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AO JUÍZO DA __ VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE __ - UF. Autos nº: ___ Maria das Dores Brasil, devidamente qualificado nos autos, por intermédio de seu advogado que a esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, tempestivamente, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO com fundamento legal nos artigos 396, caput e 396-A, ambos do Código de Processo Penal, aduzindo os seguintes argumentos de fato e de direito. I – DOS FATOS A acusada foi denunciada pela suposta prática do crime previsto no artigo 155, caput c/c art. 14, II do Código Penal. Consta na denúncia que a acusada ingressou em uma mercearia e pegou uma garrafa de leite, bem como um pacote de biscoito, totalizando um valor de R$ 20,00 (vinte reais). Contudo, a segurança do estabelecimento percebeu a suposta subtração realizada, tendo abordado Maria quando ela se retirava da mercearia, sem, supostamente, pagar pelos produtos. Em sede policial, a acusada confirmou os fatos, ressaltando diversas vezes que só teria cometido estes atos para alimentar o filho e à ela mesma, tendo em vista que já havia dias que não conseguia comer. Recebida a denúncia, em 15/03/2009, a acusada não pôde ser citada, visto que já havia sido liberada do estabelecimento prisional e não foi possível encontrá-la, visto não ter endereço fixo. Em 16/03/2016, a acusada dirigiu-se ao Cartório, momento em que procedeu-se a sua citação, sendo avisado que o processo estava em regular seguimento. III – DO DIREITO A- PRELIMINARMENTE Aduz o inciso IV, do art. 109 do Código Penal: Art. 109. CP A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; Por se tratar de crime de furto, em tese estaria extinta a punibilidade em 8 (oito) anos, visto que pena máxima deste tipo corresponde a 4 (quatro) anos, porém, na data dos fatos a autora era menor de 21 (vinte e um) anos de idade o que reduz pela metade o prazo de prescrição, conforme previsto no art. 115, do Código Penal: Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos. Haja vista que o fato ocorreu em 27/02/2009 e a citação da acusada se deu apenas em 16/03/2016, encontrando-se o processo em regular seguimento. No caso em tela, ocorre a hipótese supracitada, visto que transcorreu lapso temporal de mais de 4 (quatro) anos entre a data do recebimento da denúncia e a data da citação da acusado. Assim, deve ser declarada a extinção da punibilidade, nos molde do art. 107, IV, do Código Penal e, consequentemente, a absolvição sumária da ré, nos termos do art. 397, IV do Código de Processo Penal. B- DO MÉRITO Do Princípio da Insignificância ou Crime de Bagatela Caso Vossa Excelência entenda por bem não acolher a preliminar arguida, requer-se a apreciação da matéria de mérito aqui exposta. No mérito, deve a acusada ser absolvida sumariamente, conforme o que dispõe o inciso III do art. 397 do Código de Processo Penal, in verbis: Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (...) III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime. Diante do valor dos bens subtraídos (R$20,00), bem como da presença dos requisitos de ausência da periculosidade social da ação, mínima ofensividade da conduta do agente, ínfimo grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica causada, deve-se reconhecer a ocorrência do princípio da insignificância ou do crime de bagatela, na conduta praticada pela ré. Apesar da existência de tipicidade formal da conduta da acusada, não há a existência de tipicidade material, visto que não houve efetivamente qualquer lesão ao bem jurídico protegido. Sendo assim, resta infundada a imputação de crime de furto, visto que o bem foi restituído ao estabelecimento, bem como, o valor dos bens supostamente subtraídos foi ínfimo, razão pela qual deve ser reconhecido o princípio da insignificância ou crime de bagatela, pois preenchidos os requisitos elencados pelo Supremo Tribunal Federal Portanto, inexistindo a materialidade do suposto crime imputado à acusada, pelos motivos acima expostos, deve-se reconhecer a atipicidade da conduta e, consequentemente, a absolvição sumária da ré, nos termos do art. 397, III, do Código de Processo Penal. C- SUBSIDIARIAMENTE Do Estado de Necessidade No caso de Vossa Excelência ainda não achar suficientes os motivos supramencionados, requer a análise da matéria subsidiária a seguir exposta. Dispõe o artigo 24 do Código Penal: Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. É evidente que a acusada não provocou por sua vontade a situação de risco resultante do seu desemprego. Por não possuir parentes ou amigos, viu-se morando nas ruas com o seu filho que, à época dos fatos, contava com 1 (um) ano de idade. A acusada alimentava-se a partir de doações recebidas de desconhecidos transeuntes. Assim, sem condições de alimentar a si própria e tampouco ao seu filho, pois no dia dos fatos a acusada não conseguiu qualquer doação, decidiu ingressar na mercearia e subtrair os bens já descritos na exordial acusatória. Portanto, é evidente que havia risco à saúde da acusada e de seu filho e que a acusada praticou tal conduta para salvar de perigo atual direito próprio e alheio. Ademais, não seria razoável exigir da acusada o sacrifício de não realizar o furto em detrimento da sua saúde e de seu filho. Destarte, deve ser reconhecida a exclusão de ilicitude, conforme artigo 24 do Código Penal e, consequentemente, a absolvição sumária da acusada, nos termos do art. 397, I, do Código de Processo Penal. V. DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer: a) O reconhecimento da nulidade arguida, com fundamento legal no artigo 109, IV, c/c 115 ambos do Código Penal e artigo 397, IV, do Código de Processo Penal; b) Se este não for o entendimento de V. Exª, requer-se a absolvição sumária da acusada, nos termos do artigo 397, III, do Código de Processo Penal; c) Caso V. Exª entenda por bem não absolver sumariamente a acusada nos molde acima descrito, requer-se a absolvição sumária da acusada, nos termos do artigo 397, I, do Código de Processo Penal. Termos em que, Pede deferimento.Local, data. Advogado - OAB/UF Anna Elizabete T. B. de Morais - uc14200544
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