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PLTL_08 Pequena introdução sobre análise de narrativa-1

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Pequena introdução 
sobre análise de 
narrativa
Elementos da narrativa
 Enredo
 Personagens
 Tempo
 Espaço
 Narrador
Elementos da narrativa
 Enredo
 Personagens
 Tempo
 Espaço
 Narrador
Elementos da narrativa
 Enredo
 Diegese e discurso ou fábula e trama ou história e enredo
 Personagens
 Protagonistas, antagonistas; principais e secundários; planos, redondos e planos com tendência a 
redondo
 Tempo
 Cronológico e psicológico
 Flashback e flashfoward ou analepses e prolepses
 Espaço
 Narrador
 Primeira ou terceira pessoa
 Focalização
Elementos da narrativa
Narrador
“A narrativa revelará sempre a marca do narrador, assim
como a mão do artista é percebida, por exemplo, na obra
de cerâmica” (Walter Benjamin)
RESPONSÁVEIS 
PELO TEXTO
Externo
Autor
Condicionado 
socioculturalmente
Não assume a palavra 
dentro da narrativa
Interno
Narrador/eu-
lírico
Condicionado pela 
narrativa
Assume a palavra dentro 
da narrativa
Elementos da narrativa
Narrador
Extradiegético x Intradiegético
Elementos da narrativa
Narrador
Primeira ou terceira pessoa
Heterodiegético (3ª pessoa, Outro, vê de fora dos fatos)
Madame Bovary, de Gustave Flaubert
Homodiegético (1ª pessoa, outro, vê de dentro dos fatos)
Sherlock Holmes (Watson)
Autodiegético (1ª pessoa, fala de si)
Elementos da narrativa
Narração metadiegética (Genette) ou hipodiegética
(Carlos Reis), uma narração de uma personagem
que conta uma história na qual surgirá outra
personagem a contar outra história.
O Bugio Moqueado, Monteiro Lobato
A Aranha, Orígenes Lessa
Mise en abyme – narrativa em “abismo”, quando uma
narrativa contém outras narrativas
NARRATIVA 
HIPODIEGÉTICA: 
FUNÇÕES
Explicativa
Clareia as conexões 
causais entre 
eventos diegéticos e 
hipodiegéticos
Temática
Introduz temas que 
instituem relações 
de similitude 
Elementos da narrativa
 Focalização
 Narrador “autor” onisciente intruso (“Deus”, que observa, opina e julga os acontecimentos)
 Narrador onisciente “neutro” (Outro/tentativa de neutralidade, com mais sumário e menos
cena/ ausência de intrusões)
 “Eu” como testemunha (eu conto sobre alguém próximo a mim)
 Narrador protagonista (eu conto sobre mim)
 Onisciência seletiva múltipla (sabe tudo o que se passa com vários personagens/discurso
indireto livre)
 Onisciência seletiva (sabe tudo o que se passa com um personagem)
 Modo dramático (uso exclusivo da cena/fala/discurso direto)
 Câmera (flashes da realidade/pseudoneutralidade)
eles eram 
muitos cavalos
O tempo
Hoje, na Capital, o céu estará variando
de nublado a parcialmente nublado.
Temperatura – Mínima: 14°; Máxima:
23°.
Qualidade do ar oscilando de regular a
boa.
O sol nasce às 6h42 e se põe às 17h27.
A lua é crescente.
Elementos da narrativa
 Personagens
 Quanto à caracterização
 Planas: tipo/estereótipo (Há? Quem são?)
 Planas com tendência a redonda
 Redondas: características físicas, psicológicas, sociais, ideológicas, morais
 Quanto à participação na narrativa
 Protagonista: herói ou anti-herói
 Antagonista
 Principal ou secundária
Macunaíma (o herói 
sem nenhum caráter)
No fundo do mato-virgem nasceu
Macunaíma, herói de nossa gente. [...] Já
na meninice fez coisas de sarapantar. De
primeiro: passou mais de seis anos não
falando. Se o incitavam a falar, exclamava:
– Ai! que preguiça!... e não dizia mais
nada.[...]
Quando era pra dormir trepava no macuru
pequeninho sempre se esquecendo de
mijar. Como a rede da mãe estava por
debaixo do berço, o herói mijava quente
na velha, espantando os mosquitos bem.
Então adormecia sonhando palavras-feias,
imoralidades estrambólicas e dava
patadas no ar.
Personagem
 Personagem vem do Latim, persona(m), cujo significado é, máscara de ator de teatro.
 Em português, pode ser O personagem ou A personagem. Este último, devido à origem do
termo em latim [persona].
 As personagens são arquitetadas pela fantasia do prosador e atuam no interior da narrativa
literária; têm por função simular/modular pessoas, comportamentos e sentimentos reais. Por
isso, são construídas à imagem e semelhança dos seres humanos. Se bem construídas, nelas,
teremos a impressão de pessoas vivendo situações e dilemas semelhantes aos nossos.
 A personagem só existe na história se dela participa, ou seja, se age ou fala. Se uma
determinada personagem é apenas mencionada na história por outras personagens, mas não
participa direta ou indiretamente das ações, não será considerada uma personagem.
Funções das personagens
 Protagonista (do Grego, protagonistés) - É a personagem principal em
torno do qual se constrói toda a trama. O protagonista pode ser
caracterizado como herói ou anti-herói. Em nossa literatura é muito
frequente o anti-herói como protagonista.
 Há narrativas em que existem co-protagonistas.
 Antagonista (do Grego, antagonistés) - é a personagem que cria o
clima de tensão, opondo-se ao protagonista.
 Protagonista e antagonista são caracterizados, na linguagem popular como
"mocinho e bandido". Em outros termos, herói e vilão.
Funções das personagens
 Personagens Secundárias e Figurantes - personagens sem grande
importância na narrativa. As secundárias participam na ação, no entanto,
não desempenham papéis decisivos. Os figurantes não têm qualquer
participação no desenrolar da ação, cabendo-lhe apenas ajudar a compor
um ambiente ou espaço social.
 Par romântico: representa o objeto de afeto do protagonista, às vezes dividido
com o antagonista. Relaciona-se com o mito do amor romântico.
