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Livro Eletrônico Aula 01 Direito Penal p/ PC-CE (Inspetor) Com videoaulas Professor: Renan Araujo 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo AULA 01 APLICAÌO DA LEI PENAL. INFRAÌO PENAL. DISPOSIÍES PRELIMINARES DO CP. SUMçRIO 1 INFRAÌO PENAL ................................................................................................. 3 1.1 Conceito ......................................................................................................... 3 1.2 Conceito de Crime .......................................................................................... 3 1.3 Contraveno Penal ....................................................................................... 5 2 APLICAÌO DA LEI PENAL .................................................................................... 6 2.1 Aplicao da Lei penal no tempo .................................................................... 6 2.1.1 Conflito de Leis penais no Tempo ..................................................................... 8 2.1.1.1 Lei nova incriminadora ............................................................................. 8 2.1.1.2 Lex Gravior ............................................................................................ 8 2.1.1.3 Abolitio Criminis ...................................................................................... 8 2.1.1.4 Lex Mitior ou Novatio legis in mellius ........................................................ 10 2.1.1.5 Lei posterior que traz benefcios e prejuzos ao ru .................................... 10 2.1.2 Tempo do crime ........................................................................................... 13 2.2 Aplicao da lei penal no espao .................................................................. 14 2.2.1 Territorialidade ............................................................................................ 14 2.2.2 Extraterritorialidade ..................................................................................... 15 2.2.2.1 Princpio da Personalidade ou da nacionalidade .......................................... 16 2.2.2.2 Princpio do domiclio ............................................................................. 17 2.2.2.3 Princpio da Defesa ou da Proteo .......................................................... 17 2.2.2.4 Princpio da Justia Universal .................................................................. 18 2.2.2.5 Princpio da Representao ou da bandeira ou do Pavilho .......................... 19 2.2.3 Lugar do Crime ............................................................................................ 20 2.2.4 Extraterritorialidade condicionada, incondicionada e hipercondicionada ................ 20 2.3 Aplicao da Lei penal em relao s pessoas .............................................. 23 2.3.1 Sujeito ativo ................................................................................................ 23 2.3.1.1 Imunidades Diplomticas ........................................................................ 25 2.3.1.2 Imunidades Parlamentares ..................................................................... 25 (a) Imunidade material ............................................................................................ 26 (b) Imunidade formal ............................................................................................... 27 2.3.2 Sujeito Passivo ............................................................................................ 28 3 DISPOSIÍES PRELIMINARES DO CP ................................................................. 29 3.1 Contagem de prazos ..................................................................................... 29 3.2 Fraes no computveis de pena ................................................................ 30 3.3 Eficcia da sentena estrangeira .................................................................. 30 3.4 Interpretao e integrao da lei penal ....................................................... 31 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo 3.4.1 Interpretao da lei penal ............................................................................. 31 3.4.2 Analogia ..................................................................................................... 33 3.5 Conflito aparente de normas penais ............................................................. 33 3.5.1 Princpio da especialidade .............................................................................. 34 3.5.2 Princpio da subsidiariedade ........................................................................... 34 3.5.3 Princpio da consuno (absoro) .................................................................. 35 3.5.4 Princpio da alternatividade ........................................................................... 36 4 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ............................................................... 37 5 SòMULAS PERTINENTES ..................................................................................... 39 5.1 Smulas do STF ............................................................................................ 39 5.2 Smulas do STJ ............................................................................................ 40 6 RESUMO .............................................................................................................. 40 7 EXERCêCIOS DA AULA ......................................................................................... 48 8 EXERCêCIOS COMENTADOS ................................................................................. 65 9 GABARITO .......................................................................................................... 97 Ol, meus amigos! Na aula de hoje vamos falar sobre a aplicao da lei penal: lei penal no tempo, lei penal no espao, etc. Muita ateno aos detalhes, principalmente em relao lei penal no tempo. Bons estudos! Prof. Renan Araujo 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo 1! INFRAÌO PENAL 1.1!Conceito A infrao penal um fenmeno social, disso ningum duvida. Mas como defini-la? Podemos conceituar infrao penal como: A conduta, em regra praticada por pessoa humana, que ofende um bem jurdico penalmente tutelado, para a qual a lei estabelece uma pena, seja ela de recluso, deteno, priso simples ou multa. Assim, um dos princpios que podemos extrair o princpio da lesividade, que diz que s haver infrao penal quando a pessoa ofender (lesar) bem jurdico de outra pessoa. Assim, se uma pessoa pega um chicote e se autolesiona com mais de 100 chibatadas, a nica punio que ela receber ficar com suas costas ardendo, pois a conduta indiferente para o Direito Penal. A infrao penal o gnero do qual decorrem duas espcies, crime e contraveno. Vamos dividir, desta forma, o nosso estudo. Primeiramente vamos analisar o crime (conceito e elementos). Depois, vamos analisaro que diz a lei acerca das contravenes penais. 1.2!Conceito de Crime Muito se buscou na Doutrina acerca disso, tendo surgido inmeras posies a respeito. Vamos tratar das principais. O Crime pode ser entendido sob trs aspectos: Material, legal e analtico. Sob o aspecto material, crime toda ao humana que lesa ou expe a perigo um bem jurdico de terceiro, que, por sua relevncia, merece a proteo penal. Esse aspecto valoriza o crime enquanto contedo, ou seja, busca identificar se a conduta ou no apta a produzir uma leso a um bem jurdico penalmente tutelado. Assim, se uma lei cria um tipo penal dizendo que proibido chorar em pblico, essa lei no estar criando uma hiptese de crime em seu sentido material, pois essa conduta NUNCA SERç crime em sentido material, pois no produz qualquer leso ou exposio de leso a bem jurdico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga que crime, materialmente no o ser. Sob o aspecto legal, ou formal, crime toda infrao penal a que a lei comina pena de recluso ou deteno. Nos termos do art. 1¡ da Lei de Introduo ao CP: 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Art 1¼ Considera-se crime a infrao penal que a lei comina pena de recluso ou de deteno, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contraveno, a infrao penal a que a lei comina, isoladamente, pena de priso simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. Percebam