continental) regar as depressões interplanálticas nordestinas. Por outro lado, células de alta pressão atmosférica penetram fundo no espaço dos sertões durante o inverno austral, a partir das condições meteorológicas do Atlântico centro-ocidental.” AB´SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. SP: Ateliê, 2005, p. 82. VEGETAÇÃO DO NORDESTE A vegetação nordestina é bastante rica e diversificada, vai desde a mata atlântica no litoral oriental à mata dos cocais no Meio-Norte, ecossistemas como os manguezais, a caatinga, o cerrado, as restingas, dentre outros, possuem fauna e flora exuberantes, diversas espécies endêmicas, uma boa parte da vida no planeta e animais ameaçados de extinção. Fonte: Atlas Nacional, IBGE, 2000. 1-Hiléia Amazônica. 2-Cerrado. 3-Cocais. 4-Caatinga. 5-Mata Atlântica. 6-Vegetação Litorânea. 7-Campos. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 6 •HILÉIA AMAZÔNICA Floresta latifoliada equatorial, hiléia (designação atribuída pelo geógrafo alemão AlexanderVon Humboldt), floresta pluvial, floresta ombrófila e, por fim, floresta amazônica. O elemento de maior destaque dessa floresta é, sem dúvidas, a sua biodiversidade que chega a intrigar pesquisadores de todo o mundo quanto à impossibilidade de catalogar um número tão significativo de espécies. No Brasil, ocupa a quase totalidade da região norte, a porção setentrional de Mato Grosso e a porção ocidental do Maranhão. Características de clima quente e superúmido, essa floresta é extremamente heterogênea e densa, quase impossibilitando a circulação de pessoas no seu interior. •CERRADO Essa formação ocupava originalmente cerca de 25% do território brasileiro, sendo a segunda maior cobertura vegetal do país. É caracterizado pelo domínio de pequenas árvores e arbustos bastante retorcidos com casca grossa (cortiça), que retém mais água, geralmente caducifólias e com raízes profundas. Muito parecido com a savana africana. A origem dos cerrados ainda é uma incógnita. Para alguns ele resulta do clima, já que a alternância entre as estações úmida e seca é muito forte. Para outros sua origem está ligada ao solo extremamente ácido e naturalmente pobre. Ocorre no Brasil nas áreas de menor umidade, como é o caso do Planalto Central (Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de trechos do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Piauí. •MATA DOS COCAIS Esta formação vegetal está encravada entre a floresta amazônica, o cerrado e a caatinga. É, portanto, uma mata de transição entre as formações bastante distintas, constituída por palmeiras ou palmáceas, com grande predominância do babaçu e ocorrência esporádica de carnaúbas. Tanto o extrativismo do babaçu como o da carnaúba não implicam em devastação, pois aproveitam-se apenas os cocos e as folhas, que são continuamente reproduzidas pelas palmeiras. No entanto, a expansão pecuarista particularmente nos estados de Tocantins e do Maranhão, tem produzido grande destruição da vegetação com a criação de áreas de pasto. Isso tem levado ao agravamento das condições de vida de milhões de pessoas, que dependem do extrativismo. O óleo de babaçu é utilizado na fabricação de sabões e sabonetes, além de seu uso como lubrificantes nas indústrias de aparelhos de alta precisão – como, por exemplo, na indústria de balanças. Depois de retirado o óleo da semente, esta constitui um excelente alimento para o gado. •CAATINGA Típica do sertão nordestino é uma vegetação xerófila, adaptada ao clima semi-árido, na qual predomina um estrato caducifoliado e espinhosos; ocorrem também cactáceas. Na época das secas, muitas plantas da caatinga perdem suas folhas para diminuir a transpiração e evitar, assim, a perda de água armazenada, produzindo uma paisagem seca e desolada. Algumas palmeiras e o juazeiro, que possuem raízes bem profundas para absorver água do subsolo, não perdem as folhas. Outras plantas possuem um mecanismo fisiológico, o xeromorfismo, produção de uma cera que reveste os tecidos e faz com que percam menos água na transpiração. Um exemplo é a carnaubeira, que já foi denominada “árvore da providência”, pois dela tudo se aproveita. Melhem Adas, 2000, p. 136. •FLORESTA TROPICAL (MATA ATLÂNTICA) Essa floresta é também uma formação exuberante que se assemelha bastante à floresta equatorial. É heterogênea, intrincada, densa e aparece em diferentes pontos do país, de temperaturas elevadas e alto teor de umidade. Floresta latifoliada, ela é assim definida porque apresenta folhas grandes e largas e está situada ao longo do litoral oriental intertropical brasileiro, que vai do Rio Grande do Norte até o norte de São Paulo, onde entra para o interior. Nas áreas de maior presença de umidade é denominada floresta latifoliada úmida de encosta. Essa formação foi altamente devastada ao longo da história do Brasil. •CAMPOS Formações rasteiras ou herbáceas, constituídas por gramíneas que atingem até 60cm de altura. Sua origem pode estar associada a solos rasos ou temperaturas baixas em regiões de altitudes elevadas, áreas sujeitas a inundação periódica ou ainda solos arenosos. •VEGETAÇÃO LITORÂNEA Nas praias e dunas, é muito importante a ocorrência de vegetação rasteira, responsável pela fixação da areia, impedindo que seja transportada pelo vento. A restinga é uma formação vegetal que se desenvolve na areia com predomínio de arbustos e ocorrência de algumas árvores como o chapéu-de-sol, o coqueiro e a goiabeira. Os mangues são nichos ecológicos (porção restrita de um habitat onde vigoram condições especiais de ambiente). Não se trata de conceito de lugar, mas da posição particular que a espécie ocupa na comunidade devido às suas adaptações estruturais, seus ajustamentos fisiológicos e aos padrões de comportamento responsáveis pela reprodução de milhares de espécies de peixes, moluscos e crustáceos. Delza Menin. In: Ecologia de A a Z, 2000. POLUIÇÃO LITORÂNEA A poluição do litoral nordestino é um dos graves problemas ambientais da região. Inúmeras indústrias químicas costumam jogar seus detritos no mar, alguns deles extremamente nocivos a fauna marinha. Dos nove estados nordestinos, oito têm capitais litorâneas, o que implica em ocupação humana na orla marítima que degrada os recursos através do lançamento de lixo e esgotos no oceano, destruição da vegetação litorânea (mangues, coqueirais, matas de restinga). OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 7 Fonte: Atlas geográfico escolar . Rio de Janeiro: IBGE, 2007. HIDROGRAFIA BACIA ÁREA DRENADA (km2) PARTICIPAÇÃO NA REGIÃO (%) São Francisco 394.914,5 25,30 Nordeste 857.388,1 54,92 Leste 277.697,8 