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HISTÓRIA DA ENFERMAGEM, ÉTICA E LEGISLAÇÃO ENFERMAGEM MÓDULO 1 17 4 HISTÓRIA DA ENFERMAGEM, ÉTICA E LEGISLAÇÃO Diariamente, o ser humano constrói, individual e coletivamente, a história do grupo social a qual pertence, contribuindo ativamente para as transformações e para a consolidação de aspectos sociais, culturais e psicológicos. O estudo da História é importante para que se descubram e se entendam os caminhos trilhados pelos antepassados, responsáveis pela atual realidade. Da mesma forma, o futuro será uma consequência ou reflexo da situação presente. Para que se compreendam melhor os caminhos que levam à construção da categoria profissional de auxiliar de enfermagem, é preciso conhecer um pouco sobre o curso dos acontecimentos históricos. A história situa o indivíduo no tempo e no espaço, estabelecendo elos de comunicação entre as sociedades, que, embora situadas num tempo passado, continuam vivas e influenciando sua maneira de agir. Seu estudo permite conhecer em que medida o homem está próximo ou não do modo de vida de pessoas que viveram em outras épocas, bem como compreender os significados dos fatos presentes, criando estímulos para que o indivíduo se torne partícipe na construção dessa inacabável história. 4.1 Evolução Histórica O cuidar de pessoas enfermas tem sido observado como a essência da profissão de enfermagem. No entanto o modo como esse cuidado vem sendo exercido ao longo dos anos exerce estreita relação com a história da humanidade. Os povos desenvolveram sua arte de tratar os doentes, baseados em seus conhecimentos, crenças e costumes locais (BRASIL, 2003). Com base nisto, se pode afirmar que o hospital, antes do século XVIII, era uma instituição de assistência aos pobres e feridos em guerras. Mas as transformações ocorridas ao longo do tempo, além das descobertas científicas, permitiram que os hospitais passassem a ser concebidos como um espaço para cuidar, tratar e curar os doentes. Tudo isto, se pode dizer, graças às mudanças resultantes da organização do trabalho de enfermagem (BRASIL, 2003). O dia 12 de maio é mundialmente comemorado como o Dia Internacional da Enfermeira. Era a da de nascimento de Florence Nightingale, a figura mais marcante da enfermagem mundial. Ela viveu até os 90 anos, sendo cultuada até os dias atuais, em Londres, como uma das grandes heroínas inglesas. Florence, desde a infância, gostava de cuidar de animais e crianças doentes, e se revelava uma revolucionária, não aceitando o destino reservado às mulheres de sua época: casar e ter filhos. Assim, aos 24 anos decidiu trabalhar em um hospital. No entanto, àquela época, os hospitais ingleses não ofereciam condições recomendáveis de trabalho, dado que as pessoas que prestavam algum tipo de cuidado ou assistência na área eram religiosas católicas ou anglicanas, em sua maioria composta por mulheres, sem preparo nem princípios morais, muitas vezes atuando embriagadas, sendo, por isto, mal vistas pela sociedade (BRASIL, 2003). De acordo com Brasil (2003), aos 31 anos Florence conseguiu autorização dos pais MÓDULO 1 ENFERMAGEM 18 para fazer estágios na Alemanha, numa instituição de diaconisas, sob orientação do Pastor Fliedner, onde aprendeu a cuidar de doentes pobres. Sendo poliglota, Florence aproveitou sua estada em um hospital de Paris, onde conheceu, aprendeu e acompanhou por vários meses o trabalho assistencial e administrativo realizado pelas irmãs de caridade de São Vicente Paulo. Foi com elas que Florence aprendeu sobre regras, a cuidado com os doentes, a fazer anotações, elaborar gráficos, listas de atividades desenvolvidas, etc. Durante a Guerra de Crimeia, em 1854, Florence ofereceu seus serviços e partiu com outras 38 voluntárias de diferentes hospitais. Ao encontrar 4.000 feridos em imensos galpões, organizou a lavanderia, a cozinha e todos os serviços necessários para o cuidado dos feridos, conseguindo baixar a mortalidade de 40% para 2%. À noite, ela percorria os alojamentos e corredores do hospital improvisado com uma lamparina para poder ver os pacientes, passando a ser conhecida como a Dama da Lâmpada – motivo pelo qual até hoje a enfermagem é representada pela lâmpada, símbolo da sentinela, de vigília constante e do cuidado contínuo do profissional que trabalha junto aos doentes (BRASIL, 2003). Após a guerra da Criméia, Florence publicou dois livros: Notas Sobre Hospitais, em 1858, e Notas Sobre Enfermagem, em 1859 (BRASIL, 2003). Devido ao sucesso de sua missão, recebeu homenagens do povo e do governo, além de um prêmio em dinheiro, utilizado para a organização da primeira escola de enfermagem dos tempos modernos no Hospital São Tomas, em Londres, tendo as primeiras 15 alunas matriculadas no ano seguinte. A ideia de Florence era reformar a enfermagem não apenas na Inglaterra, mas no mundo inteiro, a partir da seleção de candidatas jovens, educadas e de elevada posição social. Este rigor se dava pelo intuito de eliminar o baixo nível social daquelas que, até então, presavam assistência aos pacientes em hospitais. Apesar disto, o início foi de intensa luta, visto que poucos entendiam a necessidade de se ter enfermeiras cultas e com elevados dotes morais. E o mais grave: não se acreditava que seriam necessários estudos e preparação especial para cuidar de pessoas doentes. Acredita-se que as experiências de Florence durante sua passagem pela França, aquelas adquiridas com as regras das irmãs de caridade, de São Vicente de Paulo, além da rígida convivência com a disciplina militar, a influenciaram quanto à concepção de um modelo militarizado de organização das atividades de enfermagem. Algumas das enfermeiras diplomadas em sua escola trabalharam na Europa, e outras forma para os EUA, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, o que permitiu a divulgação do sistema Nightingale em todo o mundo, chegando, inclusive ao Brasil. Este sistema tinha como pontos centrais: a) as enfermeiras deveriam assumir a direção das escolas de enfermagem, sendo as principais responsáveis pelo ensino metódico da profissão; e, b) os critérios de conduta moral, intelectual, bem como de aptidão, deveria ser usados na seleção das candidatas. 4.2 História da Enfermagem no Brasil “No Brasil, como em muitos outros países, durante um longo período, as funções de enfermagem foram relegadas ao plano doméstico ou religioso, sem nenhum caráter técnico ou científico” (BRASIL, 2003, p. 127). Os poucos hospitais que existiam àquela época, ENFERMAGEM MÓDULO 1 19 voltavam-se para o atendimento das vítimas de epidemias, soldados feridos em guerra e indigentes. Às parteiras cabia o atendimento às mulheres grávidas e doentes. No início do século XIX, entre os graves problemas de saúde pública existentes no território nacional, destacavam-se a falta de saneamento das cidades, a precariedade das habitações, a necessidade de controle sanitário dos portos e das doenças epidêmicas, assim como alguns problemas sociais decorrentes da presença de doentes mentais perambulando pelas ruas (BRASIL, 2003, p. 127). Nesse sentido, entre as múltiplas propostas de intervenção sobre o espaço urbano com vistas ao saneamento, tem especial importância a criação, no Rio de Janeiro, em 1824, de um hospício, chamado posteriormente de Hospital Nacional de Alienados. A criação deste pode ser considerada um marco histórico que antecedeu à criação da primeira escola de enfermagem no país. A Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras foi crida em 1890, por força de um decreto federal, no 791, que funcionava dentro do Hospital Nacional de Alienados. Essa escola denominou-se, posteriormente, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, que hoje pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio). Observa-se que a escola não fora instalada nos moldes do sistema Nightingale, dado que sua divulgação não havia chegado ainda Brasil. O primeiro curso de enfermagem seguindoos moldes “nightingaleanos” surgiu em São Paulo, no ano de 1895, por iniciativa de enfermeiras inglesas que praticavam também a enfermagem domiciliar, que era muito importante na época, tendo em vista que havia muita resistência à hospitalização, especialmente no que diz respeito às camadas sociais elevadas. Por ser um grupo restrito, dirigido por pessoas ligadas à religião presbiteriana, essa iniciativa não teve grandes repercussões. Em 1916, no Rio de Janeiro, durante a Primeira Guerra Mundial, a Cruz Vermelha Brasileira criou sua escola de enfermagem, com o objetivo de preparar voluntárias para o exercício da enfermagem em frentes de batalha (BRASIL, 2003). O início da década de 1920 foi marcado pelas epidemias que assolavam o País: tifo, cólera e febre amarela. Surgiu, então, o Departamento Nacional de Saúde Pública, organizado pelo Dr. Carlos Chagas. Com vistas a conter a epidemia de febre amarela, Carlos Chagas promoveu a vinda de um grupo de enfermeiras norte-americanas, tendo a colaboração da Fundação Rockfeller. Embora já funcionasse, há mais de vinte anos, uma escola profissional e enfermeiros e enfermeiras, contando com a ajuda do Departamento Nacional de Saúde Pública, criado por Chagas, estas enfermeiras fundaram, então, em 1923 uma escola de enfermagem, vinculada a este departamento, denominada Escola de Enfermagem Anna Nery, que atualmente faz parte da Unirio. Deste modo, as duas escolas passaram a coexistir de forma totalmente independente. Após a formatura da primeira turma de enfermeiras dessa nova escola, surgiu, então, a Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), em 1926. Diz-se que a história da enfermagem brasileira se confunde com a história da Aben, cujas pioneiras (Edith de Magalhães Fraenkel, Glete de Alcântara, Marina de Andrade Resende, Haydée Guanais Dourado, Maria Rosa de Souza Pinheiro, Irmã Maria Tereza Notarnicola, Maria Ivete Ribeiro de Oliveira, entre muitas outras) lideraram, com intensa luta, todas as conquistas da profissão (BRASIL, 2003). 