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LIVRO DE DIREITO CONSTITUCIONAL

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Prévia do material em texto

direito constitucional: conceitos, funda1nentos e princípios básicos 
~f/J>.. E D I T O R A ~ó~ intersaberes 
D I ALÓG I CA 
O selo Df.4LÓGICA da Editor<i, Inter Saberes foz referêncú,, às publicações que 
prri;ilegúun 1t1n<i ling,u:,gem, na qu.al o auJor dialogo, com o leitor por rneio 
de recur,<o., lextuai., e ·visuais, o que 1orr1<i, o conteúdo muit.o mais dinâmico. 
São livros que criam wn ambiente de interação co,n o leitor - seu universo 
cultural, social e de elaboração de conheci,nentos -. possibilita,uÍ-0 urn real 
processo de i11terlocução para que a cornunicação se efetive, 
direito constitucional: conceitos, funda1nentos e princípios básicos 
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Av. Vicente :rtiaclrndo, 3 17. 14" andaJ' 
Ceniro . CEP 804,20-010 
Curitiba, PR. B1·asil 
Fooc: (041) 2103-7306 
E D I T ORA 
intersaberes 
www.ed i I orain t ersaberes.com. hr 
(:d i I ora@edi_to:ra i u tcrsabcrc--~.com .br 
Conselho ed itorial 
Dr. fvo José Both (presidente) 
Dr". E lena Godoy 
Dr. Nelson Luís Dias 
Dr, Ulf C regor Ba ranow 
Editor-chefe 
Lindsa)' Azambuja 
Editor-assistente 
Ariadne Nunes \Venger 
Editor de arte/Projeto gráfico 
Raphael Bernadelli 
Dados l ntern.lt:ion;.)is (le Catalogaçâí> na PubJicatâo (C IP) 
(Câm.i:ra Brasileira Jo Li\'l'O, SP. Brasil) 
1 l..lc::k, Éri,;<i 
Direito con~liluc;ion,l1: conc::eilos, fund.imentos 
e prindpios básicos llivro ele1rônicoJ / Érico l l.1d.:. -
Curi1il>;.1 : lnterS.t.beres. 20l 2. 
2 MO: PDF 
ISllN 978-85 -6S704 -16-8 
1. Di rei10 c(ulsLitucil)md 1. Títul,). 
12-06206 
Índ if'e para c-alá logo sh•lemátic(I: 
1. Oir(>ito <'QrlSlilUtional :-w2 
Preparação de originais 
Monique Gonça lves 
Capa 
Design: Denis Kaio Tanaami 
Fotografia: Comstock 
Diagramação 
Mayra Yoshizawa 
lconog,·afia 
Danielle Scholtz 
I' edição. 2012 
Foi feito o depósiLo legal. 
lnfornt~mos ((tlf> é flP in1ein1 rel'lpon~~hilicfade 
clu aulor a c!miss!io de c•o11ccilos. 
Nenliuuul 1.ntrlê tl..:slà puLlicação potlcrá ser 
repr<,du.z.ida por qualqurr meio ou forma sem a 
prévia m1tori'l..ação ria Editor,, ln1e-r$ahert>:-. 
A viola.~·ilo dM cli1..-ilo-s autorais f c·rimc-
tslaklecido ua Le i 11(, 9.ôl0/1998 e puoidu 
j:W"lo art. 184 ,fo Código Penal 
Apresentação 7 
Introdução 11 
Como aproveitar ao 1náxi1no este livro 13 
direito constitucional -
parte geral - 15 
constituição da rer,ública 
federativa do brasil de 1988 - 41 
1 Histórico da Constituição 
no Brasil - 45 
n Princípios fundamentais - 55 
111 Direitos e garantias funda,nentais - 75 
IV Organização do Estado - 109 
v Organização dos poderes - ] 33 
VI Outros assuntos tratados na 
Constituição - 179 
Para concluir... 205 
Referências 207 
Respostas 209 
Sobre o autor 215 
Com esta obra temos o objetivo de ensinar direito constitucional ao 
público sen1 conhecimento jurídico prévio. É destinada a alunos de 
cursos não jurídicos que precisam conhecer fundarnentos do direi-
to constitucional e da Constituição Federal vigente. 
O enfoque inicial é o estudo da parte geral do direito constitucio-
nal, ou seja, a teoria, as classificações e os funda,uentos, sern ne-
cessariamente estarem vinculados ao estudo de uma Constituição 
específica. Dessa forn1a, exporen1os o direito constitucional que se 
aplica à análise de qualquer texto constitucional, seja brasileiro, 
seja estrangeiro, do presente ou do passado. 
Tal estudo é necessário como forma de entender exatamente 
o que é a Constituição, qual é sua funçã.o e como ela funciona. 
Analisaremos as formas que esse documento pode ter, as suas 
possíveis classificações, assim como a natureza e os tipos de nor-
mas que podem nele estar contidos. 
Tudo isso acaba por demonstrar não só o que é a Constituição, 
mas também co1no funciona o sistema jurídico. Partindo da pre-
nüssa de que o ordenamento jurídico vigente obtém sua validade e 
vigência da Constituição, logo concluímos a importância do estudo 
* 
Doravante, tam-
bém chamada 
de Constil1úçiio 
Federal (CF), 
le.tt.o constitu,-
cional ou ainda 
por OUh'OS 
s inônimos de 
uso c01Ten te. 
8 
da referida disciplina para a correta con1preensão do que é o direito 
e ele qual é o fundamento das normas que regen1 a sociedade. 
Urna vez compreendido o genérico, aplic1:1vel a qualquer situa-
ção que o leitor possa encontrar no que se refere à Constituição, 
partiremos para o estudo daquilo que é específico da Constituição 
da República Federativa do Brasil*, pro,nulgada en, 1988 e atual-
n1ente vigente. 
O estudo da Constituição Federal será feito con1 base na parte 
geral do direito constitucional, expondo a classificação e as parti-
cularidades do texto brasileiro. 
A presente obra focai-á principalmente aquilo que comun1ente se 
conhece co,uo m a t é r i as m a t e r i a l ni e n t e e o n s t i t a -
e i o ri a is. Estas são entendidas co1no aquelas matérias próprias 
de uma Constituição. 
Entencle,nos por rnatérias próprias de uma Constituição os assun-
tos funda1nentais acerca da organização do Estado, do processo 
legislativo, da organização dos três poderes, das con1petências le-
gislativas, da hierarquia das norrnas, do controle de constituciona-
lidade e dos direitos e garantias fundamentais. 
Tal corte é necessário porque a tarefa de tratar de toda a 
Constituição é árdua e exigiria muito ruais papel do que aqui pre-
tendemos ocupar. Nossa Constituição aborda diversos assuntos di-
tos formalmente constit-ucionais, ou seja, que foram colocados no 
texto por escolha do constituinte, ,nas que, se lá não estivessern, 
poderiam perfeitamente ser tratados em un1a nor1na de hierarquia 
inferior. São assuntos a que o constituinte pretendeu dar proteção 
especial derivada da rigidez da norma constitucional, mas que não 
fazem parte do núcleo indispensável de uma Constituiçã.o. Esses 
assuntos formalmente constitucionais são numerosos e variados, en-
tre os quais pocle,nos citar, por exen,plo, proteção a índios, idosos, 
crianças e adolescentes; cultura; consumidor; saúde; e transportes. 
A. Constituição poderia ter genericamente determinado a proteção a 
esses valores, mas, em diversos casos, acabou por dar regras espe-
cíficas que tern1inam por criar u1n sistema dentro do sisterna. Dessa 
forn1a, tratar desses assuntos significa tratar de quase todos os ra-
n1os do direito hoje existentes, dada a abrangência do texto 
constitucional. 
'fen1os de observar ainda que a Constituição atual é for,nada 
de um texto extenso, com 250 artigos, acrescido ainda do Ato das 
Disposições Constitucionais 'f ransitórias, con1 96 artigos. Alén1 
disso, devemos acrescentar que, quando esse texto foi elaborado, 
no prin1eiro semestre de 2011, a Constituição já havia sido alterada 
72 vezes, com 66 emendas constitucionais e 6 eniendas constitu-
cionais de revisã.o*. 
Desse modo, entenden1os que o necessário paTa a compreensão 
da ,natéria restringe-se à teoria geral do direito constitucional e 
ao estudo dos assuntos constantes como materialmente constitu-
cionais. Os assuntos formalmente constitucionais são mencionados, 
n1as sem aprofundamento, bastando ao leitor a leitura do texto cons-
titucional para que obtenha uma boa compreensão do tratan1ento 
dado a eles pela Constituição. 
O presente trabalho, portanto, pretende entregar ao leitor un1a 
noção completa de direito constitucional e do sistema constitucio-
nal brasileiro, permitindo a compreensão dos principais elementos 
do Estado e de sua orga1uzação. 
esse intento, trabalharemos com obras de autores consagra-
dos, que clarão o suporte para tratar dos assuntos do direito cons-
titucional . Esses autores também serve,n de indicação para os 
leitores que pretendam aprofundar-se nos estudos cios temas aqui 
tratados. Devemos advertir o leitor, ainda, de que neste trabalhoserão expostos apenas os posicionamentos pacíficos na doutrina 
e na jurisprudência, deixando-se de lado polêmicas e discussões 
* 
A versão mais 
atualizada da 
Constituição, 
com o texto já 
consolidado 
de acordo com 
as emendas 
constitucio-
nais, pode ser 
acessado no sit.e 
da Presidência 
da República: 
<http://www. 
planalto.gov.br/ 
ccivil_03/ 
Conslituicao/ 
Constituiçao. 
h trn>. 
