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OBRAS DO AUTOR Código de Processo Penal anotado, Saraiva. Código Penal anotado, Saraiva. Crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas transações comerciais internacionais, Saraiva. Crimes de porte de arma de fogo e assemelhados-, anotações à parte criminal da Lei n. 9.437, de 20 de fevereiro de 1997, Saraiva. Crimes de trânsito, Saraiva. Decisões anotadas do Supremo Tribunal Federal em matéria crimi nal, Saraiva. Direito penal, 1Q volume, Saraiva. Direito penal, 2Q volume, Saraiva. Direito penal, 3Q volume, Saraiva. Direito penal, 4S volume, Saraiva. Imputação objetiva, Saraiva. Lei Antitóxicos anotada, Saraiva. Lei das Contravenções Penais anotada, Saraiva. Lei dos Juizados Especiais Criminais anotada, Saraiva. Novas questões criminais, Saraiva. Novíssimas questões criminais, Saraiva. O novo sistema penal, Saraiva. Penas alternativas, Saraiva. Prescrição penal, Saraiva. Questões criminais, Saraiva. Temas de direito criminal, Ia série, Saraiva. Temas de direito criminal, 2a série, Saraiva. Teoria do domínio do fato no concurso de pessoas, Saraiva. Tráfico internacional de mulheres e crianças — Brasil, Saraiva. DAMÁSIO DE JESUS CRIMES DE CORRUPÇÃO ATIVA E TRÁFICO DE INFLUÊNCIA NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 2003 Jr 1 EditoraJ Saraiva CRIMES DE CORRUPÇÃO ATIVA E TRÁFICO DE INFLUÊNCIA NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS saraivajur.com.br Visite nosso portal ISBN 978-85-02-15267-0 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Jesus, Damásio de Crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas transações comerciais internacionais / Damásio de Jesus. — São Paulo : Saraiva, 2003. 1. Comércio internacional 2. Corrupção ativa - Leis e legislação - Brasil 3. Tráfico de influência - Leis e legislação - Brasil I. Título. Editado também como livro impresso em 2003. índice para catálogo sistemático: 1. Brasil : Crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas transações comerciais internacionais : Leis : Direito penal 343.53:382(81 )(094) ABREVIATURAS ACrim — Apelação Criminal AE — Agravo em Execução Agi — Agravo de Instrumento AJ — Arquivo Judiciário APn — Ação Penal AR — Ação Rescisória Câm. — Câmara CC - Código Civil CComp — Conflito de Competência CF — Constituição Federal CJ — Conflito de Jurisdição CP — Código Penal CPar — Correição Parcial CPP — Código de Processo Penal CTest — Carta Testemunhável Des. — Desembargador DJU — Diário da Justiça da União DOU — Diário Oficial da União ED — Embargos Declaratórios EI — Embargos Infringentes HC — Habeas Corpus IBCCrim — Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (SP) Inq. — Inquérito JC — Jurisprudência Catarinense JEC — Juizado Especial Criminal JSTJ — Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça JTARS — Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul JTJ — Jurisprudência do Tribunal de Justiça (SP) LCP — Lei das Contravenções Penais LEP — Lei de Execução Penal LICC — Lei de Introdução ao Código Civil Min. — Ministro MS — Mandado de Segurança m.v. — maioria de votos OAB — Ordem dos Advogados do Brasil OCDE — Organização para a Cooperação e Desenvolvi mento Econômico OEA — Organização dos Estados Americanos ONU — Organização das Nações Unidas PJ — Paraná Judiciário PNUFID — Programa das Nações Unidas para a Fiscaliza ção Internacional de Drogas RCPDF — Revista do Conselho Penitenciário do Distrito Federal RCrim — Recurso Criminal RDP — Revista de Direito Público RE — Recurso Extraordinário RECrim — Recurso Extraordinário Criminal rei. — relator REsp — Recurso Especial Revista CEJ — Revista do Centro de Estudos Judiciários do Con selho da Justiça Federal RF — Revista Forense RHC — Recurso de Habeas Corpus RJDTACrimSP — Revista de Jurisprudência e Doutrina do TACrimSP RJTACrimSP — Revista de Julgados do Tribunal de Alçada Cri minal de São Paulo RJTJSP — Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo RMS — Recurso em Mandado de Segurança ROA — Revista da Ordem dos Advogados (SP) ROHC — Recurso Ordinário em Habeas Corpus RSE — Recurso em Sentido Estrito (Recurso Criminal) RT — Revista dos Tribunais VI RTJ — Revista Trimestral de Jurisprudência RvCrim — Revisão Criminal SEDDG — Seção de Estudos da Diretoria do Departamento dos Gabinetes do TACrimSP STF — Supremo Tribunal Federal STJ — Superior Tribunal de Justiça T. — Turma TACrimMG — Tribunal de Alçada Criminal de Minas Gerais TACrimSP — Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo TAPR — Tribunal de Alçada do Paraná TJ — Tribunal de Justiça TI — Transparency International TJRO — Tribunal de Justiça de Rondônia TJSE — Tribunal de Justiça de Sergipe TJSP — Tribunal de Justiça de São Paulo UN — United Nations UNICRI — Instituto Inter-regional das Nações Unidas de Pesquisas sobre Prevenção do Crime e Justiça Penal v. — volume v. un. — votação unânime v. v. — voto vencido VII ÍNDICE GERAL Abreviaturas............................................................................ V C apítulo I O SUBORNO NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 1. As Nações Unidas e a corrupção de funcionários públicos estrangeiros nas transações comerciais internacionais 1 2. Tipos de corrupção............................................................... 2 3 .0 custo do delito.................................................................. 3 4. As iniciativas das Nações Unidas e outros organismos inter nacionais .............................................................................. 4 C apítulo II CRIMES DE CORRUPÇÃO ATIVA E TRÁFICO DE INFLUÊNCIA NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS (LEI N. 10.467, DE 11-6-2002) I — Corrupção ativa nas transações comerciais internacionais 13 II — Tráfico de influência em transação comercial interna cional ............................................................................. 47 III — Funcionário público estrangeiro.................................... 59 APÊNDICE Decreto n. 3.678, de 30 de novembro de 2000, que promulga a Convenção das Nações Unidas sobre o Combate da Cor rupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais....................................................... 67 Convenção das Nações Unidas sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comer ciais Internacionais (1997)...................................................... 68 Projeto de Lei Original n. 4.143, de 2001, do Poder Execu tivo, e Mensagem n. 140, do Senhor Presidente da República 76 Projeto de Lei n. 4.143, de 2001 — Comissão de Constituição e Justiça e de Redação — voto do Relator.............................. 79 Projeto de Lei n. 4.143, de 2001 — Comissão de Constituição e Justiça e de Redação — Emenda.......................................... 82 Projeto de Lei n. 4.143, de 2001 — Comissão de Constituição e Justiça e de Redação — voto do Deputado Federal Jarbas Lima e Substitutivo.................................................................. 83 Projeto de Lei elaborado pelo Complexo Jurídico Damásio de Jesus a pedido das Nações Unidas sobre Crimes de Cor rupção de Funcionários Públicos nas Transações Comerciais Internacionais.......................................................................... 88 Exposição de Motivos do Projeto de Lei sobre Crimes de Cor rupção de Funcionários Públicos nas Transações Comerciais Internacionais elaborado pelo Complexo Jurídico Damásio de Jesus a pedido das Nações Unidas e entregue ao Governo bra sileiro ....................................................................................... 97 Razões da necessidade da introdução na legislação penal bra sileira dos crimes de corrupção de funcionários públicos nas transações comerciais internacionais e correlatos com referên cia ao Projeto de Lei solicitado ao Complexo Jurídico Damá sio de Jesus pelas Nações Unidas.............................................. 110 Exposição de Motivos da Lei n. 10.467, de 11 de junho de 2002............................................................................................ 115 Lei n. 10.467, de 11 de junho de 2002, que introduziu no Código Penal os crimes de corrupção ativa e tráfico de influên cia nas transações comerciais internacionais............................ 118 X C a p ít u l o I O SUBORNO NAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 1. As Nações Unidas1 e a corrupção de funcionários públi cos estrangeiros nas transações comerciais internacionais As Nações Unidas sempre estiveram preocupadas com a cor rupção funcional — especialmente no que tange a transações comer ciais internacionais —, que enfraquece a integridade e a credibilidade das administrações estatais, debilitando as políticas sociais e econô micas. Como consta das Conclusões do Seminário sobre Corrupção nas Transações Comerciais Internacionais, promovido pela Organi zação dos Estados Americanos (OEA) e pela Organização para a Co operação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizado em Buenos Aires, Argentina, em 7 e 8 de setembro de 1998, “a corrupção e o suborno minam a credibilidade das instituições democráticas, deterioram os investimentos estrangeiros, pervertem o comércio e são prejudiciais ao desenvolvimento da economia”2. 