4.3 Introdução à Ética O ser humano age no mundo em que vivemos de acordo com valores pré- estabelecidos. Isso significa que as coisas e as ações realizadas podem ser hierarquizadas de MÓDULO 1 ENFERMAGEM 20 acordo com as noções de bem e de justo, compartilhadas por um grupo de peso. O homem é um ser que avalia sua conduta a partir de valores morais, ou seja, a partir da moralidade que possui, portanto, o homem é um ser moral. Embora os termos moral e ética, na maioria das vezes, sejam usados como sinônimos, existe diferença entre os conceitos, carecendo que se faça distinção entre eles. Mas o que é a moral? E o que é a ética? E qual a diferença entre moral e ética? Estes temas serão explorados a seguir. 4.3.1 Moral A palavra moral vem do latim moralis, morale e significa o que é relativo aos “costumes”. É o conjunto de regras de conduta admitidas em determinada época ou por um determinado grupo de pessoas, com o objetivo fundamental de obter melhor reação em sociedade. Como as comunidades humanas são distintas entre si, tanto no espaço quanto no tempo, os valores podem ser distintos de uma comunidade para outra, o que origina códigos morais diferentes. Pode-se dizer, de modo simplificado, que o sujeito moral é aquele que age bem ou mal, na medida em que acata ou transgride as regras morais. 4.3.2 Ética Apalavra ética vem do grego ethikos, e significa o que é relativo ao “modo de ser”, “comportamento”. A ética está presente em todas as raças. Ela é um conjunto de regras, princípios ou maneira de pensar e expressar. É a parte da filosofia (disciplina filosófica) que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral. A ética é uma disciplina teórica sobre uma prática humana. As reflexões éticas não se restringem apenas à busca de conhecimento teórico sobre valores humanos, cuja origem e desenvolvimento levantam questões de caráter sociológico, antropológico, religioso e etc. A ética é uma filosofia prática, sobre a prática humana. Pode-se afirmar que a Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética contribui para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social. A ética é construída por uma sociedade, com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético, dentro dos princípios da bioética, que rege as pesquisas biológicas. Entretanto, em outro país esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe também a ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, citam-se: ética médica, ética de trabalho, ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética jornalística, ética na política, etc. Uma pessoa que não segue a ética da sociedade à qual ENFERMAGEM MÓDULO 1 21 pertence é chamada de antiética, assim como o ato praticado. 4.3.3 Fundamentos da Ética Antes de tratar sobre qualquer elemento em que se fundamenta a ética, é necessário entender o significado do termo. Este pode ser definido como o resultado do julgamento da sociedade em busca da normatização dos aspectos corretos, em resposta a diversas questões humanas. Para que se inicie um julgamento, é necessário, antes de tudo, que existam as questões. Para tratar destas questões, é necessário um pensamento crítico e racional, a partir do qual se estabelecerão os julgamentos, podendo, dar origem a novos questionamentos. Os fundamentos da ética têm como base os estudos da Filosofia, que se entende também como a investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo e ao homem. Neste sentido, se entende que sem o pensamento filosófico, seria impossível extinguir os questionamentos e definir uma ética completa e coerente. 4.3.4 Ética e Cidadania - Atitude Ética Ser Ético é agir corretamente sem prejudicar os outros. É cumprir com os valores da sociedade em que se vive, mora, trabalha, estuda etc. Ética é tudo que envolve integridade, é ser honesto em qualquer situação, é ter coragem para assumir seus erros e decisões, ser tolerante e flexível, é ser humilde. Todo ser ético reflete sobre suas ações, pensa se fez o bem ou o mal para o seu próximo. É ter a consciência “limpa". 4.3.5 Ética e Política Se a política tem como finalidade a vida justa e feliz, isto é, a vida propriamente humana digna de seres livres, então é inseparável da ética. De fato, para os gregos, era inconcebível a ética fora da comunidade política – apóliscomokoinonia ou comunidade dos iguais, pois nela a natureza ou essência humana encontrava sua realização mais alta. Quando se estuda a ética, percebe-se que Aristóteles distinguira entre teoria e prática e, nesta, entre fabricação e ação, isto é, diferenciar a poiesis de práxis. Percebe-se também que reservara à práxis um lugar mais alto do que à fabricação, definindo-a como ação voluntária de uma gente racional em vista de um fim considerado bom. A práxis por excelência é a política. A este respeito, na Ética a Nicômaco, escreve Aristóteles, segundo Chauí (2000): [...] se, em nossas ações, há algum fim que desejamos por ele mesmo e os outros são desejados só por causa dele, e senão escolhemos indefinidamente alguma coisa em vista de outra (pois, nesse caso, iríamos ao infinito e nosso desejo seria fútil e vão), é evidente que tal fim só pode ser o bem, o Sumo Bem (...). Se assim é, devemos abarcar,pelo menos em linhas gerais, a natureza do Sumo Bem e dizer de qual saber ele provém. Consideramos que ele depende da ciência suprema e arquitetônica por MÓDULO 1 ENFERMAGEM 22 excelência. Ora, tal ciência é manifestamente apolítica, pois é ela que determina, entre os saberes, quais são os necessários para as cidades e que tipos de saberes cada classe de cidadãos deve possuir (...). A política se serve das outras ciências práticas e legisla sobre o que é preciso fazer e do que é preciso abster-se; assim sendo, o fim buscado por ela deve englobar os fins de todas as outras, onde se conclui que o fim da política é o bem propriamente humano. Mesmo se houver identidade entre o bem do indivíduo e o da cidade, é manifestamente uma tarefa muito mais importante e mais perfeita conhecer e salvaguardar o bem da cidade, pois o bem não é seguramente amável mesmo para um indivíduo, mas é mais belo e mais divino aplicado a uma nação ou à cidade. Platão identificara a justiça no indivíduo e a justiça na polis. Aristóteles subordina o bem do indivíduo ao Bem Supremo da polis. Esse vínculo interno entre ética e política significava que as qualidades das leis e do poder dependiam das qualidades morais dos cidadãos e vice-versa, isto é, das qualidades da cidade dependiam as virtudes dos cidadãos. Somente na cidade boa e justa os homens podem ser bons e justos; e somente homens bons e justos são capazes de instituir uma cidade boa e justa. 4.3.6 Principais Teorias Éticas Os conceitos éticos são extraídos da experiência e do conhecimento da humanidade. Baseado nas lições de estudiosos da ética, há algumas teorias a respeito da formação dos conceitos éticos, os quais também se denominam como preceitos, a saber: O relativismo moral: O relativismo moral é a teoria que conceitua as afirmações morais (isso é bom, aquilo é mau) como relativas à cultura. Para o relativista moral, não existe algo objetivamente bom ou mau; o relativista moral afirma que algo considerado mau em determinada cultura pode ser considerado bom em outra cultura. O relativista moral tende a considerar que “bom” é aquilo que é socialmente aprovado e “mau” é aquilo que é socialmente desaprovado em determinada cultura. O absolutismo moral: O absolutismo moral é a teoria que afirma que existem valores morais objetivos. Para o absolutista moral, uma ação é boa ou má, independentemente da cultura à qual o agente pertença. O absolutista moral parte de princípios éticos definidos e deles deduz suas proposições morais. O utilitarismo: O utilitarismo é a teoria que afirma que se deve buscar maximizar os benefícios e minimizar os malefícios para a maior quantidade de pessoas. O utilitarista faz uma espécie de cálculo ético para chegar à conclusão de que uma ação é boa (a que maximiza os benefícios e minimiza os malefícios) e outra é má (a que não maximiza os benefícios e/ou não minimiza os malefícios). ENFERMAGEM MÓDULO 1 23 O fundamentalismo: Esta teoria propõe que os conceitos éticos sejam obtidos de uma fonte externa ao ser humano, a qual pode ser um livro (como a Bíblia), um conjunto de regras, ou até mesmo outro ser humano. A teoria kantiana: Defendida por Emanuel Kant, propõe que o conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com princípios universais. A teoria contratualista: Baseada nas ideias de John Locke e Jean Jacques Rousseau, parte do pressuposto de que o ser humano assumiu com seus semelhantes a obrigação de se comportar de acordo com as regras morais, para poder conviver em sociedade. Os conceitos éticos seriam extraídos, portanto, das regras morais que conduzissem à perpetuação da sociedade, da paz e da harmonia do grupo social. O estudo de todas essas teorias revela que os conceitos éticos precisam ser elaborados tendo em conta todas elas, mas sem se ater a uma em especial. Cada conceito ético, para ser aceito como tal precisa claramente encontrar guarida em pelo menos uma teoria. São todos relativos, e como tal devem ser entendidos. Não existem verdades absolutas ou exatas em matéria de ética. A reflexão permanente é requerida. Teorias éticas – práticas: a) a ética da convicção, entendida como deontologia (estudo dos deveres); e, b) a ética da responsabilidade, conhecida como teleologia (estudo dos fins humanos). Toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela ética da responsabilidade ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer que a ética da convicção seja idêntica à ausência de responsabilidade e a ética da responsabilidade à ausência de convicção. Não se trata evidentemente disso. Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem age segundo as máximas da ética da convicção. Em linguagem religiosa, diz-se: “o cristão faz seu dever e no que diz respeito ao resultado da ação remete-se a Deus”. Enquanto a atitude de quem age segundo a ética da responsabilidade diz: “devemos responder pelas consequências previsíveis de nossos atos”. A ética da convicção é uma ética que se pauta por valores e normas previamente estabelecidos, cujo efeito primeiro consiste em moldar as ações que deverão ser praticadas. Ela se subdivide em: a do princípio e a da esperança. A primeira está restrita às normas morais estabelecidas, num deliberado desinteresse pelas circunstâncias, e cuja máxima sentencia: respeite as regras haja o que houver. A segunda se ancora em ideais, moldada por uma fé capaz de mover montanhas, e cuja máxima preconiza: o sonho antes de tudo. MÓDULO 1 ENFERMAGEM 24 Essas vertentes correspondem a modulações de deveres, preceitos, dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos. Como exemplo da ética da convicção, o Cônsul português Aristides de Sousa Mendes, lotado no porto francês de Bordeaux, preferiu ter compaixão a obedecer cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela ética da convicção. Priorizou a seus riscos e custos um valor em relação ao outro. Diante do avanço do exército alemão em junho de 1940, salvou a vida de 30 mil pessoas, entre as quais 10 mil judeus, ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse, num ritmo frenético. A ética da responsabilidade se caracteriza por considerar cada um responsável por aquilo que faz. Os agentes avaliam os efeitos previsíveis que uma ação produz; constam obter resultados positivos para a coletividade; e ampliam o leque das escolhas ao preconizar que “dos males, o menor”. Exemplificando a ética da responsabilidade, diante da queda acentuada das receitas, um dos cenários possíveis é o da forte redução das despesas com o consequente corte de pessoal. O que fazer? Manter o dispêndio representado pela folha de pagamento e agravar a crise (talvez até pedir concordata), ou diminuir o desembolso e devolver à empresa o fôlego necessário para tentar ficar à tona na tormenta? Vale dizer, cabe ou não cabe sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar a sobrevinda ao resto da tripulação e ao próprio navio? E o que mais interessa do ponto de vista social? Uma empresa que feche as portas ou uma empresa que gere riquezas? A ética da responsabilidade, assim como a da convicção, está alicerçada em duas vertentes: a utilitarista e da finalidade. A primeira exige que as ações produzam o máximo de bem para o maior número, isto é, que possam combinar a mais intensa felicidade possível (critério da eficácia) com a maior abrangência proporcional (critério da equidade). Sua máxima recomenda: faça o maior bem para mais gente. A segunda determina que a bondade dos fins justifique as ações empreendidas e supõe que todas as medidas necessárias serão tomadas. Sua máxima ordena: alcance os objetivos custe o que custar. A doutrina enfocada, conclui-se que, enquanto aqueles que pendem pela ética daconvicção guiam-se por imperativos da consciência e os que seguem a ética da responsabilidade guiam-se por uma análise de riscos. É necessário lembrar-se: a moral é a consideração do que é bem ou mal. A ética é o estudo das teorias que vão explicar a moral. A moral é a prática, a ética é a teoria. 4.3.7 Ética e Desenvolvimento Sustentável A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. O que é preciso fazer para alcançar o desenvolvimento sustentável? ENFERMAGEM MÓDULO 1 25 Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. Os modelos de desenvolvimento dos países industrializados devem ser seguidos? O desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a seguir não pode ser o mesmo adotado pelos países industrializados, mesmo porque não seria possível. Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrões das sociedades do Norte, a quantidade de combustíveis fósseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de recursos minerais, 200 vezes. Ao invés de aumentar os níveis de consumo dos países em desenvolvimento, é preciso reduzir os níveis observados nos países industrializados. Os crescimentos econômico e populacional das últimas décadas têm sido marcados por disparidades. Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial. Conta-se que Mahatma Gandhi, ao ser perguntado se depois da independência, a Índia perseguiria o estilo de vida britânico, teria respondido: "a Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcançar sua prosperidade. Quantos planetas não seriam necessários para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?". A sabedoria de Gandhi indicava que os modelos de desenvolvimento precisam mudar. Os estilos de vida das nações ricas e a economia mundial devem ser reestruturados para levar em consideração o meio ambiente. O Fórum de Copenhagen (01/2010) serviu para medir de uma vez por todas o tamanho do egoísmo dos países desenvolvidos, sobretudo quanto ao consumo de energia, que é igual a quanto maior, mais crescimento, de parte dos países em desenvolvimento. Ficou claro que eles podem consumir a energia que quiserem, enquanto que os países em desenvolvimento terão que diminuir o consumo de energia, que significa diminuir a produção, gerar menos emprego e renda, crescer menos, etc. Barbaridade em dose dupla. Mais uma vez eles mistificam a realidade. De um lado, preservar o meio ambiente é uma necessidade vital e um comportamento fundamental para o ser humano. Diminuir a emissão de CO² é necessário para o planeta como um todo, porém não dá mais para aceitar tanta mistificação porque, na realidade, o problema climático, ambiental e etc., não está localizado dentro do contexto econômico que eles mistificam para evitar o avanço inexorável dos países emergentes, sobretudo aqueles relativos aos BRICS, acrônimo para o MÓDULO 1 ENFERMAGEM 26 grupo constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. São conhecidos os riscos do atual modelo de desenvolvimento, há recursos e tecnologia e se sabe o que deve ser feito para alcançar a justiça social e cuidar do planeta. Neste sentido, opção pelo desenvolvimento sustentável depende apenas da vontade política dos governos e da sociedade como um todo. Ou seja, trata-se de uma escolha ética. Nessa dimensão reflexiva, é importante pontuar a correlação ou a relação biunívoca existente entre as ciências sociais. Assim sendo, não poderemos deixar de considerar o universo que compõe esse cenário, evidenciando os seguintes fatores básicos para o estudo da economia: a) dotação de recursos: compreende todos os recursos disponíveis numa economia. É o que se usa para produzir bens; b) tecnologia: é o menu da economia moderna, oferece todas as combinações diferentes de recursos que podem ser utilizados para a produção de bens e serviços; c) preferência dos indivíduos: depende dos bens e serviços que a economia deve produzir. As preferências das pessoas determinam suas decisões; e, d) instituições econômicas: são as normas que regulam as relações em uma determinada economia. São formalmente codificadas em leis (leis tributárias, leis trabalhistas, leis da propriedade, etc.). E dentro desse contexto de análise centrada na fundamentação econômica que se pontuam, também, alguns aspectos da ação econômica e seus principais condicionamentos, ou seja, os fatores condicionantes da ação, das relações e do comportamento econômico e que podem também ser condicionados por elas: a) forma de organização política da sociedade; b) posturas ético-religiosas; c) modos de relacionamento social; d) condições limitativas do meio ambiente; e) estrutura da ordem jurídica; f) formação cultural da sociedade; g) padrões das conquistas tecnológicas. Muitas vezes são as empresas criticadas por não desenvolverem produtos ecológicos ou por seguirem lógicas produtivas socialmente nefastas. No entanto, se realmente se defende a liberdade e a responsabilidade dever-se-á, para além de inquirir as empresas, confrontar os consumidores com os seus atos e as suas opções. Não é justo nem benéfico utilizar as empresas como bode expiatório da má consciência global e, por outro lado, tratar os consumidores como