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Artigo - O Horla

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O Horla de Guy de Maupassant. 
 Os diálogos entre o fantástico e o real, entre as ambiguidades e os símbolos.
Alex Jr. Dos S. Nardelli; Marta Mattos da Cruz; Ana Ligia Scaldelai; José Roberto Prezotto Jr.
Apresentação - Nota introdutória
	Henry René Albert Guy de Maupassant (1850-1893) é o filho mais velho de Gustave e Laure de Maupassant, os quais se separaram durante a sua adolescência passando, então, a viver em companhia da mãe, vítima de violentas crises nervosas. Na década de 1870 foi morar em Paris onde trabalhou como funcionário público até a publicação de sua primeira grande obra Bola de Sebo em 1880 que apresentava orientações de Gustave Flaubert, seu grande amigo. Esta década foi o período mais produtivo da vida literária de Maupassant, contando com a publicação de alguns romances, uma extensa lista de contos e novelas e diversos relatos de viagens. Dessa maneira, conquistou o coração do público francês e o de outros países, podendo ser considerado o escritor mais lido no mundo nos últimos anos do século XIX.
	Em consequência dos seus vários casos amorosos Maupassant contraiu sífilis, a qual ocasionando-lhe uma doença nervosa feita de angústias inexplicáveis e de alucinações. Estas sensações entranhas e opressivas foram registradas em contos como O Horla e É ele, contos tão célebres quanto assustadores. Após terríveis sofrimentos tentou, sem êxito, o suicídio no ano de 1892, porém, morreu no ano seguinte aos 43 anos de idade internado em um manicômio. Acredita-se que boa parte de sua tendência aos problemas nervosos possam ter sidos herdados de sua mãe.
	Maupassant foi escritor, poeta, romancista, mas eternizou-se como um dos maiores contistas de todos os tempos sendo considerado referência em literatura fantástica na França. Seus textos diferem das obras essencialmente realistas, pois o autor busca na imagem do cotidiano o momento que a vida foge da normalidade e vai ao encontro do inexplicável. Suas  narrativas variam, estão presentes em formas de diários, sonhos, diálogos, cartas, apresentam um vocabulário e uma sintaxe simples e há a predileção por alguns temas como a loucura, a alucinação, os seres de outro mundo - temas voltados para um estudo da alma e para o aprimoramento do conto e da literatura fantástica.
	O Horla de Guy de Maupassant, conto que aqui será analisado, pode ser considerado como uma das obras mais relevantes do autor. Foi publicado na França em 1886 tendo como tema o psicológico que está presente na forma de uma misteriosa narrativa, a qual é capaz de tornar seus acontecimentos levemente ambíguos.
	Alguns teóricos como Bloom (2001) afirmam que neste conto possa haver uma relação entre a doença de Maupassant e a temática desenvolvida no conto, a possibilidade da escrita ter se dado desta forma para mostrar aos leitores como é viver com sífilis e a premonição do autor perante a sua tentativa de suicídio.
	Este conto possui duas versões: uma primeira, mais resumida, que conta de maneira sucinta o que aconteceu com a personagem principal da narrativa; e a segunda, mais extensa, escrita em forma de diário - gênero que comporta a aproximação do leitor com o texto - na qual pode ser observado outros elementos sobre a vida e o comportamento do narrador/personagem. 
História
Segundo Genette história é uma série de acontecimentos, ou seja, episódios reais ou fictícios, independente de toda referência estética.
	O conto “O Horla” relata a história de um homem que vive na França por volta do século XIX. Sendo ele aparentemente são, entretanto, acaba descobrindo que sofre de alguma enfermidade. O personagem segue se sentindo atormentado e começa desconfiar que o seu verdadeiro problema não se trata de uma doença, mas sim de algum ser invisível, o qual está roubando sua paz. No decorrer do conto o protagonista tenta se libertar, pois se sente perseguido pelo suposto espírito que vem a chamar de Horla. Na tentativa de se libertar do Horla ele resolve armar um plano para destruí-lo, prendendo-o em seu quarto e causando um incêndio no local. O incêndio se espalha atingindo os demais cômodos da casa e acontece o inesperado, os empregados estavam no local e morrem queimados.
