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Historia_da_enfermagem

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HISTÓRIA DA ENFERMAGEM,
ÉTICA E LEGISLAÇÃO
 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
17 
4 HISTÓRIA DA ENFERMAGEM, ÉTICA E LEGISLAÇÃO 
 
Diariamente, o ser humano constrói, individual e coletivamente, a história do grupo 
social a qual pertence, contribuindo ativamente para as transformações e para a 
consolidação de aspectos sociais, culturais e psicológicos. 
 
O estudo da História é importante para que se descubram e se entendam os 
caminhos trilhados pelos antepassados, responsáveis pela atual realidade. Da mesma forma, 
o futuro será uma consequência ou reflexo da situação presente. Para que se compreendam 
melhor os caminhos que levam à construção da categoria profissional de auxiliar de 
enfermagem, é preciso conhecer um pouco sobre o curso dos acontecimentos históricos. 
 
A história situa o indivíduo no tempo e no espaço, estabelecendo elos de 
comunicação entre as sociedades, que, embora situadas num tempo passado, continuam 
vivas e influenciando sua maneira de agir. Seu estudo permite conhecer em que medida o 
homem está próximo ou não do modo de vida de pessoas que viveram em outras épocas, 
bem como compreender os significados dos fatos presentes, criando estímulos para que o 
indivíduo se torne partícipe na construção dessa inacabável história. 
 
4.1 Evolução Histórica 
 
O cuidar de pessoas enfermas tem sido observado como a essência da profissão de 
enfermagem. No entanto o modo como esse cuidado vem sendo exercido ao longo dos anos 
exerce estreita relação com a história da humanidade. Os povos desenvolveram sua arte de 
tratar os doentes, baseados em seus conhecimentos, crenças e costumes locais (BRASIL, 
2003). 
 
Com base nisto, se pode afirmar que o hospital, antes do século XVIII, era uma 
instituição de assistência aos pobres e feridos em guerras. Mas as transformações ocorridas 
ao longo do tempo, além das descobertas científicas, permitiram que os hospitais passassem 
a ser concebidos como um espaço para cuidar, tratar e curar os doentes. Tudo isto, se pode 
dizer, graças às mudanças resultantes da organização do trabalho de enfermagem (BRASIL, 
2003). 
 
O dia 12 de maio é mundialmente comemorado como o Dia Internacional da 
Enfermeira. Era a da de nascimento de Florence Nightingale, a figura mais marcante da 
enfermagem mundial. Ela viveu até os 90 anos, sendo cultuada até os dias atuais, em 
Londres, como uma das grandes heroínas inglesas. Florence, desde a infância, gostava de 
cuidar de animais e crianças doentes, e se revelava uma revolucionária, não aceitando o 
destino reservado às mulheres de sua época: casar e ter filhos. Assim, aos 24 anos decidiu 
trabalhar em um hospital. No entanto, àquela época, os hospitais ingleses não ofereciam 
condições recomendáveis de trabalho, dado que as pessoas que prestavam algum tipo de 
cuidado ou assistência na área eram religiosas católicas ou anglicanas, em sua maioria 
composta por mulheres, sem preparo nem princípios morais, muitas vezes atuando 
embriagadas, sendo, por isto, mal vistas pela sociedade (BRASIL, 2003). 
 
De acordo com Brasil (2003), aos 31 anos Florence conseguiu autorização dos pais 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
18 
para fazer estágios na Alemanha, numa instituição de diaconisas, sob orientação do Pastor 
Fliedner, onde aprendeu a cuidar de doentes pobres. Sendo poliglota, Florence aproveitou 
sua estada em um hospital de Paris, onde conheceu, aprendeu e acompanhou por vários 
meses o trabalho assistencial e administrativo realizado pelas irmãs de caridade de São 
Vicente Paulo. Foi com elas que Florence aprendeu sobre regras, a cuidado com os doentes, 
a fazer anotações, elaborar gráficos, listas de atividades desenvolvidas, etc. 
 
Durante a Guerra de Crimeia, em 1854, Florence ofereceu seus serviços e partiu 
com outras 38 voluntárias de diferentes hospitais. Ao encontrar 4.000 feridos em imensos 
galpões, organizou a lavanderia, a cozinha e todos os serviços necessários para o cuidado 
dos feridos, conseguindo baixar a mortalidade de 40% para 2%. À noite, ela percorria os 
alojamentos e corredores do hospital improvisado com uma lamparina para poder ver os 
pacientes, passando a ser conhecida como a Dama da Lâmpada – motivo pelo qual até hoje 
a enfermagem é representada pela lâmpada, símbolo da sentinela, de vigília constante e do 
cuidado contínuo do profissional que trabalha junto aos doentes (BRASIL, 2003). 
 
Após a guerra da Criméia, Florence publicou dois livros: Notas Sobre Hospitais, em 
1858, e Notas Sobre Enfermagem, em 1859 (BRASIL, 2003). Devido ao sucesso de sua 
missão, recebeu homenagens do povo e do governo, além de um prêmio em dinheiro, 
utilizado para a organização da primeira escola de enfermagem dos tempos modernos no 
Hospital São Tomas, em Londres, tendo as primeiras 15 alunas matriculadas no ano seguinte. 
A ideia de Florence era reformar a enfermagem não apenas na Inglaterra, mas no mundo 
inteiro, a partir da seleção de candidatas jovens, educadas e de elevada posição social. Este 
rigor se dava pelo intuito de eliminar o baixo nível social daquelas que, até então, presavam 
assistência aos pacientes em hospitais. Apesar disto, o início foi de intensa luta, visto que 
poucos entendiam a necessidade de se ter enfermeiras cultas e com elevados dotes morais. 
E o mais grave: não se acreditava que seriam necessários estudos e preparação especial para 
cuidar de pessoas doentes. 
 
Acredita-se que as experiências de Florence durante sua passagem pela França, 
aquelas adquiridas com as regras das irmãs de caridade, de São Vicente de Paulo, além da 
rígida convivência com a disciplina militar, a influenciaram quanto à concepção de um 
modelo militarizado de organização das atividades de enfermagem. Algumas das 
enfermeiras diplomadas em sua escola trabalharam na Europa, e outras forma para os EUA, 
Canadá, Nova Zelândia e Austrália, o que permitiu a divulgação do sistema Nightingale em 
todo o mundo, chegando, inclusive ao Brasil. Este sistema tinha como pontos centrais: 
 
a) as enfermeiras deveriam assumir a direção das escolas de enfermagem, sendo as 
principais responsáveis pelo ensino metódico da profissão; e, 
b) os critérios de conduta moral, intelectual, bem como de aptidão, deveria ser 
usados na seleção das candidatas. 
 
4.2 História da Enfermagem no Brasil 
 
“No Brasil, como em muitos outros países, durante um longo período, as funções de 
enfermagem foram relegadas ao plano doméstico ou religioso, sem nenhum caráter técnico 
ou científico” (BRASIL, 2003, p. 127). Os poucos hospitais que existiam àquela época, 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
19 
voltavam-se para o atendimento das vítimas de epidemias, soldados feridos em guerra e 
indigentes. Às parteiras cabia o atendimento às mulheres grávidas e doentes. 
 
No início do século XIX, entre os graves problemas de saúde pública 
existentes no território nacional, destacavam-se a falta de saneamento das 
cidades, a precariedade das habitações, a necessidade de controle sanitário 
dos portos e das doenças epidêmicas, assim como alguns problemas sociais 
decorrentes da presença de doentes mentais perambulando pelas ruas 
(BRASIL, 2003, p. 127). 
 
Nesse sentido, entre as múltiplas propostas de intervenção sobre o espaço urbano com 
vistas ao saneamento, tem especial importância a criação, no Rio de Janeiro, em 1824, de um 
hospício, chamado posteriormente de Hospital Nacional de Alienados. A criação deste pode ser 
considerada um marco histórico que antecedeu à criação da primeira escola de enfermagem no país. 
 
A Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras foi crida em 1890, por força de um 
decreto federal, no 791, que funcionava dentro do Hospital Nacional de Alienados. Essa escola 
denominou-se, posteriormente, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, que hoje pertence à 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio). Observa-se que a escola não fora instalada nos 
moldes do sistema Nightingale, dado que sua divulgação não havia chegado ainda Brasil. 
 
O primeiro curso de enfermagem seguindoos moldes “nightingaleanos” surgiu em São 
Paulo, no ano de 1895, por iniciativa de enfermeiras inglesas que praticavam também a enfermagem 
domiciliar, que era muito importante na época, tendo em vista que havia muita resistência à 
hospitalização, especialmente no que diz respeito às camadas sociais elevadas. Por ser um grupo 
restrito, dirigido por pessoas ligadas à religião presbiteriana, essa iniciativa não teve grandes 
repercussões. Em 1916, no Rio de Janeiro, durante a Primeira Guerra Mundial, a Cruz Vermelha 
Brasileira criou sua escola de enfermagem, com o objetivo de preparar voluntárias para o exercício 
da enfermagem em frentes de batalha (BRASIL, 2003). 
 
O início da década de 1920 foi marcado pelas epidemias que assolavam o País: tifo, cólera e 
febre amarela. Surgiu, então, o Departamento Nacional de Saúde Pública, organizado pelo Dr. Carlos 
Chagas. Com vistas a conter a epidemia de febre amarela, Carlos Chagas promoveu a vinda de um 
grupo de enfermeiras norte-americanas, tendo a colaboração da Fundação Rockfeller. Embora já 
funcionasse, há mais de vinte anos, uma escola profissional e enfermeiros e enfermeiras, contando 
com a ajuda do Departamento Nacional de Saúde Pública, criado por Chagas, estas enfermeiras 
fundaram, então, em 1923 uma escola de enfermagem, vinculada a este departamento, denominada 
Escola de Enfermagem Anna Nery, que atualmente faz parte da Unirio. Deste modo, as duas escolas 
passaram a coexistir de forma totalmente independente. 
 
