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JESUS, Damásio de. Crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas transações comerciais internacionaais.pdf.pdf

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OBRAS DO AUTOR
Código de Processo Penal anotado, Saraiva.
Código Penal anotado, Saraiva.
Crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas transações 
comerciais internacionais, Saraiva.
Crimes de porte de arma de fogo e assemelhados-, anotações à parte 
criminal da Lei n. 9.437, de 20 de fevereiro de 1997, Saraiva.
Crimes de trânsito, Saraiva.
Decisões anotadas do Supremo Tribunal Federal em matéria crimi­
nal, Saraiva.
Direito penal, 1Q volume, Saraiva.
Direito penal, 2Q volume, Saraiva.
Direito penal, 3Q volume, Saraiva.
Direito penal, 4S volume, Saraiva.
Imputação objetiva, Saraiva.
Lei Antitóxicos anotada, Saraiva.
Lei das Contravenções Penais anotada, Saraiva.
Lei dos Juizados Especiais Criminais anotada, Saraiva.
Novas questões criminais, Saraiva.
Novíssimas questões criminais, Saraiva.
O novo sistema penal, Saraiva.
Penas alternativas, Saraiva.
Prescrição penal, Saraiva.
Questões criminais, Saraiva.
Temas de direito criminal, Ia série, Saraiva.
Temas de direito criminal, 2a série, Saraiva.
Teoria do domínio do fato no concurso de pessoas, Saraiva.
Tráfico internacional de mulheres e crianças — Brasil, Saraiva.
DAMÁSIO DE JESUS
CRIMES DE CORRUPÇÃO 
ATIVA E TRÁFICO DE 
INFLUÊNCIA NAS 
TRANSAÇÕES COMERCIAIS 
INTERNACIONAIS
2003
Jr 1 EditoraJ Saraiva
CRIMES DE CORRUPÇÃO ATIVA 
E TRÁFICO DE INFLUÊNCIA 
NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS 
INTERNACIONAIS
saraivajur.com.br
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ISBN 978-85-02-15267-0
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Jesus, Damásio de
Crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas transações 
comerciais internacionais / Damásio de Jesus. — São Paulo : Saraiva, 
2003.
1. Comércio internacional 2. Corrupção ativa - Leis e legislação - 
Brasil 3. Tráfico de influência - Leis e legislação - Brasil I. Título.
Editado também como livro impresso em 2003.
índice para catálogo sistemático:
1. Brasil : Crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas 
transações comerciais internacionais : Leis : Direito penal 
343.53:382(81 )(094)
ABREVIATURAS
ACrim — Apelação Criminal 
AE — Agravo em Execução 
Agi — Agravo de Instrumento 
AJ — Arquivo Judiciário 
APn — Ação Penal 
AR — Ação Rescisória 
Câm. — Câmara 
CC - Código Civil 
CComp — Conflito de Competência 
CF — Constituição Federal 
CJ — Conflito de Jurisdição 
CP — Código Penal 
CPar — Correição Parcial 
CPP — Código de Processo Penal 
CTest — Carta Testemunhável 
Des. — Desembargador 
DJU — Diário da Justiça da União 
DOU — Diário Oficial da União 
ED — Embargos Declaratórios 
EI — Embargos Infringentes 
HC — Habeas Corpus 
IBCCrim — Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (SP) 
Inq. — Inquérito 
JC — Jurisprudência Catarinense 
JEC — Juizado Especial Criminal 
JSTJ — Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça 
JTARS — Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande 
do Sul
JTJ — Jurisprudência do Tribunal de Justiça (SP)
LCP — Lei das Contravenções Penais 
LEP — Lei de Execução Penal 
LICC — Lei de Introdução ao Código Civil 
Min. — Ministro 
MS — Mandado de Segurança 
m.v. — maioria de votos 
OAB — Ordem dos Advogados do Brasil 
OCDE — Organização para a Cooperação e Desenvolvi­
mento Econômico 
OEA — Organização dos Estados Americanos 
ONU — Organização das Nações Unidas 
PJ — Paraná Judiciário 
PNUFID — Programa das Nações Unidas para a Fiscaliza­
ção Internacional de Drogas 
RCPDF — Revista do Conselho Penitenciário do Distrito 
Federal 
RCrim — Recurso Criminal 
RDP — Revista de Direito Público 
RE — Recurso Extraordinário 
RECrim — Recurso Extraordinário Criminal 
rei. — relator 
REsp — Recurso Especial 
Revista CEJ — Revista do Centro de Estudos Judiciários do Con­
selho da Justiça Federal 
RF — Revista Forense 
RHC — Recurso de Habeas Corpus 
RJDTACrimSP — Revista de Jurisprudência e Doutrina do TACrimSP 
RJTACrimSP — Revista de Julgados do Tribunal de Alçada Cri­
minal de São Paulo 
RJTJSP — Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça 
de São Paulo 
RMS — Recurso em Mandado de Segurança 
ROA — Revista da Ordem dos Advogados (SP)
ROHC — Recurso Ordinário em Habeas Corpus 
RSE — Recurso em Sentido Estrito (Recurso Criminal) 
RT — Revista dos Tribunais
VI
RTJ — Revista Trimestral de Jurisprudência 
RvCrim — Revisão Criminal
SEDDG — Seção de Estudos da Diretoria do Departamento 
dos Gabinetes do TACrimSP 
STF — Supremo Tribunal Federal 
STJ — Superior Tribunal de Justiça 
T. — Turma
TACrimMG — Tribunal de Alçada Criminal de Minas Gerais 
TACrimSP — Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo 
TAPR — Tribunal de Alçada do Paraná 
TJ — Tribunal de Justiça 
TI — Transparency International 
TJRO — Tribunal de Justiça de Rondônia 
TJSE — Tribunal de Justiça de Sergipe 
TJSP — Tribunal de Justiça de São Paulo 
UN — United Nations 
UNICRI — Instituto Inter-regional das Nações Unidas de 
Pesquisas sobre Prevenção do Crime e Justiça 
Penal 
v. — volume 
v. un. — votação unânime 
v. v. — voto vencido
VII
ÍNDICE GERAL
Abreviaturas............................................................................ V
C apítulo I
O SUBORNO NAS TRANSAÇÕES 
COMERCIAIS INTERNACIONAIS
1. As Nações Unidas e a corrupção de funcionários públicos 
estrangeiros nas transações comerciais internacionais 1
2. Tipos de corrupção............................................................... 2
3 .0 custo do delito.................................................................. 3
4. As iniciativas das Nações Unidas e outros organismos inter­
nacionais .............................................................................. 4
C apítulo II
CRIMES DE CORRUPÇÃO ATIVA E TRÁFICO DE 
INFLUÊNCIA NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS 
INTERNACIONAIS (LEI N. 10.467, DE 11-6-2002)
I — Corrupção ativa nas transações comerciais internacionais 13
II — Tráfico de influência em transação comercial interna­
cional ............................................................................. 47
III — Funcionário público estrangeiro.................................... 59
APÊNDICE
Decreto n. 3.678, de 30 de novembro de 2000, que promulga
a Convenção das Nações Unidas sobre o Combate da Cor­
rupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações 
Comerciais Internacionais....................................................... 67
Convenção das Nações Unidas sobre o Combate da Corrupção 
de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comer­
ciais Internacionais (1997)...................................................... 68
Projeto de Lei Original n. 4.143, de 2001, do Poder Execu­
tivo, e Mensagem n. 140, do Senhor Presidente da República 76
Projeto de Lei n. 4.143, de 2001 — Comissão de Constituição 
e Justiça e de Redação — voto do Relator.............................. 79
Projeto de Lei n. 4.143, de 2001 — Comissão de Constituição 
e Justiça e de Redação — Emenda.......................................... 82
Projeto de Lei n. 4.143, de 2001 — Comissão de Constituição 
e Justiça e de Redação — voto do Deputado Federal Jarbas 
Lima e Substitutivo.................................................................. 83
Projeto de Lei elaborado pelo Complexo Jurídico Damásio de 
Jesus a pedido das Nações Unidas sobre Crimes de Cor­
rupção de Funcionários Públicos nas Transações Comerciais 
Internacionais.......................................................................... 88
Exposição de Motivos do Projeto de Lei sobre Crimes de Cor­
rupção de Funcionários Públicos nas Transações Comerciais 
Internacionais elaborado pelo Complexo Jurídico Damásio de 
Jesus a pedido das Nações Unidas e entregue ao Governo bra­
sileiro ....................................................................................... 97
Razões
da necessidade da introdução na legislação penal bra­
sileira dos crimes de corrupção de funcionários públicos nas 
transações comerciais internacionais e correlatos com referên­
cia ao Projeto de Lei solicitado ao Complexo Jurídico Damá­
sio de Jesus pelas Nações Unidas.............................................. 110
Exposição de Motivos da Lei n. 10.467, de 11 de junho de 
2002............................................................................................ 115
Lei n. 10.467, de 11 de junho de 2002, que introduziu no 
Código Penal os crimes de corrupção ativa e tráfico de influên­
cia nas transações comerciais internacionais............................ 118
X
C a p ít u l o I
O SUBORNO NAS TRANSAÇÕES 
COMERCIAIS INTERNACIONAIS
1. As Nações Unidas1 e a corrupção de funcionários públi­
cos estrangeiros nas transações comerciais internacionais
As Nações Unidas sempre estiveram preocupadas com a cor­
rupção funcional — especialmente no que tange a transações comer­
ciais internacionais —, que enfraquece a integridade e a credibilidade 
das administrações estatais, debilitando as políticas sociais e econô­
micas. Como consta das Conclusões do Seminário sobre Corrupção 
nas Transações Comerciais Internacionais, promovido pela Organi­
zação dos Estados Americanos (OEA) e pela Organização para a Co­
operação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizado em 
Buenos Aires, Argentina, em 7 e 8 de setembro de 1998, “a corrupção 
e o suborno minam a credibilidade das instituições democráticas, 
deterioram os investimentos estrangeiros, pervertem o comércio e 
são prejudiciais ao desenvolvimento da economia”2.
