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Poesia Trovadoresca
Espaços, protagonistas e circunstância 
 ▪ Cantiga de amigo – Ambiente doméstico e familiar, marcadamente feminino (donzela ou meninas e 
as amigas, ou a mãe e a filha); ambiente coletivo (romaria, santuário) ou rural (campo, rio, mar); origem 
autóctone, resultando da tradição lírica já existente na região. 
 ▪ Cantiga de amor – Ambiente aristocrático (rei, nobres, senhores); palácio ou corte; ambiente 
marcado por um código e por convenções (amor cortês); cantigas importadas em particular da zona de 
Provença. 
 ▪ Cantiga de escárnio e maldizer – Ambiente palaciano e de corte. 
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 Cantigas de Amigo Cantigas de Amor Cantigas de Escárnio e Maldizer 
-o trovador que escreve 
como se fosse uma donzela.  
-desabafa com as amigas; a 
Natureza e raramente com a 
mãe, acerca do seu"amigo";  
-cenário rural; campestre 
(bucólico);  
-atividades relacionadas com 
o campo; pesca;  
-divertimentos: romarias; 
-o próprio trovador que escreve e 
sente amor pela sua "senhor";  
-ambiente palaciano (cortês);  
-amor, muitas vezes, não 
correspondido (platónico);  
-a mulher amada é idealizada, 
sendo descrita como perfeita, quer 
física quer psicologicamente;  
-divertimentos de vivências 
palaciana: bailes; torneios; 
-as cantigas de escárnio não revelam 
diretamente a quem se dirige a 
crítica;  
-as cantigas de maldizer revelam 
diretamente a pessoa criticada;     
-funcionam como documentos 
históricos, pois mostram a crítica 
social das várias classes da época.  
  
Linguagem, estilo e estrutura 
As cantigas de amigo caracterizam se por uma estrutura rítmica e estrófica muito próxima de uma musica. 
Como tal, podem acontecer dois processos (em simultâneo ou isolados) : o refrão- repetição de um ou mais 
versos no final de cada estrofe- e o paralelismo. Estão presentes também recursos expressivos como a 
personificação, comparação ou apostrofe. 
 As cantigas de amor podem ou não recorrer a um refrão e normalmente são utilizados recursos expressivos 
como a adjetivação, a hipérbole ou a comparação. 
Nas cantigas de maldizer e escárnio é muito recorrente utilizar a sátira e o cómico recorrendo também, como 
recurso expressivo, a ironia 
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira 
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Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e reclama da sorte por 
estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-se com um homem 
que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o que já se 
percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão mais 
prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que 
Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão. 
O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de posses, o que satisfazia 
a idéia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente simplório, grosseirão, desajeitado, fatos que 
desagradam Inês. Por isso Pero Marques é descartado pela moça.

Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que somente se 
interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando importância ao bem-
estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que mostra-se exatamente do jeito que 
Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe. 
Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano, proibindo-a de 
tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de 
cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta. Encarcerada em sua própria casa, 
Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a 
guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde. 
Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero 
Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando 
é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e 
Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em 
suas costas e levando Inês ao encontro do amante. 
Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos carregue do 
que um cavalo que nos derrube" 
Personagens: 
Inês Pereira: esta personagem é a protagonista da farsa, pois a intriga desenvolve-se à volta do desejo de casar 
(para ter mais liberdade) e das escolhas que faz neste sentido. De início, esta personagem feminina surge 
como alguém muito descontente com a vida que tem: Inês sente-se “cativa” da vida doméstica que leva e 
gostaria de ter a mesma vida que as outras jovens com uma vida mais folgada. Deste modo, representa um 
grupo social com uma forma es estar, de pensar e de agir muito típica. Inês construi uma imagem idealizada 
do seu marido de sonho. A sua mãe e a alcoviteira Lianor Vaz tentam orientá-la mas Inês mostra-se decidida e 
irredutível nas suas opinões. Inês acabará por aprender por sim e com os seus erros. Numa primeira fase, 
enganada pelo Escudeiro Brás de Mata pela aparência, Inês opta pelo pretendente mais galante. Depressa 
apercebe-se da má escolha que fizera e arrepende-se. Constata-se uma mudança de atitude da protagonista 
que revela um plano futuro para se vingar do sucedido. Depois de ter sido enganada por Brás da Mata, Inês 
escolhe a personagem que representa o “asno”, o lavrador Pêro Marques. 
Mãe : uma mulher de pouca sorte, perspicaz, manifesta opiniões totalmente contraditórias das da filha 
relativamente ao casamento e ao marido que esta devia escolher. Analisando as suas falas, repletas de 
provérbios e as suas falas podemos dizer que a mãe é a voz do bom senso, da razão e também da experiência. 
A mãe quer ajudar a sua filha tanto que elogia-a ao saber da proposta da Alcoviteira. Por outro lado, dá 
conselhos a Inês sempre que um pretendente a vem visitar, o que mostra cuidado e preocupação. Outras 
vezes coloca perguntas à filha com fim a deixá-la refletir e a ponderar melhor sobre o seu futuro, fazendo 
referência à necessidade de um futuro seguro. Inês não quer casar com um homem da sua classe social mas 
sim alguém da corte com um homem que toque viola e que saiba falar bem. A mãe porém é mais realista e 
interessa-se pela condição económica do Lavrador. A partir do casamento com o escudeiro, a mãe não volta a 
aparecer, como se a sua missão já estivesse terminada e que agora “todo o mal” fosse responsabilidade da 
escolha que Inês fez. 
Lianor Vaz: esta é uma personagem-tipo, uma alcoviteira, é uma mulher cujo oficio consistia em arranjar 
casamentos apresentando pretendentes. Assim dá a conhecer Pêro Marques a Inês e à sua mãe considerando-
o “bom marido, rico, honrado conhecido”. Lianor Vaz partilha das mesmas opiniões da mãe quanto à escolha que 
Inês devia fazer. Porém, tal como a Mãe, a alcoviteira não consegue convencer inicialmente Inês a optar pelo 
lavrador e é só depois da morte do Escudeiro que Lianor Vaz aparece e aconselha-a novamente chamando a 
atenção para as vantagens económicas de tal união. Esta personagem denuncia o comportamento devasso do 
clero, através do encontro com o clérigo que a assedia, o que constitui uma critica social. 
Pêro Marques: Retrato fiel do camponês, do homem rústico e simples, Pêro Marques é uma personagem-tipo 
e aparece como o primeiro pretendente, aquele que, apesar de todos os elogios da Alcoviteira, é desprezado 
por Inês Pereira. Inês não hesita em caracterizá-lo de uma forma bastante negativa e sarcástica, tecendo 
comentários insultuosos sobre ele (“parvo vilão”/”nunca vi tal coisa”/ “oh, Jesus!Que João de bestas”). Esta 
caracterização direta (heterocaracterização) decorre dasatitudes e comportamentos que Pêro Marquês teve 
com Inês mesmo ainda antes de a conhecer (por exemplo, a carta que lhe escreveu com uma linguagem 
demasiado básico). Quando é apresentando a Inês, esta personagem tem uma situação cómica que se cria 
com Pêro Marques sem saber para que serve uma cadeira sentando-se ao contrário nela ou quando procura 
em vão as pêras no seu chapéu. Pêro Marques autocaracteriza-se como sendo um homem do bem, sério e 
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decente. Para Inês estas qualidades não são de valorizar, antes pelo contrário (ridiculariza-o sem perceber que 
ele se sente desconfortável por estar na mesma sala com apenas ela). Por fim, a imagem do camponês 
inocente, ingénuo e desajeitado fica completa no ultimo episódio da peça quando o vemos a transportar Inês, 
agora sua mulher, às costas, levando-as ao encontro do Ermitão. Pêro Marques encara então o papel de 
marido ingénuo e obediente que é enganado pela mulher. 

 
Escudeiro Brás da Mata: Segundo pretendente de Inês Pereira que parece corresponder ao perfil desenhado 
por ela para seu marido. Após os vários elogios dos judeus, o Escudeiro também ele é uma personagem-tipo 
que parece ser um homem encantador, hábil com as palavras e com os instrumentos musicais, mas na 
verdade é apenas um homem falso, arrogante, pelintra e prepotente. 

Moço: Criado do Escudeiro, acompanha-o ao longo de toda a peça e é uma voz critica do amo. Leva uma vida 
dura de pobreza e é maltratado pelo amo. É fiel mesmo assim ao seu amo fazendo tudo o que lhe pede (como, 
por exemplo, o pedido do escudeiro para o moço vigiar Inês) e contra a sua vontade, cumpre o pedido. 

 Judeus (Latão e Vidal): Desempenham um papel semelhante ao da Alcoviteira e têm por missão apresentar a 
Inês o Escudeiro. São personagens cómicas e recorrem a uma linguagem caricatural como quando 
apresentam o Escudeiro a Inês num retrato exagerado. Pertencem a uma comunidade judaica, contribuindo 
para serem como personagens-tipo (na cerimónia de casamento executam rituais judaicos). São gananciosos 
pois concretizam o casamento e exigem logo a quantia de dinheiro devida. Funcionam como uma única 
personagem porque tanto ao nível do discurso como a nível do comportamento, ambos completam-se. 

Ermitão: é um ermitão que é diferente dos ermitas e monges que viviam isolados para se dedicarem 
exclusivamente a Deus e que viviam da a fé e da a caridade das pessoas que os ajudavam e os alimentavam. 
Para este “Deus é Cupido”. Seduz Inês Pereira e representa a vida da liberdade que a moça pretendia levar, 
com a aprovação do próprio marido que não vê maldade em nada. Representa uma critica ao clero, à sua 
imoralidade e à sua corrupção. 

