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O SISTEMA DE PRECEDENTES NO CPC PROJETADO: engessamento do direito? Revista de Processo | vol. 232/2014 | p. 307 - 324 | Jun / 2014 DTR\2014\2185 Pedro Miranda de Oliveira Doutor em Direito pela PUC-SP. Mestre em Direito pela PUC-PR. Professor adjunto de Processo Civil dos cursos de graduação e mestrado da UFSC. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual - IBDP e do Instituto Iberoamericano de Direito Processual - IIDP. Advogado e consultor jurídico. Rene José Anderle Analista judiciário do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Área do Direito: Processual Resumo: O presente artigo se propõe a demonstrar como um sistema jurídico que consagra o precedente vinculante pode ser instituído sem implicar engessamento do direito jurisprudencial. Palavras-chave: Precedente judicial - Vinculação - Engessamento - Técnicas para evitar o engessamento do direito. Abstract: This article objective is to demonstrate how a legal system that establishes the binding precedent can be structured without developing the crystallization of the law. Keywords: Precedent - Binding - Crystallization - Decision-making environments. Sumário: - 1. Introdução - 2. Precedente judicial - 3. O mito do engessamento do direito jurisprudencial - 4. Técnicas para evitar o engessamento no CPC projetado - 5. Conclusão - 6. Bibliografia Recebido em: 24.03.2014 Aprovado em: 08.05.2014 1. Introdução Um dos fundamentos do Estado de Direito é a segurança jurídica, que consiste no conjunto de condições que torna possível às pessoas o conhecimento antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos, à luz da liberdade reconhecida. Segundo Donaldo Armelin,“a segurança jurídica, que é um dos valores para os quais tende o direito, corresponde a um aspecto particularizado da segurança, cuja importância para a vida social chega a superar a própria Justiça, enquanto elemento essencial à coesão social. A confiança em que as coisas ocorram normalmente é fundamental para a paz social“.1 A segurança jurídica faz com que as partes consigam antever a norma que será aplicada ao caso concreto e o resultado final da demanda. Trata-se da previsibilidade necessária que tem o jurisdicionado de saber que ao Poder Judiciário compete decidir as lides e declarar quem tem razão, sempre atuando de acordo com a autoridade e a vontade da lei. Essa certeza é o que proporciona à comunidade jurídica e à sociedade a sensação de estabilidade no entendimento das normas legais. A segurança, portanto, não decorre propriamente da lei, mas principalmente das decisões proferidas pelos tribunais. Apenas pode ser garantida, respeitando a igualdade perante a interpretação dos juízes. Se os tribunais emitem decisões contraditórias, O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 1 aplicando o mesmo dispositivo legal em diversos sentidos, o que se terá é insegurança jurídica. A partir desta problemática, nota-se um movimento para instaurar um sistema de precedentes vinculantes no Brasil, de maneira a garantir a racionalidade do sistema jurídico e a unidade do direito. Na visão de Daniel Mitidiero,“a necessidade de seguir precedentes não pode ser seriamente contestada no Estado Constitucional“.2 Nesse sentido, o Código de Processo Civil projetado, no texto aprovado recentemente pela Câmara de Deputados, inova ao trazer um capítulo intitulado“Do precedente judicial“ (arts. 520 a 522), em que prevê as regras para que os tribunais uniformizem sua jurisprudência e mantenham-na“estável, íntegra e coerente“. É importante, contudo, compreender o precedente judicial em sentido estrito e suas técnicas de aplicação para que a adoção de um sistema de precedentes não resulte no engessamento do direito jurisprudencial. 2. Precedente judicial 2.1 Definição A expressão precedente judicial tem sido bastante utilizada em sentido extremamente amplo, por vezes como sinônimo de decisão judicial ou jurisprudência. A delimitação do conceito, contudo, é necessária para sua posterior aplicação, bem como para implementação de um sistema de precedentes. Logo, precedente judicial deve ser entendido como“um pronunciamento judicial que, por sua autoridade e consistência, deveria ser adotado por outros juízes como padrão para a decisão de casos semelhantes“.3 Extrai-se do referido conceito que o precedente judicial não se confunde com decisão judicial. É certo que todo precedente é uma decisão judicial, o contrário, porém, não é verdadeiro. As decisões sobre questões de fato não constituem um precedente, pois cada caso é considerado único. Para constituir um precedente, a decisão deve tratar sobre uma questão de direito.4 Além de tratar de questão de direito, a decisão judicial, para ser considerada precedente, necessita enfrentar os argumentos a favor e contra a tese jurídica afirmada de forma exaustiva, sob pena de não prestar-se à orientação de casos posteriores. Em outras palavras, a decisão judicial será um precedente na medida em que possuir aptidão para vincular a autoridade julgadora. Uma decisão exarada por um tribunal inferior pode ser considerada precedente para um juiz de primeiro grau – desde que presentes os requisitos intrínsecos necessários –, porém não será considerada como precedente em relação ao tribunal superior. Precedente judicial também não se confunde com jurisprudência. O precedente judicial limita-se a uma única decisão, enquanto a jurisprudência, seja uniforme ou não, traz intrínseca a ideia de conjunto, de pluralidade de decisões.5 Além disso, enquanto o precedente fornece uma regra que pode ser aplicada por simples critério de subsunção – quando em face de casos em que ocorra identidade fática –, a utilização da jurisprudência para resolução de casos posteriores se apresenta muito mais complicada, pois não existe uma análise comparativa do caso concreto