1 Sobre as Nações Unidas: LARISSA L. O. RAMINA,/lfão internacional contra a 
corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002; LUIS IVANI DE AMORIM ARAÚJO, Das 
organizações internacionais, Rio de Janeiro, Forense, 2002, p. 25 e s.
2 Como disse RODOLFO ALEJANDRO DÍAZ, Procurador dei Tesoro de la Nación 
argentina, “a corrupção lastima o tecido social, contamina as instituições e produz 
disfuncionalidade nos órgãos públicos. Além disso, afeta a legitimidade dos siste­
mas políticos e compromete a governabilidade dos Estados” (Corrupción: un desa­
fio para la governabilidad y las transaciones intemacionales, paper apresentado no 
Seminário La lucha contra el sobomo en las transaciones comerciales intemaciona­
les, OCDE, OEA e Govemo da Argentina, Buenos Aires, setembro de 1998, p. 1).
1
São os seguintes os problemas que a corrupção funcional produz:
1Q) incremento da sonegação de impostos: os funcionários pú­
blicos, em face da corrupção, não escolhem os melhores contratos 
para seu país, mas sim os mais lucrativos para eles próprios; em con­
seqüência, o Governo arrecada menos impostos e gasta mais;
2a) a economia de mercado não funciona: conseguem melhores 
contratos, não as mais produtivas companhias, mas as que sabem 
negociar com as autoridades;
3Q) o investimento extemo é reduzido porque o suborno apre­
senta o mesmo efeito de um imposto: configura um custo a mais no 
balanço das companhias3.
Trata-se de um fenômeno antigo4 e mundial, a justificar constan­
tes atualizações das legislações nacionais, como está atualmente ocor­
rendo na Inglaterra, que se apressa em reformar as regras de prevenção 
do comportamento corrupto de seus funcionários públicos5.
2. Tipos de corrupção
Há que diferenciar a corrupção “ordinária” da “macroeco­
nômica”. Aquela configura a delinqüência comum; esta se expressa 
por um número indeterminado de escândalos que, por seu volume e 
por girar sempre ao redor de uma inadequada e fraca fiscalização 
fiscal e aduaneira estatal, afeta o desenvolvimento do país, com gra­
3 ELIANA SIMONETTI, Pintou sujeira, Veja, n. 1622, p. 64, 3 nov. 1999.
4 “Si se define ‘corrupción’ de forma general como transgressión de normas por 
parte de agentes de vigilar el bien público en detrimento de este bien público, en­
contramos que ya desde la antiguedad existen normas que reglamentan el ejercicio 
de la función pública, ya sea por legislation civil, ya sea por normas éticas y reli­
giosas, como las que encontramos profusamente en la Sagrada Escritura” (HORST 
PIETSCHMANN, Corrupción en las índias Espaholas, Institucionesy Corrupción 
en la Historia, apud MARTA MAGADAN DÍAZ, Corrupción y fraude: economia 
de la transgressión, Madrid: Dykinson, 1999, p. 9).
5 G. R. SULLIVAN, Proscribing Corruption — some comments on the Law 
Commission’s Report, The Criminal Law Review, Londres: Sweet & Maxwel, p. 
547, Aug. 1998.
2
víssimos danos à sua economia6. Seja “ordinária”, seja “macro­
econômica”, impede o desenvolvimento e gera pobreza7.
A corrupção também apresenta “cores”, dependendo da gravi­
dade de seus efeitos: negra, cinzenta e branca. A primeira, observa 
JOAQUÍN GONZÁLEZ, compreende as mais graves violações das 
regras estabelecidas e recebe a unânime reprovação social; a branca, 
integrada pelas pequenas corrupções e os maus hábitos humanos, 
costuma ser tolerada; a cinzenta tende a ficar negra nas sociedades 
mais puritanas e branca nas mais permissivas8.
3. O custo do delito
A corrupção prejudica o progresso das nações e, a par da impu­
nidade que a acompanha, debilita as instituições e a moral pública, 
gerando alto custo, responsável pelo empobrecimento do povo9. De 
acordo com a Transparency International (TI), pesquisas demons­
tram que os países com maior incidência de corrupção aparecem como 
os menos economicamente competitivos. Prevenindo-se e, com isso,
6 EUGENIO RATJL ZAFFARONI, Las máscaras de la corrupción,ií7 Clarin, Buenos 
Aires, 4 ago. 1998, Seção Opinion, p. 17.
7 CARLOS A. MANFRONI,La Convention Interamericana contra la Corruption, 
Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 27.
8 Corruption y justicia democrática, Madrid: Clamores, 2000, p. 99.
9 Corrupción: que actúe la Justicia,La Nación, Buenos Aires, 9 ago. 1998; ANTO­
NIO GIALANELLA, Le modèle d ’un capitalisme crimenel (Le sursaut 
démocratique), in Un monde san loi: la criminalité financière en images, Jean de 
Maillard et al., Paris: Stock, 1998, p. 114. Como informou JOSÉ EDUARDO 
MARTINS CARDOZO, Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, “o Brasil 
perde por ano, com a corrupção nas esferas federal, estadual e municipal, pelo me­
nos R$ 100 bilhões, um número 11 vezes maior do que os bilhões de reais previstos 
no Orçamento Geral da União para investimentos em 2002 e 10 vezes superior ao 
orçamento da cidade de São Paulo” (Impacto da corrupção, Jornal da Cidade, Bauru 
(SP), 24 jul. 2002, p. 2). De acordo com informação d'O Estado de S. Paulo, a máfia 
dos fiscais da Prefeitura da capital paulista “movimenta R$ 1 2 milhão por mês em 
propinas” (ed. de 26 jul. 2002, C3).
3
reduzindo os casos de corrupção funcional, os países aumentam os 
investimentos estrangeiros10.
Como se nota, a corrupção funcional é tema dos mais impor­
tantes na luta contra a delinqüência transacional organizada, esti­
mando-se que se os ganhos ilícitos corresponderem a 5% do valor 
dos investimentos estrangeiros e das importações em países minados 
pelo suborno nas transações internacionais, a importância anual che­
garia a US$ 80 bilhões, equivalente a uma elevação de impostos da 
ordem de 24%u. A ação da autoridade governamental é das mais 
relevantes, uma vez que os Estados, no estágio atual, não têm conse­
guido cercar as atividades da Administração Pública com um cordão 
sanitário que as proteja da corrupção funcional, que se constitui em 
um dos principais impedimentos ao desenvolvimento dos povos12. 
Realmente, como disse o Embaixador MICHAEL SKOL, Subsecre­
tário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos dos Estados 
Unidos (1993-1996), “el suborno transnacional es el más arrogante 
de los actos corruptos”13.
4. As iniciativas das Nações Unidas e outros organismos in­
ternacionais14
A Organização das Nações Unidas (ONU), em 15 de
dezembro de 
1975, pela Resolução 3514, condenou as práticas corruptas das empre­
10 Veja, Rio de Janeiro, p. 33,26 ago. 1998; Pintou sujeira, Veja, n. 1622, p. 64, 3 
nov. 1999; Correio Braziliense, Economia & Trabalho, 27 out. 1999, p. 17.
11 Corrupção: a comunidade internacional se mobiliza para erradicar essa praga glo­
bal, Folha de S. Paulo, 18jun. 1998, suplemento Time, p. 5 e8. Vide sobre o assunto: 
JEAN DE MAILLARD et al., Un monde san loi: la criminalité financière en images, 
Paris: Stock, 1998, p. 104 (verbete “Le crime invisible”).
12 DANIEL KAUFMANN, Corrupción y governabilidad, Seminário sobre a 
Corrupção nas Transações Comerciais Internacionais, Buenos Aires, Argentina, 7 
e 8 de setembro de 1998, p. 13.
13 Prólogo da obra Sobomo transnacional, Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1998, p. 9.
14 Sobre o assunto, vide LARISSA L. O. RAMENA, Ação internacional contra a 
corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 43 e s.
4
sas que realizam transações mercantis internacionais por meio de subor­
no de funcionários públicos encarregados de sua fiscalização, recomen­
dando aos Estados-Membros a adoção de providências no sentido de 
medidas legislativas de prevenção e repressão, tendo retomado ao as­
sunto nas Resoluções 1995/14 (Medidas contra a Corrupção), de 24 de 
julho de 1995, e 50/225 (Administração Pública e Desenvolvimento), de 
19 de abril de 1996, do Conselho Econômico e Social.
Na Resolução 51/59, de 12 de dezembro de 1996, foi aprovado 
o Código Internacional de Conduta dos Titulares de Cargos Públi­
cos, sugerindo que os Estados-Membros nele se guiassem na luta 
contra a corrupção.
Na Resolução 51/191, foi solicitado ao Conselho Econômico e So­
cial e, especialmente, a um de seus órgãos auxiliares, a Comissão de 
Prevenção do Crime e Justiça Penal, o exame de medidas a serem toma­
das para coibir a corrupção nas transações comerciais internacionais.
Em Buenos Aires, de 17 a 21 de março de 1997, houve reunião 
do Grupo de Especialistas em Prevenção da Corrupção, estudando o 
assunto15.
