Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Alterações do Pensamento Luiz Wilson Psicólogo Clínico Comportamental Mestre em Educação Brasileira (UFAL) Alterações do Pensamento Elementos constitutivos Conceito Juízo Raciocínio O ato do pensar Curso Forma ou Estrutura Conteúdo ou Temática Elementos constitutivos do pensamento • Os conceitos se formam a partir das representações as quais construímos. • Não é possível visualizar um conceito, ouvi-lo ou senti-lo. Por isso, o conceito não apresenta elementos de sensorialidade. • Quando conceituamos um objeto ou fenômeno, generalizamos suas características. • Ex.: O relógio é uma tecnologia que processa as horas. Elementos constitutivos do pensamento • Portanto, para formatar conceitos, são necessários dois passos: eliminar características relacionadas ao sensório e generalizar a singularidade do objeto ou fenômeno. Elementos constitutivos do pensamento • O juízo exprime a relação entre dois conceitos. • O juízo tem, por função básica, formular uma relação única entre um sujeito e um predicado. • Ex.: O relógio é útil para observar as horas. Elementos constitutivos do pensamento • O raciocínio relaciona os juízos. • “Assim como a ligação entre conceitos permite a formação de juízos, a ligação entre juízos conduz à formação de novos juízos. Dessa forma, o raciocínio e o próprio pensamento se desenvolvem” (DALGALARRONDO, 2008, p. 194). • Ex.: Se o relógio é útil para marcar horas, então posso utilizá-lo para evitar atrasos. O ato do pensar • Outra forma de analisar o pensamento, é diferenciando o processamento do ato de pensar: o curso, a forma ou estrutura e o conteúdo ou temática do pensamento. O ato do pensar • O curso do pensamento refere-se a velocidade e ritmo do pensamento ao longo do tempo. • A forma do pensamento é a sua estrutura básica, sua infraestrutura. • O conteúdo do pensamento é o que preenche a estrutura. É o que dá substância ao pensamento, os seus temas predominantes, o assunto em si. Alterações dos elementos constitutivos do pensamento Alterações dos elementos constitutivos • Desintegração dos conceitos • Condensação dos conceitos Alterações do conceito • Juízo deficiente ou prejudicado • Juízo de realidade ou delírio Alterações do juízo Alterações de raciocínio Alterações dos conceitos • Na desintegração dos conceitos ocorre uma perda do significado original. • De acordo com Paim (1993), os conceitos se desfazem, e uma mesma palavra passa a ter significados cada vez mais diversos. • É comum, que o sujeito passe a utilizar as palavras de forma totalmente pessoal e idiossincrática. Alterações dos conceitos • A condensação dos conceitos ocorre quando dois ou mais conceitos são fundidos. • O sujeito involuntariamente condensa duas ou mais ideias em um único conceito, que se expressa por uma nova palavra. Alterações dos juízos • O juízo deficiente ou prejudicado é um juízo falso que se estabelece porque a elaboração dos juízos é prejudicada por deficiência intelectual e pobreza cognitiva do indivíduo. • Nessa caso, os conceitos são inconsistentes e o raciocínio, pobre e defeituoso. • São manifestações simplistas, concretas e sujeitos à influência do meio social. Alterações dos juízos Detalhe importante: • Embora o juízo deficiente e o delírio sejam alterações patológicas do pensamento, uma se difere da outra. • Os juízos por deficiência não são persistentes e irredutíveis, mudam com facilidade e variam sua temática a todo momento. Alterações do raciocínio • O pensamento normal é caracterizado pela lógica formal e pela realidade e os princípios de racionalidade da cultura a qual o sujeito está inserido. Alterações do raciocínio • Princípios básicos do pensamento lógico-normal: 1. Princípio da identidade (se A é A, e B é B, logo, A não pode ser B). 2. Princípio da causalidade (se A é causa de B, então B não pode ser ao mesmo tempo causa de A). 