	Apesar de todo o esforço o protagonista sente que o Horla permanece vivo, é uma incógnita que o deixa ainda mais atormentado. Dessa forma, ele acredita que a única maneira de se livrar desse ser invisível seria através de um suicídio. 
Tempo e narrador
O tempo da narração no conto “O Horla” divide-se em ulterior e intercalada.
Segundo Genette a narração ulterior é a posição temporal mais freqüente. O narrador conta o que aconteceu num passado mais ou menos distante. Um exemplo desse tipo de narração pode ser encontrado na página dezoito que diz o seguinte: “Estou de volta. Curado. Aliás, fiz uma excursão agradável. Visitei o monte Saint-Michel, que não conhecia”. Neste momento o narrador conta como foi sua viagem a Avanches.
Já a narração intercalada é um tipo complexo de narração que alia a ulterior e a simultânea, o conto é basicamente narrado em forma de diário, dessa forma é relatado depois do ocorrido, o que se vive durante um ou mais dias inserindo as impressões do momento.
	Sobre o narrador, este é autodiegético, pois ele é homodiegético e ao mesmo tempo heroi da história. O fato de que O Horla é narrado em forma de diário deixa explicito essa concepção de narrador.
	A página 39 trás uma curiosidade no seguinte trecho: “ Vi loucos, lúcidos, até prudentes sobre todas as coisas da vida, com exceção de um ponto. Falavam de tudo com clareza, com flexibilidade, com profundidade, e de repente seu pensamento, tocando o recife de sua loucura, despedaçava-se, espalhava-se e desaparecia nesse oceano sinistro e furioso, repleto de ondas revoltas, de nevoeiros, de borrascas, que é chamado de demência”.
	O conto até então estava sendo narrado em primeira pessoa por uma espécie de narrador personagem, quando de repente, neste trecho sublinhado acima, encontra-se um suposto comentário do autor a respeito do protagonista. Para Friedman este poderia ser um narrador autor onisciente intruso. Este tipo de narrador tem a liberdade de narrar à vontade, de colocar-se acima, ou, como quer J. Pouillon, por trás, adotando um ponto de vista divino, como diria Sartre, para além dos limites de tempo e espaço. Pode também narrar da periferia dos acontecimentos, ou do centro deles, ou ainda limitar-se e narrar como se estivesse de fora, ou de frente, podendo, ainda, mudar e adotar sucessivamente várias posições. Como canais de informação, predominam suas próprias palavras, pensamentos e percepções. Seu traço característico é a intrusão, ou seja, seus comentários sobre a vida, os costumes, os caracteres, a moral, que podem ou não estar entrosados com a história narrada.
	Ainda seguindo o pensamento de Friedman, o restante do conto, exceto este pequeno trecho citando anteriormente, é narrado por um narrador protagonista: “o narrador personagem central, não tem acesso ao estado mental das demais personagens. Narra de um centro fixo, limitado quase que exclusivamente às suas percepções, pensamentos e sentimentos”. Este tipo de narrador contém características semelhantes ao que Genette chama de “focalização interna”, na qual o narrador sabe tanto quanto o personagem focalizado, sem contar os pensamentos de outros personagens.
Complexidades e ambiguidades. Entre o fantástico e o real 
	O conto de Maupassant, transcorre as fronteiras do real e do irreal, a cada página indaga seu leitor levando-o a criar teorias, teses e questionamentos sobre o que realmente está ocorrendo dentro da narrativa, ou aquilo que é do universo fantástico, do irreal.
	Acerca do gênero fantástico, encontra-se o formalista russo Todorov, o qual traz a definição deste gênero:
O fantástico ocorre nesta incerteza; [...] O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento aparentemente sobrenatural; [...]há um fenômeno estranho que se pode explicar de duas maneiras, por meios de causasdo tipo natural e sobrenatural. A possibilidade de se hesitar entre os dois criou o efeito fantástico.” (TODOROV, 1975, p.31)
	Desta citação, reconhecemos que no conto: O Horla, a complexidade e a imensidão de ambiguidades transcorrem do real ao irreal. O fenômeno presente na obra é a existência de um ser, uma entidade ou somente algo personificado da mente humana, denominado o Horla.