1 Sobre as Nações Unidas: LARISSA L. O. RAMINA,/lfão internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002; LUIS IVANI DE AMORIM ARAÚJO, Das organizações internacionais, Rio de Janeiro, Forense, 2002, p. 25 e s. 2 Como disse RODOLFO ALEJANDRO DÍAZ, Procurador dei Tesoro de la Nación argentina, “a corrupção lastima o tecido social, contamina as instituições e produz disfuncionalidade nos órgãos públicos. Além disso, afeta a legitimidade dos siste mas políticos e compromete a governabilidade dos Estados” (Corrupción: un desa fio para la governabilidad y las transaciones intemacionales, paper apresentado no Seminário La lucha contra el sobomo en las transaciones comerciales intemaciona les, OCDE, OEA e Govemo da Argentina, Buenos Aires, setembro de 1998, p. 1). 1 São os seguintes os problemas que a corrupção funcional produz: 1Q) incremento da sonegação de impostos: os funcionários pú blicos, em face da corrupção, não escolhem os melhores contratos para seu país, mas sim os mais lucrativos para eles próprios; em con seqüência, o Governo arrecada menos impostos e gasta mais; 2a) a economia de mercado não funciona: conseguem melhores contratos, não as mais produtivas companhias, mas as que sabem negociar com as autoridades; 3Q) o investimento extemo é reduzido porque o suborno apre senta o mesmo efeito de um imposto: configura um custo a mais no balanço das companhias3. Trata-se de um fenômeno antigo4 e mundial, a justificar constan tes atualizações das legislações nacionais, como está atualmente ocor rendo na Inglaterra, que se apressa em reformar as regras de prevenção do comportamento corrupto de seus funcionários públicos5. 2. Tipos de corrupção Há que diferenciar a corrupção “ordinária” da “macroeco nômica”. Aquela configura a delinqüência comum; esta se expressa por um número indeterminado de escândalos que, por seu volume e por girar sempre ao redor de uma inadequada e fraca fiscalização fiscal e aduaneira estatal, afeta o desenvolvimento do país, com gra 3 ELIANA SIMONETTI, Pintou sujeira, Veja, n. 1622, p. 64, 3 nov. 1999. 4 “Si se define ‘corrupción’ de forma general como transgressión de normas por parte de agentes de vigilar el bien público en detrimento de este bien público, en contramos que ya desde la antiguedad existen normas que reglamentan el ejercicio de la función pública, ya sea por legislation civil, ya sea por normas éticas y reli giosas, como las que encontramos profusamente en la Sagrada Escritura” (HORST PIETSCHMANN, Corrupción en las índias Espaholas, Institucionesy Corrupción en la Historia, apud MARTA MAGADAN DÍAZ, Corrupción y fraude: economia de la transgressión, Madrid: Dykinson, 1999, p. 9). 5 G. R. SULLIVAN, Proscribing Corruption — some comments on the Law Commission’s Report, The Criminal Law Review, Londres: Sweet & Maxwel, p. 547, Aug. 1998. 2 víssimos danos à sua economia6. Seja “ordinária”, seja “macro econômica”, impede o desenvolvimento e gera pobreza7. A corrupção também apresenta “cores”, dependendo da gravi dade de seus efeitos: negra, cinzenta e branca. A primeira, observa JOAQUÍN GONZÁLEZ, compreende as mais graves violações das regras estabelecidas e recebe a unânime reprovação social; a branca, integrada pelas pequenas corrupções e os maus hábitos humanos, costuma ser tolerada; a cinzenta tende a ficar negra nas sociedades mais puritanas e branca nas mais permissivas8. 3. O custo do delito A corrupção prejudica o progresso das nações e, a par da impu nidade que a acompanha, debilita as instituições e a moral pública, gerando alto custo, responsável pelo empobrecimento do povo9. De acordo com a Transparency International (TI), pesquisas demons tram que os países com maior incidência de corrupção aparecem como os menos economicamente competitivos. Prevenindo-se e, com isso, 6 EUGENIO RATJL ZAFFARONI, Las máscaras de la corrupción,ií7 Clarin, Buenos Aires, 4 ago. 1998, Seção Opinion, p. 17. 7 CARLOS A. MANFRONI,La Convention Interamericana contra la Corruption, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 27. 8 Corruption y justicia democrática, Madrid: Clamores, 2000, p. 99. 9 Corrupción: que actúe la Justicia,La Nación, Buenos Aires, 9 ago. 1998; ANTO NIO GIALANELLA, Le modèle d ’un capitalisme crimenel (Le sursaut démocratique), in Un monde san loi: la criminalité financière en images, Jean de Maillard et al., Paris: Stock, 1998, p. 114. Como informou JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO, Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, “o Brasil perde por ano, com a corrupção nas esferas federal, estadual e municipal, pelo me nos R$ 100 bilhões, um número 11 vezes maior do que os bilhões de reais previstos no Orçamento Geral da União para investimentos em 2002 e 10 vezes superior ao orçamento da cidade de São Paulo” (Impacto da corrupção, Jornal da Cidade, Bauru (SP), 24 jul. 2002, p. 2). De acordo com informação d'O Estado de S. Paulo, a máfia dos fiscais da Prefeitura da capital paulista “movimenta R$ 1 2 milhão por mês em propinas” (ed. de 26 jul. 2002, C3). 3 reduzindo os casos de corrupção funcional, os países aumentam os investimentos estrangeiros10. Como se nota, a corrupção funcional é tema dos mais impor tantes na luta contra a delinqüência transacional organizada, esti mando-se que se os ganhos ilícitos corresponderem a 5% do valor dos investimentos estrangeiros e das importações em países minados pelo suborno nas transações internacionais, a importância anual che garia a US$ 80 bilhões, equivalente a uma elevação de impostos da ordem de 24%u. A ação da autoridade governamental é das mais relevantes, uma vez que os Estados, no estágio atual, não têm conse guido cercar as atividades da Administração Pública com um cordão sanitário que as proteja da corrupção funcional, que se constitui em um dos principais impedimentos ao desenvolvimento dos povos12. Realmente, como disse o Embaixador MICHAEL SKOL, Subsecre tário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos dos Estados Unidos (1993-1996), “el suborno transnacional es el más arrogante de los actos corruptos”13. 4. As iniciativas das Nações Unidas e outros organismos in ternacionais14 A Organização das Nações Unidas (ONU), em 15 de dezembro de 1975, pela Resolução 3514, condenou as práticas corruptas das empre 10 Veja, Rio de Janeiro, p. 33,26 ago. 1998; Pintou sujeira, Veja, n. 1622, p. 64, 3 nov. 1999; Correio Braziliense, Economia & Trabalho, 27 out. 1999, p. 17. 11 Corrupção: a comunidade internacional se mobiliza para erradicar essa praga glo bal, Folha de S. Paulo, 18jun. 1998, suplemento Time, p. 5 e8. Vide sobre o assunto: JEAN DE MAILLARD et al., Un monde san loi: la criminalité financière en images, Paris: Stock, 1998, p. 104 (verbete “Le crime invisible”). 12 DANIEL KAUFMANN, Corrupción y governabilidad, Seminário sobre a Corrupção nas Transações Comerciais Internacionais, Buenos Aires, Argentina, 7 e 8 de setembro de 1998, p. 13. 13 Prólogo da obra Sobomo transnacional, Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1998, p. 9. 14 Sobre o assunto, vide LARISSA L. O. RAMENA, Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 43 e s. 4 sas que realizam transações mercantis internacionais por meio de subor no de funcionários públicos encarregados de sua fiscalização, recomen dando aos Estados-Membros a adoção de providências no sentido de medidas legislativas de prevenção e repressão, tendo retomado ao as sunto nas Resoluções 1995/14 (Medidas contra a Corrupção), de 24 de julho de 1995, e 50/225 (Administração Pública e Desenvolvimento), de 19 de abril de 1996, do Conselho Econômico e Social. Na Resolução 51/59, de 12 de dezembro de 1996, foi aprovado o Código Internacional de Conduta dos Titulares de Cargos Públi cos, sugerindo que os Estados-Membros nele se guiassem na luta contra a corrupção. Na Resolução 51/191, foi solicitado ao Conselho Econômico e So cial e, especialmente, a um de seus órgãos auxiliares, a Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal, o exame de medidas a serem toma das para coibir a corrupção nas transações comerciais internacionais. Em Buenos Aires, de 17 a 21 de março de 1997, houve reunião do Grupo de Especialistas em Prevenção da Corrupção, estudando o assunto15. No 6° Período de Sessões da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal das Nações Unidas, realizado em Viena, de 29 de abril a 9 de maio de 1997, o Conselho Econômico e Social recomen dou à Assembléia Geral a aprovação de Projeto de Resolução exor tando “aos Estados-Membros a tipificação como crime, de forma eficaz e coordenada, do suborno de ocupantes de cargos públicos nas transações comerciais internacionais”16. Em Dakar, de 21 a 23 de julho de 1997, realizou-se o Seminário Regional Ministerial Africano sobre Medidas contra a Delinqüência Transacional Organizada e a Corrupção. A Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua Resolução 52/ 87, de 12 de dezembro de 1997, sobre Cooperação Internacional con 15 Vide LARISS A L. O. RAMINA,/lçao internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 52. 