Buscar

Normas%20e%20desvio%20social%20[11748084].pdf

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

NORMAS E DESVIO 
SOCIAL
SOCIOLOGIA DO DIREITO
1
AS NORMAS SOCIAIS 
O ser humano desde seu nascimento navega pela atmosfera 
psíquico-social que o condiciona. Seu comportamento é 
normatizado para viver em sociedade. 
Assim, são instituídas normas sociais para organizar o fenômeno 
social primário que é a convivência, permitindo a estabilidade 
das relações humanas. 
Esta harmonia entre os indivíduos é possível quando suas 
condutas são previstas. Porém, quando as ações fogem à 
previsibilidade, tornam-se desviantes do contexto social, 
podendo, inclusive, ameaçar a sobrevivência do mesmo.
2
O ser humano no decorrer da vida está inserido em grupos 
sociais regulados por normas. O “ambiente normativo (...) 
configura, enquadra, limita e abre possibilidades” para todos 
os indivíduos da sociedade (DIAS, 2009, p.124). 
Assim sendo, os indivíduos acabam condicionados à mesma 
conduta e, então, define Dias que personalidade é: “a soma 
do conjunto de tendências de comportamentos que um 
indivíduo possui” e, conseqüentemente, a ‘personalidade 
social’ é inerente ao grupo social, o que o diferencia de 
outros grupos (DIAS, 2009, 124). 
A comunidade adquire uma personalidade porque seus 
componentes buscam seus interesses e aprovação de conduta 
no grupo que estão inseridos e, são sociais devido aos “traços 
que lhe são transmitidos através da herança social”.
3
Então, fruto das relações entre os seres humanos 
surgem as estruturas e instituições sociais e, assim o 
indivíduo assume uma função social, seja como pai, 
esposo, profissional. 
Inicialmente o indivíduo age pelo impulso de seus 
interesses, mas as normas sociais o condicionam, quer 
seja através da educação, por repetição, por sugestão, 
por castigo ou por recompensa. 
Os impulsos são freados pelas limitações impostas pela 
família que é o primeiro grupo social que o ser humano 
faz parte e que dita regras que vão sendo gravadas pela 
criança. No núcleo familiar os pais se convertem em 
fonte original de normas.
4
O indivíduo do seu nascimento à sua morte é condicionado 
por normas tão rotineiras que às vezes não se dá conta de sua 
efetiva presença. 
As normas estabelecidas na sociedade têm por finalidade 
facilitar a convivência social e guiar a conduta humana, para 
tanto estão dispostas de forma positiva ou negativa: não deve 
roubar; deve pagar impostos, etc. 
Como as pessoas têm condutas diferentes, as normas vêm 
equilibrar todos os comportamentos e, por isso, são aceitas 
pelas partes envolvidas. 
As normas são originárias de costumes, de convenção social ou 
podem estar codificadas como normas jurídicas e serem aceitas 
pela sua imposição. 
5
PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO DAS 
NORMAS
“O indivíduo, na maioria das vezes, pensa e atua não por sua própria 
iniciativa, mas respondendo a uma necessidade social” (DIAS, 2009, p. 126). 
Socialização é esta capacidade que o indivíduo tem de se adaptar e se 
condicionar ao grupo social e, ocorre de forma natural desde o seu 
nascimento ao seu último dia de vida. 
As normas e valores da comunidade são interiorizados por todos e, 
permitirá a cada indivíduo ser aceito como membro do grupo. 
Os valores que são absorvidos de forma mais eficaz são os que estão mais 
próximos, no círculo de amigos e de familiares. Se nestes estiver presente o 
desvio social em maior quantidade e repetidamente, o indivíduo terá 
tendência ao mesmo comportamento. 
Por isso, que uma cultura contém diversas subculturas, que não compartilham 
entre si valores que não se identificam com a sociedade mais geral.
6
Dentro da comunidade o indivíduo vai 
aprendendo a pensar, a agir e, controlar suas 
necessidades esperando aprovação social, sua 
personalidade é moldada por normas e modelos 
de conduta. 
Uma norma social não pode ter caráter 
individual, ao contrário, deve ter sentido de ação 
coletiva e, é por isso que: “As normas jurídicas 
podem ser promulgadas e revogadas”, o que não 
ocorre com as demais normas citadas, que são 
construídas com o tempo, ao longo da história 
(DIAS, p. 129).
7
Após sua primeira experiência, no núcleo familiar, o ser humano vai 
tendo contato com diversos grupos, com diferentes valores que vão 
trazer novas disposições de controle social. 
E, sob este novo contexto sociocultural interioriza em sua 
consciência o crime e o castigo quando descumpre alguma 
norma, interiorizando cada vez mais a culpa quando comete 
infração da norma. 
