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gente criando o futuro EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS Organizadora Glória Freitas EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS Organizadora Glória Freitas Educação das Relações Étnico-Raciais GRUPO SER EDUCACIONAL C M Y CM MY CY CMY K SUMÁRIO UNIDADE 01 Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional 12 Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional: conceito de diversidade cultural 12 Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional e a presença dela na escola 21 Reconhecendo o discurso pedagógico da diversidade 27 Entendendo a introdução a educação étnico-racial 40 Entendendo a introdução a educação étnico-racial: conceitos de etnia e raça 40 Entendendo a introdução a educação étnico-racial na realidade brasileira 42 Analisando os fundamentos legais para a educação das relações étnico-raciais 46 UNIDADE 02 Reconhecendo o contato com a realidade de outro: histórias, culturas e sociedades africanas (literatura, arte, língua e cultura africanas e afro-brasileiras) 60 Reconhecendo o contato com a realidade de outro e o conceito de alteridade 60 ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 6ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 6 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Reconhecendo o contato com a realidade de outro: histórias, culturas e sociedades africanas (literatura, arte, língua e cultura africanas e afro-brasileiras) 69 Definindo o outro: o negro na sociedade brasileira, as relações raciais, contribuições da matriz africana nas artes brasileiras e a resistência negra no Brasil 76 Relembrando o contato com a realidade do outro: histórias, culturas e sociedades ameríndias e os diversos povos indígenas do Brasil: culturas indígenas no Brasil. (literatura, arte, língua e cultura indígenas brasileiras) 87 Nomeando o outro: os povos indígenas na sociedade brasileira, as relações raciais, contribuições dos povos indígenas nas artes brasileiras e resistência indígena no Brasil 95 UNIDADE 03 Refletindo sobre a diversidade cultural e sobre o respeito às diferenças 108 Refletindo sobre a diversidade cultural e sobre o respeito às diferenças: questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças nas práticas pedagógicas 108 Refletindo sobre a diversidade cultural e sobre às diferenças, nas práticas pedagógicas: diferenças ambiental-ecológica, étnico- racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras 112 Aplicando a diversidade cultural brasileira na prática docente 122 Aplicando a diversidade cultural brasileira na prática docente: histórias, pensamentos e conquistas 122 ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 7ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 7 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Aplicando a diversidade cultural brasileira na prática docente: refletindo sobre o futuro do respeito às diferenças 132 Desenvolvendo uma prática pedagógica que contemple o outro e suas semelhanças e diferenças 138 Avaliando a necessidade de repensar o papel do educador diante da diversidade cultural 146 UNIDADE 04 Reconhecendo a escola como espaço privilegiado de encontro das diferenças 154 Desenvolvendo metodologia de ensino em educação das relações étnico-raciais 162 Desenvolvendo metodologia de ensino em educação das relações étnico-raciais: questões conceituais 162 Desenvolvendo metodologia de ensino em educação das relações étnico-raciais, na busca de reflexivas e criativas práticas 166 Produzindo uma educação voltada às relações étnico- raciais 173 Planejando currículo e práxis pedagógica voltados a diversidade cultural e etnicorracial: questões iniciais sobre currículo e práxis pedagógica 180 Planejando currículo e práxis pedagógica voltados a diversidade cultural e etnicorracial: recomendações curriculares legais brasileiras 184 ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 8ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 8 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 9 UNIDADE 01 ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 9ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 9 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais10 Olá! Você estudará nesta unidade acerca da diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional e o discurso pedagógico da diversidade, especialmente no ambiente escolar. Além disso, veremos sobre a educação a partir dos conceitos de etnia e raça, sobretudo na realidade brasileira. E ainda, analisaremos os fundamentos legais da educação das relações étnico-raciais. Preparado(a)? Ao longo deste estudo você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 10ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 10 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS 1 Entender a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional; 2 Reconhecer o discurso pedagógico da diversidade; 3 Compreender os conceitos básicos da educação étnico-racial; 4 Analisar os fundamentos legais para a educação das relações étnico-raciais. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 11ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 11 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais12 Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional e o Discurso Pedagógico da Diversidade, o conceito de Diversidade Cultural e a presença da Diversidade Cultural na escola. Conseguirá explicar a Diversidade Cultural como Característica da nossa Formação Humana e Nacional. Será capaz de reconhecer o Discurso Pedagógico da Diversi- dade e entender a introdução a Educação Étnico-Racial. Por fim, será capaz de analisar os Fundamentos Legais para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. Isto será fundamental para a sua compreensão sobre a Diversidade Cultural como Característica da nossa Formação Humana e Nacional e o Discurso Pedagógico da Diversidade. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional: conceito de diversidade cultural Vamos começar explicando a Diversidade Cultural como Característica da nossa Formação Humana e Nacional, e isso requer a busca do conceito de Diversidade Cultural para conseguirmos melhor explicá-la. Você já conhece a expressão Diversidade ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 12ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 12 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 13 Cultural? Em algum momento de sua formação estudantil já leu ou ouviu que a Diversidade Cultural seria algo relevante na nossa formação humana e na formaçãodo Povo Brasileiro? Já ouviu alguém falando sobre a importância de os futuros educadores reconhecerem as diversidades culturais que aparecem dentro de sala de aula? E ouviu professores falando sobre isso? Estas e outras indagações levam a uma questão inicial e que precisará ser respondida: afinal, qual é o significado de Diversidade Cultural? Diversidade pode significar variedade, diferença e multiplicidade. A diferença é qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra, a falta de igualdade ou de semelhança (ABRAMOVICH, 2006, p. 12). Diversidade Cultural remete ao termo cultura. Cultura está relacionada a todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro. Em 1871, cultura foi definida por Edward Burnett Tylor, na sua obra “Acultura primitiva”, é todo o complexo de conhecimentos, artes, moral, crenças, costumes, leis, costumes, capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem, como membro e dentro da sociedade (TYLOR, 1871). Entendemos que cultura não pode ser pensada de forma singular. O mais certo é dizer culturas, sempre no plural, lembrando que são mutantes, ou seja, mudam os valores, leis, práticas. São múltiplas as crenças e variadas às práticas. Como são diversificadas as instituições, dentre das diferentes formações sociais! Na realidade, é verdadeiro afirmar que dentro de uma sociedade, como a brasileira, por exemplo, caracterizada por ser, como qualquer outra, temporal e histórica, que aconteçam muitas transformações culturais (CHAUÍ, 1995). Claro que os futuros professores necessitarão de reflexões sobre a definição de cultura. Ou seriam definições? O que é inegável é que você pertence a uma cultura local, situada em uma ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 13ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 13 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais14 determinada região do Brasil, e na região em que você vive existem distintos grupos sociais. Existem no Brasil minorias étnicas como os Povos Indígenas ou Povos Originários do Brasil. E existe uma cultura universal e que é patrimônio da humanidade. A cultura é um processo de humanização que imprime significados da vida social. Em sociedades plurais, como a sociedade brasileira, convivem diferentes matrizes culturais, diferentes idiomas culturais. Cada uma das culturas consigna uma visão de mundo, um quadro próprio de referência, seus próprios modos de pensar, de conhecer, de sentir, de fazer, de ser. Assim é comum que cada cultura desenvolva seus próprios sistemas de classificação, capaz de organizar o real, em conformidade com a sua própria lógica simbólica. Sendo assim as distintas culturas carregam suas dessemelhanças. Não são mesmo iguais, são diversas, são diferentes. Pensando na nossa realidade brasileira, a nossa diversidade cultural é resultante da sociedade plural que somos de norte ao sul desse imenso país. Figura 1 Fonte: freepik ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 14ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 14 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 15 Como querer afirmar que somos sujeitos submetidos a uma cultura única e indivisível, chamada Cultura Nacional Brasileira? Como somos pertencentes a esta sociedade plural, decorrente disso surge esta vastidão de diversidades culturais, neste país chamado Brasil. O que não quer dizer que tudo é pacífico, integrado e ocorra em uma perfeita união entre tantas diversidades culturais. Algo impede uma maior comunicação entre nossas diversidades culturais. Diante disso, o que dificulta e impede é o fato de estarmos imersos na ideia etnocêntrica de que algumas diversidades culturais são superiores ou melhores que outras. O que impede que sejamos capazes de reconhecer e respeitar as alteridades, aquilo que o outro é e representa diferente de si. E isso causa exclusões ou desrespeitos às outras diversidades culturais. Ou seja: Embora se intercomuniquem, essa comunicabilidade é regida pelo ordenamento social de natureza etnocêntrica que estrutura as relações de alteridade em nossa sociedade. Os mecanismos de integração, assimilação, disjunção e troca, na medida em que orientados etnocentrica- mente, configuram uma dinâmica assimétrica, exclu- dente. (BANDEIRA, 2003, p. 143) Diversidade cultural pode ser conceituada como a representação, dentro de um sistema social, de pessoas afiliadas aos grupos distintamente diferentes, do ponto de vista de significado cultural (HANASHIRO; CARVALHO, 2005). Trazendo a luz à discussão das diversificadas expressões culturais, entre diferentes grupos, majoritários ou minoritários. Outra forma de conceituar Diversidade Cultural, levando em conta a ideia de Identidade Cultural (o que se relaciona com as certezas que temos de pertencimento a uma determinada cultura), é afirmar que se trata de um conjunto imenso de pessoas, que não partilham das mesmas identidades grupais, suas identidades enquanto pertencentes a grupos são distintas e bem delimitadas, mesmo que vivam no mesmo sistema social. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 15ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 15 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais16 O autor completa que, a diversidade cultural englobaria os mais diversos grupamentos humanos, percorrendo um caminho que passa por raça e por gênero, dando conta de abarcar a idade, história pessoal e corporativa, formação educacional, função e personalidade. Inclui, também, estilo de vida, preferência sexual, origem geográfica. Além disso, existem conceituações que diferenciam dimen- sões primárias, definidas como diferenças humanas imutáveis, tais como idade, etnia, gênero, raça, orientação sexual e habili- dades físicas; e diferenças secundárias mutáveis: como formação educacional, localização geográ-fica e experiência de trabalho. Nas nossas ações sociais e culturais demonstramos que cada um de nós passa por um processo de produção da iden- tidade e de diferença. E isso nos diferencia uns dos outros. E que precisam ser respeitados socialmente e no âmbito das instituições que frequentamos, principalmente na escola. Os que trabalham na escola devem ir além da tolerância, do respeito às diferenças, com relação a identidade e diferença de cada aluno, e isso começa por procurar entender como são produzidas as identidades culturais. A diversidade biológica pode ser um produto da natureza; o mesmo não se pode dizer da diversidade cultural. A diversidade cultural não é, nunca, um ponto de origem: ela é, em vez disso, o ponto final de um processo conduzido por operações de diferenciação. Uma política pedagógica e curricular da identidade e da diferença tem a obrigação de ir além das benevolentes declarações de boa vontade para com a diferença. Ela tem que colocar no seu centro uma teoria que permita não simplesmente reconhecer e celebrar a diferença e a identidade, mas questioná-las. (SILVA,2000, p. 100) ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 16ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 16 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 17 É interessante começar a busca pelos significados da expressão Diversidade Cultural, destacando o cuidado e diferen- ciando-a do senso comum, daquilo que costumamos ouvir e de opiniões pessoais. Diversidade Cultural não é fazer a defesa de que o nosso país, o Brasil, é pluriétnico (formadopor muitas etnias diferentes, tanto autóctones (nativas) ou que vieram de outros continentes como o africano, europeu e asiático, e é pluricultural (diferentes culturas estão presentes na nossa realidade). Não devemos confundir diversidade cultural com uma polí- tica universalista, de maneira a contemplar o todo, todas as formas culturais, todas as culturas, como se pudessem ser dialogadas, trocadas (ABRAMOVICH; RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 94). Passando uma impressão errônea que a diversidade cultural seria o campo esvaziado da diferença, ou seja, a diversidade cultural acaba por abolir diferenças profundas e intensas das pessoas e de seus grupos sociais de pertencimento. Isso não é verdade! A diversidade Cultural precisa ser diferenciada das expli- cações que aniquilem as desigualdades. Já que as desigualdades são reais e expressas em muitos modos, inclusive pelas mani- festações culturais de distintos grupos sociais. Há desigualdades irreconciliáveis, seja de poder, seja das classes sociais, mas isto é obscurecido. Portanto, há muitas maneiras de esvaziar aquilo que são diferenças que é o contrário da construção identitária, pois cabe às diferenças: borrá-las. Em relação à diversidade supõe-se que a troca se realiza entre homens livres e iguais, o que sabemos não existe.(ABRAMOVICH; RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 94) O instigante tema diversidade cultural convoca a um posicionamento crítico e político, solicitando um novo olhar. E é mais ampliado que consiga abarcar os seus múltiplos recortes. Diante de uma realidade cultural e racialmente miscigenada, como é o caso da sociedade brasileira, essa tarefa torna-se ainda mais desafiadora. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 17ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 17 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais18 Ao falar em diversidade cultural, entram em cena partes consideráveis da população brasileira: negros, índios, mulheres, homossexuais e pessoas com deficiência, ganham visibilidades às lutas que estes grupos travaram, ao longo da história do Brasil, batalhas para garantir às suas diversidades e o clamor por políticas públicas que sejam capazes de atender os seus anseios. É interessante ressaltar que alguns sujeitos e grupos vão à luta para garantir suas visibilidades e em busca de políticas públicas afirmativas, como os Povos Indígenas Brasileiros e os Afrodescendentes. É perceptível que: [...] imigração, gênero, sexualidade, raça, etnia, religião e língua são os principais fatores que desencadearam um processo de mobilização e discussão sobre a diversidade, sendo que em vários contextos esses fatores estão