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Amor de Perdição (estudo)

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Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco
Novela poderosamente romântica, para atender ao gosto sentimental do burguês;
Tempo cronológico;
Narrador onisciente que se manifesta, na introdução, em primeira pessoa e, no decorrer dos vinte capítulos e da conclusão, na maioria das vezes, em terceira, que julga atos das personagens, conduzindo, assim, a opinião de quem lê;
Considerado um “Romeu e Julieta” lusitano, consagrando o Romantismo português levando ao exagero seus ideais românticos, conta a história de um namoro e da posterior separação do casal de apaixonados por suas famílias;
Duas grandes partes: 1ª – narração sobre o namoro de Simão Botelho e Teresa de Albuquerque;compreende da introdução até o capítulo X;
 2ª – cap. XI :morte de Baltasar Coutinho, um dos antagonistas, prometido a Teresa pelo seu pai; a trama caminha em direção ao desenlace trágico;
Mortes por causa do amor: Teresa-Simão-Mariana;
A privação da liberdade como tentativa de impedimento amoroso;
Coadjuvantes do relacionamento amoroso principal: Mariana e a Madre Superiora, auxiliares na correspondência entre o casal;
A troca de correspondência entre o casal forma a tensão amorosa – é através das cartas que o narrador mantém viva a chama do amor;
As cartas como desabafo: Teresa escreve mais cartas do que Simão, por não ter nenhuma confidente no convento, já Simão tem em sua companhia Mariana, confidente e amparo;
Mariana: alimentando seu amor pelo jovem Simão, tudo faz para ajudá-lo com Teresa; amor platônico e desinteressado, fadado à resignação; é o personagem mais romântico da novela, se mantém servil e abdica de tudo para acompanhar seu amado;
Triângulo amoroso – pureza – concepção romântica – atmosfera de santidade;
Temas: amor proibido e a inflexibilidade patriarcal – níveis sociais;
Irracionalismo e passionalismo;
Ideologia da época
O patriarcalismo – a autoridade máxima do pai, o chefe da família, responsável pelo sustento e casa. A inferiorização da figura feminina, marginalizada na sociedade desde os seus primórdios e ainda mais na época em que a novela foi escrita, quando às mulheres só cabiam os serviços da casa, sendo todo o resto responsabilidade exclusiva do homem. Há o vestígio do “patriarcalismo”, figurado na postura de Tadeu, rígida e altamente autoritária. Ele obriga a filha a se casar com Baltasar, alegando que a felicidade dela deve ser imposta com violência e ainda que “a violência dum pai é sempre amor”. Essa frase, no mínimo, pasma e causa indignação, nos levando a perguntar: como pode existir amor onde há violência? Seria este um amor de perdição, intitulado na novela? 
 O contexto histórico e escola literária
Escrito no ano de 1861, retrata a sociedade portuguesa do século XIX, seus costumes, valores de ética e moral e nivelamento social, convencionalismo e casamentos “arranjados”; 
A precisão de datas, fatos históricos, genealogias e costumes da sociedade portuguesa dos séculos XVIII e XIX propiciam ao leitor compreender a narrativa como uma produção orientada para uma retratação fiel à realidade da qual ela advém;
Romantismo- a idéia de que o sentimento deve sobrepor-se à vida e a razão;
Quebrando com o paradigma de heróis belos, o romantismo traz heróis rudes, feios e malvados, como o João da Cruz, ferrador, que mata à sangue frio os dois empregados de Baltasar responsáveis pela emboscada à Simão, assustando o ferido com seus perfil corajoso e perverso; e o próprio Simão, apresentado como um belo homem fisicamente mas com um gênio forte, escolhendo amigos na plebe, zombando da genealogia de sua família, valente e arrogante, fazendo coisas sem pensar;
Segunda geração romântica 
Entre os anos 1840 e 1860
Também conhecido como Ultra-Romantismo.
Marcado pelo Exagero, Desequilíbrio, Sentimentalismo – o desespero de Simão ao saber que Teresa vai mudar de convento,o desequilíbrio que a distância da amada o causa e vice-versa, a vontade de estar perto, as cartas permeadas de lirismo
Maior emoção nas obras, dando valor ao: tédio, melancolia, desespero, pessimismo, fantasia.- o drama interno do personagem Simão Botelho, todo o sofrimento vivido por ele no cárcere, os efeitos da privação da liberdade em sua alma: “... e o coração intumescia-se de fel, o amor afogava-se nele, morte inevitável, quando não há abertura por onde a esperança entre a luzir na escuridão íntima.” O sentimento de perda, fraqueza diante do sofrimento amoroso, a desilusão com toda a vida sonhada, as esperanças que vão abaixo;
O desejo de morte, a ideia de que ela é o fim de tudo e o modo de se libertar das dores que afligem a alma, a fuga do sofrimento: “... que a felicidade é a morte, é o desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor, é o esquecimento que salva das injúrias a memória dos padecentes.”
