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1 ÉTICA PROFISSIONAL NO CONTEXTO DA ESTÉTICA E BELEZA Lais Renadi Moreira de Souza¹, Fernanda Quaresma de Araújo 2. 1 Acadêmico do curso de Tecnologia em Estética e Imagem Pessoal da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba, PR); 2 Ma Profª adjunta da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba, PR); Endereço para correspondência: Lais Renadi, lahrenadi@hotmail.com RESUMO: o presente artigo tem por finalidade discutir a importância de agir com ética no local de trabalho, com ênfase na profissão do tecnólogo em estética e cosmética. Realizou-se uma análise para saber como ela está sendo aplicada por esses profissionais. Para obter os resultados esperados, efetuou- se uma coleta de dados com cem acadêmicos do curso de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade Tuiuti do Paraná. A importância do estudo é relevante para obter-se um resultado quantitativo sobre a conduta dos indivíduos. Sabe-se que mesmo conhecendo a verdade, o ser humano possibilita a realização de ações contrárias à moral imposta sobre ele, desse modo, exercendo sua ética de modo equivocado. Através da aplicação do questionário, notou-se que os profissionais tem conhecimento sobre as regras impostas, porém a maior parte deles já presenciou ações contrárias à ética, concluindo-se que mesmo sabendo o certo, alguns optam por agir do modo errado. Palavras-chave: ética; ética na estética; conduta profissional. _______________________________________________________________ ABSTRACT: the present article aims to discuss the importance of acting with ethics at work with emphasis in the profession of Esthetic and Cosmetic Technologist. An analysis was carried out to know how it is applied by these professionals. To obtain the expected results it was built a data collection with one hundred academics from the “Esthetic and Cosmetic Technology” course, from the Universidade Tuiuti, located at the state of Parana. The importance of this study is relevant to obtain a quantitative result about the conduct of individuals. It is known that even knowing the truth, human beings allow carrying out actions contrary to morality imposed about it, thereby, exercising their ethics by misjudgment. Through application of a questionnaire it is noticed that professionals have knowledge about the rules imposed, however the big part of them already witnessed actions contrary to the ethics, therefore it concludes that, even knowing the right, some choose the wrong. Keywords: ethics; ethics in esthetics; professional conduct. _______________________________________________________________ 2 INTRODUÇÃO Na sociedade atual, destacam-se muitos problemas causados por falta de ética, principalmente o desrespeito ao cliente por parte dos profissionais, seja por desvio de informação, falta de comprometimento ou até mesmo o alcance do lucro a qualquer custo. Para Andrew J. Dubrin (2003) a ética é definida através das escolhas morais que uma pessoa faz e o que essa pessoa deveria fazer. É o que ela considera como certo e errado ou como bom ou mau. A ética se define pelo comportamento de cada indivíduo. Ser ético nada mais é do que cumprir os valores da sociedade em que vive, é agir sem prejudicar o próximo, é agir e se responsabilizar pelas consequências de suas ações. Todo ser ético pensa antes de agir, e age sabendo que terá que assumir os resultados (CHAUI, 2008).A ética está intrinsecamente ligada à noção de autonomia individual (MAIO, 2011), desse modo, cada profissional é livre para fazer escolhas e responsável pela sua decisão. De acordo com Filgueiras (2009), o cenário brasileiro tem se caracterizado por uma sucessão de escândalos, existe uma sensação de impotência por parte da sociedade; a corrupção é até tolerada e os cidadãos ficam apenas aguardando qual será o próximo escândalo que circulará nos jornais. Ou seja, a sociedade atual está marcada por atos corruptos, omissão dos fatos, alteração da verdade. Assim, este estudo se justifica pela relevância do tema e neste contexto, torna-se importante discutir á ética na profissão do Tecnólogo em estética e cosmética. Para que a ética seja aplicada pelo indivíduo, é necessária a existência de regras, como parâmetros a serem seguidos. Cabe conceituar também o que é moral, que segundo Vazquez (2006), trata-se de uma conduta que tem consequências. Sua função social consiste na regulamentação das relações entre os homens para contribuir assim no sentido de manter e garantir uma determinada ordem social. Através dessa determinação, o indivíduo tem um preceito a ser seguido, no caso de desrespeito ao mesmo, serão aplicadas as respectivas penalidades. Acredita-se que através de regras impostas, o indivíduo torna-se mais consciente dos seus atos, para que não haja necessidade de ser prejudicado pelo não cumprimento das mesmas. 