E, no desejo de ser aceito socialmente é que o indivíduo se submete 
a uma ordem normativa, tanto ao nível individual, como social, 
que guia sua vida. 
Na visão de Thomas Hobbes, “o homem é lobo do próprio 
homem”. Contudo, é para superar essa condição que são 
necessários limites, pois a total liberdade gera a impossibilidade da 
convivência humana, o indivíduo precisa estar submetido as ordens 
normativas e ter compreensão do seu conteúdo.
8
Entretanto, a origem das normas é histórica e 
socialmente dada. 
As normas não têm origem na vontade de um ou 
vários indivíduos. Elas são resultado de uma 
convenção. 
9
PERÍODO DE VIGÊNCIA DAS NORMAS 
As normas sociais perdem vigência por: dissolução 
ou por substituição (DIAS, 2009, p. 128) 
Entendemos a dissolução da norma social 
porque ela vai enfraquecendo, já não coage, não é 
cumprida, perde sua força até desaparecer. 
Já no Dire i to a substi tuição ocor re 
gradativamente para que sejam assimiladas pelo 
todo social, evitando-se conflitos que poderiam 
surgir.
10
LEGITIMIDADE DAS NORMAS 
De acordo com Max Weber, a norma é convencionada pela consciência dos 
indivíduos ou “pela expectativa de determinadas conseqüências externas” (DIAS, 
2009, p.129). 
Os aspectos que pautam a norma moral são os sentimentos, os valores e a 
religião. 
E, o Direito torna obrigatória uma conduta através da lei imposta: “O 
decisivo é que quem aplica os meios de coação, em virtude da reprovação convencional, é o 
próprio indivíduo, e não um quadro de pessoas especialmente encarregadas dessa função ”(idem). 
Para que a Sociologia Jurídica considere uma regra como Direito positivado, ela 
precisa ser exteriorizada como obrigatória, nascer de fonte legítima e, solucionar os 
conflitos entre os indivíduos na comunidade. Podemos, portanto, concluir que a 
convenção se estabelece por costumes, não pautados em normas jurídicas, ou seja, 
sem efeito obrigatório. Enquanto, o Direito consuetudinário, que também se 
estabelece por consenso tem suas normas impostas com poder de coerção: “são 
verdadeiras normas jurídicas, em termos sociológicos” (p.130).
11
TIPOS DE NORMAS SOCIAIS 
Em função de nortear o comportamento humano, com a evolução da sociedade, 
foram se diferenciando as normas e passaram a ser convencionadas em três 
grupos: 
normas de trato social ou de convenção social: são normas de 
cortesia utilizadas no dia a dia, as saudações, a forma de vestir, de comer. 
normas morais: são de sanção interna, internalizadas ao longo da vida, 
buscam o que é justo, convencionadas por valores éticos, como os direitos 
humanos. 
as normas jurídicas: têm sanção externa, originárias do poder político e 
cuja violação implica em punição. 
Essas normas sofrem alteração de uma sociedade para outra. A conduta do 
ser humano é influenciada por esse conjunto de normas mas, cada indivíduo 
social é singular, uns não precisam de coerção para cumprir o que é 
convencionalmente correto e, outros precisam de uma imposição efetiva.
12
NORMAS JURÍDICAS 
São aquelas que, através de órgãos próprios, criam modelos para ajustar a conduta 
do indivíduo social, através de um sistema de vantagens, prêmios e de sanções. 
Percebemos cada norma se dividindo em duas: a que ordena ou proíbe e a que 
ameaça com a sanção a quem não cumpre aquela ordem
ou proibição. 
 São os conceitos do que é lícito ou ilícito: “conseqüências (agradáveis ou 
desagradáveis)” ao próprio indivíduo (DIAS, 2009, p. 132). 
O comportamento denominado desvio é aquele hostil a regra pré-estabelecida, 
seja ela jurídica ou não jurídica, ou em outros termos: “organizada de forma 
oficial” ou não “definida em substância” (DIAS, p.132-133). 
O ordenamento jurídico ao descrever um modelo de conduta, instrui os indivíduos 
e instituições sociais a usá-lo nas mais diversas situações. Há características que são 
essencialmente das normas jurídicas. São elas: externas e comuns aos indivíduos e, 
originárias de um poder reconhecido e sancionatório.
13
Até o modo de organizar as normas é definido por outras regras: 
toda norma é válida (juridicamente legítima) e pode ser invocada 
como justificativa de um modo de agir ou de omissão de um 
membro da sociedade ou do órgão social específico” (DIAS, p.133). 