 Comic relief: conceito relativamente novo, é uma categoria que inclui os
personagens de função predominantemente humorística, como "amigos" e
"ajudantes" do protagonista; um exemplo é o personagem Pateta em relação ao
Mickey.
 “Sidekick”: parceiro ajudante, não necessariamente cômico e comum em
histórias de super-heróis. Ex.: Robin
Caracterização das personagens
 Indivíduos - são personagens que possuem características pessoais
marcantes, que acentuam a sua individualidade. Em Dom
Casmurro (Machado de Assis), Capitu é uma personagem indivíduo.
Observe:
“Na verdade, Capitu ia crescendo às carreias, as formas arredondavam-
se e avigoravam-se com grande intensidade; moralmente a mesma
coisa. Era mulher por dentro e por fora, mulher à esquerda e à direita,
mulher por todos os lados, e desde os pés a cabeça. (...); os olhos
pareciam ter outra reflexão, e a boca outro império.”
Caracterização das personagens
 Caricaturais - são personagens cujos traços de personalidade ou padrões de
comportamento são propositalmente acentuados (às vezes beirando o ridículo) em
função do cômico ou da sátira. São personagens muito comuns, principalmente, em
novelas de televisão. Pedro, de A Polaquinha, de Dalton Trevisan, por exemplo, é um
motorista de ônibus cujas taras sexuais, grosseria e ignorância são ampliadas de tal
forma exagerada. Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um Sargento da
Milícia, nos descreve uma personagem caricatural:
“Era a comadre uma mulher gorda, bonachona, ingênua ou tola até certo ponto, [...]
todos a conheciam por muito beata e pela mais desabrida papa-missas da cidade. Era
a folinha mais exata de todas as festas religiosas que aqui se faziam; sabia de cor os
dias em que se dizia a missa em tal ou tal igreja, como a hora e até o nome do vigário;
era pontual à ladainha, ao terço, à novena; não lhe escapava via-sacra, procissão,
nem sermão.“
Caracterização das personagens
 Típica ou Tipos – são personagens identificados pela profissão, pelo comportamento,
pela classe social, enfim, por um traço distintivo comum a todos os indivíduos duma
categoria. Personagem Tipo seria o jornalista, o estudante, a dona-de-casa, a
solteirona etc. É o caso, por exemplo, da maioria das personagens de Memórias de
um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, como o Barbeiro, a
Parteira, o Major, osCiganos, etc. O mesmo vale para a maioria dos personagens de
Gil Vicente. Rodrigo Cambará, no romance Um Certo Capitão Rodrigo, de Érico
Veríssimo, também é uma personagem tipo, pois se caracteriza pelos gestos, roupas,
fala e atos de um típico gaúcho (o mesmo ocorre com o Analista de Bagé, de Luís
Fernando Veríssimo). Nos romances de Jorge Amado, são as prostitutas, beatas e
coronéis, que têm comportamentos padronizados socialmente.
Evolução das personagens
 Planas ou Estacionárias – são personagens construídas em redor de uma única qualidade ou defeito. Por
isso, não tem profundidade psicológica, e não alteram seu comportamento no decorrer da narrativa. São
personagens estáticas, definidas em poucas palavras, por um traço, por um elemento característico
básico, que as acompanha durante toda a história. É o irônico que está sempre fazendo ironias, o chato
que só sabe ser chato, ou seja, são personagens que não apresentam contradições: são sempre boas ou
más; corajosas ou mentirosas; malandras ou trabalhadoras. Como exemplo, podemos citar Iracema, do
romance Iracema, de José de Alencar; e Sinhá Vitória, em Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
 As personagens planas, normalmente, são caracterizadas como tipo ou caricatural.
 Redondas, Esféricas ou Evolutivas – são personagens complexas; definidas por vários traços diferentes,
cheias de contradições; apresentam comportamentos imprevisíveis, enigmáticos, que vão sendo
definidos no decorrer da narrativa, evoluindo e, muitas vezes, surpreendendo o leitor. Ora são covardes,
ora corajosas; ora possuem virtudes, ora defeitos; enfim, expressam a verdadeira natureza humana. A
personagem-protagonista de João do Santo Cristo do texto Faroeste Caboclo, é evolutiva, pois é uma
mistura de santo e bandido. Capitu também.
“Existência” das personagens
 Real ou histórica: São personagens que existem ou existiram. São geralmente citadas em obras
históricas ou jornalísticas.
 Fictícia ou ficcional: São personagens que não existem e são criadas pela imaginação do
autor, embora em alguns casos elas sejam inspiradas em pessoas reais.
 Real-ficcional: São personagens reais, mas com personalidade fictícia.
 Ficcional-ficcional: São personagens ficcionais dentro de obras ficcionais.
 Ficcional-real: São personagens inicialmente ficcionais, mas que passam a existir no mundo
real. Personagens colocadas em prática por encenação no convívio com pessoas reais, as
quais não sabem tratar-se de uma personagem. Conceito muito utilizado em "pegadinhas" da
TV, sendo uma das mais conhecidas a personagem Borat.
Exemplo
TRAGÉDIA BRASILEIRA
(MANUEL BANDEIRA)
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa-prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma
aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou
médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria,
Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marques de Sapucaí, Niterói, Encantado,
Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do
Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência,
matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal,
vestida de organdi azul.
Classificação das personagens
 Misael: De acordo com a posição interpretativa de quem lê, pode ser classificada
como plana ou plana com tendência a redonda, porque sua reação final, o
assassinato, pode ou não ser considerado como previsível. Ainda, de acordo com
os autores, essa personagem não tem densidade suficiente para ser considerada
redonda.
 Maria Elvira: Na parte inicial da narrativa, a descrição desta personagem permite
que a caracterizemos como plana-estereótipo, pois caricaturiza a prostituta doente,
decadente e miserável. Após o concubinato com Misael, Maria Elvira se classifica
como plana-tipo, pois deixa de ser uma caricatura da prostituta decadente para
encarnar a promiscuidade e a traição da mulher infiel.
 Médico, dentista, polícia, manicura e namorados de Maria Elvira: classificados como
planas-tipo, porque são definidas pela simples identificação de fundo social.
Classificação das personagens
 Misael, Maria Elvira e os namorados de Maria Elvira, são fundamentais.