Após a formatura da primeira turma de enfermeiras dessa nova escola, surgiu, então, a 
Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), em 1926. Diz-se que a história da enfermagem 
brasileira se confunde com a história da Aben, cujas pioneiras (Edith de Magalhães Fraenkel, Glete de 
Alcântara, Marina de Andrade Resende, Haydée Guanais Dourado, Maria Rosa de Souza Pinheiro, 
Irmã Maria Tereza Notarnicola, Maria Ivete Ribeiro de Oliveira, entre muitas outras) lideraram, com 
intensa luta, todas as conquistas da profissão (BRASIL, 2003). 
 
4.3 Introdução à Ética 
 
O ser humano age no mundo em que vivemos de acordo com valores pré-
estabelecidos. Isso significa que as coisas e as ações realizadas podem ser hierarquizadas de 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
20 
acordo com as noções de bem e de justo, compartilhadas por um grupo de peso. O homem é 
um ser que avalia sua conduta a partir de valores morais, ou seja, a partir da moralidade que 
possui, portanto, o homem é um ser moral. 
 
Embora os termos moral e ética, na maioria das vezes, sejam usados como 
sinônimos, existe diferença entre os conceitos, carecendo que se faça distinção entre eles. 
Mas o que é a moral? E o que é a ética? E qual a diferença entre moral e ética? Estes temas 
serão explorados a seguir. 
 
4.3.1 Moral 
 
A palavra moral vem do latim moralis, morale e significa o que é relativo aos 
“costumes”. É o conjunto de regras de conduta admitidas em determinada época ou por um 
determinado grupo de pessoas, com o objetivo fundamental de obter melhor reação em 
sociedade. Como as comunidades humanas são distintas entre si, tanto no espaço quanto no 
tempo, os valores podem ser distintos de uma comunidade para outra, o que origina códigos 
morais diferentes. Pode-se dizer, de modo simplificado, que o sujeito moral é aquele que 
age bem ou mal, na medida em que acata ou transgride as regras morais. 
 
4.3.2 Ética 
 
Apalavra ética vem do grego ethikos, e significa o que é relativo ao “modo de ser”, 
“comportamento”. A ética está presente em todas as raças. Ela é um conjunto de regras, 
princípios ou maneira de pensar e expressar. É a parte da filosofia (disciplina filosófica) que 
se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral. 
A ética é uma disciplina teórica sobre uma prática humana. As reflexões éticas não se 
restringem apenas à busca de conhecimento teórico sobre valores humanos, cuja origem e 
desenvolvimento levantam questões de caráter sociológico, antropológico, religioso e etc. A 
ética é uma filosofia prática, sobre a prática humana. 
 
Pode-se afirmar que a Ética é um conjunto de valores morais e princípios que 
norteiam a conduta humana na sociedade. A ética contribui para que haja um equilíbrio e 
bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a 
ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de 
justiça social. 
 
A ética é construída por uma sociedade, com base nos valores históricos e culturais. 
Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios 
morais de uma sociedade e seus grupos. Cada sociedade e cada grupo possuem seus 
próprios códigos de ética. Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica 
pode ser ético, dentro dos princípios da bioética, que rege as pesquisas biológicas. 
Entretanto, em outro país esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. 
 
Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe 
também a ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, citam-se: ética 
médica, ética de trabalho, ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética 
jornalística, ética na política, etc. Uma pessoa que não segue a ética da sociedade à qual 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
21 
pertence é chamada de antiética, assim como o ato praticado. 
 
4.3.3 Fundamentos da Ética 
 
Antes de tratar sobre qualquer elemento em que se fundamenta a ética, é 
necessário entender o significado do termo. Este pode ser definido como o resultado do 
julgamento da sociedade em busca da normatização dos aspectos corretos, em resposta a 
diversas questões humanas. Para que se inicie um julgamento, é necessário, antes de tudo, 
que existam as questões. Para tratar destas questões, é necessário um pensamento crítico e 
racional, a partir do qual se estabelecerão os julgamentos, podendo, dar origem a novos 
questionamentos. 
 
Os fundamentos da ética têm como base os estudos da Filosofia, que se entende 
também como a investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao 
mundo e ao homem. Neste sentido, se entende que sem o pensamento filosófico, seria 
impossível extinguir os questionamentos e definir uma ética completa e coerente. 
 
4.3.4 Ética e Cidadania - Atitude Ética 
 
Ser Ético é agir corretamente sem prejudicar os outros. É cumprir com os valores da 
sociedade em que se vive, mora, trabalha, estuda etc. Ética é tudo que envolve integridade, 
é ser honesto em qualquer situação, é ter coragem para assumir seus erros e decisões, ser 
tolerante e flexível, é ser humilde. 
 
Todo ser ético reflete sobre suas ações, pensa se fez o bem ou o mal para o seu 
próximo. É ter a consciência “limpa". 
 
4.3.5 Ética e Política 
 
Se a política tem como finalidade a vida justa e feliz, isto é, a vida propriamente 
humana digna de seres livres, então é inseparável da ética. De fato, para os gregos, era 
inconcebível a ética fora da comunidade política – apóliscomokoinonia ou comunidade dos 
iguais, pois nela a natureza ou essência humana encontrava sua realização mais alta. 
 
Quando se estuda a ética, percebe-se que Aristóteles distinguira entre teoria e 
prática e, nesta, entre fabricação e ação, isto é, diferenciar a poiesis de práxis. Percebe-se 
também que reservara à práxis um lugar mais alto do que à fabricação, definindo-a como 
ação voluntária de uma gente racional em vista de um fim considerado bom. A práxis por 
excelência é a política. A este respeito, na Ética a Nicômaco, escreve Aristóteles, segundo 
Chauí (2000): 
 
[...] se, em nossas ações, há algum fim que desejamos por ele mesmo e os 
outros são desejados só por causa dele, e senão escolhemos 
indefinidamente alguma coisa em vista de outra (pois, nesse caso, iríamos 
ao infinito e nosso desejo seria fútil e vão), é evidente que tal fim só pode 
ser o bem, o Sumo Bem (...). Se assim é, devemos abarcar,pelo menos em 
linhas gerais, a natureza do Sumo Bem e dizer de qual saber ele provém. 
Consideramos que ele depende da ciência suprema e arquitetônica por 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
22 
excelência. Ora, tal ciência é manifestamente apolítica, pois é ela que 
determina, entre os saberes, quais são os necessários para as cidades e que 
tipos de saberes cada classe de cidadãos deve possuir (...). 
 
A política se serve das outras ciências práticas e legisla sobre o que é preciso fazer e 
do que é preciso abster-se; assim sendo, o fim buscado por ela deve englobar os fins de 
todas as outras, onde se conclui que o fim da política é o bem propriamente humano. 
Mesmo se houver identidade entre o bem do indivíduo e o da cidade, é manifestamente 
uma tarefa muito mais importante e mais perfeita conhecer e salvaguardar o bem da cidade, 
pois o bem não é seguramente amável mesmo para um indivíduo, mas é mais belo e mais 
divino aplicado a uma nação ou à cidade. 
 
Platão identificara a justiça no indivíduo e a justiça na polis. Aristóteles subordina o 
bem do indivíduo ao Bem Supremo da polis. Esse vínculo interno entre ética e política 
significava que as qualidades das leis e do poder dependiam das qualidades morais dos 
cidadãos e vice-versa, isto é, das qualidades da cidade dependiam as virtudes dos cidadãos. 
Somente na cidade boa e justa os homens podem ser bons e justos; e somente homens bons 
e justos são capazes de instituir uma cidade boa e justa. 
 
4.3.6 Principais Teorias Éticas 
 
Os conceitos éticos são extraídos da experiência e do conhecimento da 
humanidade. Baseado nas lições de estudiosos da ética, há algumas teorias a respeito da 
formação dos conceitos éticos, os quais também se denominam como preceitos, a saber: 
 
 O relativismo moral: 
 
O relativismo moral é a teoria que conceitua as afirmações morais (isso é bom, 
aquilo é mau) como relativas à cultura. Para o relativista moral, não existe algo 
objetivamente bom ou mau; o relativista moral afirma que algo considerado mau em 
determinada cultura pode ser considerado bom em outra cultura. O relativista moral tende a 
considerar que “bom” é aquilo que é socialmente aprovado e “mau” é aquilo que é 
socialmente desaprovado em determinada cultura. 
 
 O absolutismo moral: 
 
O absolutismo moral é a teoria que afirma que existem valores morais objetivos. 
Para o absolutista moral, uma ação é boa ou má, independentemente da cultura à qual o 
agente pertença. O absolutista moral parte de princípios éticos definidos e deles deduz suas 
proposições morais. 
 
 O utilitarismo: 
 
O utilitarismo é a teoria que afirma que se deve buscar maximizar os benefícios e 
minimizar os malefícios para a maior quantidade de pessoas. O utilitarista faz uma espécie 
de cálculo ético para chegar à conclusão de que uma ação é boa (a que maximiza os 
benefícios e minimiza os malefícios) e outra é má (a que não maximiza os benefícios e/ou 
não minimiza os malefícios). 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
23 
 O fundamentalismo: 
 
Esta teoria propõe que os conceitos éticos sejam obtidos de uma fonte externa ao 
ser humano, a qual pode ser um livro (como a Bíblia), um conjunto de regras, ou até mesmo 
outro ser humano. 
 