tratado no precedente e no caso sob julgamento.6 A jurisprudência afasta-se do caso concreto, uma vez que sua pesquisa limita-se ao enunciado geral e abstrato da ementa. Em vez de focar em uma decisão, com ementa e fundamentação, os juristas buscam o maior número de julgados possível que justifiquem , de forma geral e abstrata, a tese jurídica que se quer afirmar. O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 2 O precedente judicial, diversamente, delimita os debates e argumentos enfrentados no caso concreto para chegar à determinada tese jurídica de forma coerente, possibilitando sua correta aplicação pelo intérprete da lei. Afasta-se assim, em parte, a chamada jurisprudência defensiva em que o juiz fundamenta sua decisão em uma ementa sem debater os argumentos das partes, sob a justificativa de que“o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos apresentados pela parte“.7 É que ao aplicar o precedente o juiz deve demonstrar que os fatos são semelhantes e que os argumentos trazidos já foram debatidos, ou, se não foram, expressamente tematizá-los dizendo o porquê não são suficientes para transformar aquela decisão. Para compreender os precedentes, indispensável expor os conceitos de ratio decidendi e obiter dictum, conforme a doutrina proveniente do common law. É que quando se fala em vinculação por meio do precedente, deve-se delimitar qual parte deste de fato vincula seu aplicador. Foi justamente para responder essa questão que a doutrina decantou o precedente, elaborando os conceitos de“ratio decidendi – a parte vinculante da decisão judicial – e obiter dictum – os discursos não autoritativos que se manifestam nos pronunciamentos judiciais“.8 De plano, deve-se afastar a noção comum do jurista do civil law de que a parte do precedente que vinculará as decisões posteriores condiciona-se à coisa julgada, à parte dispositiva da decisão. É certo que a parte dispositiva deverá ser levada em conta na apreciação do julgado, contudo, é em sua fundamentação que se deve perquirir pelo real significado do precedente,ou melhor,“nas razões palas quais se decidiu de certa maneira ou nas razões que levaram à fixação do dispositivo“.9 Teresa Arruda Alvim Wambier ensina que a rule é o conteúdo essencial da decisão judicial que se transforma em precedente. É ela que deve ser seguida pelos tribunais nas decisões posteriores.10 Em relação à definição de ratio decidendi e obiter dictum, vale pontuar que a discussão encontra-se bastante presente na doutrina do common law, sem que se tenha chegado a um consenso metodológico ou mesmo conceitual. Para Eugene Wambaugh, ratio decidendi é uma regra geral em cuja ausência o caso seria decidido de outra forma. A partir deste conceito, o jurista elaborou um teste para definir a ratio em um caso concreto. Primeiramente, deve-se formular a suposta proposição do direito que constitui a ratio decidendi. Após, insere-se na proposição uma palavra que inverta seu significado. Então questiona-se se, caso o tribunal houvesse admitido a nova proposição, a decisão final teria sido a mesma. Sendo a resposta afirmativa, a proposição não é ratio decidendi da decisão testada; sendo a resposta negativa, a proposição tem autoridade para vincular a autoridade posterior.11 O teste de Eugene Wambaugh é criticável, principalmente, por não se manter quando a decisão analisada se fundamenta em dois ou mais argumentos que separadamente podem levar à mesma solução. Neil MacCormick conceitua ratio decidendi como uma decisão, expressa ou implicitamente dada por um juiz, suficiente para resolver uma questão jurídica suscitada pelos argumentos das partes no caso, sendo esta decisão necessária para justificar a decisão final proferida no caso.12 Obiter dictum, por sua vez, é bem definido Robert S. Summers, quando afirma que algumas partes de uma decisão não são formalmente vinculantes como precedentes. Isso acontece em relação às compreensões da Corte que não sejam necessárias à solução do caso concreto.13 Enfim, os precedentes não se devem aplicar de forma automática. O precedente deve O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 3 ser analisado cuidadosamente para determinar se existem similaridade de fato e de direito e para determinar a posição atual da Corte com relação ao caso anterior. Estuda-se o precedente para determinar se o princípio nele deduzido constitui a fundamentação da decisão ou tão somente um dictum. Apenas os fundamentos da decisão merecem reconhecimento e acatamento com força vinculativa. Um dictum é apenas uma observação ou opinião e, como tal, goza tão somente de força persuasiva.14 2.2 Formação A formação do precedente judicial, e consequentemente de sua ratio decidendi, deve ocorrer de forma paulatina e dinâmica.15 Quer-se dizer que as demandas devem seguir seu processo de forma normal, passando pelos primeiros e segundos graus de jurisdição em diversas localidades. Assim, quando os casos concretos chegarem aos Tribunais Superiores, as teses neles veiculadas estarão amadurecidas, uma vez que foram discutidas por diversos juízes e tribunais por todo país. Além disso, a participação das partes, bem como o esforço individual dos advogados, juízes e demais envolvidos no processo contribuem decisivamente para que a ratio decidendi firmada nos Tribunais Superiores seja, de fato, a mais adequada para a questão posta sob debate. Ronald Dworkin explica a formação da ratio com uma inteligente metáfora onde compara a atividade jurisdicional com a de um romance em cadeia em que cada juiz ou tribunal é autor de um capítulo. Cada autor na cadeia interpreta os capítulos que lhe foram dados para poder escrever um novo capítulo, que é depois adicionado àquilo que o próximo novelista recebe, e por aí vai. Cada um tem a tarefa de escrever seu capítulo de forma a fazer o romance ser construído da melhor forma possível.16 Pois bem. O