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Teoria Geral de Processos

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TEORIA GERAL D O 
D IR E IT O PROCESSUAL
I
DIREITO PROCESSUAL: 
CONCEITO, DENOMINAÇÃO, 
POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA E 
EVOLUÇÃO CIENTÍFICA
§ l fi CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL
Ao iniciar o estudo do Direito Processual Civil, é fundam ental fixar o 
conceito de Direito Processual, visto que este (ou ao m enos um a de suas m a­
nifestações - o D ireito Processual Civil) será o tem a central desta obra. Parece- 
-nos que todo o restante da obra ficaria sem sentido se não se apresentasse, 
desde logo, o que me parece a m elhor forma de conceituar esse ram o do Direi­
to a cujo estudo tenho me dedicado.
A doutrina, tan to a nacional como a estrangeira, diverge ao conceituar o 
Direito Processual. Assim é que o notável processualista colombiano Hernando 
Devis Echandía, considerado por m uitos um dos m aiores processualistas latino- 
-americanos de todos os tem pos, define o D ireito Processual como "o ram o do 
Direito que estuda o conjunto de norm as e princípios que regulam a função 
jurisdicional do Estado em todos os seus aspectos e que, portanto, fixam o 
procedim ento que se há de seguir para obter a atuação do direito positivo nos 
casos concretos, e que determ inam as pessoas que devem subm eter-se à juris­
dição do Estado e os funcionários encarregados de exercê-la”.1 Já o ju rista m e­
xicano Jose Becerra Bautista, em sua obra didática, definiu o Direito Processual 
com base nas lições do processualista italiano Paolo D 'Onofrio, afirm ando ser
1 Hernando Devis Echandía, Teoria general dei proceso, tomo I, p. 6.
6 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
esse “o conjunto de norm as que têm por objeto e fim a realização do direito 
objetivo através da tu te la do direito subjetivo, m ediante o exercício da função 
jurisdicional".2
Também na doutrina italiana podem -se encontrar subsídios para se che­
gar ao conceito mais adequado de D ireito Processual, não sendo dem ais lem­
brar que a doutrina italiana é, no Direito Processual, como em outros ram os da 
ciência jurídica, a que mais influência exerce sobre o Direito brasileiro. Assim 
é que o notável processualista Crisanto Mandrioli define o D ireito Processual 
Civil como “o ram o da ciência jurídica que estuda a disciplina do processo 
civil".3 Ainda na doutrina italiana encontra-se a lição de Enrico Tullio Liebman,4 
para quem o Direito Processual deve ser entendido como um "ramo do Direito 
destinado precisam ente à tarefa de garantir a eficácia prática e efetiva do or­
denam ento jurídico, instituindo órgãos públicos com a incum bência de atuar 
essa garantia e disciplinando as m odalidades e formas da sua atividade”.5
A doutrina italiana mais recente tam bém tem dedicado atenção ao tema. 
Assim, por exemplo, afirma-se - em im portante obra - que o Direito Proces­
sual Civil “é o conjunto de norm as que [...] constituem a lei reguladora do 
processo (civil)".6
Também a doutrina brasileira apresenta conceitos de Direito Processual 
Civil, como se vê, por exemplo, em Moacyr Amaral Santos, para quem o Direito 
Processual “é o sistem a de princípios e leis que disciplinam o processo".7 Já a 
mais m oderna doutrina sobre a teoria geral do D ireito Processual vê neste "o 
complexo de norm as e princípios que regem o exercício conjunto da jurisdição
2 Jose Becerra Bautista, Introducción al estúdio dei derecho procesal civil, p. 15.
3 Crisanto Mandrioli, Corso di diritto processuale civile, vol. I, 1995, p. 8. No mesmo sentido 
manifesta-se Ferrucio Tomaseo, um dos mais notáveis processualistas italianos da atualidade, 
na obra Appunti di diritto processuale civile - nozioni introduttive, p. 9.
4 A influência de Liebman sobre o desenvolvimento do Direito Processual Civil brasileiro é 
notável. Discípulo de Chiovenda (considerado o maior processualista de todos os tempos), 
Liebman morou no Brasil na época da Segunda Guerra Mundial. Através de sua atuação como 
professor na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Liebman foi o responsável por 
uma escola de pensamento, a qual Ficaria conhecida como "Escola Processual de São Paulo", 
e que hoje constitui-se numa verdadeira escola brasileira de processo. As principais teorias 
defendidas por Liebman foram consagradas no Código de Processo Civil brasileiro, o qual re­
sultou de um anteprojeto elaborado pelo mais notável de seus discípulos, o saudoso professor 
Alfredo Buzaid. Além disso, Liebman chegou a elaborar obras em português, às quais farei 
referência ao longo deste livro.
5 Liebman, Manual de direito processual civil, vol. I, trad. bras. de Cândido Rangel Dinamarco, p. 3.
6 Giovanni Arieta, Francesco de Santis e Luigi Montesano, Corso base di diritto processuale civile,
p. 1.
7 Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, vol. I, p. 14.
Direito Processual: Conceito, Denominação, Posição Enciclopédica e Evolução Científica 7
pelo Estado-juiz, da ação pelo dem andante e da defesa pelo dem andado”.8 Em 
obra moderníssim a, im portante processualista brasileiro afirmou que o Direito 
Processual Civil é "disciplina que se dedica a estudar, a analisar, a sistematizar a 
atuação do próprio Estado, do Estado que, por razões perdidas no tem po, mais 
ainda válidas até hoje por força das opções políticas feitas pela Constituição 
Federal de 5 de outubro de 1988, tem o dever de prestar tu te la estatal de direitos 
naqueles casos em que os destinatários das norm as, desde o plano material, 
não as acatam devidamente, não as cum prem e, consequentem ente, frustram 
legítimas expectativas das outras pessoas”.9
Dessas lições transcritas acima, proferidas por alguns dos mais im por­
tantes processualistas brasileiros e estrangeiros, pode-se ver que não é fácil 
chegar a um conceito preciso de Direito Processual, sendo certo que m uitas 
das definições apresentadas "chovem no m olhado”, definindo o Direito Pro­
cessual como o conjunto de norm as que regem o processo. Parece, todavia, 
que essas definições não são adequadas, data venia, para que se com preenda 
exatam ente no que consiste esse ram o do Direito. A m eu juízo, o Direito Pro­
cessual pode ser definido com o o ramo da ciência jurídica que estuda e regulamenta 
o exercício, pelo Estado, da função jurisdicional
Em prim eiro lugar, há que se explicar que, ao falar em ram o da ciência 
jurídica que estuda e regulamenta, tenho por objetivo dem onstrar que o D ireito 
Processual, como qualquer ou tro ram o da ciência jurídica, deve ser exami­
nado em dois sentidos: como ciência e como direito positivo. A m eu sentir, 
a análise de qualquer ram o do D ireito apenas com o direito positivo, ou seja, 
com o um conjunto de norm as, é insuficiente, assim como o é a análise de 
tais ram os do D ireito apenas com o ciência, e desligados da legislação. Todos 
os ram os do direito devem ser exam inados em sua in teireza para que pos­
sam ser bem com preendidos. A Ciência do D ireito não tem vida própria se 
distanciada das norm as jurídicas, da m esm a form a que a análise das norm as 
jurídicas é im possível sem que se conheça a ciência. O D ireito Processual é, 
pois, ciência e norm a, e assim deve ser estudado.
Deve-se esclarecer, ainda, quanto ao conceito de Direito Processual por 
m im exposto, que o objeto central dos estudos realizados nesta obra é a ju ­
risdição (o que levou boa doutrina a sugerir a m udança da denom inação da 
disciplina para D ireito Jurisdicional),10 a qual, com o se sabe - e será visto mais 
adiante em detalhes - , é um a das funções exercidas pelo Estado como manifes­
tação do seu Poder Soberano. A jurisdição, porém, para ser exercida depende 
de um a série de outros institu tos a ela ligados, como a ação, o processo, a sen­
8 Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria 
geral do processo, p. 40.
9 Cássio Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direitoprocessual civil, vol. 1, p. 9.
10 Juan Montero Aroca, Evolución y futuro dei derecho procesal, p. 71.
8 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
tença, os recursos, a coisa julgada (só para citar alguns). Assim é que se com­
preendem no universo do Direito Processual não só a jurisdição, mas também 
todos os demais institu tos jurídicos que a ela se ligam com o fim de viabilizar 
seu exercício adequado pelo Estado.
É por essas razões que conceituo o Direito Processual, como visto, como 
o ram o da ciência jurídica que estuda e regulam enta o exercício, pelo Estado, 
da função jurisdicional.
§ 2 Q DENOM INAÇÃO
A denom inação em pregada nesta obra é a mais frequentem ente utiliza­
da pelos doutrinadores deste ram o do Direito. Tal nom enclatura, porém, não 
foi sem pre usada, nem é aceita pela unanim idade dos especialistas. De início, 
costum ava em pregar a doutrina a denom inação "processo civil" (ou, na dou­
trina italiana, procedura civile), como se vê, por exemplo, nas obras de grandes 
juristas do século XIX, como Francisco de Paula Baptista11 e Lodovico Mortara.12
O utros autores antigos preferiam falar em "Direito Judiciário", como o 
grande ju rista brasileiro João Mendes de Almeida Júnior.13 Essa nom enclatura, 
porém, é inadequada, por ter um sentido capaz de abranger tem as que não per­
tencem a esse ram o do Direito, como, por exemplo, a organização judiciária.
A denom inação Direito Processual, como dissem os, é hoje a mais utili­
zada, tendo sido empregada, por exemplo, por Giuseppe Chiovenda,14 Liebman,15 
Mandrioli16 e, en tre os brasileiros, por Moacyr Amaral Santos,17 Humberto Theodoro 
Júnior18 e Vicente Greco Filho.19 É certo, porém, que essa denom inação possui um
11 Francisco de Paula Baptista, Teoria e prática do processo civil e comerciai Paula Baptista, lente 
de Processo Civil na Faculdade de Direito de Pernambuco, lecionou naquela casa entre 1835 e 
1881 e pode ser considerado o ancestral de todos os processualistas brasileiros, tendo defendido 
posições doutrinárias que só seriam aceitas como verdadeiras na Europa anos (às vezes décadas) 
depois.