 A teoria kantiana: 
 
Defendida por Emanuel Kant, propõe que o conceito ético seja extraído do fato de 
que cada um deve se comportar de acordo com princípios universais. 
 
 A teoria contratualista: 
 
Baseada nas ideias de John Locke e Jean Jacques Rousseau, parte do pressuposto de 
que o ser humano assumiu com seus semelhantes a obrigação de se comportar de acordo 
com as regras morais, para poder conviver em sociedade. Os conceitos éticos seriam 
extraídos, portanto, das regras morais que conduzissem à perpetuação da sociedade, da paz 
e da harmonia do grupo social. 
 
O estudo de todas essas teorias revela que os conceitos éticos precisam ser 
elaborados tendo em conta todas elas, mas sem se ater a uma em especial. Cada conceito 
ético, para ser aceito como tal precisa claramente encontrar guarida em pelo menos uma 
teoria. São todos relativos, e como tal devem ser entendidos. Não existem verdades 
absolutas ou exatas em matéria de ética. A reflexão permanente é requerida. 
 
 Teorias éticas – práticas: 
 
a) a ética da convicção, entendida como deontologia (estudo dos deveres); e, 
b) a ética da responsabilidade, conhecida como teleologia (estudo dos fins 
humanos). 
 
Toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas totalmente 
diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela ética da responsabilidade 
ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer que a ética da convicção seja idêntica à 
ausência de responsabilidade e a ética da responsabilidade à ausência de convicção. Não se 
trata evidentemente disso. Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem age 
segundo as máximas da ética da convicção. Em linguagem religiosa, diz-se: “o cristão faz seu 
dever e no que diz respeito ao resultado da ação remete-se a Deus”. Enquanto a atitude de 
quem age segundo a ética da responsabilidade diz: “devemos responder pelas 
consequências previsíveis de nossos atos”. 
 
A ética da convicção é uma ética que se pauta por valores e normas previamente 
estabelecidos, cujo efeito primeiro consiste em moldar as ações que deverão ser praticadas. 
Ela se subdivide em: a do princípio e a da esperança. A primeira está restrita às normas 
morais estabelecidas, num deliberado desinteresse pelas circunstâncias, e cuja máxima 
sentencia: respeite as regras haja o que houver. A segunda se ancora em ideais, moldada por 
uma fé capaz de mover montanhas, e cuja máxima preconiza: o sonho antes de tudo. 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
24 
Essas vertentes correspondem a modulações de deveres, preceitos, dogmas ou 
mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos. Como exemplo da ética da 
convicção, o Cônsul português Aristides de Sousa Mendes, lotado no porto francês de 
Bordeaux, preferiu ter compaixão a obedecer cegamente a seu governo e regeu seu 
comportamento pela ética da convicção. Priorizou a seus riscos e custos um valor em relação 
ao outro. Diante do avanço do exército alemão em junho de 1940, salvou a vida de 30 mil 
pessoas, entre as quais 10 mil judeus, ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um 
que pedisse, num ritmo frenético. 
 
A ética da responsabilidade se caracteriza por considerar cada um responsável por 
aquilo que faz. Os agentes avaliam os efeitos previsíveis que uma ação produz; constam 
obter resultados positivos para a coletividade; e ampliam o leque das escolhas ao preconizar 
que “dos males, o menor”. 
 
Exemplificando a ética da responsabilidade, diante da queda acentuada das 
receitas, um dos cenários possíveis é o da forte redução das despesas com o consequente 
corte de pessoal. O que fazer? Manter o dispêndio representado pela folha de pagamento e 
agravar a crise (talvez até pedir concordata), ou diminuir o desembolso e devolver à 
empresa o fôlego necessário para tentar ficar à tona na tormenta? Vale dizer, cabe ou não 
cabe sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar a sobrevinda ao resto da tripulação e 
ao próprio navio? E o que mais interessa do ponto de vista social? Uma empresa que feche 
as portas ou uma empresa que gere riquezas? 
 
A ética da responsabilidade, assim como a da convicção, está alicerçada em duas 
vertentes: a utilitarista e da finalidade. A primeira exige que as ações produzam o máximo de 
bem para o maior número, isto é, que possam combinar a mais intensa felicidade possível 
(critério da eficácia) com a maior abrangência proporcional (critério da equidade). Sua 
máxima recomenda: faça o maior bem para mais gente. A segunda determina que a 
bondade dos fins justifique as ações empreendidas e supõe que todas as medidas 
necessárias serão tomadas. Sua máxima ordena: alcance os objetivos custe o que custar. 
 
A doutrina enfocada, conclui-se que, enquanto aqueles que pendem pela ética daconvicção guiam-se por imperativos da consciência e os que seguem a ética da 
responsabilidade guiam-se por uma análise de riscos. 
 
É necessário lembrar-se: a moral é a consideração do que é bem ou mal. A ética é o 
estudo das teorias que vão explicar a moral. A moral é a prática, a ética é a teoria. 
 
4.3.7 Ética e Desenvolvimento Sustentável 
 
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento 
capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de 
atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os 
recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar 
dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. O que é preciso 
fazer para alcançar o desenvolvimento sustentável? 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
25 
Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do 
reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma 
nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente. Muitas 
vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do 
consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser 
insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade 
depende. 
 
Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos 
naturais dos países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade 
biológica, como o próprio crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, 
de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e 
produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. 
 
Os modelos de desenvolvimento dos países industrializados devem ser seguidos? O 
desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a seguir não 
pode ser o mesmo adotado pelos países industrializados, mesmo porque não seria possível. 
Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrões das sociedades do Norte, a 
quantidade de combustíveis fósseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de 
recursos minerais, 200 vezes. Ao invés de aumentar os níveis de consumo dos países em 
desenvolvimento, é preciso reduzir os níveis observados nos países industrializados. 
 
Os crescimentos econômico e populacional das últimas décadas têm sido marcados 
por disparidades. Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da 
população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 
70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial. Conta-se que 
Mahatma Gandhi, ao ser perguntado se depois da independência, a Índia perseguiria o estilo 
de vida britânico, teria respondido: "a Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do 
planeta para alcançar sua prosperidade. Quantos planetas não seriam necessários para que 
um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?". 
 
A sabedoria de Gandhi indicava que os modelos de desenvolvimento precisam 
mudar. Os estilos de vida das nações ricas e a economia mundial devem ser reestruturados 
para levar em consideração o meio ambiente. O Fórum de Copenhagen (01/2010) serviu 
para medir de uma vez por todas o tamanho do egoísmo dos países desenvolvidos, 
sobretudo quanto ao consumo de energia, que é igual a quanto maior, mais crescimento, de 
parte dos países em desenvolvimento. Ficou claro que eles podem consumir a energia que 
quiserem, enquanto que os países em desenvolvimento terão que diminuir o consumo de 
energia, que significa diminuir a produção, gerar menos emprego e renda, crescer menos, 
etc. Barbaridade em dose dupla. 
 
Mais uma vez eles mistificam a realidade. De um lado, preservar o meio ambiente é 
uma necessidade vital e um comportamento fundamental para o ser humano. Diminuir a 
emissão de CO² é necessário para o planeta como um todo, porém não dá mais para aceitar 
tanta mistificação porque, na realidade, o problema climático, ambiental e etc., não está 
localizado dentro do contexto econômico que eles mistificam para evitar o avanço 
inexorável dos países emergentes, sobretudo aqueles relativos aos BRICS, acrônimo para o 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
26 
grupo constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 
 
São conhecidos os riscos do atual modelo de desenvolvimento, há recursos e 
tecnologia e se sabe o que deve ser feito para alcançar a justiça social e cuidar do planeta. 
Neste sentido, opção pelo desenvolvimento sustentável depende apenas da vontade política 
dos governos e da sociedade como um todo. Ou seja, trata-se de uma escolha ética. 
 
Nessa dimensão reflexiva, é importante pontuar a correlação ou a relação biunívoca 
existente entre as ciências sociais. Assim sendo, não poderemos deixar de considerar o 
universo que compõe esse cenário, evidenciando os seguintes fatores básicos para o estudo 
da economia: 
 
a) dotação de recursos: compreende todos os recursos disponíveis numa 
economia. É o que se usa para produzir bens; 
b) tecnologia: é o menu da economia moderna, oferece todas as combinações 
diferentes de recursos que podem ser utilizados para a produção de bens e 
serviços; 
c) preferência dos indivíduos: depende dos bens e serviços que a economia deve 
produzir. As preferências das pessoas determinam suas decisões; e, 
d) instituições econômicas: são as normas que regulam as relações em uma 
determinada economia. São formalmente codificadas em leis (leis tributárias, leis 
trabalhistas, leis da propriedade, etc.). 
 
E dentro desse contexto de análise centrada na fundamentação econômica que se 
pontuam, também, alguns aspectos da ação econômica e seus principais condicionamentos, 
ou seja, os fatores condicionantes da ação, das relações e do comportamento econômico e 
que podem também ser condicionados por elas: 
 
a) forma de organização política da sociedade; 
b) posturas ético-religiosas; 
c) modos de relacionamento social; 
d) condições limitativas do meio ambiente; 
e) estrutura da ordem jurídica; 
f) formação cultural da sociedade; 
g) padrões das conquistas tecnológicas. 
 
