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A INDUÇÃO DE RAÍZES ADVENTÍCIAS EM FUNÇÃO DA IMERSÃO DE ESTACAS DE AMOREIRA

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A INDUÇÃO DE RAÍZES ADVENTÍCIAS EM FUNÇÃO DA IMERSÃO DE ESTACAS DE AMOREIRA-PRETA EM ÁCIDO INDOL-BUTÍRICO
JULIANA THALÊS LOPES¹, LARISSA GABRIELLE CASTRO¹, LARISSA PEREIRA LAGO¹
Acadêmicas do Curso de Graduação de Engenharia Florestal da Universidade Federal Rural da Amazônia.
PA 275, s/n - Zona Rural, Parauapebas - PA, 68515-000
RESUMO	
O cultivo de amora-preta apresenta grande potencial para diversificação de culturas. Apresentando crescimento rápido, ela se adapta facilmente ao clima tropical, isso se seu tratamento for em solos profundos, ricos em matéria orgânica, com temperatura amena e disponibilidade de água. Tendo como objetivo avaliar o enraizamento e desenvolvimento do caule em estacas de amoreira-preta (Rubus spp.) em dadas concentrações do ácido indol-butírico (AIB), foi conduzido um experimento na Universidade Federal Rural da Amazônia, onde cento e cinquenta estacas de amoreira-preta foram submetidas à imersão lenta do ácido AIB durante o período de 24 horas antes de sua plantação. Divididas em cinco tempos de cinco repetições, as estacas foram tratadas com água destilada e concentrações supraótimas de AIB e, em seguida, plantadas em substrato adequado. Foram adotados os fatores: tipos de substratos (vermiculita, fibras de côco e substrato de zooflora) tratadas ou não com concentrações variadas de AIB (0; 100 mL; 200 mL; 300 mL; 400 mL). Após 22 dias, foram obtidas e avaliadas as seguintes variáveis: número de folhas; número de brotações; número de frutos; número de raízes; peso, diâmetro e comprimento do caule. Observou-se que todas as estacas apresentaram resultados satisfatórios quanto ao enraizamento, havendo divergências apenas nos tamanhos das raízes devido sua concentração. Com base nos resultados adquiridos, presume-se que em concentração adequada, o fitormônio AIB promove índices positivos de sobrevivência e enraizamento.
Palavras-chave: Ácido indol-butírico; Raízes adventícias; Enraizamento
INTRODUÇÃO
 A estaquia é um método de propagação muito utilizado, sendo sua viabilidade dependente da capacidade de formação de raízes, da qualidade do sistema radicular formado e do desenvolvimento posterior da planta propagada por esse método na área de produção. Podem-se classificar os fatores que afetam o enraizamento em fatores internos ou externos, considerando principalmente, as condições fisiológicas e idade da planta-matriz, época de coleta da estaca, potencial genético de enraizamento, balanço hormonal, oxidação de compostos fenólicos e posição da estaca no ramo; e fatores externos ou exógenos, como a temperatura, luz, umidade e substrato (FACHINELLO et al., 1995). Os fatores endógenos constituem um dos mais sérios problemas, sendo importante a busca de técnicas auxiliares, como o uso de reguladores de crescimento, para assim proporcionar uma melhoria do enraizamento (BIASI, 1996; MAYER, 2001). O grupo de reguladores de crescimento usado com maior frequência na indução de enraizamento é o das auxinas (HINOJOSA, 2000). É necessário que haja um balanço hormonal entre promotores e inibidores do processo de iniciação radicular. A maneira mais comum de promover esse equilíbrio é pela aplicação exógena de reguladores de crescimento sintéticos, como o ácido indol-butírico (AIB), que podem elevar o teor de auxina no tecido, assim, aumentando a síntese de raízes (PASQUAL et al., 2001). O processo de formação de raízes em estacas também está relacionado ao substrato, que exerce influência na qualidade das raízes formadas e no percentual de enraizamento (KÄMPF et al., 2006; LONE et al., 2010b). Dessa forma, é fundamental a seleção de substratos que possibilitem a retenção de água suficiente para prevenir a dessecação da base da estaca e possuam espaço poroso, para facilitar o fornecimento de oxigênio, para a iniciação e desenvolvimento radicular.