9 
10 
acadêmicas mais aprofundadas dos assuntos tratados. Essa forn1a 
de abordagem se deve ao póblico-alvo, conforme já mencionado 
anteriorn1ente. 
Os estudantes de direito, quando têm sua primeira aula de Direito 
Constitucional, não raro escutam de seus professores que a disci-
plina que começam a aprender é a mais importante de todo o curso. 
Tal afirrnação está rr1uito próxirna de ser verdade. Dentro do di-
reito constitucional temos o estudo das regras mais fundamentais do 
Estado e do sisten1a jurídico, de maneira que qualquer estudo, seja 
de que área do direito for, inicia-se pela análise da Constituição. 
A Constituição, além de ser a norma máxin1a de um sistema jurí-
dico, é tan1bém o documento fundamental do Estado, apontando as 
políticas a serern seguidas e os valores por ele defendidos. 
Sendo assin1, entendemos que 
a compreensão da Constituição e 
do direito constitucional é de vital 
importância para todo cidadã.o bra-
sileiro que pretenda conhecer seus 
direitos, seus deveres e o funciona-
mento do Estado. A Constituição 
dá os elementos fundamentais 
da ordem jurídica que perrnitem 
con1preender sobre quais bases se 
A Constil1tição, além de 
ser a nor,na m<ixi,na de 
um sistema jurídico, é 
també,n o docurnenlo 
.fundamental do Estaclo, 
apontando as políticas 
a serem seguidas e 
os 11alores por ele 
defendidos. 
12 
funda a República Federativa do Brasil e quais os valores que ela 
. 
visa pron1over e preservar. 
No passado, era mais importante o estudo do direito civil que o 
do direito constitucional. Isso acontecia, basican1ente, porque, no 
regime ditatorial sob o qual vivia o Brasil, a Constituição era letra 
rnorta, pois podia ser desrespeitada a qualquer rnomento se,n maio-
res consequências. Assim, o direito civil estudava as relações de 
família, contratos, obrigações etc. no âmbito privado e Linha maior 
in1portância para a vida cotidiana, uma vez que a conjuntura políti-
ca não permitia uma aplicação 1nais efetiva do texto constitucional 
então vigente. 
Com a Constituição Federal de 1988, isso começou a mudar. Pri-
meiramente porque o texto constitucional adquiriu a importância 
que merece, sendo reconhecido como norma suprema do sistema 
jurídico. Ele passou a regular um maior nú1nero de situações que 
anteriormente eram deixadas para normas de hierarquia inferior. 
Por exemplo, as relações de família, crianças, adolescentes e idosos 
eram tratadas apenas pelo direito civil. Com a Constituição de 1988, 
esses temas passaram a ter proteção e regulan1entação constitucio-
nal, din1inuindo a importância do direito civil. 
Assim, o direito constitucional ven1 ganhando importância não 
só porque hoje vivemos em um Estado democrático em que se res-
peita a Constituição, mas também porque esta ganhou maior abran-
gência, passando a versar sobre diversos assuntos que antes não 
eran1 por ela tratados. 
Precisan1os compreender o direito constitucional para ser possí-
vel entender o seu significado em toda a sua plenitude. Este estudo 
revelará a importância do conhecimento desse ramo do direito para 
qualquer cidadão que pretenda conhecer rr1elhor o funcionamento 
do país. 
Este livro traz alguns recursos que visam enriquecer o seu aprendi-
zado, facilitar a compreensão dos conteúdos e tornar a leitura mais 
dinârnica. São ferra1uentas projetadas de acordo con1 a natureza 
dos temas que van1os examinar. Veja a seguir con10 esses recursos 
se encontram distribuídos no projeto gráfico da obra. 
Co11te lÍdos do 
capítulo 
1 
Logo na abertura 
do capítulo, 'você 
fica conhecendo os 
conteúd<>s que serão 
nele abordados. 
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Aqui você pode 
11erijicar exeniplos 
aplicados ao dia a 
dia. dos cidadãos, 
nos ma.is diversos 
contextos. 
I 
o 
cTj 
' 
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1 
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Síntese 
Você dispõe, ao final do 
capaulo, de uma sCntese q1ie 
traz os principais conceitos 
nele abordados. 
Co,isultando a legislação 
Você pode verificar aqui a 
relação das Leis consultadas 
pelo autor para ex;a1ninar os 
assuntos enfocados no livro. 
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Qriestões para reflexão 
Nessa seção, a proposta é levá-
lo a rçfietir criticamente sobre 
alguns assuntos e trocar ideias e 
experiências com seus pares . 
Qriestões para revisão 
Co1n essas atividades, você 
tem a possibilidade de rever os 
principais conceitos analisados. 
Ao final do livro, o autor 
disponibiliza as respostas às 
q1iestôes, a fi,n de qtte você 
possa verificar como estâ sua 
aprendizagem. 
- . . -
direito constitucional - parte geral 
- - -
Conteúdos 
» Estado. 
» Constituição. 
» Poder constituinte e normas constitucionais: conceitos e 
classificações. 
Nesta fase do estudo, tratarernos da disciplina de direito constitu-
cional en1 sua parte geral, ou seja, seus institutos, conceitos, princí-
pios e classificações aplicáveis a qualquer constituição. 
I>retenden1os aqui fornecer as ferrarnentas para trabalhar corno 
objeto da disciplina, que é o texto constitucional vigente. Os conhe-
cimentos da parte geral do direito constitucional, todavia, aplicam-se 
tan1bém à análise dos textos constitucionais de outros países, de 
Constituições do nosso país que já tiveram validade ou até n1es1no 
de Constituições futuras que venhan1 a substituir o atual texto. 
Assi,n, estudaren1os o significado desse docun1ento e os elernen-
tos que o caracterizan1, sen1 nos basearmos ern uma Constituição 
específica. Também examinaremos aqui a relação da Constituição 
com o Estado, analisando a importância do texto para sua existência. 
O conhecimento prévio da parte geral do direito constitucional 
permite ao estudante um entendimento maior do texto constitucio-
nal atual (e de qualquer texto constitucional que queira analisar) . 
Abordaremos, então, os institutos fundamentais da parte geral 
do direito constitucional, apontando principalmente para a Ílnpor-
tância da Constituição para os Estados 1nodernos. 
Estado 
No passado distante, o homem adquiriu inteligêncja e tornou-se a 
espécie dominante do planeta, dada a vantagem que possuía sobre 
os demais seres. Essa inteligência, alérn de permitir ao homem fa-
zer avanços científicos (criação da roda, do,nínio do fogo etc.), fez 
com que ele desenvolvesse conceitos abstratos, tais como proprie-
dade, sociedade e direito. 
Esse homem prin1itivo, já. dotado ele inteligência, v1v1a total-
mente livre, ou seja, não existiam regras morais ou jurídicas que 
li,nitassem o seu agir. Dessa forrna, nada o impedia de matar seu 
próximo e tomar-lhe seus pertences ou de atuar com violência para 
con1 seus semelhantes. 
Esse livre agir, entretanto, tinha desvantagens, pois acabava por 
impor uma lei cio mais forte. Desse n1odo, o hon1em que ton1asse 
um pedaço ele terra e nele trabalhasse podia a qualquer momento 
ser morto ou expulso por outro (ou outros) ,nais forte. Nada irnpe-
dia essa situação, ou seja, a qualquer mon1ento o homem podia ser 
sujeito à violência do seu semelhante. 
19 
* 
Nesta obra, 
quando mencio-
nannos Estado 
com letJ"a maiús-
cula, estaremos 
nos referindo ao 
ente estatal, ou 
seja, ,10 Estado 
como um todo. 
É pl'eciso não 
confondi,· essa 
designação 
com estado na 
qualidade de 
unidade da fe. 
clentçâo (Paraná, 
Santa Catarina, 
Goüh, Sergipe 
etc.), que será 
geralmente 
mencionado com 
mirn;iscu la e cujo 
sentido poderá 
ser depreendido 
ele acordo com 
o contexto em 
. que se msere a 
palavra. 
Os hon1ens, então, con1eçaran1 a viver em sociedade, dadas as 
vantagens desse sistema. O trabalho conjunto e complementar de 
todos os n1embros proporcionava un1a viela ,nelhor. Também havia 
1naior proteção contra a lei do mais forte . 
As regras jurídicas vieram i-egulamentar a vida em sociedade e 
impúr li,nites à liberdade dos indivíduos. 1\ssim, o hornem perdeu 
a liberdade absoluta do início e passou a viver em un1a sociedade 
regulamentada por regras trazidas pelo direito. Passou a existir a 
proteção à propriedade privada, por exen1plo, que impede que al-
guém tome as terras pelo simples fato de ser n1ais forte. O homem, 
então, cedeu parte de sua liberdade para receber em troca maior 
segurança, que é dada pelo direito e pelo Estado*. 
O Estado é un1a decorrência da sociedade, que o cria como umente que tem a função de manter a ordem. Para cumprir con1 seus 
objetivos, o Es tado recebe uma série de prerrogativas, dentre as 
quais a 111ais im.portante é o monopólio do uso da força. 
Nos Estados modernos, a força só pode ser usada legalmente 
pelo Estado com a justificativa de rr,anter a orde1n e o direito. Por 
isso é que se permite ao Estado, por exemplo, usar força para pro-
mover uma reintegração de posse ou cumprir un1a ordem judicial 
qualquer. Esses atos, se praticados por u111 particular, são conside-
rados crin1es, mas, quando praticados pelo Estado dentro do que 
cleter1nina a lei, são lícitos. 