No 6° Período de Sessões da Comissão de Prevenção do Crime 
e Justiça Penal das Nações Unidas, realizado em Viena, de 29 de 
abril a 9 de maio de 1997, o Conselho Econômico e Social recomen­
dou à Assembléia Geral a aprovação de Projeto de Resolução exor­
tando “aos Estados-Membros a tipificação como crime, de forma 
eficaz e coordenada, do suborno de ocupantes de cargos públicos nas 
transações comerciais internacionais”16.
Em Dakar, de 21 a 23 de julho de 1997, realizou-se o Seminário 
Regional Ministerial Africano sobre Medidas contra a Delinqüência 
Transacional Organizada e a Corrupção.
A Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua Resolução 52/ 
87, de 12 de dezembro de 1997, sobre Cooperação Internacional con­
15 Vide LARISS A L. O. RAMINA,/lçao internacional contra a corrupção, Curitiba: 
Ed. Juruá, 2002, p. 52.
16 Documentos Oficiais de 1997 do Conselho Econômico e Social das Nações Uni­
das, Nova York, 1997, suplemento n. 10, p. 57.
5
tra a Corrupção e o Suborno nas Transações Comerciais Internacio­
nais, decidiu que os Estados-Membros devem adotar todas as medi­
das possíveis para promover a aplicação da Declaração das Nações 
Unidas contra a Corrupção e o Suborno e do Código Internacional de 
Conduta de Funcionários Públicos.
Em Manila, de 23 a 25 de março de 1998, realizou-se o Workshop 
Ministerial Regional da Ásia sobre a Delinqüência Transacional Or­
ganizada e a Corrupção.
Em Viena, de 21 a 30 de abril de 1998, realizou-se o 7a Período 
de Sessões da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal, pro­
movido pelas Nações Unidas. Estiveram representados no evento 
cerca de 123 países, com 1.252 delegados, além de órgãos do Secre­
tariado das Nações Unidas, como o Centro de Direitos Humanos, o 
Departamento de Paz, o Departamento de Coordenação Policial, a 
Comissão de Refugiados e o Programa das Nações Unidas de Con­
trole de Drogas, além de organizações intergovemamentais e não 
governamentais. A par do tema prioritário, versando sobre o Crime 
Organizado Transnacional, foram discutidos outros assuntos, dentre 
os quais a Aplicação de Normas Legais e a Ação contra a Corrupção 
e o Suborno.
A Polônia, em 1996, propôs à ONU a elaboração de uma Con­
venção Internacional contra a Delinqüência Transacional Organiza­
da. Em 24 de setembro de 1996, o Projeto da Convenção foi enviado 
ao Secretário-Geral da ONU. Em abril de 1997, em Palermo, foram 
iniciados os estudos do Projeto, que prosseguiram no 6a Período de 
Sessões da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal das 
Nações Unidas (Viena, abril/maio de 1997. No 7a Período de Ses­
sões (Viena, abril de 1998), continuaram as discussões sobre os ter­
mos da Convenção. No Tema 2, que versa sobre o “Âmbito de apli­
cação”, contendo uma lista ilustrativa dos crimes cometidos pelas 
organizações criminosas transacionais, um dos delitos é a “corrupção 
de funcionários públicos”17. Os trabalhos continuaram em Roma, em
17 Opção n. 6, “i”, Cooperação Internacional para Combater a Delinqüência 
Transacional, Informe do Grupo Intergovemamental de Especialistas, doc. do 7a 
Período de Sessões, Viena, 21 a 30 de abril de 1998, p. 18 e 19.
6
17 e 18 de julho de 1998, e em Buenos Aires, de 31 de agosto a 4 de 
setembro de 199818.
Em Buenos Aires, nos dias 7 e 8 de setembro de 1998,reaüzou- 
se o Workshop on Combating Corruption and Bribery o f Public 
Officials in International Business Transactions, promovido pela 
OEA19, pela OCDE20 e pela Argentina. O evento, com a finalidade de 
indicar aos Estados participantes a forma de identificação de meios e 
ações contra a corrupção funcional, teve também a missão de mos­
trar-lhes os avanços que têm ocorrido no terreno da cooperação in­
ternacional, discutindo a incriminação e a apenação de condutas, a 
transparência das atividades funcionais do Estado e a indevida dedu­
ção de valores de propinas doadas a funcionários púbbcos no paga­
mento de imposto de renda21, prática proibida na Europa somente 
em fevereiro de 199922. Os debates, dos quais o Brasil participou 
ativamente, fizeram-se sob a ótica da Convenção Interamericana con­
tra a Corrupção (Convenção da OEA) e da Convenção de Combate à 
Corrupção e ao Suborno de Funcionários Públicos nas Transações 
Comerciais Internacionais, da OCDE, adotadas como instrumentos 
singulares. Como consignou a “Charman’s Conclusion”, toma-se 
imperiosa a severa incriminação do suborno e da corrupção nas ne­
gociações mercantis transacionais.
Em Viena, no 10a Período de Sessões da Comissão de Preven­
ção do Crime e Justiça Penal das Nações Unidas, realizado em maio
18 Informal Preparatory Meeting of the Open-ended Intergovernmental “ad hoc” 
Committee on the Elaboration of the Comprehensive International Convention against 
Transnational Organized Crime.
19 Sobre a OEA: LUIS IVANIDE AMORIM ARAÚJO, Das organizações interna­
cionais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 76.
20 Sobre a OCDE: LARISSA L. O. RAM3NA,ylção internacional contra a corrupção, 
Curitiba: Ed. Juruá, 2002; RICARDO SETTENFUS, Manual das organizações in­
ternacionais, Porto Alegre: Livr. do Advogado Ed., 2000, p. 238.
21 Denying Tax Deductibility of Bribery, paper apresentado pelo Reino Unido.
22 LEONARDO CAVALCANTI, Exportações à custa de subomo, CorreioBraziliense, 
27 out. 1999, Economia & Trabalho, p. 17.
7
de 2001, de 8 a 17, a corrupção de funcionários públicos foi eleita o 
tema central do encontro.
Essa preocupação não é só da ONU, mas também de outras 
entidades internacionais a ela filiadas. Assim é que a OEA, de 27 a 
29 de março de 1996, realizou, em Caracas, a Convenção Interame- 
ricana contra a Corrupção, condenando, numa de suas disposições, a 
corrupção nas transações mercantis internacionais. O Conselho da 
Europa tem promovido diversos convênios internacionais contra a 
corrupção mercantil. A
Organização Mundial do Comércio (OMC) 
vem encarecendo a necessidade de existir mais transparência e cla­
reza nas transações comerciais dos setores públicos estatais. No mes­
mo sentido, a OCDE sugere a proibição da dedução, para efeitos 
tributários, das quantias pagas a funcionários públicos a título de 
suborno nas transações mercantis internacionais, costume tolerado 
em alguns países.
Em maio de 1997, o Conselho da OCDE, que congrega os 29 
países mais ricos do mundo, aprovou a Recomendação para Prevenir 
o Suborno nas Transações Comerciais Internacionais. Em Budapes­
te, em abril de 1997, a Comunidade de Estados Independentes (CEI) 
realizou um seminário organizado pelo Instituto Inter-regional das 
Nações Unidas de Pesquisas sobre Prevenção do Crime e Justiça Penal 
(UNICRI) para o estudo da corrupção mercantil transacional. Em 
outubro de 1997, o Centro de Desenvolvimento da OCDE organizou 
um Seminário sobre a Corrupção. Em novembro de 1997, os mem­
bros do Conselho da Associação de Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico adotaram a Convenção para Prevenir o Suborno de Fun­
cionários Públicos Estrangeiros nas Transações Mercantis Interna­
cionais . Em 1998, o Grupo de Trabalho do Conselho da OCDE sobre 
a Corrupção nas Transações Comerciais Internacionais realizou di­
versos procedimentos para fiscalizar a adoção das medidas recomen­
dadas pela ONU. Na reunião da Cúpula das Américas, realizada no 
Chile, em abril de 1998, os Chefes de Governo comprometeram-se a 
erradicar a corrupção de nosso continente. Em Paris, de 29 de março 
a 1Q de abril de 1999, reuniu-se o Grupo de Trabalho da OCDE no 
Seminário de Paris de Combate à Corrupção nas Transações Comer­
ciais Transnacionais, de que o Brasil participou ativamente.
8
Em Washington, nos Estados Unidos, de 24 a 26 de fevereiro de 
1999, presidido pelo Vice-Presidente Al Gore, realizou-se o Seminá­
rio de Combate à Corrupção de Funcionários Públicos nas Áreas da 
Justiça e da Segurança Pública, com a participação do Brasil, em que 
também foi discutida a conexão desse tema com a corrupção nas 
transações comerciais transnacionais.
O Centro para a Prevenção Internacional do Delito, filiado ao 
Escritório de Fiscalização de Drogas e Prevenção do Crime das Na­
ções Unidas, no Seminário Regional Ministerial Africano, promovi­
do em Dakar, de 21 a 23 de julho de 1997, aprovou a Declaração de 
Dakar sobre Prevenção e Luta contra a Delinqüência Transacional 
Organizada e a Corrupção. Na Declaração, os Ministros reiteraram 
seu forte apoio contra esse fenômeno em todas as suas manifesta­
ções e a favor da promoção de uma cultura de transparência, compe­
tência e integridade na vida pública. Para isso, os Estados participan­
tes expressaram firme intenção de criar ou rever sua legislação cri­
minal, definindo delitos de corrupção como questão de alta priorida­
de. Nesse sentido, o Centro, em cooperação com o Programa das 
Nações Unidas para a Fiscalização Internacional de Drogas 
(PNUFID), elaborou uma Lei-Modelo contra a Corrupção, tendo por 
objetivo servir de instrumento de assistência técnica aos Estados- 
Membros, contendo disposições sobre prevenção, detecção e repres­
são de atos de suborno de funcionários públicos.