O marco inicial do Direito acontece em determinado lugar e tempo, 
quando o grupo social espontaneamente se manifesta e decide pela 
criação de “normas e órgãos” e, então: “a Constituição se converte 
na norma principal, na fonte manifesta” (DIAS, p.133). 
A norma jurídica não perde seu conteúdo valorativo quando não 
afinado com um valor moral ou político, a legalidade da norma é 
definida pela validade legal de sua própria criação. No ordenamento 
jurídico existe a norma fundamental, aquela postulada como 
definitiva, a quem as outras se submetem. É diante disso, que define 
Dias: “nem a moral, nem (...) o Direito natural são fontes formais do 
Direito positivo, mas sim de sua justificação” (p.134).
14
O Direito como um todo é eficiente, pois, exterioriza para os 
indivíduos da sociedade modelos de condutas lícitas, que são 
observados pela maioria, facilitando a convivência social. A minoria 
quando comete ato ilícito sofre a perda de bens, de liberdade, da vida 
etc”. 
As normas ainda estabelecem diversos papéis sociais e o direito de 
recorrer a uma decisão judicial. Assim sendo, aquele que se desvia da 
norma pode ser intimado a cumpri-la. 
Através de condutas previamente estabelecidas por lei é possível ao 
indivíduo ser aceito socialmente. As normas e a liberdade se 
relacionam mutuamente e, é impossível o ser humano ser livre se a 
preponderância do seu semelhante não é contida por regras sociais que 
impeçam seu poder abusivo. 
Concluímos, que apesar do consenso geral que as normas sociais 
exigem, o Direito é norma social não submetida a este consenso, pois é 
legitimada.
15
NORMAS MORAIS 
São preceitos que provém de valores familiares, religiosos, culturais e, que 
norteiam o comportamento dos seres humanos: “valorizam o que é bom ou mau; 
o certo ou o errado ou justo e injusto, honesto ou desonesto” (DIAS, 2009, p. 135). 
O DIREITO E A MORAL 
O comportamento humano tem uma grande pré-disposição a mudanças. Mas, 
a conduta humana também pode gerar conflitos colocando em risco a 
sociedade, isso porque não há uma segurança quanto à “ordem social” pela 
“simples convivência visto que o comportamento humano é imprevisível. 
Faz-se necessário, portanto, mecanismos de defesa para bloquear os perigos 
potenciais e, a cultura exerce bem esse papel (DIAS, 2009, p. 135-136). 
A cultura determina esses bloqueios ao elencar aquelas convenções e costumes 
aceitos e internalizados pelo grupo social. Observamos um “papel de destaque 
de duas instituições normativas: o Direito e a Moral”, que têm em comum o 
objetivo de regular a conduta humana, uma instituição complementando a 
outra e, “evitando-se a anarquia e a desordem” (DIAS, 2009, p.136).
16
Estas instituições alcançam a mesma finalidade de modo diverso: 
A moral vai atuando, desde o nascimento do ser humano, desaprovando 
a conduta que não é aceita socialmente, gerando “sentimentos de culpa 
ou de vergonha” até que a boa conduta esteja internalizada ao indivíduo. 
E, quando a moral não consegue cumprir este papel e, os 
comportamentos põem “em risco a sociedade”, aparece o Direito com 
“uso coercitivo de força” (p. 137). 
Entre as características do Direito, sua origem esta fundamentada em 
“princípio morais e políticos” ou, sendo resultado “da pressão de 
diversos grupos sociais que conseguem transformar seus interesses e 
valores em leis do estado”. Assim sendo, existem normas 
jurídicas que não têm eficácia moral (p. 137). 
O Direito protege a liberdade do indivíduo através de direitos e restringe 
esta mesma liberdade por meio de deveres obrigatórios: “quer as leis 
sejam moralmente boas ou más, (...) os direitos e os deveres” são vitais 
“nas atuações do Direito”. Portanto, não é determinante que, no caso 
concreto, o Direito precise estar fundamentado na Moral (p. 137-138).
17
Os princípios morais que são positivados no Direito passam a fazer parte da 
lógica jurídica e, existe uma autoridade encarregada de julgar as 
transgressões, independente dos valores pessoais do indivíduo e do próprio 
juiz. 
Em contra partida, na Moral o julgamento só acontece com a permissão do 
julgado que lida apenas com sua consciência: não há força externa que o 
obrigue a cumprir as regras morais. 
A norma jurídica por não necessitar dos valores pessoais e da consciência 
do indivíduo, “possui alto grau de objetividade, é exterior aos 
indivíduos, tem poder de coerção e, estabelece dificuldades para sua 
alteração. 