17,79 Tocantins-Araguaia 31.177,4 1,99 Fonte: Anuário Estatístico do Brasil, IBGE, 1996. O Nordeste possui importantes bacias hidrográficas, aparecendo algumas classificações diferenciadas de acordo com alguns órgãos governamentais. O mapa e a tabela mostram a divisão mais difundida, a do IBGE: Fonte: Baseado no Atlas Nacional do Brasil, IBGE, 2000. •Bacia do Atlântico Nordeste Ocidental: situada entre o Nordeste e o Norte, fica localizada, quase que em sua totalidade, no estado do Maranhão. Algumas de suas sub-bacias constituem ricos ecossistemas, como manguezais, babaçuais, várzeas, etc. •Bacia do Atlântico Nordeste Oriental: ocupa uma área de 287.384 km², que abrange os estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas. Os rios principais são o rio Jaguaribe, rio Piranhas-Açú, rio Capibaribe, rio Acaraú, rio Curimataú, rio Mundaú, rio Paraíba e rio Una. •Bacia do Atlântico Leste: compreende uma área de 364.677 km², dividida entre 2 estados do Nordeste (Bahia e Sergipe) e dois do Sudeste (Minas Gerais e Espírito Santo). Na bacia, a pesca é utilizada como atividade de subsistência. •Bacia do Parnaíba: é a segunda mais importante, ocupando uma área de cerca de 344.112 km² (3,9% do território nacional) e drena quase todo o estado do Piauí, parte do Maranhão e Ceará. O rio Parnaíba é um dos poucos no mundo a possuir um delta em mar aberto, com uma área de manguezal de, aproximadamente, 2.700 km². •Bacia do São Francisco: O rio São Francisco, eixo principal da bacia, é o maior rio totalmente brasileiro, com 2.700 km de extensão. Sua bacia ocupa 640.000 km² unindo as terras do Sudeste e do Nordeste do país, daí a denominação de rio da unidade nacional. O “velho Chico” como é conhecido não é nordestino, ainda que ele percorra grandes extensões nessa região de secas. Ele nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais e deságua no Atlântico, na divisa entre Alagoas e Sergipe,depois de percorrer longo trecho do sertão nordestino. Possui declives acentuados em trechos próximos à nascente ou à foz, o que confere a posição de segunda bacia em produção hidroelétrica do Brasil. Abastece tanto a região Sudeste, com a usina de Três Marias (MG), como a Nordeste, com suas usinas de Sobradinho (PE/BA), Paulo Afonso (AL/BA), Xingo (AL/SE), usina Luiz Gonzaga também conhecida por Itaparica, (PE/BA) e Moxotó (AL/BA). O São Francisco também apresenta longo trecho navegável em seu curso médio. A bacia é uma das áreas de planejamento regional no Brasil. A Constituição de 1946 reservou cerca de 1% do orçamento federal para o desenvolvimento desta área. Em 1948, por força de lei, foi criada a CVSF (Comissão do Vale do São Francisco), que mais tarde se transformaria na atual CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco e do Parnaíba). CODEVASF A CODEVASF é uma empresa pública, vinculada ao Ministério da Integração Nacional, que promove o desenvolvimento e a revitalização das bacias dos rios São Francisco e Parnaíba com a utilização sustentável GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 8 dos recursos naturais e estruturação de atividades produtivas para a inclusão econômica e social. A empresa mobiliza investimentos públicos para a construção de obras de infraestrutura, particularmente para a implantação de projetos de irrigação e de aproveitamento racional dos recursos hídricos. É reconhecida principalmente pela implantação de pólos de irrigação, a exemplo do pólo Petrolina-Juazeiro. Investe também na aplicação de novas tecnologias, diversificação de culturas, recuperação de áreas ecologicamente degradadas, capacitação e treinamento de produtores rurais, além da realização de pesquisas e estudos socioeconômicos e ambientais, entre outras ações. Um trabalho que gera emprego e renda para a população residente em sua área de atuação. A CODEVASF participa do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal, implantando obras em diversos municípios, no âmbito do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco. Por meio das PPPs (Parcerias Público-Privadas), a companhia tem buscado parceiros para viabilizar importantes projetos de irrigação em andamento. Uma ação de destaque na área de responsabilidade social é o Projeto Amanhã, no qual a CODEVASF promove a capacitação profissional de jovens rurais em atividades agrícolas e não-agrícolas relacionadas com as necessidades do mercado regional. ROTA DA TRANSPOSIÇÃO Em agosto de 2009 a obra de integração das bacias hidrográficas nordestinas a partir do desvio de água do rio São Francisco completará dois anos. Estão previstos dois eixos principais. O “eixo norte” que levará água de Cabrobró (PE) para os sertões pernambucano, cearense e potiguar. Já o “eixo leste” colherá água em Petrolândia (PE) para as áreas mais próximas do litoral nos estados da Paraíba e de Pernambuco. O governo pretende terminar o trecho norte ainda em 2010 e a obra terminará em 2017. AS ÁGUAS DO RIO NÃO SÃO A PANACÉIA PARA OS PROBLEMAS DO SEMI-ÁRIDO “Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição das águas do rio São Francisco para o setor norte do Nordeste seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar. Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semi-árida do Brasil. Trata-se de um argumento completamente infeliz. O Nordeste seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exorréicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750 mil km2, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias dos rios Jaguaribe (CE) e Piranhas/Açu (RN). Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidroelétricas já implantadas no médio/baixo vale do rio – Paulo Afonso, Itaparica, Xingo. Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região. De forma que o novo projeto não pode, em hipótese alguma, prejudicar o mais antigo, que reconhecidamente é de uma importância areolar. Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de planejamentos pontuais, lineares e areolares. A quem vai servir a transposição das águas? Os “vazanteiros”, que fazem horticultura no leito dos rios que perdem fluxo durante o ano, serão os primeiros prejudicados. A eles se deve conceder a prioridade em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados. De imediato, porém, serão os pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado nos meses em que os rios da região não correm. Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa se pode adiantar a não ser a falta de conhecimentos sobre a dinâmica climática e periodicidade do rio que vai perder água e dos rios intermitentes-sazonários que vão receber filetes das águas transpostas. Um projeto inteligente e viável sobre a transposição de águas, captação e utilização de águas das estações chuvosas e multiplicação de poços ou cisternas têm de envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste. No caso de projetos de transposição de águas, há de se ter consciência de que o período se maior necessidade será aquele em que os rios sertanejos intermitentes perdem a correnteza por cinco a sete meses. Trata-se, porém do mesmo período em que o São Francisco se torna menos volumoso. Entretanto, é nessa época do ano em que haverá maior necessidade de reservas de água para hidroelétricas regionais. Trata- se de um impasse paradoxal, do qual, até agora, não se falou. Por outro lado, se essa água tiver que ser elevada ao chegar à região final do seu uso, para desde um ponto mais alto descer e promover alguma irrigação por gravidade, o processo todo aumentará ainda mais a demanda regional por energia. E, ainda noutra direção, como se evitará uma grande evaporação dessa água que atravessará o domínio da caatinga, onde o índice de evaporação é o maior de todos? Eis outro ponto obscuro, não tratado pelos arautos da transposição. A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para o início das obras de transposição das águas do São Francisco terá conseqüências imediatas para os especuladores de todos os naipes. O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da Chapada do Araripe com grande gasto de energia, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria por Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 9 movimentar o mercado especulativo da terra e da política. No fim, tudo apareceria como o movimento de transformar todo o espaço em mercadoria.” Aziz Nacib Ab’Saber, professor emérito da FFLCH/USP e professor honorário do Instituto de Estudos Avançados/USP. ASPECTOS POSITIVOS Aumento da água disponível e diminuição da perda devido aos reservatórios, aumentoda renda e do comércio das regiões beneficiadas, redução de problemas trazidos pela seca, irrigação de áreas abandonadas e criação de novas fronteiras agrícolas, redução de doenças e óbitos gerados pelo consumo de água contaminada ou pela falta de água, obras de revitalização do rio, entre outros. ASPECTOS NEGATIVOS O grande empresário (carcinicultura, flores, frutas) e outras atividades agrícolas seriam os grandes beneficiados, não haverá a socialização da água, canalizações indevidas, incorporação de terra pelos latifundiários, impacto na produção de energia (diminuição da vazão do rio), água de má qualidade (80% da população não possuem saneamento básico e despejam todo seu esgoto nas águas do rio), dúvidas na relação custo/benefício, impactos ambientais dos mais diversos, entre outros. DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE Fonte: EMBRAPA. A desertificação é definida como a “degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas resultantes de fatores diversos tais como as variações climáticas e as atividades humanas”. Esta definição foi criada na Convenção de Combate à Desertificação em 1994 e delimita a problemática da desertificação a 33% da superfície terrestre. No Brasil as áreas susceptíveis localizam-se nas partes áridas, semi-áridas e sub-úmidas, secas do Nordeste brasileiro. Esta área do Nordeste compreende 900 mil km², onde vivem aproximadamente 10 milhões de habitantes. Além do Nordeste, parte da região Sul do Brasil também sofre com a desertificação. REGIONALIZAÇÕES DO BRASIL Há outra divisão regional do território brasileiro que não acompanha os limites estaduais, havendo estados que possuem parte do território em uma região e parte em outra. Trata-se da divisão elaborada em 1967 pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger. É uma classificação que considera a formação histórico- econômica do Brasil e a recente modernização econômica, que se manifestou nos espaços urbano e rural, estabelecendo novas formas de relacionamento entre os lugares do território brasileiro e criando uma nova dinâmica no relacionamento entre a sociedade e a natureza. Assim, o oeste do Maranhão integra a Amazônia e o restante o Nordeste, com atuação, respectivamente, da SUDAM e da SUDENE. O norte de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha) integra o Nordeste, com atuação da SUDENE e do BNB e o restante o Centro-Sul. O norte do mato Grosso é amazônico e o restante dos territórios integra a região Centro-Sul. 1-Amazônia. 2-Centro-Sul. 3-Nordeste. SUB-REGIÕES NORDESTINAS C. Garcia. O que é o Nordeste brasileiro? Brasiliense, 1984. Observando a região nordestina de Leste para o Oeste, temos Zona da Mata (extremamente úmida), Agreste (sub-úmido), Sertão (semi-árido) e o Meio Norte (bastante úmido). GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 10 •ZONA DA MATA Corresponde à orla oriental atlântica, que se estende do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia. Foi o primeiro espaço agrícola a ser ocupado na região, com a cultura da cana-de-açúcar, que lá encontrou condições naturais favoráveis à sua expansão (como o fértil solo argiloso de massapê e o clima tropical, muito úmido). Predominam as grandes propriedades e a monocultura voltada para o mercado externo, particularmente nas áreas produtoras de cana-de-açúcar – ainda hoje o principal produto da região –, de maior expressão em Pernambuco. É importante ressaltar também a produção de cacau no sul da Bahia e o Recôncavo Baiano, 3º maior área de extração de petróleo do país. •AGRESTE Constitui uma faixa paralela à costa, entre a Zona da Mata e o Sertão (a leste do topo da chapada de Borborema), menos úmida que a primeira. Dominam as pequenas propriedades policultoras, dedicadas, sobretudo à produção de gêneros alimentícios: milho, mandioca, feijão, batata, frutas, café, fava etc. Planta-se também algodão e sisal ou agave (fibra têxtil). O Agreste apresenta importantes centros urbanos como Caruaru (PE), Campina Grande (PB) e Feira de Santana (BA). •SERTÃO O sertão, uma extensa área de clima semi-árido, chega até o litoral, nos estados do Rio Grande do Norte e do Ceará. As atividades agrícolas sofrem grande limitação, pois os solos são rasos e pedregosos e as chuvas, escassas e mal distribuídas. A vegetação típica é a caatinga. O rio São Francisco é a única fonte de água perene. É a área das mais baixas densidades demográficas e de economia baseada na agricultura e pecuária. O SERTÃO AGORA É ASSIM “Num bom pedaço do sertão nordestino, o cenário está mudando. Numa área formada pelas zonas do cerrado nordestino – do Maranhão, do Piauí, e