Muitas vezes são as empresas criticadas por não desenvolverem produtos 
ecológicos ou por seguirem lógicas produtivas socialmente nefastas. No entanto, se 
realmente se defende a liberdade e a responsabilidade dever-se-á, para além de inquirir as 
empresas, confrontar os consumidores com os seus atos e as suas opções. Não é justo nem 
benéfico utilizar as empresas como bode expiatório da má consciência global e, por outro 
lado, tratar os consumidores como se fossem crianças. 
 
Os clientes, os consumidores, são a chave para alguns dos dilemas que se colocam 
no que respeita à exequibilidade da ética empresarial. Proliferam os rankings de empresas 
que são boas empregadoras, desenhados por instituições ou órgãos de comunicação; há 
também já múltiplos fundos éticos e até índices como o FTSE4Good, destinado a facilitar o 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
27 
investimento socialmente responsável e a aposta em empresas guiadas por uma gestão 
transparente. 
 
A ética do consumidor é a melhor contrapartida que pode haver para uma ética da 
empresa. À responsabilidade da empresa deve corresponder a responsabilidade do 
consumidor, que deve se preocupar em adotar um consumo consciente e crítico em face de 
políticas de contratação, higiene, segurança, transparência, honestidade no seio das 
empresas que produzem os bens ou fornecem os serviços que vai adquirir. De fato, muito da 
crítica ao capitalismo é uma crítica à democracia, na medida em que é uma crítica à 
capacidade de escolha de cada indivíduo. A maturidade em todas as escolhas efetuadas 
pelas pessoas é decisiva para formatar os estados em que vivem, as sociedades na qual se 
movem e os mercados que as abastecem. Isto corresponde precisamenteà persecução do 
projeto iluminista numa época pós-convencional de, como Kant afirmou, de o indivíduo ser 
capaz de guiar-se por si próprio, assumir o peso de sair da menoridade confortável a que o 
consumo automático o restringe. 
 
A ética do consumo não faz parte da ética empresarial, mas é a consequência lógica 
da mesma, uma exigência de justiça; movendo-nos no plano da ética e não do direito, a 
coação não pode ser jurídica. No entanto, a coação moral num sujeito coletivo como é a 
empresa, só pode dar-se a partir de algo tangível. O consumismo (ético e ecológico) é a 
recompensa prática da empresa ética e a punição da empresa que se furta a ser responsável. 
 
4.3.8 Ética e o Mundo do Trabalho 
 
Esta subseção abordará a importância ética no mundo do trabalho, como ela se 
estabelece no ambiente empresarial. 
 
 Ética empresarial: 
 
Ética empresarial é o comportamento da empresa - entidade lucrativa - quando ela 
age em conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela 
coletividade (regras éticas). A atividade empresarial é eticamente fundada e orientada, 
quando se cria emprego, se proporciona habitação, alimentação, vestuário e educação, 
detendo os bens como quem os administra. Para os cristãos, a ética empresarial é justiça e 
obras de misericórdia. Para muitos outros será a lei natural que diz que ninguém pode ser 
feliz / rico no meio de infelizes / pobres. A ética empresarial, ainda, consiste na busca do 
interesse comum, ou seja, do empresário, do consumidor e do trabalhador. 
 
 A importância da ética empresarial: 
 
Todo sistema que diminui a relevância da ética, tornando tal valor desprezível, 
tende a não respaldar os reclamos da sociedade, a tornar o Estado que o produziu menos 
democrático, quando não totalitário, e termina por durar tempo menor que os demais 
ordenamentos que a reconhecem. 
 
Além de outros dispositivos constitucionais, onde a ética permeia, verifica-se que é 
no capítulo VII, do título III da Constituição Federal de 1988, que se encontra de forma mais 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
28 
evidente a imposição da necessidade da ética, no exercício da honrosa função de servir a 
sociedade, estando esse princípio dentre os mais importantes da Administração Pública, a 
saber: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
 
No âmbito da atividade empresarial, os princípios éticos que norteiam o direito, 
estampados na Ordem Econômica e Financeira, fundamentam-se na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, reprimindo o abuso do poder econômico, incentivando a livre 
concorrência, dando tratamento preferencial às empresas de pequeno porte, proibindo a 
atuação do Estado na área específica da iniciativa privada, a não ser em caráter excepcional 
(segurança nacional ou relevante interesse coletivo). 
 
O § 4º, do art. 173, da Constituição Federal de 1988, estabeleceu as práticas que 
devem ser evitadas na exploração da atividade econômica, por ferir a ética empresarial, 
dispondo que: "A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos 
mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros". 
 
Evoluímos, assim, para uma sociedade em que alguns denominaram "pós-
capitalista" e outros "neocapitalista" ou ainda "sociedade do saber", caracterizada pela 
predominância do espírito empresarial e pelo exercício da função reguladora do direito. O 
Estado reduz-se a sua função de operador para tornar-se o catalisador das soluções, o 
regulador e o fiscal da aplicação da lei e a própria administração se desburocratiza. O 
espírito empresarial, por sua vez, cria parcerias que se substituem aos antigos conflitos de 
interesses que existiam, de modo latente ou ostensivo, entre empregados e empregadores, 
entre produtores e consumidores e entre o Poder Público e a iniciativa privada. 
 
A sociedade contemporânea apresenta um novo modelo para que a empresa possa 
progredir e o Estado evolua adequadamente, mediante a mobilização construtiva de todos 
os participantes, não só do plano político, pelo voto, mas também no campo econômico, 
mediante várias formas de parceria, com base na confiança e na lealdade que devem 
presidir as relações entre as partes. 
 
Neste contexto, a empresa, abandonando a organização hierarquizada, "apodera do 
mundo empresarial, com os valores que lhes são próprios, como iniciativa, 
corresponsabilidade, comunicação, transparência, qualidade, inovação e flexibilidade”. Vê-
se, portanto, que a empresa, abandonando sua estrutura originária, sob o comando dos 
proprietários de companhia, agora, se sujeita, a uma nova forma de governo, com maior 
poder atribuído aos acionistas e empregados e até a própria sociedade civil, passando a ter 
verdadeiros deveres, não só com os seus integrantes e acionistas, mas também com os seus 
consumidores, clientes e até com o meio ambiente. 
 
A Lei n. 6.404/76, que disciplina as sociedades por ações, enumera de forma precisa 
e detalhada os deveres e responsabilidades dos administradores, a função social da 
empresa, orientando no sentido de que o administrador deve exercer as atribuições que a lei 
e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as 
exigências do bem público e da função social da empresa (art. 154). 
 
É preciso ressaltar que hoje, no que tange à matéria contratual, ao contrário do que 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
29 
acontecia no passado, onde o direito além de exigir a completa boa-fé, proporciona 
proteção mais adequada ao comerciante mais frágil, transmuta-se, assim, de um regime de 
completa liberdade para uma nova ordem na qual a liberdade das partes importa 
responsabilidade, devendo inspirar-se em princípios éticos, abandonando-se a igualdade 
formal para atender às situações respectivas dos contratantes, ou seja, à igualdade material. 
Na questão ambiental, há que se ressaltar que o meio ambiente transformou-se em um 
valor permanente para a sociedade, de forte conteúdo ético. Assim, protegê-lo tornou-se 
um imperativo para todos os habitantes da terra, exigindo que cada um se conscientize 
dessa grande necessidade, requerendo esforço comum, em resposta aos desafios do futuro. 
 
Exige-se, portanto, que as empresas promovam o desenvolvimento sustentável, 
conforme tem insistido a Câmara de Comércio Internacional. É preciso pensar e pensar 
rápido, com coragem e ousadia, numa nova ética, para o desenvolvimento. Numa ética que 
transcenda a sociedade de mercadoria, da suposta generalização dos padrões de consumo 
dos países ricos para as sociedades periféricas – promessa irrealizável de certas correntes 
desenvolvimentistas do passado e dos neoliberais de hoje em dia. Tal promessa não passa 
de um jogo das contas de vidro, recheado de premissas falsas, devido a obstáculos políticos 
criados pelos países ricos (que brecam a generalização da riqueza) e as limitações impostas 
pela base de recursos naturais. Ou seja, as limitações ecológicas inviabilizam (devido ao 
efeito estufa, destruição da camada de ozônio, dilapidação das florestas tropicais etc.) a 
homogeneização para toda a humanidade dos padrões dos gastos do consumo. 
 
Hoje, as grandes entidades financeiras nacionais e estrangeiras só aprovam 
financiamentos cujos projetos não afetem o meio ambiente. Dentro desse contexto, 
decidindo a empresa adotar os postulados éticos em suas relações, nada mais necessário do 
que estabelecer as regras de conduta a partir de um instrumento interno, ou seja, elaborar 
um Código de Ética, que teria a incumbência de padronizar e formalizar o entendimento da 
organização empresarial em seus diversos relacionamentos e operações. Com ele, poder-se-
á evitar que os julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação plena 
dos princípios, além de que, pode constituir uma prova legal de determinação da 
administração da empresa, de seguir os preceitos nele refletidos. 
 
 A responsabilidade social das empresas: 
 
A empresatem sido entendida, doutrinariamente, como uma "atividade econômica 
organizada, exercida profissionalmente pelo empresário, através do estabelecimento". 
Extraem-se daí os três conceitos básicos da empresariedade: o empresário, o 
estabelecimento e a atividade. Para melhor entendimento da empresa sob o enfoque da 
ética, traz-se à colação o pensamento de Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões Pedreira 
sobre a empresa – a grande empresa – enfocando-a como a célula de base de toda a 
economia industrial. Em economia de mercado, é, com efeito, no nível da empresa que se 
efetua a maior parte das escolhas que comandam o desenvolvimento econômico: definição 
de produtos, orientação de investimentos e repartição primária de vendas. 
 