inter- relacionados ou interseccionados. (ABRAMOVICH; RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 87) É possível entender diversidade cultural como sendo as diferenças construídas culturalmente, tornando-se, então, empiricamente observáveis; e ainda podemos entender como diversidade cultural as diferenças também construídas ao longo do processo histórico, nas relações sociais e nas relações de poder. Muitas vezes, os grupos humanos tornam o outro diferente para fazê-lo inimigo, para dominá-lo. Gomes (2003) fala que, tratar da diversidade cultural vai além de reconhecer o outro, saber da existência dele com e na sua diferença. Constituem pensar a relação entre o Eu e o Outro. Eis o encantamento em discutir sobre a diversidade. Ao considerarmos o outro, o diferente, não deixamos de focar a atenção sobre o nosso grupo, a nossa história, o nosso povo. Ou seja, falamos o tempo inteiro em semelhanças e diferenças. Diversidade cultural vai além do ato de analisar um com- portamento individual. E ainda exige uma discussão política, em razão de a diversidade cultural tratar das relações estabelecidas entre os grupos humanos, e por isso mesmo não está fora das ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 18ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 18 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 19 relações de poder. Ela diz respeito aos padrões e aos valores que regulam essas relações (GOMES, 2003, p. 72). Ao relacionar a discussão da diversidade cultural inseridas nas atividades escolares é necessário impedir que ele seja pensado como um tema transversal. Muito mais do que um tema ou um conteúdo a ser incluído no currículo, a diversidade cultural é um componente do humano. Ela é constituinte da nossa formação humana. Somos sujeitos sociais, históricos, culturais e, por isso, mesmo diferentes (GOMES, 2003, p. 73). Quando a educação se volta para a garantia da diversidade cultural, realiza um direito das crianças. E, ainda, faz das diferenças um trunfo, explorá-las na sua riqueza, possibilitar a troca, proceder como grupo, entender que o acontecer humano é feito de avanços e limites. O que significa abrir conexões entre tantos elementos distintos da vasta cultura brasileira. Em uma busca intensa pelo novo e capaz de incentivar as vidas dos educandos, devendo levar os educadores a buscar a adoção de práticas pedagógicas, sociais e políticas em que as diferenças sejam entendidas como parte de nossa vivência e não como algo exótico e nem como desvio ou desvantagem. A diversidade é uma mistura de pessoas, detentoras de identidades distintas, mas interagindo em um só sistema social. Nesses sistemas, coexistem grupos de maioria e de minoria. Os grupos de maioria são os grupos cujos membros historicamente obtiveram vantagens em termos de recursos econômicos e de poder em relação aos outros. Ao falar diversidade cultural aparece à necessidade de saber o que queremos dizer com a palavra Diversidade e com a palavra Cultura, e, posteriormente será possível chegar a um significado para a expressão Diversidade Cultural. A diversidade cultural é a riqueza da humanidade. Para cumprir sua tarefa humanista, a escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas além da sua. Por isso, a escola tem que ser local, como ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 19ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 19 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais20 ponto de partida, mas tem que ser internacional e intercultural, como ponto de chegada. Autonomia da escola não significa isolamento, fechamento numa cultura particular. Escola autônoma significa escola curiosa, ousada, buscando dialogar com todas as culturas e concepções de mundo. Pluralismo não significa ecletismo, um conjunto amorfo de retalhos culturais. Significa sobretudo diálogo com todas as culturas, a partir de uma cultura que se abre as demais. (GADOTTI, 1992, p. 23) Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Educação para a Diversidade: uma prática a ser construída na Educação Básica (Silva, 2007), acessível pelo link: https://bit.ly/2MDZSVR. (Acesso em 19/12/2019). SAIBA MAIS Figura 2: Cerimônia de encerramento da nona edição dos Jogos dos Povos Indígenas (Olinda PE) Fonte: Wikimedia Commons ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 20ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 20 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 21 Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional e a presença dela na escola. Você já é capaz de explicar a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional e conceituar diversidade cultural? Agora, você vai será desafiado a conseguir explicar a diversidade cultural como característica da nossa formação humana e nacional, e refletir sobre a presençadela na escola. As reflexões e publicações sobre temas como diversidade cultural, na sua relação com as minorias, impôs como um tema proeminente, em países da América do Norte - Canadá e Estados Unidos. Desde a década de 60, os movimentos políticos a favor da integração racial levaram à promulgação de leis visando à igualdade de oportunidades de educação e ao emprego para todos (FLEURY, 2000, p.19). Zelosos dos seus importantes papéis, os educadores deverão agir para integrar as diversidades culturais que coexistam dentro da escola e da sala de aula, instaurando um respeito as alteridades, aos outros e aos alunos. Levando em consideração os discursos simbólicos que consigam justificar as relações de alteridade, o formato e a maneira como esses discursos se reproduzem ou de como enfatizam determinados fragmentos temáticos, oportunos em dada situação, momento ou contexto particular, sempre transformando a diferença em desigualdade (BANDEIRA, 2003, p. 143) Estar em uma escola, aprendendo ou lecionando, representa momentos significativos para ter contato e adquirir elementos importantes da cultura universal. Bem como é uma oportunidade de aprender a lidar com as diferenças locais, regionais, de cada grupo social, raciais, de gênero e convivendo com as minorias étnicas. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 21ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 21 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais22 A diversidade étnico-cultural nos mostra que os sujeitos sociais, sendo históricos, são, também, culturais. Essa constatação indica que é necessário repensar, rompendo com as práticas seletivas, fragmentadas, corporativistas, sexistas e racistas. (GOMES e GONÇALVES e SILVA, 2006, p. 25) Dentro desta perspectiva, cabe ao educador, ao deparar-se com as diversas manifestações culturais populares ou culturas da cidadania, agir respeitando-as e dando-lhes vozes, dentro da escola. Cultura popular seria, na perspectiva de Paulo Freire, tomada de consciência da realidade nacional, para produzir transformações e criar formas de relações sociais e políticas; significa consciência de direitos, possibilidade de criar novos direitos e capacidade de defendê-los contra o autoritarismo, a violência (simbólica ou não) e o arbítrio. Interessará, certamente, a cada futuro educador, usar seu tempo na universidade, para preparar e consolidar, um modo adequado e consistente para o exercício do magistério, focado na realidade de que os alunos trazem múltiplas expressões de distintas culturas, implicando a necessidade de a educação ser multicultural, pluralista (não são homogêneos mesmos os alunos, como não somos homogêneos os brasileiros). E, as futuras ações didáticas deverão ser focadas no respeito à cultura de cada aluno, portanto, democrática. Cada educador deverá estar disposto a instaurar a equidade e o respeito mútuo, superando preconceitos de toda espécie, principalmente os preconceitos de raça e de pobreza. O que significa que o professor deverá ter respeito aos direitos dos alunos e que ninguém poderá deixar de matriculado e de permanecer na escola por qualquer tipo de preconceito. Neste sentido, os estudantes universitários que estão almejando os exercícios do magistério deverão aprender sobre a importância da renovação dos conteúdos culturais escolares, fazendo dialogar com a educação regular (aquela que acontece nas salas de aula), com os conteúdos aprendidos no âmbito da educação não-formal, firmando compromissos com uma educação para a equidade. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 22ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 22 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 23 Figura 3 Fonte: freepik Isso acontece quando se leva a sério a diferença cultural. O respeito aos direitos humanos é fator para a democracia e, justamente, democracia e direitos humanos não se constituíram, a não ser muito recentemente e com exceções, em conteúdos nodais da escola brasileira. É preciso experimentar uma educação multicultural, focada no que é universal e ao mesmo tempo é específico de um povo. Toda escola deve abrir os horizontes de seus alunos para a compreensão de outras culturas, de outras linguagens e modos de pensar, num mundo cada vez mais próximo, procurando construir uma sociedade pluralista e interdependente. As crianças chegam às escolas e carregam suas condições sociais próprias e relacionadas aos grupos sociais que pertencem. É necessário perceber que elas não são apenas portadoras de especialidades biopsicológicas. Os educadores precisam entender que a infância é uma construção social. Infância é distinta de imaturidade biológica, não é natural nem universal e aparece como componente estrutural de muitas sociedades (ROCHA; COSTA, 2014, p.85). Por isso, é importante verificar as relações sociais em que as crianças estão inseridas, ao mesmo tempo em que devem ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 23ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 23 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais24 ser vistas como participantes do mundo social e produtores de culturas diversas. Devem ser vistas como ativas na construção e determinação das suas próprias vidas, das vidas dos que cercam e das sociedades onde vivem. Crianças não são sujeitos passivos das estruturas. As crianças interagem com muitos subgrupos etários e não ficam estáticos nas suas capacidades de ação, de expressar sentimentos e pensamentos, de movimentar-se com autonomia. É importante lembrar que as crianças são constituídas como seres sociais, e assim sendo disseminam-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem, a raça, o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças. (SARMENTO, 2005, p. 370) Vamos a um exemplo prático, ao comparar um menino europeu, na faixa etária entre 6 e 12 anos, pertencente a etnia dominante europeia e de raça branca, com família submetida as condições econômicas favoráveis e possuindo maiores possibilidades de viver com saúde, que tem acesso e permanência escolar garantidos, com seus direitos de brincar, ser alimentado suficientemente, portar boas roupas, ter brinquedos, viver em uma boa casa e ter horas de lazer favorecidas, em comparação com uma menina da América do Sul, na Índia ou África, vinda