A dimensão satírica: 
Um dos objetivos do teatro de Gil Vicente era denunciar, criticar e mostrar algumas mudanças que afetavam a 
sociedade, como por exemplo, o desejo de ascendência social, o adultério, a imoralidade do clero, entre 
outros. Estes comportamentos são denunciados através de personagens-tipo e da linguagem cómica. Nesta 
farsa reconhecemos alguns tipos: 
→a alcoviteira e os judeus (Lianor Vaz, Latão e Vidal)- figuras gananciosas que agem com um fim económico; 
→Pêro Marques- personagem rústica, serve para fazer rir a gente da corte com a sua ignorância e 
simplicidade. 
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→o Escudeiro Brás da Mata- género de parasita, vadio, que imita os padrões da nobreza (ex: tocar guitarra, faz 
serenatas, finge- se corajoso, mas é medroso e maltrata o moço). Não trabalha e passa fome. 
→o Ermitão- há uma conformidade entre os atos e os ideias pois invés de procurar renunciar o mudo e a 
pobreza, busca a riqueza e os prazeres que não estão ligados à religião. 
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A representação do quotidiano:

As farsas têm como característica a representação da vida quotidiana e nesta podemos encontrar os 
hábitos, os costumes, as crenças e os modos de vida da época, em especial aos que diziam respeito: 
Ao casamento: o texto vicentino dá-nos a conhecer as ideias contrárias de Inês , da Mãe e de Lianor Vaz 
em relação ao casamento (a intervenção de uma alcoviteira e dos judeus, os encontros com os 
pretendentes, as regras, a festa de casamento e a vida a dois).

Ao estatuto da mulher: (sobretudo a solteira). Os casamentos eram, grande parte das vezes, um negócio 
entre duas partes, sem que a mulher tivesse alguma participação na decisão. Neste caso, que é uma 
exceção a essa regra, apesar de haver na mesma intermediários entre ambos, a ultima palavra é de Inês 
que deseja uma vida sem ser de “cativeiro” e ascender socialmente, objetivo esse que não foi cumprido 
com o primeiro marido (o escudeiro). 
À vida doméstica: ao longo da farsa, acompanhamos a protagonista nas suas tarefas domésticas, 
assumindo uma postura da típica mulher que trata da casa. No seu monólogo inicial, Inês encontra-se a 
costurar em casa; depois, já casada, também costura fechada em casa. 
À vida palaciana: apesar da vida de aparências que existiam na corte e que está representada na figura do 
Escudeiro , muitos ambicionavam a sua ascendência social de modo a fazer parte desta classe (ex: Inês) 
À vida do campo: Uma vida simples, autêntica mas pouco considerada. Pêro Marques representa essa 
classe social em oposição à vida falsa da corte. Esta vida simples de trabalho garantia mais sustento que a 
vida dos fidalgos pelintras. 

À vida do clero: o encontro da alcoviteira com um membro do clero e o de Inês Pereira com um Ermitão 
devoto de cupido são exemplos que denunciam comportamentos imorais desta classe social. 
O cómico→utilizado para criticar os costumes da época. 
 a)  Cómico de caracter: assenta na personalidade e no modo de ser da personagem. Pêro Marques e o 
escudeiro mostram que são personagem cómicas. O primeiro é o retrato fiel do provinciano desajeitado e 
desconhecedor das convenções sociais; já o segundo estava arruinado e era cobarde, embora aparentasse ser 
rico e elegante. Pêro Marques, quando visita Inês pela primeira vez revela imediatamente o seu lado cómico 
(ex: não sabe para que serve a cadeira e ao sentar-se coloca-se de costas para as outras personagens, invés de 
presentes elegantes, traz peras). Quanto ao Escudeiro, a sua faceta cómica reside precisamente no contraste 
que há entre agir com o moço (é pelintra, arrogante, autoritário) ou com Inês, já casados (é severo, insensível), 
e aquilo que ele manifesta quando a conhece (é afável, cortês, galante). 

 b)  Cómico de situação: baseia-se na intriga e no próprio desenrolar dos episódios. Como exemplo 
disso tem-se, as atitudes desajeitadas de Pêro Marques ao longo da obra ou mesmo os judeus quando querem 
forçar Inês a conhecer o pretendente que eles escolheram. A morte do Escudeiro também é considerado 
cómico de situação pois foi morto pelo pastor mouro. Por fim, Pêro Marques leva Inês às costas e esta canta 
uma cantiga sobre um “marido cuco”, isto é, traído. Toda esta cena é cómica pois este não percebe e 
comporta-se como um “asno” 

 c)  Cómico de linguagem: resulta da desadequação do que é dito ou do modo que é falado 
relativamente ao contexto envolvente, pode ser produzido através da ironia, apartes, sarcasmo, trocadilho, jogo 
de palavras, o calão ou expressões populares. Pêro Marques escreve uma carta a InÊs com uma linguagem 
muito provinciana e provoca o riso ao leitor e à própria protagonista. Tem um discurso e uma linguagem 
provinciana, por vezes, confusa que serve também para o caracterizar. Os judeus também têm uma linguagem 
cómica fruto da repetição do discurso mas também o uso do registo popular e, por vezes, o calão. A ironia 
presente nos apartes de Inês onde ela refere Pêro Marques também é um exemplo, tal como os apartes do 
moço referentes ao seu amo. 

Linguagem e estilo

Gil Vicente procurou adequar a linguagem de cada personagem ao seu grupo social ou à atividade que 
desempenhava. 
a)  Pêro Marques fala como lavrador que é, de forma simples, muito provinciana e porvezes, confusa, visto 
que não é instruído. 
b) Inês Pereira, a Mãe e Lianor Vaz falam como mulheres do povo recorrendo muito a ditados populares e 
a provérbios. 

c)  Brás da Mata, como pretende enganar Inês, fala com ela de um modo galante sendo o seu discurso 
rebuscado. Já com o moço, usa uma linguagem mais coloquial e agressiva, tal como faz com Inês depois 
do casamento. 
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d) Os Judeus recorrem a uma linguagem de cariz popular e , a dada altura usam rituais judaicos . 

Fernão Lopes, Crónica de D. João I 
Contextualização histórica: 
A crónica de D. João I é, na realidade, uma legitimação da nova dinastia, a dinastia de Avis, iniciada após um 
período conturbado entre dois reinos na monarquia portuguesa que vai de 1383 a 1385 (crise politica). Esta 
crónica é considerada a crónica medieval mais importante, quer pelos acontecimentos que relata, quer pela 
qualidade literária da sua prosa. Foi publicada pela primeira vez em Lisboa a 1644 e está dividida em duas 
partes: 
-a 1º ocupa-se no espaço e no tempo desde a morte de D. Fernando até à eleição de D. João I; 
-a 2º relata o reinado deste monarca até à paz com Castela em 1411. 
Afirmação da consciência coletiva: 
A crónica de D. João I constitui uma afirmação da consciência coletiva, no sentido em que o verdadeiro herói 
que povoa na obra não é um herói individual como habitual (não é um cavaleiro, um nobre...) mas sim um 
herói coletivo – o POVO. Fernão Lopes mostram-nos com imenso realismo, vivacidade, pormenor descritivo e 
emotividade o povo que se revolta, que irrompe as ruas de Lisboa à procura do Mestre, que defende a cidade 
contra os castelhanos, que passa fome e privações por causa do cerco. 
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Recursos expressivos recorrentes nesta obra:
-Ironia;
-Comparação;
-Interrogação retórica;
-Metáfora;
A voz do povo, o sentir dos homens e das mulheres, dos mesteirais, dos homens-bons, é muitas vezes 
transmitida através de uma voz anônima e da multidão. Outras vezes é a própria cidade que parece revelar 
essa consciência do todo, assumindo quase o estatuto de uma personagem coletiva. 
 O povo manifesta o seu patriotismo e o seu apoio ao Mestre. O povo é o verdadeiro herói da revolução e da 
crónica de Fernão Lopes. 
Atores individuais e coletivos: 
Atores coletivos: 
-as gentes de Lisboa, quer como uma massa, uma coletividade, quer como grupos sociais (ex: 
lavradores, homens-bons, as mulheres). 
Atores individuais: 
-Mestre de Avis- é caracterizado como um homem vulgar, hesitante e vulnerável às fraquezas. É um 
homem receoso, no seguimento do assassinato do conde Andeiro. Apesar destes defeitos – que o tornam 
uma personagem profundamente realista –, D. João I mostra também ser capaz de atos espontâneos de 
solidariedade, o que o converte numa figura cativante. Líder “desfeito” mas também solidário com a 
população, durante o cerco de Lisboa. 
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É no prólogo da Crónica de D. João I que o cronista expõe o seu objetivo e método de historiar inovador. 
O seu desejo é "em esta obra escrever verdade sem outra mistura", para o que faz concorrer toda a gama 
de documentos possível, desde narrativas a documentos oficiais, confrontando-os entre si para assegurar a 
veracidade dos registos existentes. Ao mesmo tempo, esta crónica estabelece, de certa forma, o ponto de 
chegada das duas crónicas precedentes, na medida em que estas preparam os acontecimentos que 
culminam com a sublevação popular e consequentemente, com a entronização de D. João I. 
A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célere dos episódios quase 
simultâneos do assassinato do conde Andeiro, do alvoroço da multidão que acorre a defender o Mestre e 
da morte do bispo de Lisboa. Ao longo dos capítulos, fundamenta-se a legitimidade da eleição do Mestre, 
consumada nas cortes de Coimbra, na sequência da argumentação do doutor João das Regras, enquanto 
desfecho inevitável imposto pela vontade da população. Nesta primeira parte, o talento do cronista na 
animação de retratos individuais, como os de D. Leonor Teles ou D. João I, excede-se na composição de 
uma personagem coletiva, o povo, verdadeiro protagonista que influi sobre o devir dos acontecimentos 
históricos. 
Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora de reconhecer o rei saído das cortes, e é de 
novo pela ação do povo que a glorificação do monarca é transmitida, como, por exemplo, no modo como o 
acolhe a cidade do Porto. Um outro momento de maior relevo é consagrado, nesta parte, à narrativa da 
Batalha de Aljubarrota, embora aí não ecoe o mesmo tom de exaltação com que, na primeira parte, 
colocara em cena o movimento da massa popular. 
-Álvaro Pais- o burguês que espalha pelas ruas de Lisboa que estão a matar o Mestre, influenciando o povo 
a correr a seu auxilio. 
-D. Leonor Teles- a mulher que gera ódio na população e é apelidada de “aleivosa” (traidora). 
Luis de Camões, Rimas 
Contextualização histórico-literária: 
A idade média foi considerada uma época de trevas, de ignorância e de atraso. Existia uma grande vitalidade 
intelectual na idade média já que, durante este longo período, se sucederam os “renascimentos” e os esforços 
para recriar a sabedoria clássica. O renascimento pode definir-se como um movimento cultural que marca a 
transição da idade média para a idade moderna e teve repercussões politicas, sociais, económicos e culturais. 
Em Portugal, o renascimento surgiu na segunda metade do século XVI e apresentou a particularidade de 
estar ligado à expansão marítima. 
Linguagem, estilo e estrutura: 
Esta poesia foi influenciada por duas tendências estéticas- uma mais tradicional e outra mais clássica.