Em relação ao grau de importância para o desenvolvimento do
conflito dramático, os autores classificam como:
 Principais ou protagonistas: Misael e Maria Elvira.
 Secundárias: Namorados de Maria Elvira, o médico, o dentista, a
manicura e a polícia. Embora o texto não coloque em relevo os
namorados, eles, apesar de secundários, são essenciais para o
desenvolvimento do conflito dramático.
Chuck Noland (Tom Hanks) e Wilson
(O Náufrago – The Castaway)
Wilson é personagem? Que tipo de personagem é Noland?
Iracema
(José de Alencar)
Personagem principal ou
coadjuvante?
Indivíduo, caricatural ou tipo?
Plana ou redonda?
Histórica, real-ficcional, ficcional-
ficcional ou ficcional-real?
Walter White – Heisenberg
(Breaking Bad)
Herói ou anti-herói?
Indivíduo, caricatural ou tipo?
Plana ou redonda?
Malévola / 
Rainha Má
Indivíduo, 
caricatural ou
tipo?
Plana ou
redonda?
Jessica Jones e 
Trish Walker
Indivíduo, 
caricatural ou
tipo?
Plana ou
redonda?
Trish: sidekick?
Baleia
(Vidas Secas)
É personagem?
Indivíduo, 
caricatural ou
tipo?
Plana ou
redonda?
Macunaíma
(Mário de Andrade)
Herói ou anti-
herói?
Indivíduo, 
caricatural ou
tipo?
Plana ou
redonda?
Sr. Barriga e Sr. 
Madruga
Planos ou
redondos?
Indivíduos, 
tipos ou
estereótipos?
Antagonista? 
Anti-herói?
Chaves e Quico
Quico como co-
protagonista?
Sidekick?
Planos ou
redondos?
Indivíduos, tipos
ou estereótipos?
Sherlock Holmes e 
Watson
Watson como co-
protagonista?
Sidekick?
Planos ou
redondos?
Indivíduos, tipos
ou estereótipos?
Coringa - Joker
(Batman)
Plano ou
redondo?
Indivíduo, tipo
ou estereótipo?
Tempo
“O ficcionista é senhor do espaço e do tempo em que a 
própria vida humana se realiza. É assim que podemos 
acompanhar Henry Esmond ao longo de toda a sua vida e 
que Hamlet poucas horas passará conosco. Em um dia de 
leitura podemos viver anos e anos da existência das 
personagens de uma ficção.”
(João Gaspar Simões, Ensaio sobre a Criação no Romance)
Tempo
 O tempo na narrativa é o período que assinala o percurso cronológico
(tempo de um acontecimento) que vai do início ao fim da história.
Muitas histórias se passam em um curto período de tempo; outras têm
um enredo que se estende por muitos anos. O tempo em um conto,
geralmente é mais curto em relação ao romance e a novela, nestes o
transcurso do tempo é mais dilatado. No romance, novela e conto, o
tempo é fictício, ou seja, correspondem aos eventos da história. Por
isso, o tempo da história nem sempre coincide com o tempo em que
ela foi escrita ou publicada. Exemplo: "O Nome da Rosa“, de Umberto
Eco - sua narrativa se desenrola na Idade Média, embora tenha sido
escrito há pouco tempo.
Tempo
 É importante também, não confundir o tempo do narrador com
o tempo da ação (eventualmente pode ser o mesmo). Observe, no
fragmento de O Ateneu (Raul Pompéia): "Eu tinha onze anos", afirma o
personagem-narrador. Pelo pronome pessoal e o verbo no pretérito
podemos perceber que o tempo da ação está no passado, mas, o da
narração, no presente da história. O personagem-narrador na sua vida
adulta narra fatos acontecidos durante a sua pré-adolescência. Por
ser uma narrativa ficcional e não histórica, a cronologiacria o seu
tempo interno, atendendo a lógica temporal de passado, presente,
futuro.
Tempo - características
 Tempo
 Época
 Duração
Cena (discurso direto)
 Sumário (discurso indireto)
 Elipse (exclusão de acontecimentos)
 Pausa descritiva (alongamento descritivo)
Digressão (pausa para comentários do narrador)
A paixão segundo G.H.
[...] Teria que ser assim, como uma menina que
estava sem querer alegre, que eu ia comer a
massa da barata.
Então avancei.
Minha alegria e minha vergonha foi ao acordar
do desmaio. Não, não fora desmaio. Fora mais
uma vertigem, pois que eu continuava de pé, [...]
Mas eu sabia, antes mesmo de pensar, que,
enquanto me ausentara na vertigem, ‘alguma
coisa se tinha feito’.
Eu não queria pensar mas sabia. Tinha medo de
sentir na boca aquilo que estava sentindo, tinha
medo de passar a mão pelos lábios e perceber
vestígios. E tinha medo de olhar para a barata –
que devia ter menos massa branca sobre o dorso
opaco...
Madame Bovary
Na base da encosta, passada uma ponte,
começa uma calçada ladeada de pequenos
choupos que leva, em linha reta, até às
primeiras casas do lugar. Estas são rodeadas
de sebes, no meio de pátios cheios de
construções dispersas, lagares, cocheiras e
alambiques, espalhados à sombra de
frondosas árvores com escadas, varas ou
foices penduradas nos ramos. [...] Ao muro de
reboco, atravessado em diagonal por traves
negras, agarra-se às vezes alguma pereira
enfezada, e os pavimentos do rés-do-chão
têm na porta uma pequena cancela para os
defender dos pintos que vêm debicar, nas
soleiras, migalhas de pão escuro molhado em
sidra. [...]
Dom Casmurro
CAPÍTULO CXIX
NÃO FAÇA ISSO, QUERIDA
A leitora, que é minha amiga e
abriu este livro com o fim
de descansar da cavatina de
ontem para a valsa de hoje, quer
fechá-lo às pressas, ao ver que
beiramos um abismo. Não faça
isso, querida; eu mudo de rumo.
Elementos da narrativa
 Tempo
Cronológico (ou histórico, ou objetivo)
Psicológico (ou imaterial, ou metafísico, ou subjetivo)
Tempo cronológico
 É marcado pelo ritmo do relógio, pelo movimento do sol (alternância dia-noite), pelo
calendário, pelas estações do ano, etc. É o tempo objetivo, visível ao leitor mais
desprevenido: este vê a história desenrolar-se à sua frente, obediente a uma
cronologia histórica definida. Às vezes, o próprio ficcionista indica, na introdução da
história, as datas em que os fatos se sucedem. E mesmo que não as indique, o
próprio texto se incumbe de oferecer os dados que servem à orientação do leitor,
ordenados segundo a cronologia do relógio. Exemplo: 2º capítulo de Senhora (José
de Alencar), logo no início:
 “Seriam nove horas do dia. Um sol ardente de março esbate-se nas venezianas que
vestem as sacadas de uma sala, nas laranjeiras.”
Tempo cronológico
 O processo narrativo no tempo cronológico pode apresentar os fatos no momento
em que estão acontecendo, isto é, no presente da história, ou, então, no passado,
quando já perfeitamente concluídos. Da mesma maneira, pode também entremear
presente e passado, utilizando a técnica de flashback. José de Alencar, em Senhora,
também trabalha o flashback, narrando o casamento de Aurélia e Fernando até a
noite de núpcias, quando, então, promove um corte e passa a narrar fatos anteriores
ao casamento, para finalmente retomar fatos acontecidos depois do casamento.
 O flashback cumpre papel importante na caracterização dos personagens e na
introdução de elementos explicativos do passado para os conflitos do presente da
narrativa.
Tempo psicológico
 Não obedece à cronologia, não mantém nenhuma relação com o tempo
propriamente dito, cuja passagem é alheia a nossa vontade. O tempo psicológico
transcorre no interior de cada personagem (ou de cada ser humano), numa ordem
determinada pelo desejo ou pela imaginação do narrador ou dos personagens e
reflete suas vivências subjetivas, suas angústias e ansiedades. É o tempo interior que
se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito em que se encontra. Falas
como “Ah, o tempo não passa...” ou “Esse minuto não acaba!” refletem o tempo
psicológico. Daí, dizer-se que o tempo psicológico altera-se de pessoa para pessoa.
O que importa é o momento da personagem, suas emoções e reflexões. Por isso,
através de seus devaneios e memórias ele poderá ir ao passado e ao futuro, sem
obedecer à ordem do tempo cronológico.
Tempo psicológico
 Exemplo: passagem do conto Missa do Galo(Machado de Assis), em que o narrador-
personagem espera a meia-noite da véspera de Natal: “Os minutos voavam, ao
contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas,
mas quase sem dar por elas, um acaso”.
 O tempo para o narrador-personagem se encurta. É o tempo psicológico, o tempo
interior que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito da personagem.
 O flashback também serve à construção do tempo psicológico (memórias).
Tomemos como exemplo, São Bernardo (Graciliano Ramos). Nele Paulo Honório
(narrador-personagem) é perseguido pela lembrança da esposa morta, Madalena,
todos os dias ao cair da noite.
Recursos estéticos do tempo
 Tempo cronológico ou psicológico [objetivo ou subjetivo]
 Cronológico (ou Histórico)
Analepses (flashbacks)
 Prolepses (flashfoward)
 Psicológico (ou Imaterial, ou Metafísico)
Monólogo interior (diálogo consigo/sem perda de consciência)
Análise mental (dupla perspectiva/não perde nem a consciência nem o
domínio da situação real)
 Fluxo de consciência (há traços de perda de consciência)
Analepses (flashbacks)
 Prolepses (flashfoward)
Ulysses
o sol brilha para você ele me disse no dia em
que estávamos deitados entre os rododendros
no cabo de Howth com seu terno de tweed
cinza e seu chapéu de palha no dia em que eu
o levei a se declarar sim primeiro eu lhe dei um
pedacinho de doce de amêndoa que tinha em
minha boca e era ano bissexto como agora sim
há 16 anos meu Deus depois daquele longo
beijo quase perdi o fôlego sim ele disse que eu
era uma flor da montanha sim certo somos
flores todo o corpo da mulher sim foi a única
coisa verdadeira que ele me disse em sua vida
e o sol está brilhando para você hoje sim por
isso ele me agradava vi que ele sabia ou sentia
o que era uma mulher e tive a certeza de que
poderia sempre fazer dele o que eu quisesse e
dei-lhe todo prazer que pude para levá-lo a me
pedir o sim e eu não quis responder logo só
fiquei olhando para o mar e para o céu
pensando em tantas coisas que ele não sabia
(...)
Enseada Amena
Um dia, faltam mais de quatro
meses, o Osório há-de dizer ao
Alpoim, ao Alpoim que neste
instante está lá à frente, no
tempo, à espera dele(...)
O Alpoim – ele ainda está neste
momento fora desta história e é
como se não existisse, embora
já tenha trinta e oito anos, ele,
que não conhece a Maria José,
a qual, aliás, há de vir a desejar
profundamente – respondera(...)
Cem anos de 
solidão
Muitos anos depois, diante
do pelotão de fuzilamento, o
Coronel Aureliano Buendía
haveria de recordar aquela
tarde remota em que seu pai
levouo a conhecer o gelo.
(prolepse analéptica)
Tempo
 Frequência
 Singulativa (igualdade entre nº de acontecimentos e nº de 
apresentações)
 Repetitiva (nº de apresentações > nº de acontecimentos)
 Iterativa (nº de acontecimentos > nº de apresentações)
Esta história poderia chamar-se "As Estátuas". Outro nome possível é "O
Assassinato". E também "Como Matar Baratas". Farei então pelo menos três histórias,
verdadeiras, porque nenhuma delas mente a outra. Embora uma única, seriam mil e
uma, se mil e uma noites me dessem.
A primeira, "Como Matar Baratas", começa assim: queixei-me de baratas.
Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de como matá-las. Que misturasse
em partes iguais açúcar, farinha e gesso. A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso
esturricaria o de dentro delas. Assim fiz. Morreram.
A outra história é a primeira mesmo e chama-se "O Assassinato". Começa
assim: queixei-mede baratas. Uma senhora ouviu-me. Segue-se a receita. E então
entra o assassinato. A verdade é que só em abstrato me havia queixado de baratas, que
nem minhas eram: pertenciam ao andar térreo e escalavam os canos do edifício até o
nosso lar. Só na hora de preparar a mistura é que elas se tornaram minhas também. Em
nosso nome, então, comecei a medir e pesar ingredientes numa concentração um
pouco mais intensa. Um vago rancor me tomara, um senso de ultraje. De dia as baratas
A quinta história (Clarice Lispector)
eram invisíveis e ninguém acreditaria no mal secreto que roía casa tão tranquila. Mas
se elas, como os males secretos, dormiam de dia, ali estava eu a preparar-lhes o
veneno da noite. Meticulosa, ardente, eu aviava o elixir da longa morte. Um medo
excitado e meu próprio mal secreto me guiavam. Agora eu só queria gelidamente uma
coisa: matar cada barata que existe. Baratas sobem pelos canos enquanto a gente,
cansada, sonha. E eis que a receita estava pronta, tão branca. Como para baratas
espertas como eu, espalhei habilmente o pó até que este mais parecia fazer parte da
natureza. De minha cama, no silêncio do apartamento, eu as imaginava subindo uma a
uma até a área de serviço onde o escuro dormia, só uma toalha alerta no varal. Acordei
horas depois em sobressalto de atraso. Já era de madrugada. Atravessei a cozinha. No
chão da área lá estavam elas, duras, grandes. Durante a noite eu matara. Em nosso
nome, amanhecia. No morro um galo cantou.
A terceira história que ora se inicia é a das "Estátuas". Começa dizendo que eu
me queixara de baratas. Depois vem a mesma senhora. Vai indo até o ponto em que, de
A quinta história (Clarice Lispector)
madrugada, acordo e ainda sonolenta atravesso a cozinha. Mais sonolenta que eu está
a área na sua perspectiva de ladrilhos. E na escuridão da aurora, um arroxeado que
distancia tudo, distingo a meus pés sombras e brancuras: dezenas de estátuas se
espalham rígidas. As baratas que haviam endurecido de dentro para fora. Algumas de
barriga para cima. Outras no meio de um gesto que não se completaria jamais. Na
boca de umas um pouco da comida branca. Sou a primeira testemunha do alvorecer
em Pompéia. Sei como foi esta última noite, sei da orgia no escuro. Em algumas o
gesso terá endurecido tão lentamente como num processo vital, e elas, com
movimentos cada vez mais penosos, terão sofregamente intensificado as alegrias da
noite, tentando fugir de dentro de si mesmas. Até que de pedra se tornam, em espanto
de inocência, e com tal, tal olhar de censura magoada. Outras — subitamente
assaltadas pelo próprio âmago, sem nem sequer ter tido a intuição de um molde
interno que se petrificava! — essas de súbito se cristalizam, assim como a palavra é
cortada da boca: eu te... Elas que, usando o nome de amor em vão, na noite de verão
A quinta história (Clarice Lispector)
cantavam. Enquanto aquela ali, a de antena marrom suja de branco, terá adivinhado
tarde demais que se mumificara exatamente por não ter sabido usar as coisas com a
graça gratuita do em vão: "é que olhei demais para dentro de mim! é que olhei demais
para dentro de..." — de minha fria altura de gente olho a derrocada de um mundo.
Amanhece. Uma ou outra antena de barata morta freme seca à brisa. Da história
anterior canta o galo.
A quarta narrativa inaugura nova era no lar. Começa como se sabe: queixei-
me de baratas. Vai até o momento em que vejo os monumentos de gesso. Mortas, sim.
Mas olho para os canos, por onde esta mesma noite renovar-se-á uma população lenta
e viva em fila-indiana. Eu iria então renovar todas as noites o açúcar letal? como
quem já não dorme sem a avidez de um rito. E todas as madrugadas me conduziria
sonâmbula até o pavilhão? no vício de ir ao encontro das estátuas que minha noite
suada erguia. Estremeci de mau prazer à visão daquela vida dupla de feiticeira. E
estremeci também ao aviso do gesso que seca: o vício de viver que rebentaria meu
A quinta história (Clarice Lispector)
molde interno. Áspero instante de escolha entre dois caminhos que, pensava eu, se
dizem adeus, e certa de que qualquer escolha seria a do sacrifício: eu ou minha alma.
Escolhi. E hoje ostento secretamente no coração uma placa de virtude: "Esta casa foi
dedetizada".
A quinta história chama-se "Leibniz e a Transcendência do Amor na
Polinésia". Começa assim: queixei-me de baratas.
A quinta história (Clarice Lispector)
Leibniz e a transcendência do amor 
na Polinésia
 Leibniz é conhecido por sua teoria das mônadas.
 Substâncias simples e eternas, que não se decompõem; individuais, submetendo-
se às próprias leis e sem interferência mútua (GLEISER, 2006).
 As mônadas possuem uma simplicidade irredutível e, por serem independentes,
qualquer interação que possam ter dá-se apenas no nível da aparência, por isso,
cada uma segue como que uma instrução pré-programada (DELEUZE, 2007).
 Podemos arriscar dizer que, para a narradora, tal como as mônadas, as baratas
são, no conto, o espelho do universo, que vivem submetendo-se às suas próprias
leis, indiferentes aos outros seres que vivem em torno delas.
 Obscuras e insistentes, as baratas são ancestrais que nunca abandonam o
mundo dos vivos, renovando-se em gerações desde tempos imemoriais, são os
fantasmas do inconsciente.
Leibniz e a transcendência do amor 
na Polinésia
 Transcendência do amor na Polinésia
 Desejo de superação, ou, se quisermos, de sublimação – a inversão
da alteridade vertical que no início tinha a ver com o baixo e nesse
momento torna-se transcendente.
 Outro aspecto importante a ser ressaltado sobre Leibniz: para ele,
os animais são dotados de alma e essa assertiva relaciona-se ao
fato de ele ter detectado a inquietude do animal diante de uma
emboscada, algo praticamente imperceptível que pode mudar o
seu prazer em dor.
Leibniz e a transcendência do amor 
na Polinésia
 As baratas subiam do térreo, da base, portanto, para o apartamento.
 As baratas brotam do fundo dessa narradora e, porque podem ser
narradas, vivem e morrem.
 A narradora de Clarice é um edifício. Em uma perspectiva onírica,
sabemos de quem é o andar de baixo (das baratas): os fantasmas
do inconsciente. A única diferença entre a narradora e nós mesmos
é esta. Ela sabe, assim como nós sabemos, de onde vêm as
baratas. A diferença é que ela não sabe, mas nós sabemos, que o
andar de baixo é sempre nosso, ou seja, as baratas também somos
nós.
Leibniz e a transcendência do amor 
na Polinésia
 A superação de esse andar de baixo é justamente a transcendência do
amor: por amor às ‘baratas’ (e a si mesma), a narradora mata-as, para que
elas possam, em sua morte, garantir formas de vida subjetiva a ela mesma.
Por isso, o processo de matar baratas é também um processo de desmatá-
las, desbravá-las.
 Pelo avesso e assegurando uma vida simbólica às baratas, ou melhor, uma
vida no simbólico, ou seja, em termos lacanianos, na linguagem, e não
apenas no imaginário (LACAN, 1998), a narradora projeta a palavra
interrompida para dentro de si e essa palavra não-dita volta ao âmago da
narradora, para retornar como barata e ser morta no dia seguinte.
Leibniz e a transcendência do amor 
na Polinésia
 A palavra narrada, por fim, salva-a da morte, senão da morte física, da
morte simbólica e a transcendência do amor na Polinésia significa a
travessia.
 A brevidade da última história e o final marcado pelas reticências mostram
justamente a acomodação que segue depois do extermínio total dos seres
que, em um primeiro momento, remetiam a uma alteridade inferior e depois,
porque transformadas em nada, a algo da ordem superior.
 AS BARATAS DA EXISTÊNCIA OU A EPOPÉIA DA MORTE EM A QUINTA
HISTÓRIA DE CLARICE LISPECTOR (Andrade, Cavicchiolli e Martha)
Elementos da narrativa - Espaço
 Tem sua importância por vezes subestimada
 É peça fundamental da construção de qualquer narrativa
 Diferenças de localizar uma cena de término de um
relacionamento em um restaurante eleganteou em um
boteco de esquina
 O espaço na história é uma escolha meramente de
comodidade ou uma construção conceitual com o
restante de sua trama?
 A escolha do espaço também significa
Elementos da narrativa - Espaço
 O que seria 
Breaking Bad sem 
a cidade de 
Albuquerque?
 Região de divisa, 
deserto, clima de 
cidade de interior
Espaço - Características
 Físico
 Época
 Localização geográfica
 Arquitetura
 Social
 Situação econômico-política
 Moral/religião
 Psicológico
 Sentimentos, pensamentos,
crises
 Ambiente (espaço geográfico
+ social, religioso, econômico,
psicológico, filosófico, etc.)
Espaço - Construção
Franca (descrita/exposta textualmente)
Reflexa (revelada a partir do ponto de vista de
um personagem, sendo reflexo de sua
percepção)
Dissimulada ou oblíqua (sugerida a partir das
ações dos personagens)
Espaço de narração e espaço de 
narrativa (TOPOANÁLISE)
 Sobre coincidência
 Coincidem
 Coincidem parcialmente
 Não coincidem
 Sobre aparecimento
 Aparece sutilmente
 Aparece explicitamente
 Não aparece
Espaço de narração e espaço de 
narrativa (TOPOANÁLISE)
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num
trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de
chapéu. (Dom Casmurro, Machado de Assis)
Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém,
digamos os motivos que me põem a pena na mão. Vivo só, com um
criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado
de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia,
há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em
que me criei na antiga rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo
aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. (Cap. II)
Espaço de narração e espaço de 
narrativa (TOPOANÁLISE)
Ia entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-
me atrás da porta. A casa era a da rua de Matacavalos, o mês
novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei de trocar as
datas à minha vida só para agradar às pessoas que não amam histórias
velhas; o ano era de 1857. (Cap. III)
 Em um primeiro momento, o narrador nos mostra apenas o espaço da narração. Esse
espaço aparece de maneira explícita e abundante já que o narrador, no segundo
capítulo, nos esclarece que a casa em que mora reproduz a antiga casa da rua de
Matacavalos e mostra-nos detalhes dela. Quando o narrador passa a contar a sua
história, há uma diferenciação dos espaços. O espaço da narração continua sendo
a casa do Engenho Novo que é uma réplica da casa de Matacavalos, porém a
narrativa não se passa mais na casa do Engenho Novo. Passa-se na casa original e
em outros espaços também.
Espaço de narração e espaço de 
narrativa (TOPOANÁLISE)
Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de Verão entra pela
varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e escuto
o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens.
[...]Pelas nove da manhã deste dia de Setembro cheguei enfim à estação de Évora. Nos
meus membros espessos, no crânio embrutecido, trago ainda o peso de uma noite de
viagem.
[...] Eis que me levanta de novo a imagem de meu pai, caído de bruços sobre a mesa,
ao jantar, dias antes de eu partir. Todos os anos, pela vindima, meus pais queriam ali os
três filhos pelo Natal. O Tomás vivia perto, tinha também a sua lavoura, mas não deixava
nunca de comparecer ao jantar. Mas o Evaristo vivia na Covilhã. E agora, que escrevo
esta história à distância de alguns anos, exactamente neste mesmo casarão em que
tudo se passou, relembro vivamente o estrépito da sua chegada nessa manhã de
Setembro. (Aparição, Vergílio Ferreira)
Espaço de narração e espaço de 
narrativa (TOPOANÁLISE)
 O mulato de Aluísio Azevedo:
Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia
entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam. As vidraças e
os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações de
prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças de água passavam ruidosamente
a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas
arregaçadas, invadiam sem-cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos
pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos
faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho. (p. 9, Ediouro, s.d.)
 O narrador nos apresenta o espaço da narrativa com abundância de detalhes, mas nada diz
do espaço da narração. Essa omissão reforça o caráter de objetividade que a narrativa em
terceira pessoa possui. Quanto mais o espaço da narração aparece dentro da narrativa, mais
subjetiva esta se mostra.
Elementos da narrativa - Enredo
 Diegese
 Discurso (enredo)
 Partes do discurso (introdução, desenvolvimento e conclusão)
 Ordem do discurso (normal, in media res, in ultima res)
 Conflito(s): principal e secundário(s)
Crônica de uma morte 
anunciada
No dia em que o matariam, Santiago
Nasar levantou-se às 5h30m da manhã
para esperar o navio em que chegava o
bispo. Tinha sonhado que atravessava um
bosque de grandes figueiras onde caía
uma chuva branda, e por um instante foi
feliz no sonho, mas ao acordar sentiu-se
completamente salpicado de cagada de
pássaros. “Sempre sonhava com árvores”,
disse-me sua mãe 27 anos depois,
evocando os pormenores daquela
segunda-feira ingrata.
Elementos da narrativa - Enredo
 Nó (conflito, problema)
 Clímax
 Desfecho (resolução)
Elementos da narrativa - Enredo
 Diegese é a sucessão de ações e acontecimentos de uma narrativa
de ficção ou mesmo um simples fato.
 É construída obedecendo às leis da causalidade e temporalidade,
isto é, cada fato da história tem uma causa que desencadeia novos
fatos, em termos práticos, um fato anterior causa o que vem depois.
 Há obras que fogem à essa regra, como as que carregam traços do
fantástico
Elementos da narrativa - Enredo
 Sem o conflito não há história. E mesmo que houvesse uma história,
sem conflito, não despertaria interesse nenhum. O conflito possibilita
ao leitor criar expectativa frente aos fatos do enredo.
 Há várias possibilidades de conflito.
 Indivíduo x outro
 Indivíduo x si mesmo
 Indivíduo x pressões sociais
 Indivíduo x forças sobrenaturais
Elementos da narrativa - Enredo
 O Enredo Clássico obedece a seguinte sequência lógica:
 1. Apresentação, Introdução ou Exposição – É o começo da história, no
qual apresenta(am)-se a(as) personagem(ns) e suas características, o
espaço em que se movimenta(am), as relações que mantêm entre
si e, às vezes, o tempo e o espaço (um homem caminha à noite por uma
estrada escura). Enfim, situa o leitor diante da história queirá ler.
 2. Complicação ou Desenvolvimento - Rompe-se o equilíbrio do estado
inicial; surge(m) o(s) conflito(s) e começam a ocorrer os acontecimentos,
as ações nos episódios, que, encadeados, conduzem a narrativa a um
ponto máximo de tensão.
Elementos da narrativa - Enredo
 3. Clímax - O conflito chega ao seu ponto máximo de tensão, resultante
da convergência dos vários conflitos vividos pelas personagens. O clímax
é o ponto de referência para as outras partes do enredo, que existem
em função dele. De modo geral o clímax situa-se próximo do fim e por
vezes com ele identificado.
 4. Desfecho, Desenlace ou Conclusão - Corresponde à situação final:
a solução dos conflitos. Chega-se, como na situação inicial, a um novo
equilíbrio. Há muitos tipos de desfecho: surpreendente, feliz, trágico,
cômico etc.
Elementos da narrativa
 Tema – Motivo – Motivação
 Tema – assunto central (pode variar de acordo com a interpretação) –
deve ser definido de modo a abarcar os polos opostos que constituem
o conflito dramático. Ex.: Amor/ciúme x Infidelidade/traição= crime
passional ou infidelidade.
 Motivo – pequenos temas: velhice, jovialidade, amor, carinho, alegria,
dor etc. – são subtemas ligados ao tema e vinculados ao
desenvolvimento da história e conflito dramático.
 Motivação – conjunto de motivos essenciais (deixe-se à parte o que for
acessório) que, articulados ao tema, caracterizam o modo como este é
trabalhado ao longo da narrativa.
Elementos da narrativa
 Mensagens e visões de mundo (Quais os problemas humanos,
sociais, políticos ou religiosos que a obra apresenta? Como os
resolve?)
 Função da literatura/objetivo da obra
 Diversão
 Denúncia social
 Mostrar o homem interiormente
 Poesia/estética
 Didatismo
Elementos da narrativa
 Recursos
 Formais (partes, capítulos, parágrafos (se conto), estrofes e versos (se poema), distribuição,
efeitos visuais, margens ou letras em destaque)
 De linguagem (linguagem figurada, regionalismos, neologismos, arcaísmos, estrangeirismos)
 De estilo do autor (modo de narrar, modo de descrever, modo de criar diálogos,
coloquialismo, adjetivação, linguagem mais conotada ou denotada, construção de
períodos, particularidades do autor – como a pontuação e estruturação de parágrafos de
Saramago)
 De estilo de época (em que estilo de época se caracteriza a obra – Quinhentismo,
Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo [Impressionismo], Naturalismo, Parnasianismo,
Simbolismo, pré-Modernismo, Modernismo, Geração de 30, Tropicalismo, Concretismo,
etc.)
Elementos da narrativa - Análise
 Teoria crítica que pode ser aplicada à obra
 Estruturalista, feminista, psicanalista, genética,
sociológica, pós-estruturalista, desconstrucionista,
pós-colonialista, materialista, etc.
 Opinião pessoal
 Leitura fácil ou hermética? Final fechado ou aberto?
Etc.
SECULAR – LUCI COLLIN
O corpo era velho e nada que se pudesse fazer sobre isso. Mas o
homem vinha. Às vezes cansados, rostos duros, olhar restos e sem-
cerimônia. Não havia notícia de sorrisos genuínos. O ambiente
abandonados perfumes cheiros daqueles que se esquece fácil. A
parede pode ser pra sempre fria. Desconhecida ameaça, deixara o
tempo sagrar sulcos e irrelevâncias, rezar nas conversações sem
sentido. O corpo dela era velho e sequer pressentimentos. Olhava a
pele sem adjetivos próprios não pensava em nada. O homem vinha. Às
vezes diligentes, o esforço para tramar maravilhas. Havia notícia de
espasmos. Para ela os ecos. Focalizava detalhes do quadro na parede
um dia rosa. Nunca lhe pediram troco. Acariciava a pele descrente. [...]
O que sabe sobre si: vende fatias. E nada que pudesse pensar sobre
isto, mover pedras, rolar pedras, esquecidos constrangimentos postos
no fundo de um rio. Vende às vezes traças quase invisíveis aderem
criteriosamente aos corpos que ali se deitam. Leito. O corpo dela era
único e frestas sem filosofia. Ciência de desconsiderar o tangente e o
irregressível. Olhos alheios e nada a falar sobre isso. Nenhum registro
de paixões impagáveis no passado, nenhum bilhete desdizendo
amores. Apenas assistia à flexão dos verbos. Corpo ser todo dia. Era
pública. Manejando a faca silenciosa o enredo leiloava retalhos
fantasiados de delícia. Sábia pantomima. O homem vinha. Desfiavam
asperezas, frases mal-ajambradas. Mas não se sabe de vezes em que se
tenha pensado em esquivas. Acariciava peles fossem cavalos bicho
qualquer eram sempre um. O corpo envelhecera e ela pensou no
preço. Talvez existissem mesmo pressa e o tempo inextenso. [...]
A alvorada é sempre na mesma janela. Agora pensou no vinho que
envelhece. É sempre solitário o que existe dentro dela. É sempre
desacompanhada a certeza de que às vezes vira o que quer que fosse
próximo e belo. Ensaio sobre tocar o sem cabimento. Desapego e tudo-
nada. Mas o homem vinha. Esqueciam flores, frases sem sujeito ela
pensou talvez em pedras. Não há notícia de pretéritos que ela se
inaugurava toda vez que a porta abria. Vende o mesmo olhar
insuspeito velho e escura escuridão fundo do rio. Vê as flores na
colcha, vê as flores no azulejo, vê as flores sobre seu corpo. Pensa: um
desses dias qualquer. Mas não hoje.
O homem vinha.
DESENREDO – GUIMARÃES ROSA
Do narrador seus ouvintes:
– Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de
cerveja. Tinha o para não ser célebre. Como elas quem pode, porém?
Foi Adão dormir e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou
Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.
Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada.
Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o
amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau
tangida a vela e vento. Mas tendo tudo de ser secreto, claro, coberto
de sete capas.
Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as
aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se
sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local,
conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos
de papel.
Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo
só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se incompleto.
Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano.
Até que – deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas.
Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro… Sem mais cá
nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se,
também, que a ferira, leviano modo.
Jó Joaquim, derrubadamente surpreso, no absurdo desistia de crer,
e foi para o decúbito dorsal, por dores, frios, calores, quiçá lágrimas,
devolvido ao barro, entre o inefável e o infando. Imaginara-a jamais
a ter o pé em três estribos; chegou a maldizer de seus próprios e
gratos abusufrutos. Reteve-se de vê-la. Proibia-se de ser pseudo
personagem, em lance de tão vermelha e preta amplitude.
Ela – longe – sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele
exercitava-se a aguentar-se, nas defeituosas emoções.
Enquanto, ora, as coisas amaduravam. Todo fim é impossível?
Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu,
afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso.
Soube-o logo Jó Joaquim, em seu franciscanato, dolorido mas já
medicado. Vai, pois, com a amada se encontrou -ela sutil como uma
colher de chá, grude de engodos, o firme fascínio. Nela acreditou,
num abrir e não fechar de ouvidos. Daí, de repente, casaram-se.
Alegres, sim, para feliz escândalo popular, por que forma fosse.
Mas.
Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e
parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios.
Da vez, Jó Joaquim foi quem a deparou, em péssima hora: traído e
traidora. De amor não a matou, que não era para truz de tigre ou
leão. Expulsou-a apenas, apostrofando-se, como inédito poeta e
homem. E viajou a mulher, a desconhecido destino.
Tudo aplaudiu e reprovou o povo, repartido. Pelo fato, Jó Joaquim
sentiu-se histórico, quase criminoso, reincidente. Triste, pois que
tão calado. Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas
brancas. Mas, no frágio da barca, de novo respeitado, quieto. Vá-se a
camisa, que não o dela dentro. Era o seu um amor meditado, a prova
de remorsos. Dedicou-se a endireitar-se.
Mais.
No decorrer e comenos, Jó Joaquim entrou sensível a aplicar-se, a
progressivo, jeitoso afã. A bonança nada tem a ver com a
tempestade. Crível? Sábio sempre foi Ulisses, que começou por se
fazer de louco. Desejava ele, Jó Joaquim, a felicidade – ideia inata.
Entregou-se a remir, redimir a mulher, à conte inteira. Incrível? É
de notar que o ar vem do ar. De sofrer e amar, a gente não se
desafaz. Ele queria os arquétipos, platonizava. Ela era um aroma.
Nunca tivera ela amantes! Não um. Não dois. Disse-se e dizia isso Jó
Joaquim. Reportava a lenda a embustes, falsas lérias escabrosas.
Cumpria-lhe descaluniá-la, obrigava-se por tudo. Trouxe à boca-de-
cena do mundo, de caso raso, o que fora tão claro como água suja.
Demonstrando-o, amatemático, contrário ao público pensamento e àlógica, desde que Aristóteles a fundou. O que não era tão fácil como
fritar almôndegas. Sem malícia, com paciência, sem insistência,
principalmente.
O ponto está em que o soube, de tal arte: por antipesquisas,
acronologia miúda, conversinhas escudadas, remendados
testemunhos. Jó Joaquim, genial, operava o passado – plástico e
contraditório rascunho. Criava nova, transformada realidade, mais
alta. Mais certa?
Celebrava-a, ufanático, tendo-a por justa e averiguada, com
convicção manifesta. Haja o absoluto amar – e qualquer causa se
irrefuta.
Pois produziu efeito. Surtiu bem. Sumiram-se os pontos das
reticências, o tempo secou o assunto. Total o transato desmanchava-
se, a anterior evidência e seu nevoeiro. O real e válido, na árvore, é
a reta que vai para cima. Todos já acreditavam. Jó Joaquim
primeiro que todos.
Mesmo a mulher, até, por fim. Chegou-lhe lá a notícia, onde se
achava, em ignota, defendida, perfeita distância. Soube-se nua e
pura. Veio sem culpa. Voltou, com dengos e fofos de bandeira ao
vento.
Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria
retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de
sua útil vida.
E pôs-se a fábula em ata.

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