Nos Estados 1nodernos, 
a força só pode ser 
usada legal,nente 
JJelo Estado com a 
justificativa de manter 
a ordem e o direito. 
O Estado, então, é um ente a 
quem a sociedade atribui poderes 
especiais, que possibilitam a ele a 
criação de leis e normas diversas, 
ele observância obrigatória por toda 
a sociedade. Também o Estado pos-
sui o poder de aplicar essas norn1as 
jurídicas, se necessário até mesmo por meio do uso da força física. 
Ao Estado, ainda, é dado o poder de dizer o direito, ou seja, ha-
vendo conflitos, cabe ao Estado decidir quem tern razão con1 base 
nas leis existentes. Todas essas tarefas são exercidas dentro do que 
determinam a Constituição e as leis, que são elaboradas pelo povo 
por intermédio de seus representantes eleitos. 
Anteriormente, vimos o fundan1ento dos três poderes existentes 
nos Estados modernos, que desen1penham as funções que só ele 
pode desempenhar: Executivo, Legislativo e Judiciário. 
O P o d e r Ex e e 1.1, l i v o, por exemplo, pode aplicar as leis e 
,nanter a ordem 1nediante até ,nesmo o uso de força física, o que 
não é permitido aos particulaTes. Esse poder ta1nbém é o respon-
sável pela prestação de serviços públicos e pela ad,ninislração 
dos bens públicos. 
Da mes,na rnaneira, só o Estado, por rneio do P o d e r L e g is -
l a t i v o, pode criar leis e normas de observância obrigatória 
para toda a sociedade. As regras que regem u1n clube, uma as-
sociação, uma religião são obrigatórias apenas para aqueles que 
aceitatn a elas se submeter. E os sócios do clube, da associação 
ou os seguidores da religião podem a qualquer momento deixar 
a entidade se não mais aceitare,n as regras existentes. Isso não 
ocorre com as regras emanadas pelo Poder Legislativo, ou seja, 
elas são de observância obrigatória para toda a sociedade, não 
podendo ninguém se escusar da sua observância pelo argumento 
de que não concorda com elas. 
21 
Só o P o d e r J u d i e i á r i o pode decidir em definitivo con-
flitos entre pa1ticulares ou entre particulares e Estado. A esse 
poder cabe a tarefa de solucionar os litígios que lhe são postos à 
apreciação, interpretando a lei e dizendo qual das partes tem di-
reito, sempre co1n base nas leis e nor1nas vigentes no Es tado. Pode 
ocorrer, por exemplo, de se instaurar um litígio entre duas pes-
soas, que decidem submeter o conffito à apreciação, por exemplo, 
do pároco da cidade. Este poderá tomar urna decisão até justa, 
todavia esta não será obrigatória, ou seja, a parte prejudicada só 
a cumprirá se quiser. Já as decisões do Poder Judiciário são obri-
gatórias, ou seja, são decisões que obriga1n efetiva1nente a paTte 
prejudicada. Esta, se não cumprir a decisão contra ela proferida, 
poderá sofrer sanções, sendo obrigada, até mesmo por n1eio da 
força física, a cumprir con1 o decidido pelo Poder Judiciário. Essa 
característica de obrigatoriedade não é encontrada na decisão do 
pároco do exemplo anterior, que, se descumprida pelo prejudica-
do, não ocasionará qualquer consequência. As decisões do Poder 
Judiciário também são as únicas definitivas, ou seja, após o trân-
sito em julgado da decisão, quando contra ela não cabe mais re-
curso, o decidido torna-se definitivo e imutável, consolidando-se 
a situação por ela posta. 
Assirn, percebemos que o Estado possui funções que só ele 
tem e que são fundamentais para sua caracterização co1no Estado. 
Também devemos ter em mente que tais funções são extremamente 
irnportantes e ocasionarn consequências significativas. Em alguns 
países, o Poder Judiciário pode até cletermina1· a morte de uma 
pessoa, normalmente em casos criminais, após o devido processo. 
A atuação do Estado pode ter outras consequências severas, corno, 
por exemplo, a tomada cio filho cios braços da mãe no cumpri1nento 
de uma decisão judicial, a demolição de uma residência que ocu-
pa irregularmente um terreno, a interdição de um estabelecimento 
que não segue normas da vigilância san itária e outras tantas situa-
ções que podern advir das funções do Estado. 
Essas situações, ainda que possam parecer violentas ou chocan-
tes, são amparadas pelo ordenamento jurídico e são necessárias em 
face do interesse da sociedade. Essa prerrogativa do uso da força 
para a manutenção do Estado só ele ten1 e deve ser exercida como 
forn1a de manter a ordem. O seu não exercício ocasiona turbações 
na ordem, como aun1ento da criminalidade, problemas urbanísticos 
nas cidades ou mesmo a sensação de injustiça que pode ter, por 
exemplo, o cidadão cumpridor das leis quando vê pessoas desres-
peitando-as sem que nada seja feito pelo Estado para impedi-las. 
Visto então o Estado e suas funções, passen1os agora ao exame 
da função da Constituição pa1·a o Estado e para o sistema jurídico. 
Constituição: Estado e hierarquia 
A Constituição é a norma que diz quais são os limites do poder do 
Estado, ou seja, até que ponto ele pode atuar interferindo na vida 
dos cidadãos. A Constituição, então, traz os direitos e as garantias 
fundamentais dos tnembros da sociedade, de maneira a limitar a 
atuação do Estado. Ela també1n regula,nenta as funções do Estado, 
especificando como suas atividades serão exercidas e quais são os 
poderes de quen1 as exerce e deter,nina ndo qual o alcance dessa 
atuação. 
Assim, é na Constituição que encontra1nos 
a regulamentação dos J)oderes Executivo, 
Legislativo e Judiciário, co1n a indicação da 
forn1a como estes sã.o exercidos e dos limi-
tes a eles aplicáveis, que, ern muitos casos, 
traduzern-se em direitos e garantias funda-
1nentais do cidadão. 
A C'onstitiiição 
é a norma que 
diz quais são os 
limites do poder 
do Estado 
23 
Nesse sentido, temos a Constituição corno o pilar fundamental 
do sistema jurídico, sendo sua norma fundan1ental. Todo o siste-
rna é organizado de n1aneira que as norrnas tenham entre si urna 
relação de hierarquia. Em decorrência disso, a norma de n1enor 
hierarquia não pode contrariar a de hierarquia superior, sob pena 
de invalidade. 
Assim, o ato de um servidor público nã.o pode contrariar a por-
taria emitida pelo chefe do órgão público em que ele está lotado, o 
qual, por sua vez, não pode contrariar a instrução norrnativa e,nitida 
pelo superintendente da região em que está contido o dito órgão pú-
blico, o qual, por sua vez, não pode contrariar a norma emitida pelo 
ministro de Estado, o qual tem poder sobre a superintendência e o 
órgão, que, por sua vez, não pode contrariar o decreto do presidente 
da República, que, por sua vez, não pode contrariar a lei que ele regu-
lan1enta, que, por sua vez, não pode contrariar a Constituição fe deral. 
Percebemos, assin1 que há um encadean1ento de todos os atos 
e normas jurídicas, sendo que cada um deles retira o fundan1ento 
de sua validade da norrna de hierarquia superior. Essa relação vai 
subindo na pirâmide da hierarquia das nor1nas, até que chega à 
ponta da pirâmide, na qual não encontran1os n1ais qualquer norma 
, 
de hierarquia superior. E aí que se encontra a Constituição. 
Esta, então, é a norma do topo da hierarquia, ou seja, aciina dela 
nã.o existe outra norma a que ela deva obedecer. Nenhuma norma 
juTídica ou ato pode contrariá-la, sob pena de ser considerado in-
válido. Todas as interpretaçõeslhe devem ser conformes, ou seja, a 
aplicação de qualquer norma jurídica deve ser de acordo com o que 
dispõe o texto constitucional. 
Em seu texto, a Constituição brasileira te1n mecanismos de con-
trole da constitucionalidade, os quais permitem controlar se uma 
lei ou ato nor,nativo está de acordo ou não co1n a Constituição. Un1a 
vez decidido que uma lei ou ato normativo está contra a Constituição, 
este é declarado inválido, perdendo sua vigência e aplicabilidade. 
Essa importância da Constituição é fundamental para toda a 
sociedade, mas especialmente relevante para quem atua no poder 
público, seja corno servidor, seja corr10 agente político, seja como 
legislador ou qualquer outra função relacionada ao Estado e a suas 
atividades. Para estes, toda e qualquer atuação deve estar em con-
forrnidade con1 o texto constitucional e, por consequência, co,n as 
nortnas que dele derivan1. 
Na Constituição encontratnos quais os valores que são cru·os à 
sociedade, os objetivos que ela pretende alcançar, os princípios 
que devem ser observados e os elementos fundamentais e in1utáveis 
en1 que deve basear-se toda a atuação do Estado. 
Nesse sentido, a Constituição é de suma irnportância para a in-
terpretação das normas jurídicas, bem como para a determinação 
de seu conteúdo. É pelo que diz o seu texto que devemos interpretar 
as dernais nor1nas jurídicas, ainda q1.1e estas tenhan1 sido e,nitidas 
antes até da vigência da atual Constituição. 