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em local apropriado no Campus da Universidade Federal Rural da Amazônia, Parauapebas – PA. Com início dia 30 de junho de 2018, ocorreu a primeira etapa do experimento que foi a preparação do substrato. O plantio das estacas ocorreu no dia 12 de julho de 2018 e foram colhidas dia 03 de agosto de 2018. Os tubetes foram irrigados todos os dias, quatro vezes por dia, em horários adequados (8h às 8h30; 10h ás 10h30; 14h ás 14h30; 17h ás 17h30). Foram utilizados para este experimento tubetes plásticos, paquímetro, tesoura de poda, régua, balança de precisão e sacolas de papel. Utilizaram-se estacas de amoreira-preta (Rubus), coletadas em região local, 50 ramos mensurados em tamanhos variados e colocados posteriormente em um vaso com água. Dos ramos, foram selecionadas 150 estacas lenhosas da parte mediana, as quais foram preparadas com aproximadamente 15 cm de comprimento, com um corte em bisel na extremidade superior. As estacas foram submetidas a imersão-lenta de soluções prontas de ácido indol-butírico (AIB) por 24 horas, em concentrações de 100 mL, 200 mL, 300 mL, 400 mL de AIB e água destilada. Em cada concentração, foram utilizadas 30 estacas caulinares, divididas por Tempo e Repetição. Passadas 24 horas, as estacas foram imediatamente colocadas em recipientes recicláveis – tubetes plásticos – apropriadas para o método de propagação de plantas por estaquia. Os substratos em proporção 1:1 utilizados foram: Vermiculita, casca de côco e um substrato da zooflora. A base da estaca foi enterrada cerca de 2 cm de profundidade no substrato.
 Após 22 dias de permanência das estacas no substrato, foi realizada a colheita das mudas de amoreira-preta, lavadas e tratadas cuidadosamente para contabilizar os índices de crescimento e desenvolvimento. Foram selecionadas 50 mudas para descarte – mudas com baixo desenvolvimento radicular e caulinar – e prosseguiu-se com as melhores 100 mudas que apresentaram resultados mais satisfatórios. Foram avaliadas as seguintes variáveis: número de folhas, número de brotações, número de frutos, número de raízes, diâmetro do caule, comprimento do caule.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
 De acordo com a análise, ficou evidenciado que houve interação entre as concentrações de AIB e o sistema radicular. 
Tanto as estacas com ausência de aplicação exógena de auxina e as estacas das demais concentrações de AIB apresentaram os melhores resultados de enraizamento. A porcentagem de enraizamento de estacas de amoreira-preta aumentou quando em concentrações de AIB, enquanto que as estacas que não foram tratadas com AIB tiveram a menor porcentagem de enraizamento. Segundo Ramos et al. (2003) o fornecimento exógeno de auxina, em certas quantidades pode promover uma alteração hormonal, favorecendo ou não o enraizamento de estacas.
 As estacas caulinares na concentração zero (T1) – tratadas com água destilada – apresentaram índices positivos de enraizamento, mas quando comparadas às demais concentrações, apresentou a menor média de desenvolvimento radicular, como pode-se observar na tabela 1.
	(T1) – 0 mL
	Média Total
	Raízes
	15,2
	Frutos
	5,6
	Folhas
	7,6
	Brotações
	1,9
Tabela 1. Médias das estacas tratadas em água destilada.
As auxinas sintéticas são bastante eficientes, pois não são metabolizadas pela planta tão rapidamente quanto o AIA (TAIZ et al. 2006). Por esse motivo, pode-se dizer que as estacas da concentração zero (T1) não enraizaram tanto como as estacas tratadas com AIB. 
