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Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 Autores: Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 9 de Março de 2020 59609281400 - jonas da cruz souza 1 94 1 - Considerações Iniciais ................................................................................................... 2 2 - Crimes de Tortura (Lei nº 9.455/1997) .......................................................................... 2 3 - Crimes resultantes de Preconceito de Raça ou de Cor (Lei n. 7.716/89) ......................... 9 4 - Lei nº 7.492/1986 (Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional) .............................. 19 4.1 - Sistema Financeiro Nacional ................................................................................................... 19 4.2 - Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional......................................................................... 21 4.3 - Procedimento Criminal ............................................................................................................ 30 5 - Resumo da Aula .......................................................................................................... 33 6 - Jurisprudência relevante ............................................................................................. 38 7 - Questões..................................................................................................................... 42 7.1 - Questões Comentadas ............................................................................................................ 42 7.2 - Lista de Questões .................................................................................................................... 75 7.3 - Gabarito .................................................................................................................................. 93 8 - Considerações Finais ................................................................................................... 93 Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 2 94 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS Olá, caro amigo! Nosso curso está andando rapidamente e imagino que você está ganhando cada vez mais confiança na preparação, não é mesmo? ☺ Quero desde já chamar sua atenção para a necessidade de estruturar uma boa estratégia de revisão. Claro que isso será mais importante nos dias que antecederem a sua prova, mas desde já é bom pensar nisso, ok? Força! Bons estudos! 2 - CRIMES DE TORTURA (LEI Nº 9.455/1997) A Lei dos Crimes de Tortura é pequena, mas muito importante. A Constituição Federal traz como princípio o repúdio à tortura e às penas degradantes, desumanas e cruéis. Vejamos o que diz a nossa Constituição sobre o assunto. Art. 5°, III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; [...] XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. A tortura, portanto, é um crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. ATENÇÃO! O crime de tortura não é imprescritível! Essa característica é aplicável apenas aos crimes de racismo e às ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o estado democrático. Já houve decisão do STF no sentido de negar também a aplicação do indulto a condenado por crime de tortura. A Constituição determina que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, mas não é imprescritível. A definição de tortura deve ser buscada na Convenção Internacional contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos e Degradantes, aprovada pelas Nações Unidas em 1984 e ratificada e promulgada pelo Brasil em 1991. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 3 94 O termo tortura designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza, quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionários público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Podemos ver, portanto, que a tortura não resume à imposição de dor física, mas também está relacionada ao sofrimento mental e emocional. Essa agonia mental muitas vezes é chamada de tortura limpa, pois não deixa marcas perceptíveis facilmente. Antes da Lei n° 9.455/1997 não havia qualquer definição legal acerca do crime de tortura. O termo era mencionado em algumas leis, mas de forma genérica e esparsa, de modo que a Doutrina nunca aceitou que houvesse a tipificação do crime de tortura antes da referida lei. A Lei da Tortura é muito criticada pela imprecisão na tipificação do crimes. A lei foi votada às pressas e sem muita discussão no Poder Legislativo, sob o impacto emocional do que aconteceu na Favela Naval, em Diadema. Esse caso se refere a uma série de reportagens investigativas conduzidas em 1997 acerca de condutas praticadas por policiais militares na Favela Naval. Esses policiais foram filmados extorquindo dinheiro, humilhando, espancando e executando pessoas numa blitz. O fervor das discussões então levou à apresentação de um projeto de lei que foi rapidamente aprovado pelo Poder Legislativo, sem as discussões que seriam necessárias à elaboração de uma lei tecnicamente bem feita. Esse é o pano da fundo da história, mas isso obviamente não interessa para a nossa prova, não é mesmo!? Vamos ao que realmente interessa, que é a análise do texto legal. Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 4 94 A tortura, em qualquer de suas modalidades, é crime material, pois só ha consumação com o próprio resultado: o sofrimento da vítima. Pela mesma razão, podemos dizer que é possível a tentativa e a desistência voluntária. Além disso, não se admite o arrependimento eficaz e nem o arrependimento posterior. O crime de tortura é de ação penal pública incondicionada. CRIME DE TORTURA CARACTERÍSTICAS COMUNS A TODAS AS MODALIDADES É um crime material É possível a tentativa e a desistência voluntária Não se admite arrependimento eficaz e nem arrependimento posteriorAção penal pública incondicionada Pelo texto do art. 1°, podemos concluir que há diferentes modalidades de tortura, a depender da intenção do agente criminoso. Vejamos quais são essas modalidades, de acordo com a própria lei e a Doutrina. MODALIDADES DE TORTURA TORTURA-PROVA ou TORTURA PERSECUTÓRIA Infligida com a finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa (inciso I, alínea “a”). TORTURA PARA A PRÁTICA DE CRIME ou TORTURA-CRIME Infligida para provocar ação ou omissão de natureza criminosa. TORTURA DISCRIMINATÓRIA ou TORTURA-RACISMO Infligida em razão de discriminação racial ou religiosa TORTURA-CASTIGO Infligida como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 5 94 Marquei de cor diferente a TORTURA-CASTIGO para que você memorize uma característica diferente. O inciso II do art. 1° tipifica a conduta daquele que inflige sofrimento a pessoa que esteja sob sua guarda, poder ou autoridade, com finalidade de castigar. Podemos concluir, portanto que a TORTURA-CASTIGO é um crime próprio, pois somente pode ser praticado por quem tenha o dever de guarda ou exerça poder ou autoridade sobre a vítima. Ao mesmo tempo exige-se também uma condição especial do sujeito passivo, que precisa estar sob a autoridade do torturador. O exemplo de TORTURA-CASTIGO mais comum é o do agente penitenciário que tortura presos, ou do pai que tortura os próprios filhos. As demais modalidades de tortura previstas no inciso I (tortura prova, para a prática de crimes e discriminatória) são crimes comuns, pois não se exige nenhuma qualidade especial do agente ou da vítima. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. Esta é a TORTURA DO PRESO OU DE PESSOA SUJEITA A MEDIDA DE SEGURANÇA. A tipificação específica de crime cometido contra essas pessoas reforça o que determina a Lei do Abuso de Autoridade e a própria Constituição Federal, que assegura “aos presos o respeito à integridade física e moral”. Perceba que esta conduta é a única que não exige dolo específico do agente. Basta que a pessoa presa ou sujeita a medida de segurança seja submetida a sofrimento, não sendo exigida nenhuma finalidade especial por parte do torturador. § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá- las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. Esta é a OMISSÃO PERANTE A TORTURA. Já sabemos que, de acordo com o próprio Código Penal, a omissão só é penalmente relevante “quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. A Doutrina critica duramente este dispositivo, pois ele apenas criminaliza a omissão daquele que tinha o dever de agir para evitar a tortura, e não inclui aquele que, apesar de não ter o dever, tinha a possibilidade de impedir o ato de tortura e não o fez. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 6 94 Apenas responde por OMISSÃO PERANTE A TORTURA aquele que tinha o dever de agir para evitar o ato de tortura e não o faz. § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. Estas são as hipóteses de TORTURA QUALIFICADA. Apenas chamo sua atenção para as qualificadoras, que são o resultado lesão corporal grave ou gravíssima, ou morte. A lesão corporal leve não é qualificadora do crime de tortura. A lesão corporal leve não é qualificadora do crime de tortura. A TORTURA QUALIFICADA somente ocorre quando houver como resultado lesão corporal grave ou gravíssima ou, ainda, o resultado morte. Para esclarecer as questões acerca da natureza da lesão corporal, é interessante que você relembre o teor do art. 129 do Código Penal, que trata do tema. As hipóteses de lesão corporal grave estão previstas no §1°, enquanto o §2° traz os casos de lesão corporal gravíssima. CP, Art. 129. [...] §1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: [...] § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III- perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 7 94 Agora voltaremos à Lei n° 9.455/1997 para analisar as causas de aumento de pena para o crime de tortura. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III - se o crime é cometido mediante sequestro. A definição de agente público deve ser tomada de forma ampla, nos termos do Código Penal, que estabelece que, para efeito penais, deve ser considerado funcionário público “aquele que, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. Você já sabe que, nos casos em que a condição de agente público é elementar do crime, não pode ser aplicada esta agravante. Não faria sentido, por exemplo, aplicar a agravante à TORTURA- IMPRÓPRIA, quando o agente prisional se omite diante de ato de tortura, pois, se o agente não fosse funcionário público, não poderia haver o crime. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, são consideradas crianças as pessoas que tenham menos de 12 anos, enquanto adolescentes são aqueles que têm mais de 12 e menos de 18. Por fim, a agravante relacionada ao sequestro é aplicável quando a vítima é sequestrada e, durante o sequestro, o agente comete crime de tortura. Caso o agente cerceie a liberdade da vítima com a finalidade única de infligir a tortura, não há que se falar em sequestro. § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. Este é um efeito extrapenal administrativo da condenação. Caso o agente do crime de tortura seja funcionário público, perderá seu cargo, função ou emprego e ficará interditado para seu exercício pelo período equivalente ao dobro da pena. O STF e o STJ já decidiram que esse efeito decore automaticamente da condenação. § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. Para responder as questões de prova com precisão, é importante conhecer, ao menos em parte, o conteúdo da Lei n° 8.072/1990, que trata dos crimes hediondos e equiparados, entre eles a tortura. A mencionada lei estabelecia o cumprimento das penas relativas aos crimes hediondos e equiparados em regime integralmente fechado. Quando a Lei de Tortura foi promulgada, considerou-se que houve derrogação parcial do dispositivo da Lei dos Crimes Hediondos. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 8 94 Em 2007 a Lei dos Crimes Hediondos foi alterada, e hoje todos os crimes hediondos e equiparados devem ter suas penas cumpridas inicialmente em regime fechado, mas é possível a progressão de regime. A polêmica, porém, não acabou. O STJ tem afirmado, em julgados recentes, que não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena em regime fechado. Esse entendimento decorre do posicionamento do STF relacionado aos crimes hediondos e equiparados, entre eles o crime de tortura. DIREITO PENAL. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA NO CRIME DE TORTURA. Não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. Dispõe o art. 1º, § 7º, da Lei 9.455/1997 – lei que define os crimes de tortura e dá outras providências – que “O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado”. Entretanto, cumpre ressaltar que o Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840-ES (DJe 17.12.2013), afastou a obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equiparados, devendo-se observar, para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o art. 59, ambos do CP. Assim, por ser equiparado a crime hediondo, nos termos do art. 2º, caput e § 1º, da Lei 8.072/1990, é evidente que essa interpretação também deve ser aplicada ao crime de tortura, sendo o caso de se desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei 9.455/1997, que possui a mesma disposição da norma declarada inconstitucional. Cabe esclarecer que, ao adotar essa posição, não se está a violar a Súmula Vinculante n.º 10, do STF, que assim dispõe: "Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte". De fato, o entendimento adotado vai ao encontro daquele proferido pelo Plenário do STF, tornando-se desnecessário submeter tal questão ao Órgão Especial desta Corte, nos termos do art. 481, parágrafo único, do CPC: "Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a arguição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão". Portanto, seguindo a orientação adotada pela Suprema Corte, deve-se utilizar, para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o art. 59, ambos do CP e as Súmulas 440 do STJ e 719 do STF. Confiram-se, a propósito, os mencionados verbetes sumulares: "Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito." (Súmula 440 do STJ) e "A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea." (Súmula 719 do STF). Precedente citado: REsp 1.299.787-PR, Quinta Turma, DJe 3/2/2014. HC 286.925-RR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/5/2014. Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. Em algumas situações, a Lei de Tortura pode ser aplicada mesmo fora do território nacional: - Quando a vítima do crime for brasileira; - Quando o agente se encontre em local em que a lei brasileira seja, em geral, aplicável. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 9 94 3 - CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR (LEI N. 7.716/89) Não pretendo tecer longas considerações históricas a respeito das origens do preconceito e do racismo no Brasil. Você sabe que por séculos a sociedade brasileira considerou os negros de origem africana como objetos, e que, com a abolição da escravatura, não houve qualquer política de inclusão dos negros na atividade produtiva, o que fez com que essas pessoas permanecessem à margem da sociedade, sem instrução formal e sofrendo fortíssimo preconceito em qualquer lugar que fossem. Do ponto de vista penal, por muito tempo os escravos não foram considerados pessoas, mas apenas em termos de culpabilidade. Eles eram criminosos, mas não podiam ser vítimas, pois eram propriedade do seu senhor. A primeira lei que tratou de combater o preconceito de raça e cor foi a Lei Afonso Arinos, de 1951, que tratou a discriminação como contravenção penal. Infelizmente essa foi uma daquelas famosas leis que “não pegam”. A Constituição de 1988 determina, em seu art. 4°, que o repúdio ao racismo é um dos princípios que regem a República em suas relações internacionais. Além disso, a prática de racismo é crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão. A Lei n° 7.716/1989 surgiu para criminalizar as condutas de preconceito de raça ou de cor. Em 1997, a lei sofreu uma reforma de proporções consideráveis, que inclui em seu escopo também a discriminação ou preconceito de etnia, religião e procedência nacional. Art. 1o Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Vamos fazer uma pequena análise da terminologia utilizada pelo dispositivo, com base nas explanações doutrinárias sobre o tema, ok? Discriminação é a separação, segregação. Representa o rompimento da igualdade, mas nem sempre é ilegítima. Existem, por exemplo, as políticas que são comumente chamadas de “Discriminação Positiva”, que são voltadas para apenas uma parcela da população. Tratando-se da população negra, podemos mencionar como exemplo o estabelecimento de cotas para acesso às instituições de ensino superior. Preconceito é um sentimento ou ideia pré-formatada, que seja favorável ou desfavorável em relação a determinada pessoa. O preconceito e a discriminação puníveis são aqueles relacionados à raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Para fins e interpretação legal, raças são subgrupos nos quais a humanidade se divide, de acordo com características fisiológicas comuns. Uma observação interessante é que mesmo a ciência já não Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 10 94 aceita pacificamente a existência de diferentes raças. A ideia já foi inclusive confirmada pelo STF, no julgamento do HC 82424. HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTI-SEMITISMO. RACISMO. CRIME IMPRESCRITÍVEL. CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM DENEGADA. 1. Escrever, editar, divulgar e comerciar livros "fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias" contra a comunidade judaica (Lei 7716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei 8081/90) constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, artigo 5º, XLII). 2. Aplicação do princípio da prescritibilidade geral dos crimes: se os judeus não são uma raça, segue-se que contra eles não pode haver discriminação capaz de ensejar a exceção constitucional de imprescritibilidade. Inconsistência da premissa. 3. Raça humana. Subdivisão. Inexistência. Com a definição e o mapeamento do genoma humano, cientificamente não existem distinções entre os homens, seja pela segmentação da pelé, formato dos olhos, altura, pêlosou por quaisquer outras características físicas, visto que todos se qualificam como espécie humana. Não há diferenças biológicas entre os seres humanos. Na essência são todos iguais. 4. Raça e racismo. A divisão dos seres humanos em raças resulta de um processo de conteúdo meramente político-social. Desse pressuposto origina- se o racismo que, por sua vez, gera a discriminação e o preconceito segregacionista. 5. Fundamento do núcleo do pensamento do nacional-socialismo de que os judeus e os arianos formam raças distintas. Os primeiros seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes para justificar a segregação e o extermínio: inconciabilidade com os padrões éticos e morais definidos na Carta Política do Brasil e do mundo contemporâneo, sob os quais se ergue e se harmoniza o estado democrático. Estigmas que por si só evidenciam crime de racismo. Concepção atentatória dos princípios nos quais se erige e se organiza a sociedade humana, baseada na respeitabilidade e dignidade do ser humano e de sua pacífica convivência no meio social. Condutas e evocações aéticas e imorais que implicam repulsiva ação estatal por se revestirem de densa intolerabilidade, de sorte a afrontar o ordenamento infraconstitucional e constitucional do País. 6. Adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais, que energicamente repudiam quaisquer discriminações raciais, aí compreendidas as distinções entre os homens por restrições ou preferências oriundas de raça, cor, credo, descendência ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa superioridade de um povo sobre outro, de que são exemplos a xenofobia, "negrofobia", "islamafobia" e o anti-semitismo. 7. A Constituição Federal de 1988 impôs aos agentes de delitos dessa natureza, pela gravidade e repulsividade da ofensa, a cláusula de imprescritibilidade, para que fique, ad perpetuam rei memoriam, verberado o repúdio e a abjeção da sociedade nacional à sua prática. 8. Racismo. Abrangência. Compatibilização dos conceitos etimológicos, etnológicos, sociológicos, antropológicos ou biológicos, de modo a construir a definição jurídico-constitucional do termo. Interpretação teleológica e sistêmica da Constituição Federal, conjugando fatores e circunstâncias históricas, políticas e sociais que regeram sua formação e aplicação, a fim de obter-se o real sentido e alcance da norma. 9. Direito comparado. A exemplo do Brasil as legislações de países organizados sob a égide do estado moderno de direito democrático igualmente adotam em seu ordenamento legal punições para delitos que estimulem e propaguem segregação racial. Manifestações da Suprema Corte Norte-Americana, da Câmara dos Lordes da Inglaterra e da Corte de Apelação da Califórnia nos Estados Unidos que consagraram entendimento que aplicam sanções àqueles que transgridem as regras de boa convivência social com grupos humanos que simbolizem a prática de racismo. 10. A edição e publicação de obras escritas veiculando ideias anti-semitas, que buscam resgatar e dar credibilidade à concepção racial definida pelo regime nazista, negadoras e subversoras de fatos históricos incontroversos como o holocausto, consubstanciadas na pretensa inferioridade e desqualificação do povo judeu, equivalem à incitação ao discrímen com acentuado conteúdo racista, reforçadas pelas consequências históricas dos atos em que se baseiam. 11. Explícita conduta do agente responsável pelo agravo revelador de manifesto dolo, baseada na equivocada premissa de que os judeus não só são uma raça, mas, mais do que isso, um segmento racial atávica e geneticamente menor e pernicioso. 12. Discriminação que, no caso, se evidencia como deliberada e dirigida especificamente aos judeus, que configura ato ilícito de prática de racismo, com as consequências gravosas que o acompanham. 13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como absoluta. Limites morais e jurídicos. O direito à livre expressão Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 11 94 não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal. 14. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o "direito à incitação ao racismo", dado que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. 15. "Existe um nexo estreito entre a imprescritibilidade, este tempo jurídico que se escoa sem encontrar termo, e a memória, apelo do passado à disposição dos vivos, triunfo da lembrança sobre o esquecimento". No estado de direito democrático devem ser intransigentemente respeitados os princípios que garantem a prevalência dos direitos humanos. Jamais podem se apagar da memória dos povos que se pretendam justos os atos repulsivos do passado que permitiram e incentivaram o ódio entre iguais por motivos raciais de torpeza inominável. 