12 Lodovico Mortara, Istituzioni di procedura civile.
13 João Mendes de Almeida Júnior, Direito judiciário brasileiro.
14 Giuseppe Chiovenda, maior processualista de todos os tempos, foi professor da Universi­
dade de Roma, sendo autor, entre outras obras fundamentais, das Instituições de direito processual 
civil, trad. bras. de J. Guimarães Menegale.
15 Manual de direito processual civil.
16 Corso di diritto processuale civile.
17 Primeiras linhas de direito processual civil.
18 Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil.
19 Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro.
Direito Processual: Conceito, Denominação, Posição Enciclopédica e Evolução Científica 9
grave defeito: o nom e Direito Processual passa a falsa ideia de que o proces­
so (e não a jurisdição) é o conceito central e mais im portante desta ciência, 
quando na verdade o processo é m eram ente um meio de que se vale o Estado 
para exercer a função jurisdicional. Por essa razão, como já mencionado, o 
ju rista espanhol Juan Montero Aroca defende a adoção de nova denominação: 
Direito Jurisdicional.20 Se por um lado as razões do notável professor espanhol 
parecem convincentes, a sugerir a aceitação de sua sugestão no sentido de se 
defender um a nova denominação, não se deve deixar de ponderar no sentido 
de que a nom enclatura atual, em bora não seja perfeita (como não seria nenhu­
ma outra), tem um a grande vantagem. Em razão de sua im ensa aceitação, a 
denom inação Direito Processual perm ite que, ao m ero enunciar das palavras 
que a formam, todos os que a ouvem pensem em um m esm o ram o do Direito, 
com lim ites m uito precisos, inexistindo qualquer dúvida possível quanto ao 
alcance da expressão. Por esse motivo, e aplicando a m áxim a segundo a qual 
"em tim e que está ganhando não se mexe”, é que opto aqui por utilizar esta 
que, apesar das críticas procedentes que lhe são dirigidas, ainda é a mais aceita 
denom inação da disciplina jurídica de que se ocupa este livro.
Assim é que, em bora utilize como fonte de denom inação o processo, 
m ero instrum ento posto pelo sistem a a serviço da jurisdição, e não esta úl­
tima, verdadeiro conceito central e essencial desse ramo da ciência jurídica, 
continuarei em pregando, ao longo deste livro, o nom e consagrado: Direito 
Processual. É preciso ter claro, porém, que aqui se trata, apenas, do Direito Pro­
cessual Jurisdicional, e não de outros (como o D ireito Processual Administrativo, 
por exemplo), ainda que ali tam bém se esteja diante de verdadeiros processos.
§ 3* POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA
É sabido por todos os que se iniciam no estudo do Direito que os ramos 
dessa área do conhecim ento hum ano podem ser divididos em duas grandes fa­
mílias: direito público e direito privado. Tal divisão, em bora seja alvo de m uitas 
críticas, ainda é um m étodo seguro de se estabelecer critérios interpretativos 
baseados em princípios com uns aos ramos que com põem cada um a dessas 
grandes "famílias jurídicas”. Ao se dizer que um determ inado ram o do Direito 
é público ou privado, estam os estabelecendo um a série de premissas que deve­
rão ser levadas em conta quando da interpretação das norm as que o compõem, 
como, por exemplo, a posição de coordenação entre os sujeitos da relação ju ­
rídica (no direito privado), ou a posição de suprem acia de um dos sujeitos (o 
Estado) em relação aos dem ais (no direito público).
20 Montero Aroca, ob. e loc. cit.
1 0 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
Não há nenhum a dúvida na doutrina especializada quanto à inclusão do 
Direito Processual dentro da "família" do direito público. É certo, porém, que 
durante m uito tem po as norm as processuais (em especial as processuais civis) 
foram consideradas de direito privado. Isso se deu, porém, antes da afirmação 
da autonom ia científica do Direito Processual, o que ocorreu, como se verá 
adiante, em meados do século XIX. Até essa época, as norm as processuais eram 
consideradas um m ero apêndice do Direito Civil, o qual, indubitavelmente, in­
tegra o direito privado. A afirmação da autonom ia científica do Direito Proces­
sual, porém, com a certeza de que nas relações jurídicas por ele estudadas um 
dos sujeitos é o Estado, que ali se põe em posição de supremacia, exercendo seu 
poder soberano, tom a inquestionável a natureza pública desse ram o da ciência 
jurídica.
Assim sendo, o D ireito Processual deve ser sem pre interpretado como 
um ram o do D ireito em que h á um predom ínio do Estado, o qual tem um a 
das m anifestações de seu poder por ele estudadas, o que aproxim a o D ireito 
Processual, em m uitos aspectos, do D ireito Constitucional (onde encontra, 
obviamente, os seus princípios norteadores, como o devido processo legal e 
o contraditório) e do Direito Adm inistrativo (com o qual m antém , aliás, um a 
área de interseção, o processo adm inistrativo, que contém elem entos desses 
dois ram os do D ireito). Tal proxim idade tem como conseqüência a consciência 
- que hoje tem o processualista - de que as sem elhanças entre as diversas fun­
ções do Estado são m uito mais im portantes do que suas diferenças, máxime 
porque, en tre tais semelhanças, um a é essencial: qualquer que seja a função do 
Estado que esteja sendo exercida, o que se tem é um a m anifestação do poder 
estatal soberano, o qual, como notório, é uno e indivisível.
§ 4 e EVOLUÇÃO CIENTÍFICA DO DIREITO PROCESSUAL
O Direito Processual tem sua evolução científica dividida em três fases 
m uito nítidas: a fase im anentista, a fase científica e a fase instrum entalista. 
Diga-se desde logo que, nesse quadro, não se leva em consideração a evolução 
do processo civil romano, por exemplo, pois sigo aqui a orientação de MonteroAroca, para quem o estudo da evolução do D ireito Processual não precisa re tro ­
ceder a "Adão e Eva, ou ao macaco pelado, segundo se prefira”.21
A prim eira fase, chamada im anentista, é a anterior à afirmação da au to­
nom ia científica do D ireito Processual. D urante essa fase do desenvolvim ento 
do D ireito Processual (na verdade, nessa fase não se pode falar propriam ente 
em D ireito Processual, o que se faz por m era com odidade), o processo era m ero
21 Montero Aroca, p. 5.
Direito Processual: Conceito, Denominação, Posição Enciclopédica e Evolução Científica 11
apêndice do direito m aterial. Dizia-se, então, que o direito m aterial (como o 
direito civil, por exemplo), sendo essencial, era verdadeiro direito substantivo, 
enquanto o processo, m ero conjunto de formalidades para a atuação prática 
daquele, era um direito adjetivo. Essas denominações, hoje inteiram ente ul­
trapassadas, e equivocadas do ponto de vista científico, devendo ser repudia­
das diante do grau de desenvolvim ento alcançado pelos estudos processuais, 
continuam - infelizmente - a ser empregadas por alguns autores e, princi­
palm ente, por m uitos operadores do Direito, como advogados e magistrados. 
Tal linguagem, porém, deve ser banida, por ser absolutam ente divorciada da 
precisão científica já alcançada.
A fase im anentista, que com o se viu é caracterizada pela negação à au­
tonom ia científica do D ireito Processual, tem como lum inares os praxistas, 
ou procedimentalistas, juristas que concentraram seus esforços na análise das 
formas processuais, e que viam no processo, portanto , m era seqüência de atos 
e formalidades. M uitos dos praxistas, aliás, eram juristas que sem pre estuda­
ram o D ireito Civil, mas que analisavam tam bém as norm as processuais, por 
serem essas, como dito, consideradas um apêndice daquele im portante ram o 
do Direito.
Em 1868, ano da publicação da obra do ju rista alemão Oskar von Bülow, 
denom inada Die Lehre von den Processeireden und die Processvoraussetzungen (A Teo­
ria das Exceções Processuais e os Pressupostos Processuais), com a qual se inicia o de­
senvolvimento da teoria do processo como relação jurídica, o Direito Processual 
passa a ser considerado ram o autônom o do Direito, passando a integrar, como 
já afirmado, o direito público. Inicia-se, com a publicação do referido livro do 
ju rista alemão, a fase científica do Direito Processual, assim denom inada por 
ter sido um a fase em que predom inaram os estudos voltados para a fixação dos 
conceitos essenciais que compõem a ciência processual, tais como os de ação, 
processo e coisa julgada. É nessa fase que surgem os maiores nom es do Direito 
Processual de todos os tempos. Nomes como os de Giuseppe Chiovenda, Francesco 
Camelutti, Piero Calamandrei e Enrico Tullio Liebman, na Itália; de Adolf Wach, Leo 
Rosenberg e James Goldschmidt, na Alemanha; Jaime Guasp, na Espanha; Alfredo 
Buzaid, Lopes da Costa e Moacyr Amaral Santos, no Brasil, enriqueceram a ciên­
cia processual desenvolvendo teorias essenciais para a afirmação da autonom ia 
científica desse ramo do Direito.
A partir do m om ento em que não se pôde mais pôr em dúvida a au tono­
m ia científica do D ireito Processual, e estando assentados os mais im portantes 
conceitos da m atéria (apesar de se m anter im enso o núm ero de polêmicas dou­
trinárias - todas extrem am ente saudáveis para o desenvolvimento científico), 
passou-se à fase que vive hoje o Direito Processual: a fase instrum entalista. 
Trata-se de um m om ento em que o processualista dedica seus esforços no sen­
tido de descobrir m eios de m elhorar o exercício da prestação jurisdicional, tor­
nando tal prestação mais segura e, na m edida do possível, mais célere, ten tan­
1 2 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
do aproxim ar a tu tela jurisdicional, o mais possível, do que possa ser chamado 
de justiça. O processo deixa de ser visto como m ero instrum ento de atuação do 
direito m aterial e passa a ser encarado como um instrum ento de que se serve o 
Estado a fim de alcançar seus escopos sociais, jurídicos e políticos. Além disso, 
passa-se a privilegiar o consum idor do serviço prestado pelo Estado quando 
do exercício da função jurisdicional, buscando-se meios de adm inistração da 
justiça que sejam capazes de assegurar ao titu lar de um a posição jurídica de 
vantagem um a tutela jurisdicional adequada e efetiva. Os grandes nom es dessa 
fase do desenvolvim ento do Direito Processual nada deixam a dever aos lum i­
nares da fase anterior, podendo ser citados aqui, por todos, os nom es de Mauro 
Cappelletti, professor italiano, o m aior nom e da ciência processual do fim do 
século XX, além dos notáveis juristas brasileiros José Carlos Barbosa Moreira e 
Cândido Rangel Dinamarco.
