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CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 1 DIREITO CONSTITUCIONAL I FACULDADE BAIANA DE DIREITO. DISCENTE: NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES DOCENTE: DIRLEY DA CUNHA JR. JUL/2020 CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 2 CONSTITUCIONALISMO - Conceito e origem: . Se manifestou como um movimento ideológico, filosófico, político, histórico e econômico, em defesa das liberdades públicas individuais. . Conceito dinâmico. . Se empenhou por um modelo ideal de organização política, capaz de limitar a expansão de poderes absolutos. . Nunca se opôs ao poder. . Pois, sem poder nenhuma sociedade se sustenta. . É fundamental. . Fenômeno indispensável. . Sempre lutou pela necessidade de limitação de poder. . Se opôs SEMPRE ao abuso de poder. . Colocar “rédeas” no poder, para alinhar à proteção de todos e simultaneamente à proteção de CADA um dos cidadãos. . Passou a firmar ideias que chamamos hoje de constitucionais. . Garantir coexistência e harmonia entre os detentores do poder e as liberdades dos governados. . KARL LOEWENSTEIN: TEORIA DA CONSTITUIÇÃO . Identifica nos hebreus a origem do constitucionalismo. . Regime teocrático segundo o qual para a crença deles, existia uma crença superior que impunha aos homens Leis de Deus, do senhor – Respeitar as liberdades e espaços dos governados. - Desenvolvimento: . Constitucionalismo Antigo: . Grécia: . Democracia direta – exercício de poder direto pelo povo, sem entrepostos, sem representantes. O próprio cidadão sendo ao mesmo tempo governante e governado. . Nem todos eram cidadãos. APENAS os livres e detentores de terras = cidadãos ATIVOS. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 3 . Poder limitado e liberdades protegidas – Nada melhor que o próprio povo conduzir sua existência. . Realça o empoderamento do povo (salvo as restrições de quem era esse povo). . Roma: . Fundação e proclamação da República Romana. . Sustentou a criação do sistema de freios e contrapesos. . Limitação do poder pelo próprio poder. . Poder não mais concentrado. . Futuramente: Locke (liberal); Monstésquieu. . Constitucionalismo Medieval: . Era difícil para o exercício da liberdade. . Momento dos piores estados autocráticos (absoluto) – Todo poder concentrado em um governante. . Promulgação da Magna Carta de 1215 (João Sem Terra). . Se observa pela primeira vez na Idade Média uma carta de direitos que impõe limites ao governante. . Deixou enormes contribuições, como: “Ninguém pode ser condenado sem ter o direito a um devido processo legal”. . Carta destinada apenas aos que tinham os benefícios da coroa (igreja e nobreza). . Constitucionalismo na Modernidade: . Estado Legislativo de Direito – centrado, e não mais o Estados dos homens (absoluto). . Inglaterra; Revolução Francesa; Independência dos EUA. . Modernidade acreditava que SÓ A LEI era capaz de controlar o Direito. . Influência do Iluminismo. . Séculos das Luzes – XVIII . Libertação contra os estados autocráticos que ainda teimavam em persistir. . JOHN LOCKE: serviu de influência para a Revolução Gloriosa. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 4 . Petition of rights (petição de direitos) + Habeas Corpus Act (para banir as prisões arbitrárias/1678) + Revolução Gloriosa (1688) + Bill of rights (parlamento ativo/1689) – Inglaterra: derrocada da monarquia – passou a fortalecer o poder do parlamento – poder dividido. . A monarquia inglesa com a Revolução Inglesa e com o Bill of Rights, se transformou em monarquia constitucional, baseado no sistema de freios e contrapesos – poder emana do povo, mas é exercido de forma partilhada entre o parlamento e o governo, com possibilidade do parlamento controlar algumas decisões dos reis. . 13 colônias inglesas na América do Norte, influenciadas por ideias iluministas, se rebelaram. . Declaração de independência (04 de julho de 1776). . Impulsionou a união indissolúvel das 13 colônias – criou-se os Estados Unidos da América. . Constituição dos EUA (17/09/1787) – PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO ESCRITA DO PLANETA. . França: Estado de direito onde o cidadão passasse a ter sua liberdade protegida e o governante passasse a se sujeitar a parâmetros ou a limitações jurídicas. . Revolução Liberal Burguesa Francesa (durou 10 anos) – conseguiu derrotar o antigo regime do poder absoluto do rei. . Declaração Universal dos Direitos (26/08/1789). . 2ª Constituição escrita do mundo – Constituição Francesa de 1791. . Códigos então começaram a surgir. . Surgimento de Constituições escritas. . Lei como expressão da vontade geral. . Neoconstitucionalismo: . Estado legislativo de direito sofre decadência – já não são mais capazes de dar conta do controle do Direito. . Veio como resposta. . Pós 2ª Grande Guerra Mundial. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 5 . Redefinindo o fundamento: Estado de Direito centralizado na supremacia da Constituição. . Constituições passam a ser as salvações. . Estado Constitucional de Direito. . Leis em consonância com direitos e liberdades. . Marco filosófico: conjunto de reflexões filosóficas – pós-positivismo – inaugura um sistema híbrido no âmbito da teoria jurídica. . Pós-positivismo: reaproximação entre o direito posto e os valores/a moral – confluência de ideias do jusnaturalismo e o positivismo. . Marco teórico. . Valores como justiça, moralidade e ética. . Direito e Filosofia numa relação de permanente intimidade. . Identificar as próprias transformações na esfera jurídica. . Norma é importante, MAS passa a ser analisada a partir dos valores presentes em seu conteúdo. . Passa a ter proteção normativa. . Leis se sujeitando ao império e controle da CONSTITUIÇÃO. . Normatividade dos princípios – grande conquista teórica. . Desenvolvimento de uma cultura jurídica (reforço da dogmática dos direitos fundamentais) – fortalecida. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 6 O DIREITO CONSTITUCIONAL COMO DISCIPLINA JURÍDICA - Conceito e origem: . O direito constitucional é o resultado do constitucionalismo . Constitucionalismo que tem origem desde o povo hebreu com seu regime teocrático. . Sempre reivindicando modelos de organizações constitucionais de organização da sociedade, sempre visando as liberdades. . Surgiu a necessidade de criar uma disciplina jurídica que fosse capaz de nas instituições de ensino, fomentar, difundir, disseminar essas ideias do constitucionalismo. . Estados totalitários surgem na primeira metade do século XX . Fruto do Estado de direito sob o sistema legalista. . Lei utilizada por esses regimes como instrumento de opressão. . Depois da segunda grande guerra mundial, a sociedade sem compreender o que tinha acontecido, reage para criar um novo Estado de Direito sob uma nova perspectiva. . Lei passou a ser um mero instrumento do direito, submetida a autoridade da própria constituição. . Constituição como única alternativa possível de superar os regimes totalitários. . Supremacia da Constituição . Na Itália, foi criada a primeira cadeira educacional de direito constitucional nas universidades no início do século XIX (1800) e mais ou menos 30 depois o mesmo aconteceu na França. . Surge como disciplina jurídica autônoma em 1940 no Brasil – se torna a principal disciplina na teoria jurídica. . Disciplina jurídica que estuda para além das constituições, procura investigar os fenômenos constitucionais (que estão por trás das produções das próprias constituiçõesestatais). . Se preocupa com os fenômenos sociais, políticos. . Não só estudando constituições positivadas por um determinado Estado, mas as constituições em geral. . Direito Constitucional não é fragmentado, mas para melhor entendê-lo, precisamos realizar recortes, divisões internas nesse conteúdo, de forma que não compromete sua integridade como Ciência Jurídica. - Divisão ou espécies: CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 7 . Direito Constitucional positivo: . Se preocupa unicamente por analisar, estudar, pesquisar sobre as normas de uma constituição VIGENTE em um país. . Exemplo: estudar hoje a constituição de 1988 (vigente no Brasil, promulgada desde 5 de outubro de 1988). . Também chamado de Direito Constitucional particular ou específico. . Direito Constitucional Comparado: . Talvez seja o mais rico, porque seu objeto de estudo/análise/investigação não se limita a uma constituição vigente adotada em um país. . Tem como objeto de estudo diversas constituições vigentes ou não, extintas no tempo e no espaço. . Examina as constituições já adotadas e comparando com as atuais. – CRITÉRIO DE ESTUDO TEMPORAL. . Exemplo: estudar a CF de 1824 e compará-la com a de 1881. . Confrontar constituições vigentes ou não adotadas por países diferentes – CRITÉRIO DE ESTUDO ESPACIAL. . Finalidade: traçar as semelhanças e dessemelhanças entre as Constituições em questão comparadas. . Direito Constitucional Geral: . Também tem por objeto de estudo diversas constituições também distintas em tempo e espaço. Mas, sua finalidade não é comparar as semelhanças e dessemelhanças (como o DC comparado). . Sua finalidade é fixar uma TEORIA GERAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL, que sirva a todas as teorias. . Teoria unitária sobre uma determina temática entre as constituições. - Relação com outras disciplinas: . Relações proveitosas, de interferência, diálogo. . Direito Constitucional desempenha uma certa hegemonia teórica sobre as demais disciplinas. . Tem relação produtiva com as demais disciplinas. . Relação de