16 Documentos Oficiais de 1997 do Conselho Econômico e Social das Nações Uni das, Nova York, 1997, suplemento n. 10, p. 57. 5 tra a Corrupção e o Suborno nas Transações Comerciais Internacio nais, decidiu que os Estados-Membros devem adotar todas as medi das possíveis para promover a aplicação da Declaração das Nações Unidas contra a Corrupção e o Suborno e do Código Internacional de Conduta de Funcionários Públicos. Em Manila, de 23 a 25 de março de 1998, realizou-se o Workshop Ministerial Regional da Ásia sobre a Delinqüência Transacional Or ganizada e a Corrupção. Em Viena, de 21 a 30 de abril de 1998, realizou-se o 7a Período de Sessões da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal, pro movido pelas Nações Unidas. Estiveram representados no evento cerca de 123 países, com 1.252 delegados, além de órgãos do Secre tariado das Nações Unidas, como o Centro de Direitos Humanos, o Departamento de Paz, o Departamento de Coordenação Policial, a Comissão de Refugiados e o Programa das Nações Unidas de Con trole de Drogas, além de organizações intergovemamentais e não governamentais. A par do tema prioritário, versando sobre o Crime Organizado Transnacional, foram discutidos outros assuntos, dentre os quais a Aplicação de Normas Legais e a Ação contra a Corrupção e o Suborno. A Polônia, em 1996, propôs à ONU a elaboração de uma Con venção Internacional contra a Delinqüência Transacional Organiza da. Em 24 de setembro de 1996, o Projeto da Convenção foi enviado ao Secretário-Geral da ONU. Em abril de 1997, em Palermo, foram iniciados os estudos do Projeto, que prosseguiram no 6a Período de Sessões da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal das Nações Unidas (Viena, abril/maio de 1997. No 7a Período de Ses sões (Viena, abril de 1998), continuaram as discussões sobre os ter mos da Convenção. No Tema 2, que versa sobre o “Âmbito de apli cação”, contendo uma lista ilustrativa dos crimes cometidos pelas organizações criminosas transacionais, um dos delitos é a “corrupção de funcionários públicos”17. Os trabalhos continuaram em Roma, em 17 Opção n. 6, “i”, Cooperação Internacional para Combater a Delinqüência Transacional, Informe do Grupo Intergovemamental de Especialistas, doc. do 7a Período de Sessões, Viena, 21 a 30 de abril de 1998, p. 18 e 19. 6 17 e 18 de julho de 1998, e em Buenos Aires, de 31 de agosto a 4 de setembro de 199818. Em Buenos Aires, nos dias 7 e 8 de setembro de 1998,reaüzou- se o Workshop on Combating Corruption and Bribery o f Public Officials in International Business Transactions, promovido pela OEA19, pela OCDE20 e pela Argentina. O evento, com a finalidade de indicar aos Estados participantes a forma de identificação de meios e ações contra a corrupção funcional, teve também a missão de mos trar-lhes os avanços que têm ocorrido no terreno da cooperação in ternacional, discutindo a incriminação e a apenação de condutas, a transparência das atividades funcionais do Estado e a indevida dedu ção de valores de propinas doadas a funcionários púbbcos no paga mento de imposto de renda21, prática proibida na Europa somente em fevereiro de 199922. Os debates, dos quais o Brasil participou ativamente, fizeram-se sob a ótica da Convenção Interamericana con tra a Corrupção (Convenção da OEA) e da Convenção de Combate à Corrupção e ao Suborno de Funcionários Públicos nas Transações Comerciais Internacionais, da OCDE, adotadas como instrumentos singulares. Como consignou a “Charman’s Conclusion”, toma-se imperiosa a severa incriminação do suborno e da corrupção nas ne gociações mercantis transacionais. Em Viena, no 10a Período de Sessões da Comissão de Preven ção do Crime e Justiça Penal das Nações Unidas, realizado em maio 18 Informal Preparatory Meeting of the Open-ended Intergovernmental “ad hoc” Committee on the Elaboration of the Comprehensive International Convention against Transnational Organized Crime. 19 Sobre a OEA: LUIS IVANIDE AMORIM ARAÚJO, Das organizações interna cionais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 76. 20 Sobre a OCDE: LARISSA L. O. RAM3NA,ylção internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002; RICARDO SETTENFUS, Manual das organizações in ternacionais, Porto Alegre: Livr. do Advogado Ed., 2000, p. 238. 21 Denying Tax Deductibility of Bribery, paper apresentado pelo Reino Unido. 22 LEONARDO CAVALCANTI, Exportações à custa de subomo, CorreioBraziliense, 27 out. 1999, Economia & Trabalho, p. 17. 7 de 2001, de 8 a 17, a corrupção de funcionários públicos foi eleita o tema central do encontro. Essa preocupação não é só da ONU, mas também de outras entidades internacionais a ela filiadas. Assim é que a OEA, de 27 a 29 de março de 1996, realizou, em Caracas, a Convenção Interame- ricana contra a Corrupção, condenando, numa de suas disposições, a corrupção nas transações mercantis internacionais. O Conselho da Europa tem promovido diversos convênios internacionais contra a corrupção mercantil. A Organização Mundial do Comércio (OMC) vem encarecendo a necessidade de existir mais transparência e cla reza nas transações comerciais dos setores públicos estatais. No mes mo sentido, a OCDE sugere a proibição da dedução, para efeitos tributários, das quantias pagas a funcionários públicos a título de suborno nas transações mercantis internacionais, costume tolerado em alguns países. Em maio de 1997, o Conselho da OCDE, que congrega os 29 países mais ricos do mundo, aprovou a Recomendação para Prevenir o Suborno nas Transações Comerciais Internacionais. Em Budapes te, em abril de 1997, a Comunidade de Estados Independentes (CEI) realizou um seminário organizado pelo Instituto Inter-regional das Nações Unidas de Pesquisas sobre Prevenção do Crime e Justiça Penal (UNICRI) para o estudo da corrupção mercantil transacional. Em outubro de 1997, o Centro de Desenvolvimento da OCDE organizou um Seminário sobre a Corrupção. Em novembro de 1997, os mem bros do Conselho da Associação de Cooperação e Desenvolvimento Econômico adotaram a Convenção para Prevenir o Suborno de Fun cionários Públicos Estrangeiros nas Transações Mercantis Interna cionais . Em 1998, o Grupo de Trabalho do Conselho da OCDE sobre a Corrupção nas Transações Comerciais Internacionais realizou di versos procedimentos para fiscalizar a adoção das medidas recomen dadas pela ONU. Na reunião da Cúpula das Américas, realizada no Chile, em abril de 1998, os Chefes de Governo comprometeram-se a erradicar a corrupção de nosso continente. Em Paris, de 29 de março a 1Q de abril de 1999, reuniu-se o Grupo de Trabalho da OCDE no Seminário de Paris de Combate à Corrupção nas Transações Comer ciais Transnacionais, de que o Brasil participou ativamente. 8 Em Washington, nos Estados Unidos, de 24 a 26 de fevereiro de 1999, presidido pelo Vice-Presidente Al Gore, realizou-se o Seminá rio de Combate à Corrupção de Funcionários Públicos nas Áreas da Justiça e da Segurança Pública, com a participação do Brasil, em que também foi discutida a conexão desse tema com a corrupção nas transações comerciais transnacionais. O Centro para a Prevenção Internacional do Delito, filiado ao Escritório de Fiscalização de Drogas e Prevenção do Crime das Na ções Unidas, no Seminário Regional Ministerial Africano, promovi do em Dakar, de 21 a 23 de julho de 1997, aprovou a Declaração de Dakar sobre Prevenção e Luta contra a Delinqüência Transacional Organizada e a Corrupção. Na Declaração, os Ministros reiteraram seu forte apoio contra esse fenômeno em todas as suas manifesta ções e a favor da promoção de uma cultura de transparência, compe tência e integridade na vida pública. Para isso, os Estados participan tes expressaram firme intenção de criar ou rever sua legislação cri minal, definindo delitos de corrupção como questão de alta priorida de. Nesse sentido, o Centro, em cooperação com o Programa das Nações Unidas para a Fiscalização Internacional de Drogas (PNUFID), elaborou uma Lei-Modelo contra a Corrupção, tendo por objetivo servir de instrumento de assistência técnica aos Estados- Membros, contendo disposições sobre prevenção, detecção e repres são de atos de suborno de funcionários públicos. Em Seul, na Coréia do Sul, em 25 de agosto de 1998, durante a 12a Conferência Internacional de Criminologia, realizou-se o Workshop sobre Os Esforços Internacionais no Combate à Corrupção, enfatizando a necessidade de sua adequada incriminação. • Bibliografia consultada pelo autor CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, e La Comención Interamericana contra la Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997; NAÇÕES UNIDAS, Cooperação internacional contra a corrupção e o suborno nas tran sações comerciais internacionais, Assembléia Geral, 52a Período de Sessões, Viena, 2 de fevereiro de 1998 (doc. A/RES/52/97); 9 RODOLFO ALEJANDRO DÍAZ, Corrupción: un desafio para la govemabilidad y las transaciones intemacionales, /?a/?er apresenta do no Seminário La lucha contra el sobomo en las transaciones comerciales intemacionales, promovido pela OCDE, OEA e Gover no da Argentina, Buenos Aires, setembro de 1998; Commentaries on the Convention on Combating Bribery o f Foreign Public Officials in International Business Transactions, adotada pela UN — Negotiating Conference em 21 de novembro de 1997 (www .transparencv.de/. 