-Redondilhas- poemas com versos de 5 ou 7 sílabas métricas, ou seja, a medida velha e podem ter a forma de 
cantigas, vilancetes, esparsas ou trovas;

-Sonetos- poemas com influências de Itália e da valorização clássica. Encontra-se então versos com 10 sílabas 
métricas (decassilábicos), a chamada medida nova.

A lírica tradicional seguem uma estrutura comum da poesia palaciana, um mote desenvolvido em voltas. 
-Mote- verso ou conjunto de versos que começam o poema e que servem para apresentar a ideia que será 
desenvolvida nos versos seguintes. 
-Voltas- versos que aparecem depois do mote agrupados em estrofes. Ao recuperar o tema explicitado no 
mote, a volta pode repetir um ou mais vezes o mote, funcionando assim, como um refrão. 
Já a inspiração clássica está presente na transformação das composições em decassílabos que podiam ser em 
formas de odes, sonetos ou canções. 
-Soneto- constituído por 2 quadras e 2 tercetos com vários tipos de esquemas rimático. 
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Temáticas da lirica camoniana: 
a)  A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor 
 -Existem 2 tipos de mulher (a espiritual e a carnal)- a mulher sensual desperta o amor carnal e fisico. 
 A mulher petrarquista é descrita como um ser ideal, que não deve ser desejado fisicamente mas 
 amado e idolatrado. (*petrarquista- inspiração na deusa Petrarca) 

 -O poeta sente às vezes que a realização total do amor só é possível através do amor espiritual e do 
 amor fisico/carnal. 

 -O sujeito poético está dividido entre o fascínio do amor platónico (espiritual)/petrarquista vs. a 
 atração por um amor carnal (entre a mulher que admira e a que deseja). 

 -A ausência da mulher amada origina sofrimento, saudade e ânsia por um reencontro físico. 

 -A experiência de uma vida amorosa fracassada poderá explicar a influência do amor de concessão 
 platónica. 

 -O amor e os seus efeitos têm um poder transformador. 

b)  A representação da amada 
 -Imagem de uma mulher angélica, um ser divido, de pele, olhos e cabelo claros, elementos físicos 

 reveladores das qualidades da alma, com um poder transformador da Natureza e do Homem 

 (influência petrarquista). 

 -Representação de uma mulher maléfica, em contrastecom a mulher anjo. 

 -Novo conceito de beleza feminina distante do de Petrarca (pele, olhos e cabelos escuros), capaz de 

 provocar fascínio e tranquilidade no amador. 

 -A imagem realista, inspirada na vida quotidiana, presente em algumas redondilhas. 

 -A imagem petrarquista da mulher que representa a beleza, a castidade, a serenidade, a harmonia, a 

 unidade profunda entre a beleza externa e a beleza interna. Em geral, é um modelo feminino de 
 cabelos de “oiro”, pele clara, serena, impalpável, símbolo da perfeição. 

c) A representação da Natureza 
 -Espaço alegre, tranquilo, sereno, propicio ao amor. 

 -Espelho da alma do poeta, refletindo os seus sentimentos. 

 -Confidente, testemunha da dor da ausÊncia/separação da amada. 

 -É solidário com as qualidades femininas exaltadas conferindo-lhes luz, graça, pureza... 

 -É espelho das vivências do sujeito poético. 

 -É locus amoenus (lugar ameno), a paisagem amena, verdejante, colorida, mágica, harmónica. 

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d)  A representação da vida pessoal 
 -Reflexão do poeta sobre o destino (que nunca lhe foi favorável), os erros que cometeu, o amor 

 fracassado, o desterro... 

 -Afirma que nasceu para sofrer e que ele é o seu próprio tormento. 

 -Considera-se com pouca sorte (“má fortuna”), e com azar no amor, refletindo sobre o seu infortúnio 
 e sobre o seu sofrimento. 

 -O sujeito poético amaldiçoa o dia do seu nascimento, pois esse dia “deitou ao mundo a vida/mais 

 desventurada que se viu”. 

e)  O tema do desconcerto 
 -Camões apresenta o destino e ele próprio como os responsáveis pelo seu infortúnio. 

 -Nesta temática, já não é só o amor o sentimento que é explorado, mas também a revolta, o remorso, 

 o cansaço e o desespero perante a existência da morte. 

 -Socialmente, o mundo é um desconcerto, provocando injustiças aos bons premiando os maus. 

 -As destruição do amor puro, a morte e a passagem do tempo, que só traz infortúnio, são algumas 

 realidades que chocam o poeta. 

 -O desconcerto do mundo provoca espanto, revolta e inconformismo. 

 -Reflexão sobre o desconcerto do mundo, ao nível social e moral, evidenciada em aspetos como: a 

 errada distribuição dos prémios e castigos (os maus são galardoados, os bons severamente 
 castigados); os contrastes entre a riqueza e a miséria; o crescente interesse dos homens por valores 
 materiais. 

f)  O tema da mudança 
 -A sucessão de mudanças ocorre através do tempo. 

 -Na Natureza, a mudança opera de forma cíclica, natural e positiva, enquanto na vida do poeta se 

 concretiza de modo negativo. 

 -A passagem do tempo traz novidade, mas nem sempre esperança. 

 -A consciência da irreversibilidade do tempo que conduz à reflexão sobre a renovação cíclica da 

 Natureza, sobre a mudança da vida e das coisas e o caminho inexorável do poeta para a morte, razão 
 que lhe acentua a angustia. 



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Os Lusíadas, Luis de Camões 
Visão Global: 
Camões procurou fontes literárias como: 
A epopeia “os Lusíadas” é uma narrativa em verso destinada a celebrar feitos grandiosos de um herói, neste 
caso coletivo – o povo. Esta obra pode ser reconhecida por epopeia porque: 
-A ação é épica, com grandeza e solenidade, de modo a mostrar heroismo: 
 -A ação de central é a aventura dos Descobrimentos de que se destaca a viagem marítima de Vasco da 
 Gama à India, uma ação cheia de heroismo e digna de ser louvada. 
 -Em articulação com essa ação, surge episódios de mitologia – plano da mitologia. 
 -A par da ação centra, verifica-se também a narração de outros feitos históricos a cabo pelos 
 Portugueses e contados por Vasco da Gama ao rei de Melidnde e por Paulo da Gama ao Catual de 
 Calecute- plano da história de Portugal. 
-O herói desta epopeia é o povo português representado na figura de comandante das naus, Vasco da Gama. 
Há portanto um herói coletivo e um herói individual. 
-O maravilhoso não só aparece com intervenções das divindades da mitologia (ex: vénus ou baco), como do 
Deus dos Cristãos (reza de Vasco da Gama aquando da tempestade). 
-Forma- há um narrador que relata os acontecimentos; em Os Lusíadas podemos, inclusive, distinguir os 
vários narradores. 
 -O poeta que relata a viagem de Vasco da Gama desde Moçambique até à India e toda a viagem de 
 regresso. 
 -Vasco da Gama que conta ao rei de Melinde tanto a história de Portugal como a viagem de Lisboa a 
 Moçambique. 
 -Paulo da Gama que relata, em Calecute, ao Catual alguns factos da nossa História e explica o 
 significado das 23 figuras representadas nas bandeiras. 
 -Fernão Veloso que descreve o episódio dos Doze de Inglaterra. 
Estrutura- 
 -Partes obrigatórias como a Proposição, a Invocação, a Narração e a dedicatória que era opcional. Os 
Lusíadas dedicam a obra ao rei D. Sebastião. 
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 -A narração in media res que é o facto da narração começar com a viagem já a meio. 
Estrutura interna 
 -Proposição (apresentação do assunto): nesta parte Camões propõe-se cantar as navegações e 
 conquista no Oriente nos reinados de D.Manuel e de D. João III., as vitórias em África de D.João I a 
 D. Manuel e a organização do país durante a 1ºdinastia. 
 -Invocação (súplica de inspiração para escrever o poema): 1a súplica às ninfas do Tejo (Tágide) para 
 que o ajudem na organização do poema; 2a súplica a Caliope, porque estão em causa os mais 
Obras Autor Herói Assunto
Ilída Homero Aquiles – um grego, filho 
de um humano e da 
deusa do mar Tétis. 
Através das suas ações 
revela o seu caráter 
nobre e guerreiro 
Canta o episódio da 
Guerra de Troia, que 
opôs o povo da Grécia 
antiga aos troianos. A 
personagem principal, 
Aquiles, luta e mata o 
seu rival Heitor, príncipe 
troiano. A narrativa 
começa quando a guerra 
já esta no ultimo ano. 
Odisseia Homero Ulisses – herói grego 
que é exemplo de 
astúcia, determinação e 
coragem 
Eneida Virgilio Eneias – príncipe 
troiano, filho de 
Anquises e de Vénus 
Canta as aventuras de 
Eneias, único herói que 
se salvara da destruição 
de Troia. É acolhido por 
Dido em Cartago, 
vagueia pela Itália e 
desce ao reino dos 
mortos, onde ouve o 
futuro e a história de 
Roma. 
Depois da guerra de 
Troia, Ulisses vive muitas 
aventuras ao longo da 
sua viagem de vários 
anos. 
� 
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 importantes feitos lusitanos; 3a súplica às ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus 
 infortúnios; 4a nova invocação a Calíope para que o inspire para terminar a obra. 
 -Dedicatória (oferecimento da obra a D. Sebastião): esta dedicatória ao rei D. Sebastião reflete a 
 esperança do povo português no novo monarca e sobretudo, na possibilidade de retomar a expansão 
 no Norte de África. 
 -Narração (desenvolvimento do assunto): iniciada in media res (quando a frota já se encontrava no 
 canal de Moçambique a caminho de Melinde), apresenta momentos retrospetivos da História de 
 Portugal e da viagem, momentos prospetivos como sonhos, presságios, profecias e um Epilogo, o 
 regresso dos nautas, incluindo o episódio da Ilha dos Amores. 
�
Estrutura externa: 
 Forma narrativa; versos decassilábicos; rimas com esquema abababcc; estâncias- oitavas; poema 
 dividido em dez cantos. 
Proposição, Estância 1 à 3 do Canto I 
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A proposição indica qual é o objeto do canto – “o peito ilustre 
Lusitano”. Esta expressão incorpora: 
 -as armas e os barões assinalados, isto é, os feitos bélicos e 
quem os executou, os homens ilustres e notáveis. Esses homens 
partiram de Portugal, da ocidental praia lusitana e após perigos e 
guerras conseguiram alcançar territórios para lá da ilha da Ceilão 
-“passaram para além da Taprobana”. 
 -os Reis que foram dilatando/ A fé, o império e que andaram a 
devastar as terras desconhecedoras da religião cristã – as terras 
viciosas/ De África e de Asia. 
 -aqueles que por obras valerosas/ Sevão da lei da Morte 
libertando, isto é, todos os que,por causa das suas ações magnificas 
merecem ser louvados e imortalizados. 
-Os portugueses são então o herói da epopeia – herói coletivo- e são 
os seus feitos que o poeta espalhará cantando. 

 -Sobre os portugueses diz-nos ainda que os seus feitos superam os 
de figuras míticas (Ulisses e Eneias) e os de figuras históricas, que 
esses feitos são tão gloriosos que até os deus do mar e da guerra – 
Neptuno e Marte- se submeteram aos Portugueses e que 
representam um “valor mais alto” 

-Na proposição são indicados os 4 planos estruturais da narração 
(plano da viagem, da história de Portugal, do Poeta e da mitologia) 

Invocação, Estancia 4 e 5 do Canto I 
Dedicatória, Estancia 6 à 18 do Canto I 
A dedicatória não era um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas Luís de Camões decide 
dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que representa para a independência de Portugal 
e para o aumento do mundo cristão. os louvores, segue-se o apelo. Referindo-se com modéstia à sua obra, que 
designa como “um pregão do ninho (...) paterno”, pede ao Rei que a leia. Na breve exposição que faz do 
assunto d’Os Lusíadas, o poeta evidencia um aspecto particularmente importante, a obra não versará heróis e 
factos lendários ou fantasiosos, como todas as epopeias anteriores, mas matéria histórica. Documenta-o 
nomeando alguns heróis nacionais que valoriza pelo confronto com os de outras epopeias. O discurso da 
Dedicatória organiza-se, pois, segundo esta lógica — louvor, apelo de carácter pessoal e argumentos que o 
fundamentem, incitamento/apelo de carácter nacional e, em jeito de conclusão, breve reforço do apelo 
pessoal. Na estância 6, D. Sebastião é-nos apresentado como defensor nato da liberdade da Nação, como o 
continuador da dilatação da Fé e do Império, como o Rei temido pelo Infiel, como o homem certo no tempo 
certo, «dado ao mundo por Deus». Na estância 10 e 11, o poeta pede a D. Sebastião que ponha os olhos no 
poema que desinteressadamente fez e lhe dedica, no qual ele verá os grandes feitos dos portugueses, reais e 
não fingidos, maiores do que os narrados nas antigas epopeias, de tal forma que o jovem rei se poderia julgar 
mais feliz como rei de tal gente do que como rei do mundo todo hipérbole). O poeta desliga a glória de ser 
conhecido pela sua obra do «prémio vil», já que o moveu o «amor da pátria». Os Lusíadas são fonte de glória 
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-Camões tem plena consciência da grandiosidade do que vai 
cantar e, por isso, sabe que o estilo do seu canto de ser 
“grandíloquo” e fluente. O poeta logo no início, pede ajuda e 
inspiração às ninfas do Tejo. 


-Só estas divindades poderiam fazer despertar no poeta “um 
novo engenho ardente”, um ”som alto e sublimado”, que não 
se assemelha ao da poesia bucólica, mas é antes um som 
digno capaz dedar ânimo e provocar emoções. 

para Camões pode ver-se nos quatro primeiros versos da estrofe 10, em que o poeta afirma que foi levado a 
escrever o seu poema, não pelo desejo de um prémio vil (material), mas de um prémio alto e quase eterno. 
Esse prémio é a fama de grande poeta entre os portugueses. O poeta exalta D. Sebastião como jovem rei 
destinado pelo Fado (destino) a grandes feitos, num império já imenso, mas que ele acrescentaria ainda, 
dilatando a fé e o império. O louvor de D. Sebastião está pois, em ser apresentado como um jovem-rei em que 
o povo português tudo espera, rei que a providência faz surgir para retomar a grandeza dos feitos 
portugueses. A ideia do jovem rei como salvador da pátria reflete a crise em que a nação já se encontrava, mas 
ela estava lá tão firme no povo que não desapareceu da sua alma nem com a morte do rei. O sebastianismo é 
precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente destinado a ser salvador de uma nação em crise. 
Narração 
A narração tem inicio quando a ação já vai a meio, ou seja, in media res.Quando se inicia o relato da viagem 
(ação central), os portugueses já tinham percorrido metade do caminho, encontrando-se no oceano Índico. 
A parte inicial da viagem só será narrada posteriormente, num processo de retrospetiva – analepse. 
A narração é então a articulação dos quatro planos. 
Os 4 Planos: 
-Plano da viagem (plano central): a narração dos acontecimentos ocorrido durante a viagem realizada 
entre Lisboa e Calecute: 
 -Partida a 8 julho de 1497 
 -Peripécias da viagem- destaque para a grande coragem e valor guerreiro dos marinheiros 
 portugueses, para a tempestade, o escorbuto, as vitórias sobre traições entre outras. 
 -Paragem em Melinde durante 10 dias. 
 -Chegada a Calecute (Índia) a 18 de maio de 1498. 
 -Regresso a 29 de Agosto de 1498. 
 -Chegada da nau de Vasco da Gama a Lisboa em 29 de agosto de 1499 
A funcionalidade deste plano é conferir unidade ao poema. É, por isso, uma espécie de “esqueleto” da 
epopeia. 
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-Plano da História de Portugal (plano encaixado): relata factos marcantes da História de Portugal: 
 -Em Melinde, Vasco da Gama narra ao rei os principais acontecimento da nossa história. 
 -Em Calecute, Paulo da Gama apresenta ao Catual episódios e personagens representadas nas 
 bandeiras portuguesas. 
A função deste plano é relatar e enaltecer a História de Portugal. 
-Plano da Mitologia(plano paralelo): A mitologia permite e favorece a evolução da ação: os deuses 
assumem- se como apoiantes (Vénus) ou como oponentes dos portugueses (Baco): 
-Os deuses apoiam os Portugueses: concílio dos deuses no Olimpo. 
 -Concilio dos deuses marinhos. 
 -Ilha dos Amores. 
A função deste plano é conferir beleza, ação e diversidade ao poema, ajudando no processo de divinização 
dos Portugueses. 
-Plano do poeta (plano ocasional): Considerações, criticas, lamentos e opiniões do poeta, expressas 
nomeadamente, no inicio e no fim dos cantos. 
Este plano serve para o poeta transmitir as suas posições face ao mundo, aos outros e a si mesmo. 
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-O plano da viagem e o plano da mitologia ocorrem em simultâneo . 

  -A articulação entre o plano da viagem e da mitologia sai reforçada pelo estatuto que os Portugueses 
conquistam, após chegarem à Índia – estatuto de divindade, por terem concretizado algo de sobre-humano, 
como um prémio é-lhes 

oferecida uma recompensa digna de deus- Ilha dos Amores. 

 -O plano da História de Portugal é um plano encaixado, que apresenta episódios de guerra e liricos. 

 -O plano da história de Portugal funciona como analepse e prolepse. 