Não só o Direito poderá, com sua legalidade, impor igualdade a todos os 
membros da sociedade: independente de sua condição social, econômica, 
racial, étnica ou qualquer outra. O Direito está fundamentado na 
Constituição e, portanto, pressupõe interpretações morais. Mas, a norma 
Moral está de acordo com a consciência do indivíduo, não podendo alcançar 
a objetividade social que alcança o Direito (p. 139).
18
DIFERENÇAS ENTRE AS NORMAS MORAIS E AS 
NORMAS JURÍDICAS 
Apesar da influência que trocam entre si, a Moral e o Direito possuem diferenças claras. 
A norma moral é fenômeno individual, atua sobre a consciência e individualidade do 
ser humano; enquanto, que o Direito é fenômeno social, rege o comportamento 
humano sobre os demais. 
 Ambos buscam a criação de uma ordem: a moral através das virtudes, da caridade e da 
justiça e o Direito julga as intenções dos indivíduos, exteriorizadas em comportamentos, 
pois pretende garantir a paz e a segurança da vida social (p.139-140). 
Mais diferenças: 
“as normas morais são subjetivas e unilaterais, enquanto as normas jurídicas são 
objetivas e bilaterais” (p.139-140). 
A Moral é o ser, não há obrigação recíproca para com o outro, há a possibilidade. 
Já o Direito é o dever ser: “estabelece limites precisos e verificáveis externamente”. 
Sendo sua bilateralidade confirmada na obrigação de um sujeito de um lado e, na 
pretensão ou exigência do outro. A moral é um “direito subjetivo”, é mera 
possibilidade; enquanto a norma jurídica é a realização dessa possibilidade (p. 
140-141).
19
A Moral, ainda é classificada como autônoma: “o 
indivíduo a impõe a si mesmo (...). O Direito, por outro 
lado é heterônomo, é imposto ao indivíduo pelo Estado”. 
A autonomia não pressupõe prestação de contas a outrem, 
a não ser, sua própria consciência, assim, a lei moral existe 
se aceita pelo indivíduo. Já no Direito, os indivíduos têm o 
dever de submeter-se às normas jurídicas, que possuem sua 
própria racionalidade, criadas por legisladores diferentes 
dos indivíduos que a elas devem se submeter. O Direito 
objetivo age independentemente do que pensa ou sinta o 
sujeito” (p. 141). 
A coerção também é uma característica presente e 
obrigatória no Direito e, ausente na Moral.
20
NORMAS DE TRATO SOCIAL (OU DE USOS SOCIAIS OU 
CONVENCIONALISMOS SOCIAIS) 
Estas normas também são modelos para o comportamento humano condicionando-
o “por
exigência, pressões ou influências do círculo social ao qual o indivíduo 
pertence. 
São as normas de urbanidade, de bons modos, de cortesia, de protocolo” (DIAS, 
2009, p. 145). 
As normas de trato social diferem das normas morais, sendo possível o ser 
humano ter um comportamento moralmente correto, mas, não se enquadrar nos 
convencionalismos sociais. 
As normas morais são autônomas, fruto de decisão íntima, da própria consciência 
do indivíduo. Porém, as normas de trato social são heterônomas, impostas pelo 
grupo social ao qual o indivíduo pertence, exigem uma adesão externa. 
Heteronomia é uma similitude entre as normas jurídicas e as de uso social: “ambas 
são impostas ao indivíduo por uma autoridade externa a ele”. Sendo que as normas 
jurídicas são impostas pelo Estado e, as de trato social impostas pela sociedade. 
Porém, as normas de trato social não têm efeito obrigatório, como as normas 
jurídicas, podendo ser “cumpridas ou não” (DIAS, 2009, p.146).
21
São três as características principais das normas sociais: 
heteronomia ou autonomia; coercibilidade e; aprovação 
social. 
Como vimos, as normas jurídicas são heterônomas: “se preocupam em 
regular (...) a conduta (...) superficial dos indivíduos”, essas normas impõem 
deveres a todos, “sem distinguir aqueles que a aprovam ou 
repudiam” (DIAS, 2009, p.146). 
Já as normas morais são autônomas, o ser humano decide cumpri-las 
porque concorda com os valores que elas internalizam em sua consciência. 
Essas normas “se preocupam (...) com as motivações internas do indivíduo 
ao agir” (p.147). 
Também são heterônomas as normas de trato social, porque seus 
modelos são externos e, há a preocupação com a opinião dos outros. A 
forma de vestir e de cumprimentar, por exemplo, é ditada por convenção 
social e, seu não cumprimento pode levar a exclusão ou “estranheza e mal-
estar nas pessoas que o estão presenciando” (p.147-148).
22
REFERÊNCIA 
DIAS, Reinaldo. Sociologia do Direito. A 
Abordagem do Fenômeno Jurídico como Fato 
Social. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009. p. 
123-149. 
23

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando