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A POLÊMICA DO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO DOS CRIMES DE FURTO E DE ROUBO PRÓPRIO

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A POLÊMICA DO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO DOS CRIMES DE FURTO E DE ROUBO PRÓPRIO
1. BREVES CONSIDERAÇÕES
Os crimes de furto e de roubo são duas espécies de crimes contra o patrimônio, sendo o furto tipificado no art. 155 e o roubo no art. 157, ambos do Código Penal.
Segundo o que está previsto no art. 155, furto é “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. 
Já no art.157, temos a definição do que vem a ser roubo, que assim fala, “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”.
Por fim, já traçadas breves considerações do que é furto e o que vem a ser roubo, passaremos agora para o próximo tópico.
2. MOMENTO DA CONSUMAÇÃO
Segundo doutrina majoritária e jurisprudências pátrias, o momento da consumação do roubo e do furto, é o momento da saída do objeto do crime da esfera de vigilância e disponibilidade da vitima com a posse mansa e pacifica do bem da esfera do agente. 
Nas palavras do doutrinador Guilherme de Souza Nucci, o momento consumativo, “trata-se de tema polêmico e de difícil visualização na prática. Em tese, no entanto, o furto esta consumado tão logo a coisa subtraída saia da esfera de proteção e disponibilidade da vitima, ingressando na do agente. É indispensável, por tratar-se de crime material, que o bemseja tomado do ofendido, estando, ainda que por breve 
tempo, na posse mansa e tranqüila do agente. Se houver perseguição e, em momento algum,conseguir o autor a livre disposição da coisa, trata-se de tentativa.não se deve desprezar assa fase (posse tranqüila da coisa em mãos do ladrão), sob pena de transformar o furto em um crime formal (onde se pune unicamente a conduta e não se demanda o resultado naturalístico).
Dando seqüência a nosso trabalho, podemos visualizar uma outra corrente minoritária na nossa doutrina e nos entendimentos dos tribunais, em que considera consumado o crime de furto e de roubo no momento da retirada do bem subtraído da vitima, independente de posse tranqüila do agente.
Adepto dessa corrente pode encontrar o doutrinador Damásio de Jesus, citado por Leandro Marcondes, que fala o seguinte, “para nós, o furto atinge a consumação no momento em que o objeto material é retirado da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre disponibilidade do autor, ainda que este não obtenha a posse tranqüila”.
Por fim para dar maior embasamento ao entendimento, transcrevo agora algumas jurisprudências de nossas cortes superiores:
HC 89389 / SP - SÃO PAULO. HABEAS CORPUS. Relator(a): Min. ELLEN GRACIE. Julgamento: 27/05/2008. Órgão Julgador: Segunda Turma. STF.
Ementa.
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. FURTO. MOMENTO DACONSUMAÇÃO. PERSEGUIÇÃO POLICIAL. PRISÃO EM FLAGRANTE. HABEAS CORPUS. 1. Na apreciação do recurso especial, houve expressa menção à circunstância de que foi comprovada a divergência pretoriana nos moldes do art. 225, do Regimento Interno daquela Corte. 2. Houve a resolução da questão jurídica envolvendo o momento da consumação do crime de furto, e não nova análise sobre 
valoração de prova. 3. A norma contida no inciso II, do art. 14, do Código Penal, ao tratar da modalidade tentada, contempla um tipo de extensão, fazendo com que se amplie a figura típica de determinados comportamentos reputados criminosos para abranger situações fáticas não previstas expressamente no tipo penal. 4. A polêmica diz respeito à consumação (ou não) do furto, porquanto questiona-se se houve a efetiva subtração. A conduta da subtração de coisa alheia se aperfeiçoa no momento em que o sujeito ativo passa a ter a posse da res fora da esfera da vigilância da vítima. 5. A circunstância de ter havido perseguição policial após a subtração, com subseqüente prisão do agente do crime, não permite a configuração de eventual tentativa do crime contra o patrimônio, cuidando-se de crime consumado. 6. Ordem denegada.
HC 108678 / RS - RIO GRANDE DO SUL . HABEAS CORPUS. Relator(a): Min. ROSA WEBER. Julgamento: 17/04/2012 Órgão Julgador: Primeira Turma. STF
Ementa
HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. FURTO CONSUMADO.RECONHECIMENTO EM SEDE DE RESP. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. ORDEM DENEGADA. O Superior Tribunal de Justiça ateve-se à questão de direito para, sem alterar ou reexaminar os fatos, assentar a correta interpretação do art. 14, II, do Código Penal. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal dispensa, para a consumação do furto ou do roubo, o critério da saída da coisa da chamada “esfera de vigilância da vítima” e se contenta com a verificação de que, cessada a clandestinidade ou a violência, o agente tenha tido a posse da res furtiva, ainda que retomada, em seguida, pela perseguição imediata. Precedentes. O princípio constitucional da individualização da pena não tem relação com a definição do momento consumativo do delito. Writ denegado.
AgRg no REsp 1224697 / RS. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. 2011/0000013-5. Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139). Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA. Data do Julgamento 18/10/2011. Data da Publicação/Fonte DJe 03/11/2011.
Ementa
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ROUBO. MOMENTO CONSUMATIVO.
DESNECESSIDADE DA POSSE TRANQUILA DA RES FURTIVA. ACÓRDÃO RECORRIDO
EM DESCONFORMIDADE COM JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. REEXAME DE PROVA.
DESNECESSIDADE.
1. Esta Corte considera consumado o crime de roubo, assim como o de furto, no momento em que o agente se torna possuidorda coisa alheia móvel, ainda que não obtenha a posse tranquila, sendo prescindível que o objeto subtraído saia da esfera de vigilância da vítima para a caracterização do ilícito.
2. No caso, o acórdão recorrido assegura que não teria havido a posse mansa e pacífica da res furtiva e, em razão disso, considera o crime tentado.
3. Assim, conforme bem salientado na decisão agravada, operou-se tão somente uma valoração jurídica da situação fática e, uma vez que o acórdão recorrido menciona posicionamento contrário ao desta Corte, o provimento do especial como se operou deu-se à luz da jurisprudência pacífica deste Superior Tribunal.
4. Não trazendo o agravante tese jurídica capaz de modificar o posicionamento anteriormente firmado, é de se manter a decisão agravada na íntegra, por seus próprios fundamentos.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACHADO, Leonardo Marcondes Machado. Quando e como se consuma um crime de furto. Consultor jurídico. Agos. 2007. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2012.
MACIEL, Marcelo Valadares Lopes Rocha. Consumação no crime de furto. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1468, 9 jul. 2007 . Disponível em: . Acesso em: 13 maio 2012.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. Dos crimes contra o patrimônio. São Paulo. 7ª Ed. Revistas dos Tribunais. 2011. P. 721 – 737.
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