da Bahia –, culturas de soja, milho e algodão cada vez mais se misturam à paisagem. Apelidada de ‘MAPITOBA’ (nomenclatura que indica as iniciais dos três estados nordestinos mais Tocantins) por alguns e ‘BAMATOPI’ por outros, a região já responde por 10% da soja produzida no país e desponta como uma das maiores potências no agronegócio. Com 2 milhões de habitantes, esse pedaço do Brasil ainda apresenta um PIB modesto: 6 bilhões de dólares, equivalente ao de Belém. Mas a geração de riquezas está se acelerando. Os produtores de grãos estabelecidos há mais tempo são migrantes do Centro-Sul do Brasil, em sua maioria gaúchos e paranaenses. A eles se somou recentemente uma leva de investidores estrangeiros e empresas do agronegócio. Foram eles que fizeram 70% das aquisições de terras na região em 2008. A estimativa conservadora é que a economia do ‘MAPITOBA’ esteja crescendo à taxa de 10% ao ano. A expansão é desordenada, algo muito visível em Balsas, cidade com 80 mil habitantes no sul do Maranhão. (...), fundada em 1918 como entreposto de negócios do sertão. (...) Em 2000 a região começou de fato a deslanchar. Hoje, quem percorre a rodovia BR- 230, no sul do Maranhão, vê bolsões de produção agrícola entremeando extensões com vegetação de cerrado. Balsas é caótica e paradoxal. Ao mesmo tempo em que boa parte das ruas não é asfaltada e a telefonia celular ainda é precária, um hipermercado e um restaurante japonês são ícones da chegada da modernidade. Enquanto bairros velhos estampam a pobreza, casas elegantes e jardins bem cuidados surgem em outros cantos (...). A movimentação de empresas abastecidas com dinheiro estrangeiro é grande na região. A Agrinvest, controlada pelo fundo americano Ridgefield Capital, comprou ano passado 20 mil hectares e arrendou mais 43 mil para produzir grãos ao sul de Balsas.” Fabiane Stefano. O sertão agora é assim. Exame, 09/07/2009. CIDADES PÓLOS DE ATRAÇÃO Fonte: http://portalexame.abril.com.br O POLÍGONO DAS SECAS Fonte: INPE O Polígono das Secas compreende a área do Nordeste brasileiro reconhecida pela legislação como sujeita à repetidas crises de prolongamento das estiagens e, conseqüentemente, objeto de especiais providências do setor público. Constitui-se o Polígono das Secas de diferentes zonas geográficas, com distintos índices de aridez. Em algumas delas o balanço hídrico é acentuadamente negativo, onde somente se Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 11 desenvolve a caatinga hiperxerófila sobre solos delgados. Em outras, verifica-se balanço hídrico ligeiramente negativo, desenvolvendo-se a caatinga hipoxerófila. Existem também áreas no Polígono, de balanço hídrico positivo e presença de solos bem desenvolvidos. Contudo, na área delimitada pela poligonal, ocorrem, periodicamente, secas anômalas que se traduzem na maioria das vezes em grandes calamidades, ocasionando sérios danos à agropecuária nordestina e graves problemas sociais.Compreende os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais (essa área excede a divisão político- administrativa do Nordeste – a região mineira mais famosa que é incluída no Polígono das Secas é a denominada Vale do Jequitinhonha). ESTADOS POLÍGONO SEMI-ÁRIDO MARANHÃO -------------- ------------------ PIAUÍ 234.084 125.692 CEARÁ 143.080 119.081 R.GRANDE DO NORTE 51.210 48.344 PARAÍBA 56.972 48.502 PERNAMBUCO 90.067 85.574 ALAGOAS 14.704 13.900 SERGIPE 13.163 10.928 BAHIA 120.701 392.955 NORTE DE MINAS GERAIS 57.530 ------------------ Fonte: IBGE O Polígono das Secas foi criado pela Lei nº 175, de 7 de janeiro de 1936 e posteriormente teve complementado o seu traçado pelo decreto-lei nº 9.857, de 13 de setembro de 1946. Pela Constituição de 1946, Art. 198, Parágrafos 1º e 2º, foi regulamentada e disciplinada a execução de um plano de defesa contra os efeitos da denominada seca do Nordeste. A Lei nº 1.004, de 24 de dezembro de 1949 regulamentou as alterações constantes na Lei Maior, entretanto não foi alterada a área do Polígono. Desde o Império, o governo brasileiro adota uma postura de combate aos efeitos da seca, valendo-se da construção de açudes para represar os rios locais e, assim, conseguir reservatórios de água para tornar perenes os rios temporários. Em 1909, foi criada a Inspetoria de Obras contra as Secas (IOCS) que mais tarde transformou-se em DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca). A primeira iniciativa desenvolvida pelo IOCS foi realizar estudos climáticos, geológicos, hidrológicos, geomorfológicos e botânicos sobre a região e, em seguida desenvolver uma política de construção de reservatórios, para acumular água nos anos chuvosos. DNOCS 100 ANOS “Dentre os órgãos regionais, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, se constitui na mais antiga instituição federal com atuação no Nordeste. Criado sob o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS através do Decreto 7.619 de 21 de outubro de 1909 editado pelo então Presidente Nilo Peçanha, foi o primeiro órgão a estudar a problemática do semi-árido. O DNOCS recebeu ainda em 1919 (Decreto 13.687), o nome de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS antes de assumir sua denominação atual, que lhe foi conferida em 1945 (Decreto-Lei 8.846, de 28/12/1945), vindo a ser transformado em autarquia federal, através da Lei n° 4229, de 01/06/1963. Sendo, de 1909 até por volta de 1959, praticamente, a única agência governamental federal executora de obras de engenharia na região, fez de tudo. Construiu açudes, estradas, pontes, portos, ferrovias, hospitais e campos de pouso, implantou redes de energia elétrica e telegráficas, usinas hidroelétricas e foi, até a criação da SUDENE, o responsável único pelo socorro às populações flageladas pelas cíclicas secas que assolam a região. Chegou a se constituir na maior "empreiteira" da América Latina na época em que o Governo Federal construía, no Nordeste, suas obras por administração direta tendo marcado com a sua presença, praticamente, todo o solo nordestino. Além de grandes açudes, como Orós, Banabuiú, Araras, podemos registrar a construção da rodovia Fortaleza-Brasília e o início da construção da barragem de Boa Esperança.” Fonte: www.dnocs.gov.br/ •MEIO NORTE Formada pelos estados do Piauí e Maranhão, é uma área de transição entre o Sertão e a Amazônia. Os índices de pluviosidade são elevados na porção oeste e diminuem em direção ao leste e sul. Encerra a Zona dos Cocais, área de vegetação peculiar, caracterizada por extensos babaçuais. ECONOMIA O Nordeste vem apresentando um crescimento econômico acelerado nos últimos anos. A “guerra