se fossem crianças. Os clientes, os consumidores, são a chave para alguns dos dilemas que se colocam no que respeita à exequibilidade da ética empresarial. Proliferam os rankings de empresas que são boas empregadoras, desenhados por instituições ou órgãos de comunicação; há também já múltiplos fundos éticos e até índices como o FTSE4Good, destinado a facilitar o ENFERMAGEM MÓDULO 1 27 investimento socialmente responsável e a aposta em empresas guiadas por uma gestão transparente. A ética do consumidor é a melhor contrapartida que pode haver para uma ética da empresa. À responsabilidade da empresa deve corresponder a responsabilidade do consumidor, que deve se preocupar em adotar um consumo consciente e crítico em face de políticas de contratação, higiene, segurança, transparência, honestidade no seio das empresas que produzem os bens ou fornecem os serviços que vai adquirir. De fato, muito da crítica ao capitalismo é uma crítica à democracia, na medida em que é uma crítica à capacidade de escolha de cada indivíduo. A maturidade em todas as escolhas efetuadas pelas pessoas é decisiva para formatar os estados em que vivem, as sociedades na qual se movem e os mercados que as abastecem. Isto corresponde precisamenteà persecução do projeto iluminista numa época pós-convencional de, como Kant afirmou, de o indivíduo ser capaz de guiar-se por si próprio, assumir o peso de sair da menoridade confortável a que o consumo automático o restringe. A ética do consumo não faz parte da ética empresarial, mas é a consequência lógica da mesma, uma exigência de justiça; movendo-nos no plano da ética e não do direito, a coação não pode ser jurídica. No entanto, a coação moral num sujeito coletivo como é a empresa, só pode dar-se a partir de algo tangível. O consumismo (ético e ecológico) é a recompensa prática da empresa ética e a punição da empresa que se furta a ser responsável. 4.3.8 Ética e o Mundo do Trabalho Esta subseção abordará a importância ética no mundo do trabalho, como ela se estabelece no ambiente empresarial. Ética empresarial: Ética empresarial é o comportamento da empresa - entidade lucrativa - quando ela age em conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras éticas). A atividade empresarial é eticamente fundada e orientada, quando se cria emprego, se proporciona habitação, alimentação, vestuário e educação, detendo os bens como quem os administra. Para os cristãos, a ética empresarial é justiça e obras de misericórdia. Para muitos outros será a lei natural que diz que ninguém pode ser feliz / rico no meio de infelizes / pobres. A ética empresarial, ainda, consiste na busca do interesse comum, ou seja, do empresário, do consumidor e do trabalhador. A importância da ética empresarial: Todo sistema que diminui a relevância da ética, tornando tal valor desprezível, tende a não respaldar os reclamos da sociedade, a tornar o Estado que o produziu menos democrático, quando não totalitário, e termina por durar tempo menor que os demais ordenamentos que a reconhecem. Além de outros dispositivos constitucionais, onde a ética permeia, verifica-se que é no capítulo VII, do título III da Constituição Federal de 1988, que se encontra de forma mais MÓDULO 1 ENFERMAGEM 28 evidente a imposição da necessidade da ética, no exercício da honrosa função de servir a sociedade, estando esse princípio dentre os mais importantes da Administração Pública, a saber: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. No âmbito da atividade empresarial, os princípios éticos que norteiam o direito, estampados na Ordem Econômica e Financeira, fundamentam-se na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, reprimindo o abuso do poder econômico, incentivando a livre concorrência, dando tratamento preferencial às empresas de pequeno porte, proibindo a atuação do Estado na área específica da iniciativa privada, a não ser em caráter excepcional (segurança nacional ou relevante interesse coletivo). O § 4º, do art. 173, da Constituição Federal de 1988, estabeleceu as práticas que devem ser evitadas na exploração da atividade econômica, por ferir a ética empresarial, dispondo que: "A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros". Evoluímos, assim, para uma sociedade em que alguns denominaram "pós- capitalista" e outros "neocapitalista" ou ainda "sociedade do saber", caracterizada pela predominância do espírito empresarial e pelo exercício da função reguladora do direito. O Estado reduz-se a sua função de operador para tornar-se o catalisador das soluções, o regulador e o fiscal da aplicação da lei e a própria administração se desburocratiza. O espírito empresarial, por sua vez, cria parcerias que se substituem aos antigos conflitos de interesses que existiam, de modo latente ou ostensivo, entre empregados e empregadores, entre produtores e consumidores e entre o Poder Público e a iniciativa privada. A sociedade contemporânea apresenta um novo modelo para que a empresa possa progredir e o Estado evolua adequadamente, mediante a mobilização construtiva de todos os participantes, não só do plano político, pelo voto, mas também no campo econômico, mediante várias formas de parceria, com base na confiança e na lealdade que devem presidir as relações entre as partes. Neste contexto, a empresa, abandonando a organização hierarquizada, "apodera do mundo empresarial, com os valores que lhes são próprios, como iniciativa, corresponsabilidade, comunicação, transparência, qualidade, inovação e flexibilidade”. Vê- se, portanto, que a empresa, abandonando sua estrutura originária, sob o comando dos proprietários de companhia, agora, se sujeita, a uma nova forma de governo, com maior poder atribuído aos acionistas e empregados e até a própria sociedade civil, passando a ter verdadeiros deveres, não só com os seus integrantes e acionistas, mas também com os seus consumidores, clientes e até com o meio ambiente. A Lei n. 6.404/76, que disciplina as sociedades por ações, enumera de forma precisa e detalhada os deveres e responsabilidades dos administradores, a função social da empresa, orientando no sentido de que o administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa (art. 154). É preciso ressaltar que hoje, no que tange à matéria contratual, ao contrário do que ENFERMAGEM MÓDULO 1 29 acontecia no passado, onde o direito além de exigir a completa boa-fé, proporciona proteção mais adequada ao comerciante mais frágil, transmuta-se, assim, de um regime de completa liberdade para uma nova ordem na qual a liberdade das partes importa responsabilidade, devendo inspirar-se em princípios éticos, abandonando-se a igualdade formal para atender às situações respectivas dos contratantes, ou seja, à igualdade material. Na questão ambiental, há que se ressaltar que o meio ambiente transformou-se em um valor permanente para a sociedade, de forte conteúdo ético. Assim, protegê-lo tornou-se um imperativo para todos os habitantes da terra, exigindo que cada um se conscientize dessa grande necessidade, requerendo esforço comum, em resposta aos desafios do futuro. Exige-se, portanto, que as empresas promovam o desenvolvimento sustentável, conforme tem insistido a Câmara de Comércio Internacional. É preciso pensar e pensar rápido, com coragem e ousadia, numa nova ética, para o desenvolvimento. Numa ética que transcenda a sociedade de mercadoria, da suposta generalização dos padrões de consumo dos países ricos para as sociedades periféricas – promessa irrealizável de certas correntes desenvolvimentistas do passado e dos neoliberais de hoje em dia. Tal promessa não passa de um jogo das contas de vidro, recheado de premissas falsas, devido a obstáculos políticos criados pelos países ricos (que brecam a generalização da riqueza) e as limitações impostas pela base de recursos naturais. Ou seja, as limitações ecológicas inviabilizam (devido ao efeito estufa, destruição da camada de ozônio, dilapidação das florestas tropicais etc.) a homogeneização para toda a humanidade dos padrões dos gastos do consumo. Hoje, as grandes entidades financeiras nacionais e estrangeiras só aprovam financiamentos cujos projetos não afetem o meio ambiente. Dentro desse contexto, decidindo a empresa adotar os postulados éticos em suas relações, nada mais necessário do que estabelecer as regras de conduta a partir de um instrumento interno, ou seja, elaborar um Código de Ética, que teria a incumbência de padronizar e formalizar o entendimento da organização empresarial em seus diversos relacionamentos e operações. Com ele, poder-se- á evitar que os julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação plena dos princípios, além de que, pode constituir uma prova legal de determinação da administração da empresa, de seguir os preceitos nele refletidos. A responsabilidade social das empresas: A empresatem sido entendida, doutrinariamente, como uma "atividade econômica organizada, exercida profissionalmente pelo empresário, através do estabelecimento". Extraem-se daí os três conceitos básicos da empresariedade: o empresário, o estabelecimento e a atividade. Para melhor entendimento da empresa sob o enfoque da ética, traz-se à colação o pensamento de Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões Pedreira sobre a empresa – a grande empresa – enfocando-a como a célula de base de toda a economia industrial. Em economia