Deve-se afirmar que a evolução legislativa do Direito Processual tem 
acom panhado a evolução científica. Assim é que os Códigos de Processo Ci­
vil brasileiros foram elaborados à luz dos critérios e conceitos predom inantes 
na fase científica (tanto o CPC de 1939, elaborado à luz das teorias de Chio­
venda, como o de 1973, verdadeiro "m onum ento em hom enagem a Liebman,f, 
enquadram -se nessa fase da evolução do D ireito Processual). O Código de 
Processo Civil vigente (o de 1973) foi, todavia, reform ado por um a série de leis 
que alteraram diversos preceitos e princípios ali contidos e que geraram um a 
verdadeira revolução em nosso sistem a processual, tendo sido tal reforma re­
alizada já sob a influência dos princípios norteadores da fase instrum entalista 
do processo.22
Ao afirmar que as recentes reformas da legislação processual brasileira 
foram realizadas à luz dos mais m odernos princípios defendidos pela doutrina 
processual, e ao asseverar que entre os grandes nom es da m oderna ciência pro­
cessual encontram -se autores brasileiros (e não apenas os dois anteriorm ente 
citados, mas m uitos outros mais), tenho a intenção de dem onstrar que o Bra­
sil ocupa hoje um a posição de liderança no cenário da ciência processual em 
nível m undial, sendo certo que diversos processualistas estrangeiros buscam 
na doutrina e na legislação brasileiras subsídios para fundam entar as opiniões 
que m anifestam .23
22 Sobre a primeira etapa da reforma do Código de Processo Civil, consulte-se Alexandre Frei­
tas Câmara, Lineamentos do novo processo civil.
23 Dentre os mais importantes processualistas estrangeiros que embasam algumas de suas afir­
mações nas lições dos autores brasileiros podem ser citados o argentino Augusto Mario Morello 
e o italiano Elio Fazzalari.
II
A EXISTÊNCIA DE UMA 
TEORIA GERAL DO DIREITO
PROCESSUAL
Costum a-se dividir o D ireito Processual em pelo m enos dois grandes 
ramos, o D ireito Processual Civil e o Direito Processual Penal. Além desses, 
outros ram os podem ser identificados, como o D ireito Processual do Trabalho, 
o Direito Processual Eleitoral e o Direito Processual Adm inistrativo. Tal divi­
são, porém, se faz com o fim de atender a critérios exclusivamente didáticos e 
de facilitação da atividade legislativa. Na verdade, o D ireito Processual é único, 
não com portando verdadeiras divisões. Essa afirmação resulta na adm issão da 
existência de um a teoria geral do D ireito Processual, ou seja, um a parte geral 
da ciência, aplicável a todos os "ram os” que a integrem.
Não é pacífica em sede doutrinária a existência de um a teoria geral do 
Direito Processual. A resistência inicial à existência de tal teoria, porém , foi 
sendo gradualm ente vencida, até que tal teoria chegasse m esm o a ser apresen­
tada como cadeira autônom a nos cursos de graduação em Direito de inúm eras 
faculdades de nosso país.
Não parece possível o oferecimento de qualquer contestação à existência 
da teoria geral do D ireito Processual. É inegável o im enso núm ero de institu ­
tos afins a todos os ramos do Direito Processual, podendo servir como exem­
plo do que acaba de ser afirmado o fato de que todos os citados "ram os” têm 
um a base comum, formada pela "trilogia estrutural do Direito Processual”, a 
qual é formada pela jurisdição, pela ação e pelo processo.
Além desses três conceitos, porém, outros há, com uns a todos os ramos 
do Direito Processual, como os conceitos de preclusão, ato processual, ônus
1 6 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
processual, coisa julgada, recursos. A existência de todos esses (e m uitos ou­
tros) institu tos com uns perm ite afirmar, com Waldemar Mariz de Oliveira Júnior, 
que a diferença entre os diversos ram os do D ireito Processual é tão som ente 
de grau, não de qualidade ou de natureza.1 Em verdade, não h á qualquer dife­
rença ontológica entre o D ireito Processual Civil e o D ireito Processual Penal 
(ou entre esses e quaisquer outros ram os do Direito Processual). Isso porque 
todos esses ram os têm um a finalidade comum, qual seja, estudar e regula­
m entar o exercício da função jurisdicional. Ora, em sendo essa função estatal 
una e indivisível,2 como se verá com mais calma adiante, não pode ser aceita 
um a verdadeira divisão entre ram os do D ireito que têm a m esm a finalidade e 
o m esm o objeto.
Por essa razão, crendo firm em ente na existência de um a teoria geral do 
D ireito Processual (e, como visto, na sua unidade ontológica), é que dedico a 
prim eira parte deste volume ao estudo daquela teoria. Sendo, porém, um livro 
sobre o Direito Processual Civil (um daqueles "ram os” do D ireito Processual a 
que se fez referência e cuja finalidade é estudar e regulam entar o exercício da 
“jurisdição civil”, um a das “espécies” de jurisdição que costum am ser apresen­
tadas pela doutrina com aquela finalidade didática e de facilitação da atividade 
legislativa a que se fez referência anteriorm ente, e que serão a seguir explicita­
das), os institu tos centrais do D ireito Processual, com ponentes da teoria geral 
do D ireito Processual, serão encarados sob um a ótica processual civil, sendo 
certo que raram ente se fará referência, aqui, à aplicação desses conceitos e 
institu tos nos dem ais ram os do Direito Processual.
Foi dito anteriorm ente que a divisão em ram os do Direito Processual 
tem duas finalidades essenciais: um a didática, a ou tra de facilitar a ativida­
de legislativa. Deve-se explicar essa assertiva. A divisão do D ireito Processual 
em ramos, sem nenhum a dúvida, facilita a com preensão das peculiaridades de 
cada hipótese. Basta imaginar quão mais complexo seria para aquele que se 
lança, pela prim eira vez, ao estudo do D ireito entender como tem as aparente­
m ente tão distintos como a “ação de consignação em pagam ento” e a execução 
penal pudessem pertencer ao m esm o ram o da ciência jurídica. Por outro lado, 
fica bem mais fácil para os legisladores elaborar leis que digam respeito exclu­
sivam ente ao D ireito Processual Civil ou ao D ireito Processual Penal, como 
sejam os Códigos referentes a cada um desses ram os do Direito Processual. Há 
que se recordar que a função legislativa é exercida, m uitas vezes, por pessoas 
sem formação jurídica, deputados e senadores que não estão acostum ados aos 
m istérios e às belezas da ciência jurídica e que, apesar de assessorados por es­
pecialistas, podem não ter a exata dim ensão da unidade conceptual existente 
entre os diversos ram os da ciência processual. Por essa razão, é m uito mais
1 Waldemar Mariz de Oliveira Júnior, Teoria geral do processo civil, p. 13.
2 Araújo Cintra et al. Teoria geral do processo, p. 141.
A Existência de uma Teoria Geral do Direito Processual 1 7
simples, sem som bra de dúvida, a elaboração de leis que regem cada um desses 
ramos do D ireito Processual separadam ente. É certo que alguns poucos países 
tentaram um a experiência diversa, elaborando Códigos que reunissem os pre­
ceitos de Direito Processual Civil e Penal, como se fez, por exemplo, na Suécia. 
Essa experiência, porém, não foi levada adiante na maioria dos países, sendo 
bastante mais freqüente a existência de Códigos separados, como no Brasil, em 
que há um Código de Processo Civil e um Código de Processo Penal.
A consciência, por parte do estudioso do Direito Processual, de que exis­
te um a teoria geral desse ram o do conhecim ento jurídico é essencial para a 
adequada com preensão dos m eandros e detalhes que o compõem. Aquele que 
conhece bem a teoria geral do Direito Processual pode, sem nenhum a dúvida, 
"navegar” pelo Direito Processual (civil ou penal) sem grandes dificuldades, 
sendo certo, de outro lado, que aquele que ignora os conceitos genéricos da 
disciplina terá im ensa dificuldade em bem apreender o Direito Processual Civil 
(ou qualquer outro ram o do D ireito Processual).
III
FONTES, INTERPRETAÇÃO 
E APLICAÇÃO NO ESPAÇO 
E NO TEMPO DO DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL
§ l fi FONTES DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL
É por certo m uito difícil conceituar as fontes do Direito. Sendo fonte o 
lugar de onde provém algum a coisa, a expressão “fonte do direito” não pode 
ser entendida senão como o lugar de onde são oriundos os preceitos jurídi­
cos.1 O estudo das fontes do direito é extrem am ente im portante para a exata 
delimitação do que é e do que não pode ser considerado Direito. Assim é que 
o Direito Processual só o é enquanto provém de um a das fontes do Direito 
Processual.
Há que se explicitar o que vem de ser dito, o que se faz com um exemplo. 
As leis municipais não são, no ordenam ento brasileiro, fontes do Direito Pro­
cessual. Assim sendo, eventual lei municipal que versasse sobre m atéria pro­
cessual não seria ap ta a integrar o sistem a que se denom ina D ireito Processual, 
sendo certo que aquela norm a seria inconstitucional (um a vez que o Município 
estaria legislando sobre m atéria para a qual a Constituição da República não 
lhe dera com petência legislativa - inconstitucionalidade formal), não podendo 
ser aplicada por nenhum órgão jurisdicional.
As fontes do D ireito Processual Civil, portanto, são os lugares de onde 
provém esse ram o do Direito, e se classificam tais fontes em formais e m ate­
1 Rubens Limongi França, Hermenêutica jurídica, p. 84.
2 0 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
riais. Fontes formais são aquelas que possuem força vinculante, sendo, por­
tanto, obrigatórias para todos. São as responsáveis pela criação do direito po­
sitivo. Já as fontes m ateriais não têm força vinculante, servindo apenas para 
esclarecer o verdadeiro sentido das fontes formais.