fiscal” implementada pelos estados têm atraído inúmeras novas indústrias paras a região, como por exemplo a Ford, na Bahia, e a Grendene e a Schincariol, no Ceará. Na região destaca-se ainda a produção petrolífera nos estados da Bahia, área do Recôncavo Baiano, e no Rio Grande do Norte, em cidades como Mossoró. TURISMO O turismo aparece como uma das principais atividades econômicas da região, o grande número de cidades litorâneas com belíssimas praias contribui para o desenvolvimento da atividade turística. Os investimentos governamentais evidenciam esse potencial turístico, como podemos observar na tabela abaixo: ESTADOS VALOR EM MILHÕES (prodetur + iniciativa privada) PRINCIPAIS AÇÕES BA R$ 500 Costa do Sauipe CE R$ 160 Costa do Sol SE R$ 298 Pólo S.Cristovão - Pólo Litoral Sul – Pólo Litoral Norte. MA R$ 74 São Luís AL R$ 71 Costa Dourada PE R$ 68,1 Pólo Guadalupe PB R$ 349 Pólo Cabo Branco PI R$ 54 Costa do Delta RN R$ 47 Costa das Dunas TOTAL R$ 900 ----------------------- Fonte: BNDES, 2005. Os investimentos aplicados por programas como o PRODETUR-NE (Programa de Desenvolvimento do Turismo) objetivam melhorar a infraestrutura turística (saneamento, transporte, urbanização e outros) além de implantar projetos de proteção ambiental e de alguns patrimônios histórico-culturais. O PRODETUR-NE investiu entre 1995 e 2003 cerca de 900 milhões de reais GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 12 nos nove estados. Esses recursos são oriundos do BID e têm como órgão executor o BNB. O PRODETUR/NE apresenta duas fases, a primeira fase foi realizada entre 1995 e 2003. Fonte: Relatório Final de Projeto do PRODETUR/NE 1. Os estados com maior potencial turístico e infraestrutura instalada, como Bahia e Ceará, receberam um volume maior de recursos para investir na atividade. O Programa prevê ainda a recuperação do Patrimônio Histórico nas cidades de Aracajú, João Pessoa, Maceió, Recife, Salvador e São Luis, além, da recuperação de sítios históricos como o de Alcântara (MA), Oeiras (PI), São Cristovão (SE) e Porto Seguro/Trancoso (BA). TURISMO SEXUAL De acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), as desigualdades sociais da região combinadas com o desenvolvimento do turismo provocam também efeitos negativos: a exploração de crianças e adolescente e o turismo sexual (“prostiturismo”) – com destaque para Fortaleza e Recife –, além do tráfico de mulheres, principalmente em Pernambuco e no Maranhão. DEMOGRAFIA A população é a segunda maior do país, com mais de 50 milhões de habitantes e cerca de 29% do total do país. A maior parte desta população, cerca de 70%, localiza-se na zona litorânea, que representa apenas 20% do território da região, evidenciando a desigual distribuição populacional da área. As maiores cidades nordestinas, em termos populacionais, são: Salvador, Fortaleza, Recife, São Luís, Maceió, Teresina, Natal, João Pessoa, Jaboatão dos Guararapes, Feira de Santana, Aracaju, Olinda, Campina Grande, Caucaia, Paulista, Vitória da Conquista, Caruaru e Petrolina. Todos esses municípios possuem mais de 250 mil habitantes, segundo as listas de municípios de estados do Nordeste por população. As maiores densidades situam-se próximo ao litoral, na Zona da Mata, Recôncavo Baiano, sul da Bahia e Regiões Metropolitanas, além das áreas úmidas, denominadas regionalmente de brejos. Em áreas como centro-sul do Piauí, oeste de Pernambuco e parte da Bahia (sertão central) as densidades são as menores da região. A expectativa de vida na região é de 70,1 anos, isso faz com que a região tenha uma média bem abaixo da brasileira que é de 76,3 anos. Outro índice que evidencia os contrastes dentro do território brasileiro é a mortalidade infantil. Enquanto no Sul a mortalidade é de 15,6 para cada mil nascidos, a do Nordeste chega próximo dos 35 deacordo com os dados do IBGE (2008). POPULAÇÃO NORDESTINA – 2009* ESTADOS POPULAÇÃO MARANHÃO 6.367.138 PIAUÍ 3.145.325 CEARÁ 8.547.809 R.GRANDE DO NORTE 3.137.541 PARAÍBA 3.769.977 PERNAMBUCO 8.810.256 ALAGOAS 3.156.108 SERGIPE 2.019.679 BAHIA 14.637.364 IBGE, 2009. Estimativa MIGRAÇÃO “No Brasil, o preconceito por origem geográfica marca, especialmente, os nordestinos. Este preconceito se expressa, por exemplo, através dos estereótipos do ‘baiano’ e do ‘paraíba’, denominações que são usadas genericamente em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente, para se referirem aos migrantes vindos da região Nordeste.” JÚNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. Preconceito contra a origem geográfica e de lugar. As fronteiras da discórdia. São Paulo: Cortez, 2007, p. 89. No primeiro censo demográfico, o Nordeste era a região mais populosa do país, com cerca de 4,6 milhões de habitantes, quase metade da população brasileira. No censo de 1890, o Sudeste superou a região Nordeste. No século XIX a migração rumo a região Norte do país, devido ao ciclo da borracha, foi a de maior intensidade. Já no século XX o principal fator atrator foi a construção de Brasília, intensificando os fluxos para as regiões Sudeste e Centro-Oeste. URBANIZAÇÃO REGIÕES % DE URBANIZAÇÃO Norte 78 Nordeste 72,4 Centro-Oeste 87,7 Sudeste 92,1 Sul 83,8 Fonte: IBGE A concentração da população urbana passou de 60,6% no início dos anos 90 para 72,4% em 2008, o que coloca a região na última posição em relação as outras regiões do país. PÓLOS DE TURISMO 1. São Luis (MA). 2. Costa do Delta (PI). 3. Ceará Costa do Sol (CE). 4. Costa das Dunas (RN). 5. Costa das Piscinas (PB). 6. Costa dos Arrecifes (PE). 7. Costa Dourada (AL). 8. Costa dos Coqueiros (SE). 9. Salvador e Entorno (BA). 10. Litoral Sul (BA). 11. Costa do Descobrimento (BA). 12. Chapada Diamantina (BA). Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 13 No que se refere à hierarquia das cidades nordestinas, as três metrópoles nacionais localizam-se no litoral: Salvador, Fortaleza e Recife. As demais capitais são consideradas centros regionais, assim como: Petrolina, em Pernambuco, Ilhéus, Itabuna, Feira de Santana e Juazeiro, na Bahia. Existem ainda centros urbanos de primeira grandeza, como Campina Grande, Crato e Juazeiro do Norte, Vitória da Conquista, Caruaru, Mossoró e Imperatriz, respectivamente nos estados da Paraíba, Ceará, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Maranhão. Fonte: ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de. Amazônia e Nordeste: oportunidades de investimentos. Rio de Janeiro: INAE, 2008, p. 26. Entre as regiões metropolitanas da região Nordeste podemos destacar a de Fortaleza, a que mais cresce na região, a de Recife, que se consolida como centro de pesquisas eletroeletrônicas, e a de Salvador, como sendo ainda a principal Região Metropolitana do Nordeste. REGIÕES METROPOLITANAS4 DO NORDESTE As regiões metropolitanas foram criadas pelo IBGE nos anos 1970 e depois incluídas na Constituição de 1988, que as tirou da esfera federal e deu autonomia aos estados para estabelecerem alterações e criações de suas áreas metropolitanas. Entre as capitais nordestinas, somente Teresina não apresenta região metropolitana, além das capitais, existem ainda 4 regiões metropolitanas no interior do Nordeste, nos estados do Maranhão, Paraíba, Ceará e Alagoas. •Salvador (13 municípios) – Salvador (sede); Camaçari; Candeias; Dias d’Ávila; Itaparica; Lauro de Freitas; Madre de Deus; Mata de São João; Pojuca; São Francisco do Conde; São Sebastião do Passé; Simões Filho; Vera Cruz. 4 REGIÃO METROPOLITANA: Conjunto de municípios contíguos/vizinhos ou espacialmente interligados e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infra-estrutura comuns. Fonte: IBGE, Contagem da População – 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Segundo o IBGE (2009), a Grande Salvador apresenta uma área territorial de 4.375,123 km², uma população total de 3.866.004 habitantes e uma densidade demográfica de aproximadamente 900 hab./km². O destaque econômico desta região metropolitana e o centro industrial de Aratu e o pólo petroquímico de Camaçari, alem de importantes vias tais como o aeroporto internacional de Salvador e os portos de Aratu e Salvador. •Recife (14 municípios) – Recife (sede); Abreu e Lima; Araçoiaba; Cabo de Santo Agostinho; Camaragibe; Igarassu; Ipojuca; Itamaracá; Itapissuma; Jaboatão dos Guararapes; Moreno; Olinda; Paulista; São Lourenço da Mata. Fonte: IBGE, Contagem da População – 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 14 Criada em 1973, foi uma das primeiras regiões metropolitanas a ser formada no Brasil. De acordo com o IBGE (2009), a região metropolitana de Recife conta com uma área de 2.768,54 km², uma população total de 3.768.902 habitantes e uma densidade demográficas de 1.361,37 hab./km². É a segunda maior aglomeração urbana do nordeste e a sexta do país. O ponto alto da economia no momento é o inicio da construção de pólo petroquímico. Sua área de influencia abrange todo o Pernambuco, além dos estados de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Além do interior dos estados do Piauí e Bahia. •Fortaleza (15 municípios) – Fortaleza (sede); Aquiraz; Caucaia; Chorozinho; Eusébio; Guaiúba; Horizonte; Itaitinga; Maracanaú; Maranguape; Pacajus; Pacatuba, São Gonçalo do Amarante; Pindoretama; Cascavel. Segundo o IBGE (2009), a Grande Fortaleza apresenta uma área territorial de 5.785,822 km², uma população total de 3.655.259 habitantes e uma densidade demográfica de aproximadamente 631 hab./km². A RMF é hoje a segunda maior região metropolitana do Nordeste e a sexta do Brasil, tendo como área de influência todo o estado do Ceará, o oeste do Rio Grande do Norte, o centro-norte do Piauí, o leste do Maranhão e a região da divisa Ceará/Pernambuco. Na região metropolitana de Fortaleza, destaca-se a a indústria têxtil, de bebidas, flores e mais recentemente os pólos agropecuários. Fortaleza apresenta ainda importante porto e aeroporto internacional, patente vocação turística, além de outras atividades. O Porto do Pecém, construído no município de São Gonçalo do Amarante, abrigará um complexo industrial baseado na “Siderúrgica do Ceará”. Os investimentos permitirão a expansão da economia da região metropolitana de modo mais equilibrado. O turismo e a expansão imobiliária são os principais mercados dos municípios com litoral (São Gonçalo, Caucaia e Aquiraz). Existem projetos de resorts e complexos turísticos nestes litorais, os quais, a se concretizarem, poderão melhorar o equilíbrio destas cidades com relação a Fortaleza. •Cariri (9 municípios) – Juazeiro do Norte; Crato; Barbalha; Caririaçú; Farias Brito; Nova Olinda; Jardim; Santana do Cariri; Missão Velha. Fonte: www.cidades.ce.gov.br Região criada no ano de 2009, que tem como destaque a área de conurbação entre Juazeiro, Crato e Barbalha, o CRAJUBAR, que dividem a sede da região metropolitana. •Maceió (11 municípios) – Maceió (sede); Barra de Santo Antônio; Barra de São Miguel; Coqueiro Seco; Marechal Deodoro; Messias; Paripueira; Pilar; Rio Largo; Santa Luzia do Norte; Satuba. Fonte: IBGE, Contagem da População – 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. De acordo com o IBGE (2009) a região metropolitana de Maceió apresenta uma área de 1.134,122 km², uma população total de 1.160.393 habitantes e uma densidade demográficas de574,8 hab./km². •Agreste (20 municípios) – Arapiraca (sede); Campo Grande; Coité do Nóia; Craíbas; Feira Grande; Girau do Ponciano; Igaci; Junqueiro; Lagoa da Canoa; Limoeiro de Anadia; Olho D’água Grande; São Sebastião; Taquarana; Traipu; Palmeira dos Índios; Estrela de Alagoas; Belém; Tanque d’Arca; São Brás; Jaramataia. Essa região metropolitana foi criada no ano de 2009. Apresenta uma área de aproximadamente 5.000 km² e uma população que ultrapassa os 600 mil habitantes. •Natal (09 municípios) – Natal (sede), Ceará-Mirim; Extremoz; Macaíba; Monte Alegre; Nísia Floresta; Parnamirim; São Gonçalo do Amarante e São José do Mipibu. Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 15 Formada por nove municípios, a Região Metropolitana de Natal apresenta-se como uma das regiões de maior dinamismo econômico e social do Rio Grande do Norte. Do ponto de vista da urbanização, apresenta uma acentuada diferença, pois a população rural de alguns municípios é superior à população urbana. A região metropolitana corresponde a 5,16% do território estadual abrangendo uma superfície de 2.719,574 km². Sua população atingiu 1.312.123 habitantes (isto já representa mais de 40% da população do Rio Grande do Norte) com densidade demográfica de 482,47 hab./km². (IBGE, 2009) •São Luís (04 municípios) - São Luis (sede), Paço do Lumiar; Raposa; São José de Ribamar. Fonte: IBGE, Contagem da População – 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. A região metropolitana de São Luís possui uma economia diversificada. Destacam-se a grande usina de alumínio (Alumar), segunda maior do país, a usina de ferro da Vale (ex-Vale do Rio Doce), o complexo portuário da ilha formado pelos terminais de Itaqui, Ponta da Madeira e Alumar, sendo um porto muito profundo e capaz de receber navios de grande calado. Nos demais municípios destacam-se atividades primárias como agricultura, pesca, extrativismo vegetal e exploração mineral. A