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Capítulo X - Negócio Jurídico - Noções Gerais - Stolze e Pamplona


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Flávia Argôlo França
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Novo Curso de Direito Civil - Parte Geral
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona
Capítulo X – Negócio Jurídico (Noções Gerais)
INTRODUÇÃO 
A categoria dos negócios jurídicos desenvolveu-se, graças ao labor da doutrina germânica, em período relativamente recente.
A TRANSFORMAÇÃO DA TEORIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
O que se pretende demonstrar, simplesmente, é que a moderna teoria geral do direito civil, erigida em sólida base constitucional, deve firmar os seus alicerces na autonomia da vontade e na livre iniciativa, sem que se deixem de observar os princípios de direito e de moral que devem pautar o solidarismo social.
CONCEITO E TEORIAS EXPLICATIVAS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
Costuma-se definir o negócio jurídico como sendo “a manifestação de vontade destinada a produzir efeitos jurídicos”, “o ato de vontade dirigido a fins práticos tutelados pelo ordenamento jurídico”, ou “uma declaração de vontade, pela qual o agente pretende atingir determinados efeitos admitidos por lei”.
O negócio jurídico “seria antes um meio concedido pelo ordenamento jurídico para a produção de efeitos jurídicos, que propriamente um ato de vontade”. Em outras palavras: para os objetivistas, o negócio jurídico, expressão máxima da autonomia da vontade, teria conteúdo normativo, consistindo em “um poder privado de autocriar um ordenamento jurídico próprio”.
Feitas essas observações, pode-se conceituar, finalmente, agora sob o critério estrutural, à luz da lição do Prof. JUNQUEIRA DE AZEVEDO, o negócio jurídico como sendo “todo fato jurídico consistente em declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e eficácia, impostos pela norma jurídica que sobre ele incide.”
Em linguagem mais simples, posto não menos jurídica, seria a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente.
CONCEPÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO NO DIREITO POSITIVO E PELOS PLANOS DE EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA
a) Existência — um negócio jurídico não surge do nada, exigindo-se, para que seja considerado como tal, o atendimento a certos requisitos mínimos; 
b) Validade — o fato de um negócio jurídico ser considerado existente não quer dizer que ele seja considerado perfeito, ou seja, com aptidão legal para produzir efeitos; 
c) Eficácia — ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, ou seja, perfeito para o sistema que o concebeu, isto não importa em produção imediata de efeitos, pois estes podem estar limitados por elementos acidentais da declaração.
CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Nesse tópico, cuidaremos de apresentar uma classificação geral dos negócios jurídicos, tecendo objetivas considerações a respeito de cada espécie apresentada. 
Quanto ao número de declarantes, os negócios jurídicos poderão ser: 
a) unilaterais — quando concorre apenas uma manifestação de vontade (o testamento, a renúncia, p. ex.); 
b) bilaterais — quando concorrem as manifestações de vontades de duas partes, formadoras do consenso (os contratos de compra e venda, locação, prestação de serviços, p. ex.); 
c) plurilaterais — quando se conjugam, no mínimo, duas vontades paralelas, admitindo-se número superior, todas direcionadas para a mesma finalidade (o contrato de sociedade, p. ex.). 
Quanto ao exercício de direitos poderão ser: 
a) negócios de disposição — quando autorizam o exercício de amplos direitos, inclusive de alienação, sobre o objeto transferido. Em regra, são negócios jurídicos translativos, a exemplo da doação; 
b) negócios de administração — admitem apenas a simples administração e uso do objeto cedido. É o que ocorre no comodato e no mútuo. 
Quanto às vantagens patrimoniais, poderão ser: 
a) gratuitos — são aqueles em que somente uma das partes é beneficiada (a doação pura, p. ex.); 
b) onerosos — consistem em negócios em que ao benefício auferido experimenta-se um sacrifício correspondente (os contratos de empreitada, de compra e venda, de mútuo a juros etc.). 
Subtipificam-se em: comutativos e aleatórios. 
Nos primeiros, existe um equilíbrio subjetivo entre as prestações pactuadas, de forma que as vantagens auferidas pelos declarantes equivalem-se entre si (na locação, por exemplo, existe equilíbrio subjetivo entre as prestações do locador — cessão do uso do bem —, e do locatário — pagamento do aluguel). 
Já nos segundos, a prestação de uma das partes fica condicionada a um acontecimento exterior, não havendo o equilíbrio subjetivo próprio da comutatividade. Assim, no contrato de compra de coisas futuras (de uma safra, p. ex.), o comprador pode assumir o risco de, naquele ano, a plantação não prosperar, não vindo a produzir absolutamente nada ou produzindo em quantidade inferior ao esperado. Nessas hipóteses, o preço previamente convencionado será devido, já que assumiu tal risco, ao pactuar um negócio jurídico de natureza aleatória; 
c) neutros — são destituídos de atribuição patrimonial específica, não se incluindo em nenhuma das duas categorias supra-apresentadas. É o caso da instituição voluntária do bem de família, que não tem natureza gratuita nem onerosa; 
d) bifrontes — são negócios que tanto podem ser gratuitos como onerosos. Tudo depende da intenção perseguida pelas partes. O contrato de depósito, por exemplo, é, em princípio, gratuito, embora nada impeça seja convencionada a remuneração do depositário, convertendo-o em negócio oneroso. 
Quanto à forma, poderão ser: 
a) formais ou solenes — são aqueles que exigem, para a sua validade, a observância da forma prevista em lei (venda de imóvel de valor superior ao limite legal, o casamento etc.); 
b) não formais ou de forma livre — são aqueles cujo revestimento exterior é livremente pactuado, sem interferência legal (doação de bem móvel etc.), sendo a regra geral dos negócios jurídicos no ordenamento brasileiro (CC-02, art. 107, e CC-16, art. 129). 
Quanto ao momento da produção de efeitos, poderão ser: 
a) inter vivos — produzem os seus efeitos estando as partes ainda em vida; 
b) mortis causa — pactuados para produzir efeitos após a morte do declarante (testamento, p. ex.). 
Quanto à existência, poderão ser: 
a) principais — existentes por si mesmos (compra e venda, mútuo, leasing etc.); 
b) acessórios — cuja existência pressupõe a do principal (penhor, fiança etc.). 
Quanto ao conteúdo, os negócios jurídicos poderão ser: 
a) patrimoniais — relacionados com bens ou direitos aferíveis pecuniariamente (negócios reais, obrigacionais etc.); 
b) extrapatrimoniais — referentes a direitos sem conteúdo econômico (direitos puros de família, direitos de personalidade etc.). 
Por fim, quanto à eficácia do negócio jurídico, classificam-se em: 
a) constitutivos — cuja eficácia opera-se ex nunc, ou seja, a partir do momento da celebração; b) declaratórios ou declarativos — negócios em que os efeitos retroagem ao momento da ocorrência fática a que se vincula a declaração de vontade, ou seja, ex tunc.
INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
A regra geral positivada de interpretação dos negócios jurídicos é, sem sombra de dúvida, o já transcrito art. 112 do CC-02, em que se vislumbra, claramente, a ideia de que a manifestação de vontade é seu elemento mais importante, muito mais, inclusive, do que a forma com que se materializou.
A boa-fé objetiva torna-se, indubitavelmente, a barema de interpretação de todo e qualquer negócio jurídico, o que é extremamente valorizado pelo CC-02, tanto na regra geral do seu art. 113 (“Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”), quanto nas disposições genéricas sobre os contratos.