Liberdade de expressão.
Espaços de representação
A casa do ferrador João da Cruz: representa o refúgio de Simão, onde ele se sentia acolhido por seus grandes companheiros (coadjuvantes) João e Mariana;
O Convento: O lugar é um importante espaço de representação da narrativa, visto que representa a total privação da liberdade da personagem, além de funcionar como base para uma crítica ferrenha às instituições religiosas da época. As mazelas do convento - a hipocrisia e a falta de conduta dos seus membros, as intrigas e roubos- encobertas por “edificantes discursos de caridade”, são denunciadas. Para isso, o autor utilizou de ironia e sarcasmo atenuados, além de descrever a reação negativa de Teresa, diante daquele ambiente hipócrita em que foi inserida: “que desilusão tão triste e, ao mesmo tempo, que ânsia de fugir dali!”.
A cadeia: outro cenário de privação da liberdade; o personagem quase enlouquece por estar ali, preso, sem contemplar o céu e as estrelas;
Por que amor de perdição?
 O amor que eleva e ao mesmo tempo prende, que constrói e ao mesmo tempo destrói. O sentimento de perda da oportunidade de viver o amor “carnal”, causado pela privação da liberdade regida pelos interesses políticos e pessoais dos familiares e as convenções da sociedade. “Amou, perdeu-se e morreu amando”, os personagens se entregaram a esse sentimento avassalador,idealizado, passando pelas regras morais e éticas da sociedade, enfrentando o “pai”-a figura dominadora do patriarcalismo-, quebrando costumes de obediência e subserviência, sem temerem seu destino. É amor de perdição para a sociedade;
O amor de ontem e o amor de hoje
 Com a evolução da humanidade, o “amor” mudou. Esse sentimento antigamente dito “sagrado, puro, ingênuo” e ao mesmo tempo “voraz, arrebatador”, movia toda uma família quando aparecia em um de seus membros. Atualmente, o amor não deixou de ser “devastador”, mas a devastação que causa não é mais a de uma família, e sim a do próprio ser. A família não se preocupa tanto com o que o jovem diz ser “amor”, não dá tanta importância quando ouve aquela declaração “Eu estou apaixonado”; e por essa mesma tiramos a confusão que se faz entre esses dois sentimentos: paixão x amor, duas coisas diferentes que a modernidade transformou em uma só. O amor se tornou banal, todos amam e são amados. Também, percebemos através da obra que aqueles que se diziam “amantes” faziam jus a esse estado emocional, respeitavam o outro e eram fiéis ao sentimento; hoje, isso não ocorre. Os tempos são outros, os costumes se alteraram, a forma de “sentir” está ficando cada vez mais deplorável. 
A História
 “Amou, perdeu-se e morreu amando”.
 O narrador inicia a história apelando pela piedade e comoção dos leitores, se dirigindo à mulher de um modo geral, “a carinhosa amiga de todos os infelizes”. Ao final da introdução, relata os próprios sentimentos em relação à história, o que esta lhe causou e isso denota certa cumplicidade com o leitor.
 Tudo começa com a história do pai de Simão, Domingos Botelho. Ele é descrito e os acontecimentos de sua vida são narrados, o casamento com D. Rita e a altivez desta, tão exagerada que chega a causar nojo. Já aqui se percebe o primeirocaso de sacrifício amoroso: Domingos faz de tudo para conquistar D. Rita e sua mãe, D. Maria I e, após a conquista, continuou a sacrificar-se em prol dos caprichos da esposa, que não são poucos.
 Por essa parte há o mito da beleza, figurado na imagem feia e desconcertada do marido contraposta com a beleza e delicadeza da mulher. Essa comparação o intrigava, fazendo-lhe se sentir diminuído e ao mesmo tempo ameaçado pela cobiça dos primos de D. Rita que, claramente, era mais do seu dinheiro do que de qualquer outra coisa.
 Passados alguns anos, entra em cena uma das figuras principais da trama, Simão Antônio Botelho, tendo como primeira características apontadas a arrogância e bravura. Enfrenta os pais, se infiltrando nas camadas mais baixas da sociedade, deixando a mãe desgostosa e o pai irado. 