infraestrutura da ilha conta com um aeroporto de médio porte (Marechal Cunha Machado), o porto do Itaqui, já mencionado, o terminal rodoviário de São Luís, estação ferroviária, e dois terminais para barcos de passageiros, um em São Luís o outro em São José de Ribamar. Fica sediado na região metropolitana de São Luís o centro de operações do CLA (Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara). De acordo com o IBGE (2008) a região metropolitana de São Luís apresenta uma área de 1.410,015 km², uma população total de 1.211.270 habitantes e uma densidade demográficas de 859 hab./km². •Sudoeste Maranhense (8 municípios) – Imperatriz (sede); João Lisboa; Buritirana; Senador La Rocque; Davinópolis; Governador Edison Lobão; Montes Altos; Ribamar Fiquene. Foi criada no ano de 2005. A população total estimada para 2009 é de 334.899 habitantes de acordo com o IBGE. •João Pessoa (9 municípios) – João Pessoa (sede); Bayeux; Cabedelo; Conde; Cruz do Espírito Santo; Lucena; Mamanguape; Rio Tinto; Santa Rita; Alhandra; Pitimbu; Caapora. Criada no ano de 2003, a Região Metropolitana de João Pessoa apresenta uma área de 2.741,923 km² e reúne cerca de um terço da população paraibana. Tem como destaque o porto de Cabedelo, que é a principal via de exportação e importação do estado. •Campina Grande (23 municípios) – Campina Grande (sede); Lagoa Seca; Barra de Santana; Caturité; Gado Bravo; Pocinhos; Matinhas; Serra Redonda; Aroeiras; Queimadas; Boqueirão; Esperança; Puxinanã; Ingá; Riachão do Bacamarte; Fagundes; Boa Vista; Montadas; Massarandura; Alagoa Nova; Areial; São Sebastião de Lagoa de Roça; Itatuba. Foi criada no ano de 2009 e possui cerca de 690 mil habitantes distribuídos em uma área de 4.974,123 km². A RMCG é a maior região metropolitana do interior nordestino. •Aracaju (4 municípios) – Aracaju (sede); São Cristovão; Barra dos Coqueiros e Nossa Senhora do Socorro. Foi criada em 1995 e possui uma população em torno de 795 mil habitantes de acordo com a estimativa do IBGE (2009). RECURSOS NATURAIS DO NORDESTE A natureza fornece-nos todos os recursos naturais de sobrevivência, isto é, todos os meios materiais de existência. O homem, através do seu trabalho, transforma os recursos naturais em riquezas, ou seja, em produtos necessários ao ser humano. Podemos classificar os recursos naturais em renováveis e não-renováveis. •Renováveis: aqueles que, uma vez utilizados pelo homem, regeneram-se espontaneamente ou através de práticas conservacionistas: Ex.: água, ar, sol, solo, etc. •Não-Renováveis: aqueles que, uma vez esgotados, não mais se regeneram. Ex.: carvão mineral, ferro, petróleo. RECURSOS MINERAIS Entre as produções minerais do Nordeste, a de cloreto de sódio (sal) destaca-se como a mais importante. As maiores produções são oriundas do Rio Grande do Norte, cerca de 60% da produção nacional. Além do sal marinho destacaremos ainda: Caulim (CE/PB/PE), Cobre (BA), Chumbo (BA), Ferro (BA/CE), Fosforita (RN/PE), Gipsita (RN/PB/PE/BA), Manganês (PE), Tungstênio (RN) e Urânio (CE). AGRONEGÓCIO As últimas décadas foram fundamentais para o desenvolvimento da agricultura nordestina. Atualmente diversos projetos de fruticultura irrigada para a exportação instalam-se em inúmeros pontos do Nordeste. Petrolina e Juazeiro, são as áreas tradicionais de cultivo de cereais e regiões como o Vale do Rio Açu, no Rio Grande do Norte, formam o novo nordeste empreendedor. O estado da Bahia é o principal produtor agrícola da região, ele responde por 96,2% da produção de café, 61,6% da produção de soja, 41,3% da produção de feijão e 41, 3% da produção de milho do Nordeste. O estado do Maranhão é o responsável pela maior produção de arroz do Nordeste brasileiro. O estado da Paraíba é o maior produtor de abacaxi e a Bahia o maior produtor de mamão da região. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 16 MOVIMENTO DA PRODUÇÃO DO AGRONEGÓCIO PELAS ESTRADAS FEDERAIS E PORTOS Fonte: Litoral e Sertão: natureza e sociedade no nordeste brasileiro. RECURSOS VEGETAIS •Carnaúba: utilizado na produção de cera, aplicação industrial: lubrificantes, vernizes, sabonetes, velas, óleo, madeira, medicamentos, folhas, coberturas, etc. (encontrado nos estados do CE, RN, PI, MA). •Babaçu: óleo comestível, celulose, ração animal, álcool, combustível, perfumes, bebidas, etc. (MA – 75% da produção). •Castanha de Caju: óleo comestível, doces, alimentos, etc. (CE-RN). •Caroá: cordas, barbantes, tecidos. (PE); •Lucuri: esteiras, doces, refrescos (fibras e frutos). (BA). •Oiticica: oliaginosa. (CE). •Piaçava: escovas, vassouras. (BA). A produção de flores vem apresentando desenvolvimento acentuado e em generosa expansão, principalmente a partir dos anos 1990. Os quatro principais produtores são Bahia, Pernambuco, Ceará e Alagoas. Com o direcionamento de investimentos observa-se o crescimento de atividades importantes para o desenvolvimento da região. Cultivo de flores do Campo da empresa Flora Fogaça, em São Benedito (CE), na Serra da Ibiapaba. PRINCIPAIS AGROPÓLOS DO NORDESTE PÓLOS CARACTERÍSTICAS Sul do Maranhão Culturas mecanizadas de soja, milho, arroz e feijão Piauí (Uruçuí-Gurguéia) Culturas mecanizadas de soja, milho, arroz e feijão Oeste da Bahia Setor de grãos entre o semi-árido e o cerrado. Pólo Jaguaribe-Açú-Mossoró No Ceará apresenta culturas diversificadas. Oeste do RN (pólo fruticultura) destaque para melão e manga. Pólo Cearense Cariri – Milho, feijão, banana. Pólo Petrolina-Juazeiro Situado no médio são Francisco é o maior complexo agroindustrial do Nordeste, destaque para as frutas paraexportação in natura ou para processamento local destaque: uva, banana, coco, goiaba e manga. Pólo da Bacia Leiteira de Sergipe Situado no agreste, esse pólo é um verdadeiro exemplo da modernização rural. Formado por cerca de 2,5 mil criadores de gado de leite. Essa bacia leiteira é o maior centro produtor de leite e laticínios do Nordeste. TRANSPORTES NORDESTE A malha viária da região tem aproximadamente 400.000 km de rodovias que, em geral, estão sucateadas, com poucas exceções. As principais vias de escoamento e transporte rodoviário são a BR-116 (Rodovia Santos Dumont) e a BR-101. Apesar de seu sistema ferroviário ser precário, suas cidades mais importantes dispõem de adequada estrutura aeroportuária, sendo os aeroportos de Recife, Salvador e Fortaleza os principais destaques, recebendo milhões de turistas anualmente, oriundos principalmente da Europa e Estados Unidos. PRINCIPAIS RODOVIAS DO NORDESTE Fonte: Ministério dos Transportes. PRINCIPAIS PORTOS Fonte: Ministério dos Transportes. 1. Pólo sul do Maranhão (MA). 