3 O presente artigo teve como objetivo discutir a importância de agir com ética no local de trabalho e como está sendo aplicada pelos profissionais, além de verificar o conhecimento dos mesmos sobre as regras aplicadas à profissão. Este estudo também apresentará as considerações da ética profissional no contexto da estética e beleza. Moral e ética A palavra ética vem do grego ethos e significa caráter, modo de ser, costumes. E moral vem do latim mor, mori, maneira de se comportar, costume (COHEN, SEGRE, 1999). O indivíduo tem a ética como uma opção individual, age de acordo com seus valores e princípios. A filosofia moral ou a ética nasce quando, além das questões sobre os costumes, também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a consciência moral individual. (CHAUI, 2008). Segundo Cohen e Segre (1999), moral envolve regras impostas no cotidiano e exercidas pelos cidadãos. Nela estão incorporadas regras que os indivíduos devem seguir para conviver em sociedade. A moral caracteriza-se por três aspectos: os seus valores não são questionados; esses valores são impostos; a desobediência às regras pressupõe penalidades. A ética define-se em três atributos: percepção dos conflitos, agindo de acordo com a consciência; autonomia, posicionando-se entre razão e emoção, onde a escolha é autônoma; coerência. (COHEN, SEGRE, 1999). Maio (2011) afirma que eticidade é exercer a ética e para que isso aconteça a pessoa precisa ter principalmente força de caráter e maturidade emocional, que Segundo Klein (1976), é a capacidade do indivíduo de transformar desejos e fantasias em fontes de interesse e de enriquecimento da personalidade; está relacionada à capacidade de suportar a dor emocional, para assim, desenvolver-se. Dessa forma, a grande diferença entre ética e moral é o modo como é aplicada. A moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em sociedade, regras estas determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é uma pessoa moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral. Ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade (ADOLFO VASQUEZ, 1993). 4 Código de ética Mostram os valores que a cultura de uma determinada sociedade considera necessários para que seus membros possam interagir e trabalhar (MAIO, 2011). O objeto da Ética é o estudo do comportamento humano e o seu objetivo é estabelecer níveis de convivência aceitáveis entre os indivíduos de uma sociedade (LISBOA et al. 1997). Os códigos de ética englobam normas deontológicas, cuja significância está relacionada à “Teoria do dever”, determinada por Bentham (1834) como ciência do que é justo e conveniente que o homem faça, dos valores que decorrem do dever ou norma que dirige o comportamento humano. SegundoSegre (1999), a deontologia expressa proibições e impedimentos em relação à ação dos profissionais, desse modo, expressa o modo de agir dos indivíduos que pertencem a uma determinada profissão. Para que tais regras fossem aplicadas aos profissionais Tecnólogos em Estética, fundou-se a Federação Brasileira dos Profissionais Esteticistas em 08 de julho de 2003 (FEBRAPE), que dispõe sobre a regulamentação das profissões de Técnico de Estética e de Terapeuta Esteticista. O projeto foi sugerido pela Associação de Cosmetologia e Estética do Ceará, em maio de 2002 (SUG 59/2002 CLP), o qual ainda encontra-se em trâmite no Congresso Nacional. Essa entidade Federativa foi cadastrada pela Câmara dos deputados, na cidade do Rio de Janeiro – RJ, em 19 de dezembro de 2007, tendo por objetivo reunir as associações profissionais de esteticistas e apoiar o Projeto de Lei nº 959/2003. Ética no ambiente de trabalho No contexto da saúde, toma-se como exemplo a Lei nº6.437, de 20 de agosto de 1977 que dispõe sobre infrações à Legislação Sanitária Federal e estabelece as sanções respectivas: Art. 2 – Sem prejuízo das sanções de natureza civil ou penal cabíveis, as infrações sanitárias serão punidas, alternativa ou cumulativamente, com as penalidades de: I – advertência; II – multa; III – apreensão de produto; IV – inutilização de produto; V – interdição de produto; VI – suspensão de vendas e/ou