 Não é por acaso que a Revolução Francesa de 1789 faz parte do contexto da obra. A revolução, que teve como lema os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, dialoga com os temas presentes na novela, dos quais o principal é a privação da liberdade dos personagens. Compartilhando ativamente dos ideais revolucionários na academia, mais uma vez Simão enfrenta sua família, assumindo uma postura de rebelde radical.
 Após ser preso, Simão muda suas atitudes. E tal mudança é fruto de um sentimento que tanto irá alterar a sua vida e a dos demais envolvidos, tantas proezas e desventuras irá causar: o amor. Começa, assim, um relacionamento amoroso com Teresa Albuquerque, que moverá toda a narrativa. 
 Simão parte para Coimbra, tendo em vista construir um belo futuro para sua amada. Porém, sua família é rival da de Teresa, o que causará empecilho à concretização desse projeto. A rivalidade entre os dois patriarcas era suprema, o que coloca a narrativa como uma quase versão da história de Romeu e Julieta, clássico de William Shakespeare. Decidido a por fim no sentimento que Teresa nutre por Simão, Tadeu de Albuquerque, seu pai, tenta casá-la com o sobrinho Baltasar Coutinho. Este se apresenta como o antagonista, aquele que tenta ganhar à todo custo o coração da mocinha, agindo como cúmplice do pai dela, um dos “vilões” da história. E sua primeira tentativa de aproximação foi em um diálogo, no qual se refere a Simão como um “ébrio ou jogador de pau, valentão de aguadeiros”, criando uma imagem monstruosa do rapaz, colocando Teresa como a menina indefesa que é atacada por ele e se colocando como o “herói” que irá “salvá-la das garras de Simão Botelho”. É claro que todo esse discurso não produziu nenhum efeito. 
 A autoridade de Tadeu se faz sentir. Ele obriga a filha a se casar com Baltasar, alegando que a felicidade dela deve ser imposta com violência e ainda que “a violência dum pai é sempre amor”. Essa frase, no mínimo, pasma e causa indignação, nos levando a perguntar: como pode existir amor onde há violência? Seria este um amor de perdição, intitulado na novela? A postura de Tadeu é rígida e altamente autoritária, tão brutal que chega a assustar, sendo inevitável a comparação com a época em que vivemos, o que nos leva a não aceitação. Teresa enfrenta o pai com bravura e irá sofrer as consequências disto. 
 Uma personagem importante da trama surge. Trata-se de Mariana, a filha do ferreiro que abriga Simão quando este volta de Coimbra às escondidas da família. O seu interesse nele é notável, mas o rapaz não o percebe de imediato. Forma-se assim uma espécie de triângulo amoroso, no qual o amor de uns será a perdição de outros.
 Em tentativa de encontro com Teresa, Simão é baleado no ombro. João da Cruz, o ferrador, mata à sangue frio os dois empregados de Baltasar responsáveis pela emboscada, assustando o ferido e nos levando a relacioná-lo com os grandes heróis das epopéias medievais, que faziam “justiça pelas próprias mãos”, com seus perfis corajosos e perversos, características do personagem. 
 Diante do fracasso da armadilha, Tadeu coloca Teresa num convento do Porto. O lugar é um importante espaço de representação da narrativa, visto que representa a total privação da liberdade da personagem, além de funcionar como base para uma crítica ferrenha às instituições religiosas da época. As mazelas do convento - a hipocrisia e a falta de conduta dos seus membros, as intrigas e roubos- encobertas por “edificantes discursos de caridade”, são denunciadas. Para isso, o autor utilizou de ironia e sarcasmo atenuados, além de descrever a reação negativa de Teresa, diante daquele ambiente hipócrita em que foi inserida: “que desilusão tão triste e, ao mesmo tempo, que ânsia de fugir dali!”.
 Outra crítica do autor é com relação à tendência, por assim dizer, dos romancistas em construir personagens opulentos, que nunca sofrem por questão de dinheiro. Remete a uma questão social, quando afirma que o interesse do leitor é que mobiliza essa construção, tanto o das camadas mais altas da sociedade, que foge dos personagens atingidos por problemas financeiros – ditos “heroizinhos de botequim” – por “instinto”, quanto o das camadas mais baixas, porque “não tem o que fazer com ele”. Desse modo, Camilo Castelo Branco insere a literatura numa perspectiva socialmente determinada, tentando se diferenciar dos escritores da sua época colocando seu personagem Simão em problemas com a falta de dinheiro e, portanto, mais próximo da realidade.