 -O plano das intervenções ou reflexões do poeta será vital para o entendimento do pendor humanista 
Imaginário épico 

Matéria épica e sublimidade do canto 
 Como foi visto na proposição, a intenção do poeta ao escrever esta obra é cantor o “peito ilustre lusitano”, 
isto é, glorificar os feitos do povo português. Esses feitos dizem respeiro quer aos nautas quer a outras ilustre 
figuras históricas portuguesas. Por esta razão podemos dizer que a matéria épica de Os Lusíadas integra:

 →a viagem de Vasco da Gama à Índia – as descobertas;

 →os feitos históricos – apresentação por Vasco Da Gama ao rei de Melinde e por Paulo da Gama ao 
 Catual. 
 A matéria épica só se torna verdadeiramente épica quando passa a estar subordinada ao mito, isto é, quando 
a sua interpretação passa a ser simbólica. Nesse sentido, o própria herói é subordinado ao mito, ou seja, sofre 
um processo de mitificação. 
Mitificação do herói 

Camões não escolheu um herói individual que motivasse o título da sua obra, mas procurou que a sua 
epopeia enunciasse a história de todo o povo da "geração de luso". A intenção em exaltar os portugueses 
levou Camões a torná-los verdadeiros heróis que se foram construindo, ao longo da obra, e que mereceram a 
mitificação. 
Deste modo, estamos perante um herói colectivo, que é constituído pelas "armas e barões assinalados", pelos 
Reis, por "aqueles que por obras valorosas/Se vão da lei da morte libertando" e pelos navegadores,que no 
seu conjunto formam "o peito ilustre lusitano". 
Para que este se fosse construindo, vários elementos foram fundamentais, tais como: a inteligência, pois os 
portugueses fizeram grande parte da viagem sem que os Deuses se apercebessem; a coragem e a valentia, que 
demonstraram perante as ciladas de Baco e perante o Gigante Adamastor, símbolo do perigo e do 
inultrapassável, que permitiu a heroificação de Vasco da Gama, no momento de inversão. 
Além disso, o episódio do Velho do Restelo, que simbolizando a contraposição e prenunciando vários perigos, 
mortes, tormentas e outros desastres, contribui para a formação do herói, que enfrenta estes obstáculos com 
coragem e esforço. 
 Depois de todas as etapas vencidas, os portugueses merecem descanso, que decorrerá na Ilha dos Amores, 
local concebido pelo épico, simbolizando a recompensa pela heroicidade, a satisfação dos sentidos e a 
harmonia no Universo. É aqui que os portugueses são mitificados e se tornam Deuses, como se verifica 
quando as Ninfas se entregam aos navegadores, alcançando a glória. 
Finalmente, a viagem, mais do que a exploração dos mares, é a passagem do desconhecido para o conhecido, 
conseguida pelo esforço e motivada pelo amor, tendo como resultado a posse do conhecimento. 
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Reflexões do poeta 
Luís de Camões, n ́Os Lusíadas, não consegue calar a voz crítica da sua consciência nem a sua emoção. Então, 
interrompendo o tom épico, umas vezes, a sua palavra ganha uma feição didáctica, moral e severamente 
crítica. Outras vezes, expressa o lamento e o queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os 
desconcertos do mundo. 
Canto I (105-106) Limites da condição humana: Os perigos que espreitam o ser humano (o herói), tão 
pequeno diante das forças poderosas da natureza (tempestades, o mar, o vento...), do poder da guerra e dos 
traiçoeiros enganos dos inimigos. 
• Canto III Poder do amor: surge do tema do amor de D. Fernando por D.Leonor 
• Canto IV ambição desmedida do homem 
• Canto V (92-100) Desprezo das artes e das letras: O poeta lamenta o desprezo que os Portugueses valorizam 
as letras, pois apesar de serem de terra de heróis, não reconhecem o valor da arte. 
• Canto VI (95-99)Verdadeiro valor da glória: Nestas estâncias, o Poeta realça o verdadeiro valor das honras e 
da glória alcançado por mérito próprio. O herói faz-se pela sua coragem e virtude, pela generosidade da 
sua entrega a causas desinteressadas. 
• Canto VII (78-93) Lamento pelos infortúnios da vida: Camões elogia o Espírito de Cruzadas dos 
Portugueses, destacando-os de outros povos. O poeta, invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se 
da ingratidão de que é vítima. Ele que sonhava com a coroa de louros dos poetas, vê-se votado ao 
esquecimento e à sorte mais mesquinha, não lhe reconhecendo, os que detêm o poder, o serviço que presta 
à Pátria. 
• Canto VIII (96-99) o poder corrupto do ouro: Faz-se, nestas estâncias, uma severa crítica; o alvo é o poder 
corruptor do dinheiro e do «ouro». 
• Canto IX (93-99) verdadeiro caminho para atingir a fama: O poeta incita os homens a alcançarem a 
verdadeira glória e a fama, que não se conseguem pela cobiça, a ambição ou a tirania; mas pela justiça, a 
coragem e o heroismo desinteressado. 
• Canto X (145-156) lamentos pela falta de reconhecimento do povo: O poeta volta a referir-se à importância 
das Letras (Literatura) e desabafa que já está cansado de se dirigir a quem não quer escutar o seu canto, 
«gente surda e endurecida». Exorta o Rei a concretizar novas glórias. 

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Sermão de Santo António aos peixes, Padre 
António Vieira 
Contextualização histórico-literária 
Vieira viveu num período conturbado da História de Portugal, um longo período de agonia que se iniciou 
com o desaparecimento do rei D. Sebastião nos areais de Alcácer Quibir e que determinou a perda da 
independência nacional, com a invasão do território português pelo exército espanhol em 1580, cujo poder 
militar tomou a coroa da monarquia portuguesa. 
A Europa vivia em tempos de crise generalizada e num clima de medo.

No Brasil viviam se tempos de exploração de Índios por parte dos colonos brancos. 
Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere): 
O sermão seiscentista, cujo objetivo principal é levar os fiéis a reconhecerem os seus erros e a alterarem 
comportamentos, apresenta uma importante componente lúdica.

-Docere (educar/ensinar) - função pedagógica, muitas vezes conseguida através de citações bíblicas e de 
autores da Igreja ou de obras clássicas. 

-Delectare (agradar)- função estética, concretizada através de um discurso rico em recursos expressivos como 
a alegoria, a metáfora, a comparação, antítese, gradação...

-Movere (persuadir)- função critica e moralizadora, baseada numa argumentação bem construída, recorrendo 
a argumentos de autoridade. 
Intenção persuasiva e exemplaridade: 
No caso do Sermão de Santo António, Padre António Vieira vai censurar o comportamento dos colonos 
portugueses no Maranhão e defender os direitos dos índios. Apresenta assim uma intenção persuasiva, 
procurando convencer o seu público a mudar de comportamento. 
A critica social será feita através da alegoria, recorrendo ao exemplo de Santo António, que, face à revolta dos 
habitantes de Arimino em Itália, não queriam ver os seus pecados expostos, optou por pregar aos peixes que 
o escutaram. No dia em que se festejava este santo, Vieira dirige alegoricamente o seu sermão aos peixes, 
servindo-se dos seus defeitos e virtudes para denunciar pecados dos homens. 
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Crítica social e alegoria: 
O Sermão de Santo António denuncia o comportamento dos colonos do Maranhão. Ao observar-se o seu 
tempo e sentindo-se desiludido com os homens, Vieira decide voltar-se da terra para o mar e dirigir a sua 
pregação aos peixes. De uma forma metafórica, diz que os pregadores são “o sal da terra”, cujo efeito deve ser 
impedir a corrupção. No entanto, ao ver que a terra está corrupta, interroga-se sobre a causa desta corrupção. 
Ao longo do sermão, Vieira começa por louvar as virtudes dos peixes, para depois repreender, com empenho, 
mas também com ironia, os seus defeitos. Embora interpele os peixes, na verdade, é aos homens que ele se 
dirige , sendo os peixes metáfora dos homens. Estabelece assim um paralelismo entre os vícios dos peixes e 
os vícios dos homens, neste caso para denunciar a exploração dos colonos sobre os indígenas. 
Visão global do Sermão e sua estrutura: 
-Capitulo I

 Exórdio – exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender a partir do conceito predicável. 
 “Vos sois o sal da terra” é o conceito predicável (texto bíblico que serve de tema e de acordo com o 
 objetivo do autor, pretende demonstrar fé). Este elemento bíblico serve de tema/ tese ao Sermão e a 
 partir do qual vai desenvolver a sua argumentação: os pregadores são o sal, a terra os homens. 
O sal impede que os alimentos se estraguem.→Os pregadores impedem a corrupção. O sal que salga- evita a 
corrupção; 
O sal que não salga- é inútil e desprezado; 

O pregador é como o sal – se a palavra não chega aos ouvintes ou não produz os seus frutos é porque algo 
está errado. 
Se a terra está corrupta/ estragada de quem é a culpa?

- Ou o pregador não prega convenientemente a palavra de Deus 
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O sal é a metáfora dos pregadores A terra é a metáfora dos ouvintes 
Os pregadores são importantes na transmissão da mensagem evangélica, na preservação 
da moralidade e da integridade dos homens- a “terra”. 
Os pregadores não “salgam” porque: 
-não pregam a verdadeira doutrina; 
-dizem uma coisa e fazem outra; 

-se pregam a si e não a Cristo. 
 
O capítulo I termina com um pedido de auxilio divino, que pode ser entendido como uma invocação. 
-Capítulo II – Louvores em geral

 Exposição- referência às obrigações do sal. Indicação das virtudes dos peixes em geral.Crítica ao 
 homem. 
As duas qualidades dos ouvintes são ouvir e não falar. 

 -Retoma do conceito predicável. As duas propriedades do sal são – “conservar o são e preservá-lo 
 para que não se corrompa”.

 -As propriedades das pregações de Santo António: 1. Louvar o bem (“para o conservar”); 
 2. Repreender o mal (“para preservar dele”).

O sermão será, desta forma, aos peixes (e, obviamente aos homens) e está dividido em dois pontos: louvar as 
qualidades e repreender os vícios. 
Qualidades e virtudes -> Defeitos dos homens 

 ▪ A obediência -> o deslumbramento face a dar graxa para obter algo em troca. 

 ▪ A “ordem, quietação e atenção” com que ouviram as palavras de Santo António -> a arrogância e a 
 presunção. ▪ O respeito e a devoção ao ouvirem as palavras de Deus-> a violência e a obstinação. 

 ▪ O seu “retiro” e afastamento relativamente aos homens -> a crueldade irracional 

 ▪ “só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam” -> o exibicionismo e a vaidade. 

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A terra não se deixa “salgar” porque:

- os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, não querem 
receber;

-os ouvintes querem antes imitar o que os pregadores fazem do que 
fazer o que dizem;

- os ouvintes, em vez de servirem a Cristo, servem a seus apetites. 
Ou a terra não “ouve” a 
palavra do pregador. 
Capítulo III –Louvores em particular

Confirmação- louvores a alguns peixes em particular e consequente crítica aos homens. 
1. O peixe Tobias :

-As suas entranhas curavam a cegueira dos homens tendo assim um poder curativo (seu pai, que era cego, 
recuperaria a visão depois de, a conselho do Anjo Rafael, lhe ter sido aplicado um pouco do fel extraído 
do peixe).

-O seu coração afugentava os demónios.