subordinação – dialógica, mas sem perder a SUPREMACIA/HEGEMONIA. . Também dialoga com disciplinas não jurídicas. – Fontes: CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 8 . Fonte: origem daquele direito, de onde ela surge, onde é seu princípio. . Fontes diretas: influência/interferência é IMEDITADA. . Exemplo: na própria Constituição escrita (produto da modernidade, do século XVIII), nos países que adotam esse modelo (maioria esmagadora); nos costumes constitucionais, nos países que adotam constituições costumeiras, não escritas (exemplo: ING). . Fontes indiretas: interferem no DC de forma ancilar ou auxiliar. Exemplo: jurisprudência constitucional; doutrina constitucional (que muitas vezes influencia a própria construção da jurisprudência constitucional). CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 9 TEORIA DA CONSTITUIÇÃO – Conceito e sentidos da Constituição: . A teoria constitucional surge com o intuito de estudar as ideias fundamentais que gravitam a constituição. . A constituição é lei fundamental do país, porque está acima de todas as outras e é fundamento jurídico de existência de todas as outras. . A constituição de um modo geral é a lei orgânica do próprio poder. . Lei suprema que estabelece a organização fundamental do estado e seu poder, mas também essencialmente da organização da sociedade. . Uma ordenação regulatória de tudo isso. . Não é apenas a lei suprema que fundamenta todas as demais leis, sendo a lei precedente de todas elas. Mas, também a lei fundamental orgânica de toda a sociedade. . Ordenação jurídica social. . Estabelece as regras fundamentais de coexistência e existência social. . Definindo deveres e direitos e os pontos de intersecção que garantam harmonia nas relações da sociedade. . Sentido sociológico: . Ferdinand Lassalle – um dos pioneiros do sentido sociológico da Constituição. . A constituição para ele não é produto da razão, criação, invenção humana. Para ele, a verdadeira constituição, é aquilo emanado da realidade social, da realidade presente, das forças sociais. . Não é aquilo criado, escrito em uma folha de papel, mas sim aquilo que revela o somatório dos fatores reais de poder que irão reger a sociedade de fato. . 1862: Lassalle fez uma conferência na antiga Prússia para operários e intelectuais, onde sobre a constituição, ele ressaltou o caráter sociológico da constituição. . Não será uma folha de papel que irá dar conta de mudar toda sociedade e sua realidade. . Se o que o homem escrever na folha de papel estiver condizente com a realidade social, ela se sustenta. Pois, ela teria os princípios da verdadeira constituição. Caso contrário, ela sucumbirá. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 10 . Sentido político: . Carl Schmitt . Livro “Teoria da constituição” . A constituição não é reflexo da realidade social. Na verdade, a Constituição é aquilo que resulta dessa decisão consciente de uma comunidade (decide sobre sua constituição, estabelecendo, pouco importa o meio, as condições de existência fundamentais para a sua comunidade). . Resultado de uma vontade política da própria comunidade. . Decisões políticas fundamentais, retorno da sua própria forma concreta de existir, que estabelece sua Constituição. . Essa decisão política do povo, não pode incluir todo tipo de deliberações, mas apenas aquelas que gravite na organização do estado, edificação deste e declaração de direitos, ligadas a própria existência concreta da comunidade, que obviamente vão abraçar as ordenações fundamentais de sociedades. . Constituição: compreende esse núcleo central das decisões fundamentais do povo. . Lei Constitucional: compor um texto formal da constituição sobre os demais temas. . Sentido jurídico: . Hans Kelsen, o pai da Constituição. . Teoria pura do direito. . Entendia a constituição figurando o topo da pirâmide normativa, a cúspide, o último escalão, a norma suprema, que dá fundamento de existência e validade para as normas inferiores. . Via a constituição a partir desse sentido jurídico. . Não estava “nem aí” para realidade social, tampouco para as decisões políticas do povo. . Dissociou o direito da realidade social e questões políticas, porque para ele, estas não poderiam interferir na realidade metodológica do direito. . Norma é puro DEVER-SER. . Sentido cultural: . Examinar a constituição a partir do diálogo, intersecção, conexão dos demais sentidos acima listados. . Uma conexão que favoreça e permita a relação de todos: fruto da realidade social, alinhada as decisões políticas de um povo, sem deixar de ser vista com normatividade importante. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 11 . Direito como objeto da cultura humana, que interage com todo o seu ambiente (realidade, moral, valores, fatos sociais, etc.) . Quem mais se destacou em defesa desse sentido cultural no Brasil, foi Miguel Reale, sobretudo em sua obra “Teoria Tridimensional do Direito”, direito examinado numa perspectiva de aliança: fática, social, normativa. . Direito tem que se manter próximo a realidade, porque dela é que nasce o direito. E surgindo dessa realidade, volta para ela para implementar, regular. . Teoria Tetradimensional do direito: direito é norma, valor, fato social e justiça – autor Paulo Lobo (Saraiva) – No brasil . Alemão Konrad Hesse, defendeu uma conferência magna numa universidade onde é professor catedrático, intitulada “A força normativa da constituição” - necessidade de aconstituição ter contato íntimo com a realidade porque a regula, e expressar as decisões políticas destas também. Ressaltou que a constituição não é uma mera folha de papel, porque tem força própria, mas que depende do contato da realidade (terá mais força normativa quanto mais se aproximar da realidade). - Classificação da Constituição: . Estudo necessário porque as constituições não são iguais – tipologias com características diferentes entre si. . Identificar as diversas constituições. . Critérios: 1) Quanto ao conteúdo: . Formal: constituições cujas disposições jurídicas encontram-se plasmadas a partir de um texto como resultado de uma assembleia constituinte. . Múltiplos conteúdos – bons, ruins, relevantes, irrelevantes, etc. . Material: constituições onde não se importa a forma, mas o conteúdo. . Conceito delimitado/específico a um conteúdo especial. . Não se prende a fronteiras formais. 2) Quanto à forma: . Escrita = instrumental = sistemática. . Corporificada em um documento. . Codificada. . Não escrita: baseada prevalentemente aos costumes. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 12 . Exemplo: Constituição britânica. . Tudo que está nela ocorre, se materializa. . Costume históricos que se reintegram por décadas. 3) Quanto à origem: . Democrática: promulgada a partir da vontade livre e soberana do povo. . Decorrente do anseio popular. . BRASIL: CF 1891; CF 1934; CF 1946; CF 1988. . Não democrática: outorgada a partir da vontade unilateral do detentor do poder. . Sem respeito às liberdades individuais. . Impostas tiranicamente. . Const. 1824 (Império); Const. 1937 (Estado Novo); Const. 1967 e Const. 1969 (emenda nº 1). . Pactuada: resulta de um acordo bilateral entre 2 forças políticas antagônicas que chegam a uma deliberação e firmam uma Constituição. . Constituição da Revolução Francesa (1791) – burguesia + monarquia. . Cesarista: . Muito menos frequente. . Modelo Napoleônico (início do século XIX). . Chile – ditadura de Pinochet. . Esses estadistas conseguiram produzir: sem participação popular, mas ao fim, submeteram o povo a um plebiscito para aprovação. 4) Quanto a estabilidade ou modificabilidade: saber se ela é forte ou fraca. . Imutável: não pode sofrer alterações. . Não aceita emenda constitucional ou reforma em seu texto. . Hoje é mera relíquia histórica. . Impossível em uma sociedade com uma dinâmica extremamente cambiável. . Const. De 1824 do Brasil nos 4 primeiros anos de vigência não poderia ser modificada. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 13 . Fixa: pode ser modificada. Mas, essa modificação só pode ser feita pelo poder constituinte que a elaborou. . Rigor imposto. . Rígida: admite mudança por meio das emendas constitucionais. . Feitas por um poder derivado renovador que ele mesmo cita. . MAS, que depende da adoção de formalidades rigorosas. . Grau de rigidez muda de uma para outra. . Ex: Const. De 1988 no Brasil . Flexível: . Força jurídica 0. . Poder ser alterada com a mesma facilidade de uma lei. . Brasil nunca adotou. . Semirrígida ou semiflexível: . Em parte, rígida, em parte flexível. . Brasil Imperial. 5) Quanto ao modo de elaboração: . Dogmática: consiste em um documento escrito e sistematizado, elaborado por um órgão constituinte em determinado momento da história político constitucional de um país, a partir de dogmas e ideais fundamentais da Ciência Política e direito dominantes na ocasião. . É chamada de dogmática por consolidar em seu texto escrito dogmas ou princípios fundamentais vigentes no momento que elaborada. . Histórica: elaborada a partir de costumes e crenças firmadas historicamente e lentamente na história de um povo. . Const. Britânica. 6) Quanto a extensão: . Concisas/sintéticas: breves; abreviadas. . Se manifestam a partir de normas principiológicas (abstratas, abrangentes). . Exemplo: Const. Dos EUA (que só tem 7 artigos). CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 14 . Analíticas/ prolixas: . Permeiam todos os aspectos sociais e políticos de um Estado e sociedade. . Exemplo: CF do Brasil atual, com 250 artigos só na parte permanente. 