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PREPARAÇÃO EXAME NACIONAL PORTUGUÊS

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PREPARAÇÃO EXAME NACIONAL PORTUGUÊS – 2019/2020
Índice:
Capítulo 1- Educação Literária
· Poesia Trovadoresca
· Fernão Lopes, Crónica de D. João I
· Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira
· Luís de Camões	
· Rimas
· Os Lusíadas
· Padre António de Vieira, Sermão de Santo António (aos Peixes)
· Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa
· Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição
· Eça de Queirós, Os Maias
· Antero de Quental, Sonetos Completos
· Cesário Verde, Cânticos do Realismo (O Livro de Cesário Verde)
· Fernando Pessoa
· Poesias do Ortónimo
· Poemas da Mensagem
· Alberto Caeiro
· Álvaro de Campos
· Ricardo Reis
· Contos
· Poetas Contemporâneos
· José Saramago, Memorial do Convento
· Poesia Trovadoresca
	
Género
	
Sujeito Poético e Temática
	
Representação de afetos e emoções
	
Cenário
	
Linguagem, estilo e estrutura
	Cantigas de Amigo
	Suj. Poético:
Feminino-uma donzela
Temática:
- O sentimento amoroso:
-A alegria de amar e ser amada,
- A tristeza da ausência do amigo, 
- A saudade do amado que está longe e tarda a voltar
	- Variedade do sentimento amoroso: amor, saudade, tristeza, mágoa, ansiedade e alegria
- Confidência amorosa à Mãe Natureza, às amigas, à mãe
- Relação com a Natureza: Confidente (personificação), em harmonia com o estado de espírito da donzela
	- A Natureza amiga e confidente
- Ambiente doméstico e familiar, marcadamente feminino
- Ambiente coletivo (romaria)
- Ambiente rural e natural (a fonte, o rio, a montanha, o baile, a alvorada, o mar e a casa)
	- Paralelismo
- Refrão
- Regularidade estrófica e métrica
- Recursos expressivos: personificação, comparação, apóstrofe
	Cantigas de Amor
	Suj, Poético: Masculino- o trovador
Temática: o sentimento amoroso:
- A coita do amor
- O amor infeliz
	- Coita do amor- paixão infeliz, sofrimento por amor, que pode levar à morte por amor- hiperbolização do sentimento amoroso
-Elogio cortês- louvor do senhor, modelo de beleza e virtude
	- A Natureza convencionalizada: 
A descrição das flores de Maio, da brisa da Primavera e do cantar do rouxinol
- A corte: ambiente cortesão
	- Cantiga de maestria (sem refrão) ou com recurso a refrão
- Regularidade estrófica e métrica
- Recursos expressivos: adjetivação, hipérbole, comparação, antítese
	Cantigas de Escárnio e Maldizer 
	Voz masculina (Trovador) que faz uma crítica indireta (cantiga de escárnio) ou direta (Cantiga de Maldizer)
Temática: Crítica a personagens, comportamentos e acontecimentos da época…
	- Paródia do amor cortês (louvor da dona, morte por amor)
- Crítica dos costumes (falta de dotes poéticos de um trovador, a miséria de elementos da nobreza, etc…)
	- Ambiente palaciano e da corte
- Recorte dos costumes e da linguagem típica da sociedade peninsular do final da Idade Média
	-Sátira, cómico
- Recursos expressivos: ironia
· Fernão Lopes, Crónica de D. João I 
Estrutura:	1ª Parte- da morte de D. Fernando até à eleição de D. João I
2ª Parte- do início do reinado de D. João I (1385) até 1411 (paz com Castela) 
Contexto Histórico: Crise política de 1383-1385
- Morte do Rei D. Fernando e a crise de sucessão dinástica, pois D. Fernando não deixou filho varão, pelo que a sucessão deveria caber a sua filha D. Beatriz, casada com o rei de Castela, o que poderia provocar a perda de independência de Portugal
- Revolução Popular e Burguesa, pois enquanto a Nobreza e o Clero eram apoiantes de D. Beatriz, o Povo e a Burguesia eram apoiantes do Mestre da Avis, pois o povo já não suportava os ataques dos castelhanos, a fome e a miséria, e nenhuma das duas classes sociais queria perder a independência de Portugal
- Cerco de Lisboa (capítulos 115 e 148), a luta pela independência contra Castela (Batalha de Aljubarrota) e a Nomeação do Mestre de Avis como regedor e defensor do Reino e como rei D. João I de Portugal- início da Dinastia de Avis
Após a invasão castelhana, seguiram-se um prolongado e doloroso cerco de Lisboa e diversas batalhas, de que, sob o comando de Nuno Álvares Pereira, os portugueses saíram vitoriosos. Posteriormente, o Mestre de Avis seria proclamado rei, graças igualmente à habilidade jurídica do Dr. João das Regras que, nas cortes de Coimbra, soube encontrar argumentos para defender a aclamação do Mestre, que receberá o nome de D. João I e seria o fundador da 2ª Dinastia.
Personagens:
- D. Leonor Teles (esposa de D. Fernando): revela um cariz dramático, é determinada, persistente, dominadora, indomável, astuciosa e adúltera
- Conde Andeiro: rosto de ameaça castelhana sobre a integridade nacional. A sua morte acaba por desencadear a revolução
- D. João I, Mestre de Avis: é um homem que se mostra receoso, no seguimento do assassinato do conde de Andeiro; um homem acarinhado e apoiado pelo povo de Lisboa; um líder resoluto, mas também solidário com a população, aquando do cerco à cidade
- Álvaro Pais: o burguês que espalha pelas ruas de Lisboa que estão a matar o Mestre, influenciando o povo a correr em seu auxílio
- Nuno Álvares Pereira: herói com um forte pendor místico (cerco lisboa). Distingue-se pela determinação, coragem, perspicácia e lealdade
- Povo: é o verdadeiro herói da revolução e da crónica de Fernão Lopes. Manifesta o seu patriotismo e o seu apoio ao Mestre de Avis. Apesar de ignorante, supersticioso e, por vezes, cruel, revela-se como a força motora da revolução e, consequentemente é o que resiste e que se afirma.
Estilo:
- Descrição viva e dinâmica (visualismo): sensações visuais, auditivas; ritmo acelerado, uso de recursos expressivos (comparação, enumeração, adjetivação, personificação, hipérbole)
- Rigor do pormenor: informações detalhadas e precisas que ajudam a enquadrar os acontecimentos
- Coloquialismo: uso do imperativo e da 2ª pessoa do plural; transição de cantigas
- Subjetividade: presente na apreciação crítica e emotiva dos factos relatados (interrogação retórica, frase exclamativa). (“pensa alto, comenta, interpela”)
- Uso do discurso direto e indireto, misturados, com períodos longos e curtos e alternados.
Nota: De acordo com as Aprendizagens Essenciais devem ser estudados 2 capítulos: 11 e 115 ou 148 da 1ª parte.
Tópicos de análise do capítulo 11:
· O episódio narrado neste capítulo enquadra-se na sequência de eventos que levaram ao cerco da cidade de Lisboa, considerado um dos focos estruturadores da Crónica de D. João I (o outro é a batalha de Aljubarrota).
· Neste capítulo, Fernão Lopes relata como se deu a aclamação do Mestre, após o assassinato do conde Andeiro, as ações da população quando soube que o Mestre corria perigo e os seus sentimentos relativamente ao futuro monarca.
· A população é, aliás, a protagonista deste episódio. Assemelhando-se a um repórter que assistiu ao desenrolar dos acontecimentos, Fernão Lopes transmite-nos as movimentações (d´”as gemtes”) através de sensações auditivas (“dizemdo altas vozes, braadamdo pella rrua”, “e começamdo de falar huûs com os outros”, “Soarom as vozes do arroido pella çidade ouvimdo todos bradar que matavom o Meestre”, “Alii eram ouvidos braados de desvairadas maneiras”), mas também visuais (“se moverom todos com maão armada, corremdo a pressa”, “A gemnte começou de sse jumtar a elle, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nõ cabiam pellas ruas primçipaes, e atravessavom logares escusos”)
· Verifica-se uma concentração espacial que coincide com uma gradação e um ritmo crescentes das ações (ao apelo do pajem e de Álvaro Pais, segue-se o alvoroço da população, que se desloca para o paço e que aí mostra o seu estado de espírito- confusão, nervosismo), que culminam no clímax: o aparecimento do Mestre à janela.
· Após a visão do Mestre, o ritmo narrativo diminui e o estado de espírito da população passa a ser de alegria, de satisfação e de alívio (“ouveram gram prazer quamdo o virom”).
· Os sentimentos desta “gemte” são ainda realçados através das falas transcritas, que conferem uma tonalidade realista e expressiva a todo o episódio. Estas falas servem também para denegrir a imagem de Leonor Teles e para fazer uma apologia do futuro monarca (“- Ooque mal fez! Pois que matou o treedor do Comde, que nom matou logo a aleivosa com elle!”).
· Entre a multidão destacam-se, porém, alguns atores individuais, nomeadamente:
· Pajem do Mestre- já preparado (“segundo já era percebido”), desencadeia toda a movimentação posterior
· Álvaro Pais- avisado pelo pajem, e também ele pronto (“que estava prestes e armado cõ huũa coiffa”), pegou no seu cavalo e, com os seus aliados, foi até ao paço, espalhando igualmente o alvoroço e influenciando o povo a correr em auxílio do Mestre.
· Mestre de Avis- atua segundo o conselho dos que o rodeiam; de início, parece ter receio da multidão; depois, mostra-se à janela e, sentindo-se seguro, abandona o palácio e percorre as ruas da cidade a cavalo até aos paços do Almirante.
· Quanto ao narrador, detetamos a sua subjetividade (“era estranha cousa de veer”, “ era maravilha de veer”), a sua simpatia pelo povo e a sua defesa do Mestre.
Linguagem e estilo
· Visualismo e dinamismo- a movimentação e o sentir das massas são-nos apresentados de uma forma muito forte e real, não só através dos recursos expressivos, como a comparação (“e assi como viuva que rei nom tinha”), como também através do apelo às sensações ou do uso de verbos de movimento (“A gemte começou de sse jumtar a elle, e era tanta que era estranha cousa de se veer. Nõ cabiam pellas ruas primçipaaes, e atrevessavom logares escusos”, “Huũas viinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueyja“).
Tópicos de análise capítulo 115:
· Neste capítulo, o leitor, a quem o ouvinte desde logo se dirige (“ que avees ouvido”), começa por ser convidado a presenciar:
· A descrição da cidade de Lisboa, quando o rei de Castela a cercou (“ de que guisa estava a çidade, jazemdo elRei de Castella sobrella”);
· A preparação da defesa da cidade pelo Mestre de Avis, juntamente com a população “per que modo poinha em ssi guarda o Meestre, e as gemtes que dẽtro eram, por nom rreceber dano de seus emmiigos”);
· O esforço, a valentia, a determinação que a gente de Lisboa mostrava (“ e fouteza que comtra eles mostravom”)
· Continuando a interpelar o leitor (“Omde sabee que”), o cronista passa a relatar o que foi feito relativamente aos mantimentos, focando depois a sua atenção numa outra preocupação: a defesa da cidade.
· Relativamente à defesa de Lisboa, a informação apresentada é bastante detalhada: primeiro referem-se os muros, depois as torres, chegando-se por fim às portas da cidade ao rio. Os pormenores descritivos abundam, bem como os termos técnicos associados ao campo semântico da guerra.
· Porém, à medida que o cronista vai descrevendo o que foi feito para proteger a cidade, vai também mostrando os grupos sociais- os atores coletivos- que participaram nestes preparativos. Desta forma, vemos como os lavradores se recolherem à cidade, como a defesa das muralhas foi entregue aos “fidallgos e çidadaãos homrrados”, aos “ homẽes darmas”, aos “mesteiraaes”. Até as mulheres tiveram um papel a desempenhar, apanhando as pedras e cantando (“ e as moças sem nehuũ medo, apanhamdo pedra pellas herdades, camtavom altas vozes”).
· A cantiga transcrita ilustra bem o espírito de solidariedade, de entreajuda, de patriotismo e de orgulho que reinava entre as gentes da cidade. Aliás, a atitude dessas gentes é várias vezes elogiada pelo narrador “todos rrijamente corriam pera ella”, “logo os muros eram cheos, e muita gemte fora”, (…)). É assim, evidente a afirmação da consciência coletiva, uma consciência pela defesa da cidade contra o inimigo.
· Mas não só as gentes da cidade que têm um comportamento digno de louvor. Também o Mestre de Avis- ator individual- merece uma caraterização favorável, destacando-se a sua diligência e determinação, bem como todo o apoio que deu à população (“E hordenou o Meestre com as gemtes da çidade, que fosse rrepartida a guarda dos muros”, “ho Meestre que sobre todos tinha especial cuidado da guarda e governamça da çidade, dando seu corpo a mui breve sono”).
Linguagem e estilo:
-Registo coloquial- evidente nos apelos ao leitor e no uso da 2ª pessoa do plural, a transcrição da cantiga, ao reproduzir uma linguagem popular e carregada de insinuações, contribui para o tom coloquial.
- Descrição viva e dinâmica- os preparativos de defesa são apresentados com minúcia, recorrendo a pormenores, a vocabulário técnico e a recursos expressivos, como a enumeração (“forom feitos dortes caramachoões de madeira, os quaaes eram bem fornecidos descudos e lamças e dardos e bestas de torno”) e a adjetivação (“gramde e poderoso çerco”).
Tópicos de análise capítulo 115:
· Mais uma vez, o capítulo inicia-se com uma interpelação ao leitor (“Estamdo a çidade assi cercada na maneira que ja ouvistes”), através da qual se estabelece uma ponte com o capítulo anterior e se transmite uma ideia de continuidade e de ligação a um dos centros nevrálgicos da narrativa: o cerco de Lisboa.
· Mais uma vez também, o protagonismo é dado às gentes de Lisboa (ator coletivo), que vivem momentos atrozes por causa da fome que assola a cidade, devido ao grande número de pessoas que nela se acolheram.
· Num estilo vivo e emotivo, o cronista narra e descreve, pormenorizadamente, o sofrimento da população: a procura arriscada de trigo, à noite e em barcos; a falta de meios para socorrer os pobres; a expulsão de todos aqueles que não podiam combater, bem como os judeus e as prostitutas; a recusa dos castelhanos em receber no seu acampamento os que foram expulsos; a procura desesperada de algo que comer e beber. O sofrimento é evidenciado através de pormenores, como, por exemplo, o preço exorbitante de alguns alimentos.
· Perante este cenário, o narrador mostra-se solidário e pretende mesmo sensibilizar os leitores. Por isso dirige-lhes repetidamente perguntas retóricas carregadas de intensidade (“ Hora esguardae como sse fossees presente, hũa tall çidade assi descomfortada e sem nehuũa çerta feuza de seu livramento, como veviriam em desvairados cuidados, quem sofria omdas de taaes affliçoões?”).
· O Mestre de Avis (ator individual) aparece-nos neste capítulo como o chefe que tem de tomar decisões (“Meestre mamdou saber em certo pella çidade que pam avia per todo em ella”), algumas difíceis até, a bem da comunidade, como a expulsão dos inaptos. Por outro lado, mostra-se solidário com as suas gentes (“Sabia porem isto o Meestre e os de seu Comsselho, e eramlhe doorosas douvir taaes novas”).
Linguagem e estilo: Rigor do pormenor (patente, por exemplo, na descrição detalhada dos que saíam à noite de barco e iam buscar trigo; na informação precisa sobre o preço de alguns alimentos, como o trigo, o milho, o vinho, a carne- recurso à enumeração); Conjugação de planos (por um lado, é-nos dado um plano geral da cidade; por outro, são-nos apresentados planos do pormenor.), Coloquialismo- muito evidente nas interrogações retóricas e no uso do imperativo, no último parágrafo, combinado com a comparação
· Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira
Classificação da Obra- Farsa:
- É caraterizado por ser de curta extensão (apresenta apenas um ato e não tem divisão cénica)
- Representa “cenas da vida profana” através da sátira
- Reproduz o “ambiente popular” da época e de flagrantes da vida quotidiana
- Apresenta um conflito entre “forças opostas”, no âmbito das relações sociais (pais/filhos; marido/mulher)
- Número reduzido de personagens, algumas delas personagens-tipo
Estrutura Interna:
- Inês solteira: Monólogo inicial de Inês Pereira até ao momento em que se encontra com Pêro Marques 
-Inês casada com o Escudeiro: da chegada dos Judeus casamenteiros, que dão a conhecer o Escudeiro Brás da Mata, até ao monólogo em que Inês, já casada e fechada em casa, lamenta a sua sorte.
- Inês casada com o Lavrador: do momento em que Inês recebe a carta que anuncia a morte do Escudeiro até ao final, quando vai ter com o Ermitão, às costas do marido.
Personagens:
- Inês Pereira (protagonista): representa a moça da vila com pretensões a ascender socialmente através do casamento e é dotada de alguma densidade psicológica, poisevolui ao longo da peça, alternando o seu comportamento.
- Mãe de Inês: A Mãe de Inês é uma personagem-tipo, representante de todas as mães que apenas querem o melhor para as suas filhas. Podemos classificá-la como interesseira, inteligente e preocupada.
- Lianor Vaz: Lianor Vaz é uma personagem-tipo também, representante das alcoviteiras e casamenteiras. O seu papel é de intermediária entre o pretendente de Inês e a mesma, papel que lhe renderá dinheiro se o casamento se realizar. Assim, dissimulada, tenta convencer Inês a aceitar a proposta.
- Pêro Marques: Pêro Marques, um camponês rico, apresenta-se como pretendente. É um homem simples, habituado à vida campónia, mas bem-intencionado e ingénuo. Apesar da primeira recusa de casamento, Pêro insiste no seu amor pela rapariga e, quando esta o volta a contactar, depressa a aceita.
- Brás da Mata: Brás da Mata é um escudeiro pobre, embora não o deixe saber. Faz-se acompanhar de um moço, seu criado, que revela ao público característico do seu amo. O escudeiro é arrogante e falso, mas também tinha as características ideais de Inês, o que leva os judeus a recomendá-lo. Ele mostra-se bem-falante e elogia Inês no primeiro encontro, convencendo-a de imediato.
No entanto, após a cerimónia, Brás da Mata revela-se rude e aprisiona Inês em casa, quando parte para a guerra. Acaba por morrer, fugido da guerra.
- Judeus (Latão e Vidal): Os judeus são personagens-tipo, que representam os judeus casamenteiros da altura. À semelhança das alcoviteiras, o seu ofício era concretizar casamentos, sendo pagos por uma das partes para chegar à outra.
São personagens cómicas e recorrem a uma linguagem caricatural, por exemplo, nas hesitações do seu discurso ou no retrato exagerado que apresentam do Escudeiro.
- Ermitão: O Ermitão, um padre pobre, é também uma personagem-tipo. É utilizado por Gil Vicente para criticar o clero, pois o Ermitão acaba por se envolver com Inês, violando o seu voto de castidade.
Representação do quotidiano (hábitos, crenças, os modos de vida das pessoas…):
- Ao casamento: o texto dá-nos a conhecer as ideias de Inês Pereira, da Mãe e de Lianor Vaz relativamente a este assunto. Além disso demonstra o conjunto de aspetos relacionados com o casamento: a intervenção da Alcoviteira e dos Judeus, os encontros com os pretendentes, as regras, o dote, a festa, a vida em casal…
-Ao estatuto da Mulher, sobretudo da mulher solteira: os casamentos eram, regra geral, combinados, de modo a funcionarem como negócios dentre duas partes, sem que a jovem solteira tivesse qualquer participação. Neste caso, apesar de haver intermediários entre Inês Pereira e os pretendentes, a última palavra é a da protagonista, que no entanto, não consegue, com o primeiro casamento, alcançar aquilo que deseja: libertar-se do “cativeiro” da vida doméstica e ascender socialmente.
- À vida doméstica: acompanhamos a protagonista nos seus afazeres domésticos, assumindo a postura típica da mulher do povo que trata da casa. No seu monólogo inicial, Inês está em casa, a costurar; depois, já casada e fechada em casa, também costura.
- À vida palaciana: apesar da vida de aparências que existia na corte e que está bem espalhada no comportamento do Escudeiro, muitos eram os que ambicionavam fazer parte desse mundo, como Inês. Ela quer “ouvir e folgar” e, por isso, pretende inicialmente casar com um homem “discreto”, “avisado”, que saiba “tanger” viola.