que o conceito aqui meramente legal. Se a lei cominar a uma conduta a pena de deteno ou recluso, cumulada ou alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um crime. Por outro lado, se a lei cominar a apenas priso simples ou multa, alternativa ou cumulativamente, estaremos diante de uma contraveno penal. Esse aspecto consagra o sistema dicotmico adotado no Brasil, no qual existe um gnero, que a infrao penal, e duas espcies, que so o crime e a contraveno penal. Assim: Vejam que quando se diz Òinfrao penalÓ, est se usando um termo genrico, que pode tanto se referir a um ÒcrimeÓ ou a uma Òcontraveno penalÓ. O termo ÒdelitoÓ, no Brasil, sinnimo de crime. O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto analtico, que o divide em partes, de forma a estruturar seu conceito. Primeiramente, surgiu a teoria quadripartida do crime, que entendia que crime era todo fato tpico, ilcito, culpvel e punvel. Hoje praticamente inexistente. Depois, surgiram os defensores da teoria tripartida do crime, que entendiam que crime era o fato tpico, ilcito e culpvel. Essa a teoria que predomina no Brasil, embora haja muitos defensores da terceira teoria. A terceira e ltima teoria acerca do conceito analtico de crime entende que este o fato tpico e ilcito, sendo a culpabilidade mero pressuposto de aplicao da pena. Ou seja, para esta corrente, o conceito de crime bipartido (teoria bipartida), bastando para sua caracterizao que o fato seja tpico e ilcito. As duas ltimas correntes possuem defensores e argumentos de peso. Entretanto, a que predomina ainda a corrente tripartida. Portanto, na prova objetiva, recomendo que adotem esta, a menos que a banca seja muito explcita e vocs entenderem que eles claramente so adeptos da teoria bipartida, o que acho pouco provvel. INFRAÇÕES PENAIS CRIMES CONTRAVENÇÕES PENAIS 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Todos os trs aspectos (material, legal e analtico) esto presentes no nosso sistema jurdico-penal. De fato, uma conduta pode ser materialmente crime (furtar, por exemplo), mas no o ser se no houver previso legal (no ser legalmente crime). Poder, ainda, ser formalmente crime (no caso da lei que citei, que criminalizava a conduta de chorar em pblico), mas no o ser materialmente se no trouxer leso ou ameaa a leso de algum bem jurdico de terceiro. Desta forma: Esse ltimo conceito de crime (sob o aspecto analtico), o que vai nos fornecer os subsdios para que possamos estudar os elementos do crime (Fato tpico, ilicitude e culpabilidade). Entretanto, isso tema para nossa prxima aula apenas! 1.3!Contraveno Penal As contravenes penais so infraes penais que tutelam bens jurdicos menos relevantes para a sociedade e, por isso, as penas previstas para as contravenes so bem mais brandas. Nos termos do art. 1¡ do da Lei de Introduo ao Cdigo Penal: Art 1¼ Considera-se crime a infrao penal que a lei comina pena de recluso ou de deteno, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contraveno, a infrao penal a que a lei comina, isoladamente, pena de priso simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. Percebam que a Lei estabelece que se considera contraveno a infrao penal para a qual a lei estabelea pena de priso simples ou multa. Percebam, portanto, que a Lei estabelece um ntido patamar diferenciado para ambos os tipos de infrao penal. Trata-se de uma escolha poltica, ou seja, CONCEITO DE CRIME MATERIAL FORMAL ANALÍTICO TEORIA BIPARTIDA TEORIA TRIPARTIDA ADOTADA PELO CP TEORIA QUADRIPARTIDA 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo o legislador estabelece qual conduta ser considerada crime e qual conduta ser considerada contraveno, de acordo com sua noo de lesividade para a sociedade. Mas professor, qual a diferena prtica em saber se a conduta crime ou contraveno? Muitas, meu caro! Vejamos: CRIMES CONTRAVENÍES Admitem tentativa (art. 14, II). No se admite punio de contraveno na modalidade tentada. Ou se pratica a contraveno consumada ou se trata de um indiferente penal. Se cometido crime, tanto no Brasil quanto no estrangeiro, e vier o agente a cometer contraveno, haver reincidncia. A prtica de contraveno no exterior no gera efeitos penais, inclusive para fins de reincidncia. S h efeitos penais em relao contraveno praticada no Brasil! Tempo mximo de cumprimento de pena: 30 anos. Tempo mximo de cumprimento de pena: 05 anos. Aplicam-se as hipteses de extraterritorialidade (alguns crimes cometidos no estrangeiro, em determinadas circunstncias, podem ser julgados no Brasil) No se aplicam as hipteses de extraterritorialidade do art. 7¡ do Cdigo Penal. No se prendam a estas diferenas! Para o estudo desta aula o que importa saber que Hç DIFERENAS PRçTICAS entre ambos. Portanto, crime e contraveno so termos relacionados mesma categoria (infrao penal), mas no se confundem, existindo diferenas prticas entre ambos. 2! APLICAÌO DA LEI PENAL 2.1!Aplicao da Lei penal no tempo A Lei Penal, como toda e qualquer lei, entra no mundo jurdico em um determinado momento e vigora at sua revogao, regulando todos os fatos praticados nesse nterim. Entretanto, nem sempre as coisas so to simples, surgindo situaes verdadeiramente excepcionais e complexas. certo, meus caros, que as leis se sucedem no tempo, pois da natureza humana a mudana de pensamento. Assim, o que hoje consideradocrime, 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo amanh pode no o ser, e vice-versa. claro, tambm, que quando uma lei revoga a outra, a lei revogadora deve abordar a matria de forma, ao menos um pouco, diferente do modo como tratava a lei revogada, caso contrrio, seria uma lei absolutamente intil. A esse fenmeno damos o nome de Princpio da continuidade das leis. A revogao, por sua vez, o fenmeno que compreende a substituio de uma norma jurdica por outra. Essa substituio pode ser total ou parcial. No primeiro caso, temos o que se chama de ab-rogao, e no segundo caso, derrogao. A revogao, como vimos, pode ser total ou parcial. Mas pode, ainda, ser expressa ou tcita. Diz-se que expressa quando a nova lei diz expressamente que revoga a lei anterior. Por exemplo, a lei 11.343/06 (nova lei de drogas) diz em seu art. 75, que ficam revogadas as disposies contidas na lei 6.368/76. Por sua vez, a revogao tcita ocorre quando a lei nova, embora no diga nada com relao revogao da lei antiga, trata da mesma matria, s que de forma diferente. Desta forma, a lei produz efeitos desde sua vigncia at sua revogao. CUIDADO! No perodo de vacatio legis (Perodo entre a publicao da Lei e sua entrada em vigor, geralmente de 45 dias) a lei ainda no vigora! Ou seja, ela ainda no produz efeitos! Em termos grficos: Publicao Entrada em vigor Revogao |----------|-------------------------------------------------------| Vacatio Legis PRODUÌO DE EFEITOS Logo, podemos perceber que a lei penal, assim como qualquer lei, somente produz efeitos durante o seu perodo de vigncia. o que se chama de princpio da atividade da lei. Em alguns casos, porm, a lei penal pode produzir efeitos e atingir fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor e, at mesmo, continuar produzindo efeitos mesmo aps sua revogao. Vamos analis-los individualmente. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo 2.1.1!Conflito de Leis penais no Tempo Ocorrendo a revogao de uma lei penal por outra, algumas situaes iro ocorrer, e as consequncias de cada uma delas dependero da natureza da norma revogadora. 2.1.1.1! Lei nova incriminadora Nesse caso, a lei nova atribui carter criminoso ao fato. Ou seja, at ento, o fato no era crime. Nesse caso, a soluo bastante simples: A lei nova produzir efeitos a partir de sua entrada em vigor, como toda e qualquer lei, seguindo a regra geral da atividade da lei. 2.1.1.2! Lex Gravior1 Aqui, a lei posterior no inova no que se refere natureza criminosa do fato, pois a lei anterior j estabelecia que o fato era considerado criminoso. No entanto, a lei nova estabelece uma situao mais gravosa ao ru. EXEMPLO: O crime de homicdio simples (art. 121 do CP) possui pena mnima de 06 e pena mxima de 20 anos. Imaginemos que entrasse em vigor uma lei que estabelecesse que a pena para o crime de homicdio seria de 10 a 30 anos. Nesse caso, a lei nova, embora no inove no que tange criminalizao do homicdio, traz uma situao mais gravosa para o fato. Assim, produzir efeitos somente a partir de sua vigncia, no alcanando fatos pretritos Frise-se que a lei nova ser considerada mais gravosa ainda que no aumente a pena prevista para o crime. Basta que traga qualquer prejuzo ao ru2, como forma de cumprimento da pena, reduo ou eliminao de benefcios, etc. 2.1.1.3! Abolitio Criminis A abolitio criminis ocorre quando uma lei penal incriminadora vem a ser revogada por outra, que prev que o fato deixa de ser considerado crime. EXEMPLO: Suponhamos que a Lei ÒAÓ preveja que crime dirigir veculo automotor sob a influncia de lcool. Vindo a Lei ÒBÓ a determinar que dirigir veculo automotor sob a influncia de lcool no crime, ocorreu o fenmeno da abolitio criminis. 