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Maria Luiza de Oliveira Teixeira PCI II Abril / 2013 - Introdução No Brasil, os adolescentes e jovens correspondem a 30,33% da população nacional. Trata-se de 57.426.021 de indivíduos em mutação biológica, emocional e social, havendo quase igual proporção entre os sexos (50,4% são rapazes e 49,5% garotas). Os dados estatísticos também demonstram semelhança na população entre 10 – 14 anos (17.348.067) e 15 – 19 anos (17.939.815), enquanto há decréscimo dos jovens, a população entre 20 – 24 anos (16.141.515). Dentre as explicações para tal fato, destaca- se a perda de vidas por causas externas – acidentes e homicídios, principalmente relacionados ao tráfico de drogas e uso abusivo de álcool. No Nordeste, do grupo de 15 a 17 anos, 21,1% estão fora da escola (no Sudeste esta cifra é de 14,6%) e cerca de 46% dos indivíduos de 0 a 17 anos vivem na pobreza, isto é, com até 1/2 salário mínimo per capita. (IBGE, 2007) Cerca de 15,5 milhões de brasileiros acima de 10 anos não sabem ler nem escrever, sendo que 65% dos jovens analfabetos estão no Nordeste. (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios –Pnad, 2005) Não bastassem algumas cifras estatísticas, a maioria dos adolescentes e jovens brasileiros vive com pouco acesso aos serviços de saúde, entram precocemente no mercado de trabalho sem preparo técnico e emocional, não conseguindo realizar seus projetos de vida; iniciam muito cedo a atividade sexual – em todas as camadas sociais – e de forma desprotegida, apesar de muitos terem acesso a informações. É elevado o número dos que caem nos labirintos das drogas, e crescente a população dos que vivem perambulando nas ruas, sob elevado risco de todo tipo de violência. A partir da visão de que tais sujeitos são bastante vulneráveis e necessitam de cuidados e estratégias especiais de saúde, o Ministério da Saúde (MS) criou o Programa Saúde do Adolescente, PROSAD, pela Portaria nº 980/GM de 21/12/1989. Primeiro programa específico para a saúde do adolescente, que adotou como população alvo adolescentes entre 10 e 19 anos, dando contorno ao que seria o início de ações específicas para os jovens. O PROSAD foi criado no bojo do movimento da reforma sanitária, da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e no contexto de dois marcos internacionais: a Conferência Internacional de Cuidados Primários em Saúde Alma-Ata (1978) e a estratégia saúde para todos no ano 2000. As ações programáticas foram concebidas na Atenção Básica, tendo como objetivos principais a mudança do modelo de atenção na perspectiva da atenção integral e interdisciplinar, superação do paradigma biomédico e da problematização da saúde do adolescente sob a lógica do risco, como perigo e negatividade. As bases iniciais para que as estratégias de promoção da saúde pudessem contribuir como referencial teórico e metodológico para formulação de ações que favorecessem a mudança de modelo de atenção à saúde foram estabelecidas pela Carta de Ottawa em 1986. O programa fundamenta-se na política de Promoção de Saúde, respeitando as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), garantidas pela Constituição Brasileira de 1988. Em 1999, o MS ampliou o programa para indivíduos até 24 anos, considerando então a Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. Nessa conjuntura, o PROSAD pode ser considerado um programa inovador que articulou a atenção básica e promoção da saúde como estratégia programática sob o eixo da integralidade dentro e fora dos serviços. Missão do PROSAD É a promoção de Saúde, a identificação de grupos de risco, detecção precoce dos agravos , tratamento adequado e reabilitação para adolescentes, (10 – 19 anos), e jovens (20 - 24 anos) de ambos sexos, tendo por Eixo central à ações com caráter de integralidade, enfoque preventivo e educativo, ou seja, estratégias preventivas e curativas de forma articulada: multiprofissional; interssetorial; interinstitucional, através de sistema de referência e contra-referência nas várias instâncias operacionais do SUS. No ano de 2009, o