Este papel motor da empresa é, por certo, um dos traços dominantes de nosso 
modelo econômico: por seu poder de iniciativa, a empresa está na origem da criação 
constante da riqueza nacional; ela é, também, o lugar da inovação e da renovação. Os 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
30 
autores vão além e afirmam que: a macroempresa envolve tal número de interesses e de 
pessoas - empregados, acionistas, fornecedores, credores, distribuidores, consumidores, 
intermediários, usuários -, que tende a transformar-se realmente em centro de poder tão 
grande que a sociedade pode e deve cobrar-lhe um preço em termos de responsabilidade 
social. Seja a empresa, seja o acionista controlador, brasileiro ou estrangeiro, todos têm 
deveres para a comunidade na qual vivem. 
 
Os autores concluem dizendo que essa revolução que se está operando nos países 
da vida ocidental - como resposta, até certo ponto surpreendente e admirável, às exigências 
de conciliar a eficiência insubstituível da macroempresa com a liberdade de iniciativa e a 
distribuição da riqueza - não foi feita, nem poderá sê-lo, sem a compreensão e a efetiva 
colaboração dos empresários - que a lideraram -, das instituições comerciais, que a 
secundaram, dos investidores que a compreenderam e apoiaram, e do Estado, que a 
estimularam, disciplinaram e removeram os obstáculos jurídicos para que ela se realizasse 
na plenitude. 
 
 Evolução da ética empresarial: 
 
A doutrina no âmbito do direito empresarial tem conceituado a empresa como uma 
atividade econômica organizada pelo empresário, que se utiliza dos fatores da produção - a 
natureza, o capital e o trabalho - para produzir um resultado, que pode ser um serviço, um 
bem ou um direito, para venda no mercado, com o objetivo final de lucro. 
 
A história nos dá conta de que, nas sociedades primitivas e antigas, a atividade 
econômica se baseava na troca de mercadoria por mercadoria, não existindo nesse período 
a ideia de lucro e nem de empresa. Portanto, a ética se restringia às relações de poder entre 
as partes e pelas eventuais necessidades presentes de obtenção de certos bens ou artigos. 
 
O surgimento do conceito de lucro nas operações de natureza econômica trouxe 
certa dificuldade para a moral, posto que ele (o lucro) era originariamente considerado um 
acréscimo indevido, sob o ponto de vista da moralidade. Somente no século XVIII, o 
economista Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, conseguiu demonstrar que o 
lucro não é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuição de renda e de promoção 
do bem-estar social, expondo pela primeira vez a compatibilidade entre ética e atividade 
lucrativa. 
 
A encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, foi a primeira tentativa formal de 
impor um comportamento ético à empresa. Esse documento papal trouxe no seu bojo 
princípios éticos aplicáveis nas relações entre a empresa e empregados, valorizando o 
respeito aos direitos e à dignidade dos trabalhadores. 
 
Surge nos Estados Unidos em 1890, a Lei Shelman Act, destinada a proteger a 
sociedade contra os acordos entre empresas, contrários ou restritivos da livre concorrência. 
No início do século XX, foi editada a Lei Clayton, alterada pela Pattman-Robison, que 
complementou a lei Shelman Act, proibindo a prática de discriminação de preços por parte 
de uma empresa em relação aos seus clientes. 
 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
31 
Em 1972, realizou-se a Conferência Internacional Sobre o Meio Ambiente, em 
Estocolmo, Suécia, organizada pela Organização das Nações Unidas, que teve como 
finalidade conscientizar todos os segmentos sociais, inclusive as empresas sobre a 
necessidade de se preservar o planeta. Cinco anos após, o governo americano legisla sobre a 
ética empresarial, por meio da edição da Lei Foreign Corrupt Practices Act, que proíbe e 
estabelece penalidades às pessoas ou organizações que ofereçam subornos às autoridades 
estrangeiras, com a finalidade de obter negócios ou contratos. 
 
No Brasil, foi editada a Lei n. 4.137/62, alterada pela Lei n. 8.884/94, que reprime o 
abuso do poder econômico e as práticas concorrenciais. Em diversas outras áreas, como nas 
de proteção ao trabalho, do meio ambiente, do consumidor, existem leis específicas, 
tratando da questão da ética. 
 
Diante dessa preocupação mundial com a ética empresarial, pode-se afirmar que se 
vive uma nova era nessa matéria. Relativamente, a evolução da ética na empresa societária, 
ao que se tem notícia, até o fim da primeira metade do século XX, os conflitos societários 
eram solucionados na própria empresa, sendo poucas as demandas judiciais. Prevalecia o 
poder daquele que majoritariamente comandava a empresa. Esse período foi chamado de 
fase monárquica da sociedade comercial. Aplicava-se a visão do banqueiro alemão, ao qual 
se atribui a qualificação dos acionistas minoritários como sendo tolos e arrogantes. Tolos 
porque lhe entregavam o dinheiro, e arrogantes, pois ainda pretendiam receber os 
dividendos. 
 
Paulatinamente, vai-se criando nova consciência nessas relações, e os controladores 
passam a buscar o consenso junto aos demais participantes da sociedade (empregados, 
minoritários etc.). No Brasil, a partir da metade do século XX, já há uma preocupação do 
direito brasileiro para com os direitos dos minoritários, possibilitando-lhes o recebimento 
dos dividendos, o recesso e responsabilizar os administradores e controladores da 
companhia. 
 
É o primeiro passo para a democratização e moralização da empresa, mediante a 
criação de um sistema de liberdade com responsabilidade, que sucedeu ao regime da mais 
completa irresponsabilidade. Verifica-se, modernamente, que a legislação brasileira 
consagra os conceitos de abuso de direito e de responsabilidade pelo desvio de poderes. A 
Lei n. 6.404/76, assim como a legislação do mundo inteiro, tem reconhecido que o poder do 
voto deve ser exercido no interesse da sociedade, consoante dispõe o artigo 115 da citada 
lei: 
 
O acionista deve exercer o direito de voto no interesse da companhia; 
considerar-se-á abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à 
companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, 
vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar prejuízo para 
companhia ou para outros acionistas. 
 
A obediência à ética e aos bons costumes se impôs até aos acordos de acionistas, 
cujas cláusulas ilegais, abusivas ou imorais não podem ser consideradas vinculatórias para os 
seus signatários. 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
32 
 Valores éticos: interpretação: 
 
Como interpretar os valores éticos? A interpretação de valores éticos pode ser 
absoluta ou relativa. A primeira baseia-se na premissa de que as normas de conduta são 
válidas em todas as situações, e a segunda de que as normas dependem da situação. 
 
No que tange à ética relativa, os orientais entendem que os indivíduos devem 
dedicar-se inteiramente à empresa, que constitui uma família à qual pertence a vida dos 
trabalhadores. Já, para os ocidentais, o entendimento é de que há diferença entre a vida 
pessoal e a vida profissional. Assim, encerrado o horário normal do trabalho, o restante do 
tempo é do trabalhador e não do patrão. 
 
Quanto à ética absoluta, parte-se do princípio de quedeterminadas condutas são 
intrinsecamente erradas ou certas, qualquer que seja a situação, e, dessa maneira, devem 
ser apresentadas e difundidas como tal. Um problema sério da ética absoluta é que a noção 
de certo e errado depende de opiniões. 
 
Como exemplo disto, os bancos suíços construíram uma reputação de 
confiabilidade com base na preservação do sigilo sobre suas contas secretas. Sob a 
perspectiva absoluta, para o banco, o correto é proteger a identidade e o patrimônio do 
cliente. Durante muito tempo, os bancos suíços foram admirados por essa ética, até ficar 
evidente que os clientes nem sempre eram respeitáveis. 
 
Traficantes de drogas, ditadores e nazistas haviam escondido nas famosas contas 
secretas muito dinheiro ganho de maneira ilícita. Os bancos continuaram insistindo em sua 
política, enquanto aumentavam as pressões internacionais, especialmente dos países 
interessados em rastrear a lavagem de dinheiro das drogas, ou recuperar o que havia sido 
roubado pelos ditadores e nazistas. Para as autoridades destes países, a ética absoluta dizia 
que o sigilo era intrinsecamente errado, uma vez que protegia dinheiro obtido de forma 
desonesta. Finalmente, as autoridades suíças concordaram em revelar a origem dos 
depósitos e iniciar negociações visando à devolução do dinheiro para os seus donos. 
 
 Razões para a empresa ser ética: 
 
A maioria dos autores que estudam a questão da ética empresarial estabelece que 
o comportamento ético seja a única maneira de obtenção de lucro com respaldo moral. A 
sociedade tem exigido que a empresa sempre puna pela ética nas relações com seus 
clientes, fornecedores, competidores, empregados, governo e público em geral. 
 
O comportamento ético dentro e fora da empresa permite às companhias 
inteligentes baratear os produtos, sem diminuir a qualidade e nem baixar os salários, porque 
uma cultura ética torna possível reduzir os custos de coordenação. Além dessas, outras 
razões podem ser invocadas como o não pagamento de subornos, compensações indevidas 
etc. Agindo eticamente, a empresa pode estabelecer normas de condutas para seus 
dirigentes e empregados, exigindo que ajam com lealdade e dedicação. 
 
