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RESUMO: SOUZA, Adenildo Vieira de. ALMEIDA. Marcos Teodorico Pinheiro de. Jogos e brincadeiras indígenas – tecendo a interculturalidade na educação física escolar. INTRODUÇÃO A Educação Física tem uma relação muito forte com o jogo. Este é um instrumento pedagógico que orienta todas as práticas pedagógicas da Educação Física. Através do jogo trabalha-se elementos fundamentais para a convivência cidadã, como a socialização, cooperação, respeito, ética e qualidade de vida. Apesar disto, quando nos referimos aos povos indígenas em qualquer contexto, ainda percebemos a intolerância para com os mesmos, o desrespeito, a invisibilidade, a naturalização, os desconhecimentos de suas culturas marcam muitos diálogos. Diante disto, como fomentar um trabalho numa perspectiva intercultural nas aulas de Educação Física para minimizar preconceitos, estereótipos em relação aos povos indígenas por meio de subsídios da cultura corporal de movimento? A interculturalidade orienta processos que tem por base o reconhecimento do direito à diferença e a luta contra todas as formas de discriminação e desigualdade social. Tenta promover relações dialógicas e igualitárias entre pessoas e grupos que pertencem a universos culturais diferentes, trabalhando os conflitos inerentes a esta realidade. Não ignora as relações de poder presentes nas relações sociais e interpessoais. Reconhece e assume os conflito procurando as estratégias mais adequadas para enfrentá-los (Candau, 2003, p.19). Instigando os alunos a conhecerem todo o processo sócio Histórico das culturas indígenas é algo que os sensibilizarão e consequentemente permeará no processo de ensino e aprendizagem no que tange a interdisciplinaridade e principalmente, a formação integral do aluno. Os jogos e brinquedos tradicionais são elementos presentes na cultura, no que diz respeito aos aspetos socioculturais de uma população ou comunidade, integrando-as em momentos festivos e aprimorando no desenvolvimento de habilidades para a prática de atividades cotidiana. Os jogos e brincadeiras são fortes ferramentas de integração entre os povos indígenas. O jogo é uma ferramenta cativante para ser utilizado na escola, por este motivo devemos tecer os jogos juntos aos conteúdos de forma interdisciplinar, até mesmo tomá-lo como delineador das disciplinas escolares Trabalhar o tema indígena com os alunos é também fazê-los conhecer melhor a realidade do país e refletir sobre a nação que almejam para o futuro. Mais ainda, um trabalho com a questão indígena permite tratar da crítica aos preconceitos, desenvolver aceitação daqueles que não são iguais a nós, e exercitar o respeito a diferença em geral, seja ela de gênero, de cor, de religião, de constituição física ou, como neste caso, a diferença étnica e cultural (TASSINARI, 2004, p.445). A cultura indígena precisa ser ressignificada na escola. A VISIBILIDADE DO INDIGENA NA ESCOLA A autora ainda fala que a falta do reconhecimento das sociedades indígenas gera uma compreensão dada pelo preconceito e discriminação destes povos. A escola, ambiente formadora de opiniões, apesar das dificuldades, ainda é tida como um dos locais responsáveis pela formação integral do educando. Para fortalecer este comprometimento, documentos, livros, apostilas e vídeos procuram mediar práticas pedagógicas que venham ao encontro das realidades na qual vivemos, tentando amenizar o desrespeito, a intolerância, o preconceito, a violência, a desigualdade social, dentre outros. Diante disto, os Parâmetros Curriculares Nacionais entram como uma proposta didática aliada para atuarmos tais problemas, tendo como intermediares os temas transversais e as propostas de disciplinas especificas, mas que não se findam apenas nelas. Pluralidade cultural [...] este detém de elementos básicos para nos subsidiarmos na relação entre praticas corporais indígenas e a escola. O tema pluralidade cultural oferece aos alunos oportunidades de conhecimento de suas origens como brasileiros e como participantes de grupos culturais específicos Ao valorizar as diversas culturas presentes no brasil, propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor, promovendo sua autoestima como ser humano pleno de dignidade, cooperando na formação de autodefesas a expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais. Por meio do convívio escolar, possibilita conhecimentos e vivências que cooperam para que se apure sua percepção de injustiça e manifestação de preconceito e discriminação que recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar – e para que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas (BRASIL, 1997, p.137). Juntamente com o tema Pluralidade cultural, temos a Lei 11.645/2008 que dispõe sobre a obrigatoriedade o ensino da cultura afro-brasileira e indígenas nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados. O tema pluralidade cultural, e a lei 11.645/2008 podem e devem ser trabalhados em consonância com a Educação Física que não se configura apenas em esportes, mas, preocupa-se com uma formação proporcionado integral vivenciada através da cultura corporal de movimento. Com vistas ao que se propõe a Educação Física, devemos relacioná-la com práticas socioculturais, buscando desenvolver atitudes, valores, respeito e esperança em qualquer ambiente educacional. [...] o tema pluralidade cultural, dentre os objetivos, está a valorização das diversas culturas que constituem o Brasil bem como conhecer a contribuição na formação da identidade Brasileira, Brasil (1998). EDUCAÇÃO FÍSICA E SUAS EXPERIENCIAS INTERCULTURAIS Segundo Almeida (2014) interculturalidade é a relação que se estabelece intencionalmente entre diferentes culturas, que procura o diálogo e o encontro recíproco a partir do reconhecimento mútuo dos valores e formas de vida de cada cultura. Binômio igualdade /diferença: Devemos avaliar as diferenças; E enfatizar nas semelhanças. Para que isso aconteça devemos: 1) Reforçar e enriquecer as identidades de cada cultura de forma criativa e solidária, sem fundir as identidades das culturas em uma identidade única. 2) Estabelecer relações enriquecedoras e de convivência entre pessoas de diferentes grupos étnicos, religiosos, sociais, linguísticos, nacionais, geracionais, de gênero, tendência sexual, etc. 3) Implica em configurar um espaço comum de encontros sem renunciar à individualidade de cada um dos grupos e rejeitando a integração que suponha perda da identificação da própria cultura. Para nós a educação intercultural implica: a) Partir de um conceito dinâmico de cultura; b) Superar os enfoques (etnocêntricos) a partir da aproximação crítica das culturas; c) Interpretar a diversidade cultural no processo educativo como um elemento enriquecedor; d) Equilibrar ou desmistificar entre o que se ensina na escola e o que se aprende em casa; e) Potencializar estratégias orientadas na construção e expressão da própria identidade de cada aluno/a no marco da diversidade; f) Conseguir o máximo nível de igualdade de oportunidades para todos. Queremos focar nosso olhar sobre a educação intercultural e o lúdico, neste sentido, sabemos que existe dois conceitos relevantes sobre cultura: 1) É manifestação, à forma de interpretar, entender o mundo e a vida. São respostas, e como tais são igualmente respeitáveis. 2) A cultura é algo vivo, dinâmico, como a vida diária. Uma cultura que não transforma ou modifica, fechada em si mesma, fica estagnada e parada. Na educação intercultural se produz um enriquecimento sistemático de cada sujeito a partir da: a) Compreensão e o respeito pelo que é diferente; b) Superação dos medos do desconhecido;c) Revitalização do próprio, exercitando pontos de vista diferentes; d) Reflexão sobre o essencial, o indispensável e o acidental (supérfluo), entre os seres humanos com um pensamento complexo baseado na incerteza. Estes elementos educativos colocam que os diferentes grupos que convivem nas sociedades atuais consigam interdependência a partir de quatro fatores: 1) A valorização de similaridades e diferenças; 2) Solidariedade do intercâmbio; 3) Não aceita o predomínio das culturas majoritárias; e, 4 ) Elimina o etnocentrismo cultural e legitima a presença de outras culturas (ALMEIDA, 2014). Os objetivos básicos da educação intercultural nas aulas de educação física são: 1) Fomentar a compreensão e o respeito entre os indivíduos, povos e culturas com a finalidade de mudar o etnocentrismo por atitudes de encontro, diálogo e colaboração. 2) Facilitar os meios para que os indivíduos que vêm de outras culturas possam encontrar sua identidade cultural. 