fabricação de produto; VII – cancelamento de registro de produto; VIII – interdição parcial ou total do estabelecimento; IX – proibição de propaganda; X 5 – cancelamento de autorização para funcionamento de empresa; XI – cancelamento do alvará de licenciamento de estabelecimento (BRASIL, 1977). A discussão da ética no contexto do Tecnólogo em Estética acontece por meio da autonomia, onde se decide o que deve ou não ser realizado, através da avaliação, comunicação, histórico do cliente, e sobretudo, atendimento à legislação vigente. Quando o tratamento é feito de forma correta, o resultado é satisfatório, e os usuários dos serviços prestados não hesitarão em procurar o mesmo profissional quando tiver necessidade. Cabe ao profissional fornecer aos usuários dos serviços todo tipo de informação referente ao tratamento estabelecido, possíveis resultados, riscos, tempo aproximado de tratamento e esclarecimento de dúvidas. Segundo o Código de ética dos esteticistas (FEBRAPE, 2003), são responsabilidades fundamentais: Art. 2º - O esteticista deve prestar assistência, sem restrições de ordem racial, religiosa, política ou social, promovendo procedimentos estéticos específicos que beneficiam a saúde, higiene e beleza do homem. I – o esteticista presta serviços da estética facial, corporal e capilar, programando e coordenando todas as atividades correlatas; II – o esteticista deve auto avaliar periodicamente, sua competência, aceitando e assumindo procedimentos somente, quando capaz do desempenho seguro para o cliente; III – ao esteticista cabe a atualização e aperfeiçoamento contínuos, de seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais, visando o benefício de seus clientes, bem como o progresso de sua profissão (FEBRAPE, 2003). Ética no contexto comercial O modo de agir no local de trabalho deve ser ético, com conhecimento e atendimento às regras e legislações vigentes, visando o correto exercício da profissão. Mas nem sempre é o que acontece. A problemática se encontra no fato de que o profissional decide ocupar um cargo apenas visando o lucro. Essa postura poderá, em alguns casos, levar o profissional a enganar o cliente com propostas de tratamento que não são reais. As consequências da negligência ética estão focadas no prejuízo, insatisfação do cliente e negligência profissional. Toma-se como exemplo um procedimento aplicado de forma incorreta, ou que não seja pertinente à área estética, conforme Art. 4º do Código de ética dos esteticistas que proíbe na cláusula II – usar títulos que não possua ou anunciar especialidades para as quais não está habilitado (FEBRAPE, 2003). Ou seja, ao se realizar um procedimento ou atividade da qual o profissional não esteja capacitado, este profissional estará colocando em risco, o usuário. Essas situações com certeza irão causar descontentamento e afastar o indivíduo do tratamento, uma vez 6 que os resultados não satisfizeram de forma positiva suas necessidades, e mais, tampouco esse paciente irá indicar o profissional para outras pessoas. O Código de ética dos esteticistas (2003), no Art. 4º enumera as proibições aos esteticistas. Na cláusula III, por exemplo, orienta que é proibido praticar atos de deslealdade com os colegas de profissão; como exemplo a difamação do trabalho alheio para ganhar o cliente, utilização de ideia de outrem para obtenção de lucro; E ainda no Art. 4º: VI – considera-se falta de ética da moral profissional, causar qualquer tipo de constrangimento a outro esteticista, visando, com isso, conseguir para si o emprego, cargo ou função (FEBRAPE, 2003). Neste entendimento ressalta-se a importância do profissional ter identificação com a área de atuação. Segundo Silva (2001), o bom é que quando fazemos o que amamos, nunca mais iremos trabalhar um dia na vida. Não gastamos energia com intrigas, ciúmes, raivas, politicagens e concepções limitadoras. Ficamos tão absorvidos que simplesmente respiramos o que estamos fazendo e nos sentimos felizes. Quando fazemos aquilo que amamos, dinheiro e felicidade são consequências. O homem sem a capacidade de decisão torna-se pequeno diante da sociedade. Para decidir de forma eficaz é preciso analisar o que é necessário para cada situação, por isso toda forma de decisão tem um comprometimento ético (MEDEIROS, 2003). Ética na informação ao cliente Ao iniciar um tratamento é imprescindível a avaliação do cliente para obter informações sobre dados pessoais, a qual é realizada através da ficha de anamnese1, para ter conhecimento sobre históricos