Em Seul, na Coréia do Sul, em 25 de agosto de 1998, durante a 
12a Conferência Internacional de Criminologia, realizou-se o Workshop 
sobre Os Esforços Internacionais no Combate à Corrupção, 
enfatizando a necessidade de sua adequada incriminação.
• Bibliografia consultada pelo autor
CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: 
Abeledo-Perrot, 1998, e La Comención Interamericana contra la 
Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997; NAÇÕES UNIDAS, 
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9
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10
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Derecho: el papel de la jurisdición (obra coletiva), Madrid: Ed. Trotta, 
1996; CARMELO RENATO CALDERONE, Lotta alia corruzione 
in campo communitario ed intemazionale, Rivista Trimestrale di 
Diritto Penale dell Economia, Padova, vol. 14, fasc. 3, p. 607, ago J 
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DANIEL KAUFMANN, Corrupción y govemabilidad,paper
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11
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corruption: social defence, corruption and the protection of public 
administration and the independence of Justice, International Society 
of Social Defence, Istituto Italiano per gli Studi Filosofici, Napoli: 
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www.oas.org/juridico/portuguese/anticorrupção.htm. 26-6-2002); 
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to violador dos direitos humanos no cenário internacional (http:// 
wwwl .jus .com .br/doutrina/textol: 26-7-2002; RICARDO SEITENFUS, 
Manual das organizações internacionais, Porto Alegre: Livr. do Ad­
vogado Ed., 2000; LARISSA L. O. RAMINA, Ação internacional 
contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002; CELSO MARAN DE 
OLIVEIRA,Mercosul livre de circulação de mercadorias, Curitiba: 
Ed. Juruá, 2002; LUISIVANI DE AMORIM ARAÚJO, Das organi­
zações internacionais, Rio de Janeiro: Forense, 2002; TI Source Book, 
Parte A: Analytical Framework (www.transparency.d/l: CELSO D. 
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linqüência, Revista de Direito Penal, Rio de Janeiro: Forense, 27/5 e 
18, n. 42, jan/jun. 1979.
12
C a p ít u l o II
CRIMES DE CORRUPÇÃO ATIVA E TRÁFICO 
DE INFLUÊNCIA NAS TRANSAÇÕES 
COMERCIAIS INTERNACIONAIS 
(LEI N. 10.467, DE 11-6-2002)
I — CORRUPÇÃO ATIVA NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS 
INTERNACIONAIS 
• Introdução
O art. 2Q da Lei n. 10.467, de 11 de junho de 2002, introduziu o 
Capítulo II-A no Título XI do Código Penal, que trata dos crimes 
contra a Administração Pública, definindo dois delitos contra a Ad­
ministração Pública Estrangeira, quais sejam, corrupção ativa de 
funcionário público estrangeiro e tráfico de influência nas transa­
ções comerciais internacionais (arts. 337-B e 337-C). Causa estra­
nheza que o CP brasileiro contenha um capítulo definindo crimes 
“contra a Administração Pública estrangeira”. Na verdade, o legis­
lador pretendeu cominar punições criminais para fatos que aten­
tam contra a “lisura que deve orientar as transações comerciais in­
ternacionais”, “preservando as condições transacionais de compe­
titividade”23 .
23 Trecho do voto do Deputado Federal Jarbas Lima quando da apreciação, na Co­
missão de Constituição e Justiça e de Redação, do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, 
de que se originou a Lei n. 10.467/2002.
13
• Conceito legal
O CP, no art. 337-B, define o delito de corrupção ativa nas transa­
ções comerciais internacionais como o fato de “prometer, oferecer 
ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário 
público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a prati­
car, omitir ou retardar ato de ofício relacionado a transação comer­
cial internacional”, impondo penas de reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) 
anos, e multa.
• Origem da norma de conduta
O tipo incriminador foi introduzido pelo art. 2C da Lei n. 10.467, de 
11 de junho de 2002, oriunda do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, 
visando dar efetividade ao Decreto Legislativo n. 125, de 14 de 
junho de 2000, do Congresso Nacional, que aprovou a Convenção 
sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estran­
geiros nas Transações Comerciais Internacionais, concluída pelas 
Nações Unidas em Paris, em 17 de dezembro de 1997, e pelo Decre­
to n. 3.678, de 30 de novembro de 2000, que a promulgou. Disposi­
tivo da Convenção que fundamenta a incriminação: artigo 1, § 3.
• Irretroatividade da novatio legis incriminadora
O art. 337-B do CP contém lei nova incriminadora. Por isso, é 
irretroativa (CF, art. 5°, XL).
• Crimes de corrupção e suborno
Entre nós, ao contrário do que ocorre em outras legislações, as ex­
pressões corrupção e suborno têm o mesmo conceito, inexistindo 
diferença entre elas. Em alguns países, o fato cometido pelo servidor 
público é denominado “corrupção” (a nossa corrupção passiva); o 
praticado pelo particular (a nossa corrupção ativa), “suborno”24.
24 CARLOS MANFRONI, La Convención Interamericana contra la Corrupción, 
Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 95.
14
• Crimes de corrupção ativa comum e transnacional
O delito de corrupção ativa comum, relacionado ao funcionário pú­
blico brasileiro, está previsto no art. 333 do CP; o transnacional, 
em que o funcionário público estrangeiro aparece como objeto pes­
soal da corrupção, encontra-se no art. 337-B do mesmo estatuto.
• Crime de corrupção passiva
Vide art. 317 do CP.
• Objetividade jurídica supranacional25
O CP protege a lealdade no comércio exterior26 (nas transações 
comerciais internacionais). A lei penal, ensina CARLOS A. 
MANFRONI, pretende “preservar la transparência y la equidad en 
el comercio internacional, con vistas a una economia mundial cada 
vez más competitiva, en cuya expansión, la tolerancia de prácticas 
corruptas llevaria las fricciones que pudieran suscitarse entre em­
presas y países y los sobrecostos derivados a los pueblos, a niveles 
insoportables para la convivência”27. Essa lealdade diz respeito: 1) 
às empresas, que, como ensina CARLOS A. MANFRONI, devem 
competir unicamente com preço e qualidade, e não com fraude; 2) 
aos países, evitando o crescimento de uma economia em desfavor
25 Sobre as teorias a respeito do bem jurídico nos crimes de corrupção ativa e passi­
va, vide INÉS OLAIZOLA NOGALES, El delito de cohecho, Valência: Tirant Lo 
Blanch, 1999, p. 89 e s.
26 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 
1998, p. 35,37,40,41,45 e 131.
27 CARLOS A. MANFRONI,La Convención Interamericana contra la Corrupción, 
Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 135. As empresas privadas menos hones­
tas, diz Carlos A. Manfroni, “também conseguem competir deslealmente com as 
melhores ao iludir o pagamento de impostos, a preservação do meio ambiente ou 
as etapas normais para a obtenção de certificados e controles necessários para que 
certos produtos sejam projetados no mercado. Se estes desvios ocorrem na vida 
interna de um país, não há nenhuma razão para supor que não vão suceder no 
contexto do comércio entre as nações” (Sobomo transnacional, Buenos Aires:
Abeledo-Perrot, 1998, p. 35 e 36).
15
da corrupção do setor público de outra; 3) à coletividade, que paga 
em preço ou em impostos o valor do suborno28.
Não obstante se encontre o art. 337-B, que define o delito de 
corrupção ativa de funcionário público estrangeiro, no Capítulo II- 
A29 do Título XI30, do CP, não se cuida de uma infração que atenta 
contra a Administração Pública brasileira, uma vez que o funcioná­
rio público corrompido é o estrangeiro e não o brasileiro. Assim, se 
se tratasse de proteger a Administração Pública, esta seria, em tese, 
a estrangeira. Mas nem esta poderia ser a titular do bem jurídico31: 
um país não pode atribuir-se a tarefa de proteger a Administração 
Pública de outro32.
Estamos, na verdade, diante de um novo bem jurídico, a lealdade 
no comércio internacional, interesse que pertence a todos os países 
e cuja proteção penal, punindo seus nacionais, cabe a eles próprios, 
individualmente e por intermédio de suas legislações internas33.
* Fundamento constitucional da tutela penal
Qualquer estudo a respeito de bens jurídico-penais deve partir da 
C P 4, por intermédio da qual é possível estabelecer os limites pu-
28 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 
1998, p. 37.
25 Crimes praticados por particular contra a Administração Pública estrangeira.
30 Crimes contra a Administração Pública brasileira.
31 Para MAGNO K. NARDIN, o bem jurídico protegido no art. 337-B do CP é a 
honorabilidade da Administração Pública estrangeira (Crimes de corrupção de fun­
cionário público estrangeiro, http://www.ibccrim.org.br. 11-7-2002).
32 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 
1998, p. 39.
33 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 
1998, p. 41. JESCHECK denominaria a lealdade internacional como “bem jurídico 
supranacional” (O objeto do Direito Penal Internacional e sua mais recente evolu­
ção,Revisto de Direito Penal, Rio de Janeiro: Borsoi, 6/12, III, abr./jun. 1972).
34 GERARDO BARBOSA CASTILLO e CARLOS ARTURO GÓMEZ PAVAJE AU, 
Bien jurídico y derechos fundamentales, Bogotá: Universidad Externado de 
Colombia, 1998, p. 53.
16
nitívos do Estado. Em relação aos delitos criados pela Lei n. 10.467/ 
2002, quais sejam, corrupção ativa e tráfico de influência nas tran­
sações comerciais internacionais, de ver que a nossa CF prevê, em 
seu art. 4Q, IX, dentre os princípios que regem as nossas relações 
internacionais, o da “cooperação entre os povos para o progresso 
da humanidade”, em que se inclui o interesse de que haja lisura e 
probidade administrativa nas transações comerciais transnacionais 
entre os países (lealdade internacional no comércio exterior).