3-8-2002); Revised Recommendation o f the Council on Combating Bribery in International Business Transactions, adotada pelo Conse lho da OCDE em 23 de maio de 1997 (www.transparency.de/. 3-8-2002); MARK PIETH, Worldwide iniciatives against transnational corruption, in International Efforts to Combat Corruption, Workshop, Seul, Coréia do Sul, August 1998; GUY STESSENS, The international fight against corruption, International Review o f Penal Law, Association International de Droit Pénal, XVIIth International Congress of Penal Law, Paris: Editions Érès, p. 891, 3Q e 4a trim. 2001; HORST PIETSCHMANN, Corrupción en las Indias espaholas, instituciones y corrupción en la historia, apud MARTA MAGADÁN DÍAZ, Corrupción y fraude: economia de la transgression, Madrid: Dykinson, 1999; G. R. 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Causa estra nheza que o CP brasileiro contenha um capítulo definindo crimes “contra a Administração Pública estrangeira”. Na verdade, o legis lador pretendeu cominar punições criminais para fatos que aten tam contra a “lisura que deve orientar as transações comerciais in ternacionais”, “preservando as condições transacionais de compe titividade”23 . 23 Trecho do voto do Deputado Federal Jarbas Lima quando da apreciação, na Co missão de Constituição e Justiça e de Redação, do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, de que se originou a Lei n. 10.467/2002. 13 • Conceito legal O CP, no art. 337-B, define o delito de corrupção ativa nas transa ções comerciais internacionais como o fato de “prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a prati car, omitir ou retardar ato de ofício relacionado a transação comer cial internacional”, impondo penas de reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. • Origem da norma de conduta O tipo incriminador foi introduzido pelo art. 2C da Lei n. 10.467, de 11 de junho de 2002, oriunda do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, visando dar efetividade ao Decreto Legislativo n. 125, de 14 de junho de 2000, do Congresso Nacional, que aprovou a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estran geiros nas Transações Comerciais Internacionais, concluída pelas Nações Unidas em Paris, em 17 de dezembro de 1997, e pelo Decre to n. 3.678, de 30 de novembro de 2000, que a promulgou. Disposi tivo da Convenção que fundamenta a incriminação: artigo 1, § 3. • Irretroatividade da novatio legis incriminadora O art. 337-B do CP contém lei nova incriminadora. Por isso, é irretroativa (CF, art. 5°, XL). • Crimes de corrupção e suborno Entre nós, ao contrário do que ocorre em outras legislações, as ex pressões corrupção e suborno têm o mesmo conceito, inexistindo diferença entre elas. Em alguns países, o fato cometido pelo servidor público é denominado “corrupção” (a nossa corrupção passiva); o praticado pelo particular (a nossa corrupção ativa), “suborno”24. 24 CARLOS MANFRONI, La Convención Interamericana contra la Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 95. 14 • Crimes de corrupção ativa comum e transnacional O delito de corrupção ativa comum, relacionado ao funcionário pú blico brasileiro, está previsto no art. 333 do CP; o transnacional, em que o funcionário público estrangeiro aparece como objeto pes soal da corrupção, encontra-se no art. 337-B do mesmo estatuto. • Crime de corrupção passiva Vide art. 317 do CP. • Objetividade jurídica supranacional25 O CP protege a lealdade no comércio exterior26 (nas transações comerciais internacionais). A lei penal, ensina CARLOS A. MANFRONI, pretende “preservar la transparência y la equidad en el comercio internacional, con vistas a una economia mundial cada vez más competitiva, en cuya expansión, la tolerancia de prácticas corruptas llevaria las fricciones que pudieran suscitarse entre em presas y países y los sobrecostos derivados a los pueblos, a niveles insoportables para la convivência”27. Essa lealdade diz respeito: 1) às empresas, que, como ensina CARLOS A. MANFRONI, devem competir unicamente com preço e qualidade, e não com fraude; 2) aos países, evitando o crescimento de uma economia em desfavor 25 Sobre as teorias a respeito do bem jurídico nos crimes de corrupção ativa e passi va, vide INÉS OLAIZOLA NOGALES, El delito de cohecho, Valência: Tirant Lo Blanch, 1999, p. 89 e s. 26 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 35,37,40,41,45 e 131. 27 CARLOS A. MANFRONI,La Convención Interamericana contra la Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 135. As empresas privadas menos hones tas, diz Carlos A. Manfroni, “também conseguem competir deslealmente com as melhores ao iludir o pagamento de impostos, a preservação do meio ambiente ou as etapas normais para a obtenção de certificados e controles necessários para que certos produtos sejam projetados no mercado. Se estes desvios ocorrem na vida interna de um país, não há nenhuma razão para supor que não vão suceder no contexto do comércio entre as nações” (Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 35 e 36). 15 da corrupção do setor público de outra; 3) à coletividade, que paga em preço ou em impostos o valor do suborno28. Não obstante se encontre o art. 337-B, que define o delito de corrupção ativa de funcionário público estrangeiro, no Capítulo II- A29 do Título XI30, do CP, não se cuida de uma infração que atenta contra a Administração Pública brasileira, uma vez que o funcioná rio público corrompido é o estrangeiro e não o brasileiro. Assim, se se tratasse de proteger a Administração Pública, esta seria, em tese, a estrangeira. Mas nem esta poderia ser a titular do bem jurídico31: um país não pode atribuir-se a tarefa de proteger a Administração Pública de outro32. Estamos, na verdade, diante de um novo bem jurídico, a lealdade no comércio internacional, interesse que pertence a todos os países e cuja proteção penal, punindo seus nacionais, cabe a eles próprios, individualmente e por intermédio de suas legislações internas33. * Fundamento constitucional da tutela penal Qualquer estudo a respeito de bens jurídico-penais deve partir da C P 4, por intermédio da qual é possível estabelecer os limites pu- 28 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 37. 25 Crimes praticados por particular contra a Administração Pública estrangeira. 30 Crimes contra a Administração Pública brasileira. 31 Para MAGNO K. NARDIN, o bem jurídico protegido no art. 337-B do CP é a honorabilidade da Administração Pública estrangeira (Crimes de corrupção de fun cionário público estrangeiro, http://www.ibccrim.org.br. 11-7-2002). 32 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 39. 33 CARLOS A. MANFRONI, Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 41. JESCHECK denominaria a lealdade internacional como “bem jurídico supranacional” (O objeto do Direito Penal Internacional e sua mais recente evolu ção,Revisto de Direito Penal, Rio de Janeiro: Borsoi, 6/12, III, abr./jun. 1972). 34 GERARDO BARBOSA CASTILLO e CARLOS ARTURO GÓMEZ PAVAJE AU, Bien jurídico y derechos fundamentales, Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 1998, p. 53. 16 nitívos do Estado. Em relação aos delitos criados pela Lei n. 10.467/ 2002, quais sejam, corrupção ativa e tráfico de influência nas tran sações comerciais internacionais, de ver que a nossa CF prevê, em seu art. 4Q, IX, dentre os princípios que regem as nossas relações internacionais, o da “cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”, em que se inclui o interesse de que haja lisura e probidade administrativa nas transações comerciais transnacionais entre os países (lealdade internacional no comércio exterior). • Princípio adotado em relação à eficácia espacial da lei penal Da territorialidade (CP, art. 5Q). • Exceção pluralista do princípio unitário Poderia haver um só delito para corruptor (nacional ou estrangeiro) e corrupto (funcionário público estrangeiro). De observar, contu do, que o CP não definiu, nem poderia fazê-lo, o crime de corrupção passiva do funcionário público estrangeiro. De modo que o corruptor responde nos termos do art. 337-B; o corrompido (funcionário pú blico estrangeiro), por eventual deüto de corrupção passiva, peran te a sua legislação penal. Assim, uma infração não depende da ou tra, podendo as legislações punir separadamente os dois autores35. • Sujeito ativo Crime comum, a corrupção ativa nas transações comerciais inter nacionais pode ser cometida por qualquer pessoa, brasileira ou es trangeira, inclusive pelo funcionário púbüco, brasileiro ou estran geiro, desde que não aja com essa quaüdade, atuando como qual quer pessoa36. 