Os procedimentos éticos facilitam e solidificam os laços de parceria empresarial, 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
33 
quer com clientes, quer com fornecedores, quer, ainda, com sócios efetivos ou potenciais, 
Isso ocorre em função do respeito que um agente ético gera em seus parceiros. A ética da 
empresa trata de mostrar, então, que optar por valores que humanizam é o melhor para a 
empresa, entendida como um grupo humano, e para a sociedade em que ela opera. 
 
A atividade empresarial não é só para ganhar dinheiro. Uma empresa é algo mais 
que um negócio: é antes de tudo um grupo humano que persegue um projeto, necessitando 
de um líder para levá-lo a cabo, e que precisa de um tempo para desenvolver todas as suas 
potencialidades. Entende-se que a ética deve estar acima de tudo, e que a empresa que age 
dentro dos postulados éticos aceitos pela sociedade só tende a prosperar. 
 
 Ética profissional: 
 
Um profissional deve saber diferenciar a Ética da moral e do direito. A moral 
estabelece regras para garantir a ordem independente de fronteiras geográficas. O direito 
estabelece as regras de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis têm 
uma base territorial, valendo apenas para aquele lugar. As normas jurídicas obrigam os 
cidadãos de forma coercitiva, ou seja, independente da vontade pessoal. Já a norma ética 
não obriga coativamente a pessoa que a descumpre. Pessoas afirmam que em alguns pontos 
elas podem gerar conflitos. O desacato civil ocorre quando argumentos morais impedem 
que uma pessoa acate certas leis. Às vezes as propostas da ética podem parecer justas ou 
injustas. Ética é diferente da moral e do direito, porque não estabelece regras concretas. 
 
A Ética profissional se inicia com a reflexão. Quando se escolhe uma profissão, 
passa-se a ter deveres profissionais obrigatórios. Os jovens quando escolhem sua carreira, 
escolhem pelo dinheiro e não pelos deveres e valores. Ao completar a formação em nível 
superior, a pessoa faz um juramento, que significa seu comprometimento profissional. Isso 
caracteriza o aspecto moral da ética profissional. Mesmo que não se exerça uma atividade 
dentro da área de interesse do profissional, isto não o isenta dos deveres e obrigações que 
este tem a cumprir. 
 
Ser um profissional ético nada mais é do que ser profissional mesmo nos momentos 
mais inoportunos. Para ser uma pessoa ética, devemos seguir um conjunto de valores. Ser 
ético é proceder sem prejudicar os outros. Algumas das características básicas de como ser 
um profissional ético é ser bom, correto, justo e adequado. Além de ser individual, qualquer 
decisão ética tem por trás valores fundamentais, tais como: 
 
a) ser honesto em qualquer situação - é a virtude dos negócios; 
b) ter coragem para assumir as decisões - mesmo que seja contra a opinião alheia; 
c) ser tolerante e flexível - deve-se conhecer para depois julgar as pessoas; 
d) ser íntegro - agir de acordo com seus princípios; e, 
e) ser humilde - só assim se consegue reconhecer o sucesso individual. 
 
4.3.9 Problemas Morais 
 
De acordo com Alencastro (1997), a ética não é algo superposto à conduta humana, 
dado que todas as nossas atividades envolvem uma carga moral. O que define a nossa 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
34 
realidade são as ideias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido. 
 
Nas relações do dia a dia apresentam-se problemas do tipo: deve-se sempre dizer a 
verdade ou existem ocasiões em que se pode mentir? Será que é correto tomar tal atitude? 
Deve-se ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Existe alguma ocasião 
em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho? Os soldados que matam 
numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas 
cumprindo ordens? Como tratar a questão do aborto? Como lidar com a eutanásia, com o 
assédio moral? 
 
Essas perguntas evocam problemas cujas soluções, normalmente, não envolvem 
apenas a pessoa que os propõe, mas também outras pessoas que poderão sofrer as 
consequências das decisões e ações, consequências que poderão muitas vezes afetar uma 
comunidade inteira. 
 
Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas ações de 
forma quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" 
ou "receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos mais 
adequadas de serem cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e 
reconhecidas como válidas e obrigatórias. Fazemos uso de normas, 
praticamos determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de 
determinados argumentos para tomar decisões, justificar nossas ações e 
nos sentirmos dentro da normalidade (ALENCASTRO, 1997, p. 2). 
 
As normas sobre as quais se fala têm relação com valores morais. São os meios 
pelos quais os valores morais de um grupo social são manifestos e acabam adquirindo um 
caráter normativo e obrigatório. 
 
Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada sociedade são bem 
aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles. Mas, quando surgem 
questionamentos sobre a validade de certos costumes ou valores consolidados pela prática, 
surge a necessidade de fundamentá-los teoricamente, ou, para os que discordam deles, 
criticá-los (ALENCASTRO, 1997). 
 
Para que se compreenda melhor acerca de alguns problemas relativos à moral, que 
abrangem a área da saúde, aqui especificamente a enfermagem, é necessário que se 
abordem os conceitos da Bioética e seus principais temas: aborto, assédio moral, eutanásia, 
Aids e as relações médico-paciente. 
 
4.3.10 Bioética 
 
Schramm (2002) trata a Bioética como uma ética aplicada, que visa “dar conta” dos 
conflitos e controvérsias morais implicados pelas práticas no âmbito das Ciências da Vida e 
da Saúde, do ponto devista de algum sistema de valores (chamado também de “ética”). 
Para o autor, ela se destina a resolver os conflitos éticos concretos, aqueles que surgem das 
interações humanas em sociedades. A bioética tem uma tríplice função: a) enquanto função 
descritiva, ela descreve e analisa os conflitos em pauta; em sua função normativa, a bioética 
lida com os conflitos, no sentido de abolir os comportamentos que podem ser considerados 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
35 
reprováveis e de prescrever aqueles considerados corretos; e, em sua função protetora, 
intuitivamente, ela ampara, dentro do possível, todos os envolvidos em alguma disputa de 
interesses e valores, priorizando os mais fracos, quando isto se fizer necessário. 
 
Mais claramente falando, a bioética é um conjunto de pesquisas, discursos e 
práticas, cuja finalidade é esclarecer e resolver questões éticas suscitadas pelos avanços e 
pela aplicação da medicina e da biologia. Vários são os grupos, com interesses distintos, que 
debatem sobre a bioética, tais como indústrias farmacêuticas, laboratórios de biotecnologia, 
organizações ambientalistas, associações de consumidores e entidades de classe. 
 
Entre os temas mais abordados na bioética, observam-se o aborto, a eutanásia, os 
transgênicos, a fertilização in vitro, a clonagem e os testes com animais, além da relação 
médico-paciente, assédio moral, as questões envolvendo os pacientes com Aids, etc. As 
próximas seções tratarão sobre aborto, eutanásia, relações médico-paciente, assédio moral 
e Aids. 
 
 Aborto: 
 
Conforme afirmam Diniz e Almeida (1998), dentro da bioética o tema aborto é 
aquele sobre o qual mais se tem escrito, debatido e realizado congressos científicos e 
discussões públicas. No entanto, pouco se caminhou nesta questão nos últimos anos. Para 
os autores, a maior dificuldade para um leigo no assunto reside na literatura, pois fica difícil 
discernir sobre quais são os argumentos filosóficos e científicos consistentes em meio a uma 
infinidade de manipulações retóricas, o que dificulta apresentar um panorama dos estudos 
bioéticos relativos ao tema. 
 
Uma gama considerável de textos acadêmicos, políticos e religiosos entram em 
cena e é uma difícil missão selecionar dentre eles quais os mais significativos para se 
estabelecer um debate frutífero. Neste sentido, abordar-se-á aqui: a) a terminologia e os 
principais tipos de aborto; b) dados sobre a legislação; e c) o aborto enquanto um problema 
ético. 
 
 Terminologia: 
 
Diniz e Almeida (1998) advogam, ainda, que seria necessária uma avaliação 
semântica dos conceitos utilizados pelos pesquisadores que escrevem sobre o aborto, pelo 
fato de a variedade conceitual ser proporcional ao impacto social causado pela escolha de 
cada termo. Observa-se uma cadeia interminável de definições que geram confusões 
semânticas para os pesquisadores interessados em se aprofundar nesta temática. Os autores 
sugerem que se usem as nomenclaturas mais próximas do discurso médico oficial, para 
melhor entendimento do assunto. Assim sendo, eles apontam para quatro tipos de situação 
para o aborto: 
 
a) interrupção eugênica da gestação (IEG) – nestes casos, interrompe-se a gestação 
por valores racistas, sexistas ou étnicos. De uma forma geral, este tipo de aborto 
acontece alheio à vontade da gestante, que é obrigada a praticar o aborto; 
b) interrupção terapêutica da gestação (ITG) – nos casos em que se deve preservar 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
36 
a saúde da gestante. Dado o avanço da medicina, estes casos são considerados 
raros hoje em dia; 
c) interrupção seletiva da gestação (ISG) – nos casos de anomalias fetais. Nestes 
casos, justificam-se as solicitações de aborto dada a incompatibilidade da vida 
extrauterina, como o feto portador de anencefalia, por exemplo; e, 
d) interrupção voluntária da gestação (IVG) – nos casos em que a gestação é 
interrompida pela autonomia da gestante, como uma gravidez indesejada, seja 
ela fruto ou não de um abuso sexual. 
 
Observa-se que, exceto pela interrupção eugênica, as demais levam em 
consideração a vontade da gestante (ou do casal) em manter ou não a gravidez. Sobre estas 
formas também recaem as maiores discussões bioéticas. A ITG e ISG se assemelham, 
especialmente em países onde a legislação permite ambos os casos. No entanto, observa-se 
que além dos limites gestacionais impostos de forma diferente para cada caso, é importante 
salientar que no caso da ISG a saúde do feto é a razão do aborto, e na ITG, privilegia-se a 
saúde materna. 
 