Fonte formal do D ireito Processual Civil é a lei. Fala-se aqui, porém, em 
lei lato sensu, a significar norm a jurídica. Diversas são as formas de expressão 
da norm a jurídica que podem originar preceitos de Direito Processual: a Cons­
tituição Federal, a lei federal ordinária, a lei estadual, os tratados internacio­
nais e os regim entos in ternos dos Tribunais.
Assim é que, antes de qualquer outra, a Constituição da República é 
fonte formal do Direito Processual Civil, ali sendo encontradas regras das mais 
relevantes entre as que com põem esse ram o do Direito. As norm as contidas na 
Constituição e que dizem respeito ao Direito Processual podem ser divididas 
em dois grupos: o Direito Constitucional Processual e o Direito Processual 
Constitucional.
Antes de mais nada, há que se afirmar que estes não são dois novos 
ramos do Direito Processual, m as tão som ente conjuntos de norm as jurídicas 
sem autonom ia científica (e aqui lem bro o que já foi afirmado anteriorm ente: 
qualquer ram o do Direito só tem autonom ia se puder ser visto ao m esm o tem ­
po como conjunto de norm as positivas e com o ciência).
O Direito Constitucional Processual é o conjunto de norm as de índole 
constitucional cuja finalidade é garantir o processo, assegurando que este seja, 
tan toquanto possível, um processo justo. Com põem o Direito Constitucional 
Processual os cham ados "princípios gerais do Direito Processual”, que serão 
alvo de atenção mais adiante, entre os quais se incluem o princípio do devido 
processo legal, o do contraditório e o da isonomia.
Já o Direito Processual Constitucional é o conjunto de norm as de índole 
processual que se encontram na Constituição com o fim de garantir a aplicação 
e a suprem acia hierárquica da Carta Magna. Aqui são encontradas as norm as 
que regulam, entre outros, o m andado de segurança, o recurso extraordinário 
e o m andado de injunção.
Além (e abaixo, de acordo com a "pirâm ide da hierarquia das norm as 
jurídicas”) da Constituição da República, outras formas de expressão das nor­
m as jurídicas tam bém são fontes formais do Direito Processual Civil. Entre 
elas destaca-se, sem dúvida, a lei ordinária federal. Basta dizer que o Código 
de Processo Civil, a m ais im portante das leis processuais brasileiras, é um a lei 
ordinária federal, a Lei nQ 5.869/1973.
Há que se frisar, porém, que apenas a lei ordinária, e não a lei comple­
mentar, é fonte formal do Direito Processual. Como se sabe, a lei com plem entar 
só é adequada às hipóteses em que for expressam ente exigida pela Constituição 
da República. No mais, a lei ordinária é que se faz adequada à regulamentação 
de preceitos jurídicos.
Fontes, Interpretação e Aplicação no Espaço e no Tempo do Direito Processual Civil 2 1
Considerando que em nenhum m om ento a Carta Magna exige a elabora­
ção de lei com plem entar para a regulam entação de qualquer institu to de índole 
processual, esta não pode ser tida como fonte do Direito Processual Civil.
Quid. iuris, se o Congresso Nacional aprovasse um a lei com plem entar que, 
por exemplo, alterasse o Código de Processo Civil? E se essa lei com plem entar 
viesse a ser depois contrariada por lei ordinária? A solução dessas questões 
depende, em prim eiro lugar, da afirmação de que entre lei com plem entar e lei 
ordinária inexiste qualquer suprem acia hierárquica, m as tão som ente campos 
diversos de incidência.2
Assim sendo, deve-se passar a considerar as duas questões que foram 
postas anteriorm ente. Em prim eiro lugar, quais as conseqüências de um a lei 
com plem entar regular m atéria processual? Poder-se-ia sim plesm ente afirmar 
que tal lei com plem entar seria inconstitucional, por estar invadindo campo de 
atuação que não é o seu. Ocorre que, como se viu, a lei com plem entar encon­
tra-se no m esm o nível hierárquico da lei ordinária e, além disso, por exigir um 
quorum mais elevado para a sua aprovação (seguindo, no mais, o m esm o pro­
cesso legislativo) do que a lei ordinária, parece que a lei com plem entar nesse 
caso deveria ser tida como constitucional, em bora devendo ser vista como um a 
lei com plem entar "com força de ordinária”, isto é, como um a lei form alm ente 
complementar, m as substancialm ente ordinária. Assim sendo, a lei que ora se 
imagina seria perfeitam ente compatível com o ordenam ento constitucional.
Aceita essa prim eira afirmação, chega-se facilmente à solução da seguin­
te questão: quais as conseqüências de um a lei ordinária que, posteriorm ente 
à lei com plem entar m encionada acima, tratasse inteiram ente da m esm a m até­
ria? Ora, considerando-se que no exemplo dado a lei com plem entar é substan­
cialm ente ordinária, e aplicando-se a regra segundo a qual lei posterior revoga 
lei anterior quando trata inteiram ente da m esm a m atéria, fica fácil concluir 
que a lei ordinária posterior revogaria, nessa hipótese, a lei com plem entar com 
força de ordinária anterior.
Além da Constituição e da lei ordinária federal, tam bém é fonte formal 
do Direito Processual Civil a lei estadual. Essa afirmação depende, para sua 
exata com preensão, de um a rápida excursão pela evolução histórica e constitu­
cional do Direito brasileiro na fase republicana.
Com o é sabido, com o advento da República, o Brasil tornou-se um Es­
tado federal, o que perm anece até os dias de hoje. Ocorre que, por força da 
Constituição de 1891, era dos Estados a com petência privativa para legislar 
sobre Direito Processual, o que fez com que cada Estado-m em bro da União 
elaborasse seu próprio Código de Processo Civil. Essa situação perm aneceu até 
a Constituição de 1934, quando então passou tal com petência para a União. 
Conseqüência dessa m udança foi a edição, em 1939, do prim eiro Código de 
Processo Civil nacional.
2 Nesse sentido, Celso Ribeiro Bastos, Curso de direito constitucional, p. 308.
2 2 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
Esse sistem a foi m antido até os dias de hoje, dispondo a Constituição 
vigente, a de 1988, que é da com petência privativa da União legislar sobre 
D ireito Processual (art. 2 2 ,1, CR). Ocorre que a Constituição de 1988 inovou 
ao dispor que a União, os Estados e o D istrito Federal possuem com petência 
concorrente para legislar sobre "procedim entos em m atéria processual” (art. 
24, XI, CR). Tal regra é de difícil interpretação, não só em razão da tradicional­
m ente difícil questão acerca da diferença entre processo e procedim ento (que 
será examinada adiante), mas tam bém por força do disposto nos parágrafos 
do referido art. 24 da Constituição, segundo os quais a com petência da União, 
nesse caso, é apenas para editar norm as gerais, devendo tais norm as ser suple­
m entadas pelos Estados. Fica então ou tra questão de difícil solução: precisar o 
que é norm a geral e o que não é em tem a de procedim entos em m atéria pro­
cessual. Aduza-se, ainda, que os Estados e o D istrito Federal têm com petência 
concorrente com a União para legislar sobre processo nos juizados de peque­
nas causas (art. 24, X, CR).
Parece que a única forma de solucionar a aparente contradição entre o 
art. 2 2 ,1, e o art. 24, XI, am bos da Constituição (contradição que existiria na 
m edida em que a regulam entação dos procedim entos pertence ao D ireito Pro­
cessual), é afirmar, com apoio em Vicente Greco Filho, que por "procedim entos 
em m atéria processual” devem-se entender os procedim entos adm inistrativos 
de apoio ao processo, e não o procedim ento judicial, já que este é indissociável 
do processo.3
Assim sendo, com pete exclusivamente à União legislar sobre D ireito 
Processual, podendo o Estado expedir tão som ente (com base no art. 24, XI, da 
CR) norm as jurídicas suplem entares das gerais - as quais são de com petência 
da União - sobre procedim entos adm inistrativos de apoio ao processo, como, 
por exemplo, o procedim ento adm inistrativo para arquivam ento e desarqui- 
vam ento dos autos de um processo, ou o procedim ento adm inistrativo para 
rem essa à Im prensa Oficial das notícias dos atos processuais que deverão ser 
publicadas por aquele órgão.
Não se pode esquecer, porém, que, no que se refere aos juizados de pe­
quenas causas (art. 24, X, da CR),4 têm os Estados e o D istrito Federal com pe­
tência (concorrente com a União) para legislar sobre processo e, nessa hipóte­
se, não h á como se negar à lei estadual o caráter de fonte do D ireito Processual
3 Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, vol. I, p. 71.
4 A Constituição prevê, no art. 24, X, um órgão jurisdicional denominado “juizado de peque­
nas causas”, e no art. 98 ,1, outro órgão, chamado “juizado especial cível”. Embora sejam órgãos 
ontologicamente distintos, o primeiro com competência para causas de pequeno valor econô­
mico e o segundo competente para causas cíveis pouco complexas (ainda que de grande valor), 
o legislador ordinário os reuniu em um só órgão, batizado de “juizado especial cível”, regido 
pela Lei n° 9.099/95, e que é competente tanto para causas de pequeno valor como para causas 
pouco complexas.
Fontes, Interpretação e Aplicação no Espaço e no Tempo do Direito Processual Civil 2 3
propriam entedito. Podem os Estados legislar sobre processo nos juizados de 
pequenas causas, instituindo, por exemplo, regras quanto à assistência judi­
ciária pela Defensoria Pública, ou a formas de se realizar a execução perante 
aqueles órgãos, desde que não sejam tais norm as contrárias às gerais, editadas 
pela União e que, como notório, encontram -se reunidas na Lei nô 9 .099 /1995.5
Ao lado da lei federal ordinária e da lei estadual, tam bém podem ser 
incluídos entre as fontes formais do Direito Processual os tratados in terna­
cionais. Aqui, porém, há que se analisar um problem a de grande importância, 
qual seja, o conflito que possa existir entre um tratado internacional e um a lei 
in terna que tratem do m esm o tema. Exemplifiquemos com a hipótese do art. 