3. Lei da parte e do todo (se A é parte de B, então B não pode ser parte de A). Tipos alterados de pensamento Pensamento mágico • É o tipo de pensamento que contraria os princípios da lógica formal, bem como os indicativos e imperativos da realidade. • O pensamento mágico segue os princípios da vontade, dos desejos, das fantasias e dos temores do sujeito, adequando a realidade ao pensamento, e não o contrário. Pensamento mágico • O pensamento mágico é norteado na maioria das vezes pela Lei da contiguidade ou do contágio (coisas que estiveram em contato continuam unidas)e Lei da similaridade (o semelhante produz o semelhante). • O pensamento mágico envolve também interpretar dois eventos que ocorrem próximos como se um tivesse causado o outro, sem qualquer preocupação com o nexo causal. • Ex.: Ver um chinele emborcado e interpretar que vai ocorrer algum mal; Pensamento dereístico • Nessa caso, o pensamento só obedece à lógica e à realidade no que for conveniente ao desejo do sujeito, distorcendo a realidade para que esta se adapte aos seus anseios. • Ex.: Receber uma ligação de uma pessoa por um motivo específico e criar um outro motivo além do que foi tratado. Pensamento concreto ou concretismo • No pensamento concreto não ocorre a distinção entre dimensão abstrata e simbólica. • Não consegue entender ou utilizar metáforas, o pensamento é muito aderido ao nível sensorial da experiência. • O sujeito apresenta ausência de ironia, do subentendido, do duplo sentido. Pensamento inibido • Ocorre a inibição do raciocínio, com diminuição da velocidade e do número de conceitos, juízos e representações utilizados no processo de pensar, tornando-se o pensamento lento, pouco produtivo à medida que o tempo flui. Pensamento vago • As relações conceituais, a formação dos juízos e a concatenação destes em raciocínios são caracterizadas pela imprecisão. • É marcante a falta de clareza e precisão no raciocínio. Pensamento prolixo • O sujeito apresenta dificuldade em concluir um tema, senão após muito tempo e esforço. • Dá longas voltas ao redor do tema, e mescla, de forma imprecisa, o essencial com o supérfluo. • A Tangencialidade (pensamento tangencial) e a circunstancialidade (pensamento circunstancial) são tipos de pensamento prolixo. Pensamento prolixo • Na tangencialidade o sujeito não sabe discriminar o supérfluo do essencial. • São apresentadas respostas que apenas se aproximam daquilo que foi perguntado, nunca chegando ao ponto central, ao objetivo final, sem concluir algo de substancial. Pensamento prolixo • Na circunstancialidade são apresentadas respostas sem entrar nas questões essenciais e decisivas. • Eventualmente o sujeito alcança o objetivo de seu raciocínio. Pensamento deficitário (ou oligofrênico) • O indivíduo tende ao raciocínio concreto; os conceitos são escassos e utilizados em sentido mais literal que abstrato ou metafórico. • Há pouca flexibilidade na aplicação de regras e conceitos aprendidos. • Não há distinção detalhada e precisa de categorias como: essencial e supérfluo; necessário ou acidental; causa e efeito; o todo e as partes; o real e o imaginário. Pensamento deficitário (ou oligofrênico) • A memorização de determinados conteúdos ou temas pode ser muito extensa e numerosa, porém é mecânica e rígida.Pensamento demencial • Trata-se também de pensamento pobre, porém tal empobrecimento é desigual, ao contrário do que ocorre no pensamento deficitário, no qual o empobrecimento é mais homogêneo. • O pensamento demencial pode revelar elaborações mais ou menos sofisticadas, embora de forma geral seja imperfeito, irregular, sem unidade ou congruência. Pensamento demencial • Com o progresso da demência há uma tendência ao pensamento pobre, concreto e desorganizado. • A dissimulação é um comportamento frequente diante dos esquecimentos. Pensamento confusional • Devido à turvação da consciência, o sujeito apresenta um pensamento incoerente, de curso tortuoso, que impede que o indivíduo apreenda de forma clara e precisa os estímulos ambientais e possa, assim, processar seu raciocínio adequadamente. • Também em função da turvação da consciência o sujeito apresenta dificuldade em estabelecer relações entre conceitos e juízos, alterações de atenção e de memória imediata, impedindo a formação adequada do raciocínio e lançando o indivíduo em estado de perplexidade e pouco controle. Pensamento desagregado • Pensamento expressivamente incoerente, no qual os conceitos e os juízos não se articulam minimamente de forma lógica. • O sujeito produz um pensamento que se manifesta como uma mistura aleatória de palavras, que nada comunica ao interlocutor. Pensamento obsessivo • Ideias ou representações recorrentes que, apesar de terem conteúdo absurdo ou repulsivo para o indivíduo se impõe de maneira intrusiva. Alterações do ato de pensar Curso do pensamento • Aceleração do pensamento – fluxo de pensamento muito acelerado, uma ideia se sucedendo à outra rapidamente. • Lentificação do pensamento – latência entre as perguntas formuladas e as respostas. Curso do pensamento • Bloqueio ou interceptação do pensamento – interrompe seu pensamento, sem qualquer motivo aparente. É entendido também como uma paralisia do pensamento. • Roubo do pensamento - sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou ente estranho, por uma máquina, uma antena, etc. Forma ou estrutura do pensamento • Fuga de ideias – é um quadro acentuado da aceleração do pensamento onde o sujeito apresenta perturbação lógica entre os juízos e os conceitos. • As associações entre as palavras deixam de seguir uma lógica e passam a ocorrer por assonância (semelhança ou igualdade de sons em palavras próximas): amor, flor, cor... ou cidade, idade, realidade... Forma ou estrutura do pensamento • Nesse quadro, as ideias se associam também a partir da interferência de estímulos externos contingentes. • A preservação da coerência na fuga de ideias gera controvérsias, visto que não é aceita por todos os autores. Forma ou estrutura do pensamento • Dissociação do pensamento – os pensamentos passam progressivamente a não seguir uma sequência lógica e bem-organizada, e os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros. • No início, a incoerência pode ser discreta, ainda sendo possível compreender aquilo que o sujeito quer dizer. Com o agravamento do quadro, o pensamento pode tornar-se totalmente incoerente e incompreensível. Forma ou estrutura do pensamento • Afrouxamento das associações – embora ainda haja concatenação lógica entre as ideias, nota-se já o afrouxamento dos enlaces associativos. Forma ou estrutura do pensamento • Descarrilhamento do pensamento – está associado ao comportamento de distração. • Em casos acentuados, em que os desvios se apresentem numa frequencia maior e longa, pode-se não mais compreender a sequência lógica do pensamento. Forma ou estrutura do pensamento • Desagregação do pensamento – há profunda e radical perda dos enlaces associativos, total perda da coerência do pensamento. • O sujeito apresenta pedaços de pensamentos, conceitos e ideias fragmentadas, na maioria das vezes irreconhecíveis, sem qualquer articulação racional, sem que sejam detectadas uma linha diretriz e uma finalidade no ato de pensar. Forma ou estrutura do pensamento • Detalhe importante: Na esquizofrenia, geralmente, o progredir da desestruturação do pensamento segue esta sequência (em ordem de gravidade): afrouxamento das associações, descarrilhamento do pensamento e desagregação do pensamento. Conteúdo do pensamento • O conteúdo do pensamento é aquilo que preenche a estrutura do processo de pensar. • Há tantos conteúdos quanto são os temas de interesse ao ser humano. Assim, não se pode falar propriamente em alterações patológicas do conteúdo do pensamento. • Alguns autores definem os delírios como alterações do conteúdo do pensamento, porém isso tem sido superado. Conteúdo do pensamento • Os conteúdos mais frequentes que preenchem os sintomas psicopatológicos são: persecutórios, depreciativos, religiosos, sexuais, de poder, riqueza, prestígio ou grandeza, de ruína ou culpa, conteúdos hipocondríacos.
Compartilhar