	O narrador-personagem, habitante de um mundo real mais especificadamente de uma cidade francesa é um ser humano como todos nós, porém, subitamente ele é colocado na presença do inexplicável, conduzindo o conto ao mistério.
	É possível encontrar no conto verossimilhanças do real. O primeiro item é cidade, o narrador-personagem mora em uma cidade francesa onde vive e compartilha sua vida com uma sociedade, tem-se também os seus empregados, que veem, ouvem e vivenciam as suas alucinações como no episódio dos copos quebrados: “Discussões entre meus empregados. Dizem que copos são quebrados, à noite nos armários” (MAUPASSANT, 2011, p. 37). A partir desta visão dos empregados poder-se-á dizer que é um evento que encontra-se fora dos eventos alucinógenos.
	Outro evento anterior no conto que nos revela um caráter de realidade  é quando o narrador encontra-se na casa de sua prima, senhora Sablé, e naquele lugar ouve sobre pesquisas científicas feitas na Escola de Nancy, uma escola que realmente existiu na França e foi uma das pioneiras nos estudos sobre hipnose, além de no mesmo momento existir a fala de um médico, representando a voz da ciência, sobre a incredulidade dos fatos inexplicáveis e tentando constantemente encontrar respostas para todas as coisas.
	O discurso ambíguo do narrador-personagem se inicia quando este não sabe o que realmente está ocorrendo consigo. No início da narrativa ele afirma que estaria triste, mas no decorrer ele se pergunta se estaria doente, louco ou sonâmbulo. Nem o médico, cujo o narrador se consulta não lhe provê um diagnóstico real, uma cura, deixando o leitor neste emaranhado de ambiguidades.
	Seguindo a linha daquilo representado como fantástico no conto, encontramos a hesitação do leitor, postulada por Todorov, que revela: “ O fantástico implica pois uma integração do leitor no mundo das personagens; define-se pela percepção ambígua que tem o próprio leitor dos acontecimentos narrados.” (TODOROV, 1975, p.37)
	Quando o leitor se depara com os dilemas e monólogos do narrador tem uma visão ambígua, muito característica do gênero em que o conto se apresenta - o diário - e começa a indagar-se: Quem seria esta entidade, este ser? Por quê quando o narrador está longe de casa a paz é constante e as alucinações com o Horla não o acompanham?
	O conto, diferentemente, do romance deixa-nos lacunas na sua compreensão, levando o leitor à dedução e questionamentos, construindo através destes itens a beleza da estrutura do conto, além disso, o seu clímax permanece por um tempo maior.
	Ligado a tal gênero, encontramos o narrador em primeira pessoa, o autodiegético, “que permite mais facilmente a identificação do leitor com a personagem. [...] Além disso, para facilitar a identificação, o narrador será um ‘homem médio’ em que todo (ou quase todo) leitor pode se reconhecer” (TODOROV, 1975, p.92). Para exemplificação tem-se:  “Terei perdido a razão? O que aconteceu na noite passada é de tal modo estranho que, quando penso nisso minha cabeça se perde” (MAUPASSANT, 2011, p. 23), nesta parte da narrativa, assim como o narrador, o leitor também não sabe exatamente o que está ocorrendo e toma para si os mesmos questionamentos feitos pelo narrador ao longo do texto.
	Outro trecho instigante é o episódio do espelho:
	Ergui-me de mãos estendidas, virando-me tão rápido que o fiz cair. E oh! Via-se como em pleno dia, e não me vi no espelho! ... Estava vazio, claro, profundo, repleto de luz! Minha imagem não estava ali... e eu estava em frente a ele! [...] não ousava mais fazer um movimento, sentindo porém que ele estava ali, mas que me escaparia de novo, ele cujo corpo imperceptível devorara meu reflexo. (MAUPASSANT, 2011, p. 54)
	Ao deparar-se com este trecho é possível perceber nitidamente a ambiguidade presente, pois tudo se confunde e deseja-se profundaente descobrir qual é o mistério presente no conto. Como um ser humano não consegue se enxergar no espelho? Seria este episódio uma alucinação do narrador-personagem ou algo real? 