Outra dificuldade reside, de acordo com Diniz e Almeida (1998), em nomear o 
resultado do aborto. Alguns autores chamam de ‘feto’, outros de ‘embrião’, outros ainda de 
‘criança’, ‘não nascido’, ‘pessoa’ ou ‘indivíduo’. Uns autores argumentam que um feto de 12 
semanas, por exemplo, pode sentir dor, enquanto que estudos da neurofisio-embriologia 
negam esta tese. Estas controvérsias geram ainda mais dificuldade no entendimento sobre o 
tema, uma vez que se mesclam argumentos científicos e crenças morais como se fossem 
receitas de bolo, afirmam os autores. E isto se observa tanto entre os proponentes da 
questão quanto entre os seus oponentes. 
 
  Legislação: 
 
Um marco para a legislação e políticas nacionais e internacionais acerca do aborto 
foi a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, que ocorreu no Cairo, 
no ano de 1994. Antes deste evento, é sabido que o tema do aborto não fazia parte da 
agenda de saúde pública de inúmeros países (DINIZ e ALMEIDA, 1998). 
 
Um dos métodos para o controle de natalidade mais utilizado e difundido desde o 
século XIX tem sido o aborto. Porém, é difícil estimar um cálculo preciso para a taxa mundial 
de aborto, dado que este é considerado crime em alguns países. Ainda assim, as taxas 
mundiais de aborto são muitíssimo elevadas, especialmente nos países da África e América 
Latina. Em que pese a contestabilidade sobre o levantamento demográfico acerca do 
número de abortos, o estudo das legislações comparadas se apresenta mais confiável, 
segundo Diniz e Almeida (1998). 
 
No ano de 1869 o Papa Pio IX declarou que a alma incorpora quando da concepção. 
Assim, as leis vigentes naquele século não permitiam qualquer forma de interrupção da 
gravidez. Entre os anos de 1950 e 1985, quase todos os países desenvolvidos liberalizaram as 
suas leis sobre o aborto por motivos de direitos humanos e segurança. E, desde, então da 
década de 1985 alguns países vêm modificando a sua legislação, tornando-a mais aberta 
para a prática. Em países onde o aborto ainda é ilegal, sente-se uma forte influência de 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
37 
antigas leis coloniais, que muitas vezes não refletem a opinião da população local. 
 
De acordo com levantamento feito em 2013, aproximadamente 25% da população 
mundial vivem em países com leis sobre o aborto altamente restritivas, especialmente na 
América Latina, África e Ásia. Em alguns países, como o Chile, as mulheres ainda vão para a 
prisão por praticarem um aborto ilegal. Alguns autores defendem a tese de que a legislação 
restritiva do aborto viola os direitos humanos das mulheres, prescritos com base na 
Conferência Internacional sobre a População e o Desenvolvimento, na Quarta Conferência 
Mundial das Mulheres em Pequim e na Declaração Universal dos Direitos. 
 
Atualmente, a legislação aponta para os seguintes casos: a) para alguns países, o 
aborto é ilegal em todas as circunstâncias ou é permitido apenas em caso de risco de vida da 
mulher, como, por exemplo, no Brasil, Chile, República Dominicana, Venezuela, México, 
Angola, Benin, Costa do Marfim, Senegal, Egito, Líbano, Indonésia, Filipinas, Irlanda, etc.; e b) 
o aborto é permitido por lei, apenas em risco de vida ou para proteger a saúde física da 
mulher, como no caso da Argentina, Bolívia, Equador, República dos Camarões, 
Moçambique, Marrocos, Tailândia, Polônia, etc. 
 
No Brasil, a legislação que trata do aborto foi criada na década de 1940. Emboraseja crime, poucos são os casos conhecidos de pessoas que foram presas em virtude da 
prática ilegal do aborto. Os artigos que tratam do aborto no Código Penal Brasileiro (Dos 
Crimes Contra as Pessoas), Capítulo I são: 
 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho 
provoque. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
Aborto provocado por terceiro: 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante. Pena - 
reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante. Pena - 
reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é 
maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o 
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. 
Forma qualificada: 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas 
de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados 
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são 
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico. 
Aborto necessário: 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de 
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 
 O aborto enquanto um problema ético: 
 
Salatiel (2010, p. 01) advoga que as ciências da vida, tais como a biologia e a 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
38 
medicina criaram uma série de dilemas éticos que são estudados pela filosofia. Dentro da 
filosofia encontra-se a bioética, e dentro desta encontra-se a médica ética, que trata de 
temas polêmicos tal como o aborto. Como já citado aqui, este é um dos pontos mais difíceis 
da ética médica, dado que envolve aspectos legais, religiosos, médicos, socioculturais, 
políticos. 
 
A discussão acerca do tema se situa entre duas posições que se opõem: de um lado, 
uma posição conservadora em favor da vida, que defende o direito moral da vida do feto; de 
outro lado, uma escolha libera, que entende a mulher em seu direito moral de dispor sobre 
o próprio corpo. Não se pode deixar de ressaltar também as posições intermediárias, como 
aquele que advoga ser errado o aborto, mas que apoia a sua prática quando em casos 
específicos, tais como o risco de morte para a mãe ou filho ou em casos de estupro. Há 
também os que são totalmente contra, sobretudo nos casos avançados da gestação. 
 
Em relação ao argumento de que o feto ou embrião tem direito moral à vida, este 
se sobressai diante da escolha da mulher, posto que a vida é um valor superior. A questão, 
então, recai sobre o fato de se considerar o feto como uma pessoa. Enquanto pessoa, não há 
dúvidas de que ele tem direito à vida, e neste sentido, o aborto é errado, se torna um 
problema ético. 
 
Para aquecer o debate, observa-se a conceituação de John Locke, que afirma que a 
pessoa é um ser inteligente, possuidor de razão e capacidade de reflexão. Neste sentido, o 
feto não possui autoconsciência nem capacidade de reflexão, portanto, não pode ser 
definido enquanto pessoa. Ampliando ainda mais a polêmica, percebe-se que, sendo assim, 
os pacientes em coma não teriam direito à vida, nem mesmo os recém-nascidos, visto que 
ainda não possuem a noção de self. Para tentar pôr fim à questão, a literatura muda a 
perspectiva, conceituando o feto como um indivíduo em potencial e, em razão disso, realizar 
um aborto seria privá-lo do direito à vida futura. 
 
Por outro lado, a mulher possui direito sobre o seu corpo e, assim sendo, pode 
decidir pela interrupção de uma gravides se assim o desejar. Este argumento se fortalece 
quando atrelado àquele que afirma que o embrião ainda não é um indivíduo com as 
capacidades desenvolvidas, portanto, não haveria conflito de interesses entre direitos da 
mulher e do feto. Ao se olhar por um prisma de uma gravidez indesejada, o aborto se 
justificaria pela preservação futura do bem-estar do feto, como argumentam alguns. 
 
Dallari (2013) afirma que o aborto fica mais evidente do ponto de vista de um 
problema ético, quando há um conflito entre direitos e deveres morais. Mas não há clareza 
qual obrigação ética gera o direito ao aborto, muito menos quem é o titular deste direito ou 
dever. Diante de um diagnóstico antenatal, de ‘ter os filhos que se quer e não os que não se 
quer’, como descreve a autora, levantam-se dúvidas sobre as técnicas e sua utilização, 
custos envolvidos, escolhas sociais e políticas aí implícitas em relação à autoridade de jugar a 
qualidade da vida humana e quanto às relações interpessoais. Tais questionamentos trazem 
dúvidas cada vez maiores e alimentam o debate, tornando o aborto, de fato, um problema 
ético de saúde pública. 
 
A questão não se encerra e os debates continuam, buscando estabelecer, em 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
39 
definitivo, se o feto é uma pessoa, portanto, possuidora de direito à vida, tendo este direito 
sobreposto à vontade da mãe, que, por sua vez, tem o direito de dispor como queira do seu 
corpo. Espera-se que esses debates permaneçam, se fundamentem cada vez mais e que 
forneçam dados concretos para a elaboração de leis sobre o aborto e para a criação de 
políticas públicas que valorizem 
 
 Eutanásia: 
 
De acordo com Urban (2010), a eutanásia é um tema polêmico, caracteristicamente 
ambíguo, causando confusão entre médicos, legisladores e cidadãos, especialmente no que 
diz respeito ao Brasil. Por sua etimologia, cuja raiz é grega, eu-thanatos quer dizer boa 
morte, ou seja, é a supressão piedosa da vida do paciente, no que tange ao plano ético e 
prático. Entende-se, então, que a eutanásia é a ação ou omissão realizada com o objetivo de 
suprimir a vida de um paciente, com o intuito de lhe garantir o fim do sofrimento, seja ele 
físico ou psíquico. 
 
Diante do exposto, já se pode observar a primeira polêmica, dado que a eutanásia 
não apenas consiste na ação, mas também na omissão de algo que poderia salvar a vida de 
um paciente. E o que fazer? Como atua a ética neste sentido? Como se apresentam aqui os 
valores morais? 
 
Em alguns países, como na Holanda e na Bélgica, por exemplo, a eutanásia é 
permitida, amparada, inclusive por lei. No estado de Oregon, nos EUA, vigora desde 2006 e 
há propostas de lei em outros estados. A Holanda configura com o país onde a eutanásia é 
mais conhecida e estudada, com cerca de 2.300 a 4.000 casos a cada ano, de acordo com 
pesquisas, com a maioria acontecendo em casa do paciente. 
 