• Princípio adotado em relação à eficácia espacial da lei penal
Da territorialidade (CP, art. 5Q).
• Exceção pluralista do princípio unitário
Poderia haver um só delito para corruptor (nacional ou estrangeiro) 
e corrupto (funcionário público estrangeiro). De observar, contu­
do, que o CP não definiu, nem poderia fazê-lo, o crime de corrupção 
passiva do funcionário público estrangeiro. De modo que o corruptor 
responde nos termos do art. 337-B; o corrompido (funcionário pú­
blico estrangeiro), por eventual deüto de corrupção passiva, peran­
te a sua legislação penal. Assim, uma infração não depende da ou­
tra, podendo as legislações punir separadamente os dois autores35.
• Sujeito ativo
Crime comum, a corrupção ativa nas transações comerciais inter­
nacionais pode ser cometida por qualquer pessoa, brasileira ou es­
trangeira, inclusive pelo funcionário púbüco, brasileiro ou estran­
geiro, desde que não aja com essa quaüdade, atuando como qual­
quer pessoa36.
35 No sentido de que o funcionário público estrangeiro, pela corrupção passiva, é 
punido de acordo com a legislação penal de seu país: voto do Deputado Federal 
Jarbas Lima quando da apreciação, na Comissão de Constituição e Justiça e de Re­
dação, do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, de que se originou a Lei n. 10.467/2002.
36 Note-se que se trata de crime cometido por “particular contra a Administração 
Pública estrangeira”. No sentido de que a figura típica deve alcançar qualquer pes­
soa: artigo 1,1, da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Pú-
17
* Posição do corruptor (brasileiro ou estrangeiro)
Ao invés de aparecer como sujeito passivo da corrupção passiva 
comum (CP, art. 317), surge como sujeito ativo do crime do art. 
337-B.
* Corrupção passiva sem a ativa
É admissível37.
* Corrupção ativa sem a passiva
Já se entendeu que, absolvido o corrompido, é inadmissível que se 
condene o corruptor não havendo prova de que aquele recebeu a 
vantagem38.
* Uma espécie de corrupção não depende da outra
São independentes39.
* Sujeito passivo
O Estado estrangeiro titular da Administração Pública atingida.
* Elementares do tipo
O fato concreto, para ser típico, deve apresentar todas as elementa­
res dos tipos objetivo e subjetivo. A falta de um elemento conduz à 
atipicidade do fato.
blicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais; artigo 1,1, da Con­
venção da OCDE contra a Corrupção. No sentido de que o tipo pune o estrangeiro: 
voto do Deputado Federal Jarbas Lima quando da apreciação, na Comissão de Cons­
tituição e Justiça e de Redação, do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, de que se 
originou a Lei n. 10.467/2002.
37 Nesse sentido: RT, 419/110; STF, Inq. 705, Plenário, voto do Min. Celso de Mello, 
RT, 700/426.
38 STF, RTJ, 80/481.
39RT, 437/322 e 419/110; RJTJSP, 14/394 e 335,7/545 e 4/305.
18
• Tipo objetivo
Corresponde às elementares que descrevem o crime sob o aspecto 
de sua materialidade (condutas de oferecer etc., vantagem, terceira 
pessoa, praticar, omitir, retardar etc.).
• Tipo subjetivo
Conjunto de elementos que informam o aspecto subjetivo da des­
crição: dolo e elemento subjetivo do tipo (“para determiná-lo”).
• Elementos normativos do tipo
Correspondem à referência da definição do crime à ilegitimidade 
da vantagem, ao ato de ofício40 e à qualidade de funcionário públi­
co estrangeiro. Devem ser abrangidos pelo dolo.
• Condutas típicas
Consistem em oferecer, prometer ou dar, de forma direta ou indire­
ta, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a ter­
ceiro, com o fim de determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato 
de ofício relacionado a transação comercial internacional. A ação 
visa a que a transação comercial seja realizada, mantida ou retarda­
da41. Não é suficiente que o pólo passivo da corrupção seja funcio­
nário público estrangeiro, sendo necessário que o fato se relacione 
a transação comercial internacional.
• Equivocidade da redação
A redação do tipo é equívoca. Devemos entender que o comporta­
mento de corrupção sempre se endereça ao servidor público es­
trangeiro, no sentido da alteração de sua atitude funcional, sendo 
que a vantagem é que pode ser destinada a ele ou a terceiro.
40 No sentido de que o ato de ofício configura elemento normativo do tipo, comentando 
o crime de corrupção passiva: INMA VALEUE ALVAREZ, El tratamiento penal de la 
corrupción deifuncionário: el delito de cohecho, Madrid: EDERSA, 1995, p. 191.
41 Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros 
em Transações Comerciais Internacionais da ONU, de 1997, artigo 1,1.
19
• Qualificação típica
Cuida-se de crime formal42. Não é de mera conduta, uma vez que o 
tipo menciona o fim visado pelo autor (atitude do funcionário), 
porém não o exige43. Ele promete, oferece ou dá a vantagem indevida 
visando a que o servidor público estrangeiro realize, omita ou re­
tarde ato de ofício. A ação, omissão e retardamento do ato de ofício 
por parte do funcionário não são requeridos pelo tipo, tanto que sub­
siste o crime quando ele recusa a oferta, a promessa ou a vantagem.
• Conduta direta e indireta
Na primeira espécie, o sujeito expressamente formula sua preten­
são de oferecimento etc. de vantagem ao funcionário público es­
trangeiro (a viso aperto ou facie ad faciem) . Na segunda, o autor do 
fato vale-se de interposta pessoa para chegar ao conhecimento do 
funcionário a sua intenção ou apresenta o oferecimento ou a oferta 
de maneira velada, capciosa ou maliciosa (forma implícita de exe­
cução)44. Nas duas formas, exige-se um consenso entre o corruptor 
e o funcionário público estrangeiro45.
42 No sentido de que a corrupção ativa comum, descrita no art. 333 do CP, configura 
crime formal: PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR, Direito Penal objetivo, Rio de 
Janeiro: Forense Universitária, 1989,p. 675,n. 5; HELENO CLÁUDIO FRAGOSO, 
Lições de Direito Penal: parte especial, São Paulo: Bushatsky, 1965, v. IV, p. 1167, 
n. 1.065; RT, 736/627; RF, 254/373; ANTONIO JOSÉ MIGUEL FEU ROSA, Di­
reito Penal: parte especial, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 925.
43 Nesse sentido, abordando a corrupção ativa comum como delito de consumação 
antecipada: INÉS OLAIZOLA NOGALES,£7 delito de cohecho, Valência: Tirant 
Lo Blanch, 1999, p. 403. Como diz JULIO FABBRINI MIRABETE, “no crime 
formal não há necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente” (Ma­
nual de Direito Penal, São Paulo: Atlas, 1998, v. I, p. 132), esclarecendo que, no 
delito de corrupção ativa comum, definido no art. 333 do CP, “a consumação 
independe da aceitação por parte do funcionário da vantagem que lhe é oferecida ou 
prometida” (Manual, cit., 2001, v. m , p. 383).
44 Na Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estran­
geiros nas Transações Comerciais Internacionais, a forma indireta de conduta do 
corruptor é a que ele realiza por intermediários (artigo 1,1).
45 Como observa CARLOS A. MANFRONI, o crime “requiere algún consenso entre 
quien pide o acepta el sobomo y quien lo paga” {Sobomo transnacional, Buenos 
Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 21, n. 2).
20
• Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado
Se o autor oferece, promete e dá a vantagem ao funcionário, res­
ponde por um só delito. Aplica-se o princípio da altematividade, 
segundo o qual a norma que prevê diversas condutas como formas 
de um mesmo crime só é aplicável uma vez, ainda quando realiza­
das pelo mesmo autor sucessivamente num só contexto de fato46. 
Disso resulta a unidade de crime. Como diz LUIZ ALBERTO MA­
CHADO, quando os comportamentos devam ser considerados “atos 
de uma só ação, o crime é apenas um”47. A realização de mais de 
um comportamento descrito no tipo, desde que se integrem no 
mesmo contexto de fato, havendo entre eles nexo de causalidade 
ou relação de meio executório e fim, configura delito único e não 
concurso de crimes. Em face disso, surpreendido na realização de 
uma das ações, seja inicial (oferecer), seja intermediária (prome­
ter) ou final (dar), responde por um só delito.
• Oferecer
Significa apresentar ou propor alguma coisa para que seja aceita; 
dar como oferta (AURÉLIO), pôr à disposição (DELMANTO). Pode 
ser entendido como exibir uma coisa para que seja aceita (BENTO 
DE FARIA)48.0 oferecimento deve ser feito ao funcionário públi­
co estrangeiro e não a terceiro. Pode ser levado ao conhecimento 
do funcionário, contudo, por intermediário.
• Prometer
Significa obrigar-se a fazer ou dar alguma coisa (AURÉLIO). A pro­
messa deve ser dada ao conhecimento do funcionário público estran­
geiro e não a terceiro. Pode ser feita, contudo, via intermediário.
46 SÍLVIO RANIERI, Diritío Penale: parte generale, [s.l.: s.n.], 1945, p. 357.
47 LUIZ ALBERTO MACHADO, Direito Criminal: parte geral, São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 1987, p. 59.
48 Nesse sentido: TJSP, HC 122.623, rei. Des. Dante Busana,i?7,684/316 e 317.
21
• Formas de ação dos verbos “oferecer” e “prometer”
Escrita, verbal, por gestos e palavras ou por interposta pessoa.