90 do CPC, segundo o qual a existência de dem anda pendente diante de juízo 
estrangeiro não im pede a propositura de dem anda idêntica no Brasil, o que se 
põe em confronto com o disposto no art. 394 do Código de Bustamante, trata­
do internacional de que o Brasil é um dos Estados contratantes. É certo que a 
boa doutrina considera que, na hipótese do exemplo apresentado, deve incidir 
o tratado se a dem anda estiver pendente perante juízo estrangeiro de país que 
tam bém seja contratante do Código de Bustamante, incidindo o CPC apenas 
em relação aos países que não sejam partes daquele tratado.6 Parece, porém, 
preferível entender que o tratado internacional e a lei interna encontram -se em 
paridade hierárquica, e assim sendo a lei in terna posterior é capaz de revogar 
o tratado anterior, prevalecendo assim a mais recente expressão de vontade do 
legislador.7 Assim sendo, deve-se entender que o disposto no art. 90 do CPC 
prevalece sobre o art. 394 do Código de Bustamante, já que a lei federal é, no 
caso, posterior ao tratado internacional.
Evidentemente, esse raciocínio não se aplica aos tratados internacionais 
que, por força do disposto no art. 5Q, § 3Q, da Constituição da República, ali 
incluído pela Em enda Constitucional n° 45/2004, têm status de em enda cons­
titucional, o que os põe em posição hierárquica superior à da lei. Nem todo 
tratado internacional, porém, tem aquele status.
Por fim, são fontes formais do Direito Processual os regim entos internos 
dos tribunais. Estes são conjuntos de norm as que regem o funcionam ento 
interno do tribunal, dispondo, por exemplo, sobre sua composição. Tais regi­
m entos, porém, podem conter (e efetivam ente contêm) norm as processuais, 
como, por exemplo, as regras contidas nos regim entos internos do Supremo
5 Sobre o microssistema processual dos Juizados Especiais, seja permitido remeter o leitor a 
Alexandre Freitas Câmara, Juizados especiais cíveis estaduais e federais - uma abordagem crítica.
6 Assim pensam, entre outros, Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, vol. I, p. 191, e Celso 
Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, p. 245.
7 José Francisco Rezek, Direito internacional público (curso elementar), p. 106. Noticia ainda o 
referido autor, ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, que o Pretório Excelso adotou esse 
entendimento no julgamento do Recurso Extraordinário n° 80.004.
2 4 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça acerca do procedim ento a 
ser observado no recurso de embargos de divergência (a propósito, consulte-se 
o disposto no art. 546 do CPC).
Conhecidas as fontes formais do Direito Processual Civil, passa-se à aná­
lise das fontes materiais, as quais - como dito - não têm força vinculante, não 
sendo assim obrigatórias, e têm por finalidade revelar o verdadeiro sentido 
do Direito Processual. Podem ser considerados fontes m ateriais do Direito 
Processual Civil os princípios gerais do Direito, o costume, a doutrina e a ju ­
risprudência.
Entende-se por princípios gerais do Direito aquelas regras que, em bora 
não se encontrem escritas, encontram -se presentes em todo o sistema, infor­
m ando-o. É o caso da velha parêm ia segundo a qual "o D ireito não socorre os 
que dorm em ”. Embora tal regra não esteja escrita em nenhum lugar, é inegável 
que institu tos como a prescrição e a decadência no direito material e a preclu- 
são tem poral no Direito Processual comprovam que aquele se trata de verda­
deiro princípio geral, inform ador do direito objetivo brasileiro.
Vários princípios gerais do Direito poderiam ser aqui enum erados, mas, 
com m edo de cansar o leitor, perm ito-m e referir apenas mais dois, que com 
certeza são conhecidos de tantos quantos estudam a ciência jurídica: nemo alle- 
ganspropriam turpitudinem auditur (ninguém que alegue sua própria torpeza pode 
ser ouvido) e allegatio et non probatio quasi non allegatio (alegado e não provado é 
como não alegado).
O utra fonte material do D ireito Processual Civil é o costum e. C ostu­
m e que se pode definir como a conduta socialm ente aceita e que é realizada 
para criar um a "sensação de obrigatoriedade”. Nisso, essencialm ente, difere 
o costum e do hábito. O costum e é um a conduta que gera um a sensação de 
obrigatoriedade para a sua realização, ou seja, realiza-se o costum e por haver 
a sensação de que, em se agindo de ou tra forma, poderá incidir alguma sanção 
ou ocorrer algum prejuízo.
Da m esm a form a que em outros ram os do Direito, tam bém no Direito 
Processual Civil o costum e contra legem, isto é, contrário à lei, não pode ser 
adm itido como fonte do Direito. De outro lado, os costum es secundum legem 
(em conformidade com a lei) e praeter legem (prévios à lei, ou seja, que operam 
diante de um a lacuna da lei) podem ser tidos como fontes de expressão do 
Direito Processual Civil.
Não é difícil apresentar um exemplo de costum e que funciona com o fon­
te do Direito Processual Civil. É certo que, por força do disposto nos arts. 282, 
VI, e 300, am bos do Código de Processo Civil, autor e réu devem anunciar, de 
forma específica, na petição inicial e na contestação, as provas que pretendem 
produzir no processo. Há, porém , um hábito de m uitos advogados de descum- 
prir esse comando (o qual, a rigor, é de observância praticam ente impossível),
Fontes, Interpretação e Aplicação no Espaço e no Tempo do Direito Processual Civil 2 5
anunciando apenas que pretendem produzir "todos os m eios de prova adm is­
síveis em direito". Por força disso, surgiu um costum e dos juizes de, após o 
encerram ento da fase postulatória, determ inar que as partes especifiquem as 
provas que pretendem produzir.8
A doutrina, isto é, o conjunto de lições dos jurisconsultos acerca do Di­
reito Processual Civil, tam bém se constitui em fonte do D ireito Processual 
Civil. É certo que a própria doutrina diverge quanto a te r ou não essa quali­
dade, havendo autores que negam sua inclusão entre as fontes do Direito.9 
Parece-me, porém , que as lições doutrinárias são essenciais para que se pos­
sa conhecer, com precisão, o que é o Direito. Todos os que estudam Direito 
conhecem a força de argum entos de autoridade e a im portância que se dá à 
fundam entação doutrinária das opiniões manifestadas por todos aqueles que 
de alguma form a operam o Direito. Advogados, magistrados, m em bros do Mi­
nistério Público, professores, todos fazem questão de m ostrar que a opinião 
que defendem encontra respaldo doutrinário e, m uitas vezes, buscam m uito 
mais na doutrina do que na própria lei a fundam entação para suas afirmações. 
Isso m ostra a necessidade de se incluir a doutrina entre as fontes do Direito 
(não só do Processual Civil).
Por fim, é tam bém fonte m aterial do Direito Processual Civil a jurispru­
dência. Valem aqui, em princípio, as m esm as afirmações feitas para justificar 
a inclusão da doutrina entre as fontes do Direito Processual Civil. É inegável a 
força das súm ulas da jurisprudência dom inante dos tribunais, principalm ente 
dostribunais superiores.
É certo que, em nosso sistem a, a jurisprudência não tem eficácia vincu- 
lante, como tem , por exemplo, no sistem a da commom law, im perante nos Esta­
dos Unidos da América. A atribuição de eficácia vinculante à jurisprudência te­
ria como conseqüência incluí-la entre as fontes formais do Direito, o que não é 
freqüente nos ordenam entos jurídicos que seguem o sistem a do ius scriptum ou 
da civil law, de origem romano-germânica, e ao qual se filia o Direito brasileiro. 
Há entre nós a intenção, m anifestada de público por juristas, m agistrados e 
políticos, de atribuir eficácia vinculante - em algumas situações, e preenchidos 
certos requisitos - à jurisprudência, através de um a m udança no sistem a do 
incidente de uniformização de jurisprudência (CPC, arts. 476/479). Sobre tal 
projeto, já m e m anifestei anteriorm ente em outra obra,10 e a ele voltarei quan­
8 Esse costume é noticiado também por Cândido Rangel Dinamarco, A reforma do Código de 
Processo Civil, p. 107.
9 Nega à doutrina a qualidade de fonte do Direito, entre outros, Miguel Reale, Lições preliminares 
de direito, p. 176. Em sentido contrário - e, portanto, de acordo com o texto -, consulte-se, por 
todos, Limongi França, Hermenêutica jurídica, p. 109; José de Albuquerque Rocha, Teoria geral do 
processo, p. 34.
10 Freitas Câmara, Lineamentos do novo processo civil, p. 225.
2 6 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
do da análise do mencionado incidente, que se inclui no Título do Código de 
Processo Civil que regula os processos nos tribunais.
Merece referência o fato de que a Em enda Constitucional n* 45/2004 
criou, no Direito brasileiro, a figura da "súm ula vinculante”. E o que decorre 
do disposto no art. 103-A da Constituição da República, inserido em seu texto 
pela referida Emenda, e que assim dispõe: "O Suprem o Tribunal Federal pode­
rá, de ofício ou por provocação, m ediante decisão de dois terços dos seus m em ­
bros, após reiteradas decisões sobre m atéria constitucional, aprovar súm ula 
que, a partir de sua publicação na im prensa oficial, terá efeito vinculante em 
relação aos dem ais órgãos do Poder Judiciário e à Administração pública direta 
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua 
revisão ou cancelamento, na form a estabelecida em lei”. Observe-se, porém, 
que a "súm ula vinculante” (;rectius, enunciado vinculante da Súmula) só pode 
versar sobre m atéria constitucional, não se configurando, pois, como fonte 
do Direito Processual (a não ser, evidentem ente, quando se tratar de m atéria 
constitucional que verse sobre processo - aí incluídos o Direito Constitucio­
nal Processual e o D ireito Processual Constitucional). A "súm ula vinculante”, 
registre-se, não deve ser vista como fonte material do direito (como é a ju ris­
prudência em geral), mas como fonte formal, estando no m esm o plano das 
norm as jurídicas abstratas.