No que diz respeito à opinião médica, muitos são os estudos acerca do tema, porém 
de difícil compreensão, em virtude das diferentes linguagens e metodologias utilizadas por 
eles. Os dados quanto a este tema no Brasil também são muito limitados. Entre os 
oncologistas, por exemplo, não há um consenso de que a eutanásia, uma vez legalizada, 
possa melhorar os cuidados no final da vida. Um estudo feito pelos membros da Sociedade 
Americana de Oncologia revelou que, em pacientes terminais, com dor intratável, a 
eutanásia e suicídio assistido tiveram o apoio de apenas 22,5% dos oncologistas. Eles 
consideram que se o paciente recebe cuidados paliativos de forma adequada não suscita 
encerrar a sua vida. 
 
Urban (2010) afirma que no Brasil são raros os pacientes que desejariam praticar ou 
realizar a eutanásia, mesmo se esta fosse permitida por lei. “Os conflitos relacionados a ela 
são geralmente resultantes de interpretações errôneas sobre a situação real do paciente, 
pouca atenção aos problemas físicos, emocionais ou espirituais do mesmo e de seus 
familiares” (URBAN, 2010, p. 90). 
 
Segundo o autor, os médicos que se opõem à eutanásia, embora não neguem o 
valor intrínseco que a autonomia e o alívio do sofrimento possuem, advogam que a cada 
direito se deva empregar um dever, e que estese vincule a liberdade de autodeterminação 
do cidadão, que seja regulada e limitada por um critério externo. É sabido, como reafirma 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
40 
Urban (2010), que nenhuma sociedade democrática existe sem levar em conta os critérios 
de justiça, portanto não deve ser limitada a autonomia de cada cidadão. 
 
No Brasil, uma vez permitida a eutanásia, os riscos seriam maiores que os 
benefícios, uma vez que o acesso à saúde não é igual para todos. Nem todo cidadão 
brasileiro consegue receber os melhores tratamentos, seque os cuidados paliativos. Outro 
agravante reside na falta de preparação dos profissionais de saúde. “A formação médica 
brasileira não contempla os elementos mais importantes envolvidos nas decisões sobre o 
final da vida” (URBAN, 2010, p. 90). Outra questão ainda mais relevante é o fato de que as 
decisões sobre a eutanásia poderiam levar em conta os aspectos socioeconômicos, 
voltando-se para os pacientes que tenham o custo elevado para o sistema único de saúde 
bem como para os seus familiares. Há ainda a questão da dificuldade em se realizar um 
controle efetivo para que o processo pudesse ocorrer de acordo com os ditames legais. 
 
Sabe-se que, muitas vezes, o sofrimento do paciente suscita dos médicos e 
familiares muitas questões, que envolvem o afeto e compaixão pela sua dor, mas também os 
aportes legais e o direito de dispor da vida do outro. Não se tem uma preparação neste 
sentido. O autor sugere que o debate acerca deste tema, no Brasil, deva ser tratado no 
sentido de redirecionar a formação médica, humanizando-a, levando o profissional a 
entender o seu papel de cuidar, mais do que de curar, e a buscar aprimorar os cuidados 
paliativos de modo a alcançar todos os pacientes que dele necessitem. 
 
 Relação médico-paciente: 
 
Em artigo publicado em 2007, o Doutor Cláudio Barsanti, diretor de defesa 
profissional, da Sociedade de Pediatria de São Paulo, afirmou que a medicina atual vem 
crescendo cada vez mais, ao ponto de estar preparada para eliminar sofrimentos e salvar 
vidas. Os avanços da ciência e da tecnologia têm permitido às pessoas melhores condições 
de saúde mais longevidade. A cada quinquênio o conhecimento médico vem e ampliando, 
trazendo novas descobertas, com possibilidades de curas para muitas doenças até então 
incuráveis. 
 
Apesar disto, segundo Barsanti (2007), a relação médico-paciente continua 
carecendo de melhor tratamento. É sabido que o sucesso do tratamento depende, sem 
dúvidas, da inter-relação que se estabelece entre o médico e o seu paciente. O autor afirma 
que é preciso que haja confiança, reciprocidade, compaixão, autoridade, sem que, para isso, 
haja submissão, de ambas as partes, além do saber ouvir e atenção aos detalhes. O médico 
sabe que a sua terapêutica pode não trazer os efeitos desejados, mas este não pode furtar 
ao paciente a informação sobre todos os dados de sua doença, os tratamentos que serão 
utilizados, as possíveis complicações, riscos, do início ao fim, e até mesmo deixando claro 
que pode não haver evolução esperada. 
 
O autor advoga que os problemas na relação médico-paciente poderiam ser 
minimizados se os serviços de saúde não estivessem deteriorados, se houvesse melhores 
relações de trabalho para os profissionais da saúde, se houvesse melhoria na educação, 
desde o ensino médio, e se o nível socioeconômico fosse mais equânime entre os pacientes. 
Cabe ao médico evitar qualquer interferência na sua relação com o paciente. 
 
ENFERMAGEM MÓDULO 1 
41 
É importante elencar quais os direitos dos pacientes e quais aqueles dos médicos2. 
Observa-se, então, o que descrevem as alíneas A e B e seus subitens, de acordo com Barsanti 
(2007, p. 02): 
 
a) direitos do paciente: 
 Abandono - após iniciado o tratamento, o médico não pode abandonar o 
paciente, a não ser que tenham ocorrido fatos que comprometam a 
relação médico-paciente e o desempenho profissional. Deve estar 
assegurada a continuidade na assistência prestada. Entretanto, no caso 
de atendimento ambulatorial, sem caráter de urgência, o médico pode 
se recusar a atender determinado paciente, não se configurando 
omissão de socorro. 
 Acompanhante - o paciente tem o direito de ser acompanhado por 
pessoa por ele indicada, em todos os atos médicos por ele sofridos. 
 Alta - o médico pode, ou melhor, deve se negar a conceder alta a 
paciente sob seus cuidados, quando considerar que isso possa acarretar 
risco à integridade do mesmo. Quando não incorrer em risco para o 
paciente, se este ou seus familiares decidirem pela alta, sem parecer 
favorável do médico, devem responsabilizar-se por escrito. 
 Anestesia - o paciente tem o direito de receber anestesia em todas as 
situações indicadas, bem como, pode recusar tratamentos dolorosos ou 
extraordinários para tentar prolongar a vida. 
 Atendimento digno - o paciente tem direito a um atendimento digno, 
atencioso e respeitoso, sendo identificado e tratado pelo nome ou 
sobrenome. 
 Autonomia - consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e 
esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou 
terapêuticos a serem nele realizados, desde que em posse da 
capacidade e discernimento de escolha. 
 Criança - a criança, ao ser internada, terá em seu prontuário a relação 
das pessoas que poderão acompanhá-la integralmente durante o 
período de internação. 
 Exames - é vedada a realização de exames compulsórios, sem 
autorização do paciente, como condição necessária para internação 
hospitalar, exames pré-admissionais ou periódicos e ainda em 
estabelecimentos prisionais e de ensino. 
 Gravação - o paciente tem o direito de gravar a consulta, caso tenha 
dificuldade em assimilar as informações necessárias para seguir 
determinado tratamento. 
 Identificação - o paciente deve poder identificar as pessoas responsáveis 
direta e indiretamente por sua assistência, por meio de crachás visíveis, 
legíveis e que contenham o nome completo, a função e o cargo do 
profissional, assim como o nome da instituição. 
 Informação - o paciente deve receber informações claras, objetivas e 
compreensíveis sobre todos os atos médicos e de todos os riscos 
inerentes ao tratamento e possíveis procedimentos invasivos. 
 Medicação - ter anotado no prontuário todas as medicações, com 
 
2
Lei Estadual (São Paulo) Nº 10.241, de 17/03/1999. Pareceres dos Conselhos de Medicina Resolução Nº 196/96 do 
Conselho Nacional de Saúde. 
 
 
MÓDULO 1 ENFERMAGEM 
42 
dosagens utilizadas. 
 Morte - o paciente tem o direito de optar pelo local de morte (conforme 
Lei Estadual válida para os hospitais do Estado de São Paulo). É 
importante verificar a legislação nos demais estados da Federação. 
 Pesquisa - ser prévia e expressamente informado, quando o tratamento 
proposto for experimental ou fizer parte de pesquisa, que deve seguir 
rigorosamente as normas regulamentadoras de experimentos com seres 
humanos no país e ser aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) 
do hospital ou instituição. 
 Prontuário - ter acesso, a qualquer momento, ao seu prontuário médico, 
recebendo por escrito o diagnóstico e o tratamento indicado, com a 
identificação do nome do profissional e o número de registro no órgão 
de regulamentação e controle da profissão. 
 Receituário - receber as receitas com o nome genérico dos 
medicamentos prescritos, datilografadas ou em letra legível, sem a 
utilização de códigos ou abreviaturas, com o nome, assinatura do 
profissional e número de registro no órgão de controle e 
regulamentação da profissão. 
 Recusa - o paciente pode desejar não ser informado do seu estado de 
saúde, devendo indicar quem deva receber as informações em seu lugar. 
 Respeito - ter asseguradas a satisfação de necessidades, a integridade 
física, a privacidade, a individualidade, o respeito aos valores éticos e 
culturais, a confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal, e a 
segurança

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