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ESTABILIDADE DA TUTELA PROVISÓRIA MICHELE RESENHA

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ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA
O art. 304 do Novo Código de Processo Civil trouxe uma das maiores novidades para a legislação processual brasileira. Atualmente admite-se a possibilidade de estabilização dos efeitos da tutela antecipada. 
 Busca-se em sede de tutela antecipada em procedimento antecedente, que os efeitos da decisão proferida - com base em cognição sumária e sem força de coisa julgada - se mantenham, ainda que não haja prosseguimento do processo de cognição plena, quando as partes se sentirem satisfeitas com referida decisão. 
Para que seja possível a aplicação da técnica da estabilização da tutela antecipada antecedente é necessário que se observe determinadas condições as quais podem ser identificadas na leitura dos arts. 303 e 304 do NCPC. 
A primeira condição, seria o requerimento da tutela provisória satisfativa em caráter antecedente, pois somente ela tem aptidão para estabilizar-se de acordo com o contido no art. 303. 
Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso. § 2o Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput.
A segunda condição, no entendimento de Heitor Vitor Mendonça Sica, é que tenha havido pedido expresso do autor. Dessa forma, a técnica de estabilização “só poderia se aplicar se o autor assim o pleitear expressamente.
Isso porque as técnicas previstas nos arts. 303 e 304 constituem “benefícios” ao autor, (como deixa claro o §5º do art. 303) e jamais poderiam ser a ele aplicados contra a sua vontade. 
 Não se pode obrigar o autor a se contentar com uma tutela provisória “estabilizada” apta a ser desafiada por demanda contrária movida pelo réu do processo original nos termos do art.304, §5º. Interpretação diversa representaria violação frontal à garantia da inafastabilidade da jurisdição, insculpida no art. 5º, XXXV da Constituição Federal. 
Sendo assim, haja vista o legislador conferir ao autor a faculdade de requerer a tutela antecipada em caráter antecedente e a possível estabilização dos efeitos da decisão que a conceder, o qual nas palavras de Heitor Vitor Mendonça Sica constituem verdadeiros “benefícios” à parte, não é adequado que o jurisdicionado não possa também escolher entre o prosseguimento do processo – a fim de se obter a tutela com base em cognição plena, apta a formar coisa julgada material – e a tutela provisória, a qual futuramente poderá ser revista, reformada ou invalidada com a propositura de nova ação de conhecimento, nos termos do art. 304 §2º. Justamente pelas razões expostas é que o requerimento expresso do autor é considerada para Heitor Vitor Sica como condição para a aplicação da técnica de estabilização. 
 Quando o autor não manifestar interesse na petição inicial da tutela antecipada, em prosseguir no processo após alcançada a pretendida tutela provisória, estará presente uma das condições para a aplicação da técnica da estabilização. Assim, caso o autor opte por prosseguir com o processo a fim de obter a cognição plena de seu pedido, este deverá manifestar sua vontade na petição inicial do pedido de tutela. 
A terceira condição diz respeito a necessidade, por óbvio, de haver decisão concessiva da tutela provisória satisfativa antecedente, de modo que somente a decisão que concede a tutela provisória é capaz de ser apta a aplicabilidade da técnica de estabilização. 
. Para Heitor Vitor Mendonça Sica “a tutela provisória apta à estabilização é aquela concedida liminarmente.
Por fim, a última condição para a aplicação da técnica de estabilização é a inércia do réu. Sendo assim, quando o réu for intimado e se mantiver inerte face a decisão que conceder ao autor a tutela antecipada, isto é, não interpor o recurso cabível nos termos do art. 304, caput, se tornará estável os efeitos da referida decisão. 
O recurso que se refere o art. 304 caput, diz respeito ao agravo de instrumento disposto no art. 1.015. 
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; 
O art. 304 do CPC estabelece que apenas a interposição de recurso é apta a impedir a estabilização da decisão que concede a tutela antecipada, recurso este que em tese se trata do agravo de instrumento.
 Segundo o Heitor Vitor Mendonça Zica, há que se considerar ainda a necessidade de interpretação sistemática e extensiva do art. 304, de modo a considerar que não apenas o manejo de recurso propriamente dito (cujas modalidades são arroladas elo art. 994) impediria a estabilização, mas igualmente de outros meios de impugnação às decisões judiciais (em especial a suspensão de decisão contrária ao Poder Público e entes congêneres e a reclamação)
Dessa forma, quando o réu não se conformar com a decisão dada pelo juiz na tutela antecipada antecedente, deverá impugná-la por meio de agravo de instrumento, que seguirá para o tribunal. 
Por fim, a suspensão de liminar , apesar de não se enquadrar propriamente como recurso, também constitui meio de impedir a estabilização, 
Sendo assim, técnica de estabilização dos efeitos da tutela antecipada encontra inúmeras controvérsias acerca de sua aplicabilidade, de modo que é possível manter interpretação literária do art. 304 no sentido de que somente a interposição de “recurso”, de modo que além do agravo de instrumento, outros meios também possuem aptidão para impedir a estabilização dos efeitos da decisão da tutela antecipada.	
 	O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, encontra-se prevista no art. 304, §5º40 o qual as partes poderão fazer por meio de ação própria, prevista no §2º41. No entanto, o legislador previu também o prazo de 2 anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, para que as partes pudessem exercer referido direito. Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso. § 5o 
O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no § 2o deste artigo, extinguese após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, nos termos do § 1o. 41 § 2o Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput.