- À vida do campo, simples, autêntica, mas pouco considerada: Pêro Marques representa este tipo de vida, em oposição à vida fútil, falsa da corte. Curiosamente, esta vida simples, de trabalho, garante mais sustenta que a vida ociosa dos fidalgos.
- À vida do Clero: o encontro de Lianor Vaz com um clérigo devasso e o de Inês Pereira com um Ermitão devoto de Cupido denunciam comportamentos imorais da parte de elementos do clero.
Tipos de Cómico:
-Cómico de Carácter: assenta na personalidade, de modo de ser da personagem, traduzindo-se, muitas das vezes, na sua incapacidade para integrar num determinado ambiente e meio social. (Ex: Pêro Marques é o melhor exemplo de cómico de caráter, devido ao seu comportamento e falas desadequadas, assim como a sua postura.)
- Cómico de Situação: baseia-se na intriga, no próprio desenrolar dos episódios, que podem provocar desencontros, contrastes, o inesperado ou insólito. (Ex: “Assentou-se com as costas para elas” Pêro Marques, novamente, coloca-se várias vezes em situações que provocam o riso.)
- Cómico de Linguagem: resulta da desadequação que é dito ou do modo que é dito relativamente ao contexto envolvente; pode ser produzido através da ironia, do sarcasmo, de apartes ou outros comentários, de trocadilhos e jogos de palavras, de expressões populares, de calão, entre outros meios. (Ex: “E ela sabe latim / e gramática e alfaqui” (vv. 196/197) “Cuido que lhe trago aqui / peras da minha pereira” (vv. 298/299))
Dimensão satírica: Através do recurso a personagens-tipo e ao cómico (de linguagem, de carácter ou de situação), Gil Vicente pretende criticar a sociedade e tentar advertir o público quanto a pessoas como as retratadas.
Recursos expressivos: Ironia, Comparação, Interrogação retórica, Metáfora e Metonímica.
· Luís de Camões, Rimas
	Contextualização Histórico-Literária
	Contexto Histórico- Cultural
	Contexto Literário- Influências
	Histórico- decadência económica, social e moral
Cultural- Renascimento, Humanismo, Classicismo
	Estéticas tradicionais: poesia trovadoresca e poesia palaciana
Estéticas clássicas: Petrarquismo, Neoplatonismo e o Soneto
Linguagem, estilo e estrutura:
Redondilhas- composições poéticas de versos de 5 ou 7 sílabas métricas
Sonetos- composição poética constituída por 14 versos distribuídos por duas quadras e dois tercetos decassilábicos, com esquema rimáticos variáveis (abba/ abba/ cde/cde – rima emparelhada e interpolada nas quadras e interpolada nos tercetos)
Recursos expressivos: antítese, paradoxo, enumeração, metáfora, hipérbole, apóstrofe, aliteração, comparação, adjetivação, personificação, interrogação retórica,…
Assuntos/ Temas: 
- A experiência amorosa e a Reflexão sobre o Amor
“Tanto do meu estado me acho incerto”- o sujeito poético reflete sobre os efeitos contraditórios que a contemplação da mulher amada provoca nele, demonstrando, assim, o seu sofrimento amoroso.
“ Amor é um fogo que arde sem se ver”- o sujeito poético tenta definir ao amor, apresentando, para tal, uma série de expressões que evidenciam a sua natureza contraditória.
- A representação da amada
“Descalça vai para a fonte”- o sujeito poético apresenta, num tom elogioso, o retrato de uma mulher que num ambiente campestre vai à fonte.
- A representação da Natureza
“A fermosura desta fresca serra”- o sujeito poético descreve uma Natureza alegre, harmoniosa, propícia à vivência do amor, concluindo, no entanto, que essa mesma Natureza que provoca sofrimento, se a mulher amada não estiver presente (a Natureza é encarada como um estado de alma).
- A reflexão sobre a vida pessoal
“Erros meus, má fortuna, amor ardente”- o sujeito poético recorda o seu passado, caraterizado pelos “erros”, pela má sorte e pelo amor, refletindo sobre o seu infortúnio e sobre o seu sofrimento.
- O tema do desconcerto
“Os bons vi sempre passar”- o sujeito poético apresenta a sua vida pessoal sobre o mundo, caraterizando-o como injusto e arbitrário e exemplificando a sua reflexão com o seu caso pessoal.
- O tema da mudança
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”- o sujeito poético reflete sobre a mudança da Natureza e o tempo da Natureza, que se opõe à mudança do “Eu” e ao tempo humano.Com efeito, o tempo da Natureza acarreta uma mudança positiva, ao passo que o tempo humano surge associado a mudanças negativas, que conduzem ao pessimismo, ao desencanto e ao desconcerto.
· Luís de Camões, Os Lusíadas
Natureza da Obra: Epopeia (poema narrativo da exaltação de um acontecimento digno de ser louvado e com alcance universal).
Estrutura Externa:
- Forma narrativa
- Versos decassilábicos (geralmente heroicos)
- Rimascom o esquema rimático abababcc (cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos versos) 
- Poema dividido em 10 cantos (1102 estâncias, sendo o canto mais longo o X, com 156 estrofes)
- Estrofes de 8 versos-oitavas
Estrutura Interna:
Proposição (apresentação do assunto): Camões propõem-se a cantar: 
- As navegações e as conquistas no Oriente nos reinados de D. Manuel e de D. João III;
- As vitórias em África de D. João I a D. Manuel, 
- A organização do país durante a 1ª Dinastia.
Invocação (súplica de inspiração para escrever o Poema): Há várias invocações:
1ª- Súplica às ninfas do tejo (Tágides) para que o ajudem na organização do poema
2ª- Súplica a Calíope, porque estão em causa os mais importantes feitos lusíadas
3ª- Súplica às ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios
4ª- Nova invocação a Calíope para que o inspire para terminar a obra
Dedicatória (oferecimento da obra a D. Sebastião):
- Esta dedicatória a D. Sebastião reflete a esperança do povo português no novo monarca e, sobretudo, na possibilidade de retornar a expansão no Norte de África.
Os quatro planos da obra:
Plano da Viagem (plano central) - A narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem realizada entre Lisboa e Calecute. A função deste plano é conferir unidade ao poema. 
É por esse motivo, uma espécie de “esqueleto” da epopeia.
Plano da História de Portugal- Relato dos factos marcantes da História de Portugal. 
A função deste plano é relatar e enaltecer a História de Portugal.
Plano da Mitologia (plano paralelo) - A Mitologia permite e favorece a evolução da ação: os deuses assumem-se como apoiantes ou como oponentes dos Portugueses, o que faz com que constituía a intriga da obra.
A função deste plano é conferir beleza, ação e diversidade ao poema, ajudando no processo de divinização dos Portugueses.
Plano do Poeta- Considerações, críticas, lamentos e opiniões do poeta, expressas, nomeadamente, no início e no fim dos cantos.
Este plano serve para o poeta transmitir as suas posições face ao mundo, aos outros e a si mesmo.
Imaginário Épico:
- Matéria épica- viagem de Vasco da Gama até à Índia; feitos históricos dos Portugueses nos reinados anteriores a D. Sebastião ou futuros.
- Mitificação do Herói- exaltação da coragem, da determinação, da superação do medo por parte dos Portugueses, o que faz com que se elevem acima dos heróis da Antiguidade e ascendem ao estatuto de divindades. O herói apresenta um ideal de Homem: ultrapassa a condição humana ao apresentar-se enquanto figura que se rege por ideais nobres, desprezando os valores vis.
- Sublimidade do canto- forma adequada ao conteúdo, capaz de ajudar a imortalizar o herói.
 Reflexões do Poeta- antiepopeia:
- Fragilidade e efemeridade da vida humana
- Desprezo pelas artes e pelas Letras
- Lamentos do poeta/ Explicitação de quem merce ser cantado
- O poder corrupto do dinheiro
- Imortalização do nome- o verdadeiro caminho para a fama
- Desvalorização da arte/ Crítica ao estado de decadência do país/ Exortação a D. Sebastião
Recursos expressivos: anáfora, anástrofe, apóstrofe, comparação, enumeração, hipérbole, interrogação retórica, metáfora, metonímia, personificação…
· Padre António de Vieira, Sermão de Santo António (aos Peixes)
O sermão seiscentista, cujo objetivo principal é levar os fiéis a reconhecerem os seus erros e a alterarem comportamentos, apresenta também uma importante componente lúdica:
- Docere (ensinar/educar) - função pedagógica, muitas das vezes conseguida através de citação bíblicas e de autores daa Igreja ou de obras clássicas.
- Delectare (agradar) - função estética, concretizada através de um discurso rico em recursos expressivos, como a alegoria, metáfora, comparação, ou a antítese, enumeração, gradação interjeição…
- Movere (persuadir) - função crítica e moralizadora, baseada numa argumentação bem construída, recorrendo a argumentos de autoridade, como exemplos bíblicos, e a um discurso apelativo, repleto de recursos como a apóstrofe, a interrogação retórica, as frases exclamativas e imperativas.
Crítica Social: 
A 13 de junho de 1654, o Padre António de Vieira prega o Sermão de Santo António, no qual, de forma alegórica, denuncia os comportamentos corruptos dos colonos do Maranhão.
Sentindo-se desiludido com os Homens, Vieira decide voltar-se da Terra para o Mar e pregar aos Peixes.
De uma forma metafórica, diz que os pregadores são “ o sal da terra”, cujo efeito deve ser o de impedir a corrupção. Ao longo do sermão, Vieira começa por louvar as virtudes dos peixes, para de seguida, repreender, com veemência, mas também com fina ironia, os seus defeitos.
Embora interpele os peixes, na verdade, é aos Homens que se dirige, sendo os primeiros metáfora dos homens; estabelece, assim, um paralelismo entre os vícios dos peixes e os vícios dos Homens, neste caso, para denunciar a exploração dos colonos sobre os indígenas.
Deste modo, é inegável a forte crítica social presente no Sermão, o que o torna num exemplo paradigmático de texto de intenção social, que partindo de um púlpito no centro das atenções dos olhares dos ouvintes, pretendia atingir os seus corações e alterar condutas.
	