1 Tambm chamada de ou Novatio Legis in Pejus ou Lei nova mais gravosa. 2 BITENCOURT, Op. cit., p. 208 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Nesse caso, como a lei posterior deixa de considerar o fato crime, ela produzir efeitos retroativos, alcanado os fatos praticados mesmo antes de sua vigncia, em homenagem ao art. 5, XL da Constituio Federal e ao art. 2¡ do Cdigo Penal3. claro que quando uma lei deixa de considerar um determinado fato como crime, ela est beneficiando aquele praticou o fato e que, porventura, esteja respondendo criminalmente por ele, ou at mesmo, cumprindo pena em decorrncia da condenao pelo fato. Em casos tais, ocorre o que se chama de retroatividade da Lei Penal, que passa a produzir efeitos sobre fatos ocorridos anteriormente sua vigncia. CUIDADO! No confundam abolitio criminis com continuidade tpico-normativa. Em alguns casos, embora a lei nova revogue um determinado artigo que previa um tipo penal, ela simultaneamente insere esse fato dentro de outro tipo penal.4 Neste caso no h abolitio criminis, pois a conduta continua sendo considerada crime, ainda que por outro tipo penal.5 importante ressaltar, ainda, que a abolitio criminis faz cessar a pena e os efeitos PENAIS da condenao. EXEMPLO: Jos foi condenado pelo crime ÒXÓ e est cumprindo pena. Surge uma Lei nova, descriminalizando a conduta. Jos ser colocado em liberdade (deve cessar a pena imposta), bem como tal condenao pelo crime X no poder ser considerada futuramente para fins de reincidncia (afastam-se os efeitos penais 3 Art. 5¼ (...) XL - a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru; [...] Art. 2¼ - Ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execuo e os efeitos penais da sentena condenatria. 4 A Lei 12.015/09 revogou o art. 214 do CP, que previa o crime de atentado violento ao pudor. Entretanto, ao mesmo tempo, ampliou a descrio do tipo penal do estupro para abranger tambm a prtica de atos libidinosos diversos da conjuno carnal, que era a descrio do tipo penal de atentado violento ao pudor. Assim, o que a Lei 12.015/09 fez, no foi descriminalizar o Atentado Violento ao Pudor, mas dar a ele novo contorno jurdico, passando agora o fato a ser enquadrado como crime de estupro, tendo, inclusive, previsto a mesma pena anteriormente cominada ao Atentado Violento ao Pudor. Assim, no houve abolitio criminis, pois o fato no deixou de ser crime, apenas passou a ser tratado em outro tipo penal. 5 Tambm no h abolitio criminis quando a lei nova revoga uma lei especial que criminaliza um determinado fato, mas que mesmo assim, est enquadrado como crime numa norma geral. Explico: Imagine que a Lei ÒAÓ preveja o crime de roubo a empresa de transporte de valores, com pena de 4 a 12 anos. Posteriormente, entra em vigor a Lei ÒBÓ, que revoga expressa e totalmente a Lei ÒAÓ. Pode-se dizer que o roubo a empresa de transporte de valores deixou de ser crime? Claro que no, pois a conduta, o fato, est previsto no art. 157 do Cdigo Penal (crime de roubo). Assim, apenas deixou de existir a lei especialque previa pena diferenciada para este fato, passando o mesmo a ser regido pelo tipo previsto no Cdigo Penal. Pode-se dizer, no entanto, que houve novatio legis in mellius, ou Lex mitior, que a supervenincia de lei mais benfica. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo da condenao). Todavia, se Jos foi condenado a reparar o dano causado vtima, tal obrigao permanece (efeito extrapenal da condenao). 2.1.1.4! Lex Mitior ou Novatio legis in mellius A Lex mitior, ou novatio legis in mellius, ocorre quando uma lei posterior revoga a anterior trazendo uma situao mais benfica ao ru. Nesse caso, em homenagem ao art. 5, XL da Constituio, j transcrito, a lei nova retroage para alcanar os fatos ocorridos anteriormente sua vigncia. Essa previso est contida tambm no art. 2¡, ¤ nico do CP6. Vejam que o Cdigo Penal estabelece que a aplicao da lei nova se dar ainda que o fato (crime) j tenha sido julgado por sentena transitada em julgado. 2.1.1.5! Lei posterior que traz benefcios e prejuzos ao ru Pode ocorrer, no entanto, que a lei nova tenha alguns pontos mais favorveis e outros mais prejudiciais ao ru. EXEMPLO: Suponhamos que Maria tenha praticado crime de furto, cuja pena de 1 a 04 anos de recluso, e multa. Posteriormente, sobrevm uma lei que estabelece que a pena passa a ser de 02 a 06 anos de deteno, sem multa. Percebam que a lei nova mais benfica pois extinguiu a pena de multa, e estabeleceu o regime de deteno, mas mais gravosa pois aumentou a pena mnima e a pena mxima. Nesse caso, como avaliar se a lei mais benfica ou mais gravosa? E mais, ser que possvel combinar as duas leis para se achar a soluo mais benfica para o ru? Duas correntes se formaram: §! 1¡ corrente: No possvel combinar as leis penais para se extrair os pontos favorveis de cada uma delas, pois o Juiz estaria criando uma terceira lei (Lex tertia), o que seria uma violao ao princpio da Separao dos Poderes, j que no cabe ao Judicirio legislar. Essa a TEORIA DA PONDERAÌO UNITçRIA ou GLOBAL. §! 2¡ corrente: possvel a combinao das duas leis, de forma a selecionar os institutos favorveis de cada uma delas, sem que com isso se esteja criando uma terceira lei, pois o Juiz s estaria agindo dentro dos limites estabelecidos pelo prprio legislador. Essa a TEORIA DA PONDERAÌO DIFERENCIADA. O STF, embora tenha vacilado em alguns momentos, firmou entendimento no sentido de que deve ser adotada a TEORIA DA PONDERAÌO 6 Art. 2¼ (...) Pargrafo nico - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentena condenatria transitada em julgado. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo UNITçRIA 7, devendo ser aplicada apenas uma das leis, em homenagem aos princpios da reserva legal e da separao dos Poderes do Estado. O STJ sempre adotou esta posio8. E quem deve aplicar a nova lei penal mais benfica ou a nova lei penal abolitiva? O Supremo Tribunal Federal (STF) firmou entendimento no sentido de que DEPENDE DO MOMENTO: ¥! Processo ainda em curso Ð Compete ao Juzo que est conduzindo o processo ¥! Processo j transitado em julgado Ð Compete ao Juzo da execuo penal. Nos termos da smula 611 do STF: SòMULA N¼ 611 Transitada em julgado a sentena condenatria, compete ao Juzo das execues a aplicao da lei mais benigna. Mas e se a lei nova for revogada por outra lei mais gravosa? Nesse caso, a lei mais gravosa no se aplicar aos fatos regidos pela lei mais benfica, pois isso seria uma retroatividade da lei em prejuzo do ru. No momento em que a lei intermediria (a que revogou, mas foi revogada) entrou em vigor, passou a reger os fatos ocorridos antes de sua vigncia. Sobrevindo lei posterior mais grave, aplica-se a regra geral da irretroatividade da Lei em relao a esta ltima. Lei A (gravosa) Lei B (Mais benfica) Lei C (Mais gravosa) EFEITOS DA LEI B EFEITOS DA LEI C |----|------|------------------------------------------------------| Fato VIGæNCIA DA LEI B No caso representado pelo esquema acima, a Lei B produzir efeitos mesmo aps sua revogao pela Lei C (em relao aos fatos praticados durante sua 7 Entretanto, no julgamento do RE 596152/SP, o STF adotou posio contrria, ou seja, permitiu a combinao de leis. Trata-se de uma deciso isolada, portanto, no caracteriza uma ÒjurisprudnciaÓ de verdade. 8 E de forma a consolidar sua tese, o STJ editou o verbete n¼ 501 de sua smula de jurisprudncia, entendendo, relativamente aos crimes da lei de drogas, a impossibilidade de combinao de leis. Vejamos: SòMULA N¼ 501 cabvel a aplicao retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidncia das suas disposies, na ntegra, seja mais favorvel ao ru do que o advindo da aplicao da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinao de leis. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo vigncia e ANTES de sua vigncia). Nesse caso, diz-se que h a ULTRATIVIDADE DA LEI B.9 Excepcional a situao das leis intermitentes, que se dividem em leis excepcionais e leis temporrias. As leis excepcionais so aquelas que so produzidas para vigorar durante determinada situao. Por exemplo, estado de stio, estado de guerra, ou outra situao excepcional. Lei temporria aquela que editada para vigorar durante determinado perodo, certo, cuja revogao se dar automaticamente quando se atingir o termo final de vigncia, independentemente de se tratar de uma situao normal ou excepcional do pas. No caso destas leis, dado seu carter transitrio, o fato de estas leis virem a ser revogadas irrelevante! Isso porque a revogao decorrncia natural do trmino do prazo de vigncia da lei. Assim, aquele que cometeu o crime durante a vigncia de uma destas leis responder pelo fato, nos moldes em que previsto na lei, mesmo aps o fim do prazo de durao da norma. Isso uma questo de lgica, pois, se assim no o fosse, bastaria que o ru procrastinasse o processo at data prevista para a revogao da lei a fim de que fosse decretada a extino de sua punibilidade. Isso est previsto no art. 3¡ do Cdigo Penal: Art. 3¼ - A lei excepcional ou temporria, embora decorrido o perodo de sua durao ou cessadas as circunstncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigncia. CUIDADO! Sempre se entendeu que a posterior revogao da lei temporria no afetaria os fatos praticados durante sua vigncia. Isso deve ser analisado com cautela. Existem duas hipteses absolutamente distintas. EXEMPLO Ð Existe uma Lei ÒAÓ que diz que crime vender qualquer cerveja que no seja a cerveja ÒredondaÓ durante a realizao da Copa do Mundo no Brasil. Essa lei tem durao prevista at o dia da final da Copa. Jos foi preso em flagrante, durante uma das semifinais da Copa do Mundo, vendendo a cerveja ÒquadradaÓ e, portanto, praticando o crimeprevisto na Lei ÒAÓ. Dessa situao, duas hipteses podem ocorrer: 01 Ð A Lei ÒAÓ deixa de vigorar naturalmente porque se prazo de validade expirou Ð Nenhuma consequncia prtica em favor de Jos, pois a expirao da validade o processo natural da lei penal temporria. 02 Ð O Governo entende que um absurdo criminalizar tais condutas que, na verdade, tm como nica finalidade proteger interesses econmicos de particulares e, em razo, disso, edita uma nova Lei (aps a expirao da lei temporria) que prev a descriminalizao da conduta incriminada Ð Nesse 9 Quando a lei aplicada fora de seu perodo de vigncia, diz-se que h extratividade. A extratividade pode ocorrer em razo da ultratividade ou da retroatividade, a depender do caso. A extratividade, portanto, um gnero, que comporta duas espcies: retroatividade e ultratividade. BITENCOURT, Op. cit., p. 207/209 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo caso, teremos abolitio criminis, e isso ter efeitos prticos para Jos. O mesmo ocorreria se o Governo, ao invs de proceder descriminalizao da conduta, tivesse abrandado a pena (lex mitior). Essa lei iria retroagir. CUIDADO! Eu j vi este tema ser abordado das mais diversas formas. J vi Banca entendendo que a lei temporria ser aplicada mesmo que sobrevenha lei nova, abolindo o crime. Isso complicado, porque traz insegurana ao candidato. Contudo, a vai meu conselho: Lei temporria produz efeitos aps sua revogao ÒnaturalÓ (expirao do prazo de validade). Se houver supervenincia de lei abolitiva expressamente revogando a criminalizao prevista na lei temporria, ela no mais produzir efeitos. Assim, cuidado com a abordagem na prova. 2.1.2!Tempo do crime Para podermos aplicar corretamente a lei penal, necessrio saber quando se considerada praticado o delito. Trs teorias buscam explicar quando se considera praticado o crime: 1)!Teoria da atividade Ð O crime se considera praticado quando da ao ou omisso, no importando quando ocorre o resultado. a teoria adotada pelo art. 4¡ do Cdigo Penal, vejamos: Art. 4¼ - Considera-se praticado o crime no momento da ao ou omisso, ainda que outro seja o momento do resultado. 2)!Teoria do resultado Ð Para esta teoria, considera-se praticado o crime quando da ocorrncia do resultado, independentemente de quando fora praticada a ao ou omisso. 3)!Teoria da ubiquidade ou mista Ð Para esta teoria, considera-se praticado o crime tanto no momento da ao ou omisso quanto no momento do resultado. Como vimos, nosso Cdigo adotou a teoria da atividade como a aplicvel ao tempo do crime. Isto representa srios reflexos na aplicao da lei penal, pois esta depende da data do fato, que, como vimos, a data da conduta. Nos crimes permanentes, aplica-se a lei em vigor ao final da permanncia delitiva, ainda que mais gravosa que a do incio. O mesmo ocorre nos crimes continuados, hiptese em que se aplica a lei vigente poca do ltimo ato (crime) praticado. Essa tese est consagrada pelo STF, atravs do enunciado n¡ 711 da smula de sua Jurisprudncia: SòMULA N¼ 711 A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigncia anterior cessao da continuidade ou da permanncia. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Mas isso no ofende o princpio da irretroatividade da lei mais gravosa? No, pois neste caso NÌO Hç RETROATIVIDADE. Neste caso, a lei mais grave est sendo aplicada a um crime que ainda est sendo praticado, e no a um crime que j foi praticado.10 2.2!Aplicao da lei penal no espao To importante quanto conhecer as mincias referentes aplicao da lei penal no tempo conhecer as regras atinentes lei penal no espao. Toda lei editada para vigorar num determinado tempo e num determinado espao. No que tange lei penal, via de regra ela se aplica dentro do territrio do pas em que foi editada, pois este o limite do exerccio da soberania de cada Estado. Ou seja, nenhum Estado pode exercer sua soberania fora de seu territrio. Vamos estudar, ento, as regras referentes aplicao da lei penal no espao. 2.2.1!Territorialidade Essa a regra no que tange aplicao da lei penal no espao. Pelo princpio da territorialidade, aplica-se lei penal aos crimes cometidos no territrio nacional. Assim, no importa se o crime foi cometido por estrangeiro ou contra vtima estrangeira. Se cometido no territrio nacional, submete-se lei penal brasileira. o que prev o art. 5¡ do Cdigo Penal: Art. 5¼ - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuzo de convenes, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no territrio nacional. Na verdade, como o Cdigo Penal admite algumas excees, podemos dizer que o nosso Cdigo adotou O PRINCêPIO DA TERRITORIALIDADE MITIGADA OU TEMPERADA.11 Territrio pode ser conceituado como espao em que o Estado exerce sua soberania poltica. O territrio brasileiro compreende: ¥! O Mar territorial; ¥! O espao areo (Teoria da absoluta soberania do pas subjacente); 10 Cezar Roberto Bitencourt critica parcialmente a smula, ao entendimento de que ela poderia ser aplicvel ao crime permanente, sem nenhuma violao irretroatividade da lei mais gravosa, mas a mesma soluo no poderia ser adotada em relao ao crime continuado, por no se tratar de crime nico com execuo prolongada no tempo, e sim mera fico jurdica que considera como crime nico (para fins de aplicao da pena), uma srie de delitos. BITENCOURT, Op. cit., p. 220. A maioria da Doutrina, contudo, no tece crticas smula. Ver, por todos, BITENCOURT, Op. cit., p. 120. 11 Ver, por todos, GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 123/124 e GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 222. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo ¥! O subsolo So considerados como territrio brasileiro por extenso: ¥! Os navios e aeronaves pblicos, onde quer que se encontrem ¥! Os navios e aeronaves particulares, que se encontrem em alto- mar ou no espao areo Assim, aos crimes praticados nestes locais aplica-se a lei brasileira, pelo princpio da territorialidade. ATENÌO! Como sabemos, a Lei penal brasileira ser aplicada aos crimes cometidos a bordo de aeronaves ou embarcaes estrangeiras, mercantes ou de propriedade privada, desde que se encontrem no espao areo brasileiro ou em pouso no territrio nacional, ou, no caso das embarcaes, em porto ou mar territorial brasileiro. Contudo, a Doutrina aponta uma exceo aplicao da lei penal brasileira neste caso. Trata-se do PRINCêPIO DA PASSAGEM INOCENTE. Este princpio, decorrente do Direito Internacional Martimo, estabelecido na Conveno de Montego Bay (1982), que foi assinada pelo Brasil, prev que uma embarcao de propriedade privada, de qualquer nacionalidade, possui o direito de atravessar o mar territorial de uma nao, desde que no ameace a paz, a segurana e a boa ordem do Estado. Aplicando tal princpio ao Direito Penal, a Doutrina entende que se um crimefor praticado a bordo de uma embarcao que se encontre em Òpassagem inocenteÓ, no ser aplicvel a lei brasileira a este crime, desde que o crime em questo no afete nenhum bem jurdico nacional. Ex.: Um americano mata um holands dentro de um navio argentino em situao de passagem inocente. Parte da Doutrina estende a aplicao do princpio tambm s aeronaves privadas em situao semelhante. CUIDADO! Este princpio s se aplica s embarcaes ou aeronaves que utilizem o territrio do Brasil como mera ÒpassagemÓ. Se o Brasil o destino da aeronave ou embarcao, no h aplicao do princpio. Assim, para que possamos trabalhar com este princpio na prova, a questo deve deixar clara a situao de Òpassagem inocenteÓ, ou seja, a Banca tem que deixar claro que pretende saber se voc tem conhecimento disso. Caso contrrio, esquea tal exceo. 2.2.2!Extraterritorialidade A extraterritorialidade a aplicao da lei penal brasileira a um fato criminoso que no ocorreu no territrio nacional. Pode se dar em razo de diversos princpios, que veremos a seguir: 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo 2.2.2.1! Princpio da Personalidade ou da nacionalidade Divide-se em princpio da personalidade ativa e da personalidade passiva. Pelo princpio da personalidade ativa, aplica-se a lei penal brasileira ao crime cometido por brasileiro, ainda que no exterior. As hipteses de aplicao deste princpio esto previstas no art. 7¡, I, ÒdÓ e II, ÒbÓ do CPB: Art. 7¼ - Ficam sujeitos lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: (...) d) de genocdio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (...) II - os crimes: (...) b) praticados por brasileiro; No primeiro caso, basta que o crime de genocdio tenha sido cometido por brasileiro para que a lei brasileira seja aplicada, no havendo qualquer condio alm desta. No segundo caso (crime comum cometido por brasileiro no exterior), algumas condies devem estar presentes, conforme preceitua o ¤2¡ do art. 7¡ do CPB: ¤ 2¼ - Nos casos do inciso II, a aplicao da lei brasileira depende do concurso das seguintes condies: (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) a) entrar o agente no territrio nacional; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) b) ser o fato punvel tambm no pas em que foi praticado; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) c) estar o crime includo entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradio; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) d) no ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou no ter a cumprido a pena; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) e) no ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, no estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorvel. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) Assim, no basta que o crime tenha sido cometido por brasileiro, necessrio que as condies acima estejam presentes, ou seja: O fato deve ser punvel tambm no local onde fora cometido o crime; deve o agente entrar no territrio brasileiro; O crime deve estar includo no rol daqueles que autorizam extradio e no pode o agente ter sido absolvido ou ter sido extinta sua punibilidade no estrangeiro. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Pelo princpio da personalidade passiva, aplica-se a lei brasileira aos crimes cometidos contra brasileiro, ainda que no exterior. Nos termos do art. 7¡, ¤3¡ do CPB: ¤ 3¼ - A lei brasileira aplica-se tambm ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condies previstas no pargrafo anterior: a) no foi pedida ou foi negada a extradio; b) houve requisio do Ministro da Justia. Percebam que, alm das condies previstas para a aplicao do princpio da personalidade ativa, para a aplicao do princpio da personalidade passiva o Cdigo prev ainda outras duas condies: ¥! Ter havido requisio do Ministro da Justia ¥! No ter sido pedida ou ter sido negada a extradio do estrangeiro que praticou o crime 2.2.2.2! Princpio do domiclio Por este princpio, aplica-se a lei brasileira ao crime cometido por pessoa domiciliada no Brasil, no havendo qualquer outra condio. S h uma hiptese de aplicao deste princpio na lei penal brasileira, e a prevista no art. 7¡, I, ÒdÓ do CPB: Art. 7¼ - Ficam sujeitos lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: (...) d) de genocdio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;Ó Portanto, somente no caso do crime de genocdio ser aplicado o princpio do domiclio, devendo ser aplicada a lei brasileira ainda que se trate crime cometido no estrangeiro por agente estrangeiro contra vtima estrangeira, desde que o autor seja domiciliado no Brasil. Alguns autores entendem que aqui se aplica o princpio da Justia Universal.12 2.2.2.3! Princpio da Defesa ou da Proteo Este princpio visa a garantir a aplicao da lei penal brasileira aos crimes cometidos, em qualquer lugar e por qualquer agente, mas que ofendam bens jurdicos nacionais. Est previsto no art. 7¡, I, Òa, b e cÓ: Art. 7¼ - Ficam sujeitos lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: 12 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 127 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repblica; b) contra o patrimnio ou a f pblica da Unio, do Distrito Federal, de Estado, de Territrio, de Municpio, de empresa pblica, sociedade de economia mista, autarquia ou fundao instituda pelo Poder Pblico; c) contra a administrao pblica, por quem est a seu servio; Vejam que se trata de bens jurdicos altamente relevantes para o pas. No se trata de considerar a vida e a liberdade do Presidente da Repblica mais importante que a vida e a liberdade dos demais brasileiros. Nesse caso, o que se busca garantir que um crime praticado contra a figura do Presidente da Repblica no fique impune, pois mais que um crime contra a pessoa, um crime contra toda a nao. Reparem, ainda, que no qualquer crime cometido contra o Presidente, mas somente aqueles que atentem contra sua vida ou liberdade. Estas hipteses dispensam outras condies, bastando que tenha sido o crime cometido contra estes bens jurdicos. Alis, ser aplicada a lei brasileira ainda que o agente j tenha sido condenado ou absolvido no exterior: ¤ 1¼ - Nos casos do inciso I, o agente punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Entretanto, para que seja evitado o cumprimento duplo de pena (bis in idem), caso tenha sido o agente condenado no exterior, a pena a ser cumprida no Brasil ser abatida da pena cumprida no exterior, o que se chama DETRAÌO PENAL. Nos termos do art. 8¡ do CPB: Art. 8¼ - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela computada, quando idnticas. Embora o art. 8¡ seja louvvel, tecnicamente, a simples possibilidade de duplo julgamento pelo mesmo fatoj configura bis in idem. Entretanto, o STF ignora este fato, e a norma permanece em pleno vigor. H quem entenda, portanto, que esta regra uma exceo ao princpio do ne bis in idem13, pois o Estado estaria autorizado a julgar, condenar e punir a pessoa mesmo j tendo havido julgamento (inclusive com condenao e cumprimento de pena) em outro Estado. 2.2.2.4! Princpio da Justia Universal Este princpio utilizado para a aplicao da lei penal brasileira contra crimes cometidos em qualquer territrio e por qualquer agente, desde que o Brasil, 13 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 129 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo atravs de tratado internacional, tenha se obrigado a reprimir tal conduta. Tem previso no art. 7¡, II, a do CPB: Art. 7¼ - Ficam sujeitos lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (...) II - os crimes: a) que, por tratado ou conveno, o Brasil se obrigou a reprimir; Como a previso se encontra no inciso II do art. 7¡, aplicam-se as condies previstas no ¤ 2¡, como ingresso do agente no territrio nacional, etc. 2.2.2.5! Princpio da Representao ou da bandeira ou do Pavilho Por este princpio, aplica-se a lei penal brasileira aos crimes cometidos no estrangeiro, a bordo de aeronaves e embarcaes privadas, mas que possuam bandeira brasileira, quando, no pas em que ocorreu o crime, este no for julgado. A previso est no art. 7¡, II, ÒcÓ do CPB: Art. 7¼ - Ficam sujeitos lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (...) II - os crimes: (...) c) praticados em aeronaves ou embarcaes brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em territrio estrangeiro e a no sejam julgados. EXEMPLO: Se um cidado mexicano comete um crime contra um cidado alemo, a bordo de uma aeronave pertencente a uma empresa area brasileira, enquanto esta se encontra parada no aeroporto de Nova York, pelo Princpio da Bandeira, a este crime poder ser aplicada a lei brasileira, caso no seja julgado pelo Judicirio americano. CUIDADO! Se, no exemplo anterior, o crime fosse cometido a bordo de uma aeronave pertencente ao Brasil, por exemplo, o avio oficial da Presidncia da Repblica, a lei penal brasileira seria aplicada no pelo Princpio da Bandeira, mas pelo Princpio da Territorialidade, regra geral, pois estas aeronaves so consideradas territrio brasileiro por extenso! 00760353441 - Sandra Regina e Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo 2.2.3!Lugar do Crime Para aplicarmos corretamente o que foi aprendido acerca da lei penal no espao, precisamos saber, com exatido, qual o local do crime. Para tanto, existem algumas teorias: 1)!Teoria da atividade Ð Considera-se local do crime aquele em que a conduta praticada. 2)!Teoria do resultado Ð Para esta teoria, no importa onde praticada a conduta, pois se considera como lugar do crime o local onde ocorre a consumao. 3)!Teoria mista ou da ubiquidade Ð Esta teoria prev que tanto o lugar onde se pratica a conduta quanto o lugar do resultado so considerados como local do crime. Esta teoria a adotada pelo Cdigo Penal, em seu art. 6¡: Art. 6¼ - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ao ou omisso, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado Entretanto, esta regra da ubiquidade s se aplica quando estivermos diante de pluralidade de pases, ou seja, quando for necessrio estabelecer o local do crime para fins de definio de qual lei (de que pas) penal aplicar. S para finalizar, vou deixar de lambuja para vocs um macete para gravarem as teorias adotadas para o tempo do crime e para o lugar do crime: Lugar = Ubiquidade Tempo = Atividade Muita LUTA, meus amigos!! 2.2.4!Extraterritorialidade condicionada, incondicionada e hipercondicionada Como estudamos, a regra na aplicao da lei penal brasileira o princpio da territorialidade, em que se aplica a lei penal brasileira aos crimes cometidos no territrio nacional. Entretanto, existem algumas hipteses em que se aplica a lei penal brasileira a crimes cometidos no exterior. Nestes casos, estamos diante do fenmeno da extraterritorialidade da lei penal. Esta extraterritorialidade pode ser incondicionada ou condicionada. No primeiro caso, como o prprio nome diz, no h qualquer condio. Basta que o crime tenha sido cometido no estrangeiro. As hipteses so poucas e j foram aqui estudadas. So as previstas no art. 7¡, I do CPB (Crimes contra bens jurdicos de relevncia nacional e crime de genocdio). Nestes casos, pelos princpios da Proteo e do Domiclio ou da Personalidade Ativa (a depender do caso), aplica-se a lei brasileira, ocorrendo o fenmeno da extraterritorialidade: 00760353441 - Sandra Regina 9 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Embora sob fundamentos diversos (Princpios diversos), todas as hipteses culminam no fenmeno da extraterritorialidade incondicionada da lei penal brasileira. A extraterritorialidade condicionada, por sua vez, est prevista no art. 7¡, II e ¤ 2¡ do CP. Neste caso, a lei brasileira s ser aplicada ao fato de maneira subsidiria, ou seja, apenas se cumpridas determinadas condies. Nos termos do Cdigo Penal, temos as seguintes hipteses de extraterritorialidade condicionada: Art. 7¼ - Ficam sujeitos lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 1984) II - os crimes: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) a) que, por tratado ou conveno, o Brasil se obrigou a reprimir; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) PRINCÍPIO DA DEFESA OU PROTEÇÃO Crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República Crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público Crimes contra a administração pública, por quem está a seu serviço PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL OU DO DOMICÍLIO OU DA PERSONALIDADE ATIVA Crime de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil 00760353441 - Sandra Regina a Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo b) praticados por brasileiro; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) c) praticados em aeronaves ou embarcaes brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em territrio estrangeiro e a no sejam julgados. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) Estas so as hipteses em que se aplica, condicionalmente, a lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro. As condies para esta aplicao se encontram no art. 7¡, ¤ 2¡ do CPB: Art. 7¼ (...) ¤ 2¼ - Nos casos do inciso II, a aplicao da lei brasileira depende do concurso das seguintes condies: (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) a) entrar o agente no territrio nacional; (Includo pela Lein¼ 7.209, de 1984) b) ser o fato punvel tambm no pas em que foi praticado; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) c) estar o crime includo entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradio; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) d) no ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou no ter a cumprido a pena; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) Podemos esquematizar da seguinte forma: EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA HIPÓTESES Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir Crimes praticados por brasileiro Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados CONDIÇÕES Entrar o agente no território nacional Ser o fato punível também no país em que foi praticado (dupla tipicidade) Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 00760353441 - Sandra Regina 6 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Entretanto, existe ainda a chamada extraterritorialidade hipercondicionada, que a hiptese prevista no ¤ 3¡ do art. 7¼: Art. 7¼ (...) ¤ 3¼ - A lei brasileira aplica-se tambm ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condies previstas no pargrafo anterior: (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 1984) Neste caso, alm das condies anteriores, existem ainda duas outras condies: Desta maneira, meus caros, terminamos o estudo da aplicao da lei penal, no tempo e no espao. 2.3!Aplicao da Lei penal em relao s pessoas Os sujeitos do crime so aqueles que, de alguma forma, se relacionam com a conduta criminosa. So basicamente de duas ordens: Sujeito ativo e passivo. 2.3.1!Sujeito ativo Sujeito ativo a pessoa que pratica a conduta descrita no tipo penal. Entretanto, atravs do concurso de pessoas, ou concurso de agentes, possvel que algum seja sujeito ativo de uma infrao penal sem que realize a conduta descrita no tipo penal. EXEMPLO: Pedro atira contra Paulo, vindo a causar-lhe a morte. Pedro sujeito ativo do crime de homicdio, previsto no art. 121 do Cdigo Penal, isso no se discute. Mas tambm ser sujeito ativo do crime de homicdio, Joo, que lhe emprestou a arma e lhe encorajou a atirar. Embora Joo no tenha realizado a conduta prevista no tipo penal, pois no praticou a conduta de Òmatar algumÓ, auxiliou material e moralmente Pedro a faz-lo. Somente o ser humano, em regra, pode ser sujeito ativo de uma infrao penal. Os animais, por exemplo, no podem ser sujeitos ativos da infrao penal, embora possam ser instrumentos para a prtica de crimes. CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA EXTRATERRITORIALIDADE HIPERCONDICIONADA Não ter sido pedida ou ter sido negada a extradição do infrator Ter havido requisição do Ministro da Justiça 00760353441 - Sandra Regina d Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Modernamente, tem se admitido a RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURêDICA, ou seja, tem se admitido que a pessoa jurdica seja considerada SUJEITO ATIVO DE INFRAÍES PENAIS. Embora boa parte da DOUTRINA discorde desta corrente, por inmeras razes, temos que estud-la. A Constituio de 1988 trouxe, em seu art. 225, ¤ 3¡, estabelece que: ¤ 3¼ - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados. Esse dispositivo considerado o marco mais significativo para a responsabilizao penal da pessoa jurdica, para os que defendem essa tese. Os opositores justificam sua tese sob o argumento, basicamente, de que a pessoa jurdica no possui vontade, assim, a vontade seria sempre do seu dirigente, devendo este responder pelo crime, no a pessoa jurdica. Ademais, o dirigente s pode agir em conformidade com o estatuto social, o que sair disso excesso de poder, e como a Pessoa Jurdica no pode ter em seu estatuto a prtica de crimes como objeto, todo crime cometido pela pessoa jurdica seria um ato praticado com violao a seu estatuto, devendo o agente responder pessoalmente, no a Pessoa Jurdica. Muitos outros argumentos existem, para ambos os lados. Entretanto, isto no um livro de doutrina, mas um curso para concurso, ento o que vocs precisam saber que o STF e o STJ admitem a responsabilidade penal da pessoa jurdica em todos os crimes ambientais (regulamentados pela lei 9.605/98)! Com relao aos demais crimes, em tese, atribuveis pessoa jurdica (crimes contra o sistema financeiro, economia popular, etc.), como no houve regulamentao da responsabilidade penal da pessoa jurdica, esta fica afastada, conforme entendimento do STF e do STJ. A Jurisprudncia CLçSSICA do STJ e do STF no sentido de ADMITIR a responsabilidade penal da pessoa jurdica. Todavia, o STF e o STJ exigiam a punio simultnea da pessoa fsica causadora do dano, no que se convencionou chamar de TEORIA DA DUPLA IMPUTAÌO. Apesar de esta ser a jurisprudncia clssica, mais recentemente o STF e o STJ DISPENSARAM o requisito da dupla imputao. Ou seja, atualmente no mais se exige a chamada Òdupla imputaoÓ. Em regra, a Lei Penal aplicvel a todas as pessoas indistintamente. Entretanto, em relao a algumas pessoas, existem disposies especiais do Cdigo Penal. So as chamadas imunidades diplomticas (diplomticas e de chefes de governos estrangeiros) e parlamentares (referentes aos membros do Poder Legislativo). 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo 2.3.1.1! Imunidades Diplomticas Estas imunidades se baseiam no princpio da reciprocidade, ou seja, o Brasil concede imunidade a estas pessoas, enquanto os Pases que representam conferem imunidades aos nossos representantes. No h violao ao princpio constitucional da isonomia! Cuidado! Pois a imunidade no conferida em razo da pessoa imunizada, mas em razo do cargo que ocupa. Ou seja, ela de carter funcional. Entenderam? Estas imunidades diplomticas esto previstas na Conveno de Viena, incorporada ao nosso ordenamento jurdico atravs do Decreto 56.435/65, que prev imunidade total (em relao a qualquer crime) aos Diplomatas, que esto sujeitos Jurisdio de seu pas apenas. Esta imunidade se estende aos funcionrios dos rgos internacionais (quando em servio!) e aos seus familiares, bem como aos Chefes de Governo e Ministros das Relaes Exteriores de outros pases. Essa imunidade IRRENUNCIçVEL, exatamente por no pertencer pessoa, mas ao cargo que ocupa! Essa a posio do STF! Cuidado com isso! Com relao aos cnsules (diferentes dos Diplomatas) a imunidade s conferida aos atos praticados em razo do ofcio, no a qualquer crime. EXEMPLO: Se Yamazaki, cnsul do Japo no Rio de Janeiro, no domingo, curtindo uma praia, agride um vendedor de picols por ter lhe dado o troco errado (carioca malandro...), responder pelo crime, pois no se trata de ato praticado no exerccio da funo. Resumidamente: ¥! IMUNIDADETOTAL DE JURISDIÌO PENAL Ð Agentes diplomticos e seus familiares, bem como os membros do pessoal administrativo e tcnico da misso, assim como os membros de suas famlias que com eles vivam, desde que no sejam nacionais do estado acreditado (no caso, o Brasil) nem nele tenham residncia permanente. ¥! IMUNIDADE DE JURISDIÌO PENAL em relao aos ATOS PRATICADOS NO EXERCêCIO DAS FUNÍES Ð Cnsules14 e membros do pessoal de servio da misso diplomtica que no sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residncia permanente. 2.3.1.2! Imunidades Parlamentares Esto previstas na Constituio Federal, motivo pelo qual geralmente so mais bem estudadas naquela disciplina. Entretanto, como costumam ser cobradas tambm na matria de Direito Penal, vamos estud-la ponto a ponto. Trata-se de prerrogativas dos parlamentares, com vistas a se preservar a Instituio (Poder Legislativo) de ingerncias externas. So duas as hipteses 14 Art. 43.1 do Decreto 61.078/67 Ð Promulgao da Conveno de Viena sobre Relaes Consulares. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo de imunidades parlamentares: a) material (conhecida como real, ou ainda, inviolabilidade); b) formal (ou processual ou ainda, adjetiva). (a)! Imunidade material Trata-se de prerrogativa prevista no art. 53 da Constituio: Art. 53. Os Deputados e Senadores so inviolveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opinies, palavras e votos. Assim, o parlamentar no comete crime quando pratica estas condutas em razo do cargo (exerccio da funo). Entretanto, no necessrio que o parlamentar tenha proferido as palavras dentro do recinto (Congresso, Assembleia Legislativa, etc.), bastando que tenha relao com sua funo (Pode ser numa entrevista a um jornal local, etc.). ESSA A POSIÌO DO STF A RESPEITO DO TEMA. Quanto natureza jurdica dessa imunidade (o que ela representa perante o Direito), h muita controvrsia na Doutrina, mas a posio que predomina a de que se trata de fato atpico, ou seja, a conduta do parlamentar no chega sequer a ter enquadramento na lei penal (Essa a posio que vem sendo adotada pelo Supremo Tribunal Federal Ð STF). Temos, ainda, a imunidade material dos vereadores, prevista no art. 29, VIII da Constituio: Art. 29. O Municpio reger-se- por lei orgnica, votada em dois turnos, com o interstcio mnimo de dez dias, e aprovada por dois teros dos membros da Cmara Municipal, que a promulgar, atendidos os princpios estabelecidos nesta Constituio, na Constituio do respectivo Estado e os seguintes preceitos: (...) VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opinies, palavras e votos no exerccio do mandato e na circunscrio do Municpio; (Renumerado do inciso VI, pela Emenda Constitucional n¼ 1, de 1992) Vejam que necessrio que o ato (no caso dos vereadores) tenha sido praticado na circunscrio do municpio. Caso contrrio, no haver a incidncia da proteo constitucional. Informativo 775 do STF Ð ÒNos limites da circunscrio do Municpio e havendo pertinncia com o exerccio do mandato, garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores (...) O Colegiado reputou que, embora as manifestaes fossem ofensivas, teriam sido proferidas durante a sesso da Cmara dos Vereadores Ñ portanto na circunscrio do Municpio Ñ e teriam como motivao questo de cunho poltico, tendo em conta a existncia de representao contra o prefeito formulada junto ao Ministrio Pblico Ñ portanto no exerccio do mandato.Ó Ð (RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Roberto Barroso, 25.2.2015. (RE-600063) 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo (b)! Imunidade formal Esta imunidade no est relacionada caracterizao ou no de uma conduta como crime. Est relacionada a questes processuais, como possibilidade de priso e seguimento de processo penal. Est prevista no art. 53, ¤¤ 1¡ a 5¡ da Constituio da Repblica. A primeira das hipteses a imunidade formal para a priso. Assim dispe o art. 53, ¤ 2¡ da Constituio: ¤ 2¼ Desde a expedio do diploma, os membros do Congresso Nacional no podero ser presos, salvo em flagrante de crime inafianvel. Nesse caso, os autos sero remetidos dentro de vinte e quatro horas Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a priso. O STF entende que essa impossibilidade de priso se refere a qualquer tipo de priso, inclusive as de carter provisrio, decretadas pelo Juiz. A nica ressalva a priso em flagrante pela prtica de crime inafianvel. Entretanto, recentemente, o STF decidiu que os parlamentares podem ser presos, alm desta hiptese, no caso de sentena penal condenatria transitada em julgado, ou seja, na qual no cabe mais recurso algum. Continuando no caso da priso em flagrante, os autos da priso sero remetidos casa a qual pertencer o parlamentar, em at 24h, e esta decidir, em votao aberta, por maioria absoluta de seus membros, se a priso mantida ou no. A imunidade se inicia com a diplomao do parlamentar e se encerra com o fim do mandato. J a imunidade formal para o processo, est prevista no ¤3¡ do art. 53 da Constituio: ¤ 3¼ Recebida a denncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido aps a diplomao, o Supremo Tribunal Federal dar cincia Casa respectiva, que, por iniciativa de partido poltico nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poder, at a deciso final, sustar o andamento