• Dar
Quer dizer ceder, doar, presentear (AURÉLIO).
• Meios de execução do oferecimento ou promessa
São vários (crime de forma livre): palavras, atos, telefone, telegra­
ma, e-mail, fax, gestos, escritos, correio etc.
• Ausência de oferta ou promessa de vantagem
Não há corrupção ativa no caso de o sujeito, sem oferecer ou pro­
meter qualquer vantagem ao funcionário público estrangeiro, pe­
dir-lhe que “dê um jeitinho” em sua situação (perante a Adminis­
tração Pública estrangeira)49.
• Espontaneidade da conduta
É indispensável que não exista exigência por parte do funcionário 
estrangeiro, caso em que há o crime de concussão perante a legis­
lação penal estrangeira. O oferecimento e a promessa devem ser 
espontâneos. Se impostos pelo funcionário, desaparece a corrupção 
ativa. Assim, diante do mesmo contexto de fato, não é possível 
que o funcionário público estrangeiro cometa concussão e o par­
ticular, corrupção ativa50. Não fica impedido, entretanto, que o 
crime suija em face de sugestão do funcionário público estran­
geiro51.
49 Nesse sentido, apreciando ofensa à nossa Administração Pública: RT, 539/290; 
RF, 221/334.
50 Nesse sentido, abordando o art. 333 do CP: RTJ, 93/1023;RT, 572/324; RJTJSP, 
80/343.
51 Nesse sentido, apreciando a corrupção ativa comum: TJSP, HC 122.623, rei. Des. 
Dante Busana,/?:T, 684/316 e 641/316; RJTJSP, 15/474.
22
• Destinatário da vantagem
Deve ela endereçar-se ao funcionário público estrangeiro ou a “ter­
ceira pessoa”52 (parente, cônjuge, amigo, partido político, entidade 
ou pessoa jurídica).
• Se o funcionário público estrangeiro ainda não assumiu o car­
go etc.
Há crime. Ele já é funcionário público53.
• Funcionário público estrangeiro determinado
As condutas de corrupção devem endereçar-se a um funcionário 
público estrangeiro determinado. Se indeterminado, não há crime54.
• Posição do intermediário
O delito pode ser realizado mediante interposta pessoa55. Nesse caso, 
o terceiro aparece como partícipe do crime do art. 337-B e não da 
eventual corrupção passiva do funcionário público estrangeiro, a 
ser punida em seu país56.
• Funcionário que repele a oferta
Há delito em relação ao ofertante, uma vez que a lei incrimina o 
simples dar, oferecer ou prometer a vantagem. O funcionário pú­
blico estrangeiro não responde por delito algum (não aceitou o ofe­
recimento ou a promessa nem recebeu a vantagem).
52 No sentido de que a vantagem pode destinar-se a pessoa física ou instituição: 
CARLOS A. MANFRONI, La Convención lnteramericana contra la Corrupciôn, 
Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 93. Vide artigo 1,1 da Convenção sobre o 
Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros nas Transações Co­
merciais Internacionais e artigo 1,1, da Convenção da OCDE contra a Corrupção.
53 Nesse sentido: CARLOS A. MANFRONI,La Convención lnteramericana contra 
la Corrupciôn, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 41.
54 Nesse sentido: RT, 603/445.
55 Nesse sentido: RT, 542/323 e RF, 281/342.
56 Nesse sentido, abordando a nossa legislação: RJTJSP, 65/329.
23
• Objeto material do delito: vantagem
Qualquer vantagem, material ou imaterial, econômica ou não, pre­
sente ou futura. Constituem vantagem:
a) todo bem, móvel ou imóvel, tangível ou intangível, ou toda soma 
de dinheiro, título de propriedade, título de participação ou reco­
nhecimento de dívida, auferidos pelo agente a pretexto de presente 
(dádiva), comissão, porcentagem57, gratificação, empréstimo, ho­
norários, recompensa ou comissão;
b) todo encargo, emprego ou contrato;
c) todo pagamento, liberação, dispensa ou liquidação, no todo ou 
em parte, de empréstimo ou qualquer outra obrigação;
d) qualquer outro serviço ou favor, a título gracioso ou preferen­
cial, e toda utilização indevida de material ou pessoal;
e) o exercício, cumprimento ou abstenção de um direito, poder ou 
dever;
f) todo ato, interesse, dádiva ou proveito (como
o acesso funcional 
e a facilidade de negócio), de qualquer natureza; e
g) toda oferta, compromisso ou promessa, sob condição ou não, de 
proveito referido nas alíneas anteriores58.
• Dádivas59
São presentes, doações.
57 Nesse sentido: 77 Source Book, Parle A: Analytical Framework Cwww.transparencv.dA. 
Vidt LARISSA L. O. RAMINA, Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: 
Ed. Juruá, 2002, p. 34.
58 DAMÁSIO DE JESUS, Temas de Direito Criminal, 2a série, São Paulo: Saraiva, 
2001, p. 142. No sentido de que o tipo deve referir-se a vantagem pecuniária ou de 
qualquer natureza: artigo 1, 1 da Convenção sobre o Combate da Corrupção de 
Funcionários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais.
59 Sobre “algunos supuestos especiales de dádivas”, vide INMA VALEUE ALVAREZ, 
El tratamientopenal de la corrupción dei funcionário: el delito de cohecho, Madrid: 
EDERSA, 1995.
24
• Acesso funcional60
O autor promete ao servidor público estrangeiro conseguir que seja 
promovido, desde que tome determinada atitude funcional.
• Benefícios
Ex.: bolsa de estudo no exterior ao filho do funcionário61.
• Prestação sexual
Configura vantagem62.
• Autorizações de pagamento
Configuram vantagem63.
• Ato de ofício
É “o praticado na forma e nos limites da competência do servidor”64.
• Nexo de causalidade e atribuição funcional para o ato de ofício
Deve haver nexo de causalidade entre a conduta do funcionário 
público estrangeiro e a realização do ato de ofício conexo a uma 
transação comercial internacional. Caso contrário, inexistirá o de­
lito questionado, podendo surgir outro. Exige-se, pois, que o funcio-
60 No sentido de que o “acesso laborai”, que denominamos “funcional”, não é dádi­
va: INMA VALEIJE ALVAREZ, El tratamiento penal de la corrupción dei 
funcionário-, el delito de cohecho, Madrid: EDERSA, 1995, p. 149.
61 TI Source Book, Parte A: Analytical Framework (www.transparency.d/’). Vide 
LARISSA L. O. RAMINA, Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. 
Juruá, 2002, p. 34.
62 INMA VALEIJE ALVAREZ, El tratamiento penal de la corrupción deifuncionário: 
el delito de cohecho, Madrid: EDERSA, 1995, p. 152. No mesmo sentido: ANTO­
NIO JOSÉ MIGUEL FEU ROSA,Direito Penal: parte especial, São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 1995, p. 924.
63 Foreign Corrupt Practices Act, USA, 1977.
64 ARIOSVALDO DE CAMPOS PIRES, Compêndio de Direito Penal: parte espe­
cial, Rio de Janeiro: Forense, 1992, v. HI, p. 374.
25
nário tenha atribuição para a realização do ato oficial. Não se trata, 
portanto, de qualquer funcionário público estrangeiro, mas daque­
le que tem o dever de ofício de realizar ou não o ato. Assim, é 
necessário que o ato esteja dentro da esfera de atribuições do servi­
dor público estrangeiro no que diz respeito a transação comercial 
internacional. No sentido da exigência do nexo de causalidade en­
tre a conduta do funcionário púbfico estrangeiro e o exercício de 
suas funções: Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcio­
nários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Interna­
cionais, artigo 1, l 65.0 ato de ofício pode ser próximo ou remoto66.
* Corrupção própria e imprópria
A conduta funcional do servidor público estrangeiro pretendida pelo 
corruptor pode ser lícita ou ilícita. Quando o ato funcional é lícito, 
fala-se em corrupção própria; quando ilícito, imprópria67.
* Vantagem oferecida após o ato de ofício
Não há corrupção ativa no caso de a vantagem ser oferecida, pro­
metida ou dada ao funcionário público estrangeiro depois de sua 
conduta funcional (ativa ou omissiva). O comportamento visado 
deve ser realizado no futuro. Se já ocorreu, não há crime: dá-se a 
vantagem para que se faça, não porque se fez ou não alguma coisa68.
85 A disposição faz referência a “funções oficiais”. Essa exigência já havia sido assi­
nalada na Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas contida no documento 
“United Nations Declaration against Corruption and Bribery in International 
CommercialTransactions”,51* Sessão,Viena, 21 de fevereiro de 1997, item 3,a eb. 
No mesmo sentido, tratando de corrupção ativa comum: RF, 189/336; RJTJSP, 49/ 
296,50/377,82:363 e 129/462; RT, 511/349,513/380,571/302 e 498/292.
66 Nesse sentido: RT, 742/601.
67 No sentido de que o ato do funcionário pode ser lícito: CARLOS A. MANFRONI, 
La Convención Interamericana contra la Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 
1997, p. 93.
68 Nesse sentido: RF, 219/331 e 226/275; RJTJSP, 70/347 e 94/404; RT, 519/361, 
535/286, 599/309, 669/295,672/298 e 699/299.
26
• A natureza indevida da vantagem como elemento normativo 
do tipo
A vantagem deve ser indevida, i. e., ilegítima, ilícita ou ilegal, não 
autorizada por lei. Se devida, não há crime por atipicidade (erro de 
tipo)69.
• Corrupção antecedente e subseqüente
É antecedente quando a vantagem é dada ao funcionário público 
estrangeiro antes de sua ação ou omissão funcional. A recompensa 
lhe é entregue em face de uma conduta funcional futura. É subse­
qüente quando a vantagem é recebida depois da conduta funcional. 