- Vestido de burel e atado com uma corda “este peixe parecia um retrato marítimo de Santo António”. 
2. A rémora: 

- peixe marinho cuja cabeça funciona como ventosa, o que lhe permite fixar-se a embarcações 
(procurando conduzir ao bom caminho).

- pequena no seu tamanho mas com uma grande força, que conseguia imobilizar o leme das naus 
(travando o mal). 
3. O torpedo:

- peixe, parecido com a raia, capaz de produzir pequenas descargas elétricas que fazem tremer o braço do 
pescador, obrigando-o a lagar a cana (assim o torpedo não é pescado). 
4. O quatro-olhos:

- tem dois olhos “para se vingar das aves” e dois olhos “para se vingar dos peixes”.

- simboliza que devemos olhar ou só para cima (considerando que há Ceu) ou só para baixo (Inferno).

- este peixe simboliza o dever que os cristãos têm, isto é, olhando para o céu, mas lembrando sempre que 
há inferno. 

Outros peixes: 

- Servem de alimento (as sardinhas são o sustento dos pobres e o salmão dos ricos); 
-Ajudam à abstinência nas quaresmas; 

-Com peixes, Cristo festejou a Páscoa;

- Ajudam a ir ao Céu; 

- Multiplicam-se rapidamente (apenas aqueles que são consumidos pelos pobres). 

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Simbologia→também na terra os homens extorquem o que não lhes pertence, sem recearem as 
consequências dos seus atos, ou seja, o castigo divino; as palavras de Santo António transformaram 
vinte e dois homens desonestos que tomaram consciência dos pecados, se arrependeram e 
confessaram, o que enaltefica a eficácia de Santo António; Tal como há homens que não sentem as 
descargas elétricas do tropedo, também há homens que ouvem a verdade e continuam o seu caminho 
errado; realça a importância que esses peixes poderiam desempenhar para fazer tremer o braço 
daqueles que se desviam do caminho certo. Assim, a descarga simboliza as palavras de Deus. 
Capítulo IV- Repreensões em geral

 Exposição- indicação das repreensões aos peixes em geral e critica aos homens. 
 Os peixes, assim como as suas qualidades em geral (ouvem e não falam), irão agora ouvir as 
repreensões: 
1. Não só se comem uns aos outros como os grandes comem os pequenos; 

2. Ignorância e a cegueira. 

 -Critica e repreensão aos peixes para melhor explicitar a condenação dos homens. 

 -Aspetos criticados: a “antropofagia social” e a “vaidade no vestuário”. 

1. Não só se comem uns aos outros como os grandes comem os pequenos (critica à 
prepotência dos grandes que “se alimentam” do sacrifício dos mais pequenos, tal como os peixes): 

▪  Repreensões dirigidas aos peixes: 

 ✓ “vos comeis uns aos outros” (quando são todos irmãos e vivem no mesmo elemento). 
 ✓ “que os grandes comem os pequenos”. 

▪  Repreensões aos homens: também “se comem uns aos outros”, s: 

 ✓ antropofagia social- também os homens se “comem”, se exploram uns aos outros. 

▪  Presença de um tom mais violento na referência à injustiça e às maldades causadas por : 
 ✓  Serem os maiores a comerem os pequenos; 

 ✓  Serem os pequenos comidos “de qualquer modo”; 

 ✓  Serem os grandes aqueles “que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua 
fome de comer os pequenos um 

por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros”; 

 ✓  Serem os pequenos comidos em qualquer momento. 

 ▪  Apelo de Vieira para que os peixes não se comam uns aos outros referindo-se ao Dilúvio e à arca 
de Noé como exemplo de atitudes de bondade e generosidade a serem seguidas. 

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2. Ignorância e cegueira: (- caracterização do homem da cidade: prepotente, vaidoso, parasita, ambicioso, 
hipócrita, traidor...;

- as virtudes e os feitos dos peixes surgem sempre associados por comparação aos homens do Maranhão 

ora por antítese, opondo os homens aos peixes ora por semelhanças, aproximando os peixes com os homens). 

 ▪  O peixe - O peixe é facilmente enganado por um anzol pela ignorância porque não entende o 
significado do anzol e cegueira porque se atira cegamente e fica preso. 

 ▪  O homem - os homens não conseguem resistir à tentação e à vaidade, ficando, por isso, engasgados 
e presos com dívidas. 

 ▪  Santo António – Os homens (pela vaidade) e os peixes (pela inocência e pela cegueira) eram 
facilmente enganados e “perdiam a sua vida” . Santo António abandonou as vaidades e, com as suas roupas 
simples e as suas palavras “pescou muitos homens” para o bom caminho. 

O capítulo termina com mais uma referência a Santo António como exemplo a seguir. Esse santo preferiu a 
sobriedade à ostentação, recusando galas e vaidades e, por isso, atingiu a santidade. Foi com essa postura 
simples e humilde que conseguiu converter muitos homens desviados da fé. 

Capítulo V – repreensões em particular 

 Confirmação- repreensões a alguns peixes em particular; critica aos comportamentos dos homens 
 ambiciosos, vaidosos, hipócritas e traidores. 

1. O roncador- 
-embora pequenos e aparentemente vulneráveis, estes peixes emitem um som forte; esta autopromoção 
revela a sua soberba e arrogância (“quem tem muita espada, tem pouca língua”);

-exemplo de Pedro, discípulo de Cristo: apesar de ter afirmado que defenderia até à morte o se Senhor, 
bastou-lhe uma simples inventiva de uma mulher para negar que conhecia o seu Mestre; se tal aconteceu 
com S. Pedro, muito menos razões terão os homens para exibirem a sua arrogância; 

- outros exemplos bíblicos como David e Golias reiteram o facto dos arrogantes e os soberbos pensarem 
que são Deus e acabarem diminuídos e humilhados.

-Santo António, símbolo de sabedoria, nunca se exibiu as suas capacidades, confinando-se à sua condição 
de servo de Deus. 
2. O pegador- 

-parasita que vive às custas do seu hospedeiro;

-o parasitismo foi aprendido com os português, porque não há nenhum vice-rei ou governador que parta 
para as conquistas sem ir rodeado de uma larga comitiva- critica ao aparelho colonial português;

-em termos humanos, os mais preguiçosos acabam como os pegadores, que, quando o tubarão, que lhes 
serviu de hospedeiro, é pescado,morrem com ele, porque nele estão pegados.

-Deus também tem os seus “pegadores”, aqueles que espalham a palavra com David e Santo António, que 
se pegou a Cristo e ambos foram bem sucedidos. 

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3. O voador- 

-morfologicamente, possui uma barbatanas maiores que a generalidade dos peixes, dai que queira 
imitar as aves; -esta ambição de se querer transformar naquilo que verdadeiramente não é só lhe traz 
sofrimento porque está sujeito aos perigos do mar e do ar – no mar morre enganado pelo isco e no ar 
morre cego pela ambição desmedida; -simboliza a ambição, a presunção e o capricho. 

-Santo António sempre se demarcou da ambição, porque reconhecia que as asas que fazem subir 
também fazem descer, o que pode precipitar a destruição. Santo António preferiu remeter-se à sua 
humilde. 

4. O polvo- 

 -o polvo é caracterizado através de comparações sugestivas:

 > “com aquele seu capelo na cabeça parece um monge”- aparenta santidade.

 > “com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela” – aparenta beleza.

 > “com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão” – 
aparenta serenidade. 

- contudo, apesar da modesta aparência, o polvo é considerado o maior traidor do mar. Esta traição 
consiste em enganar os outros peixes, caçando-os mais facilmente. 

 > “as cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia”;

 > “as figuras que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício”; >o polvo veste-se 
ou pinta-se “das mesmas cores a que está pegado”. 

-simboliza traição, a dissimulação, a hipocrisia e a falsidade e é, assim, pior que Judas, o paradigma 
do traidor no Evangelho, porque o apóstolo planeou a entrega de Cristo às escuras, mas executou a 
traição às claras, enquanto o polvo, escurecendo a água com a sua tinta, rouba a luz à presa para a 
apanhar.

- Santo António é considerado um exemplar de candura, da verdade e da sinceridade 

O capítulo acaba com uma critica feroz aos portugueses. Vieira refere a degeneração dos valores nacionais, 
uma vez que, no passado, as características exemplares de Santo António eram extensivas a todo o povo 
português, não sendo, por isso, atributos dos santos. 
Capítulo VI – Peroração

 Conclusão- ultima advertência aos peixes; retrato de Vieira como pecador; hino de louvor. 
 O capítulo VI é a conclusão de todo “O Sermão de Santo António aos Peixes”, e Santo António tem 
como objetivo a conversão dos homens à Fé de Deus. 
 Santo António revela que tem inveja dos Peixes, pois estes não ofendem Deus com a sua memória e 
cumprem o objetivo da sua criação, enquanto que os Homens ofendem Deus com as suas palavras, com os 
seus pensamentos e com a sua vontade, não atingindo o objetivo da sua criação. 
 Assim, Santo António reflete sobre os Peixes e os Homens e conclui que os Peixes são melhores que 
os Homens, e que a única solução para o Homem é a conversão, porque só assim é que os Homens podem 
dar glória a Deus. 
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 O hino de louvor final -“louvai, peixes, a Deus”- e as razões para o louvor: Deus dê-los numerosos, 
belos e diversos, porque lhes deu a água para nela viverem e se multiplicarem. 
 - A alegoria como recurso expressivo: representa uma realidade abstrata através de uma realidade 
concreta, por meio de analogias, metáforas e imagens sucessivas, neste caso na sucessão alegórica relativa às 
naus, o orador consegue concretizar os diversos vícios dos homens, simplificando a sua argumentação. 
 -A comparação como recurso expressivo: enquanto elogia os pregadores que espalham a doutrina 
divina e que, portanto, ensinam, Vieira acusa os outros que não cumprem a sua função, sendo, por isso, 
votados ao desprezo. Aludindo à função do sal, ou seja, salgar a terra com a mensagem bíblica, Vieira refere 
que vai dar inicio aos louvores dos peixes, que devem ser atentamente ouvidos por estes, enquanto vivos, 
enquanto podem ser apreciados. 
 -A metáfora como recurso expressivo: o orador utiliza a metáfora da arte de pescar para desenvolver a 
sua crítica à exploração do homem pelo homem e, simultaneamente recorre a uma sucessão de imagens como 
representação dos diversos tipos de poder abusivo – judicial, ancestral, religioso e real. 
Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett 
Contextualização histórico-literária 
“Em 1578, o rei D. Sebastião desapareceu na Batalha de Alcácer-Quibir. Não tendo deixado herdeiros, houve 
uma longa disputa pela sucessão. Entre os pretendentes estava Filipe, rei da Espanha, que anexou Portugal ao 
seu império em 1580. O domínio espanhol duraria sessenta anos (1580 a 1640). Criou-se nesse período o mito 
popular do "Sebastianismo", segundo o qual D. Sebastião, retornaria para reerguer o império português. 
Entre os nobres desaparecidos em Alcácer-Quibir estava D. João de Portugal, marido de D. Madalena de 
Vilhena. 
Drama romântica e tragédia clássica: 