	Capítulos do Sermão
	Conteúdo Temático
	Exórdio ou Introito
	Capítulo I
	- Conceito predicável: (“Vós sois o sal da terra”)
- Exploração do tema a partir da metáfora do sal (“Santo António foi…”)
-Elogio a Santo António como modelo a seguir
- Invocação à Virgem Maria no final do capítulo –“Ave-Maria”
Nota: Embora não fosse obrigatório, os sermões podiam conter também uma invocação (pedido de auxílio divino)
	Exposição e Confirmação 
(Apresentação pormenorizada da matéria a desenvolver e defesa da tese através de argumentos inquestionáveis)
	Capítulo II (exposição)
	- Louvores aos peixes em geral
	
	Capítulo III
(continuação)
	- Louvores aos peixes em particular:
- Peixe de Tobias, Torpedo, Rémora e Quatro-olhos
	
	Capítulo IV
(exposição)
	- Repreensões aos peixes em geral: denúncia de casos de antropofagia social
	
	Capítulo V
(confirmação)
	Repreensões aos peixes em particular: roncadores, voadores, pegadores e polvo
	Peroração (síntese do que foi desenvolvido e utilização de um desfecho forte para impressionar o auditório) – conclusão com uma última advertência aos peixes
	Capítulo VI
	- Apelo aos ouvintes numa última advertência aos peixes
- Retrato dele próprio como pecador
- Hino de louvor a Deus
Nota: De acordo com as Aprendizagens Essenciais, devem ser lidos na íntegra os capítulos I e V do Sermão de Santo António e Excertos dos restantes capítulos.
Capítulo I: Exórdio
Exórdio- exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender a partir do conceito predicável “Vós sois o sal da terra”
Conceito predicável: “ Vos estis sal terrae” (“Vós sois o sal da terra”)
Chama-se conceito predicável ao texto bíblico que serve de tema e que irá ser desenvolvido de acordo com a intenção e o objetivo do autor; assenta em figuras ou alegorias através dos quais se pretende alcançar uma demonstração de fé, ou verdades morais…
O sermão começa por apresentar o conceito predicável – "vós sois o sal da terra", sendo que o sal representa os pregadores que devem impedir a corrupção da terra. Mas como a terra está corrupta, apesar de haver muitos pregadores, é porque estes não cumprem o seu dever ou ainda porque a terra não ouve a pregação. 
Um exemplo de auditório que não ouve a pregação são os habitantes de Arimino que não quiseram ouvir Santo António.
Então o santo deixou-os e foi para junto ao mar pregar aos peixes.
Comemorando o dia de Santo António, o Padre António Vieira quer seguir o seu exemplo, e afirma ir também ele pregar aos peixes. 
Não desistiu da doutrina, mas mudou de auditório, e os peixes vieram ouvi-lo. Tal como aconteceu a Santo António, o Padre António Vieira pregava a sua doutrina numa terra corrompida pelos vícios, a um auditório que não o ouvia e que estava contra ele (lembremos as circunstâncias em que este sermão foi pregado) e então resolve proceder comoo Santo e pregar aos peixes.
	O Sal- metáfora dos pregadores
	A terra- metáfora dos ouvintes
	Os pregadores são importantes na transmissão da palavra evangélica, na preservação da moralidade e da integridade dos homens- a “Terra”. Porém, se os ouvintes não querem ouvir a palavra de Deus, o que se faz? O orador diz que “este ponto não resolveu Cristo Senhor nosso no Evangelho“.
	O sal impede que os alimentos se estraguem.
	Os pregadores impedem a corrupção.
	O sal que salga Evita a corrupção
O sal que não salga É inútil e desprezado
O pregador é como o Sal Se a palavra não chega aos ouvintes, é porque algo está errado 
	Então se a Terra está corrupta, de quem é a culpa?
	Pode ser atribuída a duas causas:
	O pregador não prega convenientemente a palavra de Deus
	A terra não ouve a palavra de Deus
	Pregadores
	Ouvintes
	O sal não salga
Não pregam a doutrina
Dizem uma coisa e fazem outra
Pregam-se a si
	A terra não se deixa salgar
Não querem receber a doutrina
Querem imitar as ações
Servem os seus apetites
Ou seja, o Padre António Vieira defende que tal como o sal impede a corrupção da matéria, os pregadores devem impedir a corrupção das almas.
Acrescenta também que apesar de haver muitos pregadores, a terra está corrupta, logo, o sal, que são os pregadores, não está a cumprir a sua função de impedir que a terra se corrompa.
E corrupção da terra pode ser da responsabilidade:
· Dos Pregadores: Por não pregarem a verdadeira doutrina, por não viverem de acordo com aquilo que pregam ou por se pregarem a si mesmos e não a Cristo.
· Dos ouvintes: Por não ouvirem a pregação, mesmo que seja verdadeira, por preferirem imitar a vida e não a pregação dos pregadores ou por cederem apenas aos seus apetites
E para atingir os seus objetivos e para apresentar o seu raciocínio utiliza:
· Analogias (sal=pregadores);
· Silogismos (por exemplo: os pregadores são o sal que impede a corrupção; a terra está corrupta; conclusão – os pregadores não são verdadeiro sal);
· Paralelismos – começando por apresentar o enunciado: "Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar", passa à explicitação de três hipóteses centradas simetricamente nos 2 elementos inicialmente propostos, pregadores e ouvintes. Resulta daqui três períodos bipartidos por ponto e vírgula, sendo a primeira parte do período correspondente aos pregadores e a segunda aos ouvintes. Assim: 
Quanto ao estilo, predominam as frases curtas, maioritariamente usadas ao longo do primeiro capítulo, que imprimem um ritmo ao mesmo tempo rápido e cadenciado que, combinado com as muitas interrogações retóricas, conduz a uma entoação viva e apelativa.
Capítulo II: Louvores em Geral
Exposição- referência às obrigações do “Sal”; indicações das virtudes dos peixes em geral; críticas aos Homens. 
Todo o primeiro parágrafo é irónico, pois tudo o que é dito significa o seu contrário.
· O pregador diz que nunca teve pior auditório do que os peixes, mas considerando que está, de facto, a dirigir-se aos homens (colonos do Maranhão), esta afirmação ganha um sentido contrário e, por isso irónico – nunca teve pior auditório do que aqueles homens;
· Depois diz que os peixes nunca se hão-de converter, o que é verdade, mas é para dizer que a esse desgosto já ele está acostumado, ou seja, são os homens que não se convertem;
· Finalmente, ainda com ironia, promete aos peixes que o sermão será menos triste do que os que faz aos homens. Ora aquele é um sermão para os homens. É um jogo irónico de troca homens/peixes, peixes/homens.
O sal preserva o que é são, e impede que se corrompa. Por analogia com as duas propriedades do sal, a pregação de Santo
António, que é o "sal da terra", tem duas propriedades: louvar o bem e repreender o mal.
Tal como Santo António louva o bem e repreende o mal, o Sermão do Padre António Vieira vai louvar o bem que os peixes fazem – as virtudes – e repreender o mal que também fazem – os vícios.
Assim, no que diz respeito à estrutura, o sermão será dividido em duas partes, a primeira contendo os louvores das virtudes, a segunda as repreensões dos vícios.
Este é o exemplo de uma das funções do sermão: ensinar, instruir.
	Qualidades e virtudes dos Peixes
	Defeitos dos Homens
	A obediência
	Deixam-se levar pelas vaidades/ o deslumbramento face à adulação
	São bons ouvintes e obedientes
	A altivez e a presunção
	O respeito e a devoção ao ouvirem a palavra de Deus
	A violência e a obstinação
	O seu retiro e afastamento relativamente aos Homens
	A crueldade irracional
	Não se domam nem domesticam (vivem livres e puros longe dos homens)
	Corrompem quem viver perto deles pois são exibicionistas e vaidosos
Para exemplificar as suas afirmações, realça a lenda de Santo António e os Peixes, o episódio bíblico de Jonas ou o do Dilúvio. Citação: "Assim o diz o grande doutor da Igreja S. Basílio: Non carpere solum, reprehendere que possumus pisces, sed sunt in illis, et qux prosequenda sunt imitatione. (“Não só há que notar, diz o santo, e que repreender nos peixes, senão também que imitar e louvar."
Capítulo III- Louvores em Particular
Confirmação- louvores a alguns peixes em particular e consequentemente crítica aos Homens
	Peixe
	Virtudes
	Simbologia
	O peixe de Tobias
	As entranhas têm a virtude de curar a cegueira dos Homens e o coração afugenta os demónios
	Simboliza o poder purificador da palavra de Deus 
	A rémora
	Apesar do seu pequeno corpo, possui a força de impedir uma nau de seguir o seu caminho
	Simboliza o poder que a palavra do pregador tem de ser guia das almas. 
	O torpedo
	Produz descargas elétricas que fazem tremer o braço do pescador que o tenta capturar
	Simboliza o poder que a palavra de Deus tem de fazer tremer os pecadores que pescam na terra tudo quanto apanham
	O quatro-olhos
	Tem a capacidade de se defender dos outros peixes e das aves
	Simboliza o dever que os cristãos têm de afastar os olhos da vaidade terrena, olhando para o Céu, sem esquecer o Inferno.
São inúmeros os recursos estilísticos que Vieira utiliza na sua elaboradíssima prosa barroca. Alguns exemplos de utilização de:
· Comparação – "se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato marítimo de Santa António".
· Metáfora – "o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não queriam lavar."
· Antítese – "ou para o de cima, olhando direitamente só para o Céu, ou para o de baixo, olhando direitamente só para o Inferno"
· Anáfora – "Quantos... Quantas... Quantos"
· Interrogação retórica – "Um peixe de tão bom coração e de tão proveitoso fel, quem o não louvará muito?"…
 No último parágrafo do capítulo III, o orador apela aos peixes no sentido de crescerem e se multiplicarem, pois é uma das suas características, porque são o sustento dos pobres. Como em muitos outros momentos do sermão, Vieira coloca-se inequivocamente ao lado dos pobres. 
Sardinhas- sustento dos pobres e Solhos e os salmões- sustento dos ricos
Capítulo IV- Repreensões em Geral
Exposição- indicação das repreensões aos peixes em geral; crítica aos Homens.
Repreender os vícios tem como objetivo a correção dos mesmos vícios. Mas ainda que, no caso presente, apontar os vícios possa não servir de emenda, pode, pelo menos provocar a confusão, ou seja, a reflexão. Através das repreensões aos vícios dos peixes, vão, então, apontar-se os vícios dos homens.
Nos dez primeiros parágrafos, que constituem o ponto alto deste sermão, aponta-se o terrível defeito que os peixes/homens têm de se comerem uns aos outros ou seja, de se explorarem uns aos outros. 
· Os grandes comem os pequenos;
· Andam sempre à procura de como se hão-de comer;
· Comem-se os mortos (comem-no, entre outros, os herdeiros, os testamenteiros, os credores, a mulher, o coveiro, o padre)
· Comem-se os vivos (por ex. a um réu comem-no, entre outros, o carcereiro, o inquiridor, a testemunha, o juiz.
Desde o início do sermão que o pregador vem lembrando que está a pregar aos peixes e lhes aponta os seus vícios e as suas virtudes. Agora, ao falar-lhes,precisamente dos vícios, aponta-lhes como exemplo os vícios dos homens. Ora, considerando a alegoria do sermão – os peixes são a representação dos homens que o Padre António Vieira utiliza para indiretamente os poder criticar – é muito interessante esta forma muito hábil de finalmente falar diretamente aos homens dos seus vícios, através da inversão peixes/homens.
Depois de apresentar, a sua tese de antropofagia social – o grande vício dos peixes/homens de se comerem uns aos outros
– O orador constrói toda uma argumentação assente no desdobramento desse vício em exemplos e na amplificando desse mesmo vício. No final, aponta a ignorância e a cegueira, mostrando que a vaidade leva os homens a, cegamente irem atrás de dois pedaços de pano e nisso gastarem toda a sua vida. Mostra-lhes que tal entrega não passa de uma loucura com que é preciso acabar, apontando o exemplo de Santo António, o jovem nobre que deixou "as galas do mundo", trocando-as pela "sarja e o burel".
Relativamente ao estilo, podem realçar-se alguns exemplos de recursos expressivos:
· Anáfora – "Comem-no...comem-no... comem-no... ";
· Simetria — entre o exemplo do homem que e o do réu.
· Gradação – "come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-o a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra."
· Antítese –" não só de dia, senão também de noite, às claras e às escuras."
· Personificação – "Representa-se-me que com o movimento das cabeças estais todos dizendo que não, e com olhardes uns para os outros, vos estais admirando e pasmando de que entre os homens haja tal injustiça e maldade!"
· Interrogação retórica – Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros?
Capítulo V- Repreensão em Particular
Confirmação- Repreensões a alguns peixes em particular; crítica aos comportamentos ambiciosos, hipócritas e traidores.
	Peixe
	Virtudes
	Atitude Crítica do orador
	O roncador
	O arrogante, representado pelo roncador (peixe que ronca) é aquele que se auto-apregoa, exibindo a sua soberba.
São os poderosos e os que se julgam sábios que se atrevem a comparar-se com Deus.
	Aos roncadores, que lhe provocam simultaneamente o riso e a ira, aconselha a medirem-se e verem corno são ridículos e sem fundamento a sua arrogância. Aconselha-os depois a calar e imitar Santo António
	O pegador
	O oportunista, representado pelo pegador (peixe pequeno que se pega aos costados de um peixe grande), é aquele que se atrela aos poderosos para colher alguns benefícios.
	Aos pegadores aconselha a não se colarem aos grandes, pois quando um desses grandes morre, arrasta consigo todos os pegadores. Quer dizer que cada homem deve procurar o seu caminho e os oportunistas que vivem de se pegar aos poderosos acabam por ser arrastados quando esses poderosos caem em desgraça.
	O voador
	O ambicioso, representado pelo voador (um peixe que voa), é aquele que quer ir além da natural condição que Deus lhe deu.
	Aos voadores aconselha também a imitarem Santo António e a não quererem ser mais do que são.
	O polvo
	O Polvo assume papel de destaque, parece um monge, uma estrela, a própria brandura e mansidão e, por isso, aparenta santidade, beleza e bondade.
	Na sua verdadeira essência, o polvo é um traidor, o maior traidor do mar, porque se esconde, mudando de cor, para, com malícia e mentira, atacar as suas vítimas. A completa desconformidade entre aquilo que o polvo mostra ser e aquilo que é verdadeiramente faz com que os outros sejam enganados. Então o polvo, apanhando-os desprevenidos, ataca-os em segurança.
 Exemplos de recursos expressivos presentes no excerto relativo ao polvo:
· Anáfora – "O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão"
· Simetria – "As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício"
· Interrogação retórica - "E daqui que sucede?"
· Comparação – "O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge"
· Metáfora – "o polvo dos próprios braços faz as cordas"
· Antítese – "traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras."
· Personificação – "E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, (...) o dito polvo é o maior traidor do mar".
Capítulo VI- Peroração (desfecho forte para impressionar o público) e Conclusão
No primeiro parágrafo deste capítulo, o orador, começando por referir o facto de os peixes serem animais excluídos do sacrifício ritual porque aí só podem ser sacrificados animais vivos e os peixes chegariam mortos ao altar, passa à comparação com os homens, afirmando que, como os peixes, chegam ao altar mortos, ou seja, em pecado mortal.
É uma forte crítica aos cristãos, a quem acusa de desrespeitar Deus. No segundo parágrafo, o orador passa à autocrítica, afirmando que melhor fora ser como os peixes e não tomar Deus nas suas mãos, no altar, porque não consegue cumprir verdadeiramente a sua missão de pregador.
O pregador, tomando os peixes como exemplo, afirma que a condição irracional dos peixes é preferível à sua racionalidade, pois os peixes não ofendem a Deus com palavras, nem com a memória, nem com o entendimento, nem com a vontade. 
E enquanto os peixes cumprem o destino que Deus lhes reservou que é servir o homem, ele, pregador, não cumpre a missão que Deus lhe confiou que é servir a Deus.
No final do sermão, o orador apela ao louvor a Deus ("Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos") e fá-lo manifestando emoção, de modo a despertar igual emoção. Para isso, utiliza uma construção anafórica (Louvai / / Louvai) que imprime uma cadência exortativa, já preparada nos dois primeiros parágrafos pelas interjeições exclamativas Oh, Ah e pelas interrogações retóricas ("que rosto hei-de aparecer diante do seu divino acatamento, se não cesso de o ofender?").
 
G. Sátira social
Apesar de ser uma peça de oratória religiosa, o "Sermão de Santo António aos Peixes" é, verdadeiramente, um texto de crítica satírica, que recorre aos mais comuns processos da sátira, usados na literatura portuguesa desde Gil Vicente. Em primeiro lugar a ironia que Vieira usa, subtilmente, como toda a boa ironia, sobretudo abrigando-se por detrás da ambiguidade crítica aos peixes/crítica aos homens. É o caso do início do capítulo II. Mas é sobretudo no recurso aos tipos como figuração dos defeitos mais criticáveis no ser humano e observáveis na sociedade que Vieira quer atingir que a dimensão satírica do texto melhor se revela.
No capítulo V, ao apontar os defeitos particulares, constrói uma interessante galeria de tipos representativos dos defeitos intemporais do ser humano, que são do tempo de Vieira como o tinham sido do tempo de Gil Vicente, como o hão-de ser do tempo de Eça e como, infelizmente, o são no nosso tempo. O arrogante, o oportunista, o ambicioso, o hipócrita é de ontem e são de hoje e na criação desses tipos, como noutras passagens do sermão, Vieira recorre também à caricatura de figuras e de situações, pelo exagero dos traços. É o caso, por exemplo, da passagem no capítulo IV em que, mostrando como os homens se comem uns aos outros.
· Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa
Contextualização histórico-literária
A primeira metade do século XIX, em Portugal, é caraterizada por acontecimentos marcantes, dos quais se destacam as Invasões Francesas (1807-1810), que determinam a fuga da família real para o Brasil (1807); a crise da sucessão dinástica, após a morte do rei D. João VI; a guerra civil e a consequente ruína económica e a sequência de violentas reações políticas.
Apesar da turbulência política, assiste-se a um desenvolvimento industrial, o que promove uma ascensão política da burguesia, bem como o crescimento da classe média.
A publicação do poema narrativode Garrett corresponde à introdução e difusão do romantismo em Portugal, associado à vitória do liberalismo e à ascensão da burguesia.
O Romantismo opõem-se ao Neoclassicismo, caraterizando-se por valorizar o “eu” face ao coletivo e, à pátria e às caraterísticas nacionais; por ter uma crença no progresso e por libertar-se da rigidez das normas clássicas, entre as quais o abandono das fronteiras entre os géneros literários e a valorização da prosa enquanto discurso literário.
Estrutura Interna e Externa da Obra:
	Atos
	Indicações Cénicas
	Dimensão Simbólica
	Ato I
	· Cenas 1-4 – EXPOSIÇÃO – informações relacionadas com os acontecimentos anteriores ao tempo da diegese dramática e apresentação das personagens.
· Cenas 5-8 — CONFLITO – preparação da ação: os governadores resolvem ocupar o palácio de Manuel de Sousa Coutinho que, por sua vez, decide incendiá-lo.
· (Retrato de Manuel de Sousa Coutinho)
· Cenas 9-12 — incêndio do palácio. (1.º momento-chave): Incêndio como causa da mudança; Reflexo do patriotismo de Manuel de Sousa Coutinho e, aumento do sofrimento de D. Madalena.
	· A família vive em paz e aparente harmonia.
· O retrato de Manuel de Sousa Coutinho transmite a serenidade da sua personalidade.
· O incêndio e a consequente destruição do seu retrato tornar-se-ão um prenúncio da catástrofe final-
	Ato II
	· Cenas 1-3 – informações com vista a esclarecer o espectador/leitor sobre os acontecimentos ocorridos entre o final do Ato I e o início do Ato II.
· Cenas 4-8 – preparação da ação: ida de Manuel de Sousa Coutinho e Maria a Lisboa.
· Cenas 9-15 – ação: regresso do Romeiro, cena do reconhecimento. (2.º momento-chave)
· Palácio de D. João de Portugal em Almada: salão antigo de gosto melancólico e pesado; retratos de família e de D. Sebastião, D. João de Portugal e de Camões; reposteiros que impedem a vista para o exterior e a luz; comunicação com a capela da Senhora da Piedade
	· A ausência de luz pressagia a catástrofe final- o círculo fechado em que as personagens vão ficando encerradas, entregues à sua própria angústia, separadas do mundo e da luz, impedidas de fugir.
· Os retratos, para além do carácter nacionalista que transmitem (D. Sebastião e Camões), evocam um passado extinto mas ameaçador, que inviabiliza o presente e, também, o futuro.
· A comunicação com a capela da Senhora da Piedade indicia já o final trágico e demolidor do Ato III, que aí ocorre.
	Ato III
	· Cena 1 – informação sobre a decisão tomada.
· Cenas 2-9 – preparação do desenlace.
· Cenas 10-13 – DESENLACE – tomada de hábito de Manuel e Madalena, morte de Maria (3.º momento-chave). Catástrofe final.
· Parte baixa do palácio de D. João de Portugal: espaço decorado com símbolos de morte (esquife) e de dor (cruz, ornamentos caraterísticos da Semana Santa) …
	· O espaço é símbolo da morte e da impossibilidade de a superar.
· A única saída para uma família católica que assume as suas convicções religiosas e sociais de forma clara e rígida é a renúncia ao mundo e à luz.
A obra está dividida em três atos e estes em cenas, sendo mais longas as primeiras falas dos três atos, mais curtas as últimas: manifestação do adensar do conflito e precipitar o desenlace o incêndio e mudança; a agnórise; a profissão e a morte de Maria.
O caráter trágico da intriga
· Simplicidade da intriga.
· Estrutura tripartida da ação dominada por:
· Esboçar de um conflito entre as personagens e um destino implacável, revelado através de indícios e presságios (Ato I, cenas 1 e 2; Ato II, cenas 5 e 10);
· Personagens torturadas por conflitos de consciência: D. Madalena (Ato I, cena 2; Ato II, cena 10) e Telmo (Ato III, cena 4);
· Coro desempenhado por Telmo (Ato I, cena 2) e pelo coro final (Ato III, cena 9);
· Cena do reconhecimento (Ato II, cenas 14 e 15);
· Catástrofe final (desencadeada pela cena do reconhecimento) que acarreta a morte física (Maria), psicológica (Manuel e Madalena) e social (família) de todas as personagens (Ato III, cenas 11 e 12).
	Caraterísticas da Tragédia Clássica
	1. Efeitos sobre o público: Inspirar sentimentos de terror e piedade.
2. Características gerais:
· Personagens de alta estirpe (social ou moral).
· Presença de um coro: conjunto de personagens que não intervêm diretamente na ação e cuja função é comentar determinados momentos da ação à medida que esta se vai desenrolando.
· Lei das três unidades:
· Unidade de ação — a intriga deve ser simples, sem ações secundárias, de modo a evitar dispersão, aumentando assim a tensão dramática;
· Unidade de espaço — toda a ação dever-se-ia desenrolar no mesmo espaço;
· Unidade de tempo — a duração da ação dramática nunca deveria exceder as 24 horas.
· Estrutura tripartida da ação:
· Exposição – apresentação das personagens; esboçar do conflito ligado a um mistério na origem das personagens, mistério provocado pela força oculta do Destino o qual se revela através de indícios, que apontam para um desfecho trágico e para o desvendar do mistério inicial.
· Progressão dramática – desenvolvimento do conflito que se encaminha para um clímax (pathos – ponto culminante da ação trágica) em que se desvenda o mistério, ligado a uma relação de parentesco oculta (reconhecimento /anagnórise);
· Desenlace/Catástrofe – o fim das personagens é sempre a morte (física, social ou afetiva).
O tempo
Tempo histórico: conjunto das referências a acontecimentos reais que conferem cor epocal ao texto e que permitem a sua inserção numa determinada época.
· Referências históricas presentes no texto, a partir das referências a:
· Batalha de Alcácer-Quibir, 11 de Agosto de 1578 (fala de D. Madalena, Ato I, cena 2);
· Reforma "(...) o homem é herege, desta seita nova de Alemanha ou de Inglaterra" – meados do séc. XVI (fala de Teimo, Ato I, cena 2);
· "(...) os governadores de Portugal por D. Filipe de Castela, que Deus guarde (...)" (fala de Jorge, Ato I, cena 5) – Filipe II de Espanha, I de Portugal, aclamado rei em 1580, e da didascália inicial do Ato I ("câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete"), concluir-se-á que a ação de Frei Luís de Sousa (não só a representada mas também os seus antecedentes) se situa nos finais do séc. XVI, início do séc. XVII.
Tempo representado: tempo que medeia entre o início e o fim da ação representada.
· Segunda fala de Maria do Ato II, cena 1, para concluir, a partir da expressão "(...) Há oito dias que aqui estamos nesta casa", que os Atos I e II estão separados por oito dias.
· 13.ª e 14.ª falas de Jorge (Ato III, cena 1): "Mas isto ainda é cedo", "Quatro, quatro e meia (...) São cinco horas, pelo alvor da manhã", para concluir que entre os Atos II e III apenas decorrem algumas horas.
Assim sendo, o tempo representado será de oito dias.
· O tempo da representação está limitado a três momentos fulcrais que correspondem aos três momentos- chave do desenvolvimento da intriga:
· Exposição/Ato I – um dia: sexta-feira, 27 de Julho de 1599 (Ato I, cena 2, 27.ª fala de Madalena);
· Reconhecimento/Ato II – um dia: sexta-feira, 4 de Agosto de 1599;
· Desenlace/catástrofe – uma noite (sexta para sábado) de 5 de Agosto de 1599 (Ato III, cena 1).
· O tempo referido na obra e que delimita a sua ação será definido a partir da data da Batalha de Alcácer Quibir (4 de Agosto de 1578) referida por D. Madalena na cena 10 do Ato II. Assim, assume especial importância para a definição dos limites da diegese dramática a cena 2, do Ato I, em especial as seguintes tiradas de Madalena:
· “(... ) D. João ficou naquela batalha (...) como durante sete anos (...) o fiz procurar" (1578 + 7 = 1585);
· "(...) a que se apega esta vossa credulidade de sete... e hoje mais catorze... vinte e um anos" (1585 + 14 = 1599);
· "(...) vivemos seguros, em paz e felizes... há catorze anos."
· Também uma referência de Telmo a Maria (Ato I, cena 2): "Então! Tem treze anos feitos, é quase uma senhora" e as palavras do Romeiro (Ato II, cena 14): "Porque jurei (...) quando me libertaram (...) vivi lá vinte e um anos", juntamente com as tiradasde Madalena acima referidas, permitem definir o tempo da diegese dramática em cerca de vinte e um anos (1578 a 1599). No entanto, é possível recuar um pouco mais, pois sabemos que D. Madalena casara com D. João de Portugal um pouco antes da batalha e também ainda antes da batalha, portanto, ainda casada, viria a apaixonar-se por Manuel de Sousa Coutinho: "Este amor, que hoje está santificado e bendito no céu, porque Manuel de Sousa é meu marido, começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi... e quando o vi, hoje, hoje... foi em tal dia como hoje (4 de Agosto) D. João de Portugal ainda era vivo!" (Ato II, cena 10).
· Construção de um eixo temporal com o objetivo de organizar os vários acontecimentos históricos da ação que preenchem o tempo da diegese dramática:
	Simbologia
	O dia da Semana: Sexta-feira e a sua carga semântica negativa
	Dia considerado aziago e fatal para Madalena: "Ai que é sexta-feira" (Ato II, cena 5) e "É um dia fatal para mim" (Ato II, cena 10). Aliás, coincidência ou não, todos os acontecimentos marcantes da vida de Madalena ocorreram à sexta-feira: primeiro casamento, primeiro encontro com Manuel, Batalha de Alcácer Quibir e desaparecimento de D. João, regresso de D. João.
	Os Retratos
	Inicialmente, os retratos remetem para a força espiritual e física; posteriormente, o retrato queimado de Manuel de Sousa Coutinho é prenúncio da catástrofe final que destrói a família; o retrato de Luís de Camões representa a glória das letras, sendo o poeta o paradigma romântico do génio solitário e incompreendido; o retrato de D. João de Portugal simboliza o fantasma ameaçador que regressa do passado para aniquilar o presente.
	Ambiente crepuscular e/ou noturno
	("É no fim da tarde" (didascália inicial do Ato I); "É noite fechada" (didascália Ato I, cena 7);"É alta noite" (didascália inicial do Ato III).)
A preferência pelos ambientes noturnos, característica romântica pode simbolizar a morte que se abaterá sobre a família, mas também sublinha um certo aspeto transgressor que envolve toda a história daquele núcleo familiar.
	A decoração dos espaços
	Progressivamente, a decoração dos espaços vai-se tornando mais despojada, mais melancólica, impossibilitando o contacto com o exterior.
	A permanência do número 7 
	(7 anos de procura de D. João; 14 anos de casamento com Manuel de Sousa Coutinho (7 + 7); 21 anos desde o desaparecimento de D. João (3 x 7).)
O número 7 é o símbolo de uma totalidade: 7 foram os dias da criação do Mundo, 7 são os pecados mortais e as virtudes que se lhe opõem, 7 são os dias da semana, 7 são as cores do arco-íris...
	As referências literárias
	A obra Os Lusíadas, de Camões, particularmente o episódio de Inês de Castro, enfatizam o carácter nacionalista da obra, ao mesmo tempo que ilustram a vivência infeliz do amor presente em Frei Luís de Sousa. 
O espaço
	Atos
	Caraterização dos espaços
	Ato I
	Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada:
· Luxo e elegância da época;
· Porcelanas, charões, sedas, flores, etc.;
· Duas grandes janelas donde se avista o Tejo e Lisboa;
· Retrato de Manuel de Sousa Coutinho vestido com o hábito da Ordem de S. João de Jerusalém;
· Comunicação com o exterior e o interior do palácio.
Num primeiro momento, este espaço simboliza a paz e a aparente harmonia que dominam a família. No entanto, o incêndio (final do Ato I) e a destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho são já um prenúncio da catástrofe final.
	Ato II
	Palácio de D. João de Portugal, também em Almada:
· Salão antigo de gosto melancólico e pesado;
· Retratos de família e, em lugar de destaque, os de D. Sebastião, D. João de Portugal e de Camões;
· Reposteiros que impedem a vista para o exterior e a entrada de luz;
· Comunica com a capela da S. da Piedade;
Este salão está imbuído de uma forte carga simbólica, não só pela quase ausência de luz pressagiadora da catástrofe final, mas também pelos retratos que, para além do aspeto nacionalista que transmitem (D. Sebastião, Camões), evocam um passado ameaçador que inviabiliza o presente e, também, o futuro.
	Ato III
	Parte baixa do palácio de D. João de Portugal:
· Lugar vasto e sem ornato algum;
· Comunica com a capela da S. da Piedade;
· Decorado com símbolos de morte (esquife) e de dor (cruz, ornamentos característicos da Semana Santa);
· Existência de um hábito religioso
O espaço é símbolo da morte e da impossibilidade de a superar.
A única saída para uma família católica que assume as suas convicções religiosas e sociais de forma clara e rígida é a renúncia ao mundo e à luz.
Os espaços foram-se progressivamente obscurecendo e afunilando, tornando-se severos e despojados. Este último local é bem o símbolo da morte, e da impossibilidade de a superar, já que é a única saída para uma família católica que assume as suas convicções religiosas e sociais de forma clara e rígida, é a renúncia ao mundo e à luz.
Assim, e tal como o tempo, o espaço assume, logo desde o início, um carácter pressagiador do desenlace final, contribuindo também para a intensificação progressiva da tensão dramática.
As personagens
	