Assim, se o sujeito oferece dinheiro para a realização de um ato de 
ofício, cuida-se de corrupção antecedente; se, contudo, após a rea­
lização do ato, faz a doação, trata-se da subseqüente, subentenden- 
do-se a promessa anterior. O Código Penal, sem fazer distinção, 
pune as duas formas típicas.
• Presentes, gratificações e recompensas “inocentes”
Nem todas as coisas podem ser consideradas objeto material de 
corrupção de funcionário público estrangeiro. Assim, as gratifica­
ções comuns e inocentes, de pequena importância econômica, em 
forma de gratidão em face da correção de atitude de um funcioná­
rio público estrangeiro, não integram o delito. Ex.: as “boas-festas” 
de Natal ou Ano Novo70. Nesses casos, ressalte-se que não há em 
relação ao ofertante ou doador a consciência de estar oferecendo 
ou dando uma retribuição pela prática de um ato de ofício por parte 
do funcionário, que é essencial ao dolo de corrupção, mas se trata 
de questão de fato, a ser apurada caso por caso71.
69 No sentido de que a vantagem deve ser indevida: Convenção sobre o Combate da 
Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Inter­
nacionais, artigo 1,1.
70 Nesse sentido, tratando de corrupção passiva em nossa legislação: RT, 389/93.
71 No sentido da atipicidade do fato, devendo este ser apreciado caso a caso: ORGA­
NIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, Sobre a Convenção Interamericana 
contra a Corrupção, intervenção do Delegado brasileiro no Simpósio sobre o Forta-
27
• Princípio da insignificância
Relacionado aos “delitos de lesão mínima” ou “crimes de bagate­
la”, o princípio da insignificância recomenda que o Direito Penal 
somente interfira nas hipóteses de ofensa jurídica de certa gravida­
de, reconhecendo a atipicidade do fato nos casos de lesões mais 
leves (relevância insignificante). Hoje, adotada a teoria da imputa­
ção objetiva, que concede supremacia ao risco relevante criado pela 
conduta ao objeto jurídico e reconhece a importância da ofensa 
jurídica como resultado normativo do crime, esse princípio impede 
que ingressem no campo penal fatos de lesividade insignificante, 
considerando a sua atipicidade.
Em face da classificação dos crimes em materiais, formais e de 
mera conduta72, o princípio da insignificância é aplicável à corrupção 
ativa de funcionário público estrangeiro nas transações comerciais 
internacionais, tendo em vista a sua natureza formal?
Há duas posições, considerando os delitos em geral:
Ia) A atipicidade pela insignificância jurídica da ofensa só pode ser 
reconhecida nos delitos materiais, de conduta e produção de resultado 
naturalístico, devendo ser proibida nos crimes formais e de mera con­
duta. Em face disso, não incide sobre o crime do art. 337-B do CP.
Para essa corrente,
o significado jurídico do fato só pode ser apre­
ciado nos casos em que o tipo penal descreve e requer um resultado 
naturalístico, hipóteses em que é possível confrontar o desvalor do 
evento material com o desvalor do resultado jurídico. Em conse-
lecimento da Probidade no Hemisfério, apresentando o Projeto de Lei brasileiro 
descrevendo delitos de corrupção de funcionários públicos estrangeiros nas transa­
ções comerciais internacionais, elaborado pelo Complexo Jurídico Damásio de Je­
sus, Santiago do Chile, 4 de novembro de 1998, in Anticorrupção, Subsecretária de 
Assuntos Jurídicos, Departamento de Cooperação e Difusão Jurídica íhttp:// 
www.oas .org/juridico/portuguese/anticorrupção.htm. 26-6-2002).
72 Crime material é aquele cujo tipo descreve a conduta e o resultado, exigindo a 
produção deste. Ex.: homicídio. No delito formal, embora haja referência ao fim 
visado pelo agente, a figura típica não exige o resultado. Ex.: extorsão (CP, art. 158). 
O tipo do crime de mera conduta só menciona o comportamento do sujeito. Ex.: 
violação de domicílio.
28
qüência, somente os delitos materiais admitem essa valoração73, cum­
prindo ser afastada nos crimes que não exigem a produção de um 
resultado naturalístico, como os contra a fé pública, certos delitos 
cometidos por funcionário contra a Administração Pública etc.74. 
De maneira que, na hipótese do art. 337-B do CP, há crime ainda 
que o valor da vantagem indevida dada ao funcionário seja de peque­
níssima importância material. Ocorre que, de acordo com essa orien­
tação, há ofensa ao bem jurídico, qual seja, à lealdade no comércio 
exterior, independentemente da relevância do objeto material da 
corrupção.
Essa tese só leva em conta o desvalor do resultado, esquecendo-se 
do desvalor da conduta. Ignora, como observa JOSÉ HENRIQUE 
GUARACY REBÊLO, “que também o desvalor da ação deve ser 
considerado para a fixação do caráter irrelevante da conduta, se­
gundo o parâmetro da nocividade social, de cunho eminentemente 
normativo”75.
2a) O princípio da insignificância é aplicável a todos os crimes, 
sejam materiais, sejam formais ou de mera conduta. Em conse­
qüência, recai também sobre a corrupção ativa de funcionário pú­
blico estrangeiro nas transações comerciais internacionais.
Para essa posição, que adotamos, a tese da atipicidade pela irrele­
vância da ofensa jurídica incide sobre todos os delitos, materiais, 
formais ou de mera conduta. Como, para a presença da imputação 
objetiva, é necessário que o comportamento crie um risco juridica­
mente proibido e relevante ao bem jurídico (desvalor da ação; im­
putação objetiva da conduta), que vem a transformar-se em rele­
vante resultado jurídico (desvalor do resultado; imputação objetiva 
do resultado), não há razão para que a insignificância só incida
73 HEINZ ZIPF, Introducción a la política criminal, trad. Miguel Iszquierdo Macías- 
Picavea, Madrid: Ed. de Derecho Reunidas, 1979, p. 104.
74 A gravidade da deslealdade funcional, afirma-se, como no caso do crime de 
corrupção de funcionário público, não pode ser medida pela gravidade quantitativa 
de eventual dano material.
75 JOSÉ HENRIQUE GUARACY REBÊLO, Princípio da insignificância: interpre­
tação jurisprudência!, Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 39.
29
sobre a imputação objetiva do resultado. Para nós, a irrelevância 
atípica pode advir do desvalor da ação ou do desvalor do resultado.
De maneira que condutas de potencial corruptor insignificante de­
vem ser consideradas atípicas, independentemente da natureza do 
crime. Como ensina CARLOS VICO MANAS, “se for mínimo o 
potencial agressivo da conduta, não há qualquer obstáculo a que se 
possa reconhecer a sua atipicidade, pouco importando que o delito 
seja formal ou de mera conduta, não exigindo, assim, a ocorrência 
de resultado para a sua caracterização”76.
• Transação comercial internacional77
No léxico, verifica-se que a palavra transação possui, em seu sen­
tido comum, o significado de “ato ou efeito de transigir, combina­
ção, convênio, ajuste, operação comercial”78. Sob o aspecto jurídi­
co, transação é ato pelo qual as partes interessadas extinguem obri­
gações mediante concessões recíprocas, ou seja, um acordo de ex­
tinção de obrigações.
Para efeito de interpretação do texto legal, a elementar transação 
foi empregada pelo legislador penal no sentido de operação co­
mercial. Sob esse aspecto, inclusive, o termo comercial, aparente­
mente, seria até redundante. De ver, entretanto, que o uso da ex­
pressão transação comercial impede que haja confusão com o sen­
tido jurídico-técnico da palavra, qual seja, modo de composição de 
conflitos e de extinção de obrigações. Assim, deve ser entendida 
em termos de contrato, acordo de vontades por meio do qual as 
pessoas formam um vínculo jurídico79. Desse prisma, transacionar
76 CARLOS VICO MANAS, O princípio da insignificância como excludente da 
tipicidade no Direito Penal, São Paulo, Saraiva, 1994, p. 65.
77 Vide sobre transações comerciais internacionais: ESTHER ENGELBERG, Con­
tratos internacionais do comércio, São Paulo: Atlas, 1997; JOÃO GRANDINO 
RODAS, Contratos internacionais, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002; 
MARISTELA BASSO, Contratos internacionais do comércio, Porto Alegre: Livr. 
do Advogado Ed„ 2002; MARIA LUIZA MACHADO GRANZIERA, Contratos 
internacionais: negociação e renegociação, São Paulo: ícone, 1993.
78 BUARQUE DE HOLANDA, Aurélio, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
79 ORLANDO GOMES, Contratos, Rio de Janeiro: Forense, 1987.
30
corresponde a uma ação de cunho econômico, que implica, em úl­
tima análise, produção ou circulação de bens ou serviços, com fi­
nalidade de lucro. Pode ser considerada, portanto, como um con­
trato que viabiliza a produção ou circulação de bens ou serviços.
Para caracterizar a “intemacionalidade” da transação comercial, na 
esteira do que fizeram os ingleses80, aconselha-se, na apücação da 
lei nova, o exame caso a caso. Nessa perspectiva, considerar-se-á 
internacional a operação comercial após a análise, em cada fato 
específico, dos elementos de “estraneidade” existentes, como o 
objeto e domicílio das partes contratantes. Por isso, é mais apropria­
do precisar o significado do vocábulo internacional e elencar as 
diversas transações que possuam tal característica.
Internacional é a transação que possui elementos que a vinculam a 
mais de um sistema jurídico81. Tomando-se como base o Decreto n. 