,~ Constituição não se lin1ita a determinru· a forma como as leis 
serão elaboradas, rnas ta,nbérn traz balizas paTa o seu conteúdo. Os 
valores que expressa devem ser observados e1n todas as leis, s~ja 
q uanclo são elaboradas e aprovadas, seja quando são interpretadas 
e aplicadas. Por exen1plo, a Constituição atual prevê como valor a 
ser preservado pela República brasileira o meio an1biente. Nesse 
sentido, é inviável un1a lei que tenha o conteúdo que prejudique o 
n1eio ambiente. Assirn, o valor in1põe que e1n qualquer lei deva ser 
observado o fato de que o meio ambiente deve ser preservado e prá-
ticas de desenvolvimento sustentável devem ser adotadas. Mes,no 
uma lei que, aparentemente, não tenha ligação con1 o meio an1bien-
te, se tiver como efeito, mesmo que reflexo e não previsto, prejuízo 
ao 1neio a,nbiente, contrariamente ao que determina a Constituição, 
não pode subsistir no nosso sistema. Ou ela será aplicada diferente-
mente, de maneira a atender à Constituição, ou terá de ser excluída 
do sistema, pois estará configurada a inconstitucionalidade. 
25 
Seja qual for o ângulo que utilizar,nos para analisai- a Consti-
tuição, sempre encontraremos sua importância incontestável para o 
sisterna jurídico e para o Estado. 
Poder Constituinte 
Por estar no topo da hierarquia das normas, a Constituição suscita 
uma dúvida: como ela é elaborada? Essa dúvida surge porque a 
Constituição, como visto, entre outras regras, disciplina con10 são 
elaboradas e aprovadas as leis e outras normas infraconstitucionais. 
Ela traz, ainda, regras que apontam con10 se deve proceder quando 
seu próprio texto precisa ser alterado. 
Pense Agora, se a Constituição aponta como são criadas 
a respeito as outras normas e se ela é quem cria e disciplina 
o Poder Legislativo, qual a norma que determina 
como se elabora uma Constituição? Quem tem o 
poder para elaborar esse texto? 
De acordo con1 Alexandre de Moraes (2008, p. 26), quen1 tem 
poder para elaborar a Constituição detén1 a chamada t i t u lar i -
d a d e d o Poder C o n s ti tu i n te. E, modernamente, enten-
demos que essa titularidade está nas rnãos do povo. 
Nesse sentido, a Constituição ve,n do povo, o qual, por meio de 
seus representantes legais, coloca sua vontade no texto constitu-
cional. Con,o vin1os anteriormente, é na Constituição que encon-
tramos a fonte dos três poderes da República, a própria disciplina 
os fundamentos do Estado. Logo, nada mais justo que o povo desse 
Estado tenha o poder de determinar, pela vontade da maioria, as 
principais características relativas ao Estado. 
A Constituição Federal de 1988 incorpora esse conceito en1 seu 
texto, quando determina (art. lº, parágrafo único) : "'fodo o poder 
en1ana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 
diretamente, nos termos desta Constituição." 
Virnos, então, quern escreve e aprova a Constituição. Agora, veja-
mos co1110 isso acontece. 
,A.. criação da C.onstituição normalmente ocorre Jogo após a cria-
ção de u1r1 novo Estado, de urn novo país. Logo após esse momento, 
é preciso criar um sistema político e jurídico, em que se escrevam 
regras que determinem a organização elo Estado, os direitos e ga-
rantias funda1nentais e todas as dernais norrnas que devetn reger 
seu funcionamento. 
Pode ocorrer também de um país já existente, que já possua u1na 
Constituição, decidir alterar sua ordern jurídica desde a origem, 
criando um novo texto constitucional. Isso pode acontecer simples-
mente porque o texto antigo não mais atenda ao que é necessário, 
ou rnesn10 porque tenha havido no país 1una revolução, que instalou 
um novo siste1na econôn1ico ou político (por exemplo, um Estado 
capitalista que tenha se tornado comunista, ou um país ditatorial 
que tenha se tornado democrático) . Nessa últin1a hipótese, o texto 
constitucional antigo atendia ao sisten1a anterior, de maneira que 
se deve criar um novo texto adequado à realidade. 
Essas hipóteses, e1n que há a criação de uma nova Constituição, 
seja por criação de um novo país, seja por revolução, seja por ade-
quação, são hipóteses do chamado Poder C o n s ti tu i n te 
O ri g i n á ri o. Ele é dito originário porque não depende de ou-
tra norma ou de outro sistema jurídico para existir, ou seja, é obra 
original, não deriva de outra norma que o antecedeu. 
De acordo com Alexandre de Moraes (2008, p. 28), o Poder 
Constituinte Originário tem as seguintes características: inicial, 
ilimitado, autônomo e incondicionado. 
É inicial porque a Constituição é a base da ordem jurídica. É 
ilimitado e autônomo porque não possui limites e não está ligado à 
ordem jurídica anterior. Assiin, o Poder Constituinte Originário 
27 
pode decidir qualquer coisa a respeito do Estado. ))or exemplo, pode 
decidir se o governo será monarquista, republicano, parlamentarista 
ou presidencialista; pode decidir se perrnite ou proíbe a pena de 
1norte, pode decidir se a pessoa responde criminahnente como adul-
ta a pa1tir dos 14, ou dos 16, ou dos 18 anos. Ou seja, pode decidir 
corno quiser sobre qualquer aspecto da lei, não há nada que o limite 
ou o impeça de escolher suas disposições. A autonomia, nesse caso, 
refere-se ao fato de que não importa o que dispunha a ordem jurídi-
ca anterior. O Poder Constituinte Originário é con10 urna folha ern 
branco, que pode ser preenchida como se achar melhor. 
Então, por exemplo, se no regime j uríclico anterior havia uma re-
pública presidencialista, nada irnpede nem induz que se estabeleça 
uma monarquia parlamentarista ou uma república parlamentarista. 
Cabe ao poder constituinte, ou seja, ao povo, decidir o que conside-
ra 1nelhor para o Estado. 
O Poder Constituinte Originário é ainda incondicionado, isto é, 
ele não está sujeito a regras para ser exercido. Não são colocadas 
condições preexistentes para seu funciona1nento, pois, se é ele ori-
ginário, não deriva de qualquer outra norma anterior, de maneira 
que não existem condições, obrigatoriedade de quóru1n mínimo ou 
número de representantes, pa1·a que a Constituição seja aprovada. 
O Poder 
Constituinte 
Originário é 
como uma .folha 
em branco, 
que pode ser 
preenchida como 
se achar melhor. 
Co1no vitnos, o Poder Constituinte 
Originá1·io pode derivar de situações ou 
de nascimento de uma nova ordem jurídi-
ca ou de quebra de utna orde1n anterior e 
sw·giinento de uma nova. Nesse sentido, 
háduas formas pelas quais o poder cons-
tituinte originário é exercido. De acordo 
com Alexandre de Moraes (p. 27), são 
elas: Assembleia Nacional Constituinte ou 
lVlovimento Revolucionário (outorga). 
A Assem, b lei a Na e i o na l C' o n s ti tu i n te é como un1 
parlamento, composto por representantes do povo encarregados da 
elaboração da nova carta. Nessa hipótese, o texto é elaborado e 
discutido democraticamente, de maneira que prevaleça a vonta-
de da maioria e, na medida do possível, conten1ple os direitos das 
n1inorias. É dito dessa Constituição que ela é pro ,nu l g a d a. 
A. Assembleia Nacional Constituinte geralmente é convocada com 
o fim especial de elaborar e aprova!" uma nova Constituição. No 
Brasil, quando da elaboração da Constituição de 1988, estabele-
ceu-se que a Assembleia Nacional Constituinte funcionaria cotn o 
Congresso Nacional, sendo os deputados e os senadores n1embros 
da Assembleia e encarregados de elaboraT o novo texto, ao rnesmo 
tempo etn que continuavam com o trabalho normal do parla1nento. 
No caso do Mo v i m e n t o R e v o l u e i o n á r i o, trata-se de 
urna Constituição escrita unilateralrnente por quen1 cornanda a re-
volução, impondo o texto à naçã.o e1n um pritneiro mon1ento. Essa 
Constituição é tida como o u torga d a. 
Quando estan,os diante de un1 novo país ou de uma ruptura na 
ordem jurídica, geralmente tetnos utn movimento violento e al-
gumas vezes repentino, que cria o novo país a partir da indepen-
dência de outro ou rompe co,n a orde,n jurídica anterior por ,neio 
da força. Nessas hipóteses, com brevidade, necessita-se de un1a 
Constituição para manter a estabilidade do país e a sua governa-
bilidade. 1odavia, se forem sérios tais movimentos, a Assembleia 
Nacional Constituinte deve imediatamente ser convocada para a 
elaboração de u1n texto constitucional que abranja a vontade da 
rnaioria e que pondere o desejo do povo. Uma Constituição ou-
torgada unilateralmente, por melhor que seja, não substitui un1a 
Constituição discutida e aprovada democratican1ente. Assim, em 
caráter de urgência, outorga-se a Constituição provisória, até que 
outra seja elaborada democraticamente. 
29 
Certan1ente que, nas rupturas em que o grupo revolucionário 
pretende estabelecer um regime ditatorial, há apenas a outorga de 
tuna Constituição, estabelecendo somente a vontade do grupo que 
comandou a revolução e pretende comandar o país. 
Nos casos em que se pretenda somente substituir a ordem jurí-
dica, corn a criação de um texto rnais rnoderno, convoca-se uma 
Assen1bleia Nacional Constituinte enquanto se mantém o texto an-
terior vigente, substituindo-se um pelo outro quando estiver con-
cluída a nova Constituição. 
Existe ainda o Poder Constituinte Deri vado. Este 
é previsto na própria Constituição e per1nite que ela seja alterada, 
estabelecendo critérios e requisitos para que isso aconteça. Ele é de-
rivado porque tem fundamento na Constituição, ou s~ja, dela é deri-
vado. É subordinado pois está limitado pela própria Constittúção, não 
, 
podendo dispor livren1ente de todos os assuntos. E tambén1 condicio-
nado porque se submete às regras da Constituição para ser exercido. 