7) Quanto à finalidade: . Garantia/liberal: finalidade tão somente de organizar o Estado e prever a garantia de liberdades individuais. . Sua finalidade se esgota nisso. . Const. 1824 e Const. 1891 do Brasil. . Social/dirigente: construir uma sociedade justa, igualitária, sem distinções. . Estabelece metas para o Estado cumprir. . Preocupada em implantar um estado de bem-estar social, em consagrar um regime de solidariedade social. 8) Quanto à ideologia: . Ortodoxa: resulta da consagração de uma única ideologia. . Exemplos: Antiga URSS. . Eclética ou pluralista: prevê inúmeras ideologias, inclusive motiva a conciliação entre essas, muitas das quais são divergentes. . Constituição plural. 9) Quanto ao modo de ser: . Normativo: aquela que detém força normativa e que efetivamente regula a realidade social. . Nominal: não tem força jurídica alguma. . Ignorada pela sociedade. . Sem capacidade regulatória. . Semântica: dá amplos poderes ao governante e justificar o poder abusivo. - Classificação da CRFB/1988: . Conteúdo formal – positivada dentro de um ordenamento. . Forma escrita. . Origem promulgada - elaborada por representantes legítimos, origem democrática. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 15 . Estabilidade rígida – pode ser alterada, mas segue a observância de vários critérios para tal. . Extensão analítica ou prolixa – muitos artigos. . Finalidade social ou dirigente – garante a dignidade da pessoa humana, o estado de bem-estar social. . Modo de elaboração dogmática – conjunto de valores fundamentais que irão permear toda a CF. . Ideologia eclética – abrange diversas ideologias. . Modo de ser normativa– dotada de valor jurídico, que possui força normativa suficiente para regular toda a organização social. - Estrutura: . Preâmbulo: . O preâmbulo é o introito de uma constituição, é a carta de apresentação, onde de forma sucinta e objetiva traceja os caminhos e ideais da lei fundamental, sendo responsável por explicitar os ideais do novo Estado, bem como a impressão filosófica e política da nação para qual foi constituído. . É de grande percepção que o preâmbulo constitucional é de grande relevância para o corpo constitucional, por se tratar de um texto de imensurável valor teleológico que se subsumi aos valores sociais. . Parte introdutória da Constituição, que revela de forma sumariada os objetivos e fins desta. . Identificando para o cumprimento desses fins quais as premissas axiológicas que serão prestigiadas. . Nossa CF tem um belo preâmbulo, porque parte de premissas axiológicas muito importantes para se chegar a fins também muito importantes. – Elaborada para servir não como instrumento de governo, mas instrumento à serviço a cidadania, dignidade da pessoa humano, de um Estado de bem estar, etc. . A partir desse preâmbulo é que podemos dizer se ela prioriza mais o poder ou os valores sociais, se ela é democrática ou não, etc. – uma espécie de raio x. . Anúncio prévio os principais valores que informaram e parametrizaram o agente constituinte para a elaboração da Constituição. . Referência fundamental para a interpretação do sentido das leis. . Alguns acreditam ter força normativa outros não. . Parte dogmática: CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 16 . Parte permanente do texto, onde estão inseridosos dogmas (valores fundamentais expressos). . Direitos individuais, coletivos, civis, políticos, sociais, econômicos, culturais, garantias, etc. . Corresponde à parte do texto da Constituição que fala da pessoa humana. . Tem vigência indeterminada. . Parte transitória (no Brasil, ADCT – Ato das disposições constitucionais transitórias): . Reúne normas constitucionais de vigência temporária que tem por finalidade assegurar a transição jurídica de uma Constituição anterior. . É temporária, mas obrigatória (nem os estados nem os munícipios podem violá-las). . 1ª função: promover a transição entre o Direito anterior e o Direito novo. . 2ª função: promover regulações temporárias e a certas situações, enquanto a nova situação não adquire regulações definitivas. – exemplo: indenização compensatória pela demissão do empregado. - Elementos: . Busca mapear as normas (das disposições normativas que fazem parte da Constituição) de acordo com a matéria que ela regula. . Orgânicos: . Identificar na Constituição quais as disposições normativas que se ocupam em estabelecer a organização do Estado, dos seus fundamentos, de seus poderes, etc. . Normas que identificam o modelo federativo para o Brasil. . Limitativos: . Identificar elementos que limitam o poder do Estado. . Exemplo: normas sobre tributos; Estado não pode condenar ninguém sem que haja um devido processo legal. . Importantes para frear o poder do Estado e condicioná-lo a própria ordem. . Socioideológicos: . Procuram mapear as constituições para identificar o perfil desta. . Qual o grau de comprometimento com sua sociedade. . Constituição liberal: estado contemplativo – não se intromete – leva a um excesso de liberdade no âmbito econômico e social (ricos cada vez mais ricos, e pobres cada vez mais pobres – e o estado assistindo de “camarote”). . Constituição dirigente ou Social: fundamenta um estado social, intervencionista, preocupado em prestar um bem estar para todos, erradicar pobreza, diminuir as injustiças, promover acesso igualitário a saúde de qualidade etc. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 17 . Estabilização constitucional: . Normas que compartilham a preocupação pela garantia da força normativa da Constituição e pela garantia da sua estabilidade e integridade. . Garantir a solução dos conflitos constitucionais e a defesa da Constituição. . Formais de aplicabilidade: . Normas que regulam a forma de aplicação da própria Constituição. . Critérios para definir a forma como o Direito será aplicado. . Exemplo: Parágrafo I do artigo 5º: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. – Em outras palavras, não precisam esperar leis que venham regulamentar. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 18 PODER CONSTITUINTE - Conceito e considerações históricas: . Um poder político fundamental/supremo por meio do qual um grupo ou uma comunidade expressa soberanamente uma vontade direcionada a fixas os fundamentos de organização da própria da comunidade (delimitando suas competências, discorrendo a respeito das liberdades fundamentais, estabelecendo os poderes. . Surgiu em um momento histórico em que as sociedades estavam se organizando – como uma necessidade de organização dessas sociedades. Emerge com essa vontade política determinante direcionada a ordenar e organizar a sociedade estabelecendo a forma de convivência entre os seus integrantes e a forma de organização política. . Absolutismo: poder constituinte do soberano. – “O Estado sou eu (LUÍS XIV) – todo o poder da terra personificado na figura do monarca (totalitarismo). – Poder constituinte por muito tempo associado ao poder dos soberanos. . Não é um fenômeno dos tempos recentes. Na verdade, trata-se de um instituto que vem há muito tempo se formando e se materializando na mente de todos. . Poder político, soberano, fundamental, que grupos e organizações de pessoas possuem para fundar/criar uma nova ordem por meio da Constituição. . Poder constituinte não se confunde com a sua teoria – “Eu tenho o poder constituinte como um fenômeno político; e a Teoria do Poder Constituinte como um fenômeno jurídico”. . Do ponto de vista político, o poder constituinte é sempre examinado a partir de uma força/energia capaz de criar uma nova ordem. – Sempre existiu e estando associados a governos absolutistas. . A Teoria do Poder Constituinte visou legitimar o Poder constituinte, isto é, tirar/subtrair o poder constituinte do soberano/do governo e migrá-lo para o povo/para a nação/ para a comunidade. . Origem associada a essa energia e potência pública de organizar um determinado núcleo social, de estabelecer seus próprios fundamentos de organização social. . Em uma singela definição, seria aquele que produz as constituições. . As constituições emanam do poder constituinte. . É o “poder dos poderes” – porque dele a Constituição se origina e, é ela quem cria os poderes (poderes criados ou constituídos) – os poderes constituintes mantém uma relação com os poderes constituídos de paternidade. . Como poder dos poderes, é o responsável por produzir e expressar juridicamente a Constituição. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 19 . Organizar a nossa sociedade como um Estado soberano, se expressando formalmente através da constituição. . Vários movimentos históricos de caráter revolucionário, se entabularam e se desenvolveram com propósito de superar esse regime de governo absolutista, com a ideia de se transferir a titularidade suprema do poder constituinte ao próprio povo, a própria nação, a própria comunidade. . Isso se deu em razão do florescimento do chamado Estado de Direito, a partir do qual o poder constituinte migra do soberano e vai para o povo. . É a partir disso que se inicia a chamada Teoria do Poder Constituinte, a teoria que exatamente sustentou a necessidade dessa que é a maior e primeira manifestação de poder em uma comunidade ser atribuída com exclusividade ao povo. . O próprio governante estaria subordinado à ordem jurídica. . OBS: Emmanuel Joseph Sieyès – se tornou extremamente importante para a deflagração desse processo na França, em razão dele, na antevéspera da Revolução Francesa, haver divulgado um Manifesto da causa revolucionária – Uma indagação: QUE É O TERCEIRO ESTADO? - Antes da Revolução Francesa, havia na França uma estrutura política de opressão manifesta e evidente, pois existia o poder do monarca (todo poder constituinte centralizado na figura do rei) e existiam os estados gerais que envolviam o 1º Estado (clero – 0,5% da população), o 2º Estado (nobreza- 1,5% da população) e o 3º estado (burgueses, camponeses, trabalhadores de um modo geral – 98% da população). Todos os privilégios e benefícios se concentravam no 1º e 2º Estados, enquanto que o 3º Estado não era sujeito de direitos e/ou privilégios, eram apenas sujeitos de direitos de ônus (“levava nas costas todo aparato estatal, na medida em que produzia riqueza, pagava tributos e sustentava TODOS os privilégios e benefícios do rei, nobreza e clero). – Deu ensejo a Revolução Francesa, proposta pelo 3º Estado. – Sieyès, então, traz 3 indagações: Que é o primeiro Estado? É tudo. O que tem sido até aquele momento o 3º Estado? Não tem sido nada. O que pretende ser o 3º Estado? Pretende ser alguma coisa. . O Abade Sieyès depois formulou melhor as respostas da sua indagação: O 3º Estado é tudo porque é quem produz riquezas, paga tributos e sustenta as instituições políticas francesas, que financia a monarquia que vai financiar os benefícios do do 1º e 2º Estados, e por ser esse tudo, ele tem condições plenas de se constituir como uma verdadeira nação./ O 3º Estado não temsido nada apesar de ser tudo, porque não tinha privilégio algum, não tinha nenhum espaço político naquele estrutura de França pré- revolucionária./ O 3º Estado deseja ser alguma coisa – quer ser a nação, ter espaço político, representar exclusivamente que integra de fato o 3º Estado, quer votar por cabeça e não por ordem – Estava aí a própria ideia da titularidade do Poder Constituinte, na medida em que como o 3º Estado era tudo, ele era o único a se reunir como verdadeira nação, reivindicando esse Poder Constituinte capaz de estabelecer os fundamentos do novo regime político em uma nova França, superando o Antigo Regime político opressor. . É o poder do povo, no qual o povo, soberanamente, expressa a sua vontade de produzir a sua própria Constituição. . Começa a partir dessa força de vontade política. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 20 . Revolução de independência das Colônias inglesas na América do norte: fundamental para disseminação das ideias constitucionalistas. . Com a independência das colônias, estas se tornaram politicamente emancipados. Todavia, por razões diversas, essas antes colônias resolveram se unir para discutir sobre a possível união. Essa reunião resultou em importantes resoluções extremamente importantes para história dessas. . O poder constituinte foi exercido pelo povo. - Natureza . Há duas correntes que disputam a natureza do poder constituinte. . Para o jusnaturalismo, o poder constituinte é um poder por natureza de Direito. . Direito que fundamenta/preexiste o Poder Constituinte. . Antes de qualquer coisa existe um direito natural, emanado das próprias relações humanas e que não é posto. . A partir desse direito que se justifica o poder constituinte – de onde teremos a constituição – e desta, temos o Estado. . Podes constituinte é um poder jurídico porque é assentado por um direito natural. . Para o juspositivismo, o poder constituinte é um poder por natureza político, fático. . O Direito só existiria a partir do Poder Constituinte, a partir de uma manifestação política de vontade do Estado no âmbito do qual uma autoridade estatal dotada de competência normativa seria a única capaz e suficiente para positivar o Direito. . Se funda em si mesmo a partir dos acontecimentos sociais. . Fatos – poder constituinte – constituição – estado. . A posição adotada no Brasil, e até em um direito comparado, é aquela que acolhe o Positivismo Jurídico, apesar de estar com uma nova moldura: o Pós Positivismo, isto é, o Poder Constituinte é político, fático, que se manifesta a partir de uma energia emergente de acontecimentos sociais. - Titularidade e exercício do Poder Constituinte: . No âmbito das teorias de legitimação do poder, sempre se defendeu a ideia de que todo poder emana do povo, mas que será exercido por meio de seus representantes, ou em algumas hipóteses, a depender do regime constitucional adotado, exercido pelo povo diretamente. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 21 . 1ª hipótese: Regime representativo, que caracteriza as chamadas democracias representativas, nas quais todo o poder emana do povo, mas não é o povo que o exerce diretamente, mas sim indiretamente por meio da escolha de seus representantes. . 2ª hipótese: Democracias diretas ou participativas, onde todo poder emana do povo e é ele próprio que exerce o poder. . No Brasil, com a Constituição de 1988 se estabeleceu uma democracia representativa, mas mesclando esses elementos com aspectos especiais de uma democracia direta. Por isso mesmo nossa própria Constituição afirma que todo poder emana do povo e será exercido por seus representantes OU nos termos da Constituição, diretamente. . Os termos em que o próprio povo exerce seu próprio poder diretamente na Constituição de 1988: o plebiscito, o referendo, da iniciativa legislativa popular, ação popular para fiscalizar gastos públicos. . Dentro dessa perspectiva democrática, o titular do Poder Constituinte só poder ser o povo. E, essa titularidade é EXCLUSIVA, não existe uma co-titularidade entre povo e governo. – O governo tão somente é o delegatário do povo no exercício do poder. . Quem exerce o Poder Constituinte do povo? Os seus agentes. Estes chamados de “agentes constituintes” ou simplesmente “constituintes”. Elegidos a partir de um processo democrático pelo povo, para ser delegatário deste povo, representando esse povo no exercício do Poder Constituinte. . Agente constituinte (o representante do povo no exercício do Poder Constituinte) é diferente de parlamentares (deputados ou senadores). Pois, os parlamentares são também representantes do povo, mas não no exercício do Poder Constituinte, e sim no exercício de poderes constituídos (legislativo no caso específico dos parlamentares). . Identificamos a primeira manifestação legítima do Poder Constituinte em duas nações: nos Estados Unidos da América e na França. . Nos EUA, tivemos uma Comissão Constituinte na Filadélfia, a chamada Convenção Constituinte da Filadélfia, de onde se deflagrou a primeira constituição escrita do planeta em 17/09/1787. – A mais antiga do mundo e hoje ainda em vigor. – Os agentes constituintes do povo, representando o povo, se reuniram em uma convenção constituinte da qual nasceu a constituição dos EUA. . Na FRA, na Revolução Francesa (1789-1799), com a Queda da Bastilha em 14/07/1789, alguns dias depois, em 26 de agosto de 1789, houve uma assembleia nacional constituinte da qual emanou a chamada Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão na França. E, dois anos depois, em setembro de 1791, tivemos uma outra assembleia nacional constituinte francesa, na qual os agentes constituintes representando o povo francês proclamou a Constituição Francesa de 1791, que foi a primeira constituição escrita na França, e a segunda formal e sistemática do mundo, logo depois, portanto, do EUA. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 22 . Nesses dois momentos históricos, os agentes constituintes se reuniram em assembleias nacionais constituintes. . O Congresso nacional é diferente de uma Assembleia Constituinte. . O Congresso Nacional corresponde exatamente a uma convenção parlamentar, vale dizer, é um órgão do poder legislativo que compreende os parlamentares (deputados e senadores). Enquanto que a Assembleia Nacional Constituinte, é o órgão do Poder Constituinte do povo integrado por agentes constituintes do povo. . E como se operacionaliza a escolha tanto dos agentes parlamentares (representantes do povo no exercício do poder legislativo) quanto dos agentes constituintes (representantes do povo no exercício do Poder Constituinte)? Por eleições livres, MAS distintas. . Mas, no Brasil não houve isso, no que ensejou a Constituição de 1988, não houveram eleições diferentes para parlamentares e constituintes, tivemos um mesmo processo eleitoral no qual se fundiu a escolha a escolha do deputado ou senador constituinte. Isso se deu em decorrência da convocação da Assembleia Constituinte brasileira que ocorreu em 1985, a partir de uma emenda à constituição de número 26, apresentada ao Congresso Nacional, pelo então Presidente José Sarney, não ter sido um modo adequado, também do ponto de vista técnico, de se convocar um Poder Constituinte do povo, uma assembleia nacional constituinte do ponto de vista rigorosamente técnico não pode ser convocada por uma emenda à constituição. Nesse caso, os fins (a Constituição brasileira plural) acabaram justificando o meio (a forma de convocação). . Quando deputado e senador desempenhavam as questões constituintes, eles atuavam juntos em sessão unicameral, enquanto Assembleia Nacional Constituinte. Por outro lado, quando tratavam da função ordinária da legislação, ou seja, exercendo o poder do povo de lesgislar, atuavamde forma separada, o deputado na câmara e o senador no senado. - Espécies do poder constituinte: . Alguns autores discordam acerca de uma divisão do poder constituinte. . Há autores, renomados inclusive, que entendem que só há um Poder Constituinte, aquele do qual emerge uma Constituição, exercido pelo povo e, que faz nascer um núcleo social politicamente, juridicamente e socialmente organizado por meio de uma Constituição. Logo não se poderia falar em espécies, em divisões. – Integram