que possam ter interação negativa no tratamento. O Código de ética dos esteticistas (FEBRAPE, 2003), informa no Art. 3º os deveres do esteticista, sendo um deles, fazer prévia anamnese estética do cliente, que se submeter ao seu procedimento. Através 1 A ficha de anamnese é um meio utilizado pelas profissionais, a qual deve conter dados de identificação, tais como nome completo, endereço, telefone, etc; queixa principal, que é o motivo que levou a cliente a procurar o tratamento; histórico familiar de doenças e pré- disposições genéticas; patologias, como por exemplo, alergias, distúrbios hormonais, hipotensão ou hipertensão, gestação, placas, pinos, próteses; cirurgias plásticas; inspeção que deve ser realizada pela profissional, na qual ela deverá observar se existem cicatrizes, manchas, edemas entre outras; e finalmente o termo de responsabilidade, no qual todas as informações autorizadas pela cliente deverão ser assinadas por ela, comprovando que são verdadeiras. No século XXI a anamnese e o exame físico foram recomendados com interesse diagnóstico, levando em consideração os sinais e sintomas (BARROS, 2004). 7 da anamnese, será informado ao cliente os possíveis riscos, cuidados e resultados. Ética no uso de cosméticos No mercado da estética existem inúmeras novidades em cosméticos que auxiliam nos tratamentos estéticos, potencializando sua eficácia. Os cosméticos são conceituados como: Produtos para uso externo, destinados à proteção ou ao embelezamento das diferentes partes do corpo, tais como pós faciais, talcos, cremes de beleza, creme para as mãos e similares, máscaras faciais, loções de beleza,soluções leitosas, cremosas e adstringentes, loções para as mãos, bases de maquilagem e óleos cosméticos, ruges, blushes, batons, lápis labiais, preparados anti- solares, bronzeadores e simulatórios, rímeis, sombras, delineadores, tinturas capilares, agentes clareadores de cabelos, preparados para ondular e para alisar cabelos, fixadores de cabelos, laquês, brilhantinas e similares, loções capilares, depilatórios e epilatórios, preparados para unhas e outros.(BRASIL, 1976). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define regras sobre a disposição de diversos produtos, entre eles, os cosméticos. A importância dos produtos em embalagens corretas, com lote, data de fabricação e de validade devidamente demonstradas, está associada ao resultado positivo que o tratamento proporciona e aos possíveis riscos. Tomam-se como exemplo algumas substâncias, cujos efeitos são nocivos para o usuário e/ou para o profissional. Um elemento bastante utilizado fora dos padrões permitidos é o formol, também chamado de formaldeído, aldeído fórmico, entre outras nomenclaturas; na forma líquida é chamado de formalina ou formol, é misturado à água e álcool, na qual 37 a 50% são formol e de 6 a 15% de álcool, cuja função é estabilizante (IARC, 2004, OSHA, 2002). É utilizado também nas preparações para endurecer as unhas (concentração máxima 5%), e em produtos com função alisante, cuja concentração permitida é de 0,2% de formol, conforme Resolução 162/01,da ANVISA a qual estabelece a lista de substâncias de ação conservante para produtos de higiene pessoal e cosméticos. Ressalta-se que a concentração permitida nem sempre é respeitada (BÁRBARA EMIYAMARU, 2008). Apesar da proibição do uso de formaldeído em produtos cosméticos ou a determinação de concentração mínima definidas pela legislação vigente editadas pela ANVISA, 8 esta substância vem sendo adicionada a produtos cosméticos destinados a escovas progressivas com a finalidade de alisar os cabelos. O seu uso em cremes cosméticos resulta em graves riscos à saúde, tais como irritação, queimaduras na pele, ferimentos nas vias respiratórias e danos irreversíveis nos olhos e nos cabelos, visando que o mesmo só é permitido na aplicabilidade como conservante (máximo de 0,2% p/p) e agente endurecedor de unhas. Atualmente, as escovas progressivas – denominadas pela cartilha da ANVISA como técnica de alisamento capilar que tem como objetivo modificar temporariamente a estrutura dos cabelos e reconstruí-la na forma desejada – têm sido utilizadas de forma inadequada. Alguns profissionais adicionam formaldeído aos cremes alisantes comerciais, provocando, consequentemente, alteração de fábrica, o que resulta em outra infração sanitária (adulteração ou falsificação) (VALCINIR, 2008). Ética na esterilização de materiais O ambiente e as atividades realizadas nos salões de beleza e estética são propícios