2. Pólo Uruçuí-Gurguéia (PI). 3. Pólo Cariri Cearense (CE). 4. Pólo Baixo Jaguaribe (CE). 5. Pólo Açu-Mossoró (RN). 6. Pólo Alto Piranhas (PB). 7. Pólo Petrolina-Juazeiro (PE- BA). 8. Pólo da Bacia Leiteira de Alagoas (AL). 9. Pólo Sul de Sergipe (SE). 10. Pólo Oeste Baiano (BA). Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB 17 PRINCIPAIS FERROVIAS DO NORDESTE A Companhia Ferroviária do Nordeste ficou responsável pela Malha Nordeste da RFFSA em 1997. Em 2008, esse grupo – que é administrado pela CSN – alterou sua razão social para Transnordestina Logística S/A. ESTRADA DE FERRO CARAJÁS-ITAQUI “No dia 28 de fevereiro de 1985, era inaugurada a Estrada de Ferro Carajás, pertencente e diretamente operada pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), na região Norte do país, ligando o interior ao principal porto da região, em São Luís. Com seus 892 quilômetros de linha singela, 73% de sua extensão em linha reta e 27% em curva, de excelentes condições técnicas, a EFC é uma das ferrovias com melhores índices de produtividade do mundo. A Estrada de Ferro Carajás foi concebida para dar maior produtividade aos trens de minério e hoje tem um dos centros de controle mais modernos do mundo, que possui um sistema integrado baseado em uma rede de telecomunicações por fibra ótica. A velocidade máxima durante o tráfego é de 80km/h com o trem vazio e 75km/h com o trem carregado e no percurso existem 347 curvas. A EFC conta hoje com 5.353 vagões e 100 locomotivas. Conecta-se à Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), Ferrovia Norte-Sul, Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (São Luís-MA), Porto de Itaqui (São Luís- MA), além de beneficiar-se da integração da sua malha com a estrutura de logística da Vale, que conta com mais duas ferrovias, oito portos, serviços de navegação costeira e armazéns, o que possibilita a composição de inúmeras soluções intermodais para os clientes. Nos seus quase 20 anos de existência, além de minério de ferro e manganês, têm passado pelos seus trilhos, anualmente, cerca de 5 milhões de toneladas de produtos como madeira, cimento, bebidas, veículos, fertilizantes, combustíveis, produtos siderúrgicos e agrícolas, com destaque para a soja produzida no sul do Maranhão, Piauí, Pará e Mato Grosso.” Fonte: www.transportes.gov.br TRANSNORDESTINA A Nova Transnordestina, que integrará sete estados do Nordeste, terá trens transportando 11 vezes mais do que as máquinas atuais, o que elevará a capacidade de escoamento, consumindo 80% menos combustível e reduzindo em quatro vezes o custo operacional. A ferrovia deve escoar a produção agrícola do Norte e Nordeste, parte carente de logística de transporte, para os portos do Pecém (CE) e de Suape (PE). A cidade de Missão Velha é o marco zero do projeto em direção a Salgueiro (PE), num trecho de 110km, dos 1.860 previstos. A construção dos outros três trechos da ferrovia – Eliseu Martins (PI), a Araripina (PE), com 400km; Araripina a Salgueiro, com 210km; Salgueiro a Suape, com 483km; e Missão Velha a Pecém, com 622km também faz parte do projeto original. PRINCIPAIS AEROPORTOS SUDENE A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) é uma entidade de fomento econômico-desenvolvimentista, destinada a promover soluções sócio-econômicas à região Nordeste do Brasil. Criada originalmente pela lei 3.692 de 1959, o órgão foi idealizado no governo do presidente Juscelino Kubitscheck, tendo à frente o economista Celso Furtado. Em 2001 o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu extinguir a SUDENE, atribuindo o ato a estrutura da estatal, em substituição ao órgão é criada a ADENE (Agência de Desenvolvimento do Nordeste). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recria a SUDENE no ano de 2007 ligada ao Ministério da Integração Nacional. “No dia 17 de fevereiro de 1959, no salão do Palácio do Catete, parlamentares, ministros, governadores do Nordeste e D. Helder Câmara, sentaram-se em torno de uma grande mesa tendo, um em cada cabeçeira, o presidente Juscelino Kubitschek e Celso Furtado. Era o lançamento da Operação nordeste, a nova política que o governo implantaria na “região problema” onde a seca, no ano anterior, deixara meio milhão de flagelados. Para JK, a Meta 31, como então foi chamada a Operação, chegava tarde mas demonstrava que ele tinha enfim um plano para o Nordeste, tratado até então, se comparado com a acelerada construção de Brasília e o boom industrial do Centro-Sul, como o filho enjeitado. Para Celso, era o ponto de chegada do percurso iniciado em setembro de 1958: a volta ao Brasil, o desligamento da CEPAL, a diretoria do BNDE, o encontro com JK no palácio Rio Negro, o trabalho, feito em tempo recorde, sobre o Nordeste. O ponto de chegada logo se transformaria em ponto de partida de uma fecunda trajetória,levando-o a concretizar a ideia acariciada por muitos anos “de um dia contribuir de forma decisiva para mudar o Nordeste”. Na cerimônia do Catete, o presidente também assinou mensagem ao Congresso encaminhando projeto de lei para a criação de nova agência, a Superintendência de GEOGRAFIA DO NORDESTE – BNB Profs.: Italo Trigueiro / Joanilson Jr. 18 Desenvolvimento do Nordeste, e um decreto instituindo o Conselho de Desenvolvimento do Nordeste, que, com sede no Recife, implantaria a nova política enquanto a lei não fosse aprovada. FURTADO, Rosa Freire d’Aguiar. A batalha da SUDENE. In: Arquivos Celso Furtado. O Nordeste e a saga da SUDENE 1958-1964. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009. O BANCO DO NORDESTE E O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO O Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB) é uma instituição financeira múltipla criada pela Lei Federal nº 1649, de 1952, e organizada sob a forma de sociedade de economia mista, de capital aberto, tendo mais de 90% de seu capital sob o controle do Governo Federal. Com sede na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, o Banco atua em cerca de 2 mil municípios, abrangendo os nove estados da Região Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), o norte de Minas Gerais (incluindo os Vales do Mucuri e do Jequitinhonha) e o norte do Espírito Santo. Maior instituição da América Latina voltada para o desenvolvimento regional, o BNB opera como órgão executor de políticas públicas, cabendo-lhe a operacionalização de programas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e a administração do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), principal fonte de recursos
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