art. 521 do CPC projetado, a fim de dar efetividade aos princípios da legalidade, da segurança jurídica, da duração razoável do processo, da proteção da confiança e da isonomia, prevê uma espécie de escala na aplicação dos precedentes. Grosso modo, os juízes e tribunais seguirão: (a) as decisões e os precedentes do STF em controle concentrado de constitucionalidade; (b) os enunciados de súmula vinculante, os acórdãos e os precedentes em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; (c) os enunciados das súmulas do STF e do STJ; (d) os precedentes do Plenário do STF, em controle difuso de constitucionalidade; (e) os precedentes da Corte Especial do STJ, em matéria infraconstitucional. Acreditamos, ainda, que o precedente da Corte Superior já deveria ser vinculante ainda quando produzido somente por uma turma, desde que devidamente fundamentado e debatidas as questões postas no caso subsequente. Evidente que a vinculação só ocorreria no caso do precedente específico ser o único, ou serem todos no mesmo sentido. Caso existam divergências, ainda não sanadas pela própria turma ou pela seção, cabe ao tribunal inferior“escolher“ qual posicionamento seguir, fundamentando o porquê rejeitou o outro posicionamento.17 Essa escolha só cabe até que o Tribunal Superior consolide o entendimento da questão. O mesmo raciocínio se aplica ao juiz de primeiro grau. Este se encontra vinculado tanto aos precedentes do tribunal inferior ao qual está ligado quanto aos Tribunais Superiores. Existindo divergência nos Tribunais Superiores, mas estando a questão pacificada no tribunal inferior, ele continua vinculado a decidir conforme orientação proporcionada por este último. Caso o tribunal inferior possua precedentes antagônicos, no mesmo grau hierárquico, caberá, agora ao juiz de primeiro grau, a“escolha“ entre um ou outro posicionamento, sempre com a devida fundamentação. Vê-se que a pedra angular do sistema jurídico que valoriza o precedente é a uniformização da jurisprudência nos tribunais. Se os Tribunais Superiores não se conscientizarem de sua função nomofilácica,18 mantendo suas decisões estáveis e não O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 4 contraditórias, será impossível exigir que os tribunais inferiores os sigam. O mesmo se diga em relação aos juízes de primeira instância. Ainda em relação à formação da ratio decidendi, cabe dizer que é possível, e até provável, que ela não se encerre em somente um caso. Novos fundamentos podem surgir de maneira que será necessário ampliar ou restringir a ratio anteriormente firmada.19 Conclui-se, portanto, que a ratio decidendi deve ser formada dinâmica e paulatinamente, a fim de que o precedente judicial dos Tribunais Superiores seja o mais justo e correto possível. 2.3 Aplicação Explicitado que a parte vinculante do precedente limita-se a sua ratio decidendi, deve-se deixar claro que os precedentes judiciais nunca são elaborados para resolver casos futuros. A solução refere-se ao caso concreto, não sendo debatidas questões alheias àquelas que ali se discutem.20 O precedente não é uma regra abstrata, mas uma regra intimamente ligada aos fatos que lhe deram origem.21 Assim, a ratio decidendi do precedente não será definida no momento em que foi proferida a decisão, mas em momento posterior, pelo juiz que vier a aplicá-lo. Cabe ao juiz, diante do caso concreto, determinar se o precedente judicial apresentado pela parte se aplica ou não à questão em discussão, demonstrando a identidade fática, as diferenças determinantes entre os casos e o sentido da norma aplicada. Na lição de Arthur L. Goodhart, a regra de direito que se torna vinculante a partir do precedente não é a pronunciada implícita ou explicitamente pelo juiz que julgou o precedente, mas sim a que é construída pelos juízes que atuam em momento posterior. 22 Michele Taruffo explica que o precedente fornece uma regra (universalizável, como já se disse) que pode ser aplicada como critério de decisão no caso subsequenteem função de sua identidade ou – como acontece normalmente – por analogia entre os fatos do primeiro caso e os fatos do segundo caso. A analogia dos dois casos concretos não é dada in re ipsa, mas vem afirmada ou excluída pelo juiz do caso subsequente, dependendo do que ele considera prevalecente como elementos de identidade ou de diferença entre os fatos dos dois casos. É, portanto, o juiz do caso sucessivo que estabelece se existe ou não o precedente, e, então – por assim dizer –“cria“ o precedente.23 Nesse viés, faz-se necessário perquirir o que se deve levar em conta quando se identifica o caso tratado no precedente com o caso pendente de decisão, para ser possível delimitar quais diferenças são aptas a autorizar que o julgador se afaste da aplicação do precedente apresentado. A força do precedente deriva do princípio de justiça de tratar casos semelhantes de maneira semelhante. Hans Kelsen, em sua clássica obra Teoria pura do direito, já advertia que“como a decisão que constitui um precedente pode ser vinculante apenas para a decisão de casos iguais, a questão de saber se um caso é igual ao precedente é de importância decisiva. Como nenhum caso é igual ao precedente sob todos os aspectos, 'a igualdade’ de dois casos que a esse respeito interesse considerar apenas pode residir no fato de eles coincidirem em certos pontos essenciais (…). Porém, a questão de saber em que pontos têm de coincidir para serem considerados como 'iguais’ apenas pode ser respondida com base na norma geral que determina a hipótese legal, fixando os seus elementos essenciais. Portanto, só com base na norma geral que é criada pela decisão com caráter de precedente se pode decidir se dois casos são iguais. A formulação desta norma geral é o pressuposto necessário para que a decisão do caso precedente possa ser vinculante para a decisão de casos 'iguais’“.24 Portanto, constatando