16. A ausência de prescrição nos crimes de racismo justifica-se como alerta grave para as gerações de hoje e de amanhã, para que se impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados conceitos que a consciência jurídica e histórica não mais admitem. Ordem denegada. STF, HC 82424/RS, Rel. Min. MOREIRA ALVES, j. 17.09.2003, DJ 19.03.2004 PP-00017 EMENT VOL-02144-03 PP-00524. A cor se refere à tonalidade da pele da pessoa. A etnia diz respeito à origem das comunidades, e abarca não só características físicas, mas também componentes culturais (dialetos, religião, crenças, costumes). Religião é uma crença em comum, normalmente manifestada por meio de ritos próprios. Origem nacional se refere ao país de procedência da pessoa. Aqui a Doutrina faz considerações também sobre os locais de origem dentro de um mesmo país, com relação a uma região específica, estado ou cidade. Aqui vale mencionar também um julgado do STF em que se reconhece a aplicabilidade da Lei n. 7.716/1989 a situações de preconceito e discriminação relacionadas a orientação sexual e identidade de gênero (homofobia e transfobia). Ainda que esses fatores não sejam expressamente previstos na lei, o STF entendeu que a lei será aplicável até que o Congresso Nacional criminalize a homofobia. É importante ainda frisar que, no próprio julgado, o STF fez ressalvas à liberdade religiosa, resguardando aos ministros religiosos o direito de pregar e de divulgar o seu pensamento e de externar suas convicções, ensinando segundo sua orientação doutrinária, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, ou seja, desde que não incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero. Na ADO, o colegiado, por maioria, fixou a seguinte tese: “1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 12 94 limita o exercício da liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero; 3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito”. ADO 26/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 13.6.2019. (ADO-26) MI 4733/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 13.6.2019. (MI-4733) O STF reconhece a aplicabilidade da Lei n. 7.716/1989 a situações de preconceito e discriminação relacionadas a orientação sexual e identidade de gênero (homofobia e transfobia). Ainda que esses fatores não sejam expressamente previstos na lei, o STF entendeu que a lei será aplicável até que o Congresso Nacional criminalize a homofobia. Normalmente nos referimos aos crimes previstos na Lei nº 7.716/1989 como “crimes de racismo”. O racismo, na realidade, é a crença na superioridade de uma determinada raça sobre outra, que gera consequências sociais extremas. Utilizarei esta expressão aqui para me referir aos crimes previstos na lei, ok? Primeiramente vamos analisar o tipo mais genérico, previsto no art. 20. Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. Este tipo abarca qualquer ato relacionado à promoção de atitudes discriminatórias ou preconceituosas relacionadas aos elementos que já estudamos. § 1o Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 13 94 § 2o Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. § 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores. § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. A criminalização do uso do símbolo do nazismo (suástica) é consequência dos traumas gerados pelas políticas racistas e segregacionistas adotadas pelo regime de Adolf Hitler e que marcaram a expansão alemã durante a Segunda Guerra Mundial. O símbolo ficou tão fortemente ligado ao racismo que até hoje sua utilização constitui crime punido severamente. Há também uma pena mais grave se os crimes de racismo forem cometidos utilizando-se meios de comunicação social ou publicação, também conhecidos como “meios de comunicação de massa”. Uma atitude racista transmitida na TV, rádio ou internet é punida mais severamente do que aquela feita de forma tímida e com menor alcance. Para investigar a utilização de meios de comunicação, o juiz pode determinar medidas cautelares com a principal finalidade de interromper a transmissão de conteúdos racistas. O §4º determina ainda que a destruição do material de cunho racista é efeito da condenação. Art. 3o Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional. Pena: reclusão de dois a cinco anos. Aqui a conduta tipificada é a obstacularização ou o impedimento do acesso de pessoa habilitada a cargo ou à promoção funcional. O sujeito ativo é pessoa componente da Administração Pública, que detenha cargo ou função de chefia ou atribuições relacionadas ao acesso a cargo ou promoção, enquanto o sujeito passivo é o próprio Estado e, secundariamente, o ofendido pelo ato discriminatório. É necessário ainda que haja o elemento subjetivo da vontade dirigida à atitude discriminatória ou preconceituosa relacionada aos elementos mencionados no parágrafo único. Isso não significa que outras atitudes discriminatórias não sejam puníveis, ok? A discriminação contra idosos, ou por razão de sexo e estado civil são puníveis com base em leis específicas. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 14 94 Art. 4o Negar ou obstar emprego em empresa privada. § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raçaou de corou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. § 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essasexigências. Pena: reclusão de dois a cinco anos. Este tipo penal é bastante interessante. Enquanto o art. 3º tratava da negativa de acesso ao cargo ou à promoção funcional na Administração Pública e nas concessionárias de serviços públicos, este trata das empresas privadas. As condutas criminalizadas são as seguintes: • Negar ou obstar emprego; • Deixar de providenciar os equipamentos necessários a empregado; • Impedir a ascensão ou outro benefício funcional a empregado; • Tratar empregado de forma diferente dos demais; • Exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego sem justificativa. Lembro que, em todos os tipos penais relacionados ao racismo, é necessária a existência de dolo relacionado ao preconceito ou discriminação resultante de raça, cor, etnia, religião ou origem. Art. 5o Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. Pena: reclusão de um a três anos. Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. Pena: reclusão de três a cinco anos. Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). No parágrafo único não consta agravante, mas sim uma causa de aumento de pena. A expressão foi utilizada pelo legislador de forma atécnica. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 15 94 A negativa de acesso a instituições de ensino por motivos racistas era muito comum há algumas décadas. Perceba que nem as escolas mantidas por instituições religiosas podem negar o acesso de alunos que não pertençam àquela denominação. Isso não impede, é claro, que sejam estabelecidas normas de conduta a serem observadas no dia a dia da instituição. Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Pena: reclusão de três a cinco anos. Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos. Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos. Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. Pena: reclusão de um a três anos. Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos: Pena: reclusão de um a três anos. Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Pena: reclusão de um a três anos. Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas. Pena: reclusão de dois a quatro anos. Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social. Pena: reclusão de dois a quatro anos. Mais uma vez chamo sua atenção para a necessidade do elemento subjetivo da conduta do agente: o dolo de impedir ou obstruir o acesso das pessoas a esses locais em razão de discriminação ou preconceito quanto à raça, cor, etnia, religião ou origem da pessoa. Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses. [...] Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. O art. 16 estabelece alguns efeitos extrapenais da condenação pelos crimes da Lei n. 7.716/1989: Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 16 94 a) Perda do cargo ou da função pública, para o servidor público; b) Suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a 3 meses. O art. 18 esclarece que esses efeitos não são automáticos, devendo ser expressa e motivadamente declarados na sentença. Você pode estar se perguntando acerca do art. 17, mas este dispositivo foi vetado na época da promulgação da lei. Na Jurisprudência dos Tribunais Superiores há pouquíssimos julgados sobre os crimes de racismo. O HC 82424, julgado pelo STF, tratou da publicação de livros com conteúdo antissemita, ou seja, discriminatório e preconceituoso contra a comunidade judaica. Na ocasião, a Suprema Corte confirmou o caráter criminoso da publicação de livros “fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica”. O STF relacionou as publicações às antigas ideias de supremacia ariana em relação aos judeus, veiculadas pelo regime nazista. Há ainda um outro julgado interessante, desta vez do STJ, que foi cobrado numa questão do concurso de 2013 da Polícia Rodoviária Federal. Na ocasião, discutiu-se a possibilidade de um clube social negar a admissão de uma pessoa em razão de preconceito de raça ou cor, quando, de acordo com o estatuto do clube, a sua diretoria não precisava justificar a negativa. Nem preciso dizer que isso não faz o menor sentido, não é mesmo? RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL.INÉPCIA DA DENÚNCIA. CRIME DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR.AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA. 1. A denúncia que se mostra ajustada ao artigo 41 do Código de Processo Penal, ensejando o pleno exercício da garantia constitucional da ampla defesa, não deve, nem pode, ser tida e havida como inepta. 2. A recusa de admissão no quadro associativo de clube social, em razão de preconceito de raça ou de cor, caracteriza o tipo inserto no artigo 9º da Lei nº 7.716/89, enquanto modo da conduta impedir, que lhe integra o núcleo. 3. A faculdade, estatutariamente atribuída à diretoria, de recusar propostas de admissão em clubes sociais, sem declinação dos motivos, não lhe atribui a natureza especial de fechado, de maneira a subtraí-lo da incidência da lei. 4. A pretensão de exame de prova é estranha, em regra, ao âmbito angusto do habeas corpus. 5. Recurso improvido. STJ, Relator: Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Data de Julgamento: 22/03/2005, T6 - SEXTA TURMA Acerca dos aspectos processuais, há um julgado importante do STJ que reconhece que a consumação do crime de racismo por meio da internet ocorre no local de onde foram enviadas as manifestações racistas. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE RACISMO PELA INTERNET. MENSAGENS ORIUNDAS DE USUÁRIOS DOMICILIADOS EM DIVERSOS ESTADOS. IDENTIDADE DE MODUS OPERANDI. TROCA E POSTAGEM DE MENSAGENS DE CUNHO RACISTA NA MESMA COMUNIDADE DO MESMO SITE DE RELACIONAMENTO. OCORRÊNCIA DE CONEXÃO INSTRUMENTAL. NECESSIDADE DE UNIFICAÇÃO DO PROCESSO PARA Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 17 94 FACILITAR A COLHEITA DA PROVA. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 76, III, E 78, AMBOS DO CPP. PREVENÇÃO DO JUÍZO FEDERAL PAULISTA, QUE INICIOU E CONDUZIU GRANDE PARTE DAS INVESTIGAÇÕES. PARECER DO MPF PELA COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL DE SÃO PAULO. CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO FEDERAL DA 4A. VARA CRIMINALDA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO, O SUSCITADO, DETERMINANDO QUE ESTE COMUNIQUE O RESULTADO DESTE JULGAMENTO AOS DEMAIS JUÍZOS FEDERAIS PARA OS QUAIS HOUVE A DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA. 1. Cuidando- se de crime de racismo por meio da rede mundial de computadores, a consumação do delito ocorre no local de onde foram enviadas as manifestações racistas. 2. Na hipótese, é certo que as supostas condutas delitivas foram praticadas por diferentes pessoas a partir de localidades diversas; todavia, contaram com o mesmo modus operandi, qual seja, troca e postagem de mensagens de cunho racista e discriminatório contra diversas minorias (negros, homossexuais e judeus) na mesma comunidade virtual do mesmo site de relacionamento. 3. Dessa forma, interligadas as condutas, tendo a prova até então colhida sido obtida a partir de único núcleo, inafastável a existência de conexão probatória a atrair a incidência dos arts. 76, III, e 78, II, ambos do CPP, que disciplinam a competência por conexão e prevenção. 4. Revela-se útil e prioritária a colheita unificada da prova, sob pena de inviabilizar e tornar infrutífera as medidas cautelares indispensáveis à perfeita caracterização do delito, com a identificação de todos os participantes da referida comunidade virtual. [...] STJ, CC 102454/RJ, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, j. 25.03.2009, DJe 15.04.2009. Veremos agora alguns dispositivos de outras leis que mencionam a discriminação ou preconceito baseados no racismo. O art. 140 do Código Penal trata do crime de injúria, mas o que realmente nos interessa aqui é conteúdo do §3º, que estabelece uma variante qualificada desse crime. Art. 140 Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. Entre outros elementos, constam aqueles presentes no art. 1º da Lei do Racismo. Nas palavras de Celso Delmanto, "comete o crime do artigo 140, § 3º do CP, e não o delito do artigo 20 da Lei nº 7.716/89, o agente que utiliza palavras depreciativas referentes a raça, cor, religião ou origem, com o intuito de ofender a honra subjetiva da vítima". Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 18 94 Já o crime de racismo seria aquele cometido por quem pratica conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade. O crime de racismo é considerado mais grave pelo legislador, e, além de imprescritível e inafiançável, sua persecução se dá por meio de ação penal pública incondicionada, enquanto, no caso da injúria racial, a ação penal é pública condicionada à representação do ofendido. Com relação à injúria racial, vale a pena também mencionar julgado do STF que confirmou a condenação do blogueiro Paulo Henrique Amorim pelo crime, estendendo à injúria racial a imprescritibilidade prevista para o crime de racismo. DIREITO PENAL. AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CRIME DE INJÚRIA RACIAL. IMPRESCRITIBILIDADE. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL AMPLAMENTE ANALISADA NA ORIGEM. NEGATIVA MONOCRÁTICA DE SEGUIMENTO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO. DESPROVIMENTO DO AGRAVO. 1.Como afirmado na decisão monocrática ora atacada, os fatos foram detida e profundamente apreciados nas instâncias ordinárias. De modo que não se pode rediscutir a matéria sem revolver os fatos para que se chegue à conclusão diversa da encontrada pelo Superior Tribunal de Justiça. De se salientar que não se trata de manter a decisão, com exame da questão de fundo, mas da impossibilidade de proceder à revisão nesta via recursal. 2.Por outro lado, como também explicitado na decisão, a questão relativa à imprescritibilidade é insuscetível de reapreciação por se tratar de matéria infraconstitucional, objeto de profunda análise pelo Superior Tribunal de Justiça, órgão constitucionalmente vocacionado para o exame da matéria. Ag. Reg. noRE com Ag. 983.531. Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18.8.2017. É interessante conhecer também o crime de redução a condição análoga à de escravo, tipificado no art. 149 do CP, e que prevê aumento de pena se a conduta for relacionada ao racismo. Art. 149 Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. [...] § 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: [...] II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. A Lei nº 9.455/1997, que trata dos crimes de tortura, também prevê no tipo penal um componente relacionado ao racismo: Art. 1o Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 19 94 [...] c) em razão de discriminação racial ou religiosa; 4 - LEI Nº 7.492/1986 (CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL) 4.1 - SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL A Lei n° 7.492/1986 é costumeiramente chamada de Lei dos Crimes de Colarinho Branco. Ela demonstra a grande preocupação do legislador com a proteção do Sistema Financeiro Nacional. Essa preocupação se explica em grande parte por causa do que se convencionou chamar de “risco sistêmico”. Explicarei para você em poucas palavras do que se trata. As instituições financeiras são pessoas jurídicas que exercem as atividades de intermediação financeira, ou seja, elas captam recursos (quando você deposita seu dinheiro em um banco, ele está captando seus recursos), e, em seguida, repassam esses recursos, mediante empréstimos, financiamentos, planos previdenciários, etc. Acontece que as instituições financeiras não operam isoladamente. Há uma extensa e complexa rede de operações que une todas essas instituições: elas emprestam recursos e tomam emprestados umas das outras, têm ações negociadas em bolsa e seus recursos estão espalhados por todo o sistema. Agora imagine comigo a seguinte situação: um diretor de um grande banco pratica o crime de gestão fraudulenta, e a informação vem a público, fazendo com que a imagem desse banco fique muito comprometida. Diante dos sinais de instabilidade, rapidamente o valor de mercado das ações daquele banco cai, e as pessoas passam a desconfiar de que seus recursos não estão seguros sob a guarda daquela instituição. O próximo acontecimento, portanto, é uma corrida às agências daquele banco, com pessoas retirando seus recursos para levar para outras instituições mais confiáveis, ou mesmo para guardar consigo. Você já está compreendendo onde isso pode parar, não é mesmo? Este banco pode ficar sem recursos para pagar seus credores, e este grupo inclui outros bancos, o Banco Central, e algumas vezes até o Tesouro Nacional.Você conseguiu perceber a importância da proteção de todo o Sistema Financeiro Nacional? As ações criminosas, em razão do risco sistêmico, podem atingir um número incontável de pessoas, e prejudicar a população e o próprio Estado. Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários. Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira: Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 20 94 I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros; II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que de forma eventual. Este dispositivo define o que é instituição financeira, e o conjunto dessas instituições é o que forma o Sistema Financeiro Nacional. As instituições que formam o SFN são públicas e privadas. Este aspecto já foi cobrado em provas anteriores, hein? O conceito de instituição financeira trazido pela lei é bastante amplo, não é mesmo? Já expliquei a você o que é a atividade de intermediação financeira, mas o art. 1° trata como instituições financeiras também aquelas dedicadas à custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários. Os títulos e valores mobiliários são aqueles negociados em bolsas de valores e mercado de balcão, a exemplo das ações, opções, debêntures, etc. Dessa forma, as corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários também são consideradas instituições financeiras. O parágrafo único amplia ainda mais a definição, abarcando também as corretoras de seguros, de câmbio, as instituições que promovem consórcios, e qualquer outra que capte recursos de terceiros. A Lei Complementar nº 105/2001, que trata do sigilo bancário, traz o rol das entidades que são consideradas instituições financeiras. São instituições financeiras, para os fins da LC 105, os bancos de qualquer espécie; distribuidoras de valores mobiliários; corretoras de câmbio e de valores mobiliários; sociedades de crédito, financiamento e investimentos; sociedades de crédito imobiliário; administradoras de cartões de crédito; sociedades de arrendamento mercantil; administradoras de mercado de balcão organizado; cooperativas de crédito; associações de poupança e empréstimo; bolsas de valores e de mercadorias e futuros; entidades de liquidação e compensação; outras sociedades que, em razão da natureza de suas operações, assim venham a ser consideradas pelo Conselho Monetário Nacional. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 21 94 4.2 - CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Agora que aprendemos o que é o Sistema Financeiro Nacional e quais são as instituições financeiras, voltemos nosso estudo aos tipos penais trazidos pela lei. Esta parte, sem dúvida, é a mais importante para a sua prova, ok? Primeiramente, alguns crimes aqui previstos são próprios, apenas podendo ser praticados pelas pessoas previstas pelo art. 25. Por exemplo, os art. 4º, 5º, 6º, 9º, 11 e 17. Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes. § 1º Equiparam-se aos administradores de instituição financeira o interventor, o liquidante ou o síndico. O controlador é aquele que tem poder de comando. Em geral é o acionista que possui maior participação ou o sócio que detém maior número de cotas, e geralmente ele é conhecido como o “dono” do negócio. Os administradores são aqueles a quem é concedido o poder de decisão na instituição. São os diretores e gerentes, que geralmente representam a instituição na condução dos negócios. O interventor e o liquidante são figuras existentes nas normas específicas que tratam dos procedimentos de intervenção e liquidação de instituições financeiras. Síndico era o nome dado ao responsável pela condução da falência. Hoje esta figura é chamada de administrador judicial. Decidi reproduzir os dispositivos legais e fazer comentários sucintos, apenas para facilitar seu entendimento. Historicamente, as questões acerca desses crimes cobram muito pouco além do que é prescrito pela lei. IMPRESSÃO OU PUBLICAÇÃO NÃO AUTORIZADAS Art. 2º Imprimir, reproduzir ou, de qualquer modo, fabricar ou pôr em circulação, sem autorização escrita da sociedade emissora, certificado, cautela ou outro documento representativo de título ou valor mobiliário: Pena– Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem imprime, fabrica, divulga, distribui ou faz distribuir prospecto ou material de propaganda relativo aos papéis referidos neste artigo. Já vimos o que são os títulos e valores mobiliários, não é mesmo? Este crime é praticado por quem cria fraudulentamente ou põe em circulação sem autorização um documento que pretensamente representa um título ou valor mobiliário. A mesma pena pode ser aplicada para aquele que produz material de divulgação do título ou valor mobiliário falso. DIVULGAÇÃO FALSA OU INCOMPLETA DE INFORMAÇÃO Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 22 94 Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Há um enorme perigo na divulgação de informações a respeito de instituições financeiras. Isso ocorre porque, como já expliquei, uma quebra de confiança na saúde financeira