3) Assumir como um princípio básico e educativo o respeito aos direitos humanos e uma consciência social, justa e solidária ante as desigualdades (ALMEIDA, 2014, p.65-66). Temos que criar um currículo de Educação Física na escola que atenda a diversidade cultural que desenvolva: 1) Atitudes de respeito e cooperação para os sujeitos com formas culturais diferentes; 2) Espírito crítico ante de qualquer ação que vulnere este princípio; 3) Planejamentosinterdisciplinares; 4) Métodos cooperativos de aprendizagens. Devemos inserir nas escolas e em toda sociedade ambientes lúdicos de aventura, espaços estruturados para brincar e nestes espaços poderíamos ter diferentes intervenções e manifestações interculturais lúdicas e educativas. Além disso, incluir nos conteúdos lúdicos educativos ou espontâneas propostas como: jogos, brinquedos, músicas, ritmos, canções, imagens, pinturas, fotos, filmes, poesias, contos, legendas de nossa própria cultura e das culturas minoritárias. Promover nos espaços para brincar atividades de valorização crítica sobre: jogos e brinquedos, imagens e filmes (cinema formativo ou educativo), livros, contos e outros materiais, informações e programas dos meios de comunicação. Podemos também, planejar e dinamizar debates, oficinas, jogos de simulação para conhecer e avaliar progressivamente: 1) Aspectos sociais e culturais, históricos, demográficos políticas econômicas dos países de origem e do país de acolhimento. Estilos de vida, festas, vestidos, o dia a dia, as notícias e feitos relevantes, consultando páginas site, imprensa, televisão, emissões de rádio, etc. 2) O fenômeno migratório, seus movimentos, história, situação atual, futuro, conflitos e vantagens em nível particular e social. 3) Implicando a toda a população no conhecimento e respeito a outros grupos diferentes. Estimular nas instituições para que utilizem, desfrutem e participem dos meios de comunicação locais assim como nas festas e tradições da cidadania. Com o esforço continuado da escola e da família, podemos fortalecer e colaborar na educação intercultural com: Utilização de jogos, brinquedos e brincadeiras mais cooperativa, étnicos e inclusivos; Fomentar a solidariedade, a tolerância e o intercâmbio entre iguais; Atuar com toda a população, não só os excluídos ou diferentes; Superação o multiculturalismo ou a mera coexistência; O diálogo entre as diversas culturas; A criação de projetos como: um espaço estruturado para brincar, para a compreensão e para uma educação intercultural; Criação do Museu de jogos e brinquedos do mundo: com propostas para uma educação intercultural. A escola tem um papel importante na perspectiva de reconhecer, valorizar e empoderar sujeitos socioculturais subalternizados e negados (CANDAU, 2011, p. 253). CULTURA LÚDICA DO POVO BRASILEIRO A cultura lúdica não aceita definições prévias, preconceitos ou reconhecimentos abstratos. O brincar é marcado por uma identidade particular, isto é, a identidade do contexto cultural em que a ação lúdica se realiza. Mas isto não significa dizer que o jogo e o brinquedo não estejam abertos aos múltiplos e diversos cruzamentos de culturas, porque eles não são uma entidade descontínua, imutável, finita, sem capa cidades de reestruturação permanente, como às vezes e errada mente eles têm sido apresentados, com uma visão reduzida e substantiva do mundo (ALMEIDA, 2014). A pluralidade cultural para nós é entendida como a convivência em um mesmo espaço de pessoas procedentes de diferentes culturas, é um fato presente em nossa sociedade atual. Esta diversidade, longe de significar uma ameaça é a própria identidade cultural. Muito pelo contrário, a pluralidade cultural pode favorecer e enriquecer a nossa cultura e se converter em um fator positivo para o desenvolvimento de indivíduos e sociedades. (ALMEIDA, 2014, p.57) O lúdico é uma patrimônio cultural da humanidade. A demanda lúdica gerada pelo próprio brincar (jogo, o brinquedo e a brincadeira) possibilita o surgimento da cultura lúdica. Concluindo, a cultura lúdica é o resultado das manifestações lúdicas da própria cultura do brincar (RODRIGUES; ALMEIDA; SILVA JUNIOR; LIMA; LIMA, 2015, p. 38821). JOGOS AUTOCTONES E TRADICIONAIS: REFLEXÕES, CONCEITOS E SIGNIFICADOS “Autoctone” [...] aborígine, indígena, nativo – que ou o que é natural do território onde vive – conceituação do dicionário. As contribuições acadêmicas na construção do saber sobre a cultura lúdica tem sido abordadas a partir de estruturas e saberes relacionados com temáticas como a cultura, a educação, a modernidade e os diversos contextos socioculturais. O lúdico é uma atividade humana presente em todas civilizações, sociedades e culturas, cujas características são atreladas à razão, à sensibilidade e à emoção. Segundo Burgués (2000) em seu livro Juegos y deportes populares tradicionales, faz referência a essência dos jogos populares e tradicionais para entender as diferentes manifestações e funções que os