das classes populares e mais empobrecidas sul-americanas, indianas ou africanas, é imprescindível entender que a diversidade social e cultural distingue este menino europeu destas meninas que vivem em condições econômicas precárias, em seus distintos continentes. Isso significa que são bastante menores, neste caso, as possibilidades de estudar, brincar e aceder a bens de consumo, e muito maiores as possibilidades de estar doente e de ter sobre os ombros as responsabilidades e os encargos domésticos. As crianças demandam tratamentos que levem em conta a diversidade que as tornam os sujeitos que são. Não é justo que o educador, na sala de aula, as veja parcialmente. É imperativo que os professores façam distinções efetivas, conceituais, semânticas ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 24ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 24 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 25 (processos de referenciação e significação próprias das crianças sobre a infância e suas diversidades culturais, sintáticas (relativas às regras de articulação entre os elementos simbólicos) e morfológicas (referentes a especificaçãodas formas que adotam os elementos característicos das culturas da infância). Desta forma, cabe ao professor entender que a criança enquanto um sujeito concreto que integra essa categoria geracional e que, na sua existência, para além da pertença a um grupo etário próprio, é sempre um ator social que pertence a uma classe social, a um gênero etc. Assim, cada criança deverá ser tratada como um sujeito que vive mergulhado à sua própria diversidade cultural, e que poderá até coincidir em alguns elementos com as culturas de seus professores, mas difere em muitos pontos e precisará ser respeitada no seu direito a sua específica diversidade cultural. Junto com seus pares, com as crianças que compartilham o seu cotidiano, a escola deverá não coibir a apropriação, reinvenção e a reprodução que elas produzem juntas, colaborando para conseguir lidar com experiências contraproducentes, ao mesmo tempo em que se estabelecem fronteiras de inclusão e exclusão (de gênero, de subgrupos etários, de status), que estão fortemente implicados nos processos de identificação social. Caberá aos que planejam as rotinas educativas: [...] construir novos espaços educativos que reinventem a escola pública como a casa das crianças, reencontrando a sua vocação primordial, isto é, o lugar onde as crianças se constituem, pela ação cultural, em seres ditados do direito de participação cidadã no espaço coletivo. (SARMENTO, 2002, p. 16) É necessário levar em conta a criança enquanto portadora de diversidade cultural, e a responsabilidade do educador como quem sustenta, com bastante respeito, lugares de convivências criativas. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 25ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 25 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais26 Deve-se deixá-las livres como atores sociais, nas diversidades culturais e nas alteridades delas. Cada criança deve ser reconhecida como Outro e reconhecer as demais naquilo que elas carregam como Outro também, com os adultos. As condições culturais e sociais são heterogêneas, mas incidem perante uma condição infantil comum: a de uma geração desprovida de condições autônomas de sobrevivência e de crescimento e que está sob o controle da geração adulta. Os conteúdos e as formas presentes nas culturas infantis são interdependentes das culturas das sociedades onde vivem, sendo afetadas pelas mais diversas relações de classe, de gênero e de proveniência étnica, que impedem definitivamente a fixação num sistema coerente único dos modos de significação e ação infantil. As crianças precisam ser reconhecidas como produtores de cultura própria à sua geração. E são estas culturas da infância que exprimem as contradições que visualizam na sociedade em que habitam. A escola e a família são espaços que oferecem interações diversas e o contato com culturas dirigidas pelos adultos (pais e professores) e culturas construídas nesses encontros entre as crianças. Os adultos costumam oferecer produtos de suas culturas às crianças. Passam às novas gerações suas decisões arbitrárias ao selecionarem ou recusarem alguns valores e saberes. Isso acontece com os pais, com os educadores e é perceptível no conjunto de dispositivos culturais produzidos para as crianças, com uma orientação do mercado, configuradora da indústria cultural para a infância (literatura infantil, jogos e brinquedos, cinema, bandas-desenhadas, jogos vídeo e informativos, sites e outros dispositivos da Internet, serviços variados – de férias, de tempos livres, de comemoração de aniversário, de festas, etc.). (SARMENTO, 2002, p. 5) ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 26ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 26 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 27 E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo até aqui, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido, até este momento, a explicar a Diversidade Cultural como Característica da nossa Formação Humana e Nacional, o conceito de Diversidade Cultural e a presença da Diversidade Cultural na escola. Reconhecendo o discurso pedagógico da diversidade Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Multiculturalismo e educação: em defesa da diversidade cultural (Silva, 2007), acessível pelo link: https://bit.ly/2BHZHq5 (Acesso em 19/12/2019). SAIBA MAIS Reconhecendo o discurso pedagógico da diversidade é necessário para