a ratio decidendi da decisão que será utilizada como precedente, o juiz deve identificar se os fatos jurídicos tratados no caso sob análise possuem pontos O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 5 essenciais que coincidem com aqueles tratados no precedente. Para ilustrar o tema, interessante o exemplo de Maurício Ramires, citando a doutrina de Frederick Schauer,25 onde expõe que“caso se decida que é permitido ao dono de um cão preto andar em uma calçada, também deve ser garantido ao dono de um cão marrom ou vermelho andar na mesma calçada“.26 Não deve ser permitido, no entanto, que o dono de um carro preto ande com o carro sobre a calçada. O ponto essencial é o cão e não a cor preta. É necessário que o juiz identifique a igualdade ou desigualdade fática e motive o porquê daquela igualdade ou desigualdade ser suficiente para aplicar ou afastar o precedente. O que não pode ocorrer é reconhecer que os casos são idênticos, mas, mesmo assim, negar-se a adotar o precedente legitimamente formado. Constatando a identidade fática entre o precedente e o caso sob julgamento – e não sendo o caso de distinguishing ou overruling –, o juiz deve aplicar o precedente por simples analogia, ou seja, a solução a ser dada ao caso concreto deverá ser a mesma que foi dada no caso paradigma. 3. O mito do engessamento do direito jurisprudencial Alguns juristas acreditam que uma política de vinculação aos precedentes judiciais acarretaria engessamento do direito desenvolvido jurisprudencialmente.27 No entanto, as experiências dos países do common law demonstram que o direito não se petrifica em virtude da vinculação, especialmente em razão da possibilidade de superação dos precedentes através do overruling ou da flexibilização proporcionada pelo distinguishing. Edward D. Re explica que“a doutrina do stare decisis não exige obediência cega a decisões passadas. Ela permite que os tribunais se beneficiem da sabedoria do passado, mas rejeitem o que seja desarrazoado ou errôneo“.28 Com efeito, a vinculação por precedentes no sistema da common law não se trata de uma vinculação imutável e definitiva, traduz antes o sábio equilíbrio, praticamente conseguido, entre a estabilidade e a continuidade jurídicas de um lado, e a abertura e a liberdade jurisdicionais, de outro, por meio da vinculação com as possibilidades do distinguishing e do overruling.29 Thomas da Rosa da Bustamante, citando Lord Tom Bingham,30 explicita que“o trabalho dos comparatistas, ao longo dos anos, demonstrou que, quaisquer que sejam as diferenças de 'nomenclatura, procedimento e raciocínio’, os conteúdos das decisões jurídicas nos dois sistemas normalmente são similares: 'Desde que os Estados da Europa Ocidental alcançaram aproximadamente o mesmo estágio de desenvolvimento econômico e social, nós vemos – sem surpresa – as cortes desses países confrontando em grande medida os mesmos problemas e observamos que, apesar de as regras jurídicas usadas para resolver esses problemas serem bem diferentes, as soluções são frequentemente muito semelhantes’“.31 É evidente, portanto, que o sistema de common law não engessa o desenvolvimento do direito jurisprudencial. Se assim fosse, países como a Inglaterra e os Estados Unidos permaneceriam presos a decisões passadas que favoreceram a discriminação racial ou mesmo a escravidão, algo que, obviamente, não acontece nos dias de hoje. Na verdade, existem mecanismos de flexibilização, como a definição da ratio decidendi, o overruling e o distriguishing.32 Assim, parece-nos o direito jurisprudencial não restou engessado nos países de common law. O mesmo poderá ocorrer no Brasil quando entrar em vigor o Código de Processo Civil projetado, desde que os operadores do direito saibam utilizar de forma correta as técnicas existentes no sistema. 4. Técnicas para evitar o engessamento no CPC projetado O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 6 4.1 Distinguishing O distinguishing é uma técnica, típica do common law, consistente em não se aplicar o precedente quando o caso a ser decidido apresenta uma peculiaridade, que autoriza o afastamento da rule e que a decisão seja tomada independentemente daquela.33 Com efeito, o distinguishing acontece quando são apresentadas aos juízes decisões anteriores que poderiam ser utilizadas como precedentes, mas não o são por existirem desigualdades em pontos essenciais. Thomas da Rosa de Bustamante esclarece que essa técnica“deve ser definida como um tipo de afastamento do precedente judicial no qual a regra da qual o tribunal se afasta permanece válida mas não é aplicada com fundamento em um discurso de aplicação em que, das duas, uma: (1) ou se estabelece uma exceção anteriormente não reconhecida – na hipótese de se concluir que o fato sub judice pode ser subsumido na moldura do precedente judicial citado; ou (2) se utiliza o argumento a contrario para fixar uma interpretação restritiva da ratio decidendi do precedente invocado na hipótese de se concluir que o fato subjudice não pode ser subsumido no precedente“.34 Dissecando as hipóteses apresentadas, o autor afirma que a primeira – exceção anteriormente não reconhecida – trata-se de uma redução teleológica do precedente, onde se procede a uma redução na área semântica da regra jurídica excepcionada, uma diminuição do universo das situações compreendidas em sua hipótese. A redução teleológica seria, portanto, uma espécie de retificação do direito quando este se apresenta injusto por excessivamente geral.35 Tal situação ocorre quando o caso concreto apresenta condições adicionais – ou carece de características relevantes presentes no caso paradigma – que tornam injusta a aplicação do precedente ao qual se subsumiria. Em relação à segunda hipótese – interpretação restritiva da ratio decidendi por meio do argumento a contrario –, Thomas da Rosa de Bustamante elucida que, diversamente do que ocorre na redução teleológica,“conclui-se que os fatos sub judice não podem ser subsumidos na regra jurídica cuja aplicação sepretende evitar no caso concreto“. Ou seja, o caso concreto não é uma exceção à regra afirmada no precedente,“já que esta foi interpretada em um sentido restrito, de sorte a excluir do âmbito da incidência da norma os fatos do caso concreto“.36 O projeto do novo Código de Processo Civil, na versão aprovada na Câmara dos Deputados, consagra o distinguishing no § 9.