35 No sentido de que o funcionário público estrangeiro, pela corrupção passiva, é punido de acordo com a legislação penal de seu país: voto do Deputado Federal Jarbas Lima quando da apreciação, na Comissão de Constituição e Justiça e de Re dação, do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, de que se originou a Lei n. 10.467/2002. 36 Note-se que se trata de crime cometido por “particular contra a Administração Pública estrangeira”. No sentido de que a figura típica deve alcançar qualquer pes soa: artigo 1,1, da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Pú- 17 * Posição do corruptor (brasileiro ou estrangeiro) Ao invés de aparecer como sujeito passivo da corrupção passiva comum (CP, art. 317), surge como sujeito ativo do crime do art. 337-B. * Corrupção passiva sem a ativa É admissível37. * Corrupção ativa sem a passiva Já se entendeu que, absolvido o corrompido, é inadmissível que se condene o corruptor não havendo prova de que aquele recebeu a vantagem38. * Uma espécie de corrupção não depende da outra São independentes39. * Sujeito passivo O Estado estrangeiro titular da Administração Pública atingida. * Elementares do tipo O fato concreto, para ser típico, deve apresentar todas as elementa res dos tipos objetivo e subjetivo. A falta de um elemento conduz à atipicidade do fato. blicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais; artigo 1,1, da Con venção da OCDE contra a Corrupção. No sentido de que o tipo pune o estrangeiro: voto do Deputado Federal Jarbas Lima quando da apreciação, na Comissão de Cons tituição e Justiça e de Redação, do Projeto de Lei n. 4.143, de 2001, de que se originou a Lei n. 10.467/2002. 37 Nesse sentido: RT, 419/110; STF, Inq. 705, Plenário, voto do Min. Celso de Mello, RT, 700/426. 38 STF, RTJ, 80/481. 39RT, 437/322 e 419/110; RJTJSP, 14/394 e 335,7/545 e 4/305. 18 • Tipo objetivo Corresponde às elementares que descrevem o crime sob o aspecto de sua materialidade (condutas de oferecer etc., vantagem, terceira pessoa, praticar, omitir, retardar etc.). • Tipo subjetivo Conjunto de elementos que informam o aspecto subjetivo da des crição: dolo e elemento subjetivo do tipo (“para determiná-lo”). • Elementos normativos do tipo Correspondem à referência da definição do crime à ilegitimidade da vantagem, ao ato de ofício40 e à qualidade de funcionário públi co estrangeiro. Devem ser abrangidos pelo dolo. • Condutas típicas Consistem em oferecer, prometer ou dar, de forma direta ou indire ta, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a ter ceiro, com o fim de determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado a transação comercial internacional. A ação visa a que a transação comercial seja realizada, mantida ou retarda da41. Não é suficiente que o pólo passivo da corrupção seja funcio nário público estrangeiro, sendo necessário que o fato se relacione a transação comercial internacional. • Equivocidade da redação A redação do tipo é equívoca. Devemos entender que o comporta mento de corrupção sempre se endereça ao servidor público es trangeiro, no sentido da alteração de sua atitude funcional, sendo que a vantagem é que pode ser destinada a ele ou a terceiro. 40 No sentido de que o ato de ofício configura elemento normativo do tipo, comentando o crime de corrupção passiva: INMA VALEUE ALVAREZ, El tratamiento penal de la corrupción deifuncionário: el delito de cohecho, Madrid: EDERSA, 1995, p. 191. 41 Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais da ONU, de 1997, artigo 1,1. 19 • Qualificação típica Cuida-se de crime formal42. Não é de mera conduta, uma vez que o tipo menciona o fim visado pelo autor (atitude do funcionário), porém não o exige43. Ele promete, oferece ou dá a vantagem indevida visando a que o servidor público estrangeiro realize, omita ou re tarde ato de ofício. A ação, omissão e retardamento do ato de ofício por parte do funcionário não são requeridos pelo tipo, tanto que sub siste o crime quando ele recusa a oferta, a promessa ou a vantagem. • Conduta direta e indireta Na primeira espécie, o sujeito expressamente formula sua preten são de oferecimento etc. de vantagem ao funcionário público es trangeiro (a viso aperto ou facie ad faciem) . Na segunda, o autor do fato vale-se de interposta pessoa para chegar ao conhecimento do funcionário a sua intenção ou apresenta o oferecimento ou a oferta de maneira velada, capciosa ou maliciosa (forma implícita de exe cução)44. Nas duas formas, exige-se um consenso entre o corruptor e o funcionário público estrangeiro45. 42 No sentido de que a corrupção ativa comum, descrita no art. 333 do CP, configura crime formal: PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR, Direito Penal objetivo, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989,p. 675,n. 5; HELENO CLÁUDIO FRAGOSO, Lições de Direito Penal: parte especial, São Paulo: Bushatsky, 1965, v. IV, p. 1167, n. 1.065; RT, 736/627; RF, 254/373; ANTONIO JOSÉ MIGUEL FEU ROSA, Di reito Penal: parte especial, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 925. 43 Nesse sentido, abordando a corrupção ativa comum como delito de consumação antecipada: INÉS OLAIZOLA NOGALES,£7 delito de cohecho, Valência: Tirant Lo Blanch, 1999, p. 403. Como diz JULIO FABBRINI MIRABETE, “no crime formal não há necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente” (Ma nual de Direito Penal, São Paulo: Atlas, 1998, v. I, p. 132), esclarecendo que, no delito de corrupção ativa comum, definido no art. 333 do CP, “a consumação independe da aceitação por parte do funcionário da vantagem que lhe é oferecida ou prometida” (Manual, cit., 2001, v. m , p. 383). 44 Na Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estran geiros nas Transações Comerciais Internacionais, a forma indireta de conduta do corruptor é a que ele realiza por intermediários (artigo 1,1). 45 Como observa CARLOS A. MANFRONI, o crime “requiere algún consenso entre quien pide o acepta el sobomo y quien lo paga” {Sobomo transnacional, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998, p. 21, n. 2). 20 • Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado Se o autor oferece, promete e dá a vantagem ao funcionário, res ponde por um só delito. Aplica-se o princípio da altematividade, segundo o qual a norma que prevê diversas condutas como formas de um mesmo crime só é aplicável uma vez, ainda quando realiza das pelo mesmo autor sucessivamente num só contexto de fato46. Disso resulta a unidade de crime. Como diz LUIZ ALBERTO MA CHADO, quando os comportamentos devam ser considerados “atos de uma só ação, o crime é apenas um”47. A realização de mais de um comportamento descrito no tipo, desde que se integrem no mesmo contexto de fato, havendo entre eles nexo de causalidade ou relação de meio executório e fim, configura delito único e não concurso de crimes. Em face disso, surpreendido na realização de uma das ações, seja inicial (oferecer), seja intermediária (prome ter) ou final (dar), responde por um só delito. • Oferecer Significa apresentar ou propor alguma coisa para que seja aceita; dar como oferta (AURÉLIO), pôr à disposição (DELMANTO). Pode ser entendido como exibir uma coisa para que seja aceita (BENTO DE FARIA)48.0 oferecimento deve ser feito ao funcionário públi co estrangeiro e não a terceiro. Pode ser levado ao conhecimento do funcionário, contudo, por intermediário. • Prometer Significa obrigar-se a fazer ou dar alguma coisa (AURÉLIO). A pro messa deve ser dada ao conhecimento do funcionário público estran geiro e não a terceiro. Pode ser feita, contudo, via intermediário. 46 SÍLVIO RANIERI, Diritío Penale: parte generale, [s.l.: s.n.], 1945, p. 357. 47 LUIZ ALBERTO MACHADO, Direito Criminal: parte geral, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 59. 48 Nesse sentido: TJSP, HC 122.623, rei. Des. Dante Busana,i?7,684/316 e 317. 