uma minoria. . Por outro lado, a maioria esmagadora nacional e internacional, compartilha dessa ideia de divisão do Poder Constituinte. . Segundo os que defendem essa divisão interna do Poder Constituinte, têm-se: . Poder Constituinte Originário (primário, genuíno, primeiro grau): é aquele poder do povo de se atribuir novas constituições. Responsável pela elaboração da CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 23 Constituição, ou seja, é o poder político, histórico, fundamental, que soberanamente expressa a vontade do povo em torno da organização de sua própria comunidade por via da elaboração de uma nova Constituição. – Funda uma nova a partir de uma nova Constituição. . Poder Constituinte Derivado: resulta, emana e tem sede na Constituição. O propósito histórico desse poder é dar continuidade a Constituição, porém com as reformas formais ou procedimentais que esta Constituição vai necessitando ao longo de sua vigência. – Garantir a permanência da Constituição ajustada às questões sociais (realidade social sempre cambiante e modificável). . Nos chamados Estados Federais, que se organizam a partir de uma pluralidade de governos, à exemplo do Brasil (governo da União, governo dos Estados-membros e os governos locais dos munícipios), esse chamado Poder Constituinte Derivado, que emana da Constituição, acaba se dividindo em outros 2 tipos: Poder Constituinte Derivado de Reforma (é aquele cuja função é proceder as mudanças ou reformas na constituição. Aqui no Brasil, essas reformas formais ocorrem por via das Emendas Constitucionais aprovadas pelo Congresso Nacional com exclusividade) e Poder Constituinte Derivado de Corrente (aquele que a Constituição atribui às Assembleias Legislativas dos Estados-membros e a Câmara Legislativa do Distrito Federal para elaborarem e, se for necessário reformarem, as Constituições dos Estados-membros e do DF). . A Constituição de 1988 quando foi promulgada, previa 2 formas de mudança, vale dizer, duas formas de se desemprenhar o Poder Constituinte Reformador: . A forma tradicional, por via de emenda. . Uma forma excepcional por via de revisão. . Sucede que a forma excepcional por via de revisão constitucional, foi autorizada para ocorrer apenas 1 única vez e, 5 anos após a sua promulgação. Isso porque essa revisão estava prevista em nossa ABCT, ou seja, na parte Transitória da nossa Constituição, em seu Artigo 3º. Essa revisão após 5 anos de promulgação, tinha o objetivo de se fazer um balanço geral acerca da receptividade da Constituição na sociedade brasileira. Essa revisão ocorreu, da qual tivemos 6 Emendas de Revisão, como são denominadas pela Doutrina. . Como nossa Constituição determinou que nossa revisão fosse realizada uma única vez, porque estabeleceu limite temporal de 5 anos após a promulgação, nós não temos mais a Revisão Constitucional, de modo que o Poder Constituinte Derivado Reformador só pode ser exercido por via da aprovação de Emenda à Constituição, que é a maneira regular no sentido de ser a maneira geral/clássica/tradicional de se alterar a Constituição. . Quanto à Emenda à Constituição: . Quanto à extensão: ela tem uma extensão menor, é pontual, tópica, incide sobre alguns grupos da Constituição, não sendo possível uma emenda que venha a CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 24 abranger a Constituição de um modo geral. – Exemplo: Emenda do Poder Judiciário, Emenda da Reforma Política, etc. Ao passo que a revisão tem uma extensão muito mais ampla, podendo ser exercida sobre todo o texto constituição. . No que tange o procedimento, a Emenda à Constituição, sempre exigiu e continua a exigir um procedimento muito mais dificultado, agravado. E, é essa dificuldade de se modificar nossa Constituição, que a caracteriza como uma Constituição rígida. Por outro lado, a Reforma Constitucional não se submetia a um procedimento agravado/difícil, na verdade, ela se sujeitava a um procedimento muito simplificado, na medida em que a Constituição determinou que tal reforma fosse realizada pelo Congresso reunido em sessão ÚNICA E de forma UNICAMERAL (deputados e senadores, com coro exigido de maioria absoluta). - Características do Poder Constituinte: - Características do Poder Constituinte Originário: . Poder inicial: O Poder Constituinte Originário, trata-se da 1ª manifestação de poder em uma comunidade e com o propósito de inaugurar uma nova ordem a partir de uma nova Constituição. É isso que o caracteriza como inicial/inaugural, pois é o ponto de partida para uma nova ordem constitucional, um novo núcleo social politicamente organizado, para um novo Estado, para um novo regime. . Poder autônomo: Porque o Poder Constituinte Originário tem absoluta liberdade para prescrever os termos da nova Constituição e definir o sistema jurídico daquele Estado Organizado a partir da nova Constituição. . Poder ilimitado/absoluto: Segundo a teoria mais tradicional, o Poder Constituinte Originário não tem limites, na medida em que pode tudo, tem soberania plena de dispor da maneira que entender a respeito da nova Constituição e da organização da nova comunidade. Todavia, é importante se deixar claro que, reside uma polêmica em torno dessa característica, que se revela em expor a tematização: Como o Poder Constituinte Originário não tem limites? Contrariando inclusive o sentimento de justiça da sua comunidade? Essa problematização, vem levando os autores ao seguinte esclarecimento: esse caráter ilimitado do poder constituinte na verdade existe numa perspectiva jurídica, isto porque, o Poder Constituinte Originário por ser um poder inicial e autônomo, é ele o portador da ideia de direito e quem dá inicio ao próprio Direito, logo não há um direito preexistente. Todavia, no ponto de vista político, ela perde essa característica, pois é inegável que essa comunidade possa limitar o poder constituinte a adotar aqueles valores políticos e sociais que a própria comunidade determinou. . Poder incondicionado: porque não existem fórmulas ou procedimentos preexistentes estabelecendo as condições para o exercício do Poder Constituinte Originário. Ou seja, ele é incondicionado porque as Constituições, ou antes delas, é incapaz de dizer como o Poder Constituinte Originário se manifesta (pode se manifestar a partir de acontecimentos sociais múltiplos e pode se operacionalizar por várias vias). . Poder permanente: o Poder Constituinte Originário não se esgota, não se exaure com a promulgação de uma Constituição. A única diferença é que, durante as sessões CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 25 constituintes, durante o processo constituinte de elaboração de uma constituição, o Poder Constituinte Originário está ativado/operantes, mas quando uma Constituição é promulgada, ele volta ao seu estado anterior de um poder hibernado/difuso na consciência coletiva de toda a comunidade. Ele não se esgota com a Constituição, ele permanece, aguardando um momento adequado para se manifestar novamente. Só pode se manifestar em situações extremas e totalmente justificadas, mas permanece. - Característica do Poder Constituinte Derivado: . Poder secundário: porque emana da Constituição, existe em função desta, e é criado por esta. – Não é genuíno. . Poder dependente: porque não tem nenhuma autonomia, estásujeito ao que a Constituição lhe autoriza fazer. . Poder limitado: é juridicamente limitado, porque por resultar da Constituição, é por ela juridicamente regulado – se sujeita a limitações jurídicas que irão restringir o âmbito de sua atuação. . Poder condicionado: porque se submete a fórmulas e procedimentos especiais previamente definidos na Constituição que o disciplina. . Poder temporário: de tal modo que é exercido periodicamente. - Análises das limitações do Poder Constituinte Derivado: . Correspondem a uma importante característica do Poder Constituinte Derivado, que abrangem tanto o Poder Constituinte Derivado de Reforma quanto o Poder Constituinte Derivado de Corrente. . Restringem o poder do Poder Constituinte Derivado, na medida em que se trata de um poder jurídico, que tem sede na Constituição e é regulado, disciplinado e limitado pelo próprio texto constitucional. . LIMITAÇÕES TEMPORAIS (ordem temporal): . Proíbem o Poder Const. Derivado de se manifestar durante um período determinado de tempo. – Não há possibilidade de ocorrer durante aquele período fixado na limitação temporal, tanto reforma à Const. Federal quanto reformas de Constituições nos estados ou no DF. . Busca vedar que o poder derivado seja manifestado durante o lapso expressamente previsto no Direito Constitucional. . No Direito Constitucional Brasileiro houve uma Constituição que adotou essa limitação temporal – Constituição do Brasil Império de 25/03/1824 – dispunha expressamente que durante os 4 primeiros anos de vigência da Constituição não era possível modifica- la. – Durante esses anos, ela foi praticamente imutável. . Nenhuma outra constituição brasileira adotou essa limitação temporal. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 26 . A atual também não contém – ainda que se tenha passado pelo mecanismo de revisão constitucional, pois às Emendas Constitucionais já poderiam se manifestar desde o primeiro dia seguinte a promulgação desta. . LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS: . Proíbem o Poder Constituinte Derivado de atuar durante a vigência de determinadas circunstâncias anormais e incomuns. . Obstaculizam o poder de reforma e também o poder corrente dos estados e munícipios. . A finalidade maior é exigir que o Poder Derivado se deflagre/realize em situações de plena e total normalidade. De modo que, se há uma situação anormal que quebra e compromete a estabilidade da ordem jurídica constitucional do Estado, não é possível ativar esse Poder Derivado. . No Brasil, essas limitações vêm sendo adotadas desde a Constituição de 1934 até a atual. . Na Constituição atual está prevista expressamente no parágrafo 1º do Artigo 60, em que proíbe emendas à constituição em situações anormais que ele mesmo define quais seriam: Estado de Defesa, Estado de Sítio e intervenção federal. . Afastam a normalidade constitucional. . Estado de defesa e Estado de sítio, são Estados de exceção que afastam provisoriamente a constitucionalidade enquanto regime normal e impõe uma constitucionalidade extraordinária. – Durante a vigência desses Estados, é possível até a suspensão de alguns direitos e garantias fundamentais. . O Estado de Sítio, que é o Estado de exceção mais radical, mais intervencionista aos direitos e garantias fundamentais, declarado em por exemplo situações de guerra, se faz possível até a pena de morte. . Isso não é possível porque as reformas constitucionais pressupõem um estado de equilíbrio, de bom-senso, que deixam de existir durante a vigência desses estados de exceção. . Intervenção Federal é a possibilidade da União intervir nos estados membros ou no DF, suprimindo-lhes até sua a própria autonomia política, podendo até nomear governadores e afastar os legitimamente eleitos pelo povo. . LIMITAÇÕES MATERIAIS/SUBSTANCIAIS: . Proíbem o Poder Derivado de suprimir ou abolir da constituição matérias que são previstas explicita ou implicitamente no texto constitucional. . Podem ser divididas em limitações materiais explícitas e limitações materiais implícitas. . Limitações materiais/substanciais explícitas, também denominadas de Cláusulas Pétreas, são aquelas que proíbem o Poder Derivado (tanto das reformas na Constituição Federal como o das reformas nos estados e no DF) de abolir de seus textos constitucionais matérias expressamente consignadas, que integram o núcleo duro da CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 27 constituição, petrificado da constituição. – Previstas na Constituição de 1988 no parágrafo 4º do Artigo 60, em conformidade com o qual não será objeto de deliberação, proposta de emenda tendente a abolir as seguintes matérias: forma federativa de Estado; voto secreto, universal e periódico; separação de poderes; direitos e garantias individuais. – Matérias que revelam o núcleo materialmente imodificável da Constituição - materialmente modificável, porque essas matérias que compreendem um conteúdo, não podem sofrer alterações. Mas, é importante deixar claro que, na verdade, essas cláusulas pétreas não podem ter o seu núcleo material reduzido, mas podem tê- lo ampliado, reorganizado e reforçado. . A exemplo dessa última parte dita acima, têm-se a própria reforma tributária, que não irá mudar a forma de Estado federativo, mas que irá aperfeiçoar e reforçar esse estado federativo. . Então, a rigor, é mais coerente dizer que essas cláusulas pétreas possuem o seu núcleo material IRREDUTÍVEL. . Limitações materiais/substanciais implícitas, são aquelas que se deduzem no texto constitucional. No direito brasileiro, ficou muito famoso o Professor Nelson de Souza Sampaio (UFBA), que na década de 60 lançou seu livro tratando dessas limitações, deu ensejo a teoria das limitações materiais/substanciais implícitas do Poder Derivado no Brasil – embora não estejam essas matérias previstas expressamente na constituição, não é possível se suprimi-las. A primeira, trata da própria titularidade do Poder Constituinte Originário, é do povo e não pode ser suprimido, mas não há uma norma que de forma expressas proteja essa titularidade; A segunda, diz que não é possível se suprimir a competência constitucional para proceder a reforma da constituição, e é do Congresso Nacional (somente ele procede a reforma constitucional aprovando ou não as emendas), de modo que não é possível uma emenda constitucional que retire do Congresso Nacional esta função exclusiva; A terceira diz que, não é possível se flexibilizar a Constituição Federal, ou seja, tornar o processo de reforma da constituição que é rígido em flexível, atenuando suas responsabilidades. . Todavia, a Constituição Federal brasileira vem acrescentando à estas 3 limitações do Professor Nelson Sampaio, outras matérias como os princípios fundamentais . LIMITAÇÕES FORMAIS/PROCEDIMENTAIS: . São aquelas que impõem que as reformas constitucionais ocorram em consonância rigorosamente com as formalidades do processo legislativo de reforma que está previsto e fixado na constituição. Ou seja, a nossa constituição estabelece as condições formais para o exercício do Poder Constituinte Derivado, de modo que se uma emenda à constituição é aprovada em desacordo com uma daquelas formalidades, viola essas limitações formais. . Também se considera limitação formal/procedimental do Poder Constituinte Derivado, aquela que proíbe a reapresentação de proposta de emenda à constituição na mesma sessão legislativa anual na qual ela havia sido rejeitada. Ou seja, se uma proposta de emenda à constituição for rejeitada na sessão legislativa do ano de 2014, ela só poderá ser reapresentada na sessão legislativa do ano de 2015. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 28 . Discutiu-se muito na doutrina brasileira a legitimidade democrática das cláusulas pétreas, porque na verdade, elas correspondema uma limitação que a Constituição Federal estabelece que impede, teoricamente, as gerações futuras de suprimirem aquelas matérias enclausuradas nas Cláusulas Pétreas. Segundo boa parte da doutrina brasileira, essas cláusulas pétreas seriam antidemocráticas. Todavia, prevaleceu segundo a opinião de Dirley, o entendimento segundo o qual a diferença entre uma maioria sólida e uma maioria momentânea – essa maioria sólida responsável pelo texto constitucional fixaria um conjunto de matérias que não podem e não poderiam ser abolidas ou suprimidas por uma maioria posterior sujeito a oscilações ou variações apaixonadas e circunstanciais. - Processo legislativo de Emenda à Constituição: . O Poder Constituinte Derivado Reformador se manifesta por via da aprovação do Congresso Nacional brasileiro das Emendas à Constituição. . Mas, essas Emendas à Constituição se sujeitam a um processo legislativo. . Consiste em um processo constitucional significativamente formal que abrange que um conjunto de etapas e formalidades para o fim de se aprovar uma emenda à constituição e promover formalmente mudanças e alterações pontuais e fixas no nosso texto constitucional. . Basicamente, esse processo compreende 3 etapas fundamentais: - 1ª etapa: etapa da apresentação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) . É a fase que deflagra o próprio processo legislativo de emenda. . A Constituição no Artigo 60 indica quem pode apresentar PEC no Brasil: limitada à 1/3 dos deputados federais ou 1/3 dos senadores ou ao Presidente da República ou à mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação devendo cada uma dessas Assembleias se manifestar pela maioria simples ou relativa de seus membros. - 2ª etapa: envolve a discussão e a deliberação da PEC. . Procedimento formal de manifestação em sessões separadas e sucessivas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal – Cada uma delas em dois turnos de votação e discussão, ao todo 4 turnos. Devendo na votação, para ser aprovada a PEC, obter o coro de no mínimo 3/5 dos parlamentares em todos os turnos. - 3ª etapa: promulgação e posterior publicação da Emenda à Constituição com seu respectivo número de ordem após aprovação da PEC. . Procedimento rigoroso. . Não participa no âmbito do processo legislativo da emenda à constituição o poder executivo. – É ALGO EXCLUSIVO AO CONGRESSO. . Não há sanção nem possibilidade de veto presidencial. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 29 - Mutação Constitucional: . A doutrina internacional e a doutrina brasileira vêm destacando um fenômeno que tem também por finalidade alterar a constituição, porém sem aquelas formalidades aplicáveis às Emendas à Constituição. Essa mudança que é informal, vem sendo denominada de MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL. . Mudança/alteração informal da Constituição por via da interpretação constitucional, notadamente aquela realizada pelos tribunais constitucionais ou pelas supremas cortes no âmbito do exercício da jurisdição. . INFORMAL porque não altera a literalidade do texto, a redação dos preceitos constitucionais. Mas, MODIFICA SIGNIFICATIVAMENTE o sentido/alcance/compreensão/significado desses preceitos. . Em linhas gerais, a Constituição Federal pode ser alterada vide duas formas: por uma via forma, a Reforma Constitucional (em exercício do Poder Constituinte Derivado Reformador) e por uma via informal, a Mutação Constitucional (pelos tribunais constitucionais e pelas supremas cortes a partir de uma INTERPRETAÇÃO EVOLUTIVA). - Fenômenos que ocorrem no Direito Constitucional Temporal: . Direito Constitucional Temporal é aquele que envolve uma sucessão no tempo de constituições em um mesmo Estado. . No tempo temos diversas possibilidades de diversas constituições serem adotadas pelo Estado. . A cada nova constituição temos 3 fenômenos: 1) Recepção: absorção/aceitação pela nova constituição de leis anteriores que do ponto de vista material ou de seu conteúdo se alinham ou se compatibilizam com a nova constituição. . Exemplo: a Constituição de 1988 acaba recepcionando a Lei de 87, porque ela é materialmente conforme a nova constituição. Mas, as leis anteriores, que do ponto de vista do seu conteúdo materialmente não estão em conformidade com a nova constituição, obviamente não serão recepcionadas, serão revogadas. 