O Poder Constituinte Derivado pode alterar a ConsLiLu ição, 
rnas esse poder não é livre, co1no acontece no originário. 
Aqui, a Constituição estabelece limites para que seu pró-
prio texto seja alterado. Estes se apresentam tanto pelo 
processo rigoroso para que a alteração ocorra quanto 
pela fixação de alguns pontos irnut,iveis. Estes são deno-
minados cláusulas pétreas e geralmente se referem aos 
fundan1entos da Constituição, ou seja, aqueles elemen-
tos sen1 os quais a Constituição restaria desfigurada e 
a vontade do poder originário, desrespeitada. Caso se 
deseje n1udar o que dispõe uma das cláusulas pétreas, é 
necessária a elaboração de uma nova Constituição, pois 
a alteração da atual é irnpossfvel sobre o assunto. 
])or exemplo, en1 nossa Constituição atual, é cláusula pétrea 
a separação dos três poderes. Logo, qualquer proposta contra a 
separação não será sequer discutida pelo Poder Constituinte 
Derivado. Este, no Brasil, é exercido pelo Congresso Nacional, 
sendo a alteração à Constituição denorninada de em e n d a à 
e o n s t i t u i ç ã o. 
Conceito de Constituição 
Pelo exposto anleriormente, j1:1 é possível entender o que é a Cons-
tituição e qual é o seu alcance. 'íodavia, aqui pretendemos expor 
conceitos de autores consagrados, a fim ele sinteticamente esclare-
cer ao leitor o significado da Constituição. 
l)ara José Afonso da Silva (2008, p. 37-38), o conceito de 
Constituição parte ela premissa ele que "todo Estado tem constitui-
ção, que é o simples modo de ser do Estado". Assirn: 
A constitzâção do Estado, considerada sua lei funda-
1nental, seria, então, a organização dos seus elenientos 
essenciais: um sistenia de nornias jurídicas, escritas ou 
costumeiras, que regula a fornia do Estado, a forma de 
seu governo, o ,nodo de aquisição e o exercício do poder, o 
estabelecirnento de seus 6rgãos, os limites de sua açcio, os 
direitos fundamentr.âs do homeni e as respectivas garan-
tias. E,n síntese, a constituição é o conjunto de nornias 
que organiza os elementos constitutivos do Estado. (SiJva, 
2008, p. 39) 
Paulo Bonavides divide o conceito ele Constituição entre n1aterial 
e formal. Por Constituição rnaterial, vejan1os o que ele menciona: 
Do ponto de vista material, a Constituição é o conjunto 
de normas pertinentes à organização do poder, à dis-
tribuição da conipetência, ao exercício da aittoridade, 
à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, 
tanto individuais corno sociais. Tudo quanto fo,; erifun, 
31 
contezi.do bdsico referente à composição e ao funciona-
1nento da ordern polaica exprúne o aspecto material da 
Constituição. (Bonavides, 2008, p. 80-81) 
Debaixo desse aspecto, não há Estado sen1 Constituição, ou 
Estado que não seja constitucional, visto que toda sociedade politi-
camente organizada contém uma estrutura mínin1a, por rudimentar 
. que seJa. 
O n1esmo autor distingue ainda o conceito de Constituição no 
sentido forn1al. De acordo corn ele, "As Constituições, não raro, in-
sere1n matéria de aparência constitucional. Assin1 se designa exclu-
sivamente por haver sido introduzida na Constituição, enxertada no 
seu corpo normativo e não porque se refira aos ele,nentos básicos 
ou institucionais ela organização política" (Bonavides, 2008, p. 81). 
Por esse entendirnento, a Constituição material seria aquela pro-
priamente dita, ou seja, o texto que prevê a organização do Estado, 
os direitos e as garantias fundamentais e as matérias fundamentais 
para a existência do Estado. A Constituição formal seria a parte 
do texto que está junto corn a Constituição e tem caráter de norn1a 
constitucional, mas que não se refere às normas fundamentais do 
Estado que cornpõem a Constituição rnaterial. 
Dessa forma, em uma mesma Constituição convivem assuntos 
rnaterialn1ente e formalmente constitucionais. A Constituição for-
mal e a material estão juntas no mesmo texto. A distinção entre uma 
e outra depende da sua interpretação, analisando-se se as norrnas 
encaixam-se no conceito de Constituição no sentido material ou não. 
Geralmente nas matérias da Constituição forn1al se incluern 
matérias não fundamentais ao Estado, n1as às quais se pretende 
atribuir maior proteção e importância. Assim, tornan1-se norn1as 
ta1nbém do topo da hierarquia, ainda que não necessaria1nente 
precisem ter essa posição. Isso não ocorre, todavia, con1 as nor1nas 
1naterial111ente constitucionais, que obrigatoria,nente devem estar 
contidas no texto constitucional. 
Classificação das Constituições 
Como virnos até agora, todo o Estado possui uma Constituição. A 
forma ou a maneira co,no se n1aterializa uma Constituição não ades-
qualifica con10tal, pois o que importa é o seu conteódo. Sendo um 
conteúdo que se enquadre nos conceitos de Constituição vistos ante-
riorn1ente, estan1os diante de u,n docu,nento co1n essa qualificação. 
Essa explicação se faz necessária porque nós, brasileiros, quan-
do fala,nos em Constituição, logo pensamos no nosso texto constitu-
cional, presu,nindo que todas as Constituições do mundo são iguais 
à nossa. Constituição que assuma outra forn1a nos parece estranho 
que ganhe essa qualificação. Todavia, o conteúdo constitucional 
aponta para o que é urna Constituição, e não necessariamente para 
a forma que ele toma. 
Veren1os agora as diversas classificações en1 que a doutrina do 
direito constitucional enquadra as Constituições*. Aqui aproveita-
mos também para estudar a existência de textos constitucionais en1 
forrnatos diferentes do nosso. 
a) Classificação quanto ao conteúdo 
esta categoria, dividem-se as Constituições entre ,nateriais e 
formais. 
Nas C o n s l i l u i ç õ e s m a t e ri ais, te,nos as normas pró-
prias da Constituição (organização do r:stado, poder etc.), não ne-
cessariamente codificadas em um ónico volu1ne. Podem ser obtidas 
tais regras en1 diversos documentos distintos, de maneira que o 
termo C o n s ti tu i ç ão, na verdade, designa um conjunto de re-
gras de diversas fontes que tratam das questões próprias de direito 
constitucional. 
Já a Constituição formal é aquela codificada em un1 
ónico texto, ao qual se dá o nome de C o n s ti tu i ç ão, geral-
mente lhe atribuindo rigidez e supremacia sobre as demais norn1as. 
* 
As categorias 
aqui expostas 
estão em con-
formidade com 
Mon,es, 2008, 
p. 8-11. 
33 
Nern todas as nor1nas nela contidas são n1aterialmente constitu-
cionais, de modo que temos, então, uma Constituição formal, que 
contén1 as regras 1nate1ialn1ente constitucionais. 
Essa categoria não classifica propriamente as Constituições dos 
Estados, mas as regras constitucionais neles existentes. Por essa 
classificação, é possível vislun1brar a hipótese de uma Constituição 
não codificada, ou seja, com regras esparsas, o que entre nós é 
in1pensável, já que o Brasil sempre teve Constituições escritas e 
codificadas. 
Dessa forn1a, podemos dizer que a Constituição Federal de 1988 é 
, 
forn1al, contendo normas constitucionais materiais. E formal porque 
foi codificada e recebe o nome e as prerrogativas de Constituição, 
mas possui em seu corpo regras que não são materialmente consti-
tucionais, pois poderiam ser tratadas em outro tipo de nor1na. 
b) Classificação quanto à forma 
Dividen1-se aqui entre as constituições e s cri ta s e n ão 
e s cri Las (costumeiras). A classificação baseia-se no fato de a 
Constituição ser codificada e sisten1atizada ern um volun1e. 
A C o n s t i t u i ç ã o e s e r i t a é aquela redigida, sistematiza-
da e aprovada corno Constituição por un1 órgão criado e corn poder 
para isso. A Constituição é a norma legal reconhecida por todos 
como o topo da hierarquia das normas. 
Já a e o n s ti tu i ç ão não e ser i ta ou costumeira é aquela 
encontrada em diversas normas esparsas e nos costumes do Estado 
e da sociedade. Nesse caso, não existe um docurnento ao qual se 
dá o nome de C o n s t i t u i ç ã o. Inclusive o costume é fonte das 
nor,nas constitucionais, de n1aneira que a organização do poder e 
do Estado podem derivar de meros costumes não escritos, passados 
de geração para geração. 
As maiores vantagens da Constituição escrita são a n1aior or-
ganização e a maior publicidade do texto, de forn1a que se evitam 
dúvidas sobre a Constituição e é possível, em urn só local, con hecer 
todas as normas constitucionais de um Estado. Tanto é assitn que 
hoje a maioria elas Constituições dos Estados modernos é escrita, 
con10, por exernplo, a Constituição brasileira atual. 
Já a Constituição não escrita era mais utilizada no passado, 
especialn1ente em regimes absolutistas, nos quais a organização 
do Estado e do poder baseava-se na figura do n1onarca; logo, a 
Constituição era basican1ente o que ele dizia. Todavia, encontran1os 
a ela Inglaterra con10 moderno exemplo ele Constituição costumeira, 
em que boa parte das regras constitucionais deriva de costun1es ou 
regras esparsas. 