21 • Formas de ação dos verbos “oferecer” e “prometer” Escrita, verbal, por gestos e palavras ou por interposta pessoa. • Dar Quer dizer ceder, doar, presentear (AURÉLIO). • Meios de execução do oferecimento ou promessa São vários (crime de forma livre): palavras, atos, telefone, telegra ma, e-mail, fax, gestos, escritos, correio etc. • Ausência de oferta ou promessa de vantagem Não há corrupção ativa no caso de o sujeito, sem oferecer ou pro meter qualquer vantagem ao funcionário público estrangeiro, pe dir-lhe que “dê um jeitinho” em sua situação (perante a Adminis tração Pública estrangeira)49. • Espontaneidade da conduta É indispensável que não exista exigência por parte do funcionário estrangeiro, caso em que há o crime de concussão perante a legis lação penal estrangeira. O oferecimento e a promessa devem ser espontâneos. Se impostos pelo funcionário, desaparece a corrupção ativa. Assim, diante do mesmo contexto de fato, não é possível que o funcionário público estrangeiro cometa concussão e o par ticular, corrupção ativa50. Não fica impedido, entretanto, que o crime suija em face de sugestão do funcionário público estran geiro51. 49 Nesse sentido, apreciando ofensa à nossa Administração Pública: RT, 539/290; RF, 221/334. 50 Nesse sentido, abordando o art. 333 do CP: RTJ, 93/1023;RT, 572/324; RJTJSP, 80/343. 51 Nesse sentido, apreciando a corrupção ativa comum: TJSP, HC 122.623, rei. Des. Dante Busana,/?:T, 684/316 e 641/316; RJTJSP, 15/474. 22 • Destinatário da vantagem Deve ela endereçar-se ao funcionário público estrangeiro ou a “ter ceira pessoa”52 (parente, cônjuge, amigo, partido político, entidade ou pessoa jurídica). • Se o funcionário público estrangeiro ainda não assumiu o car go etc. Há crime. Ele já é funcionário público53. • Funcionário público estrangeiro determinado As condutas de corrupção devem endereçar-se a um funcionário público estrangeiro determinado. Se indeterminado, não há crime54. • Posição do intermediário O delito pode ser realizado mediante interposta pessoa55. Nesse caso, o terceiro aparece como partícipe do crime do art. 337-B e não da eventual corrupção passiva do funcionário público estrangeiro, a ser punida em seu país56. • Funcionário que repele a oferta Há delito em relação ao ofertante, uma vez que a lei incrimina o simples dar, oferecer ou prometer a vantagem. O funcionário pú blico estrangeiro não responde por delito algum (não aceitou o ofe recimento ou a promessa nem recebeu a vantagem). 52 No sentido de que a vantagem pode destinar-se a pessoa física ou instituição: CARLOS A. MANFRONI, La Convención lnteramericana contra la Corrupciôn, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 93. Vide artigo 1,1 da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros nas Transações Co merciais Internacionais e artigo 1,1, da Convenção da OCDE contra a Corrupção. 53 Nesse sentido: CARLOS A. MANFRONI,La Convención lnteramericana contra la Corrupciôn, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 41. 54 Nesse sentido: RT, 603/445. 55 Nesse sentido: RT, 542/323 e RF, 281/342. 56 Nesse sentido, abordando a nossa legislação: RJTJSP, 65/329. 23 • Objeto material do delito: vantagem Qualquer vantagem, material ou imaterial, econômica ou não, pre sente ou futura. Constituem vantagem: a) todo bem, móvel ou imóvel, tangível ou intangível, ou toda soma de dinheiro, título de propriedade, título de participação ou reco nhecimento de dívida, auferidos pelo agente a pretexto de presente (dádiva), comissão, porcentagem57, gratificação, empréstimo, ho norários, recompensa ou comissão; b) todo encargo, emprego ou contrato; c) todo pagamento, liberação, dispensa ou liquidação, no todo ou em parte, de empréstimo ou qualquer outra obrigação; d) qualquer outro serviço ou favor, a título gracioso ou preferen cial, e toda utilização indevida de material ou pessoal; e) o exercício, cumprimento ou abstenção de um direito, poder ou dever; f) todo ato, interesse, dádiva ou proveito (como o acesso funcional e a facilidade de negócio), de qualquer natureza; e g) toda oferta, compromisso ou promessa, sob condição ou não, de proveito referido nas alíneas anteriores58. • Dádivas59 São presentes, doações. 57 Nesse sentido: 77 Source Book, Parle A: Analytical Framework Cwww.transparencv.dA. Vidt LARISSA L. O. RAMINA, Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 34. 58 DAMÁSIO DE JESUS, Temas de Direito Criminal, 2a série, São Paulo: Saraiva, 2001, p. 142. No sentido de que o tipo deve referir-se a vantagem pecuniária ou de qualquer natureza: artigo 1, 1 da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais. 59 Sobre “algunos supuestos especiales de dádivas”, vide INMA VALEUE ALVAREZ, El tratamientopenal de la corrupción dei funcionário: el delito de cohecho, Madrid: EDERSA, 1995. 24 • Acesso funcional60 O autor promete ao servidor público estrangeiro conseguir que seja promovido, desde que tome determinada atitude funcional. • Benefícios Ex.: bolsa de estudo no exterior ao filho do funcionário61. • Prestação sexual Configura vantagem62. • Autorizações de pagamento Configuram vantagem63. • Ato de ofício É “o praticado na forma e nos limites da competência do servidor”64. • Nexo de causalidade e atribuição funcional para o ato de ofício Deve haver nexo de causalidade entre a conduta do funcionário público estrangeiro e a realização do ato de ofício conexo a uma transação comercial internacional. Caso contrário, inexistirá o de lito questionado, podendo surgir outro. Exige-se, pois, que o funcio- 60 No sentido de que o “acesso laborai”, que denominamos “funcional”, não é dádi va: INMA VALEIJE ALVAREZ, El tratamiento penal de la corrupción dei funcionário-, el delito de cohecho, Madrid: EDERSA, 1995, p. 149. 61 TI Source Book, Parte A: Analytical Framework (www.transparency.d/’). Vide LARISSA L. O. RAMINA, Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 34. 62 INMA VALEIJE ALVAREZ, El tratamiento penal de la corrupción deifuncionário: el delito de cohecho, Madrid: EDERSA, 1995, p. 152. No mesmo sentido: ANTO NIO JOSÉ MIGUEL FEU ROSA,Direito Penal: parte especial, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 924. 63 Foreign Corrupt Practices Act, USA, 1977. 64 ARIOSVALDO DE CAMPOS PIRES, Compêndio de Direito Penal: parte espe cial, Rio de Janeiro: Forense, 1992, v. HI, p. 374. 25 nário tenha atribuição para a realização do ato oficial. Não se trata, portanto, de qualquer funcionário público estrangeiro, mas daque le que tem o dever de ofício de realizar ou não o ato. Assim, é necessário que o ato esteja dentro da esfera de atribuições do servi dor público estrangeiro no que diz respeito a transação comercial internacional. No sentido da exigência do nexo de causalidade en tre a conduta do funcionário púbfico estrangeiro e o exercício de suas funções: Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcio nários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Interna cionais, artigo 1, l 65.0 ato de ofício pode ser próximo ou remoto66. * Corrupção própria e imprópria A conduta funcional do servidor público estrangeiro pretendida pelo corruptor pode ser lícita ou ilícita. Quando o ato funcional é lícito, fala-se em corrupção própria; quando ilícito, imprópria67. * Vantagem oferecida após o ato de ofício Não há corrupção ativa no caso de a vantagem ser oferecida, pro metida ou dada ao funcionário público estrangeiro depois de sua conduta funcional (ativa ou omissiva). O comportamento visado deve ser realizado no futuro. Se já ocorreu, não há crime: dá-se a vantagem para que se faça, não porque se fez ou não alguma coisa68. 85 A disposição faz referência a “funções oficiais”. Essa exigência já havia sido assi nalada na Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas contida no documento “United Nations Declaration against Corruption and Bribery in International CommercialTransactions”,51* Sessão,Viena, 21 de fevereiro de 1997, item 3,a eb. No mesmo sentido, tratando de corrupção ativa comum: RF, 189/336; RJTJSP, 49/ 296,50/377,82:363 e 129/462; RT, 511/349,513/380,571/302 e 498/292. 66 Nesse sentido: RT, 742/601. 67 No sentido de que o ato do funcionário pode ser lícito: CARLOS A. MANFRONI, La Convención Interamericana contra la Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 93. 68 Nesse sentido: RF, 219/331 e 226/275; RJTJSP, 70/347 e 94/404; RT, 519/361, 535/286, 599/309, 669/295,672/298 e 699/299. 26 • A natureza indevida da vantagem como elemento normativo do tipo A vantagem deve ser indevida, i. e., ilegítima, ilícita ou ilegal, não autorizada por lei. Se devida, não há crime por atipicidade (erro de tipo)69. • Corrupção antecedente e subseqüente É antecedente quando a vantagem é dada ao funcionário público estrangeiro antes de sua ação ou omissão funcional. A recompensa lhe é entregue em face de uma conduta funcional futura. É subse qüente quando a vantagem é recebida depois da conduta funcional. Assim, se o sujeito oferece dinheiro para a realização de um ato de ofício, cuida-se de corrupção antecedente; se, contudo, após a rea lização do ato, faz a doação, trata-se da subseqüente, subentenden- do-se a promessa anterior. O Código Penal, sem fazer distinção, pune as duas formas típicas. • Presentes, gratificações e recompensas “inocentes” Nem todas as coisas podem ser consideradas objeto material de corrupção de funcionário público estrangeiro. Assim, as gratifica ções comuns e inocentes, de pequena importância econômica, em forma de gratidão em face da correção de atitude de um funcioná rio público estrangeiro, não integram o delito. Ex.: as “boas-festas” de Natal ou Ano Novo70. Nesses casos, ressalte-se que não há em relação ao ofertante ou doador a consciência de estar oferecendo ou dando uma retribuição pela prática de um ato de ofício por parte do funcionário, que é essencial ao dolo de corrupção, mas se trata de questão de fato, a ser apurada caso por caso71. 