857/69, que discipüna, no Brasil, a utüização de moeda estrangeira 
em contratos, podemos inferir alguns elementos que caracterizam 
determinada transação como internacional:
a) contratos de importação ou exportação de mercadorias;
b) empréstimos e quaisquer outras obrigações cujo credor ou deve­
dor seja pessoa residente e domiciliada no exterior, exceto os con­
tratos de locação de imóveis situados no território nacional; e
c) contratos que tenham por objeto cessão, transferência, delega­
ção, assunção ou modificação das obrigações cujo credor ou deve­
dor seja pessoa residente e domiciliada no exterior, exceto os de 
locação de imóveis localizados no território nacional. A essas situa­
ções podem ser acrescentadas outras operações não previstas no 
referido decreto, mas que certamente constituem transações 
internacionais, como o contrato de transporte internacional, por 
qualquer via, aérea, aquática ou terrestre, e os que envolvem trans­
missão de informações por qualquer meio de comunicação.
80 Unfair Contract Terms Act e Arbitration Act (LUIZ OLAVO BAPTISTA, Contra­
tos internacionais, São Paulo: Saraiva, 1994).
81ESTHER ENGELBERG, Contratos internacionais do comércio, São Paulo: Atlas, 
1997, p. 19.
31
Assim, toma-se necessário que a conduta do corruptor esteja rela­
cionada a transações comerciais internacionais (elemento normati­
vo do tipo), assim consideradas as que concernem a contratos:
I — que tenham
como objeto, direta ou indiretamente, a importa­
ção ou exportação de bens ou serviços;
II — de transporte internacional, por qualquer via, de pessoas, car­
gas, malotes postais, remessas expressas ou qualquer outro bem;
m — que impbquem transmissão de informações, por qualquer 
meio de comunicação, entre pessoas locabzadas ou sediadas em 
países distintos;
IV — relativos a empréstimos e quaisquer outras obrigações, ou 
que possibilitem a circulação de valores de qualquer natureza, cu­
jas partes estejam locabzadas ou sediadas em países distintos;
V — que tenham como objeto cessão, transferência, delegação, 
assunção ou modificação das obrigações ou valores referidos no 
inciso anterior; e
VI — quaisquer outros que impbquem produção ou circulação de 
bens ou serviços cujos elementos o vinculem a mais de um sistema 
jurídico82.
• Se a transação comercial não é internacional
Não se apbca o art. 337-B do CP. Assim, inexiste crime no caso de 
tratar-se de transação comercial nacional, não envolvendo interes­
ses de dois países.
• Se a transação internacional não é comercial
Não há o crime do art. 337-B. Assim, não se incluem no tipo os 
convênios de natureza cultural, política ou mihtar, salvo quando 
envolvam interesses econômicos83.
82 DAMÁSIO DE JESUS, Temas de Direito Criminal, 2a série, São Paulo: Saraiva, 
2001, p. 142.
83 Nesse sentido: CARLOS A. MANFRONI, La Convención Interamericana contra 
la Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 132.
32
• Elementos subjetivos do tipo
O primeiro é o dolo, vontade livre e consciente de oferecer, prometer ou 
dar a vantagem, com conhecimento de que é indevida e se trata de funcio­
nário público estrangeiro e de transação comercial internacional. Deve 
alcançar os elementos normativos do tipo84. Exige-se um segundo, con­
tido na expressão “para deteiminá-lo a praticar, omitir ou retardar ato de 
ofício”. Se inexiste qualquer dos dois elementos o fato é atípico85.
• Finalidade da determinação
Determinar, na hipótese, significa persuadir, mover, levar (AURÉLIO), 
conduzir o servidor público estrangeiro a tomar certa atitude funcional.
• Atitude do funcionário pretendida pelo corruptor
Prática, omissão ou retardamento de ato de ofício.
• “Aceleração” de ato de ofício (speed money)
É possível que o corruptor dê vantagem indevida ao corrupto para 
que, p. ex., acelere uma decisão de ofício. A aceleração se enqua­
dra no verbo “praticar”, havendo crime86.
• Evitação de atraso na realização de ato de ofício
Ex.: o corruptor entrega valores ao funcionário para que “evite 
atrasos”87.
84 No sentido genérico do texto: MIGUEL RE ALE JÚNIOR, Instituições de Direito 
Penal, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 224, n. 6.1.3.
85 Nesse sentido: RF, 240/333. No sentido de que a intenção do autor é a de “realizar 
ou dificultar transações ou obter vantagem ilícita na condução de negócios interna­
cionais”: artigo 1,1 da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários 
Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais.
86 Speed money, explica LARISSA L. O. RAMINA, “consiste em somas pagas a 
agentes públicos com o objetivo de acelerar suas decisões ou outros procedimentos” 
(Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 33, n. 1.4.3). 
O TI SourceBook fala em “agilização de processo”.
87 Nesse sentido: TI SourceBook,Partis A: Analytical Framewoik (www.transparencvxl/'). 
Vide LARISSA L. O. RAMINA, Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: 
Ed. Juruá, 2002, p. 34.
33
• Motivação
É irrelevante. Assim, não desnatura o tipo subjetivo a circunstância 
de a corrupção destinar-se à realização de uma transação comercial 
internacional que tenha influência política.
• Cogitação
É impunível. A idéia não delinqüe (ASÚA). Assim, manifestar vontade 
de corromper o funcionário público estrangeiro não configura delito.
• Presunção de dolo
Inexiste em nossa legislação penal o chamado dolus in re ipsa, e, 
por isso, não pode ser reconhecido88.
• Erro de tipo (CP, art. 20)
Ocorre quando o sujeito realiza concretamente o tipo desconhe­
cendo as suas elementares, sejam descritivas (objetivas), sejam 
normativas. Ex.: o sujeito desconhece que o funcionário público é 
estrangeiro, supondo-o brasileiro. Nessa hipótese, não subsiste o 
crime de corrupção ativa comum, previsto no art. 333 do CP, uma 
vez que esse tipo pressupõe nacional o funcionário público. Outro 
exemplo: o agente não sabe que se trata de transação comercial 
internacional. É também o caso da suposição errônea da legitimi­
dade da vantagem: o sujeito, por erro invencível, supõe devida a 
vantagem. Evitável ou inevitável o erro, fica excluído o dolo, desa­
parecendo o crime por atipicidade do fato.
• Erro provocado por terceiro
Responde pelo crime o terceiro que determina o erro (CP, art. 20, § 
2Q). Ex.: o sujeito, agindo insidiosamente, faz crer ao corruptor que 
se trata de funcionário púbüco brasileiro. O provocador responde 
pelo delito.
88TJSP,ACrim 131.021, laCâm.,rel. Des. Fortes Barbosa, j. 25-10-1994, aprecian­
do a Lei Antitóxicos; MARCELO FORTES BARBOSA, Erro de tipo, Boletim do 
IBCCrim, São Paulo, p. 4, abr. 1994.
34
• Crime putativo
Ocorre quando o sujeito, por erro, supõe que o fato realizado cons­
titui crime descrito na lei, sendo que, na verdade, configura indife­
rente penal. Difere do erro de tipo: neste, o sujeito não deseja co­
meter o delito, agindo por erro; no delito putativo, ao contrário, o 
sujeito quer praticar o crime, não vindo a cometê-lo por erro. Pos­
sui três espécies: Ia) crime putativo por erro de proibição; 2a) crime 
putativo por erro de tipo; 3a) crime putativo por obra de agente 
provocador (crime de flagrante provocado).
• Crime putativo por erro de proibição
Ocorre quando o sujeito supõe estar violando norma incriminadora 
da Lei n. 10.467/2002, que, na verdade, não existe. Ex.: o agente 
supõe que dar um presente de Natal ao funcionário público estran­
geiro, por si só, configura crime. Aplica-se o art. Ia do CP: o fato, 
por não estar definido em lei como crime, é atípico89.
• Crime putativo por erro de tipo
Hipótese em que o sujeito não incide em erro sobre a norma de 
proibição, mas sobre os elementos típicos do crime. O comando 
legal proibitivo existe, porém o erro recai sobre as elementares, 
circunstâncias e dados do tipo penal. Ex.: oferecimento de vanta­
gem impossível de ser concretizada. Aplica-se, por extensão per­
mitida (art. 12 do CP), o art. 17 do CP (crime impossível por ine­
xistência ou impropriedade absoluta do objeto material).
• Crime por obra de agente provocador (crime de flagrante pre­
parado ou provocado)
Hipótese em que alguém (autoridade ou agente desta, sujeito passi­
vo ou terceiro), de maneira insidiosa, provoca o sujeito à prática 
delituosa, tomando providências no sentido de que o fato não atinja 
a consumação. O agente opera dentro de pura ilusão, uma vez que, 
na realidade, ab initio as providências tomam impraticável a con-
89 Vide art. 5Q, XXXIX, da CF.
35
cretização do ilícito penal. Aplica-se a Súmula 145 do STF: não há 
crime quando a preparação do flagrante pela polícia toma impossí­
vel a sua consumação.
• Crime de flagrante esperado
É punível. Acontece quando alguém toma conhecimento de que 
um crime vai ser cometido e avisa a polícia, que põe seus agentes 
de sentinela, surpreendendo o sujeito no momento da prática ilícita. 
Não se confunde com a hipótese anterior do crime putativo por obra 
de agente provocador. No flagrante esperado não há provocação.
• Crime impossível (CP, art. 17)
É admissível. Ex.: o sujeito promete vantagem ao funcionário pú­
blico impossível de ser concretizada. Assim, não há delito quando 
o objeto da oferta ou da promessa é absolutamente impossível de 
materializar-se90. “O oferecimento ou o prometimento, além de cer­

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