de mercado, é, com efeito, no nível da empresa que se efetua a maior parte das escolhas que comandam o desenvolvimento econômico: definição de produtos, orientação de investimentos e repartição primária de vendas. Este papel motor da empresa é, por certo, um dos traços dominantes de nosso modelo econômico: por seu poder de iniciativa, a empresa está na origem da criação constante da riqueza nacional; ela é, também, o lugar da inovação e da renovação. Os MÓDULO 1 ENFERMAGEM 30 autores vão além e afirmam que: a macroempresa envolve tal número de interesses e de pessoas - empregados, acionistas, fornecedores, credores, distribuidores, consumidores, intermediários, usuários -, que tende a transformar-se realmente em centro de poder tão grande que a sociedade pode e deve cobrar-lhe um preço em termos de responsabilidade social. Seja a empresa, seja o acionista controlador, brasileiro ou estrangeiro, todos têm deveres para a comunidade na qual vivem. Os autores concluem dizendo que essa revolução que se está operando nos países da vida ocidental - como resposta, até certo ponto surpreendente e admirável, às exigências de conciliar a eficiência insubstituível da macroempresa com a liberdade de iniciativa e a distribuição da riqueza - não foi feita, nem poderá sê-lo, sem a compreensão e a efetiva colaboração dos empresários - que a lideraram -, das instituições comerciais, que a secundaram, dos investidores que a compreenderam e apoiaram, e do Estado, que a estimularam, disciplinaram e removeram os obstáculos jurídicos para que ela se realizasse na plenitude. Evolução da ética empresarial: A doutrina no âmbito do direito empresarial tem conceituado a empresa como uma atividade econômica organizada pelo empresário, que se utiliza dos fatores da produção - a natureza, o capital e o trabalho - para produzir um resultado, que pode ser um serviço, um bem ou um direito, para venda no mercado, com o objetivo final de lucro. A história nos dá conta de que, nas sociedades primitivas e antigas, a atividade econômica se baseava na troca de mercadoria por mercadoria, não existindo nesse período a ideia de lucro e nem de empresa. Portanto, a ética se restringia às relações de poder entre as partes e pelas eventuais necessidades presentes de obtenção de certos bens ou artigos. O surgimento do conceito de lucro nas operações de natureza econômica trouxe certa dificuldade para a moral, posto que ele (o lucro) era originariamente considerado um acréscimo indevido, sob o ponto de vista da moralidade. Somente no século XVIII, o economista Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, conseguiu demonstrar que o lucro não é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuição de renda e de promoção do bem-estar social, expondo pela primeira vez a compatibilidade entre ética e atividade lucrativa. A encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, foi a primeira tentativa formal de impor um comportamento ético à empresa. Esse documento papal trouxe no seu bojo princípios éticos aplicáveis nas relações entre a empresa e empregados, valorizando o respeito aos direitos e à dignidade dos trabalhadores. Surge nos Estados Unidos em 1890, a Lei Shelman Act, destinada a proteger a sociedade contra os acordos entre empresas, contrários ou restritivos da livre concorrência. No início do século XX, foi editada a Lei Clayton, alterada pela Pattman-Robison, que complementou a lei Shelman Act, proibindo a prática de discriminação de preços por parte de uma empresa em relação aos seus clientes. ENFERMAGEM MÓDULO 1 31 Em 1972, realizou-se a Conferência Internacional Sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, Suécia, organizada pela Organização das Nações Unidas, que teve como finalidade conscientizar todos os segmentos sociais, inclusive as empresas sobre a necessidade de se preservar o planeta. Cinco anos após, o governo americano legisla sobre a ética empresarial, por meio da edição da Lei Foreign Corrupt Practices Act, que proíbe e estabelece penalidades às pessoas ou organizações que ofereçam subornos às autoridades estrangeiras, com a finalidade de obter negócios ou contratos. No Brasil, foi editada a Lei n. 4.137/62, alterada pela Lei n. 8.884/94, que reprime o abuso do poder econômico e as práticas concorrenciais. Em diversas outras áreas, como nas de proteção ao trabalho, do meio ambiente, do consumidor, existem leis específicas, tratando da questão da ética. Diante dessa preocupação mundial com a ética empresarial, pode-se afirmar que se vive uma nova era nessa matéria. Relativamente, a evolução da ética na empresa societária, ao que se tem notícia, até o fim da primeira metade do século XX, os conflitos societários eram solucionados na própria empresa, sendo poucas as demandas judiciais. Prevalecia o poder daquele que majoritariamente comandava a empresa. Esse período foi chamado de fase monárquica da sociedade comercial. Aplicava-se a visão do banqueiro alemão, ao qual se atribui a qualificação dos acionistas minoritários como sendo tolos e arrogantes. Tolos porque lhe entregavam o dinheiro, e arrogantes, pois ainda pretendiam receber os dividendos. Paulatinamente, vai-se criando nova consciência nessas relações, e os controladores passam a buscar o consenso junto aos demais participantes da sociedade (empregados, minoritários etc.). No Brasil, a partir da metade do século XX, já há uma preocupação do direito brasileiro para com os direitos dos minoritários, possibilitando-lhes o recebimento dos dividendos, o recesso e responsabilizar os administradores e controladores da companhia. É o primeiro passo para a democratização e moralização da empresa, mediante a criação de um sistema de liberdade com responsabilidade, que sucedeu ao regime da mais completa irresponsabilidade. Verifica-se, modernamente, que a legislação brasileira consagra os conceitos de abuso de direito e de responsabilidade pelo desvio de poderes. A Lei n. 6.404/76, assim como a legislação do mundo inteiro, tem reconhecido que o poder do voto deve ser exercido no interesse da sociedade, consoante dispõe o artigo 115 da citada lei: O acionista deve exercer o direito de voto no interesse da companhia; considerar-se-á abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar prejuízo para companhia ou para outros acionistas. A obediência à ética e aos bons costumes se impôs até aos acordos de acionistas, cujas cláusulas ilegais, abusivas ou imorais não podem ser consideradas vinculatórias para os seus signatários. MÓDULO 1 ENFERMAGEM 32 Valores éticos: interpretação: Como interpretar os valores éticos? A interpretação de valores éticos pode ser absoluta ou relativa. A primeira baseia-se na premissa de que as normas de conduta são válidas em todas as situações, e a segunda de que as normas dependem da situação. No que tange à ética relativa, os orientais entendem que os indivíduos devem dedicar-se inteiramente à empresa, que constitui uma família à qual pertence a vida dos trabalhadores. Já, para os ocidentais, o entendimento é de que há diferença entre a vida pessoal e a vida profissional. Assim, encerrado o horário normal do trabalho, o restante do tempo é do trabalhador e não do patrão. Quanto à ética absoluta, parte-se do princípio de quedeterminadas condutas são intrinsecamente erradas ou certas, qualquer que seja a situação, e, dessa maneira, devem ser apresentadas e difundidas como tal. Um problema sério da ética absoluta é que a noção de certo e errado depende de opiniões. Como exemplo disto, os bancos suíços construíram uma reputação de confiabilidade com base na preservação do sigilo sobre suas contas secretas. Sob a perspectiva absoluta, para o banco, o correto é proteger a identidade e o patrimônio do cliente. Durante muito tempo, os bancos suíços foram admirados por essa ética, até ficar evidente que os clientes nem sempre eram respeitáveis. Traficantes de drogas, ditadores e nazistas haviam escondido nas famosas contas secretas muito dinheiro ganho de maneira ilícita. Os bancos continuaram insistindo em sua política, enquanto aumentavam as pressões internacionais, especialmente dos países interessados em rastrear a lavagem de dinheiro das drogas, ou recuperar o que havia sido roubado pelos ditadores e nazistas. Para as autoridades destes países, a ética absoluta dizia que o sigilo era intrinsecamente errado, uma vez que protegia dinheiro obtido de forma desonesta. Finalmente, as autoridades suíças concordaram em revelar a origem dos depósitos e iniciar negociações visando à devolução do dinheiro para os seus donos. Razões para a empresa ser ética: A maioria dos autores que estudam a questão da ética empresarial estabelece que o comportamento ético seja a única maneira de obtenção de lucro com respaldo moral. A sociedade tem exigido que a empresa sempre puna pela ética nas relações com seus clientes, fornecedores, competidores, empregados, governo e público em geral. O comportamento ético dentro e fora da empresa permite às companhias inteligentes baratear os produtos, sem diminuir a qualidade e nem baixar os salários, porque uma cultura ética torna possível reduzir os custos de coordenação. Além dessas, outras razões podem ser invocadas como o não pagamento de subornos, compensações indevidas etc. Agindo eticamente, a empresa pode estabelecer normas de condutas para seus dirigentes e