	Ocorre uma grande hesitação, também, nos últimos momentos da narrativa quando o narrador-personagem coloca fogo na sua própria casa para matar o Horla e não percebe que seus empregados estão lá dentro, matando-os, porém ele não sabe, na verdade, se o Horla morreu ou não. 
	Dentre estes fatos de realidade dentro do conto aceitamos a tese, a qual Todorov postula, de que a literatura fantástica está entre a dúvida do que é real e irreal, embora deve-se lembrar que O Horla representa no seu todo uma obra de cunho fantástico.
 O simbolismo em “O Horla”. As relações dos elementos do real e do irreal.
	O conto “Horla” de Guy de Maupassant, além de abordar ambiguidade explicita em seu enredo, traz também grandes elementos simbólicos ao decorrer da trama. Tais elementos estão minuciosamente presente meio aos vários conflitos entre o real e o irreal, o que torna este impasse ainda mais surreal. Para uma abordagem teórica Hênio Tavares (1981) aborda o símbolo como uma “[...] imagem que vale por um sinal, ou conforme Hugh Walpole, ‘uma palavra usada referencialmente’.”, a partir desta definição, podemos encontrar e analisar no conto alguns símbolos que se evidenciam conforme a leitura da obra e que servirão de objeto de estudo para esta análise, são eles: a casa, o vento e as cores e também alguns elementos aleatórios que aparecem durante o conto.
	Logo no início do conto fica evidente o cenário onde o personagem se encontra “Passei a manhã inteira estendido na relva, em frente à minha casa,[...]. Adoro esta região e adoro viver aqui, porque é onde estão minhas raízes que ligam um homem à terra em que nasceram e morreram seus antepassados[...]. Adoro a casa em que cresci.” (MAUPASSANT, 2011, p. 11), fica evidente a ligação intima que o personagem tem com sua casa, objeto que também servirá de cenário para todos os acontecimentos futuros. Para alguns estudiosos literários, como Juan-Eduardo Cirlot (2005), a casa é um símbolo que carrega um grande significado em seu contexto, para ele a casa “[...] por seu caráter de vivenda, produz-se espontaneamente uma forte identificação entre esta e o corpo e pensamentos humanos [...].”
	A casa relaciona-se diretamente com os personagens que a ocupam, neste momento da trama, o personagem se encontra em total tranquilidade, estado emocional que é perceptível ao passo que encontramos no conto trechos como: “Que dia admirável!”; “Adoro esta região [...]”; “Que manhã agradável.”, a casa, neste momento, se apresenta como o lar do personagem, local de tranquilidade e aconchego, características que se alterarão ao decorrer do conto. 
	A partir da página dose, o personagem relata que começa a se sentir mal até se declarar doente, o que o leva a se ausentar por alguns dias, abandonando sua casa (local de aconchego e tranquilidade), quando volta de sua viagem, o personagem logo relata “Estou de volta. Curado. Aliás, fiz uma excursão agradável.”, o uso do termo “agradável” nos mostra que o personagem se encontra no mesmo estado emocional com que iniciara o conto. A casa, neste momento, perde seu total significado de tranquilidade, pois o fato de ter que abandoná-la para se sentir melhor, a torna menos aconchegante do que deveria ser. 
	 Ao longo do conto, o principal cenário no qual ocorrem os acontecimentos, a casa, torna-se habitação de um “ser” desconhecido, o Horloa, que torna este ambiente desconfortável para o personagem principal, tal hipótese é defendida quando observamos no conto, que tal “ser” não acompanha o personagem durante sua viagem, estes estranhos fenômenos acontecem apenas na casa onde o personagem habita. 