° do art. 521 (que trata da vinculação), dispondo que o precedente dotado de efeito vinculante“poderá não ser seguido, quando o órgão jurisdicional distinguir o caso sob julgamento, demonstrando fundamentadamente se tratar de situação particularizada por hipótese fática distinta ou questão jurídica não examinada, a impor solução jurídica diversa“. Deve-se retomar aqui o que já foi falado quando se tratou da identidade fática entre o precedente e o caso sob julgamento, a distinção deve ser fundamentada sobre pontos essenciais e não em relação a um aspecto qualquer. Logicamente, a faculdade de realizar o distinguishing não se confunde com a permissão para o juiz ignorar precedentes que não lhe agradem.37 Nessa linha, cumpre esclarecer que o ponto mais importante para manter a integridade do sistema, bem como todas as garantias proporcionadas pela política de respeito ao precedente, consiste na obrigação do juiz fundamentar sua decisão ao aplicar o precedente ou utilizar-se da técnica do distinguishing. Ele deverá demonstrar que existem peculiaridades específicas que afastam a aplicação do caso sob julgamento, ou que este é suficientemente igual38 ao caso paradigma, sob pena de ver sua decisão anulada por falta de fundamentação. Com efeito, a aplicação do distinguishing não significa uma superação ou revogação do precedente invocado, tampouco que o mesmo está equivocado. O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 7 Na maioria das vezes, o distinguishing não afeta a autoridade do precedente, isto porque a Corte não está declarando que aquela decisão invocada como precedente constitui uma regra ruim, mas sim uma regra boa inaplicável ao caso.39 Portanto, o precedente continuará hígido e válido – se outros motivos não justificarem sua superação ou revogação – apesar do juiz ter entendido que ele não se aplicava no caso sob julgamento pela existência de desigualdades em pontos essenciais entre ambos. É, portanto, a liberdade do juiz em reconhecer as distinções do caso concreto sob sua análise, a liberdade em reconhecer as variações no contexto, o que evidencia que o distinguishing possibilita uma flexibilização na aplicação do precedente.40 Não existe uma vinculação prévia ao caso concreto, a vinculação se dá no momento em que é feito o julgamento e somente se ocorrer identidade fática, sem que haja distinções em pontos essenciais. Em outras palavras, o juiz não perde a liberdade de diferenciar o caso sob sua análise daquele posicionamento firmado no precedente. Caso não sejam suficientemente iguais, o juiz julgará aquele caso concreto de maneira livre, desde que demonstre de forma fundamentada a diferenciação. Com a utilização da técnica da distinção o sistema de precedentes torna-se adaptável e capaz de permitir o desenvolvimento do direito. Possibilita-se, assim, que o sistema abarque novas realidades, bem como situações que, embora antigas, não tenham sido anteriormente tematizadas, sem que, com isso, seja necessário o rompimento do sistema ou a revogação do precedente. Deste modo, o distinguishing contribui não só para o desenvolvimento do direito, como também para sua estabilidade.41 4.2 Overruling Luiz Guilherme Marinoni explica“que o distinguishing atinge uma finalidade distinta daquela que é pretendida com o overruling. O primeiro não nega a necessidade do precedente, mas requer a sua acomodação diante de nova circunstância. O overruling, ao contrário, em vista de transformação dos valores, da evolução da tecnologia ou da própria concepção geral do direito, parte da premissa certa de que o precedente não tem como ser mantido, sendo impossível a sua correção ou emenda para atender a uma nova situação“.42 O overruling, portanto, é a superação de um precedente judicial quando se constatar que: (a) a ratio decidendi proclamada não fora a correta, ou que, (b) por mudanças da sociedade, aquele entendimento deixou de ser correto. Ele acontece na decisão em que se aplica regra diferente da adotada em decisões anteriores, anunciando-se que a regra afastada está superada.43 Nesse sentido, o Código de Processo Civil projetado, na redação aprovada na Câmara de Deputados, teve o cuidado de regular minuciosamente a hipótese de“modificação de entendimento sedimentada“ nos §§ 1.° a 6.° do art. 521. A possibilidade de superar um entendimento consolidado no precedente não significa, no entanto, que os juízes estão livres para fazê-lo em qualquer situação. Não há sistema coeso quando as Cortes Superiores não se submetem a critérios especiais para revogar os seus precedentes. E é exatamente esta submissão a critérios que caracteriza a eficácia horizontal no direito contemporâneo.44 Klaus Gunther ensina que“a justificação de uma norma dura apenas até o momento em que permaneçam inalterados os possíveis contextos de aplicação conhecidos por todos os participantes com fundamento em suas experiências históricas. Apenas uma aplicação imparcial nos põe em posição de relacionar uma norma universalmente justificada a contextos estendidos e modificados e desse modo exaurir todas as possíveis variáveis semânticas relevantes para a decisão. Variações no contexto nos compelem a interpretar O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 8 novamente as situações e nós podemos desse modo trazer à colação novos interesses“. 