2) Repristinação: No Direito Brasileiro veda-se a repristinação, salvo disposição contrária. . É a restauração de uma lei em razão da revogação da lei revogadora. . Exemplo de uma repristinação admitida: quando a Constituição de 1988 ao revogar a Constituição de 1967 que por sua vez havia revogado uma lei anterior, expressamente determinar o restabelecimento dessa lei anterior que havia sido revogada pela lei de 1967. 3) Desconstitucionalização: não é admitida na doutrina nem na jurisprudência brasileira. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 30 . A recepção como leis de normas da constituição anterior revogada que materialmente se compatibilize com a nova Constituição. . Exemplo: Temos a Constituição de 1988 que revogou completamente a Constituição de 1967. Essa revogação é global e integral. Mas, os defensores da desconstitucionalização sustentavam que “aquelas normas da Const. de 1967 que haviam sido revogadas pela Const. de 1988, que se compatibilizam com a Const. de 1988, poderiam ser recepcionadas não como normas constitucionais, mas como normas legais. Para tanto, era necessário tirar o status dessas normas de constitucionais para torna-las legais. . Quando há a revogação de uma constituição antiga por uma nova, o desejo é que algumas das normas da constituição antiga sejam recepcionadas pelo novo ordenamento só que elas não vão estar como uma norma constitucional e sim uma norma infraconstitucional, ou seja, subordinada a nova constituição, mas para ela não ser mais uma norma constitucional é necessário que haja a sua desconstitucionalização. . Com a Constituição antiga, aquela em que a norma era Constitucional: . Com a nova constituição, aquela norma vai deixar de ser constitucional (desconstitucionalização) para ser uma norma infraconstitucional: CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 31 . Essa norma que passou a ser infraconstitucional, ela está de acordo com a nova ordem, isso quer dizer que ela não pode contrariar a constituição. Sendo assim, elas serão utilizadas para concretizar as próprias normas constitucionais. Vou dar um exemplo: quando a constituição fala que a saúde é um direito de todos e dever do estado, a concretização dessa norma constitucional possivelmente ocorre a partir da criação de leis infraconstitucionais que estabelece o modo e a forma que essa política será implementada. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 32 A CONSTITUIÇÃO - A constituição como um sistema aberto de norma: . Constituição como um sistema jurídico composto por NORMAS. –QUE COMPÕEM UM SISTEMA - SISTEMA JURÍDICO DE NORMAS. . A Constituição é uma constelação/conjunto plural de normas jurídicas – não são normas que se fecham diante da realidade social, são normas abertas pois devem permanentemente dialogar com a realidade social, inclusive para perceber as mudanças nela. Isto porque, o direito se destina a dar essa regularidade jurídica a realidade social (CONCEPÇÃO CULTURAL – Constituição como objeto da cultura humana – aprendizado com o seu entorno/seu ambiente). . É um sistema aberto de regras e princípios, pois as normas que a compõem devem estar abertas aos acontecimentos sociais para acompanhar a sua evolução e adaptar-se às transformações emergentes da sociedade. . A compreensão da Constituição como um sistema jurídicorequer uma reanálise dos conceitos da Constituição. – NESSE SENTIDO JURÍDICO, RESSALTA-SE HANS KELSEN. . A CONSTITUIÇÃO NÃO SE RESUME A UM SISTEMA JURÍDICO, A UMA COMPREENSÃO MERAMENTE NORMATIVA. Pois, ela compreende muito bem as relações de poder, tem um caráter político (por meio dela o povo organiza sua própria unidade política), e demais relações da sociedade. - A norma constitucional - conceito e natureza: . Entende-se por normas constitucionais todas as disposições jurídicas inseridas em uma Constituição, estejam elas explícitas ou implícitas (deduzidas a partir da interpretação de outras normas) ou reconhecidas por ela, independentemente de seu conteúdo. . Exemplo de normas IMPLÍCITAS: não há norma expressa que cite o princípio da boa-fé, mas ele está lá. - Sendo deduzido a partir de outras normas. – INTERLIGADA a proteção da segurança jurídica para aquele que agiu de boa-fé; confiança legítima; estabilização das relações jurídicas já consolidadas; a “coisa julgada”. . Normas legais é DIFERENTE DE FALAR normas constitucionais. Isto porque, as normas legais são as LEIS, o que não corresponde diretamente/não equivale a Constituição. – NORMAS CONSTITUCIONAIS SÓ SÃO AQUELAS PRESENTES NA CONSTITUIÇÃO, E NORMAS LEGAIS TODAS AQUELAS QUE ESTÃO PRESENTES NAS INÚMERAS LEIS QUE EXISTEM (UM NÚMERO SUPERIOR A 14 MIL). . Tratados internacionais sobre direitos humanos aprovados pelo Congresso Nacional com a mesmo processo sistemático de aprovação de uma emenda – Passa a tratar esses tratados de forma equivalente a uma emenda à constituição. – Convenção de NY sobre os direitos humanos da pessoa com deficiência e o tratado de Marrakesh das pessoas com deficiência visual/ou cegas a terem acesso a obras impressas. - As condições da aplicabilidade da norma constitucional: CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 33 . Pressupostos para que as normas constitucionais possam incidir sobre os fatos da realidade social. . São condições necessárias de aplicabilidade das normas constitucionais: A) A VIGÊNCIA: a norma constitucional deve estar em vigor – qualidade/atributo que torna a norma constitucional (e todas as outras normas) como obrigatória. Porque, enquanto não vigente a norma constitucional pode até existir para o mundo, mas não se aplica. – EXEMPLO: código civil de 2002 que foi publicado em janeiro de 2002, que passou a partir daí a ter existência jurídica/conhecimento no direito. Todavia, ele tinha previsão expressa de código de vigência, de que só entraria em vigor/só seria obrigatório em janeiro de 2003 – VACATIO LEGIS (vazio da lei) – apesar do código ter existência jurídica ele não tem vigor/obrigatoriedade alguma, e assim fica valendo o código civil revogado de 1916 (essa revogação faz parte do código civil de 2002). . As Constituições, em regra, não dispõem de nenhuma cláusula de vigência, como aconteceu nesse caso do Código Civil de 2002 e do Código de Processo Civil. – Assim, a Constituição entra em vigor exatamente quando é publicada/promulgada, a exemplo da Constituição de 1988. . VACATIO CONSTITUCIONALIS. – Presente na constituição brasileira de 1967. B) A VALIDADE OU LEGITIMIDADE: no âmbito do Direito Constitucional, essa condição é muito teorética. C) A EFICÁCIA: possibilidade das normas constitucionais irradiarem/produzirem os seus efeitos; é uma condição assegurada para todas normas que entram em vigor e são legitimadas a partir de uma análise de aceitação social. - As espécies de norma constitucional - os princípios e regras: . Uma das maiores conquistas do neoconstitucionalismo (surgiu pós segunda grande guerra mundial) foi o reconhecimento da NORMATIVIDADE DOS PRÍNCIPIOS. Por essa razão, os princípios são normas. Surge, uma necessidade de distinguir entre as duas espécies de normas: normas-princípios e normas-regras. Na doutrina são encontrados diversos critérios distintivos, a saber: A) O GRAU DE ABSTRAÇÃO E GENERALIDADE: enquanto os princípios são normas dotadas de elevado grau de abstração e generalidade, as regras são normas com reduzida abstração e generalidade. . Princípio da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da boa-fé, do estado democrático do Direito – COMANDOS DE DEVERSER INFINITAMENTE GENÉRICOS QUE IRRADIAM SEUS EFEITOS. . Regra Constitucional que prevê como uma das modalidades de aposentadoria do servidor público, a aposentadoria compulsória (obrigatória) aos 75 anos. – IMPÕE A APOSENTADORIA DE TODOS ESSES SERVIDORES PÚBLICOS EFETIVOS QUE ATINGIREM 75 ANOS. – DELIMITOU O CONTEÚDO DESSA REGRA. – NÃO é que ela deixa de ser abstrata e genérica, só é em um nível menor. . O fato de os princípios serem dotados de tamanha abstração e generalidade se deve ao fato de preverem valores fundamentais (valor fraternidade, boa-fé etc.) que são extremamente abstratos e tem um valor expressivo enorme. Por outro lado, as regras CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 34 descrevem situações fáticas específicas, e por este motivo são menos abstratas e mais específicas. B) O GRAU DE INDETERMINAÇÃO: os princípios são indeterminados, carecendo de medidas intermediárias concretizadoras (decisões judiciais) para serem aplicados ao caso concreto. Já as regras, por serem determinadas, são de aplicação direta. . As próprias regras servem basicamente para concretizar os princípios. – Exemplo uma regra que trate como o princípio da boa-fé irá atuar nas relações jurídicas. . Princípios carecem de delimitações judiciais do conteúdo ou material. – CONTEÚDO VAGO E ABERTO. . Regras tem um conteúdo determinado (ao contrário dos princípios), e por este motivo tem uma incidência imediata, não precisando de mediações. – Basta que o fato ocorra, para que a regra incida. C) A PROXIMIDADE DA IDEIA DE DIREITO: os princípios fixam a ideia de Direito a prevalecer em um determinado Estado, tendo em vista a sua posição de standards ou cânones vinculados às exigências de justiça, dignidade, liberdade, igualdade, fraternidade e democracia. . Princípios seriam as normas responsáveis por determinar dentro do sistema jurídico a função/ideia que o direito deve ter.