	Ao fim do conto, depoisde ter sido atormentado constantemente pelo Horla, o personagem ateia fogo em sua própria casa, que por fim torna-se por si próprio, um cenário de destruição, maldade, ódio e rancor. Segundo Jean Chevalier (1906) a destruição pelo fogo “[...] implica também, evidentemente, um lado negativo; e o domínio do fogo é igualmente uma função diabólica.”, a dominação do fogo, durante o incêndio da casa é narrado no trecho “[...] e uma grande chama vermelha e amarela, longa, lânguida, carinhosa, subiu por toda parede branca, beijando-a até o teto.”, assim, toda negativa do conto se encontra presente neste momento, a ação do fogo e do ódio por parte do personagem se mesclam em uma atmosfera densa e pesada que leva o leitor a uma epifania comunal ao se deparar com tal ação. 
	O vento é outro símbolo presente no conto, tal elemento, muitas vezes, passa despercebido pelos olhos dos leitores o que o torna um elemento superficial, entretanto, tal símbolo traz em si várias explicações, Jean Chevalier (1906), explica que: “O simbolismo do vento apresenta vários aspectos. Devido à agitação que o caracteriza, é símbolo de vaidade, de instabilidade, de inconstância.”. Como vemos no conto Horla, sempre que o elemento vento é citado, há em seguida uma serie de característica que o definem, por exemplo, na página vinte e vinte um, o autor principal ao subir o monte (símbolo do encontro entre o céu – morada dos deuses - e a terra – moradas dos homens, ou também, símbolo da elevação interna – ascensão espiritual – defendido por Teillard (apud Cirlot, 2005) em seu livro Dicionário de Símbolos), o personagem encontra um monge e logo admira o lugar onde vive: “Irmão, como você deve viver bem por aqui!”, em seguida o monge dá uma resposta inesperada: “Venta muito, senhor.”, qual seria a relação do ventar muito com o local onde o monge vive? Tentando responder essa pergunta, derivamos a hipótese de que o vento é a representação de algo que esta acima dos olhos humanos. O monge continua sua fala indagando o personagem principal: “Será que vemos a centésima milésima parte do que existe? (Ver o que está acima dos olhos dos homens, o que é invisível para uns e não para outros) Veja só o vento, que é a maior força da natureza, que derruba os homens, abate as construções, desenraiza as árvores, eleva o mar em montanhas de água, destrói as falésias, arremessa para os recifes os grandes navios, o vento que mata, assobia, geme, muge, você já o viu ou pode vê-lo? E no entanto ele existe.” 
	O vento por mais invisível e transparente que seja, ele existe e esta presente em todos os lugares, por isso é responsável por trazer e levar as boas e más condolências dos seres humanos. No conto o vento seria, talvez, o responsável por trazer ou não, o Horla para a casa do personagem, pois, assim como para os gregos, o vento era uma figura perturbada e turbulenta, eram assimilados aos deuses Aquilão, Béreas, Auster e Zéfiro e cada um deles correspondia uma iconografia, ou seja, uma representação particular e individual. Só por estar sendo associado aos deuses clássicos, o símbolo do vento atrai uma característica mística, é algo que está acima dos homens, aquilo que não pode ser igualado ou tocado pelos seres humanos, para melhor explicar essa relação, o vento seria o tudo que o ser humano não consegue enxergar mesmo estando tão próximo de si. 
	Outro símbolo que se torna marcante ao decorrer do conto são as cores usadas por Guy de Maupassant, destacamos ao decorrer da obra, as cores que nos são apresentadas: o azul dos telhados, a cor branca da casa, a cor vermelha da rosa e as chamas vermelhas e amarelas do incêndio.