da ao. Assim, se um parlamentar cometer um crime aps a diplomao e for denunciado por isso, o STF, se receber a denncia, dever dar cincia Casa a qual pertence o parlamentar (Cmara ou Senado), e esta poder, por iniciativa de algum partido poltico que l tenha representante, sustar o andamento da ao at o trmino do mandato. CUIDADO! S quem pode tomar a iniciativa de pedir a sustao da ao penal partido poltico que possua algum representante NAQUELA CASA. EXEMPLO: Se um Senador est sendo processado, sendo o Senado comunicado pelo STF, somente um partido com representao no SENADO 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo FEDERAL poder tomar a iniciativa de pedir a sustao da ao penal, que ser decidida pela Casa. A sustao deve ser decidida no prazo de 45 dias a contar do recebimento do pedido pela Mesa Diretora da Casa. Caso o processo seja suspenso, suspende- se tambm a prescrio, para evitar que o Parlamentar deixe de ser julgado ao trmino do mandato. Havendo a sustao da ao penal em relao ao parlamentar, e tendo o processo outros rus que no sejam parlamentares, o processo deve ser desmembrado, e os demais rus sero processados normalmente. Cuidado, meu povo! No caso de crime cometido ANTES da diplomao, no h essa regra. O STF no tem que comunicar a Casa e no h possibilidade de sustao do andamento do processo! Cuidado! Essas regras (referentes a ambas as espcies de imunidades) so aplicveis aos parlamentares estaduais (Deputados estaduais), por fora do art. 27, ¤ 1¡ da Constituio.Entretanto, aos parlamentares municipais (vereadores) s se aplicam as imunidades materiais! Muito, mas muito cuidado com isso! Ah, e em qualquer caso, no abrangem os suplentes! Os parlamentares no podem renunciar a estas imunidades, pois, como disse antes, trata-se de prerrogativa inerente ao cargo, no pessoa. Entretanto, a Doutrina e a Jurisprudncia entendem que o parlamentar afastado para exercer cargo de Ministro ou Secretrio de Estado NÌO mantm as imunidades, ou seja, ele perde a imunidade parlamentar (A smula n¼ 04 do STF fora revogada!). INQ 725-RJ, rel. Ministra Ellen Gracie, 8.5.2002.(INQ-725) Ð Informativo 267 do STF. Fiquem atentos! As imunidades parlamentares permanecem ainda que o pas se encontre em estado de stio. Entretanto, por deciso de 2/3 dos membros da Casa, estas imunidades podero ser suspensas, durante o estado de stio, em razo de ato praticado pelo parlamentar FORA DO RECINTO. Assim, EM HIPîTESE NENHUMA (NEM NO ESTADO DE SêTIO), O PARLAMENTAR PODERç SER RESPONSABILIZADO POR ATO PRATICADO NO RECINTO (aqueles atos previstos na Constituio, claro). 2.3.2!Sujeito Passivo O sujeito passivo nada mais que aquele que sofre a ofensa causada pelo sujeito ativo. Pode ser de duas espcies: 1)!Sujeito passivo mediato ou formal Ð o Estado, pois a ele pertence o dever de manter a ordem pblica e punir aqueles que cometem crimes. 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Todo crime possui o Estado como sujeito passivo mediato, pois todo crime uma ofensa ao Estado, ordem estatuda; 2)!Sujeito passivo imediato ou material Ð o titular do bem jurdico efetivamente lesado. Por exemplo: A pessoa que sofre a leso no crime de leso corporal (art. 129 do CP), o dono do carro roubado no crime de roubo (art. 157 do CP), etc. CUIDADO! O Estado tambm pode ser sujeito passivo imediato ou material, nos crimes em que for o titular do bem jurdico especificamente violado, como nos crimes contra a administrao pblica, por exemplo. As pessoas jurdicas tambm podem ser sujeitos passivos de crimes. J os mortos e os animais no podem ser sujeitos passivos de crimes pois no so sujeitos de direito. Mas, e o crime de vilipndio a cadver e os crimes contra a fauna? Nesse caso, no so os mortos e os animais os sujeitos passivos e sim, no primeiro caso, a famlia do morto, e no segundo caso, toda a coletividade, pelo desequilbrio ambiental. NINGUM PODE COMETER CRIME CONTRA SI MESMO! Ou seja, ningum pode ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo imediato de um crime (Parte da Doutrina entende que isso possvel no crime de rixa, mas isso no posio unnime). 3! DISPOSIÍES PRELIMINARES DO CP 3.1!Contagem de prazos Nos termos do art. 10 do CP: Art. 10 - O dia do comeo inclui-se no cmputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendrio comum. Como se v, a lei estabelece que os prazos previstos na Lei Penal sejam contados de forma a incluir o dia do comeo. Desta forma, se Bruno condenado a um ms de priso e o mandado cumprido dia 10 de junho, essa data considerada o primeiro dia de cumprimento da pena, que ir se extinguir no dia 09 de julho, independentemente de o mandado ter sido cumprido no dia 10 de junho s 23h45min. Esse dia ser computado como um dia inteiro para fins penais. O artigo diz, ainda, que se computam os prazos pelo calendrio comum (chamado de gregoriano), que o que todos ns utilizamos. Assim, no cmputo de meses no levam em considerao os dias de cada um (28, 29, 30 ou 31 dias). Se um sujeito condenado a pena de um ms, e comea a cumpri-la no dia 05, sua pena estar extinta no dia 04 do ms seguinte, independentemente de o ms ter quantos dias for, o que na prtica, gera algumas injustias. Com relao aos anos, aplica-se a mesma regra (no importa se o ano bissexto ou no). 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo 3.2!Fraes no computveis de pena O art. 11 do CP, por sua vez, diz o seguinte: Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as fraes de dia, e, na pena de multa, as fraes de cruzeiro. Desta maneira, se o autor do crime condenado a 09 dias de priso, aumentada de metade (9 + 4,5 = 13,5) a pena ser de 13 dias, desprezando-se as 12 horas do clculo. Com relao pena de multa, obviamente, hoje se entende como ÒrealÓ e no como ÒcruzeirosÓ. As fraes que no se computam so os centavos. Assim, ningum pode ser condenado a R$ 125,43. Sero desprezados os centavos. 3.3!Eficcia da sentena estrangeira Para que uma sentena penal estrangeira possa produzir seus efeitos no Brasil devem ser respeitadas as regras estabelecidas no art. 9¼ do CP. Vejamos: Art. 9¼ - A sentena estrangeira, quando a aplicao da lei brasileira produz na espcie as mesmas conseqncias, pode ser homologada no Brasil para: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - obrigar o condenado reparao do dano, a restituies e a outros efeitos civis; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - sujeit-lo a medida de segurana. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Pargrafo nico - A homologao depende: (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) b) para os outros efeitos, da existncia de tratado de extradio com o pas de cuja autoridade judiciria emanou a sentena, ou, na falta de tratado, de requisio do Ministro da Justia. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Assim, basicamente, podemos dividir os efeitos da sentena penal estrangeira em dois: ¥! Obrigao de reparar o dano (bem como restituies e outros efeitos civis) Ð Deve haver requerimento da parte interessada (em regra, a vtima ou seus sucessores). ¥! Sujeitar o infrator medida de segurana Ð Existir tratado de extradio entre o Brasil e o Pas em que foi proferida a sentena OU, caso no exista, deve haver requisio do Ministro da Justia. E a quem compete a homologao da sentena estrangeira para que produza seus efeitos no Brasil? Compete ao STJ, nos termos do art. 105, I, i da Constituio Federal: 00760353441 - Sandra Regina Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 99 DIREITO PENAL P/ PC-CE (2018) Ð INSPETOR Teoria e questes Aula 01 Ð Prof. Renan Araujo Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justia: I - processar e julgar, originariamente: (...) i) a homologao de sentenas estrangeiras e a concesso de exequatur s cartas rogatrias;(Includa pela Emenda Constitucional n¼ 45, de 2004) O STF exige, ainda, que tenha havido o trnsito em julgado da sentena penal condenatria que ser homologada: Smula 420 do STF NÌO SE HOMOLOGA SENTENA PROFERIDA NO ESTRANGEIRO SEM PROVA DO TRåNSITO EM JULGADO. Esta smula , digamos, desnecessria, eis que o art. 788, III do CPP j exige o trnsito em julgado como condio para a homologao da sentena estrangeira. Percebam, por fim, que no h possibilidade de homologao da sentena penal estrangeira para fins de cumprimento de PENA. A aplicao de pena criminal um ato de soberania do Estado e, portanto, entende- se que no poderia um Estado (no
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