69 No sentido de que a vantagem deve ser indevida: Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Inter nacionais, artigo 1,1. 70 Nesse sentido, tratando de corrupção passiva em nossa legislação: RT, 389/93. 71 No sentido da atipicidade do fato, devendo este ser apreciado caso a caso: ORGA NIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, Sobre a Convenção Interamericana contra a Corrupção, intervenção do Delegado brasileiro no Simpósio sobre o Forta- 27 • Princípio da insignificância Relacionado aos “delitos de lesão mínima” ou “crimes de bagate la”, o princípio da insignificância recomenda que o Direito Penal somente interfira nas hipóteses de ofensa jurídica de certa gravida de, reconhecendo a atipicidade do fato nos casos de lesões mais leves (relevância insignificante). Hoje, adotada a teoria da imputa ção objetiva, que concede supremacia ao risco relevante criado pela conduta ao objeto jurídico e reconhece a importância da ofensa jurídica como resultado normativo do crime, esse princípio impede que ingressem no campo penal fatos de lesividade insignificante, considerando a sua atipicidade. Em face da classificação dos crimes em materiais, formais e de mera conduta72, o princípio da insignificância é aplicável à corrupção ativa de funcionário público estrangeiro nas transações comerciais internacionais, tendo em vista a sua natureza formal? Há duas posições, considerando os delitos em geral: Ia) A atipicidade pela insignificância jurídica da ofensa só pode ser reconhecida nos delitos materiais, de conduta e produção de resultado naturalístico, devendo ser proibida nos crimes formais e de mera con duta. Em face disso, não incide sobre o crime do art. 337-B do CP. Para essa corrente, o significado jurídico do fato só pode ser apre ciado nos casos em que o tipo penal descreve e requer um resultado naturalístico, hipóteses em que é possível confrontar o desvalor do evento material com o desvalor do resultado jurídico. Em conse- lecimento da Probidade no Hemisfério, apresentando o Projeto de Lei brasileiro descrevendo delitos de corrupção de funcionários públicos estrangeiros nas transa ções comerciais internacionais, elaborado pelo Complexo Jurídico Damásio de Je sus, Santiago do Chile, 4 de novembro de 1998, in Anticorrupção, Subsecretária de Assuntos Jurídicos, Departamento de Cooperação e Difusão Jurídica íhttp:// www.oas .org/juridico/portuguese/anticorrupção.htm. 26-6-2002). 72 Crime material é aquele cujo tipo descreve a conduta e o resultado, exigindo a produção deste. Ex.: homicídio. No delito formal, embora haja referência ao fim visado pelo agente, a figura típica não exige o resultado. Ex.: extorsão (CP, art. 158). O tipo do crime de mera conduta só menciona o comportamento do sujeito. Ex.: violação de domicílio. 28 qüência, somente os delitos materiais admitem essa valoração73, cum prindo ser afastada nos crimes que não exigem a produção de um resultado naturalístico, como os contra a fé pública, certos delitos cometidos por funcionário contra a Administração Pública etc.74. De maneira que, na hipótese do art. 337-B do CP, há crime ainda que o valor da vantagem indevida dada ao funcionário seja de peque níssima importância material. Ocorre que, de acordo com essa orien tação, há ofensa ao bem jurídico, qual seja, à lealdade no comércio exterior, independentemente da relevância do objeto material da corrupção. Essa tese só leva em conta o desvalor do resultado, esquecendo-se do desvalor da conduta. Ignora, como observa JOSÉ HENRIQUE GUARACY REBÊLO, “que também o desvalor da ação deve ser considerado para a fixação do caráter irrelevante da conduta, se gundo o parâmetro da nocividade social, de cunho eminentemente normativo”75. 2a) O princípio da insignificância é aplicável a todos os crimes, sejam materiais, sejam formais ou de mera conduta. Em conse qüência, recai também sobre a corrupção ativa de funcionário pú blico estrangeiro nas transações comerciais internacionais. Para essa posição, que adotamos, a tese da atipicidade pela irrele vância da ofensa jurídica incide sobre todos os delitos, materiais, formais ou de mera conduta. Como, para a presença da imputação objetiva, é necessário que o comportamento crie um risco juridica mente proibido e relevante ao bem jurídico (desvalor da ação; im putação objetiva da conduta), que vem a transformar-se em rele vante resultado jurídico (desvalor do resultado; imputação objetiva do resultado), não há razão para que a insignificância só incida 73 HEINZ ZIPF, Introducción a la política criminal, trad. Miguel Iszquierdo Macías- Picavea, Madrid: Ed. de Derecho Reunidas, 1979, p. 104. 74 A gravidade da deslealdade funcional, afirma-se, como no caso do crime de corrupção de funcionário público, não pode ser medida pela gravidade quantitativa de eventual dano material. 75 JOSÉ HENRIQUE GUARACY REBÊLO, Princípio da insignificância: interpre tação jurisprudência!, Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 39. 29 sobre a imputação objetiva do resultado. Para nós, a irrelevância atípica pode advir do desvalor da ação ou do desvalor do resultado. De maneira que condutas de potencial corruptor insignificante de vem ser consideradas atípicas, independentemente da natureza do crime. Como ensina CARLOS VICO MANAS, “se for mínimo o potencial agressivo da conduta, não há qualquer obstáculo a que se possa reconhecer a sua atipicidade, pouco importando que o delito seja formal ou de mera conduta, não exigindo, assim, a ocorrência de resultado para a sua caracterização”76. • Transação comercial internacional77 No léxico, verifica-se que a palavra transação possui, em seu sen tido comum, o significado de “ato ou efeito de transigir, combina ção, convênio, ajuste, operação comercial”78. Sob o aspecto jurídi co, transação é ato pelo qual as partes interessadas extinguem obri gações mediante concessões recíprocas, ou seja, um acordo de ex tinção de obrigações. Para efeito de interpretação do texto legal, a elementar transação foi empregada pelo legislador penal no sentido de operação co mercial. Sob esse aspecto, inclusive, o termo comercial, aparente mente, seria até redundante. De ver, entretanto, que o uso da ex pressão transação comercial impede que haja confusão com o sen tido jurídico-técnico da palavra, qual seja, modo de composição de conflitos e de extinção de obrigações. Assim, deve ser entendida em termos de contrato, acordo de vontades por meio do qual as pessoas formam um vínculo jurídico79. Desse prisma, transacionar 76 CARLOS VICO MANAS, O princípio da insignificância como excludente da tipicidade no Direito Penal, São Paulo, Saraiva, 1994, p. 65. 77 Vide sobre transações comerciais internacionais: ESTHER ENGELBERG, Con tratos internacionais do comércio, São Paulo: Atlas, 1997; JOÃO GRANDINO RODAS, Contratos internacionais, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002; MARISTELA BASSO, Contratos internacionais do comércio, Porto Alegre: Livr. do Advogado Ed„ 2002; MARIA LUIZA MACHADO GRANZIERA, Contratos internacionais: negociação e renegociação, São Paulo: ícone, 1993. 78 BUARQUE DE HOLANDA, Aurélio, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 79 ORLANDO GOMES, Contratos, Rio de Janeiro: Forense, 1987. 30 corresponde a uma ação de cunho econômico, que implica, em úl tima análise, produção ou circulação de bens ou serviços, com fi nalidade de lucro. Pode ser considerada, portanto, como um con trato que viabiliza a produção ou circulação de bens ou serviços. Para caracterizar a “intemacionalidade” da transação comercial, na esteira do que fizeram os ingleses80, aconselha-se, na apücação da lei nova, o exame caso a caso. Nessa perspectiva, considerar-se-á internacional a operação comercial após a análise, em cada fato específico, dos elementos de “estraneidade” existentes, como o objeto e domicílio das partes contratantes. Por isso, é mais apropria do precisar o significado do vocábulo internacional e elencar as diversas transações que possuam tal característica. Internacional é a transação que possui elementos que a vinculam a mais de um sistema jurídico81. Tomando-se como base o Decreto n. 857/69, que discipüna, no Brasil, a utüização de moeda estrangeira em contratos, podemos inferir alguns elementos que caracterizam determinada transação como internacional: a) contratos de importação ou exportação de mercadorias; b) empréstimos e quaisquer outras obrigações cujo credor ou deve dor seja pessoa residente e domiciliada no exterior, exceto os con tratos de locação de imóveis situados no território nacional; e c) contratos que tenham por objeto cessão, transferência, delega ção, assunção ou modificação das obrigações cujo credor ou deve dor seja pessoa residente e domiciliada no exterior, exceto os de locação de imóveis localizados no território nacional. A essas situa ções podem ser acrescentadas outras operações não previstas no referido decreto, mas que certamente constituem transações internacionais, como o contrato de transporte internacional, por qualquer via, aérea, aquática ou terrestre, e os que envolvem trans missão de informações por qualquer meio de comunicação. 