Personagens
	Caraterísticas
	Madalena
	Madalena é o paradigma da mulher apaixonada:
· Casada em primeiras núpcias com D. João de Portugal desaparecido em Alcácer Quibir, a quem respeitava como a um pai, casa, pela segunda vez, com Manuel de Sousa Coutinho, a quem ama perdidamente e de quem tem uma filha, Maria.
· Permanentemente infeliz e angustiada, vive perseguida pelo remorso de ter começado a amar Manuel ainda em vida de D. João (Ato II, cena 10) e por um medo de que o seu primeiro marido, cuja morte nunca foi confirmada, regresse. Respeita Telmo, embora este alimente os seus terrores e as suas superstições (Ato I, cena 8; Ato II, cena 10).
· Madalena é sobretudo uma personagem romântica, pela sua sensibilidade e pela submissão total à paixão por Manuel. Antes de ser mãe, Madalena é, essencialmente, uma mulher apaixonada: "Em tudo o mais sou mulher, muito mulher" (Ato I, cena 8). No entanto, ela é também produto da sociedade em que se insere, uma vez que a visão católica da indissolubilidade do matrimónio a torna uma personagem infeliz e atormentada pelo remorso e pelo pecado.
	Maria
	Filha de Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho;
· Crescimento precoce, madura e adulta para a idade (13 anos);
· Doente, débil, delgada e tísica;
· Culta, gosta de ler;
· Visionária (Ato I, cena 4);
· Pressente a desgraça (Ato II, cena 1);
· Curiosa (Ato II, cena 2);
· Nacionalista (Ato II, cena 3);
· Sebastianista (Ato II, cena 3).
Maria, uma personagem marcada pelo "pecado", porque fruto do amor proibido entre Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, é o símbolo do nacionalismo romântico (defesa da pátria, empolgamento face à atitude do pai de incendiar o palácio – Ato II, cena 1) e também do Sebastianismo dos finais do séc. XVI / início do séc.
XVII. Um Sebastianismo voltado para o passado, centrado num hipotético e mais que improvável regresso de
D. Sebastião e que integrará, para sempre, o imaginário e a personalidade nacionais.
Como já atrás se referiu, Maria é a única personagem que morre, simbolizando a sua morte, e bem ao jeito romântico, a impossibilidade de viver sem o amor (dos pais, neste caso), sem o sonho e o aspeto irreconciliável entre o eu e a sociedade.
	Telmo
	Escudeiro, amigo e confidente, por quem Madalena sente respeito e carinho. Vê nele um pai, uma proteção;
· Nutre por Maria uma afeição especial, superior ao amor que tem por D. João (Ato III, cena 4);
tal como Maria, também é uma personagem sebastianista;
· alimenta os remorsos de Madalena e as fantasias de Maria;
· simboliza a presença constante do passado, que, quando regressa, na figura de D. João, também o aniquila;
· no fim fica só e sem ninguém, sem a família à qual estava ligado por laços afetivos. O regresso de D. João e o conflito interior daí decorrente abalam-lhe as certezas, destruindo-o também.
	Manuel de Sousa Coutinho
	Manuel carateriza-se por ser fidalgo, bom português, casado com D. Madalena e pai de Maria;é cavaleiro de Malta.
Manuel de Sousa é também o símbolo do Portugal novo e racional (transposto para a época de Garrett) que pode ser "engolido" pelo passado, se não souber evoluir.
É talvez a personagem que maior evolução/transformação sofre ao longo da peça. No início, apresenta-se-nos como uma personagem racional, segura de si, corajosa, capaz de lutar pelos seus ideais, é nas palavras de Telmo "guapo cavalheiro, honrado fidalgo, bom português" (Ato I, cena 2).
No entanto, e a partir do momento em que vê o seu retrato devorado pelas chamas que ele próprio ateou (Ato I, cena 9), os pressentimentos de que algo poderá ensombrar o futuro começam a ganhar forma. O destino de Manuel de Sousa Coutinho será idêntico ao do seu pai, no sentido de que são eles próprios que "provocam" o destino e atraem a fatalidade e a morte.
Este progressivo afastamento da racionalidade é também pressentido por Frei Jorge, seu irmão, que afirma na cena 9, do Ato II: "(...) Até meu irmão o desconheço! A todos parece que o coração lhes adivinha desgraça!..." 
Manuel de Sousa Coutinho é também o símbolo da luta pela liberdade, da não subjugação à tirania (e daí a sua atemporalidade) e de um certo nacionalismo (embora se saiba, historicamente, que as querelas de Manuel de Sousa com os governadores tinham um carácter pessoal e não político, uma vez que toda a família apoiava a administração castelhana) e é através destes dois aspetos que ele se aproxima de Maria. Após o desencadear da catástrofe, a principal preocupação de Manuel de Sousa Coutinho vai para sua filha: "Oh! minha filha, minha filha! Desgraçada filha, que ficas órfã!... órfã de pai e de mãe... e de família e de nome, que tudo perdeste hoje..." (Ato III, cena 1) e é o seu amor paterno que o faz voltar-se para Deus e oferecer-lhe a sua dignidade em troca da saúde e vida de Maria: "Peço-te vida, meu Deus, peço-te vida, vida, vida... para ela, vida para a minha filha!...
	D. João de Portugal
	· É o primeiro marido de D. Madalena, que amava “… com que amor a amava eu!” (ato III, cena 5)
· É “espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons…”- de acordo com Telmo (ato I, cena 2)
· É “um honrado fidalgo e um valente cavaleiro”- na perspetiva de Manuel de Sousa Coutinho (ato II, cena 2)
· Foi feito cativo em Alcácer Quibir e prisioneiro, em Jerusalém, durante vinte anos
· Regressa ao fim de vinte e um anos de ausência, na figura do Romeiro.
D. João de Portugal simboliza o Portugal do passado e, por isso mesmo, o seu carácter inviável. D. João de Portugal desmistifica o Sebastianismo passadista e fechado de Telmo e Maria, mostrando a impossibilidade do regresso do passado.
	Frei Jorge
	Personagem secundária.
Irmão de Manuel de Sousa Coutinho; frade dominicano;
Personagem que impõe uma certa racionalidade tentando manter o equilíbrio no meio da família angustiada e desfeita.
O carácter universal e intemporal do “Frei Luís de Sousa”
· A defesa dos ideais de liberdade (e do liberalismo).
· A denúncia da arbitrariedade e da prepotência.
· O conflito eu /sociedade (temática romântica) presente, sobretudo em Madalena;
· Os conflitos interiores consciência amor
· A denúncia das arbitrariedades e da tirania e o apelo à defesa da liberdade (temática romântica) em Manuel de Sousa Coutinho e Maria.
As temáticas românticas
· “Eu” vs. sociedade.
· Apelo à liberdade.
· Valorização das raízes nacionais (tema da história nacional, referência a acontecimentos históricos e a figuras da
· saga portuguesa), do Sebastianismo e do amor à pátria.
· A obsessão da morte.
· e. A ligação amor/morte.
Sebastianismo em “Frei Luís de Sousa”:
· Crença nacional que surgiu após o desaparecimento do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir.
· Convicção no regresso de D. Sebastião para devolver a independência e a liberdade perdidas a Portugal.
· Convicção que D. Sebastião era uma espécie de Messias e que devolveria a honra e a glória a Portugal que, assim, recuperaria a glória do passado.
· “Frei Luís de Sousa” apresenta uma tese anti sebastianista, embora todo o texto se desenvolva em torno desta temática. O regresso do passado destrói o presente e inviabiliza o futuro. A mensagem que Garrett deixa passar aos seus contemporâneos é a de que não nos podemos deixar dominar nem seduzir pelo passado, apenas o presente e o futuro devem ser alvo do nosso empenho.
Linguagem e Estilo:
· Frases exclamativas e reticentes: Reiteram a carga emotiva do discurso das personagens- “Desgraçada filha, que ficas órfã”…”- neste caso, Manuel sofre pela condição de “filha do pecado” que recairá sobre a filha.
· Interrogação retórica: Capta a atenção do espetador- “E que importa que o não deixe durar muito a fortuna?”- Madalena reflete sobre a tragédia de Inês de Castro, enquanto pensa no seu próprio drama.
· Interjeição: Reforça a emotividade das personagens, neste caso de Madalena, que vive atormentada com o passado: “Oh! Meu deus!”
· Repetição: Sublinha os sentimentos das personagens: “Peço-te vida (…) Peço-te vida, vida, vida ….para ela, vida para a minha filha!... saúde, vida para a minha querida filha!”- Manuel é, acima de tudo, pai e desespera com a condição física de Maria, cada vez mais debilitada.
· Antítese: Assinala o estado emocional das personagens: “que felicidade…. Que desgraça a minha!”- Madalena debate-se entre a felicidade de ter encontrado Manuel e a tristeza que a sombra do passado representa.
· Imperativo: Intensifica a angústia da personagem “levai o velho (…), levai-o, por quem sois!”- Telmo já gosta mais de Maria do que de D. João para salvar “esta filha”, sacrificando-se por ela.
· Tiradas hiperbólicas: Confirmam o desespero: “como é esta vida miserável que um sopro pode apagar em menos tempo ainda!”- Manuel é um homem que renega os bens materiais para defender os seus valores.
· Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição
Nota: De acordo com as Aprendizagens Essenciais, devem ser lidas na íntegra cinco secções da obra de entres a seguintes: Introdução, Capítulos I, IV, X, XIX, Conclusão.
	Introdução
	· Transcrição do registo de entrada de Simão Botelho na Cadeia da Relação do Porto. 
· Apresentação de Simão Botelho, condenado ao degredo na índia
· Referência sucinta à história triste de Simão, que se resume na frase “Amou, perdeu-se e morreu amando”.
· Reflexões do narrador sobre a história trágica de Simão
· Diálogo com o leitor
	Capítulo I
	· Apresentação da árvore genealógica da família Botelho
· Caraterização de Simão.
	Capítulo IV
	· Imposição de Baltazar a Teresa, recusa desta e promessa de Tadeu de Albuquerque de enviar a filha para um convento. 
· Tadeu diz ao sobrinho que não pode dar-lhe Teresa, pois ela já não é sua filha
· Escrita de uma carta a Simão, no qual Teresa relata a sua situação
	Capítulo X
	· Ida de Simão ao convento de Viseu, onde se encontra com Baltasar, matando-o e sendo depois preso
	Capítulo XIX
	· Doença de Teresa, que anseia pela morte, apesar de Simão, com que sem corresponde secretamente, através de Mariana, a incitar a não desistir.
· Decisão de Tadeu em trazer a filha para Viseu quando sabe do seu estado frágil, mas também porque toma conhecimento de que Simão será transferido para o Porto.
· Recusa de Teresa em aceitar a vontade do Pai.
	Conclusão
	· Morte de Simão passados dez dias e suicídio de Mariana, que se atira ao mar, na companhia do corpo do seu amado.
Enredo
Amores fatais de Simão e Teresa, filhos de duas famílias rivais, com várias peripécias daí decorrentes, as quais conduzem ao desenlace trágico — a morte dos dois apaixonados:
· de Teresa na varanda do convento de Monchique donde assistia à largada da embarcação que levava Simão para o degredo a que fora condenado pelo assassínio de Baltasar (o primo pretendente de Teresa);
· de Simão que morre dias depois da partida. O corpo é lançado ao mar, ouvindo-se, ao mesmo tempo, o baque de outro corpo. Era Mariana igualmente vítima deste drama amoroso pela paixão silenciosamente devotada a Simão.
Nota: Na introdução, são estabelecidas as relações de semelhança entre o herói românticoe o próprio Camilo, pois este está encarcerado no mesmo local onde o seu tio (Simão) esteve, havendo coincidência nos motivos também- um amor proibido.
Relação entre as personagens: 		
	Família Botelho
	Família Albuquerque
	Outras personagens
	Domingos Botelho
	Oponente da relação entre o seu filho e Teresa, visto que o pai desta é seu inimigo.
	Tadeu de Albuquerque
	Oponente da relação entre a sua filha e Simão, visto que o pai deste é seu inimigo.
	Mariana
	Apaixonada por Simão, mesmo sabendo que não é correspondida, sacrifica o seu amor-próprio ao partir com ele para o degredo, anulando, com a morte de Simão, a sua vida.
	D. Rita Preciosa
	Maternal e preocupada com o filho, é incapaz de se opor à decisão do filho.
	Teresa de Albuquerque
	Jovem (15 anos), rica, herdeira e bonita, revela uma força de carácter excecional quando se opõe às decisões de seu pai.
	João da Cruz
	Protetor de Simão, por dívida de gratidão para com o pai dele, Domingos Botelho
	Irmãos de Simão
	Indiferentes ao irmão, sendo que apenas Rita se preocupa com Simão.
	Baltasar Coutinho
	Convencido, prepotente e egoísta, não se conforma com o facto de a prima o ter rejeitado.
	Mendiga
	Intermediária entre os dois amantes
	