 Muitos fatores afetam o enraizamento de estacas. Estes fatores podem ser divididos em: a) fatores químicos (endógeno ou exógeno) que promovam o enraizamento; b) fatores da planta que afetam o enraizamento: a juvenilidade dos brotos, a posição do broto do qual as estacas são retiradas, diâmetro das estacas, a presença de gemas e/ou folhas, efeito do período de coleta das estacas, influência das espécies, efeito do período de dormência e, influência do estado nutricional; c) efeitos ambientais no enraizamento: controle da umidade; luminosidade; aquecimento do substrato; fotoperíodo e; tratamento e/ou acondicionamento dos brotos e estacas antesda estaquia; d) outros fatores que afetam a resposta ao enraizamento: composição química e física do substrato, alguns estresses ambientais e efeito do ferimento (COUVILLON, 1988). A auxina tem como característica estimular o crescimento de raízes adventícias e a citocinina o crescimento em altura, então, a proporção AIA:CKS ficou AIA<CKS devido seu maior crescimento em altura e menor crescimento radicular. No entanto, as estacas tratadas na concentração zero apresentaram a maior média na produção dos frutos. Isso acontece porque a auxina – que é produzida no ápice do meristema apical caulinar – estimula fortemente o desenvolvimento dos frutos, mesmo que não haja fecundação. O número de brotações nas estacas de concentração zero apresentaram maiores médias, isso acontece quando a auxina e a citocinina apresentam uma boa relação, porém, elevada citocinina resultará na produção de brotos. De acordo com Kerbauy (2004), o conteúdo de auxina da raiz primária tem origem principalmente no transporte polar desse hormônio da parte aérea; todavia, existe também em escala relativamente menor a síntese no próprio ápice da raiz. O nível de auxina resultante dessas duas vias é, então, adequado para proporcionar o crescimento das células radiculares num processo de desenvolvimento normal. Folhas ou estacas caulinares de várias plantas, quando colocadas em água ou em um substrato úmido, normalmente formam raízes adventícias próximas à região do corte. O enraizamento acontece em decorrência do acúmulo de AIA na porção imediatamente superior ao corte, já que o transporte polar de auxina é interrompido nessa região.
 A intensificação do desenvolvimento de raízes laterais é feita pela aspersão de auxina exógena. A avaliação da concentração adequada de hormônio para o desenvolvimento de raiz adventícia à aplicação de concentrações diferentes de AIB demonstraram resultados variados. 
 A avaliação de estacas tratadas com a concentração de 100mL (T2) apresentaram algumas variações para o mesmo tratamento. As raízes desenvolvidas apresentaram proporções semelhantes entre elas. Apresentou um bom índice de enraizamento, maior que as estacas tratadas na concentração zero, como pode ser observada na tabela 2.
	(T2) 100 ml
	Média Total
	Raízes
	44,65
	Frutos
	2,7
	Folhas
	7,2
	Brotações
	1,35
Tabela 2. Médias das estacas tratadas em concentração de 100mLde AIB.
 Pode-se dizer que o AIB induziu esse crescimento radicular e a proporção AIB:CKS ficou AIB>CKS devido o índice de enraizamento ser maior do que o de crescimento em altura. Por apresentar essa proporção, o índice de brotação também foi reduzido em 0,55% devido ao baixo teor de citocinina em relação à auxina. Houve também uma redução na produção de frutos nesta concentração, isso pode ocorrer devido a sua concentração não ser a adequada para a produção do mesmo.
 O processo de enraizamento requer quantidades diferenciais de auxina, dependendo da fase organogenética. No início, a fase de indução requer a presença de uma concentração de auxina relativamente elevada, em comparação com a fase de crescimento. Na indução, a auxina age como o sinal para a inicialização da divisão celular e formação do novo meristema (Kerbauy, 2004). A concentração adequada dos indutores de enraizamento, entretanto, é um dos quesitos a ser considerado, uma vez que, pode fazer com que atuem de forma sincrônica promovendo o enraizamento, ou inibindo-o (BATISH et al., 2008). 