para a transmissão de micro organismos, seja por contato direto ou indireto. Essa transmissão ocorre de uma pessoa para outra, através de um objeto contaminado (AMATO NETO; BALDY, 1991), o que resulta no desencadeamento de algumas doenças, como a Hepatite B e C, HIV, entre outras. Por este motivo, os centros de estética devem realizar o gerenciamento correto dos resíduos, assim como a esterilização dos instrumentais usados. No procedimento de manicures/pedicures, são utilizados materiais como espátula, alicates, tesouras e palitos, em aço inoxidável e tais instrumentos devem ser previamente higienizados após o uso e embalados corretamente em papel grau cirúrgico (normatizado NBR 12 946 da ABNT), para o sistema de esterilização, os quais devem ser mantidos na embalagem do processo, fechada e datada, até o momento da utilização (PIATTI, 2013). A reciclagem de materiais como luvas descartáveis, como lixas e palitos pode ser um meio de transmissão de doenças; e a principal preocupação é que um corte causado por um material reutilizado transmita infecções (JOHNSON e col., 2001; OLIVEIRA e FOCACCIA, 2010). Os profissionais podólogos necessitam como kit de instrumentos para atendimento básico de podologia, materiais como explorador, cabo para lâmina descartável, bisturi nuclear estreito, espátula, alicate de unha e pele, fresa 9 diamantada (ARMANDO BEGA, 2014).Os aparatos deverão ser devidamente esterilizados e guardados numa caixa plástica até o próximo uso, enquanto os resíduos perfuro cortantes deverão ser acondicionados em recipiente apropriado (PIATTI, 2013). As principais doenças transmitidas nesses processos são a onicomicose, mais conhecida como micose de unha (MARTINS; 2007, CURSI, 2011); hepatites B e C; e a Síndrome da Deficiência Adquirida – AIDS (SOUZA, 2005; REIS e GIR, 2002), estima-se que o risco de contágio após exposição cutânea a sangue contaminado seja de aproximadamente 0,3% e nos casos de exposição de mucosas seja de 0,1% (PIATTI, 2013). Alicates de unha, tesouras, afastadores de cutícula, entre outros materiais citados, devem ser esterilizados corretamente, pois é a única forma de prevenir a transmissão de doenças infectocontagiosas veiculadas pelos mesmos (VIGILÂNCIA SANITÁRIA MUNICIPAL/ RJ, 2004). Ética no sigilo profissional Segundo Styffe (1997), qualquer informação compartilhada deverá ser respeitada e utilizada somente para o fim pela qual foi revelada. Exemplificamos essa situação através do comportamento dos profissionais, com ênfase nos Tecnólogos em estética, visando o fato de que, as informações partilhadas sejam do interesse da cliente e sua respectiva profissional. As informações por parte da paciente são necessárias para que haja um tratamento eficaz, alcançando o melhor objetivo possível (KOTTOW, 1994). Para que essas referências sejam aplicadas corretamente, o sigilo de informações é garantido no Brasil pelo Código Penal 154 (Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940) que orienta: Art. 154 Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Se essa garantia não existisse, o cliente não daria as informações necessárias para ter um tratamento satisfatório. 10 METODOLOGIA Esse trabalho foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira etapa foi realizada uma revisão bibliográfica a partir de periódicos e literaturas científicas relacionadas ao tema. Utilizou-se banco de dados como Scielo, Pubmed, Medline, e Science Direct. Os artigos selecionados foram publicados entre os anos de 2002a2013. Como referências foram utilizadas as seguintes palavras- chave em algumas combinações: ética, saúde, tecnóloga em estética, moral, cosméticos, lucro, sigilo, definição ética, maturidade ética, decisão profissional, comportamento profissional, código de ética, ser ético, cosmetologia, responsabilidade profissional. Na segunda etapa foi realizada uma pesquisa quantitativa, tendo como instrumento de coleta de dados um questionário com quatro perguntas fechadas e estruturadas, aplicados em cem (100) voluntários. Para chegar aos resultados, os questionários foram tabulados no programa Microsoft Excel 2010. Como critério de inclusão na pesquisa, os voluntários são acadêmicos do curso de Tecnologia em estética e cosmética, do quarto ao sexto período e atuantes na área de estética. Um ponto motivador para a participação dos voluntários no preenchimento do questionário foi a garantia do sigilo de todas as informações. Levando-se em consideração que a identidade não era relevante ao objetivo do estudo. Esta pesquisa estáem conformidade com a Resolução 466 de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional da Saúde, que estabelece as normas para pesquisas envolvendo seres humanos. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram questionados cem acadêmicos do curso de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade Tuiuti do Paraná, atuantes na área de estética, os quais responderam quatro perguntas referentes ao tema do artigo. Obteve-se como resultado o seguinte: 11 Figura I: Importância da existência do código de ética Fonte: A autora (2015) Dos entrevistados 98% responderam que consideram importante a existência de um código de ética na profissão do Tecnólogo em estética, em contrapartida 2% disseram que não. Segundo Maio (2011), os códigos de ética mostram os valores que a cultura de uma determinada sociedade considera necessários para que seus membros possam interagir e trabalhar. Apesar da profissão do Tecnólogo em estética não ter regulamentação, existe um projeto de lei (n°959/2003) que ainda encontra-se em trâmite no Congresso Nacional. Para apoiar essa Lei, os esteticistas e tecnólogos em estética e cosmética, possuem seu código de ética, que ressalta as responsabilidades e proibições profissionais (FEBRAPE, 2003). Tendo como embasamento nesse resultado, observa-se que a maior parte dos profissionais possui conhecimento sobre as regras impostas para o desempenho da profissão, levando em consideração a importância da existência do código de ética, que segundo Segre (2002), representam a consolidação dos princípios éticos assumidos por uma sociedade das diferentes categorias de profissionais de saúde. Nos códigos de ética estão contidas regras a serem seguidas para atender as necessidades que representam, ou seja, os profissionais que as seguem, atendem de forma segura as necessidades dos usuários. Considerando que 98% responderam 98% 2% Considera importante a existência de um código de ética na profissão de Tecnólogo em estética? sim não 12 que consideram importantes essas regras, conclui-se que estão acatando esses princípios. Figura II: Indução ao cliente na realização de procedimento sem resultância Fonte: A autora (2015) Ressalta-se que a maior parte dos respondentes alegou que não induziria o cliente a realizar certo procedimento se não houvesse necessidade, sendo elas 94%, enquanto os outros 6% responderam que sim. Segundo Alonso (2007), o bem interno da prática profissional é o núcleo da ética profissional; o autor ressalta ainda que a ética não é só uma questão de normas consensualizadas; é antes de tudo uma questão de pessoas comprometidas com um modo de agir. Através disso, observa-se que a maior parte dos profissionais age com ética na informação ao cliente, a qual consiste no discernimento para encontrar o critério da escolha justa, na grande diversidade de valores nos quais as pessoas creem e baseiam as suas condutas. (SILVA, 1993). A venda de pacotes promocionais em centros de estética no mercado atual, com propostas de baixo preço e promessas ilusórias, compromete o comportamento de profissionais que necessitam vende-los para obter lucro e sustento para si, considerando que a maioria deles são profissionais liberais e autônomos. Apesar disso, observa-se nesta figura que mesmo tendo autonomia para vender algo sem necessidade, a maior parte dos respondentes 94% 6% Induziria o cliente a realizar um procedimento, mesmo sabendo que não é o ideal àquela situação? Não Sim 13 agem de forma correta, são responsáveis pelo que realizam e buscam o melhor resultado possível, dentro das normas cabíveis à sua profissão. Sabe-se que a partir do momento em que o indivíduo torna-se responsável pela prática, consequentemente, torna-se responsável também pelo resultado que irá proporcionar. Os resultados obtidos demonstram que os profissionais optam pela escolha segura, pois desejam oferecer o melhor efeito à necessidade apresentada pelo cliente. Figura III: Comportamentos antiéticos entre colegas de profissão Fonte: A autora (2015) A figura III mostra que 70% dos profissionais que atuam na área de estética já presenciaram algum ato antiético entre seus colegas de profissão, enquanto 30% não presenciaram tal situação. A mentira também consiste em uma postura antiética, uma vez que o elaborador da mentira conhece a verdade e efetua deformações intencionais sobre o verdadeiro, para atingir o seu objetivo (GHADIRI, 2006). Tal situação pode ser exemplificada pelo comportamento de algumas profissionais