da instituição pode provocar um colapso em todo o Sistema Financeiro. GESTÃO FRAUDULENTA Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira: Pena- Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa. Parágrafo único. Se a gestão é temerária: Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Este tipo penal é tosco. Na realidade, ele não tipifica nada, pois não há qualquer dispositivo legal ou regulamentar que explique o que significa “gerir fraudulentamente”. Apesar disso, a Jurisprudência historicamente o tem aplicado, dando à expressão significado relacionado à prática de atos fraudulentos, de ardil, embuste ou desfalque. A gestão temerária, por outro lado, é praticada pelo administrador que não segue as regras de cautela. Há entidades públicas que compõem o Sistema Financeiro Nacional e são responsáveis por editar normas prudenciais, que devem ser obedecidas por todas as instituições financeiras. Essas instituições reguladoras são o Banco Central do Brasil (BC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Devemos aqui mencionar posicionamentos dos Tribunais Superiores no sentido de que a gestão fraudulenta é um crime residual, que estará caracterizado quando não estiverem presentes elementos próprios de outro crime. PENAL E PROCESSUAL PENAL. LEI 7.492/1986, ARTS. 16 (OPERAR INSTITUIÇÃO FINANCEIRA SEM AUTORIZAÇÃO) E 22(EVASÃO DE DIVISAS). [...] 3. O delito de gestão fraudulenta é previsto em dispositivo legal que tem caráter de norma geral e, portanto, o crime será residual, e restará absorvido sempre que não houver uma norma específica, criminalizando uma determinada conduta que importe em lesão à integridade do sistema. No caso dos autos, a conduta atribuída aos acusados está perfeitamente delimitada e definida pela norma dos arts. 16 e 22 da Lei nº 7.492/1989. Logo, condenar os réus, com base nos mesmos fatos, pela prática do crime do art. 4º da citada lei, importaria em inadmissível bis in idem. STF, ARE 920688/RJ Rel. Min. EDSON FACHIN, j. 18.12.2015, DJe 02.02.2016. APROPRIAÇÃO INDÉBITA E DESVIO DE RECURSOS Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 23 94 Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, de dinheiro, título, valor ou qualquer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena qualquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, que negociar direito, título ou qualquer outro bem móvel ou imóvel de que tem a posse, sem autorização de quem de direito. Em regra, quando os procedimentos de fiscalização mostram que a instituição não está “bem das pernas”, as entidades reguladoras utilizam esses expedientes para intervir, assumir a condução dos negócios e, em alguns casos, liquidar a instituição e retirá-la do mercado. Se o controlador, os administradores, o interventor, o liquidante ou administrador judicial se apropria, desvia ou negocia bem ou valor do qual tem a posse me razão do exercício da função, incorre neste crime. SONEGAÇÃO DE INFORMAÇÃO Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente, relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a falsamente: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Mais uma vez estamos diante de uma conduta que pode pôr em risco não só a instituição financeira, mas todo o sistema. Da mesma forma que a divulgação de informação falsa levar o público e os investidores a tomar decisões erradas, a sonegação de informação a sócios, investidores ou agentes públicos pode prejudicar outras instituições, a população e o Estado. EMISSÃO, OFERECIMENTO OU NEGOCIAÇÃO IRREGULAR DE TÍTULOS OU VALORES MOBILIÁRIOS Art. 7º Emitir, oferecer ou negociar, de qualquer modo, títulos ou valores mobiliários: I - falsos ou falsificados; II - sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente, em condições divergentes das constantes do registro ou irregularmente registrados; III - sem lastro ou garantia suficientes, nos termos da legislação; IV - sem autorização prévia da autoridade competente, quando legalmente exigida: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Para negociar títulos ou valores mobiliários, é necessário que a sociedade proceda à abertura de capital. Esse procedimento é bastante complexo, e deve seguir uma série de exigências legais, além dos regulamentos da Comissão de Valores Mobiliários. Se esses procedimentos não forem seguidos ou os títulos ou valores forem emitidos em desacordo com essas normas, o agente incorrerá no crime em estudo. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 24 94 EXIGÊNCIA DE REMUNERAÇÃO ALÉM DA LEGALMENTE PERMITIDA Art. 8º Exigir, em desacordo com a legislação, juro, comissão ou qualquer tipo de remuneração sobre operação de crédito ou de seguro, administração de fundo mútuo ou fiscal ou de consórcio, serviço de corretagem ou distribuição de títulos ou valores mobiliários: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Os serviços de intermediação financeira não podem ser realizados por qualquer pessoa. As instituições financeiras somente podem operar no mercado com autorização das entidades reguladoras que foram mencionadas. Além da intervenção de pessoas não autorizadas, também comete este crime aquele que é autorizado a operar no mercado, mas não respeita os limites estabelecidos pela lei e pelos regulamentos. Geralmente as instituições financeiras são autorizadas a operar “carteiras” específicas. Se uma empresa é autorizada a comercializar seguros, por exemplo, não pode operar no mercado de câmbio. FRAUDE À FISCALIZAÇÃO OU AO INVESTIDOR Art. 9º Fraudar a fiscalizaçãoou o investidor, inserindo ou fazendo inserir, em documento comprobatório de investimento em títulos ou valores mobiliários, declaração falsa ou diversa da que dele deveria constar: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Esta é uma modalidade mais específica de fraude. Neste crime o fraudador ilude o investidor ou o fiscalizador (BC, CVM, Susep, Previc, etc.) mediante inserção de declaração falsa ou diferente da que deveria constar nos processos. DOCUMENTOS CONTÁBEIS FALSOS OU INCOMPLETOS Art. 10. Fazer inserir elemento falso ou omitir elemento exigido pela legislação, em demonstrativos contábeis de instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do sistema de distribuição de títulos de valores mobiliários: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Este é mais um crime relacionado à fraude. A legislação e os regulamentos são muito detalhados e rigorosos acerca da prestação de contas das instituições financeiras. Todos os anos elas precisam elaborar, enviar às instituições reguladoras e publicar diversos relatórios e demonstrações contábeis. A necessidade de controle é explicada pelo já mencionado risco sistêmico. Daí o rigor na punição daquele que falseia demonstrativos contábeis de instituição financeira, seja inserindo elemento falso, seja omitindo elemento exigido. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 25 94 CONTABILIDADE PARALELA Art. 11. Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida pela legislação: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Este é o famoso “caixa dois”, ou seja, a movimentação ilícita de recursos da entidade sem o devido registro. Este tipo de prática não só mascara a saúde financeira da empresa, como também ilude a administração tributária. OMISSÃO DE INFORMAÇÕES Art. 12. Deixar, o ex-administrador de instituição financeira, de apresentar, ao interventor, liquidante, ou síndico, nos prazos e condições estabelecidas em lei as informações, declarações ou documentos de sua responsabilidade: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. A partir do momento em que é decretada a intervenção ou liquidação extrajudicial da instituição financeira, o ente regulador assume a condução da empresa. O ex-administrador não pode, portanto, deixar de prestar informações ou entregar documentos ao administrador judicial, interventor ou liquidante. Para evitar esse tipo de situação, geralmente os atos que decretam as liquidações, intervenções ou a própria falência são editados logo cedo pela manhã, no momento em que o administrador judicial, interventor ou liquidante já está na porta da instituição. Publicado o ato, o agente já entra e se estabelece, evitando que os administradores destruam qualquer tipo de evidência. DESVIO DE BEM INDISPONÍVELArt. 