- justiça, tolerância, pluralidade, e outros valores que partem dessas ideias paradigmáticas. – ESTABELECEM OS CÂNONES/STANDARDS do direito. D) A FUNÇÃO NORMOGÊNÉTICA E SISTÊMICA DOS PRINCÍPIOS: os princípios revelam-se como fundamentos das regras, quer dizer, são as vigas mestras que dão base ou arrimo às regras jurídicas, inspirando a sua criação. Ademais, os princípios se irradiam sobre todo o sistema jurídico, dando-lhe racionalidade e coerência. . Regras são criadas a partir desse ponto inicial que são os princípios. . Princípio – gênese normativa para as regras. . PRINCÍPIOS SÃO PONTO DE PARTIDAS. . Função sistêmica: as normas-princípios atribuem a inteligência necessárias para correta interpretação e aplicação do direito. - ROBERT ALEXY – TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: . Para Alexy, no capítulo terceiro desse livro, o ponto determinante na diferença entre regras e princípios consiste em: . Os princípios são mandados de otimização, isto é, normas jurídicas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro, porém, das possibilidades fáticas e jurídicas existentes. . Mandamentos de otimização: determinam que aquilo que ele prevê seja realizado/satisfeito na maior medida, no grau ótimo (de otimização, maximizar). – Está plenamente consciente que a maior satisfação do princípio irá depender das condições fáticas existentes, e isso pode ser analisado dentro de diversos graus de satisfação. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 35 . O que o princípio prevê pode ser realizado num maior ou menor grau de satisfação. Claro que ele sempre irá buscar o maior grau, mas nem sempre isso é possível. . As regras são normasque prescrevem uma exigência, proibição ou faculdade, que devem ser realizadas na exata medida de suas prescrições, nem mais nem menos (all or nothing). . O ponto central na diferença entre regras e princípios é que os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades fáticas e jurídicas existentes. São, portanto, mandamentos de otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende apenas das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. E, o âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios colidentes. . Quando dois princípios entram em rota de colisão, temos mecanismos para resolução disto. Assim também acontece quando duas regras entram em conflito. – As técnicas, métodos, fórmulas de solucionar esses conflitos são DIFERENTES. . Alexy leciona que é em torno do tema colisão de princípios e conflitos de regras que desponta a principal distinção (qualitativa) entre essas duas espécies de normas. . Na colisão entre princípios, vigora a ideia de PESO ou VALOR ou IMPORTÂNCIA, de modo que o princípio de maior peso ou valor ou importância é o que deve preponderar no caso concreto (a colisão se resolve na dimensão do peso ou valor) – Aplica-se a técnica de PONDERAÇÃO. . De referência às regras, ou ela vale ou ela não vale, de modo que o conflito entre regras se resolve na DIMENSÃO DA VALIDADE, salvo se for possível introduzir, em uma das regras em conflito, uma cláusula de exceção capaz de eliminar o conflito. . Porque diante do conflito entre duas regras (mandamentos definitivos, ou são satisfeitas ou não são) há de se examinar qual regra válida diante daquela análise. – Aplico a norma 1 que é válida e declaro a invalidade da norma 2, excluindo-a do sistema jurídico. – É POSSÍVEL NESSE CONFLITO DE REGRAS QUE A SOLUÇÃO DESTE CONFLITO NÃO SE DÊ PELA INVALIDADE DE UMA DAS REGRAS, E QUE SEJA SOLUCIONADO PELA INCORPORAÇÃO DE UMA CLAÚSULA DE EXCEÇÃO DE UMA NORMA NA OUTRA. . EXEMPLO DA 1ª HIPÓTESE: Ocorreria se houver um conflito entre uma regra que proíbe sair da sala de aula antes de tocar o sinal (R1) e outra regra que obriga a todos a deixarem a sala de se soar o alarme de incêndio (R2). Se o alarme de incêndio soar (R2) antes mesmo de ser finalizada a aula com o toque do sinal (R1), haverá inegavelmente um conflito entre elas (R1 x R2), o que conduz a juízos concretos de dever-se contraditórios entre si. Esse conflito deve ser solucionado por meio da introdução, na primeira regra (R1), de uma cláusula de exceção prevista na segunda regra (R2) para o caso do alarme de incêndio. . Não sendo possível a solução pela introdução da cláusula de exceção (solução 1), uma das regras em conflito inevitavelmente deve ser declarada inválida (solução 1) e suprimida do sistema jurídico. O que não é possível é que dois juízos concretos de dever-ser contraditórios entre si sejam válidos. Para saber qual das regras é válida, é CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 36 possível utilizar os conhecidos critérios da lex posterior derogat legi priori e lex specialis derogat legi generali. Enfim, o conflito entre regras se resolve na dimensão da validade. . Relativamente à colisão entre princípios, impõe-se uma solução distinta, não pela declaração de invalidade, visto que só princípios válidos podem colidir (a colisão entre princípios pressupõe a validade dos princípios colidentes), mas a partir do sopesamento de interesses, de modo que, ao fim e ao cabo, um dos princípios colidente terá de ceder, não se falando aqui de invalidade nem de introdução de cláusula de exceção. . A rigor, o que acontece é que um dos princípios terá precedência em face do outro sob determinadas condições. Sob outras condições, a questão da precedência pode ser resolvida de forma oposta. Isso significa dizer que, nos casos concretos, os princípios têm pesos diferentes e os princípios com maior peso tem precedência. Enfim, a colisão entre princípios se resolve na dimensão do peso. . Mas, essa precedência não é absoluta, pois nenhum dos princípios em colisão goza, por si só, de prioridade. Por essa razão, impõe-se o sopesamento entre os interesses em colisão. E o objetivo do sopesamento é exatamente definir qual dos interesses – que abstratamente estão no mesmo nível – tem maior peso no caso concreto. . Alexy cita, como exemplo, a decisão do TCF sobre a colisão entre a obrigação do acusado de um crime de participar de uma audiência criminal, para garantir a aplicação adequada do Direito Penal (P1), e o interesse do acusado em se abster da participação para proteção de sua vida e integridade física (P2). A colisão deve ser resolvida pelo sopesamento. Se, no caso concreto, uma vez sopesados os interesses, o interesse do acusado (P2) se apresentar com um peso maior do que a sua obrigação de participar da audiência (P1), deve-se concluir que o interesse do Estado na obrigação de participação da audiência viola o princípio da proporcionalidade e, com isso, o direito fundamental do acusado à proteção da vida e da integridade física. - A classificação das normas constitucionais quanto a eficácia e a aplicabilidade: . Independentemente da eficácia ser plena, contida, limitada ou reduzida, todas as normas são dotadas de eficácia jurídica. – Nenhuma norma constitucional é desprovida de eficácia. – Com isso, estamos afirmando que todas elas têm FORÇA IMPOSITIVA, impõem obrigações/autorizações/faculdades. . Essa classificação serve para identificar os níveis de eficácia em cada norma. – A CARGA EFICACIAL VARIA DE NORMA PARA NORMA, mas todas são eficazes. A) Normas constitucionais de eficácia plena: essas normas constitucionais já trazem na sua descrição normativa todos os elementos dos quais ela precisa para ter aplicação imediata/direta/integral. – São autoaplicáveis, não dependem de nenhuma outra complementação. . Não preciso de autorização do poder público previamente. Mas, nada impede que este poder público estabeleça restrições. . EXEMPLO: Direito de ir e vir. . Normas bastantes por si mesmas. – Definição de Pontes de Miranda. CADERNO DIREITO CONSTITUCIONAL I – DIRLEY DA CUNHA JR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 37 B) Normas constitucionais de eficácia contida: na verdade, ele queria se referir a expressão CONTÍVEL, pois falar “contida” dá ideia de ser represada/obstaculizada. . Basta que exista a possibilidade da contenção, ainda que ela não ocorra. . São aquelas normas que apesar de também reunirem em sua descrição todos os elementos necessários dos quis ela precisa, também prever possibilidades de sua aplicação não ser integral, daí a ideia de possibilidade de contenção. . Também são autoaplicáveis. . Embora a aplicação seja direta e imediata, nem sempre será integral, pois há a possibilidade de contenção. – Diferente das de eficácia plena, onde sempre será integral. . EXEMPLO: Direito à liberdade de profissão. – Direito que estou buscando exercer, mas não posso ainda exercer. – “É livre o exercício da profissão, do trabalho, do ofício, do emprego, atendida as qualificações profissionais que a lei estabelecer. . Não posso atuar na profissão de advocacia sem cursar Direito e ser aprovado na prova da OAB. . Discutiu-se no STF, a possibilidade do Estado regulamentar a profissão de jornalista, pois ela envolve outra liberdade fundamental que é a liberdade de imprensa (informar através dos meios de comunicação). – Tivemos uma lei que veio para regulamentar essa relação, exigindo que o profissional da imprensa, o jornalista, se qualifique primeiro. Só que o STF reconheceu a inconstitucionalidade dessa lei, pois negou esse direito do Estado de fixar essas condições de qualificação, pois estariam contra a liberdade de imprensa. C) Normas constitucionais de eficácia
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