	As casas dessa região possuem telhados de cor azulada, o que para alguns simbolistas faz uma ligação indestrutível com os pensamentos humanos. Cito Jolande Jacobi (apud Cirlot, 2005), psicóloga que diz literalmente: “A coordenação das cores com as funções (psíquicas) respectivas muda com as diferentes culturas e grupos humanos, e mesmo entre os diversos indivíduos. Mas, por regra geral..., a cor azul – cor do espaço e do céu claro – é a cor do pensamento[...]”. Os telhados de cor azul nos trazem um referencial neutro e puro, como citado por Jean Chevalier (1906): “Uma superfície repassada de azul já não é mais uma superfície, um muro azul deixa de ser um muro. É o caminho do infinito, onde o real se transforma em imaginário.”, assim reforçamos a hipótese de que tudo o que acontece no conto, também poderia ser invenção da imaginação do personagem, característica marcada também pela forma fantástica abordada no conto, pois o fantástico ocorre nesta incerteza. 
	Sobre à casa de cor branca, reforçamos nossa hipótese de ser inicialmente um local de tranquilidade e passividade, a cor branca recebe uma entre muitas descrições simbólicas apresentas por Jean Chevalier (1906), como a “[...] cor iniciadora, [...], em sua acepção diurna, a cor da revelação, da graça, da transfiguração que deslumbra e desperta o entendimento, ao mesmo tempo em que ultrapassa: é a cor da teofania (manifestação de Deus), [...]”, o que podemos parafrasear como tranquilidade, passividade entre outros.
	A cor vermelha, presente tanto no incêndio ao final do conto como na rosa colhida pelo suposto ser, chamado Horla, transcende um significado universal e fundamental do principio da vida, traz consigo a referência da força, do poder e do brilho. Assim como é reconhecido como símbolo universal da vida, a rosa colhida pelo ser, o torna presente e vivo, pois ele é capaz de colhê-la e ainda mais, cheirá-la, como descrito no conto: “Depois a flor se elevou, fazendo uma curva que teria descrito um braço que a trazia para uma boca, e ficou suspensa no ar transparente, muito sozinha, imóvel[...]”, a cor vermelha apenas reforça a idéia de vivacidade que o Horla assume neste momento. 
	Por fim, as últimas cores que aparecem no conto, são as cores vermelho e amarelo, do fogo causado pelo próprio personagem, tais cores, neste momento, referem-se ao seu lado negativo: o fogo com essa tonalidade significada simbolicamente, a obscureça e o sufocamento, a queima e a destruição, são as chamas com tais tonalidades, que devora e destrói. O fogo em sua interpretação terrestre, como citado por Paul Diel (apud Chevalie, 1906), refere-se ao intelecto, a consciência com toda sua ambivalência. A chama ao elevar-se para o alto refere-se ao impulso em direção a espiritualização, relacionando com o conto, a destruição pelo fogo,totaliza toda a angustia que o personagem sentia ao se defrontar com alguma coisa que ele e nos também desconhecemos. 
Considerações finais 
Contudo, o conto “O Horla” de Guy de Maupassant, nos leva para uma dimensão imagética incontestável, as relações de oposições reforçam os efeitos que o autor deseja causar no leitor: o real vs o irreal, o fantástico vs o maravilhoso, a ciência vs o lúdico. Tais efeitos nos tiram das noções lúcidas do presente e do real, os símbolos presente no conto auxiliam na criação da atmosfera de efeitos: as vezes imagética, as vezes densa e ainda, as vezes real, o que faz do conto uma obra esplêndida cheia de mistérios e intrigas, fatos que deixam os leitores intrigados com a leitura do conto. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CRUZ, Magnólia de Negreiros; SOUSA, Rodrigo Fernades de. “O Horla” de Guy de Maupassant: entre o fantástico e o duplo. Disponível em: <http://editorarealize.com.br/revistas/enlije/trabalhos/07bf78b6d205980fedbe14c3f99bad49_307_258_.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2014.
MAUPASSANT, Guy de. O Horla; A cabeleireira; A mão; O colar. Trad. de: Paola Felts Amaro. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2011.
TODOROV, Tezvetan. Introdução à literatura fantástica. Trad. de: Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Editora Pespectiva, 1975.
CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de Símbolo. Trad. de: Rubens Eduardo Ferreira Frias. São Paulo, 2005. 
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). Rio de Janeiro: José Olympio, 1988

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