Con10 já mencionado, a Constituição escrita tem uma série de 
vantagens que faz com que hoje a n1aioria dos Estados adote essa 
fortna. Porém, o fato de um Estado ter uma Constituição costumeira 
não significa que ele seja desorganizado ou instável. Um exemplo 
é o caso já citado da Inglaterra, país que, apesar disso, ninguén1 
duvida, está entre os mais estáveis e de1nocráticos do n1undo. 
O que torna u1na ordem constitucional estável é o respeito do 
povo por esse docun1ento e pelas instituições e o conhecirnento que 
tem desses 1nesmos elementos, e não o fato de a Constituição ser 
escrita ou ter maior ou menor rigidez. 
e) Classificação quanto ao modo de elaboração 
Podem ser constituições d o g m á ti e a s ou h is Ló r i e as . 
. As d o g 1n á ti e as são aquelas elaboradas por Assembleia 
Constituinte, escrita e sistematizada de acordo co1n o direito posi-
tivo e os princípios jurídicos. As h is t 6 ri e as são aquelas deri-
vadas de u,n processo de tradição e história de um povo, geraln1ente 
também ligado a uma Constituição costun1eira. A Constituição bra-
sileira de 1988 é dogmática, pois foi elaborada pela Assembleia 
Constituinte. 
d) Classificação quanto à orige,n 
Podem ser constituições p r o m u 1 g a d a s ou o u to r g a d a s . 
35 
As p r o m u l g a d as são aquelas elaboradas e,n processo de-
1nocrático, por 1neio ele Assembleia Constituinte, com a participação 
de representantes de todos os setores da sociedade. As o u torga -
d as são as Constituições impostas pelo poder do,ninante, geral-
1nente durante períodos ditatoriais. São impostas unilaterahnente 
pelo governo, sern discussão do texto. A Constituição Federal de 
1988 é pro1nulgada. 
e) Classificação quanto à estabilidade 
Podem ser constituições rígidas, semirrígidas, flexíveis ou 
imutáveis. 
As f l e :t í v e is são aquelas Constituições que podem ser alte-
radas pelo processo legislativo ordinário, ou seja, da 1nesma for-
rna corno são elaboradas as leis nor,nais. As r í g i d as são as 
Constituições que exigem, para serem alteradas, un1 processo legis-
lativo mais solene e difícil que aquele exigido para as demais normas. 
As se mi r rígidas têm partes que podern ser alteradas como 
as flexíveis e partes que impõen1 a mesma dificuldade das rígidas. 
As i m u t á v e is não podem ser alteradas em qualquer ponto. 
A Constituição brasileira de 1988 é considerada rígida, pois, 
para ser alterada, exige duas votações em cada uma das casas do 
Congresso Nacional, com aprovação por três quintos dos seus metn-
, 
bros. E berr1 mais difícil de se aprovar que uma lei ordinária, por 
exemplo, que exige n1aioria simples (dos presentes) em apenas un1a 
votação em cada casa. 
Alexanch·e de :t\1Ioraes (2008) alerta que a Constituição brasileiTa 
" .., 
.~ ·] atual possui alguns pontos imutáveis, as cláusulas pétreas, que não 
~""' s .9 podem ser alteradas nen1 por e1nenda à Constituição . 
...:..: ,Cl. 
" g 
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·§ ·g_ f) Classificação quanto à extensão 
" - "' 
·~ .§ As Cons tituições podem ser a n a 1 í ti c as ( d ir i g e n t e s) 
Q :::: 
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" ou s i n t é t i c a s . • ~ e::, 
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.:: t: 
c:i...:; 
36 
A si n t é ti e a é aquela que se limita às ,natérias constitucio-
nais básicas, estipulando os direitos e as garantias funda1nentais 
do cidadão e os princípios gerais de organização do Estado. Con10 
exe1nplo dessa categoria te1nos a dos Estados Unidos da Arnérica, 
que se limita apenas a fixaJ" os princípios básicos desse país e a 
estabelecer os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. 
A anal C t i e a é ,nais extensa, tratandonã.o só de questões de 
princípios e organização do Es tado e direitos e garantias do cida-
dão, mas também de outros assuntos a que se entenda necessário 
conferir importância constitucional. Nos assuntos de que trata, é 
mais descritiva que a analítica, não se limitando apenas a prever 
o assunto, mas tambén1 descrevendo regras e políticas a sere1n 
adotadas sobre os assuntos tratados. 
Por exernplo, a Constituição Federal de 1988 é analítica, pois 
Lraz, além das questões consliLucionais materiais, diversas ouLras. 
Assuntos con10 infância e adolescência, idosos, indrgenas, trabalho e 
emprego, educação, cultura, ciência e tecnologia são enfocados pela 
Constituição. Em alguns casos, tais questões são tratadas exausti-
vamente, estabelecendo-se uma verdadeira disciplina de tais assun-
tos, que, no entanto, poderían1 ser tratados tranq11ílamente por lei 
ordinária. 
, 
E dito tan1bém que a Constituição analítica é dirigente porque 
não se lin1ita a dar as bases do Estado, ,nas também dirige as po-
líticas de governo e do Estado de 1naneira a determinar que se rea-
lizem e alcancem determinados resultados. Assin1, a Constituição 
não só inforn1a co,no a lei deve ser elaborada, 111as ta1nbém o que 
ela deve conter. O conteúdo da norma deve, então, obedecer às dis-
posições constitucionais sobre o assunto, o que não aconteceria em 
uma Cons tituição sintética, que apenas traz o processo legislativo 
37 
sen1 rnaiores ponderações sobre o conteúdo. ))or exemplo, en1 face 
da Constituição de 1988, uma norma que trate do tema "uso da 
água" deve, obrigatorian1ente, observar as disposições sobre água 
e meio ainbiente previstas no texto constitucional. Isso não aconte-
ceria em uma Constituição sintética, em que o assunto água e meio 
a,nbiente não seria sequer tratado, lirnitando-se apenas ao rito que 
o Poder Legislativo deve observar para aprovaçã.o da lei. 
Aplicabilidade e eficácia 
das normas constitucionais 
As normas trazidas por uma Constituição dividem-se de acordo 
con1 sua aplicabilidade. Esta pode ser maior ou n1enor ou depender 
ele outra norn1a para ser plena, advindo dai a classifi cação. A di-
visão mais clássica qualifica as normas entre as de eficácia plena, 
contida e limitada. 
As norn1as constitucionais de e fie á e ia p lena são aquelas 
que, desde a entrada em vigor da Constituição, tên1 aplicabilidade 
plena, ou seja, desde o início da sua vigência, produzen, ou po-
dem produzir efeitos, não dependendo de posterior regu la,nentação 
para serem aplicadas. Na Constituição atual, os direitos e garantias 
constitucionais do art. 5º são exemplos, quase todos, de normas de 
eficácia plena. 
As normas de ef i e á eia e o n ti cl a são aquelas que a Cons-
tituição regularnentou suficiente,nente, rnas deixou para o legislador 
a tarefa de estabelecer requisitos ou condições para seu exercício. 
Por exemplo, a Constituição estabelece que é livre o exercício de 
qualquer trabalho, desde que atendidos os requisitos de qualifica-
ção profissional que a lei determinar. Dessa forma, a Constituição 
estabelece como regra a liberdade de ofício, mas permite que tal 
liberdade seja lin1itada de acordo corno que a lei posterior disser. 
Existem também as regras de ef i e á eia limita d a, que 
são aquelas que só têm eficácia e aplicabilidade após a edição de 
unia lei que as regulan1ente. Por exen1plo, a Constituição deterrni-
nou que os empregados terão participação nos lucros e resultados 
da en1presa, nos ter1nos da lei. Esse direito só poderá ser exercido 
após a edição de unia norrna que estabeleça a forrna con10 essa par-
ticipação ocorrerá; antes disso, o direito não poderá ser exercido. 
Mais modernamente, entendeu-se, ainda, que existem as chama-
das no r ni as pro g r a ni á ti e as, as quais estabelece,n valores, 
indicações de políticas a seren1 adotadas. ão possuem aplicabili-
dade em casos concretos, servindo mais ao governo e ao Legislativo 
con10 indicação do conteúdo das leis que devern ser editadas e das 
políticas a serem adotadas. Por exemplo, a Constituição de 1988 
traz u1na série de valores e princípios a serem observados pela or-
de,n econôn1ica. Não há, entretanto, aplicabilidade direta destes, 
mas apenas un1a indicação de que a atividade econômica deve 
segui-los. A legislação que rege a ordem econômica e sua interpre-
tação devern observai· tais princípios e valores, mas estes si1nples-
n1ente constituem um progran1a da Constituição para esse assunto. 
Síntese 
Nesta primeira pa1-te, tivernos a oportunidade de estudai· os funda-
mentos do direito constitucional. A intenção é fornecer os i nstrumen-
tos básicos para a análise da Constituição da República Federativa 
do Brasil , que será estudada especificamente logo a seguir. 
Como vimos, o texto constitucional é a pedra fundamental do sis-
te1na jurídico e político de um país. Logo, a Constituição do Brasil 
é a norma jurídica ruais importante hoje existente em nosso direito. 
, 
E nela que encontran1os todas as regras para o funcionamento dos 
três poderes, os direitos e garantias fundainentais e os princípios e 
valores do ordenamento jurídico. 39 
É por essa razão que todo o sistema jurídico brasileiro deve es-
tar de acordo com o que detern1ina a Constituição. Essa afirmação 
atribui a essa lei uma importância enorme para o Estado brasileiro 
e paTa o direito, pois é o marco inicial de todo e qualquer estudo 
jurídico que se pretenda realizar. 