13. Desviar bem alcançado pela indisponibilidade legal resultante de intervenção, liquidação extrajudicial ou falência de instituição financeira. Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorra o interventor, o liquidante ou o síndico que se apropriar de bem abrangido pelo caput deste artigo, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio. Os procedimentos de liquidação extrajudicial guardam muitas semelhanças com a falência. O liquidante nomeado é responsável por verificar o patrimônio da instituição financeira e aliená-lo para saldar as dívidas com os credores. Se o liquidante ou interventor desviar esses bens, incorrerá em crime contra o sistema financeiro. APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÃO OU RECLAMAÇÃO FALSA Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 26 94 Art. 14. Apresentar, em liquidação extrajudicial, ou em falência de instituição financeira, declaração de crédito ou reclamação falsa, ou juntar a elas título falso ou simulado: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre o ex-administrador ou falido que reconhecer, como verdadeiro, crédito que não o seja. Mais uma vez tratamos dos procedimentos de liquidação extrajudicial e de falência. Declaração de crédito é um título que comprova que a pessoa física ou jurídica é credora da massa liquidanda (ou falida). Já a reclamação não é definida pela Lei nº 6.024/1974, que trata da liquidação extrajudicial, e nem pela Lei nº 11.101/2005 (Lei de Falências e Recuperação). Há outro crime muito semelhante, tipificado pela Lei de Falências. A única diferença é que naquela norma a conduta prevista não abrange o procedimento de liquidação extrajudicial. A pena prevista na Lei nº 7.492/1986 também é mais severa. MANIFESTAÇÃO FALSA Art. 15. Manifestar-se falsamente o interventor, o liquidante ou o síndico, à respeito de assunto relativo a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência de instituição financeira: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Essas pessoas têm grande responsabilidade com relação ao pagamento dos credores da massa liquidanda ou falida, e uma informação falsa dada por um deles pode causar enorme prejuízo. OPERAÇÃO DESAUTORIZADA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante declaração falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Este é o crime praticado por aquele que, no intuito de obter autorização para o funcionamento de instituição financeira, presta informações falsas. Esta autorização, como já vimos, precisa ser concedida pelas entidades que regulam o mercado. Um banco, por exemplo, não pode funcionar sem que tenha autorização prévia e específica do Banco Central. O procedimento é bastante rigoroso, e leva em consideração não só o capital a ser empregado na atividade, mas também o currículo, idoneidade e competência dos gestores. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 27 94 No mesmo crime incorre aquele que, sem autorização, opera no mercado financeiro. EMPRÉSTIMO A ADMINISTRADORES OU PARENTES E DISTRIBUIÇÃO DISFARÇADA DE LUCROS Art. 17. Tomar ou receber crédito, na qualidade de qualquer das pessoas mencionadas no art. 25, ou deferir operações de crédito vedadas, observado o disposto no art. 34 da Lei no 4.595, de 31 de dezembro de 1964: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: I - em nome próprio, como controlador ou na condição de administrador da sociedade, conceder ou receber adiantamento de honorários, remuneração, salário ou qualquer outro pagamento, nas condições referidas neste artigo; II - de forma disfarçada, promover a distribuição ou receber lucros de instituição financeira. A conduta típica aqui é a tomada ou recebimento de crédito ou o deferimento de operações de crédito proibidas. Na redação anterior, havia um outro elemento do tipo, que era a pessoal à qual o crédito era concedido, que deveria ser parente do controlador ou administrador. Desde 2017 não há mais essa limitação. O inciso I tipifica também a conduta do controlador ou administrador que concede ou recebe adiantamentos de remuneração, independentemente de serem honorários, salários, ou outro tipo, enquanto o inciso II criminaliza a distribuição ou recebimento disfarçado de lucros. ATENÇÃO!!! Já houve discussão acerca da possibilidade deste crime ser absorvido pelo de gestão temerária, quando forem praticados numa só ação e originados de uma só transação bancária. O STJ já se pronunciou no sentido de que, neste caso, o agente deve ser processado pelos dois crimes em concurso formal, pois os dois tipos penais protegem bens jurídicos diferentes. VIOLAÇÃO DE SIGILO BANCÁRIO Art. 18. Violar sigilo de operação ou de serviço prestado por instituição financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos mobiliários de que tenha conhecimento, em razão de ofício: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Esta é uma conduta muito grave. A divulgação de informações bancárias pode trazer enormes prejuízos à segurança daquele cujas informações são violadas. O sigilo bancário é tratado especificamente pela Lei Complementar nº 105/2001. Esta lei determina a obrigação das instituições financeiras de manter em sigilo suas operações ativas e passivas, e traz também o rol das entidades que são consideradas instituições financeiras, mas apenas para fins de sigilo. Lucas Guimarães, Paulo Guimarães, Thais Poliana Teixeira Ribeiro de Assunção Aula 07 Legislação Penal Extravagante p/ PC-CE (Inspetor) Com Videoaulas - 2020 www.estrategiaconcursos.com.br 1271404 59609281400 - jonas da cruz souza 28 94 OBTENÇÃO FRAUDULENTA DE FINANCIAMENTO Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é cometido em detrimento de instituição financeira oficialou por ela credenciada para o repasse de financiamento. O perigo da obtenção fraudulenta de financiamento é a enorme possibilidade de “calote”. A exposição das instituições financeiras a riscos demasiados prejudica todo o sistema, como já mencionamos. Além disso, o cálculo do risco ao qual a instituição está exposta subsidia a política de juros. Este tipo de fraude, ao menos em teoria, faz com que os juros praticados pela instituição subam. O aumento de pena no caso de o crime ser cometido contra instituição oficial se justifica porque essas instituições operam linhas de crédito subsidiadas por recursos públicos. É caso, por exemplo, do financiamento imobiliário da Caixa Econômica Federal, que utiliza recursos oriundos do FGTS, ou de certos financiamentos do Banco do Brasil, que utilizam recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Você percebeu que o sentido deste dispositivo fica comprometido quando levamos em conta o teor do art. 25? Se os crimes previstos nesta lei somente podem ser praticados pelo controlador, administradores, interventor, liquidante ou síndico, este crime apenas seria possível se essas pessoas obtivessem financiamento de forma fraudulenta. Essa situação se repente com relação a outros dispositivos... APLICAÇÃO IRREGULAR DE FINANCIAMENTO
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