A súm ula vinculante foi regulam entada pela Lei n^ 11.417/2006. Tal di­
plom a legislativo afirma, em seu texto, que o STF aprovará enunciado de súmula, 
o qual te rá eficácia vinculante. É preciso tom ar cuidado com esse texto. O que 
tem eficácia vinculante é a súmula (isto é, o resum o da jurisprudência dom i­
nante do STF), e não apenas os enunciados que a compõem. A rigor, a súm u­
la é com posta pelos enunciados e pelos precedentes que lhes deram origem. 
Assim, deve-se considerar que órgãos jurisdicionais e adm inistrativos estão 
vinculados ao que consta dos enunciados, interpretados estes à luz dos prece­
dentes. Isso se torna im portante para que se possa verificar se o caso concreto, 
subm etido à apreciação da autoridade estatal, tem algum a peculiaridade que o 
diferencie dos casos que deram origem ao enunciado sumular. Trata-se do que 
na tradição jurídica anglo-saxônica se cham a distinguish. Afinal, não se pode 
considerar que o m agistrado (ou a autoridade adm inistrativa) tenha de aplicar 
o enunciado da súm ula a um caso que não seja igual àqueles que deram origem 
a tal enunciado.
Deve-se dizer, à guisa de conclusão acerca da inclusão da doutrina e 
da jurisprudência entre as fontes do D ireito Processual Civil, que entre elas 
há um a diferença essencial. Enquanto na doutrina o dissídio é saudável, e as 
polêmicas existentes em razão das diversas correntes que surgem quando da 
interpretação de determ inada norm a ou institu to contribuem de forma ine­
quívoca para o desenvolvim ento da ciência, o dissídio jurisprudencial deve ser 
com batido. Isso porque a divergência entre os tribunais quando da aplicação
Fontes, Interpretação e Aplicação no Espaço e no Tempo do Direito Processual Civil 2 7
de determ inada norm a aos casos concretos tem como conseqüência a diver­
sidade de tratam ento dada aos jurisdicionados, já que para cada um deles 
a lei é in terpretada e aplicada de m odo diverso, o que contraria o princípio 
constitucional da isonomia. É m uito difícil para o leigo en tender por que ele 
não consegue ob ter determ inada vantagem em juízo se um amigo dele, ou um 
parente, que propôs dem anda para obter providência idêntica perante outro 
juízo ou tribunal conseguiu. Basta lem brar o triste célebre episódio do blo­
queio dos cruzados retidos no "Plano Collor”, em que alguns juízos determ i­
navam o desbloqueio do dinheiro retido, enquanto outros órgãos judiciários 
determ inavam exatam ente o inverso, que o dinheiro perm anecesse bloquea­
do. É para com bater esses dissídios que o sistem a cria um a série de rem édios 
destinados à uniform ização da jurisprudência, dos quais três se destacam: o já 
m encionado incidente de uniform ização de jurisprudência e, ao lado deste, o 
recurso especial fundado em dissídio jurisprudencial (art. 105, III, c, da CR) e 
o recurso de em bargos de divergência (art. 546 do CPC).
§ 2 Q INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL
In terpretar a lei é fixar seu significado e delim itar seu alcance. Em outras 
palavras, a atividade de interpretação da lei tem por finalidade não só descobrir 
o que a lei quer dizer, mas ainda precisar em que casos a lei se aplica, e em 
quais não. Trata-se de atividade essencial para o jurista, sendo certo que todas 
as norm as jurídicas (e, para dizer a verdade, todos os atos jurídicos) devem ser 
interpretadas, até m esm o as mais claras. A ideia, por m uito tem po consagrada, 
de que a clareza da lei dispensa a interpretação é errada, m esm o porque só se 
sabe que a lei é clara depois de se interpretá-la.
A interpretação da lei processual, como não poderia deixar de ser, segue 
os m esm os critérios e pode alcançar os m esm os resultados que a interpretação 
das leis em geral. É preciso, assim, apresentar os m étodos de interpretação da 
lei processual e, em seguida, enum erar os possíveis resultados da atividade 
interpretativa.
São cinco os métodos de interpretação da lei processual: literal ou gram a­
tical, lógico-sistemático, histórico, comparativo e teleológico. Antes de apreciá- 
-los separadam ente, é preciso se afirmar que nenhum deles é suficiente para 
determ inar a verdadeira vontade da lei, sendo essencial a utilização de todos.
2.1 M étodo Literal ou Gramatical
Com o o próprio nom e indica, esse m étodo perm ite a interpretação da 
norm a através da verificação do sentido literal das palavras e frases. Não se
2 8 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
pode negar um a realidade: é impossível qualquer interpretação da lei sem que 
a m esm a seja lida e suas palavras entendidas. Não é, porém , suficiente, e isso 
se prova com um simples exemplo: o art. 890, § l ô, do CPC afirma que, "tra­
tando-se de obrigação em dinheiro, poderá o devedor ou terceiro optar pelo 
depósito da quantia devida, em estabelecim ento bancário oficial, onde houver, 
situado no lugar do pagam ento, em conta com correção m onetária, cientifican­
do-se o credorpor carta com aviso de recepção, assinado o prazo de dez dias 
para a manifestação de recusa”. Trata-se de dispositivo que regula o cabim ento 
e procedim ento da consignação em pagam ento extrajudicial. A ser interpreta­
do literalm ente, pareceria que o depósito da quantia deveria ser realizado em 
estabelecim ento bancário oficial, onde houvesse um. Não havendo estabele­
cim ento bancário oficial, tornar-se-ia impossível a consignação extrajudicial. 
Essa a conclusão a que se chega pela leitura da norma, que fala em depósito 
a ser realizado "em estabelecim ento bancário oficial, onde houver”. Ocorre 
que houve aí um a m á colocação da vírgula, que deveria estar antes da palavra 
"oficial”, o que altera inteiram ente seu significado. Devendo o depósito ser 
feito "em estabelecim ento bancário, oficial, onde houver”, verifica-se que, não 
havendo estabelecim ento bancário oficial, a consignação extrajudicial pode ser 
realizada em qualquer outro estabelecim ento bancário.11
Tem-se, assim , dem onstrada a insuficiência do m étodo literal de in ter­
pretação da lei (insuficiência esta que, com o dito, é com um a todos os m éto­
dos de interpretação). Em bora seja insuficiente, porém , o m étodo literal é es­
sencial para a adequada interpretação da norm a, pois que, com o já ressaltado 
(e decorre da própria natureza das coisas), é impossível ao in térprete realizar 
sua atividade sem ler a lei, ou lendo-a sem ter conhecim ento do significado 
literal das palavras e gramatical das frases que com põem a norma.
2 .2 M étodo L ógico-Sistem ático
O segundo m étodo interpretativo é o chamado lógico-sistemático, pelo 
qual se in terpreta a norm a inserindo-a em um sistem a lógico, o qual não ad­
m ite contradições ou paradoxos, o ordenam ento jurídico. O intérprete jamais 
pode se esquecer de que a norm a objeto da atividade interpretativa não é algo 
isolado do restante do ordenam ento, devendo ser interpretada em consonância 
com o restante das norm as jurídicas que com põem o sistema.
Um bom exemplo de aplicação desse m étodo é o seguinte: nos term os 
do disposto no parágrafo único do art. 155 do CPC, o direito de consultar os 
autos do processo é restrito às partes e a seus advogados, e terceiros só podem 
obter certidões do dispositivo da sentença se dem onstrarem ao juízo que são
11 No sentido do texto, entendendo-se que o verdadeiro sentido da lei é o que se encontra com 
a alteração da posição da vírgula, J. E. Carreira Alvim, Código de Processo Civil reformado, p. 274.
Fontes, Interpretação e Aplicação no Espaço e no Tempo do Direito Processual Civil 2 9
titulares de interesse jurídico que os legitime a obter tais certidões. A leitura 
isolada desse dispositivo poderia induzir o intérprete a achar que essa regra 
é aplicável a todo e qualquer processo, o que não é correto. Isso porque o art. 
155 afirma que os processos são públicos, salvo aqueles que devem tram itar 
em segredo de justiça e, além disso, dispõe o art. 141, V, do CPC, que incumbe 
ao escrivão fornecer, independentem ente de despacho judicial, certidão dos 
atos do processo (observado o disposto no art. 155). Da interpretação siste­
m ática dessas regras só se pode concluir que a restrição im posta pelo parágrafo 
único do art. 155 é aplicável, tão som ente, aos processos que tram itam em 
segredo de justiça.12
Verifica-se, assim, a im portância de se inserir a norm a a ser interpretada 
no sistem a a que pertence, lem brando-se sem pre que tal sistem a não pode 
conter paradoxos ou contradições, sendo impossível a coexistência de duas 
norm as num m esm o ordenam ento jurídico que regulem o m esm o institu to 
diferentem ente. E por essa razão, e nenhum a outra, que a Lei de Introdução às 
Norm as do D ireito Brasileiro, em seu art. 2C, § I a, dispõe no sentido de que a 
lei posterior revoga a anterior quando com ela for incompatível.
2.3 M étodo H istórico
Esse terceiro m étodo de interpretação da lei exige que se analisem as 
norm as que regulavam o m esm o institu to antes da vigência da atual, cujo sig­
nificado se quer fixar. Além disso, devem ser analisados textos anteriores da 
m esm a lei, se esta eventualm ente sofreu alguma reforma, bem com o os textos 
do anteprojeto e do projeto de lei que foram elaborados e que deram origem à 
lei alvo da atividade interpretativa. A im portância de tal m étodo de in terpre­
tação é comprovada pela relevância dada pelos juristas ao estudo da evolução 
histórica dos institu tos, sendo freqüente que se busque no D ireito romano, 
ou no velho D ireito lusitano, a fundam entação para algumas teses defendidas 
pelos juristas m odernos. Um bom exemplo da relevância desse m étodo de 
interpretação encontra-se na exegese do art. 296 (e seu parágrafo único) do 
CPC. Responsável por regular o recurso cabível contra a sentença que inde­
fere lim inarm ente a petição inicial (antes, portanto, de realizada a citação do 
réu), dispondo ainda sobre seu procedim ento, o referido artigo nada menciona 
acerca do tratam ento a ser dispensado ao réu-apelado. Isso poderia levar o 
intérprete a concluir que o apelado aqui deveria receber o m esm o tratam ento
12 Nesse sentido José Raimundo Gomes da Cruz, Estudos sobre o processo e a Constituição de 1988, 
p. 166; Alexandre Freitas Câmara, “Atos processuais", Livro de estudos jurídicos, vol. X, coord. de 
James Tbbenchlak e Ricardo Bustamante, p. 18. Contra, entendendo que o parágrafo único do 
art. 155 é aplicável a todos os processos, sem exceção, José Carlos Barbosa Moreira, “Processo 
civil e direito à preservação da intimidade”, Temas de direito processual, Segunda série, p. 19.