80 Unfair Contract Terms Act e Arbitration Act (LUIZ OLAVO BAPTISTA, Contra tos internacionais, São Paulo: Saraiva, 1994). 81ESTHER ENGELBERG, Contratos internacionais do comércio, São Paulo: Atlas, 1997, p. 19. 31 Assim, toma-se necessário que a conduta do corruptor esteja rela cionada a transações comerciais internacionais (elemento normati vo do tipo), assim consideradas as que concernem a contratos: I — que tenham como objeto, direta ou indiretamente, a importa ção ou exportação de bens ou serviços; II — de transporte internacional, por qualquer via, de pessoas, car gas, malotes postais, remessas expressas ou qualquer outro bem; m — que impbquem transmissão de informações, por qualquer meio de comunicação, entre pessoas locabzadas ou sediadas em países distintos; IV — relativos a empréstimos e quaisquer outras obrigações, ou que possibilitem a circulação de valores de qualquer natureza, cu jas partes estejam locabzadas ou sediadas em países distintos; V — que tenham como objeto cessão, transferência, delegação, assunção ou modificação das obrigações ou valores referidos no inciso anterior; e VI — quaisquer outros que impbquem produção ou circulação de bens ou serviços cujos elementos o vinculem a mais de um sistema jurídico82. • Se a transação comercial não é internacional Não se apbca o art. 337-B do CP. Assim, inexiste crime no caso de tratar-se de transação comercial nacional, não envolvendo interes ses de dois países. • Se a transação internacional não é comercial Não há o crime do art. 337-B. Assim, não se incluem no tipo os convênios de natureza cultural, política ou mihtar, salvo quando envolvam interesses econômicos83. 82 DAMÁSIO DE JESUS, Temas de Direito Criminal, 2a série, São Paulo: Saraiva, 2001, p. 142. 83 Nesse sentido: CARLOS A. MANFRONI, La Convención Interamericana contra la Corrupción, Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1997, p. 132. 32 • Elementos subjetivos do tipo O primeiro é o dolo, vontade livre e consciente de oferecer, prometer ou dar a vantagem, com conhecimento de que é indevida e se trata de funcio nário público estrangeiro e de transação comercial internacional. Deve alcançar os elementos normativos do tipo84. Exige-se um segundo, con tido na expressão “para deteiminá-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”. Se inexiste qualquer dos dois elementos o fato é atípico85. • Finalidade da determinação Determinar, na hipótese, significa persuadir, mover, levar (AURÉLIO), conduzir o servidor público estrangeiro a tomar certa atitude funcional. • Atitude do funcionário pretendida pelo corruptor Prática, omissão ou retardamento de ato de ofício. • “Aceleração” de ato de ofício (speed money) É possível que o corruptor dê vantagem indevida ao corrupto para que, p. ex., acelere uma decisão de ofício. A aceleração se enqua dra no verbo “praticar”, havendo crime86. • Evitação de atraso na realização de ato de ofício Ex.: o corruptor entrega valores ao funcionário para que “evite atrasos”87. 84 No sentido genérico do texto: MIGUEL RE ALE JÚNIOR, Instituições de Direito Penal, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 224, n. 6.1.3. 85 Nesse sentido: RF, 240/333. No sentido de que a intenção do autor é a de “realizar ou dificultar transações ou obter vantagem ilícita na condução de negócios interna cionais”: artigo 1,1 da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais. 86 Speed money, explica LARISSA L. O. RAMINA, “consiste em somas pagas a agentes públicos com o objetivo de acelerar suas decisões ou outros procedimentos” (Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 33, n. 1.4.3). O TI SourceBook fala em “agilização de processo”. 87 Nesse sentido: TI SourceBook,Partis A: Analytical Framewoik (www.transparencvxl/'). Vide LARISSA L. O. RAMINA, Ação internacional contra a corrupção, Curitiba: Ed. Juruá, 2002, p. 34. 33 • Motivação É irrelevante. Assim, não desnatura o tipo subjetivo a circunstância de a corrupção destinar-se à realização de uma transação comercial internacional que tenha influência política. • Cogitação É impunível. A idéia não delinqüe (ASÚA). Assim, manifestar vontade de corromper o funcionário público estrangeiro não configura delito. • Presunção de dolo Inexiste em nossa legislação penal o chamado dolus in re ipsa, e, por isso, não pode ser reconhecido88. • Erro de tipo (CP, art. 20) Ocorre quando o sujeito realiza concretamente o tipo desconhe cendo as suas elementares, sejam descritivas (objetivas), sejam normativas. Ex.: o sujeito desconhece que o funcionário público é estrangeiro, supondo-o brasileiro. Nessa hipótese, não subsiste o crime de corrupção ativa comum, previsto no art. 333 do CP, uma vez que esse tipo pressupõe nacional o funcionário público. Outro exemplo: o agente não sabe que se trata de transação comercial internacional. É também o caso da suposição errônea da legitimi dade da vantagem: o sujeito, por erro invencível, supõe devida a vantagem. Evitável ou inevitável o erro, fica excluído o dolo, desa parecendo o crime por atipicidade do fato. • Erro provocado por terceiro Responde pelo crime o terceiro que determina o erro (CP, art. 20, § 2Q). Ex.: o sujeito, agindo insidiosamente, faz crer ao corruptor que se trata de funcionário púbüco brasileiro. O provocador responde pelo delito. 88TJSP,ACrim 131.021, laCâm.,rel. Des. Fortes Barbosa, j. 25-10-1994, aprecian do a Lei Antitóxicos; MARCELO FORTES BARBOSA, Erro de tipo, Boletim do IBCCrim, São Paulo, p. 4, abr. 1994. 34 • Crime putativo Ocorre quando o sujeito, por erro, supõe que o fato realizado cons titui crime descrito na lei, sendo que, na verdade, configura indife rente penal. Difere do erro de tipo: neste, o sujeito não deseja co meter o delito, agindo por erro; no delito putativo, ao contrário, o sujeito quer praticar o crime, não vindo a cometê-lo por erro. Pos sui três espécies: Ia) crime putativo por erro de proibição; 2a) crime putativo por erro de tipo; 3a) crime putativo por obra de agente provocador (crime de flagrante provocado). • Crime putativo por erro de proibição Ocorre quando o sujeito supõe estar violando norma incriminadora da Lei n. 10.467/2002, que, na verdade, não existe. Ex.: o agente supõe que dar um presente de Natal ao funcionário público estran geiro, por si só, configura crime. Aplica-se o art. Ia do CP: o fato, por não estar definido em lei como crime, é atípico89. • Crime putativo por erro de tipo Hipótese em que o sujeito não incide em erro sobre a norma de proibição, mas sobre os elementos típicos do crime. O comando legal proibitivo existe, porém o erro recai sobre as elementares, circunstâncias e dados do tipo penal. Ex.: oferecimento de vanta gem impossível de ser concretizada. Aplica-se, por extensão per mitida (art. 12 do CP), o art. 17 do CP (crime impossível por ine xistência ou impropriedade absoluta do objeto material). • Crime por obra de agente provocador (crime de flagrante pre parado ou provocado) Hipótese em que alguém (autoridade ou agente desta, sujeito passi vo ou terceiro), de maneira insidiosa, provoca o sujeito à prática delituosa, tomando providências no sentido de que o fato não atinja a consumação. O agente opera dentro de pura ilusão, uma vez que, na realidade, ab initio as providências tomam impraticável a con- 89 Vide art. 5Q, XXXIX, da CF. 35 cretização do ilícito penal. Aplica-se a Súmula 145 do STF: não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia toma impossí vel a sua consumação. • Crime de flagrante esperado É punível. Acontece quando alguém toma conhecimento de que um crime vai ser cometido e avisa a polícia, que põe seus agentes de sentinela, surpreendendo o sujeito no momento da prática ilícita. Não se confunde com a hipótese anterior do crime putativo por obra de agente provocador. No flagrante esperado não há provocação. • Crime impossível (CP, art. 17) É admissível. Ex.: o sujeito promete vantagem ao funcionário pú blico impossível de ser concretizada. Assim, não há delito quando o objeto da oferta ou da promessa é absolutamente impossível de materializar-se90. “O oferecimento ou o prometimento, além de cer
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