	
	
	
	Corregedor
	Sensível à coragem de Simão, comuta-lhe a pena para o degredo, em vez da forca.
Tempo
Os factos encadeiam-se cronologicamente sem unidade de tempo, pois a ação decorre em tempos diferentes e distanciados, mas em continuidade temporal. Os acontecimentos sucedem-se com lógica e rapidamente à medida que o desenlace caminha para o seu termo.
Tempo cronológico — primeiro decorre rápido (40 anos em poucas páginas) e depois lento (3 anos no grosso da novela). A ação decorre entre 1801 – data em que a família Botelho se instala em Viseu, e 1807 – data da partida de Simão para o degredo: “São treze dias decorridos do mês de Março de 1805”— cap. XV; “Era em Março de 1807”; “No dia 10 deste mês, recebeu o condenado...” – cap. XIX; “A 17 de Março de 1807, saiu dos cárceres da Relação” – cap. XX
Capítulo I- genealogia da família Botelho período de 40 anos
Capítulos I-XX- prisão e condenação ao degredo 1801 a 1807
Conclusão- Partida de Simão para a Índia e a morte de Teresa, Simão e Mariana 10 dias
Caraterização das personagens:
· Simão (protagonista): 
· Estudante, precipitado, brigão, sublima-se pelo amor. É grato, ardente na sua paixão, corajoso, sabe enfrentar dignamente as situações – não aceita a clemência e troca a prisão pelo degredo. Apaixonado por Teresa, aceita que o seu amor-próprio lhe insinue a afeição de Mariana. 
· É ele que vai revelar o mundo interior dela no cap. XVIII. “Moço poeta” lhe chama Camilo, pelo amor.
· Obra: retrato breve na Relação do Porto e no cap. I “Os quinze anos de Simão têm aparências de vinte...”;
· Teresa
· A mulher-anjo dos românticos. É fraca fisicamente, mas moralmente forte, luta contra as pretensões de Baltasar e a tirania paterna. De fé inabalável, o amor faz dela uma heroína. Carateriza-se indiretamente no diálogo com Rita, com Baltasar, com as freiras, com o pai e nas cartas a Simão, nestas melhor se revela a sua alma.
· Obra: Teresa, diz que era linda, bonita e pálida, muito branca, alva como leite (apontando para a sua debilidade física)
· Mariana
· É a coitada, devotada que se sublima também pelo amor. Embora sofrendo ciúmes, serve os dois amantes. E vê no desterro de Simão a possibilidade de estreitamento afetivo entre os dois, longe de Teresa. É figura que completa a trilogia dramática do amor – aqui, sem esperança: “Sem ter ouvido a palavra “amor” dos lábios que escassamente balbuciavam frias palavras de gratidão” – cap. Xll. É a mulher enfermeiro, confidente, amante em segredo, deixando, por vezes, perceber que todos os seus atos são comandados pela atração que sente por Simão. Note-se o crescendo da revelação amorosa de Mariana “até àquele momento não apertava sequer a mão... correu a ele com os braços abertos” – cap. XI. O narrador sugere-a, mal a define.
· Obra: Mariana é a personagem fisicamente mais sugerida. Mesmo assim, só nos diz a idade, que tinha grandes olhos azuis e que era de “formas bonitas” (formosa, bela, beleza, gentil, boa – para o capelão). Mais bela que Teresa e a deixar transparecer o seu mundo psicológico: “rosto (belo) e triste, olhar melancólico, sorriso triste”; “amarela como a cidra” – diz o ferrador perante a palidez da filha carregada de emoção
 Outras personagens:
· Tadeu de Albuquerque, homem orgulhoso, autoritário e déspota, e Domingos Botelho, intransigente, são os pais – inimigos irreconciliáveis, cuja relação era de ódio e desprezo.
· Baltasar Coutinho, o fidalgo fanfarrão, prepotente, colabora com o tio nos projetos que contrariam os amores de Teresa. Pela sua baixeza, opõe-se diametralmente a Simão.
· João da Cruz, figura real, homem rude do povo, com momentos de sublimidade e ternura pela filha; e de crueldade, pela frieza com que liquida o criado de Tadeu. Os factos vão-no desentranhando, vivificando-o. O reconhecimento liga-o a Simão.
Focalização- Narrador:
O narrador é omnisciente e omnipresente - é uma presença objetiva, testemunhal, por vezes, cinematográfica; mas é subjetiva, participante, quando subjacente na pessoa do protagonista. Como Simão, também Camilo podia dizer: “Tanta gente desgraçada que eu fiz!”
O narrador fala com frequência para leitoras: “Essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os
infelizes...” – introdução; “minhas senhoras” – cap. XIII; “exclama uma leitora sensível”; “Não, minha senhora” – cap. XVII; “minhas leitoras” – cap. VIII – e leitores: “leitor inteligente” – cap. XIX; “leitores” – cap. VIII. Isto aponta para a oralidade – como que está a contar a um auditório e este será preferentemente feminino porque mais recetivo a histórias de amor; e, por isso, o possessivo que não acompanha o masculino, como vemos. A mulher é carinhosa. O homem inteligente. Daí que diga, a marcar a diferença de recetividade na história de Simão: “o leitor... se compungia; e a leitora... choraria” – Introdução. Como este, outros momentos aparecem a marcar a presença do autor e o interesse que tem em atrair o narratário e o comover com o destino das personagens. O que poderemos considerar como uma reminiscência do coro na tragédia clássica.
Observe-se, ainda, o tratamento que dá ao protagonista – o estudante, raras vezes, o académico, predominantemente, a alternar com Simão até à morte de Baltasar. Daí em diante passa a ser sempre Simão (outro género de vida começava para ele).
A obra como crónica da mudança social:
· Crítica ao ser vs parecer
· Denúncia dos privilégios das classes superiores e da vida conventual desregrada
· Condenação dos casamentos por conveniência
· Defesa da liberdade individual e da valorização dois ideais nobres
· Valorização social da mulher vs autoritarismo paterno
Linguagem e estilo:
· Reveladora do ambiente social:
· Popular — Mariana, as vozes que alternam a seguir ao julgamento de Simão e, principalmente, a de João da Cruz. É ela que consegue dar colorido social à novela: – Tó Carocha; aquelas envasilhas de pôr os ramos; trincadeira; mexer os pauzinhos... flato... (comunica realismo à novela);
— O provérbio: “Quem o seu inimigo poupa...” – cap. VI;
— As comparações: “A carteira de Simão pesava tanto como uma bexiga de porco cheia de vento”;
— A função metalinguística: remorsos – sinónimo de escrúpulos, ou repugnância “na linguagem pouco castigada de mestre João” – cap. VIII.
· Cuidada, culta — as outras personagens, salvo Baltasar quando desafia Simão: “Tu vilão... tu... Canalha”;
· Reveladora da sensibilidade do autor:
— sem sobrecargas eruditas, continua a afirmar a sua capacidade para o expressivo
— Neologismo – “o coração bacorejava”; planizar; escrupulizar; dinheiroso; pingoleta.
Camilo, escritor de transição, é acentuadamente romântico nesta novela de caráter mórbido:
– Pela violência de sentimentos; por algumas digressões pessoais, cheias de pitoresco, ora objetivas, ora de carácter literário; o aspeto autobiográfico; a atitude anticlerical;

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