mesmos têm na vida humana e sua contribuição ao patrimônio lúdico e cultural local, regional e nacional. Tal como cita no seu livro Burgués (2000) compartilha uma classificação lúdica a partir do tipo de diferentes demandas de ações motrizes, geradas durante a interação com os outros e com o meio no qual se desenvolve. Canon (2015), quando comenda que a cultura popular tem sentido ao se referir às práticas de algumas manifestações culturais nativas/originais às pessoas de um lugar determinado que, com suas características regionais, crenças, e estilos de vida, os têm incorporado ao seu cotidiano. Assim, podemos praticar o ato lúdico simultaneamente em diversas regiões apresentando características ou variações específicas que dependem diretamente da cultura. Canon (2015, p. 336), podemos afirmar que todo jogo tradicional é popular, mas ao contrário não, nem todo jogo popular pode ser institucionalizado como tradicional. Mesmo assim, para que o jogo popular consiga se transformar em um jogo tradicional, precisaria da sua institucionalização com o fim de assumir um reconhecimento maior que aquele outorgado ao nível local (CANOS, 2015, p.336). A cultura lúdica tem sua existência em espaços e tempos muito remotos; assim, compreendemos que aquelas práticas lúdicas vividas pelos nossos antepassados foram influenciadas no decorrer do tempo, especialmente no momento das interações sociais e culturais com outros tipos de sociedades. As culturas lúdicas tradicionais fazem parte da manifestação popular e da espontaneidade de um povo. Através dos jogos, das brincadeiras e dos brinquedos tradicionais deixamos para as gerações futuras as condutas lúdicas e culturais de um determinadoperíodo e de uma determinada sociedade. JOGOS E BRINCADEIRAS INDIGENAS DE ETNIAS DO AMAZONAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: CONSTRUINDO SABERES ATRAVES DAS TRES DIMENSÕES DE CONTEÚDOS Com o propósito de conscientizar educadores e alunos a respeito da diversidade dos povos indígenas do Amazonas, claro que, com o pensamento global, descreveremos jogos e brincadeiras indígenas sob análise das dimensões de conteúdo procedimental, conceitual e atitudinal, alicerçadas de um arcabouço sociocultural. O JOGO, como um saber a ser vivencia do coletivamente na escola, contribui para desenvolver as possibilidades de a criança criar novas formas de compreender sua realidade sociocultural, seu grupo social, a sociedade onde vive, outros povos e outras possibilidades de viver coletivamente (XAVANTE E CAMPOS, 2010, p.92). Para que fique melhor estruturada tal proposta, os jogos e brincadeiras indígenas, podem ser tecidos através da dimensão procedimental, conceitual e atitudinal, onde também delineia as práticas propostas pelos PCN’s. Dimensões e os conteúdos a partir de experiência com os jogos e brincadeiras indígenas. CONCEITUAL • Conhecer o processo sócio histórico por que passou as sociedades indígenas no que diz respeito aos hábitos de vida, costumes e relacioná-los com a situação atual. • Conhecer como vem acontecendo as manifestações esportivas nas comunidades indígenas e relaciona-los com de outas sociedades, procurando semelhanças e diferenças entre os esportes. • Conhecer as regras dos jogos e brincadeiras, verifica quem pode jogar em tal brincadeiras, se apenas meninas ou apenas meninos e quais idades iniciam determinado jogo. PROCEDIMENTAL • Vivenciar os jogos e brincadeiras das etnias supracitadas e de outras regiões, construir jogos e brinquedos indígenas. • Vivenciar corridas, por exemplo, a de toras, confeccionado com material alternativo. Danças, verificando se os passos são semelhantes as tradicionais. • Assistir vídeos com a temática indígena, sobre os costumes, as festas, os ritos e os jogos e brincadeiras, do Brasil e de outras etnias do mundo. ATITUDINAL • Valorizar a diversidade de jogos e brincadeiras dos povos indígenas. • Respeitar a cultura indígena e todos seus aspectos, sem discriminação e falta de respeito. • Reconhecer a situação em que vivem os povos indígenas no Amazonas e no Brasil. • Reconhecer que a cultura indígena faz parte da formação da cultura brasileira, bem como dos próprios alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Educação Física como disciplina que trabalha a cultura corporal de movimento, entra como uma das aliadas a proporcionar a vivência da cultura indígena no âmbito escolar. [...] os jogos e brincadeiras entram como ferramentas educativas capazes de delinear valores, princípios, respeito, tolerância e amor.