Assim, dado esse instrumental básico, passemos à análise desta 
norma Lão importante, que é a Constituição de 1988. 
Questões para Revisão 
1) O que é a Constituição? O que a caracteriza? 
2) Diferencie normas 1naterialmente constitucionais das norn1as 
formal,nente constitucionais. 
3) Assinale qual das alternativas abaixo corresponde a uma 
classificação da Constituição Federal de 1988: 
a) Flexível. 
b) Sintética. 
e) Escrita. 
d) Histórica. 
4) Criou-se um novo Estado, e o seu povo decidiu elaborar un1a 
Constituição. Qual o tipo de poder constituinte que eles exer-
ce,n neste caso: 
a) Originário. 
b) Derivado. 
e) Linútado. 
d) Condicionado. 
5) Por que a Constituição Federal de 1988 é considerada rígida? 
a) Porque não pode ser alterada. em qualquer ponto; 
b) Porque pode ser alterada pelo n1esrno processo da lei ordi-
nária; 
e) Porque possui pontos imutáveis (cláusulas pétreas) 
d) Porque exige processo legislativo especial e rigoroso para ser 
alterada. 
Questões para Reflexão 
1) O Brasil possui uma ConsLituição que é considerada unia das 
mais avançadas do mundo, pois prevê diversos direitos e ga-
rantias fundamentais que visam o be,n comun1 e a felicidade 
da população. 
Reflita sobre a seguinte questão: É necessário para haver bem 
estar da população que o texto constitucional preveja direitos 
e garantias fw1damentais? É possível u,n Estado em que os 
cidadãos vivan1 bem se1n que a Constituição preveja as con-
dições para que isso ocorra? A nossa Constituição sozinha 
garante o hem estar da nossa população'? 
2) As constituições modernas trazen1 diversos direitos e garan-
tias no seu texto, alérn da previsão de realização de políticas 
públicas que visam o bem estar da população. As constitui-
ções mais antigas não tinha1n tais previsões, li111itando-se 
apenas a determinar as atividades e poderes do Estado e suas 
limitações, com pouca preocupação de he1n estar ou social. 
Discuta e reflita sobre as vantagens e desvantagens ele cada 
tipo de Constituição. É n1elhor tuna constituição n1ais descri-
tiva e com mais direitos, ainda que talvez nen1 todos consigam 
ser ef etivaclos, ou é melhor uma constituição que apenas re-
gula1nente o funcionamento do Estado, deixando as políticas 
públicas para serem escolhidas en1 cada momento? 
41 
- . . ~ 
constituição da república 
federativa do brasil de 1988 
. -
A pa1·tegeral do direito constitucional, vista no início desta obra, 
forneceu os instrun1entos necessários à análise do texto atual. 
També1n permitiu a análise da importância da Constituição para 
os Estados n1odernos. 
Passen1os, então, ao estudo da Constituição da República Fede-
rativa do Brasil vigente na atualidade, pro1nulgada en1 1988. 
Observaren1os agora os dispositivos que lhe são específicos. 
Tarnbén1 veremos o que diz a Constituição sobre a organização 
do Estado e a forma de exercício de poder no Brasil, além dos direi-
tos e garantias fundamentais do cidadão. 
Nesta segunda parte, então, faremos a análise do texto e,n espé-
cie, examinando quais as normas que atualmente regem o Estado 
brasileiro. 
Conteúdo do capítulo: 
» Evolução histórica das Constituições brasileiras desde a 
Independência do Brasil até a promulgação da Constituição 
de 1988. 
Partindo da premissa de que não há Estado sem Constituição, 
concluí1nos que o Brasil sen1pre teve Constituição. Desde a sua 
independência, o país já teve oito Constituições diferentes, quatro 
delas promulgadas (1891, 1934, 1946 e 1988) e quatro outorgadas 
(1824, 1937, 1967 e a Emenda Constitucional 01/1969)*. Vejarr1os 
brevemente a história de cada uma delas, para depois dar início à 
análise da Constituição de 1988. 
No período colonial, entre o descobrirnento e a independência, 
o Brasil era dependente de Portugal, na condição de colônia. Logo, 
não possuía autonomia de poder, não tendo, portanto, legislação ne1n 
governo próprios. Nesse período, vigorava a legislação de Portugal. 
* Para consultar na íntegra as Conslituições brasileiras, 
acesse: < h ttp://www. pla nal to.gov. br/ cci vi I_ 03/ consli lu icao/ 
principal.htm>. 
48 
Realizada a independência en1 1822, foi outorgada então a 
Constituição Política do Império do Brasil em 25 de março de 
1824. Essa Constituição foi irnposta pelo imperador e pelo poder 
central e caracterizava-se, basicamente, pelo chamado P o d e r 
Atf. o d e r a d o r, que tinha prevalência sobre os demais poderes e 
era exercido pelo monarca. 
E1n 1889, foi proclamada a República, sendo necessária então 
uma nova Constituição. En1 1891, foi promulgada com o nome de 
Constituiçi.ío da, República dos Estados Unidos 
d o B r as i l e ca.racterizava-se por estabelecer o Brasil como uma 
república federativa. Isso significou a organização da República 
en1 urna federação, cornposta pelos diversos estados, sernelhante ao 
modelo americano. 
E1n 1930, aconteceu a revolução em que Getúlio Vargas su-
biu ao poder, dando atenção ao aspecto social, regulan1entando 
as questões relacionadas ao trabalho e privilegiando a educação 
e a cultura. Ele convocou a Assembleia Constituinte, que, em 
1934, pro,nulgou, co1n o rnesrno non1e de 1891, a Constituição da 
República dos Estados Unidos do Brasil. 
A Constituição de 1934 é marcada por ser a prirneira a prever 
direitos de cunho social e a primeira a tratar das questões econô1ni-
cas, de educação, família e cultura. As Constituições anteriores era1n 
1nais sintéticas, derivadas de um Estado liberal, limitando-se apenas 
a estabelecer e regulamentai· o Estado. Tambén1 a Constituição de 
1934 foi a primeira a estabelecer o voto fe1ninino e criou a Justiça 
Eleitoral e os Tribunais de Contas. 
Em 1937, porén1, ern virtude das agitações internas derivadas 
de influências de ideologias externas, Getúlio Vargas dissolveu o 
Congresso e revogou a Constituição de 1934. Outorgou, então, a 
Constituição dos Estados Unidos do Brasil, cotn o chan1ado Estado 
Novo. José Afonso da Silva explica que essa Constituição nã.o teve 
aplicação regular, já que houve ditadura pura e simples, de acordo 
con1 a vontade do presidente (Silva, 2008). 
Con1 o fi1n do governo ditatorial, fez-se necessá1·ia a realiza-
ção de u1na nova Constituição. Surgiu, então, a Constituição da 
República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada ern 1946. De 
acordo com José Afonso da Silva, essa Constituição não teve um 
pré-projeto ordenado, baseando-se nas Constituições republicanas 
anteriores de 1891 e 1934. Por isso, é um texto voltado ao passado, 
e não ao futuro (Silva, 2008). 
En1 1964,, ocorreu a revolução comandada pelos militares, que 
derrubou o presidente João Goulart. Nesse período, o país foi regi-
do por atos institucionais, juntarr1ente corn a Constituição de 1946. 
Em 1967, os militares apresentara1n projeto de Constituição, que 
foi votado pelo Congresso e outorgado pelo governo. Esse texto teve 
influência da Constituição de 1937, també1n outorgada en1 regirne 
ditatorial. Esse ato 1narcou o endurecirnento definitivo do regiine 
n1ilitar, co1n o afastamento de grande parte dos direitos e garantias 
políticas. 
En1 1968, veio o Ato Institucional nº 5 (1\.I 5), que rompeu total-
mente com a orden1 constitucional. 
Em 1969, foi pron1ulgada a Emenda Constitucional nº 1 à Cons-
tituição de 1967. Tecnicamente, a emenda constitucional (EC) é 
uma alteração a um texto constitucional vigente. Todavia, a EC 
1969 é considerada pela doutrina como urna nova Constituição, pois 
alterou completamente o texto de 1967. Até o nome da Constituição 
foi modificado: em 1967, chamava-se C o n s ti tu i ç ão cl o 
B r as i l e, e rn 1969, passou a denominar-se C o n s t i t u, i ç ão 
d a R e JJ ú b l i e a F e d e r a t i v a d o B r a s i l. 
Com o fin1 da ditadura militar, en1 1985, foi non1eada uma co-
n1issão para elaborar o anteprojeto de nova Constituição, e, poste-
riorn1ente, foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte, que 
se iniciou em 1 ° de fevereiro de 1987. 
49 
50 
A A.ssen1bleia Nacional Constituinte era, na verdade, composta 
pelos deputados federais e senadores, não havendo eleição de mem-
bros exclusivos para ela. Seu texto foi aprovado ern dois turnos de 
discussão, por maioria absoluta ele seus cotnponentes. 
Assim, en1 5 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição 
da República f ederativa do Brasil, que é hoje aclan1ada pela rnaio-
ria da doutrina como u,n elos textos constitucionais mais avançados 
do n1undo. Ulisses Guimarães, que presidiu a Assembleia Nacional 
Constituinte, chamou-a de C o n s t i t tl i ç ão Cidadã, ern fun-
ção da an1pla participação popular na sua elaboração. 
De fato, a Constituição atual é extensa e prevê u1na série de di-
reitos e garantias f undarnentais, alérn de tratar de ternas co,no tra-
balho, administração pública, finanças públicas, economia, saúde, 
educação, cultura, meio a1nbiente e outros que abrangem diversos 
aspectos da corr1plexa sociedade brasileira. 