As partes poderão, requerer, conforme dispõe o §4º42 o desarquivamento dos autos em que foi concedida a medida estabilizada, para instruir a petição inicial da ação que visa rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada, o qual será prevento o juízo em que a tutela antecipada estabilizada foi concedida. 
Verifica-se, portanto, que referida corrente sustenta que ultrapassados os 2 anos a decisão obteria uma “imutabilidade plena e absoluta ação § 4o Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em que foi concedida a medida, para instruir a petição inicial da ação a que se refere o § 2o, prevento o juízo.
No atual Código vigente, o legislador previu tratamento unificado para as tutelas de urgência (satisfativa e cautelar), abordando-as conjuntamente e aplicando-lhes praticamente o mesmo regime jurídico, portanto, ainda que o legislador tenha disposto a possibilidade de estabilização dos efeitos da decisão somente para a tutela antecipada, haja vista que na tutela de urgência cautelar, acautela-se o direito material de modo temporário, até que se possa ser satisfeita pelo pedido principal. 
 Assim, entende-se, ao menos em uma interpretação literal, que referido mecanismo não se aplica às medidas urgentes em caráter incidental, segundo o texto normativo, não possui a capacidade de estabilizar-se, de modo que o legislador impôs aos litigantes que o processo prosseguisse, buscando-se a certeza através da ordinariedade, 
 Insta salientar que o pedido de tutela antecipada antecedente justifica-se em medida de urgência contemporânea à propositura da ação, sendo assim, trata-sede medida excepcional, de modo que continuará a preponderar, assim como ocorria no sistema do CPC/1973, o requerimento de modo incidental, isto é, dentro da petição inicial da tutela definitiva já instaurada, 
A melhor interpretação, é aquela que confere a maior eficácia possível ao instituto, admitindo-se assim, a estabilização mesmo no caso da tutela antecipada deferida incidentalmente em decorrência da exacerbada duração dos processos na entrega da prestação jurisdicional, o legislador concebeu instrumentos jurídicos que realizam um controle dos efeitos negativos do tempo, de modo a impedir eventuais resultados danosos desinente da espera. 
Nesse contexto, as tutelas provisórias foram criadas com a finalidade de atenuar os problemas a despeito das garantias constitucionais da “ razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”, possibilitando aos jurisdicionados a prestação da tutela jurisdicional de forma mais célere e eficaz, quando estiverem diante de situação de “urgência” ou da “evidência”. 
O presente trabalho buscou-se breve comentários tutela antecipada concedida em caráter antecedente, quando o réu permanecer inerte e não propor uma ação plenária. Verificou-se que a técnica da estabilização ainda traz consigo inúmeras polêmicas, tais como: a indagação acerca da formação ou não de coisa julgada quando ultrapassados o prazo decadencial de 2 anos; a busca pelo suporte adequado para o termo “recurso” dado pelo legislador e a possível aplicabilidade do instituto também em caráter incidental e nas medidas cautelares. 
Assim, conclui-se que a melhor solução para referidas indagações, encontra-se na aplicabilidade extensiva da técnica de estabilização, de modo que o texto normativo deverá ser interpretado de modo amplo, sem que se restrinja, portanto, apenas ao que dispõe a literalidade da lei. 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
· Curso online da OAB-MG ministrado pelo professor Ival Heckert
· Manual de direito Processual civil – Volume único – Daniel Amorim Assumpção Neves –  8. ed. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.
· Tutela provisória e contraditório: uma evidente inconstitucionalidadePor Lenio Luiz Streck, Lúcio Delfino e Diego Crevelin de Sousa. http://www.conjur.com.br/2017-mai-15/tutela-provisoria-contraditorio-evidente- inconstitucionalidade.
· Tutela provisória no novo CPC: panorama geral. Eduardo Talamini.Unifica-se em um mesmo regime geral, sob o nome de “tutela provisória”, a tutela antecipada e a tutela cautelar, que se submetiam a disciplinas formalmente distintas no Código de 1973. http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI236728,81042- Tutela+provisoria+no+novo+CPC+panorama+geral.
· Curso de Direito Processual Civil:
 https://www.pontodosconcursos.com.br/CursosOnline/Detalhes/57127/direito-processual-civil-de-acordo-com-o-novo-cpc-lei-13-105-2015-analista-e-tecnico-tribunais-ministerio-publico-defensorias-turma-2
· MOTA, Tércio de Sousa; MOTA, Gabriela Brasileiro Campos; SOUSA, José Laércio de. Tutela de urgência: Análise da efetividade jurisdicional. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em:
· BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 14/07/2015;
· http://www.conjur.com.br/2016-abr-23/observatorio-constitucional-jurisdicao-fundamentacao-dever-coerencia-integridade-cpc
· http://www.unifieo.br/pdfs/DIREITOS%20E%20GARANTIAS%20NO%20NCPC.pdf
· WILLIAM SOARES PUGLIESE A RATIO DA JURISPRUDÊNCIA: COERÊNCIA, INTEGRIDADE, ESTABILIDADE E UNIFORMIDADE Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Direito, Programa de Pós-Graduação em Direito, Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/43756/R%20-%20T%20-%20WILLIAM%20SOARES%20PUGLIESE.pdf?sequence=1.
· A ESTABILIZAÇÃO E MODIFICAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA ANTECEDENTE Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel em Direito no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná. 
· NORMANHA, Paula Simão. Tutelas de urgência no projeto do novo Código de Processo Civil: reflexos da supressão do processo cautelar sobre o princípio do devido processo legal. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/? n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12685> Acesso em 11 de maio de 2015.
· Leticia Arenal e Silva. A ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA PROVISÓRIA E A SUMARIZAÇÃO DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

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