3 0 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
que nas apelações em geral, sendo com unicado da interposição do recurso para 
que pudesse, no prazo de 15 dias, impugná-lo. Ocorre que essa não é a inter­
pretação adequada, sendo certo que, nesse recurso, não há oportunidade para 
manifestação do recorrido. Tal conclusão decorre do fato de a redação anterior 
à vigente do art. 296 (e parágrafos) ser expressa em determ inar a citação do 
réu, na hipótese, para acom panhar o recurso. O fato de ter sido a lei reformada 
para que do novo texto se om itisse a referência à manifestação do réu leva à 
conclusão de que este não deve se m anifestar.13
O m étodo histórico, nunca é dem ais repetir, é insuficiente para perm itir 
a adequada interpretação da lei, assim como o são todos os dem ais m étodos, 
sendo im periosa a utilização conjunta de todos eles.
2 .4 M étodo Comparativo
Esse m étodo corresponde à utilização, para fins de interpretação, dos 
subsídios de Direito Comparado, buscando-se nas lições da doutrina estran­
geira e nas norm as contidas nos ordenam entos jurídicos positivos de outros 
países fundam entos para se descobrir o verdadeiro significado da lei nacional. 
É m uito comum, como facilmente se verifica, a citação de autores estrangeiros 
para fundam entar posições defendidas por juristas brasileiros.14 Por essa razão, 
torna-se desnecessária a apresentação de qualquer exemplo da relevância des­
se m étodo interpretativo. Certo de que pecarei por abundância, porém, apre­
sentarei aqui um exemplo, um a vez que, com o notório, quod abundat non nocet. 
Assim é que se pode fazer referência a um institu to introduzido no sistem a 
jurídico-processual brasileiro pelas cham adas "reformas do CPC”, a "ação m o­
nitoria”, na qual qualquer adequada interpretação dos artigos que a regulam 
(CPC, arts. 1.102-A a 1.102-C) só será possível com a busca de subsídios no 
Direito italiano, do qual se herdou o in stitu to .15
Im portante observar, porém , que mais relevante do que tratar do direito 
comparado é buscar estabelecer um a comparação de direitos. A ênfase deve estar 
na comparação, e não no direito. É que mais im portante do que buscar saber
13 Consulte-se, sobre o tema, Freitas Câmara, Lineamentos donovo processo civil, p. 49; Dina- 
marco, A reforma do Código de Processo Civil, p. 81. O Supremo Tribunal Federal enfrentou essa 
questão, e decidiu no sentido sustentado no texto, no acórdão proferido no AI-AgR 423590/RS, 
rei. Min. Marco Aurélio, j. em 29.6.2005.
14 No Direito Processual Civil, destacam-se, pela quantidade, as citações de autores como Giu­
seppe Chiovenda, Enrico Tbllio Liebman e Francesco Carnelutti, entre muitos outros notáveis 
juristas que, com suas obras, influenciaram decisivamente a formação do pensamento jurídico 
nacional.
15 Sobre as semelhanças entre a “ação monitória” do Direito brasileiro e o procedimento mo- 
nitório italiano, consulte-se Humberto Theodoro Júnior, As inovações no Código de Processo Civil, 
p. 74.
Fontes, Interpretação e Aplicação no Espaço e no Tempo do Direito Processual Civil 3 1
como é o outro ordenam ento é verificar, através da comparação entre diversos 
ordenam entos, quais são as tendências mais m odernas, buscando-se deter­
m inar se um dado ordenam ento (aquele de que parte o estudioso) está em 
consonância com tais tendências.16
2.5 M étodo Teleológico
Trata-se de m étodo de interpretação das leis im posto ao intérprete pelo 
art. 5Q da Lei de Introdução às Norm as do Direito Brasileiro. Ao in terpretar a 
norm a jurídica, o intérprete deve ter sem pre em vista os fins sociais a que a 
lei se destina, assim como o bem com um . Toda lei (ao m enos teoricam ente) 
é elaborada tendo em vista um a finalidade social. E certo que existe um a rea­
lidade um pouco diversa da teoria, em que leis são elaboradas para atender a 
interesses pessoais dos detentores do poder, o que decorre da inegável vocação 
do direito positivo para ser um a força a serviço da m anutenção do status quo 
im perante em determ inada sociedade em um dado m om ento histórico. Apesar 
disso, é inegável que são elaboradas leis que têm por fim atender a um a fina­
lidade social e, estando o intérprete diante de duas interpretações razoáveis (e 
cientificamente sustentáveis) de um a m esm a norm a, deverá optar por aquela 
que, no seu entender, m elhor atenda aos anseios da sociedade.
Após a utilização de todos os m étodos de interpretação, ou seja, encer­
rada a atividade interpretativa, chega-se a um resultado, o qual pode se reve­
lar como um dos quatro seguintes: resultado declarativo, resultado restritivo, 
resultado extensivo e resultado ab-rogante. Q ualquer dos quatro resultados 
m encionados é possível de ser alcançado e, diga-se desde logo, qualquer deles 
é atingido com frequência pelo intérprete das norm as jurídicas, sendo inúm e­
ros os exemplos de todos eles.
a) Resultado Declarativo
Trata-se do resultado alcançado toda vez que a atividade interpretativa 
dem onstrar que a lei significa exatam ente o que está escrito, nada havendo 
que altere o sentido literal e gramatical da norm a. Um bom exemplo desse 
resultado é o que se tem quando da interpretação do art. 513 do CPC. Dispõe
16 Sobre o ponto, seja-me permitido fazer referência à palestra do processualista alemão Pe- 
ter Gilles no XIII Congresso Mundial de Direito Processual, realizado em Salvador, Bahia, em 
setembro de 2007, proferida em inglês, de que se publicou uma versão em alemão nos anais 
do referido congresso (Peter Gilles, Prozessrechtsvergleichung - Comparative procedural law, in Ada 
Pellegrini Grinover e Petrônio Calmon (org.), Direito processual comparado - XIII World congress o f 
procedural law, p. 826 e seguintes. Há, também, uma versão em inglês do texto, publicada in Fre- 
die Didier Jr. e Eduardo Ferreira Jordão (coord.), Teoria do processo - panorama doutrinário mundial, 
p. 809 e seguintes.
3 2 Lições de Direito Processual Civil • Câmara
a referida norm a que "da sentença caberá apelação”. Tal norm a só pode ser 
interpretada de um a maneira: proferida um a sentença pelo juiz, o recurso ca­
bível será o de apelação. Em outras palavras, a lei significa exatam ente o que 
está escrito.
b) Resultado Restritivo
Esse é o resultado alcançado quando, na exegese da lei, o intérprete des­
cobre que a lei disse mais do que o seu real significado, tendo, portanto, um 
alcance inferior ao que aparenta ter. Diz-se, nessa hipótese, que a lei dixit plus 
quaxn voluit. Também não são raros os casos em que o legislador m anifesta sua 
imprecisão de linguagem, dando à lei um a redação que aparenta um a am pli­
tude que, em verdade, não existe. Basta olhar, por exemplo, para o art. 522 
do CPC, segundo o qual "das decisões interlocutórias caberá agravo”, o que 
levaria o intérprete desavisado a concluir que o recurso de agravo é cabível 
contra toda e qualquer decisão interlocutória que viesse a ser proferida em um 
processo, o que não corresponde à verdade. Cite-se, por exemplo, o disposto 
no art. 519, parágrafo único, do CPC, a fim de se dem onstrar a existência de 
decisões interlocutórias irrecorríveis, o que comprova que o art. 522 não tem 
na verdade um alcance tão amplo quanto aparenta.
c) Resultado Extensivo
Tem-se aqui um resultado da atividade interpretativa que se encontra em 
posição antagônica em relação ao que acabou de ser apresentado. Na hipótese 
ora em consideração, a lei dixit minus quam voluit, ou seja, a norm a disse menos 
do que queria. A hipótese é aquela em que a lei in terpretada tem um a redação 
restritiva, em bora seu real sentido seja mais amplo do que a sua literalidade 
perm ite antever, sendo certo que, nesses casos, a lei possui um alcance maior 
do que aparentem ente se poderia lhe atribuir.
Bom exemplo desse resultado interpretativo é o que se alcança quando 
da exegese do art. 10, caput, do CPC, que determ ina o consentim ento do côn­
juge do autor para a propositura de determ inadas dem andas. Faz referência a 
lei, tão som ente, ao dem andante casado, exigindo-se assim apenas o consen­
tim ento do cônjuge, mas tal norm a é aplicável tam bém ao dem andante que 
viva em regime de união estável, um a vez que tam bém aqui há a formação de 
um patrim ônio familiar que merece proteção especial do Estado.17 Verifica-se, 
assim, que o alcance da norm a jurídica interpretada é m aior do que aparenta 
sua redação, sendo extensivo o resultado da atividade interpretativa.
17 No sentido do texto, José Rubens Costa, "Alterações no processo de conhecimento”, Reforma 
do Código de Processo Civil, coord. de Sálvio de Figueiredo Teixeira, p. 306.