 Para as concentrações de 200mL (T3) de AIB nas estacas, o enraizamento foi positivo, apresentando uma elevação em 7,85% nos índices de enraizamento quando comparadas às estacas tratadas com 100mL (T2). Apresentou a maior média no número de folhas e um pequeno crescimento no número de frutos. As médias podem ser visualizadas na tabela de número 3.
	(T3) 200ml
	Média Total
	Raízes
	52,5
	Frutos
	3,95
	Folhas
	7,55
	Brotações
	1,65
Tabela 3. Médias das estacas tratadas em concentração de 200mLde AIB.
 As estacas submetidas à imersão de AIB na concentração de 300mL (T4) apresentaram ótimos índices de enraizamento e algumas divergências quanto a produção de folhas, frutos e brotações, como pode ser observado na tabela 4. Foi conferido um alto índice de enraizamento nas estacas nesta concentração, perdendo apenas para as estacas de 400mL (T5) – que apresentou o maior índice de enraizamento do experimento. Isso acontece quando a auxina está agindo sozinha, induzindo raízes laterais, e diminuindo a produção de folhas, frutos e brotações.
	(T4) 300ml 
	Média Total
	Raíz
	63,15
	Fruto
	1,7
	Folha
	5,9
	Brotação
	1,5
Tabela 4. Média das estacas tratadas com 300mLde AIB.
 As estacas com concentrações de 400mL (T5) apresentaram os maiores índices de enraizamento e os menores índices de brotação. Observa-se as médias na tabela de número 5.
	(T5) 400ml
	Média Total
	Raízes
	64,3
	Frutos
	2,1
	Folhas
	6,35
	Brotações
	1,25
Tabela 5. Média das estacas tratadas em concentração de 400mLde AIB.
O enraizamento é aumentado se uma folha excisada ou uma estaca do caule é imersa em uma solução de auxina, o que aumenta a indução de raízes adventícias na extremidade cortada (Kerbauy, 2004). Essa indução de raízes laterais ocorre pela elevada concentração de auxina na planta. A auxina acaba por inibir a ação dos outros hormônios, prevalecendo a ação apenas do AIB e favorecendo as raízes, uma vez que, a auxina apresenta como uma de suas principais funções o crescimento radicular.
CONCLUSÃO
Nas condições em que o experimento foi conduzido, os resultados obtidos permitem concluir que a utilização de auxina exógena para o desenvolvimento de raízes adventícias depende de concentrações específicas. A análise demonstrou que estacas tratadas em concentrações de 100ml; 200ml; 300ml e 400ml promovem raízes laterais, gerando maiores índices de enraizamento quando em maiores concentrações. Nas quantidades de raízes, foi percebido um padrão quanto ao seu desenvolvimento, onde a concentração zero apresentou baixo índice de enraizamento – em comparação às estacas tratadas com AIB – e a partir da concentração de 100ml o desenvolvimento radicular foi visivelmente elevado, chegando a atingir seu maior índice de enraizamento na concentração de 400ml. A não utilização de AIB proporcionou o menor índice de enraizamento, porém, apresentou também as maiores porcentagens de número de frutos, folhas e brotações. 
A partir dos resultados adquiridos através deste experimento, é possível complementar que a auxina natural e a auxina sintética são hormônios parecidos e ao mesmo tempo distintos, que apresentam resultados divergentes quando comparados.
REFERÊNCIAS
TAIZ, LINCONL., ZEIGER, EDUARDO., Fisiologia vegetal – Ed. 3ª, 2006.
KERBAUY,G.B., Fisiologia vegetal – Ed. 1ª, 2003.

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