programa pretendeu redimensionar as ações no campo da prevenção. Objetivos do PROSAD Promover a saúde integral do adolescente, favorecendo o processo geral de seu crescimento e desenvolvimento. Reduzir a morbimortalidade e os desajustes individuais e sociais. Normatizar as ações das áreas prioritárias. Estimular e apoiar a implantação e/ou implementação dos Programas Estaduais e Municipais. Assegurar o atendimento adequado às características dos jovens, respeitando as particularidades regionais e a realidade local Promover e apoiar estudos e pesquisas relativas à adolescência Formulação de uma política nacional para a adolescência e juventude, a ser desenvolvida nos níveis Federal, Estadual e Municipal , e nos âmbitos governamentais e não governamentais PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE / JOVEM • Adequação dos serviços de saúde às suas necessidades específicas, respeitando as características da atenção local vigente e os recursos humanos e materiais disponíveis • Respeito às características socioeconômicas e culturais da comunidade, além do perfil epidemiológico da população local • Participação ativa dos adolescentes e jovens no planejamento, no desenvolvimento, na divulgação e na avaliação das ações. Princípios fundamentais na atenção ao adolescente Ética – a relação profissional de saúde/adolescentes, deve ser pautada pelos princípios de respeito, autonomia e liberdade, prescritos pelo ECA e pelos códigos de ética das diferentes categorias. Privacidade – adolescentes e jovens podem ser atendidos sozinhos, caso desejem. Confidencialidade e sigilo – adolescentes e jovens devem ter a garantia de que as informações prestadas no atendimento não serão repassadas aos seus pais e/ou responsáveis, bem como aos seus pares, sem a sua concordância explícita. EXCEÇÃO: situações que requerem quebra de sigilo - sempre que houver risco de vida ou outros riscos relevantes (abuso sexual, idéia de suicídio, informação de homicídio). Conceito de promoção da saúde de dimensões da atenção à saúde integral Considerando a frequência e gravidade dos problemas que surgem na adolescência, o PROSAD prioriza um conjunto de ações de promoção da saúde, diagnóstico precoce, tratamento e recuperação nas seguintes áreas básicas: crescimento de desenvolvimento; sexualidade; saúde bucal; saúde mental; saúde reprodutiva (inclui prevenção de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis); saúde do escolar adolescente; prevenção de acidentes; abordagem da violência e maus tratos; trabalho, cultura, esporte e lazer. Para atender todas as áreas, o PROSAD preconiza o trabalho multiprofissional, em que as atividades de diversos profissionais se complementem. Nessa perspectiva, médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, odontólogos, assistentes sociais, agentes de saúde, educadores, professores de educação física , treinadores desportivos, artistas de diversos segmentos, religiosos, e outros profissionais que lidam com jovens, podem formar uma equipe que trabalha de forma integrada, promovendo a saúde, então dita integral, da população de jovens. Observe-se que o trabalho transcende a equipe clássica, pois ultrapassa os portões dos centros de saúde, hospitais, postos de atendimento. Estende-se para escolas, associações de bairro, clubes, estabelecimentos religiosos, instituições culturais e outros segmentos comunitários. A equipe pode ser coordenada por qualquer um desses profissionais, requerendo para isso, treinamento adequado sobre o PROSAD. Áreas Prioritárias 1) CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO 2) SEXUALIDADE 3) SAÚDE BUCAL 4) SAÚDE MENTAL 5) SAÚDE REPRODUTIVA 6) SAÚDE DO ESCOLAR ADOLESCENTE 7) PREVENÇÃO DE ACIDENTES 1) CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTOÉ o eixo central do atendimento do adolescente. O processo de crescimento e desenvolvimento é fortemente influenciado pelos fatores genéticos e ambientais. A influência hereditária é mais evidente, explicitado sob vários aspectos somáticos: início da puberdade, intensidade de determinados caracteres sexuais (pêlos, tamanho das mamas etc.), idade da menarca e outros. Puberdade conjunto de modificações biológicas da adolescência: Engloba os seguintes componentes: Aceleração e desaceleração do crescimento esquelético. Alteração da composição corporal. Desenvolvimento dos sistemas respiratório e circulatório, órgãos sexuais e caracteres sexuais secundários. Crescimento Restringe-se ao período compreendido entre a fecundação e adolescência, quando cessa o crescimento somático. Desenvolvimento Capacidade de o indivíduo realizar funções cada vez mais complexas. É um fenômeno qualitativo. Testam-se as aquisições neuro-psico-motoras e intelectuais O Crescimento, desenvolvimento e as características pessoais resultam da interação biopsicossocial no contexto da família, da sociedade e do ambiente sociocultural. AÇÕES EDUCATIVAS: Cumpre assinalar a grande importância do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento em relação à participação dos pais, família, educadores e comunidade em geral. Assim, toda ação educativa deve perseguir esse objetivo, possibilitando a apropriação, pelo usuário, de conhecimentos sobre as condições de saúde de seu adolescente e sobre os cuidados a ele dirigidos. 2) SEXUALIDADE “Manifestação psico-afetiva individual e social que transcende sua base biológica (sexo) e cuja expressão é normalizada pelos valores sociais” Os tabus e normas sociais não aceitam algumas manifestações sexuais gerando sentimentos de culpa e conceitos que se refletem num ajuste sexual acompanhado de preocupações, ansiedade e/ou problemas. O desenvolvimento sexual do adolescente sofre influências Dele próprio Da família Da cultura Dos companheiros A pressão do grupo seja, talvez, o fator mais poderoso para determinar seu comportamento. AÇÕES EDUCATIVAS: Orientar: acerca das mudanças que ocorrem no corpo do adolescente; aspectos preventivos das doenças sexualmente transmissíveis; acerca dos métodos contraceptivos. Discutir com os adolescentes: acerca do preparo ou não dos mesmos para o início da atividade sexual e sobre os fatores de ordem social, cultural e moral que envolvem a sexualidade. 3) SAÚDE BUCAL Alto índice de dentes cariados e perdidos nos adolescentes. Medidas importantes na prevenção das cáries Fluoretação da água Higiene bucal Bons hábitos alimentares Situação do Brasil Precário saneamento básico Aporte insuficiente quali e quantitativo de alimentos Ingestão elevada de carboidratos AÇÕES EDUCATIVAS: Enfatizar os aspectos preventivos da saúde bucal, englobando higiene e hábitos alimentares 4) SAÚDE MENTAL Adolescência nova visão de si e do mundo. Definição da identidade de caráter social, sexual, ideológico e vocacional. Manifestações de impulsos e instintos Exterioriza-se através de condutas socialmente aceitas ou não Na promoção da saúde, prevenção de doenças, detecção e tratamento das psicopatologias deve-se conhecer os aspectos do desenvolvimento normal e patológico AÇÕES EDUCATIVAS: Atentar para: condutas regressivas isolacionismo, abandono da escola e de atividades sociais, desleixo pessoal, deterioração do convívio familiar e pessoal Depressões Uso e abuso de drogas, fumo e álcool orientar acerca da nocividade desses hábitos. Desajustes na família, escola e trabalho. Estabelecer relação de ajuda para que o adolescente possa ajudar a si mesmo na solução dos seus problemas. 5) SAÚDE REPRODUTIVA Os adolescentes estão numa fase de identificação da sua feminilidade e masculinidade, podendo sofrer conseqüências indesejáveis como: Gravidez precoce não desejada Falta de conhecimento ou uso indevido de métodos anticoncepcionais Aborto Vitimização Doenças sexualmente transmissíveis Traumas psicossociais AÇÕES EDUCATIVAS: Orientar métodos contraceptivos, prevenção das DST/AIDS, higiene corporal com ênfase nos órgãos genitais, auto-exame das mamas. 6) SAÚDE DO ESCOLAR ADOLESCENTE A atenção implica na relação saúde do adolescente/processo de aprendizagem Problemas relacionados à aprendizagem Fracasso escolar Momento biopsicológico pelo qual passa o adolescente pode levar a conseqüências sociais e emocionais sérias Atentar para o contexto sócio-econômico: saneamento básico, condições de vida e outros. 