 O desespero de Simão surge com o aviso de que Teresa irá ser transportada para outro convento. O estado emocional altamente conturbado em que ficou é próprio dos românticos, bem como o exagero com o qual é expresso. Tal foi o devaneio que o impediu de enxergar a tristeza de Mariana ao vê-lo naquela situação. Mas, o narrador a reconheceu e escancarou para nós seu sofrimento e nobreza, sentimento este que a fez levar a carta do amante desesperado até Teresa, mesmo sabendo que estava trilhando o caminho para a total impossibilidade de realização do seu sonho de amor.
 Ao saber que o primo de Teresa irá acompanhá-la até o convento, Simão exclama; “Sempre esse primo Baltasar cavando sua sepultura e a minha!”, frase que é tomada, em uma nota, como bom elemento de definição para o senso de fatalidade do romantismo, do qual toda a obra é grande exemplo. Esse mesmo senso desloca a trama para a sua segunda parte. Após dez capítulos de descrição e apresentação dos fatos relacionados ao relacionamento amoroso entre os protagonistas, finalmente a narrativa é conduzida para a verdadeira “perdição”, permeada pela fatalidade dos acontecimentos e drama dos personagens. 
 Escrevendo uma carta na qual deixa claro que sente a aproximação da morte, Simão parte em busca do seu destino, rumo ao convento onde se encontra Teresa. À hora da mudança, o confronto com o pai e o primo da jovem é inevitável. Simão enfrenta os dois com ironia e atrevimento na fala e quando Baltasar reage, tentando encostar as mãos em seu corpo, ele atira, matando-o. 
 Domingos Botelho, ao saber do ocorrido não protegeu o filho, pelo contrário, afirmou que se necessário ele mesmo aplicaria as leis. D. Rita tentou argumentar a favor de Simão mas, diante da postura do marido de colocá-la em lugar de exclusão no caso “sentiu-se mulher, e retirou-se”. Percebemos aí a inferiorização da figura feminina, marginalizada na sociedade desde os seus primórdios e ainda mais na época em que a novela foi escrita, quando às mulheres só cabiam os serviços da casa, sendo todo o resto responsabilidade exclusiva do homem. Há aí também vestígio do “patriarcalismo”. 
 Quando posta sua condição de pai pelo juiz de for, a fim de interceder pela intervenção no caso de Simão, Domingos disse ser apenas um magistrado, colocando sua posição social acima da paternal, renegando o filho sob o falso pretexto de “fazer justiça”. Sabemos que o real motivo para tal postura foi o ódio intransigente nutrido à família de Tadeu de Albuquerque, ou seja, uma simples desavença política acaba por motivar todo o conflito da trama.
 Os acontecimentos seguintes foram narrados por Ritinha, irmã mais nova de Simão, em carta recebida pelo narrador há alguns meses.Ela narra com fortes lembranças a surra do seu pai por querer ir ver o irmão na cadeia, a mudança para Vila Real e o abandono de Domingos à família. Conta ainda que as poucas notícias que tinham eram tristes, pois na ausência do pai, Simão passou a ser alvo das pessoas “distintas” de Viseu. O trecho da carta termina com o relato da conquista dum tio-avô, que conseguiu convencer Domingos a interceder pelo filho, para não ir à forca.
 O julgamento condenou Simão à forca. Mariana começou a padecer com a ideia e a pedir que a matassem primeiro. Com isso, Simão compreendeu que a moça o amava para além da vida e da morte, sem ter ouvido sequer uma palavra de amor da sua boca. O sofrimento de Mariana era tão intenso que chegou a atacar sua sanidade.
 Teresa percorre todo o caminho para o convento de Monchique “chorosa, ansiada e a revezes desfalecida”. Lá, a moça se sentiu sem forças para lutar, a aproximação do “anjo da morte” e pediu que este a levasse, tal qual Simão na carta de despedida da casa do ferrador. Adoeceu e foi desenganada pelos médicos. Ao saber que seu amado foi condenado à morte, mandou-lhe uma carta se despedindo não apenas dele, mas da vida que um dia sonharam construir juntos e das esperanças que nutriam. Porém, Simão lhe respondeu pedindo para que ainda não morresse, visto que o pai o protegeu da forca, havendo assim esperança para os dois. Essa carta foi permeada de lirismo, as estrelas colocadas como o refletor do amor que sentiam um pelo outro, vivo e distante. E essas súplicas fizeram renascer a vontade de viver no coração de Teresa.