empregados, exigindo que ajam com lealdade e dedicação. Os procedimentos éticos facilitam e solidificam os laços de parceria empresarial, ENFERMAGEM MÓDULO 1 33 quer com clientes, quer com fornecedores, quer, ainda, com sócios efetivos ou potenciais, Isso ocorre em função do respeito que um agente ético gera em seus parceiros. A ética da empresa trata de mostrar, então, que optar por valores que humanizam é o melhor para a empresa, entendida como um grupo humano, e para a sociedade em que ela opera. A atividade empresarial não é só para ganhar dinheiro. Uma empresa é algo mais que um negócio: é antes de tudo um grupo humano que persegue um projeto, necessitando de um líder para levá-lo a cabo, e que precisa de um tempo para desenvolver todas as suas potencialidades. Entende-se que a ética deve estar acima de tudo, e que a empresa que age dentro dos postulados éticos aceitos pela sociedade só tende a prosperar. Ética profissional: Um profissional deve saber diferenciar a Ética da moral e do direito. A moral estabelece regras para garantir a ordem independente de fronteiras geográficas. O direito estabelece as regras de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, valendo apenas para aquele lugar. As normas jurídicas obrigam os cidadãos de forma coercitiva, ou seja, independente da vontade pessoal. Já a norma ética não obriga coativamente a pessoa que a descumpre. Pessoas afirmam que em alguns pontos elas podem gerar conflitos. O desacato civil ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa acate certas leis. Às vezes as propostas da ética podem parecer justas ou injustas. Ética é diferente da moral e do direito, porque não estabelece regras concretas. A Ética profissional se inicia com a reflexão. Quando se escolhe uma profissão, passa-se a ter deveres profissionais obrigatórios. Os jovens quando escolhem sua carreira, escolhem pelo dinheiro e não pelos deveres e valores. Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa seu comprometimento profissional. Isso caracteriza o aspecto moral da ética profissional. Mesmo que não se exerça uma atividade dentro da área de interesse do profissional, isto não o isenta dos deveres e obrigações que este tem a cumprir. Ser um profissional ético nada mais é do que ser profissional mesmo nos momentos mais inoportunos. Para ser uma pessoa ética, devemos seguir um conjunto de valores. Ser ético é proceder sem prejudicar os outros. Algumas das características básicas de como ser um profissional ético é ser bom, correto, justo e adequado. Além de ser individual, qualquer decisão ética tem por trás valores fundamentais, tais como: a) ser honesto em qualquer situação - é a virtude dos negócios; b) ter coragem para assumir as decisões - mesmo que seja contra a opinião alheia; c) ser tolerante e flexível - deve-se conhecer para depois julgar as pessoas; d) ser íntegro - agir de acordo com seus princípios; e, e) ser humilde - só assim se consegue reconhecer o sucesso individual. 4.3.9 Problemas Morais De acordo com Alencastro (1997), a ética não é algo superposto à conduta humana, dado que todas as nossas atividades envolvem uma carga moral. O que define a nossa MÓDULO 1 ENFERMAGEM 34 realidade são as ideias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido. Nas relações do dia a dia apresentam-se problemas do tipo: deve-se sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que se pode mentir? Será que é correto tomar tal atitude? Deve-se ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho? Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens? Como tratar a questão do aborto? Como lidar com a eutanásia, com o assédio moral? Essas perguntas evocam problemas cujas soluções, normalmente, não envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também outras pessoas que poderão sofrer as consequências das decisões e ações, consequências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira. Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas ações de forma quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" ou "receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos mais adequadas de serem cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e reconhecidas como válidas e obrigatórias. Fazemos uso de normas, praticamos determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de determinados argumentos para tomar decisões, justificar nossas ações e nos sentirmos dentro da normalidade (ALENCASTRO, 1997, p. 2). As normas sobre as quais se fala têm relação com valores morais. São os meios pelos quais os valores morais de um grupo social são manifestos e acabam adquirindo um caráter normativo e obrigatório. Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada sociedade são bem aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles. Mas, quando surgem questionamentos sobre a validade de certos costumes ou valores consolidados pela prática, surge a necessidade de fundamentá-los teoricamente, ou, para os que discordam deles, criticá-los (ALENCASTRO, 1997). Para que se compreenda melhor acerca de alguns problemas relativos à moral, que abrangem a área da saúde, aqui especificamente a enfermagem, é necessário que se abordem os conceitos da Bioética e seus principais temas: aborto, assédio moral, eutanásia, Aids e as relações médico-paciente. 4.3.10 Bioética Schramm (2002) trata a Bioética como uma ética aplicada, que visa “dar conta” dos conflitos e controvérsias morais implicados pelas práticas no âmbito das Ciências da Vida e da Saúde, do ponto devista de algum sistema de valores (chamado também de “ética”). Para o autor, ela se destina a resolver os conflitos éticos concretos, aqueles que surgem das interações humanas em sociedades. A bioética tem uma tríplice função: a) enquanto função descritiva, ela descreve e analisa os conflitos em pauta; em sua função normativa, a bioética lida com os conflitos, no sentido de abolir os comportamentos que podem ser considerados ENFERMAGEM MÓDULO 1 35 reprováveis e de prescrever aqueles considerados corretos; e, em sua função protetora, intuitivamente, ela ampara, dentro do possível, todos os envolvidos em alguma disputa de interesses e valores, priorizando os mais fracos, quando isto se fizer necessário. Mais claramente falando, a bioética é um conjunto de pesquisas, discursos e práticas, cuja finalidade é esclarecer e resolver questões éticas suscitadas pelos avanços e pela aplicação da medicina e da biologia. Vários são os grupos, com interesses distintos, que debatem sobre a bioética, tais como indústrias farmacêuticas, laboratórios de biotecnologia, organizações ambientalistas, associações de consumidores e entidades de classe. Entre os temas mais abordados na bioética, observam-se o aborto, a eutanásia, os transgênicos, a fertilização in vitro, a clonagem e os testes com animais, além da relação médico-paciente, assédio moral, as questões envolvendo os pacientes com Aids, etc. As próximas seções tratarão sobre aborto, eutanásia, relações médico-paciente, assédio moral e Aids. Aborto: Conforme afirmam Diniz e Almeida (1998), dentro da bioética o tema aborto é aquele sobre o qual mais se tem escrito, debatido e realizado congressos científicos e discussões públicas. No entanto, pouco se caminhou nesta questão nos últimos anos. Para os autores, a maior dificuldade para um leigo no assunto reside na literatura, pois fica difícil discernir sobre quais são os argumentos filosóficos e científicos consistentes em meio a uma infinidade de manipulações retóricas, o que dificulta apresentar um panorama dos estudos bioéticos relativos ao tema. Uma gama considerável de textos acadêmicos, políticos e religiosos entram em cena e é uma difícil missão selecionar dentre eles quais os mais significativos para se estabelecer um debate frutífero. Neste sentido, abordar-se-á aqui: a) a terminologia e os principais tipos de aborto; b) dados sobre a legislação; e c) o aborto enquanto um problema ético. Terminologia: Diniz e Almeida (1998) advogam, ainda, que seria necessária uma avaliação semântica dos conceitos utilizados pelos pesquisadores que escrevem sobre o aborto, pelo fato de a variedade conceitual ser proporcional ao impacto social causado pela escolha de cada termo. Observa-se uma cadeia interminável de definições que geram confusões semânticas para os pesquisadores interessados em se aprofundar nesta temática. Os autores sugerem que se usem as nomenclaturas mais próximas do discurso médico oficial, para melhor entendimento do assunto. Assim sendo, eles apontam para quatro tipos de situação para o aborto: a) interrupção eugênica da gestação (IEG) – nestes casos, interrompe-se a gestação por valores racistas, sexistas ou étnicos. De uma forma geral, este tipo de aborto acontece alheio à vontade da gestante, que é obrigada a praticar o aborto; b) interrupção terapêutica da gestação (ITG) – nos casos em que se deve preservar MÓDULO 1 ENFERMAGEM 36 a saúde da gestante. Dado o avanço da medicina, estes casos são considerados raros hoje em dia; c) interrupção seletiva da gestação (ISG) – nos casos de anomalias fetais. Nestes casos, justificam-se as solicitações de aborto dada a incompatibilidade da vida extrauterina, como o feto portador de anencefalia, por exemplo; e, d) interrupção voluntária da gestação (IVG) – nos casos em que a gestação é interrompida pela