45 Dessa forma, as razões que justificam o overruling devem ser ainda mais fortes que as que seriam suficientes para o distinguishing, uma vez que o primeiro representa uma verdadeira ab-rogação da norma antes aceita como precedente. Sempre que um juiz ou tribunal for se afastar de seu próprio precedente, este deve ser levado em consideração, de modo que a questão do afastamento do precedente seja expressamente tematizada. 46 O § 6.° do art. 521 do Projeto do NCPC tem a seguinte redação:“A modificação de entendimento sedimentado, sumulado ou não, observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia“. É o que aconteceu, por exemplo, no julgamento do EREsp 492.461/MG, em que a Corte Especial do STJ alterou seu posicionamento em relação à tempestividade do chamado recurso prematuro. Transcreve-se a ementa: “Processo civil – Recurso – Tempestividade – Mudança de orientação na jurisprudência do STJ. 1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de considerar intempestivo o recurso interposto antes da publicação da decisão no veículo oficial. 2. Entendimento que é revisto nesta oportunidade, diante da atual sistemática de publicidade das decisões, monocráticas ou colegiadas, divulgadas por meio eletrônico. 3. Alteração jurisprudencial que se amolda à modernização da sistemática da publicação via Internet. 4. Agravo regimental provido“.47 Aqui, de forma exemplar, o STJ afirmou de forma expressa que havia posicionamento anteriormente consolidado em determinado sentido, cuja ratio decidendi foi revista na oportunidade do julgamento, elencando os motivos que levaram à sua superação. Perfeito! Como mencionado anteriormente, a superação de um precedente judicial ocorre, em síntese, devido a duas razões: (a) sua incongruência social, quando o precedente desponta errado, injusto, obsoleto, aviltando o sentimento de justiça do cidadão comum; (b) sua inconsistência sistêmica, quando os fundamentos do precedente a ser superado passam a ser incompatíveis com os fundamentos afirmados em outros precedentes do mesmo tribunal ou dos Tribunais Superiores. Além da incongruência sociale da inconsistência sistêmica, na revogação do precedente deve ser realizada uma avaliação pontual da oportunidade de mantê-lo a fim de preservar a estabilidade do sistema. Quer dizer, deve-se restar demonstrado que a injustiça do precedente e, portanto, sua provável revogação, já estava sendo evidenciada pela doutrina e pelos julgamentos que aplicavam distinções inconsistentes; ou então, deve-se realizar a revogação com efeitos prospectivos. É que existem situações em que a revogação do precedente com efeitos retroativos pode tornar-se tão injusta quanto a perpetuação do precedente judicial declarado injusto.48 Isso ocorre quando aquele precedente era estável e pautava justificadamente a conduta dos jurisdicionados por certo tempo, não havendo indicadores de que seria revogado ou superado. Assim, o overruling pode ter seus efeitos postergados, vindo a ser obrigatório a partir de certa data definida pela corte (prospective overruling), apesar da revogação de um precedente no common law possuir, de regra, efeitos retroativos (retrospective overruling). O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 9 A hipótese de modulação dos efeitos da nova decisão também está prevista no projeto do NCPC:“Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante, sumulada ou não, ou de precedente, o tribunal poderá modular os efeitos da decisão que supera o entendimento anterior, limitando sua retroatividade ou lhe atribuindo efeitos prospectivos“ (art. 521, § 5.°). Por fim, é importante ressaltar que a possibilidade de overruling pelas cortes não significa uma anulação do sistema de precedentes. Conforme Neil MacCormick, a técnica remove os piores efeitos da regra do stare decisis, uma vez que regras inconvenientes ou injustas serão passíveis de reconsideração. É o velho sistema, com o que tinha de pior, removido.49 5. Conclusão Os países que adotaram o common law e a doutrina do stare decisis não possuem uma regra escrita que obrigue os juízes a respeitarem o precedente judicial. Existe, sim, conforme célebre frase do juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Oliver Wendell Holmes o“peso da tradição de pelo menos 1.000 anos“ que justifica o respeito ao que já foi decidido no passado.50 O respeito aos precedentes faz parte da cultura jurídica desses países. O juiz possui o dever moral de respeitar o precedente. Semelhante cultura não existe no Brasil. Os juízes brasileiros não se sentem moralmente obrigados a respeitar as decisões dos Tribunais Superiores. Entretanto, a jurisprudência das cortes precisa ser estável para possibilitar um norte às instâncias inferiores. Quando os tribunais se conscientizarem de sua função nomofilácica e conseguirem manter, internamente, o respeito a seus precedentes, a consequência inevitável será a conscientização dos membros dos tribunais inferiores de também respeitarem o entendimento firmado. Além disso, conforme restou demonstrado no presente ensaio, um sistema que dá ao juiz a possibilidade de afastar a aplicação do precedente pelas técnicas do distinguishing e do overruling não provoca o temido engessamento do direito jurisprudencial, desde, é claro, se bem aplicadas. Enfim, acredita-se que a positivação de um sistema de precedentes vinculantes não representará uma revolução imediata no pensamento dos aplicadores da lei, mas possibilitará a adaptação da mentalidade dos juristas brasileiros para, quem sabe em um futuro próximo, o Brasil possua uma ordem jurídica racional e coerente que, por meio do respeito ao precedente judicial, consiga manter a unidade do direito nacional. 6. Bibliografia ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2001. ARMELIN, Donaldo. Alterações da jurisprudência e seus reflexos nas situações já consolidadas sob o império da orientação superada. Revista Brasileira de Direito Processual, Belo Horizonte, vol. 70, p. 31-48, abr.