Em muitos pontos, nota-se no texto constitucional um nítido re-
púdio a práticas do regime ditatorial na época recém-abandonado, 
corno quando se prevê o a,nplo acesso à informação ern bancos de 
dados públicos, o direito de h a b e a s e o r p u s ou o amplo acesso 
ao Poder Judiciái-io que se concede a todo aquele que se julgue 
ofendido ern seus direitos. 
Em 1nuitas partes, todavia, a Constituiçã.o ainda não se encontra 
totalmente implementada, já que se considera necessária a prola-
ção de leis que regulan1ente1n os direitos e as questões nela con-
tidos. Essas leis, em muitos casos, ainda não foram tratadas pelo 
Legislativo, havendo lacunas sérias no cumprimento da Constituição 
en1 virtude dessa 01nissão. 
A própria Constituição Federal previu a sua revisão, que acon-
teceu em 1993. Para essa revisão, era necessário apenas o voto da 
rnaioria absoluta dos n1embros do Congresso Nacional, ao contrário 
do quórum necessário para a aprovação de en1enda constitucional, 
que é de três quintos dos seus n1embros. Ao todo, foram editadas 
seis emendas constitucionais de revisão. 
Se, por urn lado, a Constituição Federal é aclan1ada corno sendo 
avançada, por outro, é c1iticada por ser demasiadamente extensa e 
n1inuciosa, além de, em alguns pontos, prever direitos e questões. , . 1nexequ1ve1s. 
. , 
De fato, trata-se de um texto legal bastante extenso. E com-
posto por 250 artigos. Além destes, contém o Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias (ADCT), composto de 96 artigos, en1 
que se incluíram questões mais fugazes, não próprias do texto 
constitucional. 
Outra crítica que se faz aos governos posteriores à Constituição 
Federal refere-se à disposição destes en1 alterar seu texto de acordo 
con1 sua conveniência. Quando da elaboração desse texto, pouco 
antes do vigésimo aniversário de sua pron1ulgação, a Constituição 
contava com 66 emendas constitucionais elaboradas e,n 22 anos de 
sua vigência. Temos, então, uma média de 3 alterações por ano de 
vigência. Essas e,nendas, en1 alguns casos, alteraran1 substancial-
mente a vontade do constituinte originário, de maneira que o texto 
atualmente vigente é bastante diferente daquele pron1ulgado pela 
Assembleia Nacional em 1988. 
De qualquer forma, a Constituição Federal vem sendo muito 
aplicada, especialmente no que tange a assegurar direitos e ga-
rantias do cidadão perante o Estado. O regime ditatorial anterior 
não permitia o questionamento dos atos estatais, de forma que a 
Constituição e o Judiciário paTa essas questões eram peças deco-
1·ativas da República, e o direito constitucional era considerado 
matéria "fria" nas faculdades de Direito. Hoje, em função da rede-
n1ocratização e da divulgação da Constituição Federal e da ampla 
aplicação que o Judiciário dá ao texto constitucional, houve s ignifi-
cativos avanços na aplicação da Constituição. 
51 
52 
Na história do Brasil, o período de aplicação da Constituição de 
1988 pode ser considerado curto, de n1odo que nos parecem prema-
turos a crítica ou o elogio definitivos ao seu texto. De qualquer for-
ma, a Constituição atual trouxe avanços e ainda pode proporcionar 
1nuitas questões interessantes nos próxitnos anos, de 1naneira que o 
texto a ser estudado é dos n1ais interessantes do nosso direito. 
Feito o histórico das Constituições no Brasil, passamos, en-
tão, à análise propriamente dita da Constituição da República 
Federativa do Brasil. 
1.1 Constituição Federal 
e sua divisão 
Vimos os antecedentes históricos de nossa história constitucional, 
até chegar às circunstâncias de elaboração da Constituição Federal 
atual, em vigência desde 1988. 
Con10 já dito, trata-se de un1 texto extenso. Em função disso, é 
dividido em nove títulos. Estes se subdividen1 em capítulos, que, 
por sua vez, pode1n subdividir-se ern seções e estas, em subseções. 
Essa subdivisão visa agrupar as normas relacionadas co,n cada um 
dos assuntos tratados pelo texto constitucional, facilitando sua lei-
tura e consulta. 
Os títulos tratam dos princípios fundamentais (Título I), dos 
direitos e garantias fundamentais (Título II), da organização do 
Estado (Título III), da organização dos Poderes (1'ítulo IV), da de-
fesa do Estado e das instituições de,nocráticas (Título V), da tribu-
tação e elo orçamento (Título VI), ela ordem econômica e financeira 
(Título VII), da ordem social ('fítulo \TIII) e das disposições cons-
titucionais gerais (Título IX) . 
Con10 a intenção aqui é expor o direito eonstitueional brasileiro, 
pretendemos seguir, a partir de agora, a ordem dos temas conforme 
aparecem na Constituição, abordando cada un1 deles dentro do 
respectivo título. Não se trata de comentar todos os dispositivos 
da Constituição, rnas de analisar seus institutos n1ais irnportantes 
dentro da n1esn1a estrutura por ela estabelecida. 
Assin1, passare1nos a analisar o direito constitucional brasileiro 
ele acordo con1 os títulos da Constituição, os quais dão no,ne aos 
capítulos seguintes desta obra. 
Síntese 
O Brasil teve, ao longo de sua história, diversos textos constitucio-
nais que refletira1n o exercício do poder no período em que foram 
editados. Nos períodos ditatoriais, textos outorgados; nos períodos 
de,nocráticos, foram textos pron1ulgados. 
O estudo deste capítulo nos n1ostra que houve pouca estabilida-
de em nossa história constitucional. A Constituição atual está vi-
gente desde 1988, e algu,nas vezes se fala em reformas profundas 
en1 seu texto, ou mesmo em un1a nova Constituição. Acreditamos 
que a atual Constituição é democrática e bem intencionada; se in-
tegralrnente cun1prida, levaria o país ao ben1-estar con1pleto aln1e-
jado por todos os povos. 
O futuro dirá se leremos uma nova Constituição a adicionar a 
este capítulo de história ou se daren1os cumprimento integral ao 
atual texto, buscando o Estado de ben1-estar social lá descrito. 
Questões para revisão 
1) Porque a Constituição Federal de 1988 ioi chamada de Constituição 
Cidadã"? 
53 
54 
2) Por que atualn1ente há u1na maior efetividade da Constituição, e,n 
comparação com o período ditatorial anteriormente vigente em 
nosso país'? 
3) Aponte qual a alternativa correta quanto à revisão constitucional 
de 1993: 
a) Nessa revisão os parlamentares precisaratn escolher entre monar-
quia ou república. 
b) O texto constitucional previu que a revisão poderia ocorrer com o 
voto da maioria absoluta dos parlamentares. 
c) Tal revisão não ocorreu, mantendo-se integralrnente o texto original. 
d) A revisão foi determinada pelo Presidente da República, que estava 
insatisfeito co,n a Constituição de 1988. 
4) Sobre a Constituição Federal de 1988, é correto afirn1ar: 
a) O texto buscou manter diversas práticas da época da ditadura nlÍ-
litar. 
, 
b) E urn texto curto, de poucos artigos, que não prevê rnuitos d ireitos 
e garantias fundamentais do cidadão. 
c) Foi elaborado por uma assembléia especialmente eleita para este 
fim. 
d) Foi alterada diversas vezes após sua entrada em vigência. 
Questões para reflexão 
1) Como visLo neste capítulo, o Brasil já teve diversas constitui-
ções diferentes, sendo algu,nas democráticas e outras outor-
gadas. 
Discuta sobre a utilidade e conveniência de se ter tantas al-
terações de Constituição. Seria isso saudável, já q1.1e a socie-
dade altera-se e, por isso, o texto constitucional també1n pre-
cisa ser alterado? Ou seria isso prejudicial, não permitindo a 
estabilidade das instituições e o seu desenvolvimento pelas 
sucessivas alterações? 
Conteúdos do capítulo: 
» República e federação. 
» Estado democrático de direito. 
» Fundamentos e objetivos da República. 
» Exercício do poder e princípios nas relações internacionais. 
O 'fítulo l da Constituição Federal denomi na-se D os p ri n e í -
p i o s f u n d a m e n t a is porque basicamente contén1 os valo-
res, as políticas e as diretrizes que estão no alicerce da República . 
1'e,nos aqui, então, os verdadeiros pilares da fundação do Estado 
brasileiro, carregados de significação e peso para todas as decisões 
e leis que sejam deles derivadas. Ainda que se trate de um título 
curto (ten1 apenas quatro artigos, l º ao 4º), é dos n1ais importantes 
na análise do direito constitucional brasileiro e do Estado, pois é 
repleto de conceitos e princípios que devem ser analisados para o 
bo,n conhecin1ento da Constituição. \Tejamos os principais pontos 
contidos nesse título. 
2.1 República e federação 
O art. lº da Constituição Federal inicia mencionando que o Brasil é 
urna República Federativa. Vejamos o que isso significa. 
República indica a forma de governo, que, conforme ensina José 
Afonso da Silva (2008), refere-se à maneira como se dá a institui-
ção do poder na sociedade e como ocorre a relação entre os gover-
nantes e os governados. Esse autor cita, ainda, Aristóteles, para 
quen1 existian1 três formas de governo: a monarquia, governo de 
um só; a aristocracia, governo de poucos; e a república, governo em 
que o povo governa no seu próprio interesse. 
Dessa forma, ser urna república signifiea que o Estado, o poder 
e tudo aquilo que é público pertencem ao povo. Daí o nome

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