autonomia da gestante, como uma gravidez indesejada, seja ela fruto ou não de um abuso sexual. Observa-se que, exceto pela interrupção eugênica, as demais levam em consideração a vontade da gestante (ou do casal) em manter ou não a gravidez. Sobre estas formas também recaem as maiores discussões bioéticas. A ITG e ISG se assemelham, especialmente em países onde a legislação permite ambos os casos. No entanto, observa-se que além dos limites gestacionais impostos de forma diferente para cada caso, é importante salientar que no caso da ISG a saúde do feto é a razão do aborto, e na ITG, privilegia-se a saúde materna. Outra dificuldade reside, de acordo com Diniz e Almeida (1998), em nomear o resultado do aborto. Alguns autores chamam de ‘feto’, outros de ‘embrião’, outros ainda de ‘criança’, ‘não nascido’, ‘pessoa’ ou ‘indivíduo’. Uns autores argumentam que um feto de 12 semanas, por exemplo, pode sentir dor, enquanto que estudos da neurofisio-embriologia negam esta tese. Estas controvérsias geram ainda mais dificuldade no entendimento sobre o tema, uma vez que se mesclam argumentos científicos e crenças morais como se fossem receitas de bolo, afirmam os autores. E isto se observa tanto entre os proponentes da questão quanto entre os seus oponentes. Legislação: Um marco para a legislação e políticas nacionais e internacionais acerca do aborto foi a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, que ocorreu no Cairo, no ano de 1994. Antes deste evento, é sabido que o tema do aborto não fazia parte da agenda de saúde pública de inúmeros países (DINIZ e ALMEIDA, 1998). Um dos métodos para o controle de natalidade mais utilizado e difundido desde o século XIX tem sido o aborto. Porém, é difícil estimar um cálculo preciso para a taxa mundial de aborto, dado que este é considerado crime em alguns países. Ainda assim, as taxas mundiais de aborto são muitíssimo elevadas, especialmente nos países da África e América Latina. Em que pese a contestabilidade sobre o levantamento demográfico acerca do número de abortos, o estudo das legislações comparadas se apresenta mais confiável, segundo Diniz e Almeida (1998). No ano de 1869 o Papa Pio IX declarou que a alma incorpora quando da concepção. Assim, as leis vigentes naquele século não permitiam qualquer forma de interrupção da gravidez. Entre os anos de 1950 e 1985, quase todos os países desenvolvidos liberalizaram as suas leis sobre o aborto por motivos de direitos humanos e segurança. E, desde, então da década de 1985 alguns países vêm modificando a sua legislação, tornando-a mais aberta para a prática. Em países onde o aborto ainda é ilegal, sente-se uma forte influência de ENFERMAGEM MÓDULO 1 37 antigas leis coloniais, que muitas vezes não refletem a opinião da população local. De acordo com levantamento feito em 2013, aproximadamente 25% da população mundial vivem em países com leis sobre o aborto altamente restritivas, especialmente na América Latina, África e Ásia. Em alguns países, como o Chile, as mulheres ainda vão para a prisão por praticarem um aborto ilegal. Alguns autores defendem a tese de que a legislação restritiva do aborto viola os direitos humanos das mulheres, prescritos com base na Conferência Internacional sobre a População e o Desenvolvimento, na Quarta Conferência Mundial das Mulheres em Pequim e na Declaração Universal dos Direitos. Atualmente, a legislação aponta para os seguintes casos: a) para alguns países, o aborto é ilegal em todas as circunstâncias ou é permitido apenas em caso de risco de vida da mulher, como, por exemplo, no Brasil, Chile, República Dominicana, Venezuela, México, Angola, Benin, Costa do Marfim, Senegal, Egito, Líbano, Indonésia, Filipinas, Irlanda, etc.; e b) o aborto é permitido por lei, apenas em risco de vida ou para proteger a saúde física da mulher, como no caso da Argentina, Bolívia, Equador, República dos Camarões, Moçambique, Marrocos, Tailândia, Polônia, etc. No Brasil, a legislação que trata do aborto foi criada na década de 1940. Emboraseja crime, poucos são os casos conhecidos de pessoas que foram presas em virtude da prática ilegal do aborto. Os artigos que tratam do aborto no Código Penal Brasileiro (Dos Crimes Contra as Pessoas), Capítulo I são: Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. Aborto provocado por terceiro: Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante. Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Forma qualificada: Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico. Aborto necessário: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. O aborto enquanto um problema ético: Salatiel (2010, p. 01) advoga que as ciências da vida, tais como a biologia e a MÓDULO 1 ENFERMAGEM 38 medicina criaram uma série de dilemas éticos que são estudados pela filosofia. Dentro da filosofia encontra-se a bioética, e dentro desta encontra-se a médica ética, que trata de temas polêmicos tal como o aborto. Como já citado aqui, este é um dos pontos mais difíceis da ética médica, dado que envolve aspectos legais, religiosos, médicos, socioculturais, políticos. A discussão acerca do tema se situa entre duas posições que se opõem: de um lado, uma posição conservadora em favor da vida, que defende o direito moral da vida do feto; de outro lado, uma escolha libera, que entende a mulher em seu direito moral de dispor sobre o próprio corpo. Não se pode deixar de ressaltar também as posições intermediárias, como aquele que advoga ser errado o aborto, mas que apoia a sua prática quando em casos específicos, tais como o risco de morte para a mãe ou filho ou em casos de estupro. Há também os que são totalmente contra, sobretudo nos casos avançados da gestação. Em relação ao argumento de que o feto ou embrião tem direito moral à vida, este se sobressai diante da escolha da mulher, posto que a vida é um valor superior. A questão, então, recai sobre o fato de se considerar o feto como uma pessoa. Enquanto pessoa, não há dúvidas de que ele tem direito à vida, e neste sentido, o aborto é errado, se torna um problema ético. Para aquecer o debate, observa-se a conceituação de John Locke, que afirma que a pessoa é um ser inteligente, possuidor de razão e capacidade de reflexão. Neste sentido, o feto não possui autoconsciência nem capacidade de reflexão, portanto, não pode ser definido enquanto pessoa. Ampliando ainda mais a polêmica, percebe-se que, sendo assim, os pacientes em coma não teriam direito à vida, nem mesmo os recém-nascidos, visto que ainda não possuem a noção de self. Para tentar pôr fim à questão, a literatura muda a perspectiva, conceituando o feto como um indivíduo em potencial e, em razão disso, realizar um aborto seria privá-lo do direito à vida futura. Por outro lado, a mulher possui direito sobre o seu corpo e, assim sendo, pode decidir pela interrupção de uma gravides se assim o desejar. Este argumento se fortalece quando atrelado àquele que afirma que o embrião ainda não é um indivíduo com as capacidades desenvolvidas, portanto, não haveria conflito de interesses entre direitos da mulher e do feto. Ao se olhar por um prisma de uma gravidez indesejada, o aborto se justificaria pela preservação futura do bem-estar do feto, como argumentam alguns. Dallari (2013) afirma que o aborto fica mais evidente do ponto de vista de um problema ético, quando há um conflito entre direitos e deveres morais. Mas não há clareza qual obrigação ética gera o direito ao aborto, muito menos quem é o titular deste direito ou dever. Diante de um diagnóstico antenatal, de ‘ter os filhos que se quer e não os que não se quer’, como descreve a autora, levantam-se dúvidas sobre as técnicas e sua utilização, custos envolvidos, escolhas sociais e políticas aí implícitas em relação à autoridade de jugar a qualidade da vida humana e quanto às relações interpessoais. Tais questionamentos trazem dúvidas cada vez maiores e alimentam o debate, tornando o aborto, de fato, um problema ético de saúde pública. A questão não se encerra e os debates continuam, buscando estabelecer, em ENFERMAGEM MÓDULO 1 39 definitivo, se o feto é uma pessoa, portanto, possuidora de direito à vida, tendo este direito sobreposto à vontade da mãe, que, por sua vez, tem o direito de dispor como queira do seu corpo. Espera-se que esses debates permaneçam, se fundamentem cada vez mais e que forneçam dados concretos para a elaboração de leis sobre o aborto e para a criação de políticas públicas que valorizem Eutanásia: De acordo com Urban (2010), a eutanásia é um tema polêmico, caracteristicamente ambíguo, causando confusão entre médicos, legisladores e cidadãos, especialmente no que diz respeito ao Brasil. Por sua etimologia, cuja raiz é grega, eu-thanatos quer dizer boa morte, ou seja, é a supressão piedosa da vida do paciente, no que tange ao plano ético e prático. Entende-se, então, que a eutanásia é a ação ou omissão realizada com o objetivo de suprimir a vida de um paciente, com o intuito de lhe garantir o fim do sofrimento, seja ele físico ou psíquico. Diante do exposto, já se pode observar a primeira polêmica, dado que a eutanásia não apenas consiste na ação, mas também na omissão de algo que poderia salvar a vida de um paciente. E o que fazer? Como atua a ética neste sentido? Como se apresentam aqui os valores morais? Em alguns países, como na Holanda e na Bélgica, por exemplo, a eutanásia