-jun. 2010. ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Precedentes e evolução do direito. In: _______ (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. ______. Glossário. In: ANDREWS, Neil. O moderno processo civil: formas judiciais e alternativas de resolução de conflitos na Inglaterra. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2012. BINGHAM, Lord Tom. The Future of the common law. The Business of Judging – Selected Essays and Speeches.Oxford: Oxford University Press, 2000. BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justificação e a O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 10 aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. CAMARGO, Luiz Henrique Volpe. A força dos precedentes no moderno processo civil brasileiro. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. CHIARLONI, Sergio. Funzione nomofilattica e valore del precedente. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. CROSS, Rupert; HARRIS, J. W. Precedent in English Law.Oxford: Clarendon Press, 1991. DUXBURY, Neil. The nature and the authority of precedent. New York: Cambridge University Press, 2008. DWORKIN, Ronald. Law’s Empire. 11. ed. Cambridge: Belknap, 2000. ______. Taking Rights Seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1991. GOODHART, Arthur L. Precedents in English and continental law and case law: a short replication. Law Quarterly Review, n. 50, 1934. GUNTHER, Klaus. The sense of Appropriateness – Application Discourses in Morality and in Law.Trad. John Farrel. Albany: State University of New York Press, 1993. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. MACCORMICK, Neil. Can stare decisis be abolished? Judicial Review 11/198, 1966. ______. Why cases have rationes and what these are. In: GOLDSTEIN, L. (coord.). 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WAMBAUGH, Eugene. The study of cases: a course of introduction in reading and statingreported cases, composing head-notes and briefs, criticizing and comparing authorities and compiling digests.2. ed. Boston: Little, Brown & Co., 1894. WOLKART, Erik Navarro. Súmula vinculante: Necessidade e implicações práticas de sua adoção (o processo civil em movimento). In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. 1 ARMELIN, Donaldo. Alterações da jurisprudência e seus reflexos nas situações já consolidadas sob o império da orientação superada. Revista Brasileira de Direito Processual, Belo Horizonte, vol. 70, p. 31-48, abr.-jun. 2010, p. 38. 2 MITIDIERO, Daniel. Fundamentação e precedente – Dois discursos a partir da decisão judicial. RePro, vol. 206, p. 65, São Paulo, 2012. 3 SANTOS, Evaristo Aragão. Em torno do conceito e da formação do precedente judicial. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 145. 4 CROSS, Rupert; HARRIS, J. W. Precedent in English Law.Oxford: Clarendon Press, 1991. p. 169. 5 SANTOS, Evaristo Aragão. Em torno do conceito e da formação do precedente judicial. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 143. 6 TARUFFO, Michelle. Precedente e giurisprudenza. In: MAC-GREGOR, Eduardo Ferrer et al (coord.). La ciencia del derecho procesal Constitucional: estudios en homenaje a Héctor Fix-Zamudio en sus cincuenta años como investigador del derecho. Tomo V: Juez y sentencia constitucional. Mexico: Marcial Pons, 2008. p. 798. 7 STJ. AgRg no Ag 1.061.871/RJ, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 29.11.2010. 8 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justificação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. p. 252. 9 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 221. 10 ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Glossário. In: ANDREWS, Neil. O moderno processo civil: formas judiciais e alternativas de resolução de conflitos na Inglaterra. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 23. 11 WAMBAUGH, Eugene. The study of cases: a course of introduction in reading and stating reported cases, composing head-notes and briefs, criticizing and comparing authorities and compiling digests.2. ed. Boston: Little, Brown & Co., 1894. Apud MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 12 224. 12 MACCORMICK, Neil. Why cases have rationes and what these are. In: GOLDSTEIN, L. (org.). Precedent in Law. Oxford: Clarendon Press, 1987. p. 170. 13 SUMMERS, Robert S. Precedent in the United States (New York State).Interpreting Precedents: a comparative study. London: Dartmouth, 1997, p. 384. Apud MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 235. 14 RE, Edward D.“Stare decisis“. Trad. Ellen Gracie Northfleet. RePro, São Paulo, vol. 73, p. 47-54, jan.-mar. 1994. p. 49. 15 Sobre a formação dinâmica do precedente, ver: SANTOS, Evaristo Aragão. Em torno do conceito e da formação do precedente judicial. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 133-202, especialmente p. 154-173. 16 DWORKIN, Ronald. Law’s Empire. 11. ed. Cambridge: Belknap, 2000. p. 229. 17 Nas palavras de Maurício Ramires:“Quando isso ocorre [julgados antagônicos no mesmo tribunal], a primeira coisa a não se fazer é escolher uma das tendências judiciais como fundamento bastante de uma decisão, sem justificar a escolha. (…) Ao se fundamentar uma decisão em precedentes, quando há entendimentos diversos na jurisprudência, é preciso que ambas as tendências jurisprudenciais façam parte da decisão. A solução do caso deverá vir da resolução dialética entre eles, no caso concreto“ (RAMIRES, Maurício. Crítica à aplicação de precedentes no direito brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 111-112). 18 Na lição de Sergio Chiarloni,“a função nomofilácica consiste 'simplesmente’ em assegurar a uniformidade da interpretação das normas (além da uniformidade de sua aplicação)“ (CHIARLONI, Sergio. Funzione nomofilattica e valore del precedente. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 227). 19 Luiz Guilherme Marinoni explica:“Suponha-se, por exemplo, que em um caso, em que foi expressa de forma clara e precisa a ratio, não tenha sido enfrentada determinada questão de direito, que, se acolhida, pode reduzir ou ampliar a ratio primitiva. Nessa situação (…) a sua alteração provém não da necessidade de esclarecimento, mas da imprescindibilidade de enfrentamento de uma nova questão. (…) quando a completa solução do caso exige o enfrentamento de outra questão, o verbo reduzir não é incompatível com a ideia de complementar“ (MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 250). 20 RAMIRES, Maurício. Crítica à aplicação de precedentes no Direito Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 70. 21 SOARES, Guido Fernando Silva. Common Law: introdução ao direito nos EUA. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2000. p. 41. 22 GOODHART, Arthur L. Precedents in English and continental law and case law: a short replication. Law Quarterly Review, n. 50, 1934, p. 47. 23 TARUFFO, Michelle. Precedente e Giurisprudenza. In: MAC-GREGOR, Eduardo Ferrer et al (coord.). La Ciencia Del Derecho Procesal Constitucional: Estudios en homenaje a Héctor Fix-Zamudio en sus cincuenta años como investigador del derecho. Tomo V: Juez y sentencia constitucional. Mexico: Marcial Pons, 2008. p. 798. 24 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. 5. ed. São Paulo: O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 13 Martins Fontes, 1996. p. 278. 25 SCHAUER, Frederick. Precedent. Stanford Law Review, n. 39. Stanford, 1987. p. 577. 26 RAMIRES, Maurício. Crítica à aplicação de precedentes no direito brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 77. 27 Nesse sentido:“Mais que tudo, porém, é preciso precaução contra a criação de uma forma de controle muito pior, embora interna: o engessamento da atividade jurisdicional do juiz por súmulas de jurisprudência dos tribunais superiores, que alguns setores querem tornar vinculantes (…) haverá uma verdadeira cristalização da jurisprudência, que deixará de sofrer os influxos da saudável discussão daqueles temas pelos magistrados.“ (VILLEN, Antônio Carlos; CINTRA JUNIOR, Dyrceu Aguiar Dias. Controle externo e interno do Judiciário: o controle político-ideológico e as súmulas vinculantes. RT, São Paulo, vol. 720, p. 343-346, 1995). 28 RE, Edward D. Stare Decisis.Trad. Ellen Gracie Northfleet. Revista Jurídica, n. 198, p. 28, Porto Alegre: Síntese, 1994. 29 NEVES, Antônio Castanheira. O instituto dos assentos e a função jurídica dos supremos tribunais. Coimbra, 1983. p. 669. 30 BINGHAM, Lord Tom. The Future of the common law. The Business of Judging – Selected Essays and Speeches. Oxford: Oxford University Press, 2000. 31 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justificação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. p. 13. 32 TIMM, Luciano Benetti; JOBIM, Eduardo. A súmula vinculante do direito inglês: quebrando mitos e lançando luzes sobre um novo paradigma na redação e na estruturação das súmulas do STF. In: MACHADO, Fábio Cardozo; MACHADO, Rafael Bicca (coord.). A Reforma do Poder Judiciário. São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 461. 33 ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Glossário. In: ANDREWS, Neil. O moderno processo civil: formas judiciais e alternativas de resolução de conflitos na Inglaterra. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 21. 34 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justificação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012.p. 473. 35 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justificação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. p. 474. 36 Idem, p. 488. 37 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 328. 38 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 557. 39 DUXBURY, Neil. The nature and the authority of precedent. New York: Cambridge University Press, 2008. p. 114. 40 Conforme Erik Navarro Wolkart,“o distinguishing é, entre todas as técnicas de flexibilização na aplicação dos precedentes, a que mais deve ser promovida na doutrina e na jurisprudência, com vista a impedir aquele engessamento e, mais do que isso, a obstar injustiças, como as decorrentes da aplicação de um precedente em situações cujas peculiaridades demandem solução diferente“ (WOLKART, Erik Navarro. Súmula O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 14 vinculante: Necessidade e implicações práticas de sua adoção (o processo civil em movimento). In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 289). 41 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 333. 42 Idem, p. 360-361. 43 ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Precedentes e evolução do direito. In: ______ (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 40. 44 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 391. 45 GUNTHER, Klaus. The sense of Appropriateness – Application Discourses in Morality and in Law.Trad. John Farrel. Albany: State University of New York Press, 1993, p. 69 apud BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justificação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. p. 475. 46 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial… cit., p. 388. 47 STJ, AgRg nos EREsp 492.461/MG, Corte Especial, rel. Min. Eliana Calmon, DJU 23.10.2006. 48 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 393. 49 MACCORMICK, Neil. Can stare decisis be abolished? Judicial Review 11/198, 1966. 50 CAMARGO, Luiz Henrique Volpe. A força dos precedentes no moderno processo civil brasileiro. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 558. O sistema de precedentes no CPC projetado: Página 15
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