7) PREVENÇÃO DE ACIDENTES A primeira causa de acidentes na adolescência é provocada por veículo a motor (automóveis e motos). AÇÕES EDUCATIVAS: Educação em saúde com ênfase na importância da segurança. Capacitar os adolescentes como também, pais e professores com vistas à prevenção de acidentes. Não associar a ingestão de bebidas alcoólicas e direção; Aplicar as medidas de direção defensiva; Usar equipamentos de proteção individual (cinto de segurança, capacete, roupas e calçados apropriados para motociclistas); Em caso de bicicletas, usar os equipamentos apropriados a esta; Na prática de esportes, usar os equipamentos de segurança e proteção apropriados: joelheiras, tornozeleiras, caneleiras, luvas, máscaras, óculos, protetores bucais e de cabeça etc. PROSAD e As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens na Promoção da Saúde, na Prevenção de Agravos e de Enfermidades e na Assistência lançadas em 2009 pelo Ministério da Saúde, ressaltam as repercussões das vulnerabilidades sociais e econômicas sobre a saúde dos jovens de 15 a 24 anos, e passam a orientar todos os programas e ações de saúde para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na faixa etária de 10 a 24 anos. Podemos considerá-lo um documento norteador, já que a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Adolescente não foi lançada. A primeira diretriz é voltada para o fortalecimento da Promoção da Saúde, através das seguintes propostas: desenvolver a autonomia e participação dos jovens na construção de ambientes saudáveis e favorecer a formação dos jovens como promotores de saúde; estabelecer parcerias e valorizar iniciativas governamentais e não governamentais que favoreçam a inserção social, praticas comunitárias, esportivas e culturais, estabelecendo mecanismos de referência e contra- referência, para as equipes de saúde que atuam no mesmo território; incorporar a abordagem transversal nas ações dos serviços de saúde dos seguintes temas estruturantes: a) acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; b) saúde sexual e saúde reprodutiva; c) atenção integral no uso abusivo de álcool e outras drogas Áreas Prioritárias PROSAD Temas estruturantes - As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens de 2009 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; SEXUALIDADE SAÚDE BUCAL Saúde sexual e saúde reprodutiva; SAÚDE MENTAL SAÚDE REPRODUTIVA Atenção integral no uso abusivo de álcool e outras drogas. SAÚDE DO ESCOLAR ADOLESCENTE PREVENÇÃO DE ACIDENTES A segunda diretriz é voltada para a Reorientação dos Serviços de saúde para favorecer a capacidade de respostas para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens. Bibliografia Instituto brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Comunicação Social. Contagem da População 2007. Publicado em 21 de dezembro de2007. [on line] Disponível em http://www1.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=1 065 Acesso em 2.7.2009 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios –Pnad, 2005. CRIAS Notícias – Centro de Recursos Integrados de Atenção à Saúde. Brasil: Secretária de Saúde reúne-se com equipe do Prosad, 29.01.2009. [on line] http://criasnoticias.wordpress.com/2009/01/29/brasil-secretaria-de-saude-reune-se- com-equipe-do-prosad/ Acesso em 22.5.2009. Ministério da Saúde. MARCO LEGAL - SAÚDE, UM DIREITO DE ADOLESCENTES. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2005. Ministério da Saúde. PROSAD. Programa Saúde do Adolescente. Bases Programáticas. Brasília: Ministério da Saúde, Nov.,1989, 24 p. Ministério da Saúde. Normas de atenção à saúde integral do adolescente. Brasília: Ministério da Saúde, 1993. 1v, 2v, 3v. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. A Saúde de Adolescentes e Jovens. Uma metodologia de auto- aprendizagem para equipes de atenção básica de saúde. Módulo básico. 2.ª edição. Série F. Comunicação e Educação em Saúde. Brasília – DF, 2007.
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