 Pelo fato de Simão ser transportado para as cadeias do Porto, Tadeu decide mandar Teresa de volta para Viseu, sem levar em consideração o estado debilitado em que ela se encontra. Como se era de imaginar, Teresa insistiu que não ia de jeito algum, provocando ainda mais a ira do pai. Descontrolado, tenta invadir o convento para levá-la à força e como não obteve sucesso, movido pelo ódio e desejo de vingança, procurou a polícia, o corregedor, desembargadores a fim de obrigarem a moça a ir com ele e, mais uma vez, não conseguiu o que queria. Chegando até um desembargador amigo de D. Rita, ouviu deste um límpido discurso de defesa à Simão, e teve sua “honra imaculada” atingida. 
 O irmão de Simão, Manuel Botelho, reaparece na história. Voltando para casa por falta de recursos, traz consigo a mulher que fugiu do marido para viver com ele. Em diálogo com o desembargador e o corregedor, tem destes pareceres sobre o caso de Simão, que é visto por eles como “um doido desgraçado com sentimentos nobilíssimos”, e sobre a causa da “desgraça”, D. Teresa, tida como uma “heroína”.
 A amante, sob influência de Domingos, voltou para sua terra em Açores. Manuel foi perdoado do crime de abandono da cavalaria seis. A rapidez com que o casal se desfaz nos leva a relacionar com a fragilidade da ilegitimidade em que viviam, por se tratar de um adultério. Será que se o caso fosse como o de Teresa e Simão o final seria assim?
 João da Cruz é assassinado pelo filho do almocreve que ele matou há dez anos, o que caracteriza o aspecto de “punição” típico do romantismo, através do qual o personagem precisa passar por um processo de “purificação-redenção” diante das falhas que cometeu e, muitas vezes, esse processo é a morte. 
 Simão é condenado ao degredo e Mariana diz que vai junto, abandonando sua pátria e sua vida em prol do homem que ama, num gesto exagerado tipicamente romântico. Daí, pode-se afirmar ser a personagem mais lírica da narrativa: ela não obtém nenhuma recompensa amorosa, apenas aquele sentimento de gratidão, no entanto vive por aquele que ama, se sacrificando, se doando e o ajudando na correspondência com Teresa, a eterna rival do seu coração, esquecendo toda a dor que aquilo lhe causava. 
 No capítulo XIX, o narrador fala com o leitor, atribuindo-lhe o julgamento do que são a desgraça e a verdade na literatura. Porém, se refere ao “leitor inteligente”, o que caracteriza o aliciamento do leitor, típico de outro grande escritor brasileiro: Machado de Assis. Na obra, o narrador dialoga diretamente com o leitor, além de saber tudo o que se passa na mente e no coração dos personagens e os detalhes dos fatos narrados, pois ele possui os documentos necessários para isso. Neste capítulo, o narrador tão somente se preocupa em descrever profundamente todo o drama interno do personagem Simão Botelho, todo o sofrimento vivido por ele no cárcere, os efeitos da privação da liberdade em sua alma, utilizando para isso metáforas e o drama e exagero típico do romantismo: “... e o coração intumescia-se de fel, o amor afogava-se nele, morte inevitável, quando não há abertura por onde a esperança entre a luzir na escuridão íntima.” O desejo de morte, a ideia de que ela é o fim de tudo e o modo de se libertar das dores que afligem a alma, a fuga do sofrimento: “... que a felicidade é a morte, é o desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor, é o esquecimento que salva das injúrias a memória dos padecentes.”
 Finalmente, chega o dia de Simão embarcar para o degredo na Índia. Já dentro do barco, lhe é entregue dinheiro em ouro mandado por sua mãe, porém ele pede para que o dinheiro seja distribuído entre os companheiros de viagem. Esse ato e o de renunciar a “ajuda” dos amigos do pai enquanto esteve preso, retratam o heroicismo romântico, calcado na abnegação de favores dignos indignos do homem. 
 À partida da nau, Teresa se despede de Simão do mirante do convento, onde está acenando um lenço. Foi a última vez em que os dois se viram. Ao anoitecer, Simão teve a triste notícia: sua amada morreu. Não tinha mais lágrimas, apenas esperou a hora de ir ao encontro dela num outro mundo, talvez. E essa hora não tardou a chegar. Após a leitura da derradeira correspondência de Teresa, uma carta longa de despedida e lamentações, foi Simão pego por uma febre que o fez definhar. Mariana, sempre ao seu lado, compartilhava do seu sofrimento. 
 Passados dez dias de viagem, Simão Antônio Botelho morre. Seu corpo é jogado ao mar e, junto a ele vão as cartas correspondidas, as esperanças acabadas e Mariana, abraçada ao seu corpo, em seu último sacrifício terreno. No amor todos se perderam e a morte foi o ápice dessa perdição.

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