você entender as responsabilidades e adesões da escola e dos educadores sobre a importância de promover a diversidade nas atividades educativas. Você percorrerá pela história do discurso pedagógico hegemônico, desde a idade moderna, e posteriormente entenderá sua diferenciação com o discurso pedagógico da diversidade. OBJETIVO ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 27ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 27 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais28 O Discurso Pedagógico revela aquilo acontece nas relações entre os professores e os alunos, dos detalhes mais insignificantes aos mais essenciais. Trata nas formas como a escola pretende modificar as mentes, os modos de agir e de pensar das novas gerações a favor da Diversidade. É inegável que as nossas indissociáveis e interdependentes identidades e diferenças, são geradas a partir da nossa condição de sujeitos ou asujeitados à linguagem, no âmbito de um específico dentro discurso. Isso deve inspirar os educadores a examinar, minuciosamente, seus modos de produção, onde e quando foram produzidas, através do discurso. A maioria das escolas costumam operar a favor da normalização e este movimento, no interior das salas de aulas parece estar produzindo mais expurgo da norma do que identidades encaixadas na ordem. Quer dizer, há cada vez mais ‘estranhos’ do que ‘normais’. Na medida em que os professores tentam domar as identidades dos seus alunos mais proliferam as diferenças. Indagando se não existiria uma possibilidade pedagógica para lidar com a diferença sem excluí-la, Costa (2008) defende que seria indispensável desessencializar as identidades e historicizá-las, mostrar e problematizar as identidades em sua face construída, produzida nas injunções políticas do poder no interior das sociedades e das culturas. O pensamento de Michel Foucault vai ajudar você a entender sobre os discursos e sobre as práticas atreladas a eles. Este autor francês entendia que os discursos são poderosos, agem, vigiam e controlam os sujeitos. É bem difícil escapar de tanta vigilância e das recorrentes punições nas instituições, dos rótulos que vão sendo pregados na testa dos que não respeitam as normas, a partir da saída da Idade Média, na Idade moderna. São os discursos eles mesmos que exercem seu próprio controle; procedimentos que funcionam, sobretudo, a título de princípios de classificação, de ordenação, de distribuição, como se tratasse desta vez, de submeter ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 28ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 28 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 29 outra dimensão do discurso: a do acontecimento e do acaso. (FOUCAULT, 2002 p. 21) Historicamente, a partir da modernidade, a escola passa a agir de um modo diferenciado das práticas medievais. Foucault bem mais tarde estudou este momento histórico (século XX). Estudou os colégios da Era Moderna, seus disciplinamentos, vigilâncias e punições, respaldadaspelo discurso hegemônico moderno, com seus objetivos de controlar e moldar a subjetivação dos sujeitos na modernidade, focando na formação do aluno, filho dos burgueses e cristãos. Tal discurso carregava seus mecanismos de poder, controle e disciplinamento, que eram vistos como inquestionáveis e posteriormente naturalizados como regras infalíveis em nome da racionalidade, para educar as novas gerações. Interessou a Foucault estudar sobre a história das construções sociais impostas sobre os alunos, bem como os saberes e poderes que os discursos pedagógicos veiculam. Suas pesquisas sobre este importante momento da história da educação revelaram o aluno, na modernidade, asujeitado ao discurso pedagógico e seus métodos, mostrando seu poder dentro dos colégios. E tal poder é conhecido como poder disciplinar: O poder disciplinar é, com efeito, um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior ‘adestrar’; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. (...) A disciplina ‘fabrica’ indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício. Não é um poder triunfante que, a partir de seu próprio excesso, pode-se fiar em seu superpoderio; é um poder modesto, desconfiado, que funciona a modo de uma economia calculada, mas permanente (FOUCAULT, 1981, p.153) Foucault (1981) contribuiu para o entendimento de que foram elaborados, a partir da modernidade, métodos capazes de ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 29ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 29 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais30 realizar o controle meticuloso das operações do corpo, sujeitando-o nas suas forças, tornando-o dócil e útil. Estes métodos operados para conseguir tal asujeitamento é denominado ‘disciplinas’. Tais processos disciplinares ou disciplinamentos levariam tempos para serem operados nos conventos, oficinas e exércitos e foram expandindo seus domínios, passando a serem fórmulas gerais de dominação dos sujeitos, no decorrer XVII e XVIII. Diferenciados dos tempos e dos modos da escravidão, na antiguidade e nos tempos medievais, a modernidade traz novidades, pois não fundamentam numa relação de apropriação dos corpos; é até a elegância da disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo efeitos de utilidade pelo menos igualmente grandes. O que fabricaria a disciplina? Foucault responde que fabrica indivíduos, a disciplina é uma técnica própria e relacionada a um poder, que coisifica os sujeitos, transformando-os em objetos e instrumentos de seu funcionamento. Não age pelo excesso