 Drama romântico (características): 
 -revela conflitos emocionais, muitas vezes em situação do quotidiano; 

 -valoriza os sentimentos humanos das personagens; 

 -apresenta acontecimentos de cariz sentimental e amoroso; 

 -recorre à prosa em substituição do verso e utiliza uma linguagem mais próxima da realidade vivida 
pelas personagens. 
 Tragédia clássica (características): 
 -Efeitos sobre o público: inspira sentimentos de terror e piedade; 
 -Personagens de alta estirpe (social ou moral);

 -Lei das 3 unidades: 
 -Unidade de ação- a intriga deve ser simples, sem ações secundárias, aumentando assim a 
 tensão dramática; 
 -Unidade de espaço- toda a ação deve desenrolar-se no mesmo espaço;

 -Unidade de tempo- a duração da ação dramática não deverá exceder as 24horas. 
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Estrutura tripartida da ação:

 -Exposição- apresentação das personagens; esboço do conflito que surge associado a um mistério na 
 origem das personagens, provocado pela força do destino.

 -Progressão dramática- desenvolvimento do conflito, originado pelo desafio das personagens à sua 
 resolução (HYBRIS). O conflito encaminha-se progressivamente para um clímax, ponto culminante 
 da ação trágica, em que se desvenda o mistério ligado a uma relação oculta (ANAGNÓRISE); o 
 sofrimento das personagens que intensifica-se (PATHOS). 
 -Desenlace/catástrofe- o fim das personagens é a morte (física, social ou afetiva). 
 Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o desaparecimento de D. Sebastião na Batalha de 
Alcácer-Quibir. Com ele parte D. João de Portugal, personagem vital que desaparece também desencadeando 
toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos estes acontecimentos decorrem sob domínio Filipino, 21 
anos depois da Batalha de Alcácer Quibir. 
 Após o desaparecimento de D. João de Portugal, D. Madalena manda-o procurar durante 7 anos mas 
em vão. Casa então com D. Manuel de Sousa, nobre cavaleiro, de quem tem uma filha de 14 anos. D. Madalena 
vive uma vida infeliz, cheia de angústia e de tranquilidade, no receio de que o seu primeiro marido esteja vivo 
e acabe por voltar. Tal facto acarretaria para Madalena uma situação de bigamia e a ilegitimidade de Maria, sua 
filha. Esta é tuberculosa e vive, em silêncio, o drama da sua mãe que será o seu. Efetivamente D. João de 
Portugal acaba por regressar, acarretando o desenlace trágico de toda a ação. 
 Atos Estrutura externa Estrutura interna 
 Ato I Cenas I-IV 
Cenas V-VIII 
Cenas IX-XII 
Informações sobre o passado das personagens 
Decisão de incendiar o palácio 
Ação: incêndio do palácio 
 Ato II Cenas I-III 
Cenas IV-VIII 
Cenas IX-XV 
Informações sobre o que se passou depois do incêndio 
Preparação da ação: ida de Manuel de Sousa Coutinho a Lisboa 
Ação: chegada do romeiro 
 Ato III Cena I 
Cenas II-IX 
Cenas X-XII 
Informações sobre a solução adotada. 
Preparação do desenlace. 
Desenlace 
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Importância do espaço na obra 
Ato I - Paláciode Manuel de Sousa Coutinho, em Almada: 
-luxo e elegância da época; 

-porcelana, charões, sedas, flores... 

-duas grandes janelas donde se avista o Tejo e Lisboa; 

-retrato de Manuel de Sousa Coutinho vestido com o 

hábito da ordem de S. João de Jerusalém; 

-comunicação com o exterior e o interior do palácio. 
 Ato II- Palácio de D. João de Portugal, também em Almada: 

-salão antigo de gosto melancólico e pesado; 

-retrato da família e, em lugar de destaque, os de 

D. Sebastião, D. João de Portugal e de Camões; 

-reposteiros que impedem a vista para o exterior e a luz; 

-comunicação com a capela da Senhora da Piedade; 

Ato III- Parte baixa do palácio de D. João de Portugal: 

 
-lugar vasto e sem decoração nenhum; 

-comunicação com a capela da Senhora da Piedade; 

-decoração com símbolos de morte (esquife) e de dor 

(cruz, ornamentos característicos da Semana Santa). 

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Simbologia: 
 -a família vive em paz e aparente harmonia. 
 -o retrato de Manuel de Sousa Coutinho transmite 
a serenidade da sua personalidade.

 -o incêndio e a consequente destruição do seu 
retrato tornar-se-ão um prenúncio da catástrofe. 
Simbologia: 
- a ausência de luz prevê a catástrofe final – o 
circulo fechado em que as personagens vão 
ficado encerradas, entregues à angústia, 
separadas do mundo e da luz, impedidas de 
fugir;

- os retratos, para além de carácter nacionalista 
que transmitem, também evocam um passado 
extinto mas ameaçador, que dificulta o presente 
e, também o futuro. 
- a comunicação com a capela da Senhora da 
Piedade indicia já o final trágico e demolidor do 
Ato III, que aí ocorre. 
Simbologia: 
- o espaço é símbolo da morte e da 
impossibilidade de a superar.

- a única saída para uma família católica que 
assume as convicções religiosas e sociais de 
forma clara e rígida é a renúncia ao mundo e à 
luz. 
Os espaços vão-se progressivamente obscurecendo e afunilando (concentração espacial) tornando-se severos 
e despejados. O círculo que se vinha fechando desde o início do ato II encerra-se definitivamente, atirando as 
personagens para um abismo do qual é impossível sair. Maria morre, não suportando a vergonha de ser filha 
ilegítima e sabendo que a vida, sem o amor dos pais seria insuportável. Madalena e Manuel morrem para o 
mundo, renunciando à paixão que os unira. 

Tal como o tempo, o espaço assume logo desde início, um carácter pressagiador do desenlace final, 
contribuindo para a intensificação progressiva da tensão trágica. 

A dimensão patriótica e a sua expressão simbólica 
Esta obra é caracteristicamente romântica, pela temática, pela ideologia e pelos valores que veicula: 
 -A valorização do “eu” por oposição à sociedade- o percurso das personagens nomeadamente, 
 Madalena e Maria ilustra o poder avassalador da sociedade face à liberdade individual; 

 -O apelo à liberdade de decisão- presente sobretudo na figura de Manuel de Sousa Coutinho, que 
 prefere sacrificar o bem- estar individual e familiar que entregar-se ao domínio espanhol. 

 -A obsessão da morte/destruição- Maria e Madalena ficam aterrorizadas diante da eventual destruição 
 da família, embora não o confessem uma à outra. 

 -O nacionalismo/patriotismo- é revelado pela fé colocada no regresso de D.Sebastião para restaurar o 
 país dos espanhóis e pela atitude patriotista de Manuel quando incendeia a sua casa para não ser 
 ocupada pelos invasores. Há uma necessidade em valorizar a nacionalidade e o orgulho português. 
 Os retratos de D.João e de D.Manuel transmitem um final trágicos (dois patriotas derrotados pelo 
 destino) e o retrato de Camões e de D.Sebastião simbolizam a pátria e o orgulho nela (1o simboliza 
 orgulho nacional e o 2o representa esperança). 

 -A ligação amor/morte- a impossibilidade do amor, quer paternal, quer matrimonial, conduz à morte 
 (física de Maria e espiritual de Madalena e de Manuel). 