é permitida, amparada, inclusive por lei. No estado de Oregon, nos EUA, vigora desde 2006 e há propostas de lei em outros estados. A Holanda configura com o país onde a eutanásia é mais conhecida e estudada, com cerca de 2.300 a 4.000 casos a cada ano, de acordo com pesquisas, com a maioria acontecendo em casa do paciente. No que diz respeito à opinião médica, muitos são os estudos acerca do tema, porém de difícil compreensão, em virtude das diferentes linguagens e metodologias utilizadas por eles. Os dados quanto a este tema no Brasil também são muito limitados. Entre os oncologistas, por exemplo, não há um consenso de que a eutanásia, uma vez legalizada, possa melhorar os cuidados no final da vida. Um estudo feito pelos membros da Sociedade Americana de Oncologia revelou que, em pacientes terminais, com dor intratável, a eutanásia e suicídio assistido tiveram o apoio de apenas 22,5% dos oncologistas. Eles consideram que se o paciente recebe cuidados paliativos de forma adequada não suscita encerrar a sua vida. Urban (2010) afirma que no Brasil são raros os pacientes que desejariam praticar ou realizar a eutanásia, mesmo se esta fosse permitida por lei. “Os conflitos relacionados a ela são geralmente resultantes de interpretações errôneas sobre a situação real do paciente, pouca atenção aos problemas físicos, emocionais ou espirituais do mesmo e de seus familiares” (URBAN, 2010, p. 90). Segundo o autor, os médicos que se opõem à eutanásia, embora não neguem o valor intrínseco que a autonomia e o alívio do sofrimento possuem, advogam que a cada direito se deva empregar um dever, e que estese vincule a liberdade de autodeterminação do cidadão, que seja regulada e limitada por um critério externo. É sabido, como reafirma MÓDULO 1 ENFERMAGEM 40 Urban (2010), que nenhuma sociedade democrática existe sem levar em conta os critérios de justiça, portanto não deve ser limitada a autonomia de cada cidadão. No Brasil, uma vez permitida a eutanásia, os riscos seriam maiores que os benefícios, uma vez que o acesso à saúde não é igual para todos. Nem todo cidadão brasileiro consegue receber os melhores tratamentos, seque os cuidados paliativos. Outro agravante reside na falta de preparação dos profissionais de saúde. “A formação médica brasileira não contempla os elementos mais importantes envolvidos nas decisões sobre o final da vida” (URBAN, 2010, p. 90). Outra questão ainda mais relevante é o fato de que as decisões sobre a eutanásia poderiam levar em conta os aspectos socioeconômicos, voltando-se para os pacientes que tenham o custo elevado para o sistema único de saúde bem como para os seus familiares. Há ainda a questão da dificuldade em se realizar um controle efetivo para que o processo pudesse ocorrer de acordo com os ditames legais. Sabe-se que, muitas vezes, o sofrimento do paciente suscita dos médicos e familiares muitas questões, que envolvem o afeto e compaixão pela sua dor, mas também os aportes legais e o direito de dispor da vida do outro. Não se tem uma preparação neste sentido. O autor sugere que o debate acerca deste tema, no Brasil, deva ser tratado no sentido de redirecionar a formação médica, humanizando-a, levando o profissional a entender o seu papel de cuidar, mais do que de curar, e a buscar aprimorar os cuidados paliativos de modo a alcançar todos os pacientes que dele necessitem. Relação médico-paciente: Em artigo publicado em 2007, o Doutor Cláudio Barsanti, diretor de defesa profissional, da Sociedade de Pediatria de São Paulo, afirmou que a medicina atual vem crescendo cada vez mais, ao ponto de estar preparada para eliminar sofrimentos e salvar vidas. Os avanços da ciência e da tecnologia têm permitido às pessoas melhores condições de saúde mais longevidade. A cada quinquênio o conhecimento médico vem e ampliando, trazendo novas descobertas, com possibilidades de curas para muitas doenças até então incuráveis. Apesar disto, segundo Barsanti (2007), a relação médico-paciente continua carecendo de melhor tratamento. É sabido que o sucesso do tratamento depende, sem dúvidas, da inter-relação que se estabelece entre o médico e o seu paciente. O autor afirma que é preciso que haja confiança, reciprocidade, compaixão, autoridade, sem que, para isso, haja submissão, de ambas as partes, além do saber ouvir e atenção aos detalhes. O médico sabe que a sua terapêutica pode não trazer os efeitos desejados, mas este não pode furtar ao paciente a informação sobre todos os dados de sua doença, os tratamentos que serão utilizados, as possíveis complicações, riscos, do início ao fim, e até mesmo deixando claro que pode não haver evolução esperada. O autor advoga que os problemas na relação médico-paciente poderiam ser minimizados se os serviços de saúde não estivessem deteriorados, se houvesse melhores relações de trabalho para os profissionais da saúde, se houvesse melhoria na educação, desde o ensino médio, e se o nível socioeconômico fosse mais equânime entre os pacientes. Cabe ao médico evitar qualquer interferência na sua relação com o paciente. ENFERMAGEM MÓDULO 1 41 É importante elencar quais os direitos dos pacientes e quais aqueles dos médicos2. Observa-se, então, o que descrevem as alíneas A e B e seus subitens, de acordo com Barsanti (2007, p. 02): a) direitos do paciente: Abandono - após iniciado o tratamento, o médico não pode abandonar o paciente, a não ser que tenham ocorrido fatos que comprometam a relação médico-paciente e o desempenho profissional. Deve estar assegurada a continuidade na assistência prestada. Entretanto, no caso de atendimento ambulatorial, sem caráter de urgência, o médico pode se recusar a atender determinado paciente, não se configurando omissão de socorro. Acompanhante - o paciente tem o direito de ser acompanhado por pessoa por ele indicada, em todos os atos médicos por ele sofridos. Alta - o médico pode, ou melhor, deve se negar a conceder alta a paciente sob seus cuidados, quando considerar que isso possa acarretar risco à integridade do mesmo. Quando não incorrer em risco para o paciente, se este ou seus familiares decidirem pela alta, sem parecer favorável do médico, devem responsabilizar-se por escrito. Anestesia - o paciente tem o direito de receber anestesia em todas as situações indicadas, bem como, pode recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida. Atendimento digno - o paciente tem direito a um atendimento digno, atencioso e respeitoso, sendo identificado e tratado pelo nome ou sobrenome. Autonomia - consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a serem nele realizados, desde que em posse da capacidade e discernimento de escolha. Criança - a criança, ao ser internada, terá em seu prontuário a relação das pessoas que poderão acompanhá-la integralmente durante o período de internação. Exames - é vedada a realização de exames compulsórios, sem autorização do paciente, como condição necessária para internação hospitalar, exames pré-admissionais ou periódicos e ainda em estabelecimentos prisionais e de ensino. Gravação - o paciente tem o direito de gravar a consulta, caso tenha dificuldade em assimilar as informações necessárias para seguir determinado tratamento. Identificação - o paciente deve poder identificar as pessoas responsáveis direta e indiretamente por sua assistência, por meio de crachás visíveis, legíveis e que contenham o nome completo, a função e o cargo do profissional, assim como o nome da instituição. Informação - o paciente deve receber informações claras, objetivas e compreensíveis sobre todos os atos médicos e de todos os riscos inerentes ao tratamento e possíveis procedimentos invasivos. Medicação - ter anotado no prontuário todas as medicações, com 2 Lei Estadual (São Paulo) Nº 10.241, de 17/03/1999. Pareceres dos Conselhos de Medicina Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. MÓDULO 1 ENFERMAGEM 42 dosagens utilizadas. Morte - o paciente tem o direito de optar pelo local de morte (conforme Lei Estadual válida para os hospitais do Estado de São Paulo). É importante verificar a legislação nos demais estados da Federação. Pesquisa - ser prévia e expressamente informado, quando o tratamento proposto for experimental ou fizer parte de pesquisa, que deve seguir rigorosamente as normas regulamentadoras de experimentos com seres humanos no país e ser aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do hospital ou instituição. Prontuário - ter acesso, a qualquer momento, ao seu prontuário médico, recebendo por escrito o diagnóstico e o tratamento indicado, com a identificação do nome do profissional e o número de registro no órgão de regulamentação e controle da profissão. Receituário - receber as receitas com o nome genérico dos medicamentos prescritos, datilografadas ou em letra legível, sem a utilização de códigos ou abreviaturas, com o nome, assinatura do profissional e número de registro no órgão de controle e regulamentação da profissão. Recusa - o paciente pode desejar não ser informado do seu estado de saúde, devendo indicar quem deva receber as informações em seu lugar. Respeito - ter asseguradas a satisfação de necessidades, a integridade física, a privacidade, a individualidade, o respeito aos valores éticos e culturais, a confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal, e a segurança
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