Fontes, Interpretação e Aplicação no Espaço e no Tempo do Direito Processual Civil 3 3
d) Resultado Ab-rogante
A últim a possibilidade de resultado a que se pode chegar na atividade 
interpretativa das norm as jurídicas é o ab-rogante, que se dá quando o exegeta 
verifica que a norm a que está sendo interpretada não pode ser aplicada (por 
ser inconstitucional, por exemplo, ou ainda por te r sido tacitam ente revogada 
por lei posterior com ela incompatível). Esse o resultado que se alcança, por 
exemplo, quando se interpreta o art. 451 do CPC, que determ ina que o juiz, 
na audiência de instrução e julgam ento, fixe os pontos controvertidos, quando 
é certo que tal fixação de pontos ocorre, hoje em dia, na audiência prelim inar 
prevista no art. 331 e seu § 2o, tam bém do CPC, com a redação que deu a esses 
dispositivos a Lei nQ 8.952/1994. Sendo tais disposições de lei incompatíveis 
entre si, deve-se considerar revogada a norm a mais antiga, qual seja, o art. 451, 
cuja redação é a que constava do texto original do Código de Processo Civil, 
que entrou em vigor em 1974.18
Trata-se este, infelizmente, de resultado m uito freqüente na atividade 
herm enêutica, sendo inegável que o legislador brasileiro não só tem elaborado 
um núm ero exagerado de norm as inconstitucionais, como tam bém que são 
inúm eros os casos de revogação tácita de norm as, quando é inegável que a 
revogação expressa é m uito mais adequada em term os de segurança jurídica.§ 3fi INTEGRAÇÃO DA LEI PROCESSUAL
Fenômeno que não se confunde com o da interpretação é o da integração 
da lei processual. Cham a-se integração à atividade de suprir lacunas, sendo 
certo que ao juiz não é dado eximir-se de julgar alegando a existência de la­
cunas na lei (art. 126 do CPC). Cabe ao magistrado, assim, suprir eventuais 
lacunas da lei utilizando, para tal fim, os costum es, os princípios gerais do 
direito e a analogia.
Dos costum es e dos princípios gerais do direito, falou-se em parágrafo 
anterior, já que são fontes do direito. Resta, assim, tra ta r da analogia. Esta con­
siste em aplicar a um caso para o qual não exista norm a especificamente apli­
cável um a norm a jurídica prevista originariam ente para um caso sem elhante. 
Assim, por exemplo, é possível ao juiz determ inar a intim ação com hora certa, 
apesar do silêncio da lei sobre o ponto, já que se pode aplicar, por analogia, à 
intimação, o regram ento legal da citação.
18 No mesmo sentido, considerando que a nova sistemática do art. 331 revogou o art. 451 
do CPC por ser com ele incompatível, Dinamarco, A reforma do Código de Processo Civil, p. 134. 
Observe-se que a redação do art. 331 foi, posteriormente, alterada pela Lei n° 10.444/2002, o 
que não altera o conteúdo do que se sustenta no texto.
C A P Í T U L O 2 
Normas fundamentais 
do processo civil 
Sumário • 1 . Direito Processual Fundamental - 2. Princípios: 2 . 1 . Princípio do devido processo lega l; 2 . 1 . 1 . 
Considerações gerais; 2 . 1 .2. Conteúdo; 2 . 1 .3 . Devido processo legal formal e devido processo legal substancial; 
2 . 1 .4. Devido processo legal e relações jurídicas privadas; 2.2. Princípio da dignidade da pessoa humana; 2.3. 
Princípio do contraditório: 2 .3 . 1 . General idades e a regra da proib ição de decisão-surpresa; 2.3.2. Dever de o 
juiz zelar pelo efetivo contrad itório; 2.4. Princípio da ampla defesa; 2.5. Princípio da publ icidade; 2.6. Princípio 
da duração razoável do processo; 2.7. Princípio da igualdade processual (paridade de a rmas); 2.8. Princípio 
da eficiência; 2.9. Princípio da boa-fé processual: 2.9. 1 . General idades; 2.9.2. Fundamento constitucional 
do princípio da boa-fé processual; 2.9.3. Destinatário da norma; 2.9.4. Concretização do princípio da boa-fé 
processual; 2 . 10. Princípio da efetividade; 2 . 1 1 . Princípio da adequação (legal, jurisdicional e negocia i ) do 
processo: 2 . 1 1 . 1 . Genera l idades; 2 . 1 1 .2 . Critérios de adequação; 2 . 1 1 .3 . Adequação jurisdicional do processo; 
2 . 1 1 .4. Adequação negociai do processo; 2 . 12 . Princípio da cooperação e o modelo do processo civil b rasi le iro: 
2 . 1 2 . 1 . Nota introdutória; 2 . 1 2.2. "Princípios" dispositivo e inqu isitivo. Modelos tradicionais de organ ização 
do processo: adversarial e inqu isitorial; 2 . 12 .3 . Processo cooperativo: um terceiro modelo de organização do 
processo. Princípios e regras de cooperação. Eficácia do princípio da cooperação; 2 . 1 2.4. Dever de o juiz zelar 
pelo efetivo contraditório, princípio da cooperação e dever de auxílio; 2 . 1 3 . Princípio do respeito ao autorre­
gramento da vontade no processo; 2 . 14. Princípio da primazia da decisão de mérito; 2 . 15 . Princípio da prote­
ção da confiança: 2 . 1 5 . 1 . Proteção da confiança e segurança jurídica; 2 . 1 5.2. Pressupostos para a proteção da 
confiança; 2 . 1 5.3. Princípio da proteção da confiança e o d i reito processual civil - 3 . Regras: 3 .1 . Regras da 
instauração do processo por in iciativa da parte e de desenvolvimento do processo por impulso oficia l : 3 . 1 . 1 . 
Instauração d o processo por in iciativa d a parte; 3 . 1 .2. Desenvolvimento d o processo por impu lso oficial ; 3.2 . 
Regra da obediência à ordem cronológica de conclusão: 3.2. 1 . General idades; 3.2.2. Regras que excetuam o 
dever de respeito à ordem cronológica de conclusão; 3.2.3. Ca lendário processual e dever de observância; da 
ordem cronológica de conclusão; 3.2.4. Consequências do descumprimento da regra; 3.2.5. Extensão da regra 
à atuação do escrivão ou chefe de secretaria; 3 .2.6. Direito transitório - 4. Norma fundamental de interpreta­
ção do Código de Processo Civi l : o postu lado hermenêutica da unidade do Código. 
1 . DIREITO PROCESSUAL FUNDAMENTAL 
Há um con ju nto de no rmas p rocessuais q u e fo rmam o q u e se pode chamar de 
D i re ito Processua l F u ndamental ou D i re ito P rocessua l Gera l . 
A norma é fundamental , porq ue estrutu ra o mode lo do p rocesso civi l b rasi l e i ro 
e serve de no rte para a com p reensão de todas as demais n o rmas j u ríd i cas p roces­
suais civi s . 
Essas no rmas p rocessua is o ra são p ri n cíp ios (como o devido p rocesso legal) 
o ra são regras (como a p ro i b ição do uso de p rovas i l ícitas) . O D i re ito P rocessua l 
F undamental não é composto somente por p ri n cíp ios, é bom q ue isso fi q u e c laro . 
A observação é i m po rtante . A d i st i nção e ntre regras e p r i n cíp ios tem 
grande i m portânc ia p rát ica . São n o rmas com estrutu ras d ist i ntas e for­
mas de ap l i cação próprias, o r i en tadas por padrões de "argumentação 
61 
F R E D I E D I O I E R J R . 
específi cos, q ue favorecem o estabe lec imento de ô nu s argu mentati­
vos d iferentes e i m pactam d i retamente na defi n ição daq u i l o q ue deve 
ser exigi do de forma defi n i t iva", por me io da so lução j u ri sd ici onal ' . 
U m a parte dessas no rmas fu ndamentais deco rre d i retamente da Const itu i ção 
Federa l - é o q ue se pode chamar de D i re ito P rocessual F u ndamental Const ituc iona l . 
A outra parte deco rre da legi s lação i nf racon st ituci onal , ma is especif icamente 
do Código de P rocesso Civi l , q u e ded ica um capítu lo i nte i ro a essas n o rmas (arts . 
10 a 1 2, CPC) . 
Esse capítu lo rep roduz a lgu n s e nun c iados no rmativos const ituc iona is (art. 3o , 
caput, p . ex. , que p rati camente rep roduz o i n c iso XXXV do art . so da CF/1 988) - e, 
n esse sent ido , não i n ova. 
Mas o capítu lo tam bém t raz n ovos e n u n ciados no rmativos, sem p revisão ex­
p ressa na Constitu i ção, em bora todos eles possam encont rar ne la a lgu m funda­
mento. 
O ro l desse capítu lo não é, porém, exaustivo . 
Há out ras no rmas fundamentais do p rocesso civi l b ras i l e i ro q ue não estão 
consagradas exp ressamente nos doze p rime i ros art igos do CPC. Há n o rmas fu nda­
mentais na Constitu i ção - dev ido p rocesso legal , j u i z natu ral, p ro i b i ção de p rova 
i l ícita; há no rmas fundamentais espa l hadas no p róp ri o CPC, como o p r i ncíp io de 
res peito ao auto rregramento da vontade n o p rocesso e o dever de observânc ia dos 
p recedentes j u d ic ia is (arts . 926 -927 , CPC) . Há, portanto, esq ueci mentos i n com pre­
e nsíve i s - não ser ia exage ro d izer que os arts . 1 90 e 926 e 927 são p i l ares do n ovo 
s i stema do p rocesso civi l b ras i l e i ro -, a lém de ao menos um exagero: a observânc ia 
da o rdem c ro no lógica da decisão, em bora real mente se ja i m portante, não merec ia 
o sta tus de ent rar n o ro l das no rmas fundamentais do p rocesso civi l . Mas, no par­
t i cu lar, legem habemus. 
É p rec iso com p reender este capítu lo como se ao seu fi na l houvesse 
uma c láusu la no rmativa q u e d i ssesse: "O ro l de no rmas fu ndamen ­
ta i s p revisto n este capítu l o não exc l u i out ras no rmas fundamentais 
p revi stas na Const i tu ição da Repúb l i ca, nos t ratados i nternaci onais , 
n este Código ou em le i " - à seme l hança do que já oco rre com os 
d i re itos fundamentais (art. so , §2o, CF/88) . 
Há no rmas fundamentais do p rocesso civi l q ue são, tam bém, d i re itos fu nda­
mentais - encon tram -se no art . so da CF/1 988. H á, n o

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