que prejudicam as colegas de profissão através de críticas, uso de ideias alheias, entre outros exemplos, afim de ganhar o cliente ou obter lucro de forma desonesta e antiética. Leisinger e Schmitt (2001) distinguem os conceitos de ética e moral. Segundo os autores, a moral corresponde às normas que orientam o 70% 30% Já presenciou algum ato antiético entre suas colegas de profissão? Sim Não 14 comportamento prático, enquanto a ética consiste na ciência que realiza a avaliação crítica da moral. Portanto, ética é o tratado da moral, o estudo das escalas de valores do bem e do mal, do certo e do errado. Nota-se que apesar da existência da moral no meio profissional, através de normas que orientam o comportamento correto a ser seguido, alguns profissionais não as colocam em prática como deveriam, ocasionando assim, uma postura antiética. Figura IV: Divulgação de informação sigilosa Fonte: A autora (2015) Dos acadêmicos questionados, 69% disseram que já ouviram alguma informação de profissionais sobre seus clientes, enquanto 31% responderam que não. Pode-se assimilar esses dados à denominação de privacidade informacional, que segundo Gostin et al (1993), uma informação a respeito de determinada pessoa deve ser conservada fora do alcance dos outros, se não houver autorização para que seja revelada. A quebra de sigilo dessas informações poderá causar constrangimento para o cliente que forneceu as mesmas para uma função específica. Se essa revelação causar qualquer tipo de dano à outras pessoas, inclusive para o informante, implicará penalidades para o profissional que a revelou. 69% 31% Já ouviu de outra profissional, alguma informação de cliente que deveria ser sigilosa? Sim Não 15 Para Styffe (1997), a confidencialidade implica um pressuposto de que a confiança que um indivíduo tem de que qualquer informação compartilhada será respeitada e utilizada somente para o propósito para o qual foi revelada. Percebe-se que grande parte dos entrevistados já presenciou vazamento de informações, portanto, pode-se evidenciar que muitas profissionais tem conhecimento sobre as regras a serem seguidas, porém não as colocam em prática. Para Kottow (1994), a informação fornecida é instrumental, servindo a um propósito específico e a uma única justificativa, que é atingir melhor o objetivo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando-se em consideração os estudos resultados obtidos, pode-se afirmar que a maioria dos respondentes, acadêmicos do curso de Tecnologia em estética e cosmética, inclui o código de ética no local de trabalho, pois estão cientes sobre sua importância, entretanto, já presenciaram atos antiéticos entre suas colegas de profissão. O seguinte fato nos leva a questionar sobreas possíveis contaminações comportamentais na presença de atos antiéticos, considerando que as pessoas absorveminformações que estão ao seu redor, que em alguns casos alteram seu modo de comportamento, ou ainda, pode-se questionar se a verificação de um ato antiético no outro torna a ética mais relevante ao profissional, melhorando assim seu comportamento. Os objetivos foram atingidos, pois se discutiu sobre a importância de agir com ética no mercado da tecnologia em estética e cosmética, além de verificar como resultado o comportamento ético aplicado com a maioria dos entrevistados em seu respectivo ambiente de trabalho. Nesse contexto, o Tecnólogo em estética tem um papel muito importante e deve exercer sua função de profissional de saúde sempre com ética e responsabilidade social. Por fim, espera-se que este estudo seja uma proposta para novas reflexões que propiciem cada vez mais um entendimento das responsabilidades do Tecnólogo em estética, frente às exigências éticas e legais da profissão. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMATO NETO, V. & BALDY, J. L. S. Doenças transmissíveis. 3. Ed. São Paulo: Sarvier, 1991. Cap. 38, p. 467- 507; AMENDOEIRA, J. A ética das profissões, Lisboa, 2008; ANDREW J. D. Fundamentos do Comportamento Organizacional. Ed. Pioneira Thomson Learning, 2003; BARBARA, M. C. S. MIYAMARU, Lígia L. Resultado das análises de alisantes capilares. BEPA, Bol. epidemiol. paul. (Online), São Paulo, v. 5, n. 54, jun. 2008 Disponível em: <http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806- 42722008000600002&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 03 maio 2015; BARROS, C. I. A história clínica, 2004; BEGA, A. Tratado de podologia, 2.ed. 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