O sebastianismo 
O Sebastianismo tornou-se um traço da personalidade nacional, que se caracteriza por viver das glórias do 
passado, acreditar numa solução que não envolva determinação na superação dos problemas e de aceitar 
passivamente o destino. 
Deste modo, o sebastianismo constitui-se como um movimento passadista e retrógrado, que se alimentam da 
grandeza passada e que espera a superação de mágoas do presente pela chegada providencial e fantástica de 
um herói. Sendo assim, nesta obra, a mensagem é claramente progressista, como se pode constatar pelo 
elogio da ação proativa de Manuel ao incendiar o seu palácio. Pode-se dizer que esta obra insere o 
sebastianismo como forma de crítica aquele sentimento passadista e preso a um passado que já não tem lugar 
no presente. 
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Personagens 
-D. Madalena de Vilhena é uma personagem psicologicamente afetada e que vive marcada por conflitos 
interiores pelo desaparecimento do primeiro marido e não consegue viver o presente devido a esse 
“fantasma”. 
Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento. Acredita em 
agoiros, superstições, dias fatais (a sexta-feira) e Deus. 
Surge também como “pobre mãe” e “coitada”, que se encontra em pânico, com pressentimentos de desgraça. 
É uma sofredora e tem um amor intenso e uma preocupação constante com a sua filha Maria, contudo o mais 
importante para ela é a sua felicidade e amor ao lado de Manuel de Sousa pois até o seu amor à pátria é 
menor do que o que sente por Manuel. É muito influenciada por Manuel de Sousa, sendo evidenciado no 
final da obra, pois esta aceita o convento como solução mas fá-lo seguindo Manuel. 
Esta personagem relaciona-se conjugalmente com outras duas de uma forma legal e de compromisso com D. 
João de Portugal, por outro lado a sua relação com Manuel de Sousa Coutinho é amorosa e por sua vez ilegal. 
Tem uma relação afetiva com Telmo e Maria, sendo Telmo um aio e Maria sua filha, mas ao contrário do que 
se possa pensar Maria assume um papel adulto em relação à mãe devido ao estado mental de Madalena. 
-Maria de Noronha é uma personagem fisicamente frágil e fraca de 13 anos. Também apresenta um 
carácter puramente inocente e angelical e sendo psicologicamente muito forte. Maria tem uma relação muito 
forte com Telmo devido à sua crença no regresso de D. Sebastião. 
É uma personagem nobre, de inteligência precoce, muito culta, intuitiva e perspicaz. Também é muito curiosa 
pois aparenta querer saber de tudo, e uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, 
crente em agoiros e uma sebastianista. 
É a vítima inocente de toda a situação e acaba por morrer fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha 
ilegítima (morre tuberculosa). 
Manuel de Sousa Coutinho é um nobre e honrado fidalgo que se orienta por valores universais como 
a honra, a lealdade, a liberdade, é um patriota, forte, corajoso, e decido, mas não acredita em agoiros. Contudo, 
esta personagem evolui de uma atitude interior de força, de coragem e segurança para um comportamento de 
medo, de dor, sofrimento, insegurança e piedosa mentira no ato III quando teme pela saúde da filha e pela 
sua condição social. Os seus sentimentos são muitas vezes sobrepostos à razão (normalmente deve-se á sua 
preocupação com doença da sua filha). 
Manuel de Sousa é um bom pai e um bom marido, pois ao longo do texto demonstra muita preocupação para 
com estas personagens. No final da obra demonstra-se decido como noutros momentos, com o facto de 
abandonar tudo (bens, vida) para se refugiar no convento. 
É de referir que Manuel de Sousa não sente ciúmes pelo passado de Madalena e considera-o um honrado 
fidalgo e um valente cavaleiro, dizendo mesmo que considera D.João um homem honrado e que honra a sua 
memória. 
A sua relação com Telmo é muito afastada, visto que, Telmo é um serviçal normal e não existe nenhuma 
intimidade, Telmo atreve-se a dizer coisas a Madalena que não diz a Manuel de Sousa. 
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Telmo é um criado caracterizado como extremamente leal ao seu primeiro amo, D. João de Portugal, e 
acredita piamente no seu regresso. Não consegue perdoar Madalena pelo seu segundo casamento e mostra o 
maior desprezo por Manuel, apesar de ser o confidente de Madalena e Maria. Telmo é fiel, dedicado e é a 
ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena) e a chama viva do passado que alimenta os 
terrores de Madalena. 
Esta personagem é muito crítica, cria juízos de valor e é através dele que a consciência das personagens é 
fragmentada, este vive num profundo conflito interior pois sente-se divido entre João e Maria, não sabendo o 
que fazer. Apercebe-se mais tarde que ama mais Maria que o seu antigo amo. 
O romeiro/D. João de Portugal é um nobre cavaleiro, que está ausente fisicamente durante o I e II ato 
da peça. Contudo, está sempre presente na memória, palavras e nas esperanças de Telmo que paira sobre 
aquela família, na consciência (sombra das angústias) de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de 
Maria. 
D. João é caracterizado direta e indiretamente, esta caracterização é tanto física como psicológica. É sempre 
lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei. 
Quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, 
destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vítima desse destino. Resta-lhe então a 
solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos mortos. 
D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos. Representa 
também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis, e é também a imagem da pátria 
cativa. 
Frei George é uma personagem tipo e apenas tem a função de mostrar o que a igreja deveria de assumir. 
Frei George é irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É também confidente de 
Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. 
É uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito e modera os sentimentos trágicos. Acompanha 
sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio 
no meio de uma família angustiada e desfeita. 
A dimensão trágica 
De acordo com a classificação de Frei Luís de Sousa pelo próprio autor, a peça apresenta características que a 
aproximam quer do drama romântico quer da tragédia clássica. 
-Principais características trágicas da obra:

 -número reduzido de personagens;

 -personagens de elevado estatuto social e moral;

 -ação única e que converge para o desenlace trágico;

 -concentração temporal (progressão temporal, até culminar na madrugada da morte ou separação da 
 família); 
 -concentração espacial (progressão espacial, terminando na Igreja de S. Paulo dos Domínicos);

 -vestígios do coro da tragédia clássica, nas personagens Telmo e frei Jorge;

 -presença de momentos e indícios trágicos. 
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Os indícios trágicos são sinais da fatalidade que se avizinha. Os indícios ou presságios podem surgir sob a 
forma de acontecimentos, comportamentos, comentários, alusões ou informações que nem sempre são 
entendidos pelas personagens como sinais trágicos. Ao longo da ação de Frei Luís de Sousa, há várias 
situações e elementos que contribuem para a criação de um ambiente de medo e de suspeita e que 
funcionam como uma espécie de preparação para o desenlace trágico. 
Simbologia 
-Os retratos – primeiro remetem para uma força espiritual e física, depois, o retrato queimado de Manuel é 
prenuncio da catástrofe final que destrói a família. O retrato de Camões representa glória das letras. O retrato 
de D.João simboliza o fantasma ameaçador que regressa do passado para aniquilar o presente. 

-A concentração espacial – o progressivo afunilamento e obscurecimento do espaço simboliza o caminhar 
inexorável para a tragédia final, deixando as personagens sem saída. 

-A decoração dos espaços – a decoração dos espaços vai-se tornando mais despojada, mais melancólica, 
impossibilitando o contacto com o exterior. 

-Os números – 7 é o algarismo que domina quase todas as referências e simboliza a totalidade. Maria tem 13 
anos, número associado ao azar. 

-O dia da semana – sexta feira, dia aziago para Madalena. 

-A concentração temporal – o afunilamento progressivo do tempo simboliza a impossibilidade de fuga das 
personagens ao destino já traçado. 

Amor de perdição, Camilo Castelo Branco 
A obra como crónica da mudança social 

-Crítica ao ser vs. parecer.

-Critica à sociedade do séc. XIX

-Denúncia dos privilégios das classes superiores. 

-Condenação dos casamentos por conveniência.

-Oposição a uma sociedade repressiva e retrógrada, associada ao poder de instituições como a justiça e a 
igreja. 
- Defesa da liberdade individual e da valorização dos ideais nobres. 
A estrutura da obra 
Introdução 
-Apresentação da entrada de Simão Botelho na Cadeia da Relação do Porto, condenado ao degredo na Índia. 
-Referência sucinta à história triste de Simão, que se resume na frase «Amou, perdeu-se e morreu amando». 
-Reflexões do narrador sobre a história trágica de Simão. 
 
Capitulo I 
-Apresentação da família de Simão Botelho.

-Caracterização de Simão que aos 15 anos era rebelde e estudante em Coimbra. 
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Capitulo II e III 
-Simão e Teresa (filha de Tadeu Albuquerque) veem-se pela primeira vez e apaixonam-se. 
-As famílias de Simão e Teresa opõem-se ao amor dos jovens, devido ao ódio entre ambas. 
-Tadeu de Albuquerque pretende casar Teresa com o seu sobrinho Baltasar. 
Capitulo IV 
-Teresa recusa o casamento e o pai decide encerrá-la num convento. 
-Escrita de uma carta a Simão, na qual Teresa explica a sua situação. 
-Simão regressa a Viseu e fica alojado em casa do ferrador João da Cruz. 
Capitulo V-IX 
-Breve encontro entre Teresa e Simão.

-Mariana, filha de João da Cruz, apaixona-se por Simão.

-Baltasar prepara uma emboscada a Simão e este é ferido. Simão consegue fugir com a ajuda de João da Cruz 
que matam os dois criados de Baltasar.

-Tadeu decide encerrar Teresa num convento em Viseu. Simão fica em casa de João da Cruz que devia um 
favor ao pai de Simão.

-Mariana cuida de Simão em casa de João da Cruz. 
Capitulo X 
-Simão vai ao encontro de Teresa, quando a jovem parte do convento de Viseu para o convento de 
Monchique, no Porto. 
-Simão mata Baltasar.

-Simão é preso. 
 
Capitulo XI-XX 
-Mariana continua ao lado de Simão, na prisão.

-É condenado à forca. 

-Teresa chega ao convento de Monchique, no Porto, e toma conhecimento da condenação de Simão.

-Doença de Teresa que anseia pela morte, apesar de Simão, através de Mariana, a incentiva a não desistir. 

-Decisão de Tadeu em trazer a filha de volta para Viseu quando sabe do estado frágil dela, e quando sabe que 
que Simão está também na cidade do Porto.

-Recusa de Teresa em fazer a vontade do pai.

-Assassínio de João de Cruz. 

-Simão é condenado ao degredo por 10 anos e Mariana tem intenção em acompanhá-lo.

-Suplica de Teresa para que Simão não aceite o degredo e que cumpra o tempo na cadeia onde já esta.

-Partida de Simão para a Índia, na companhia de Mariana, no momento em que é informado da morte de 
Teresa. 
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Conclusão 
◆Morte de Simão passados 10 dias e suicídio de Mariana, que se atira ao mar na companhia do corpo do seu 
amado. 
Simão e o narrador 
O autor, Camilo Castelo Branco, criou uma história onde cruza ficção e algumas notas biográficas. Simão 
Botelho e o autor/narrador partilham o mesmo destino – ambos são presos pelo mesmo motivo: o amor. 
 -Titulo – Amor de Perdição→Obra de Ficção- História do amor proibido de Simão e Teresa, 
 culminando em desfecho trágico. 
 - Subtítulo - Memória de uma família→Sugestão de relato histórico e familiar verídico - Camilo 
 estava

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