e confiante no seu imenso poder, representa um poder módico, acanhado, funcionando a modo de uma economia calculada, mas permanente. Humildes modalidades, procedimentos menores, se os comprarmos aos rituais majestosos da soberania ou aos grandes aparelhos do Estado. Vieram das descobertas das ciências modernas, como da Medicina e alguns eficazes modelos de normatização, como por exemplo, as ortopedizações empregadas para endireitar o corpo, transportado para disciplinar as mentes dos alunos, nos colégios. Avançou a pedagogização do conhecimento e o disciplinamento, tantos nos corpos como nas mentes dos alunos. Não parando nunca mais e permanece atual na estrutura escolar e nos discursos pedagógicos, normatizando os sujeitos, professores ou alunos. Normatizou-se primeiro a produção dos canhões e dos fuzis, em meados do século XVIII, a fim de assegurar a utilização por qualquer soldado de qualquer oficina, etc. depois de ter normatizado os canhões, a França normatizou seus professores. As primeiras Escolas ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 30ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 30 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 31 Normais destinadas a dar a todos os professores o mesmo tipo de formação e, por conseguinte, o mesmo nível de qualificação, apareceram em torno de 1775, antes de sua institucionalização em 1790 ou 1791. A França normatizou seus canhões e seus professores, a Alemanha normatizou seus médicos. (FOUCAULT, 1982, p. 83) Foucault (2002) comenta que em todas as sociedades ocorrem produção de discurso, que é, simultaneamente, controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade. Um dos procedimentos é a exclusão, outro deles é a interdição. Em alguns casos, em lugares e instâncias mais sombrias das sociedades, o discurso nem é neutro e tão pouco transparente, a política e a sexualidade são alguns destes lugares. Os educadores deveriam saber e refletir sobre suas práticas, as inter-relações contidas nelas, os modos como são operados os objetivos de homogeneizar as diversidades, as diferenças, as identidades, contendo os diferentes, os irreverentes, os criativos, os que possuem modos distintos dos seus próprios, das suas famílias e da sua classe social. E aprender com eles! Foucault aponta que ainda que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e o poder. Nisso não há nada espantoso, visto que o discurso – como a psicanálise nos mostra – não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; e visto que – isto a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos apoderar. (FOUCAULT, 2002, p. 10) ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 31ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 31 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais32 Portanto, nada aniquilará nos educandos os seus desejos de serem ouvidos em suas subjetividades, nos seus anseios e nas suas manifestações culturais que lhes foram fazendo sentidos nas suas jornadas pelas suas existências. Assim, tradicionalmente, o espaço escolar é o lugar da disputa entre o discurso pedagógico hegemônico (dentro da cabeça dos professores desde a modernidade aos dias atuais) e os interesses, desejos e ideias das novas gerações. É necessário, na contemporaneidade tentar fazer um esforço para ouvir as outras vozes silenciadas dos alunos, procedentes de suas quebradas, de seus guetos, de suas comunidades, das suas casas e de suas famílias. Invadindo a escola com estes outros cantos, outras danças, dissonantes, mas reais. Figura 4: Crianças e Dança dos Caboclinhos no Carnaval do Brasil Fonte: Wikimedia Commons Foucault reflete que para os gregos (século VI) o discurso era pronunciado pelo sujeito que tinha direito a ele, em conformidade com algum ritual próprio à época. O discurso tinha a capacidade de profetizar o futuro, com a adesão dos indivíduos. Depois tudo mudou, na passagem da Antiguidade Clássica para o início da Idade Média. A verdade se deslocou do ato ritualizado, eficaz e justo, de enunciação, para o próprio enunciado: para seu sentido, sua forma, seu objeto, sua relação e suas referências. (FOUCAULT, 2002, p. 13) ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 32ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 32 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 33 Já na chegada à modernidade (lá pelos séculos XVI e XVII), Foucault aponta que apareceu uma vontade de saber que, antecipando- se a seus conteúdos atuais, desenhava planos deobjetos possíveis, observáveis, mensuráveis, classificáveis, uma vontade de saber que impunha ao sujeito cognoscente (e de certa forma antes de qualquer experiência) certa posição, certo olhar e certa função (ver, em vez de ler, verificar, em vez de comentar); uma vontade de saber que prescrevia (e de certo modo mais geral do que qualquer instrumento determinado) o nível técnico do qual deveriam investir-se os conhecimentos para serem verificáveis e úteis. (FOUCAULT, 2002, p. 16/17) E a pedagogia estará presente com suas práticas, agindo em nome deste sistema moderno e excludente. Serve para reforçar e conduzir este projeto de verdade da modernidade, a serviço da realização dos procedimentos de controle e de delimitação próprios ao discurso pedagógico hegemônico. Isso desfavorece, até os dias atuais, que outros discursos não hegemônicos possam chegar à escola e democraticamente oferecer suas contribuições, aproximando os alunos que se sentem desmotivados por discursos outros, distanciados de suas vidas e seus anseios. A escola precisa pensar nisso! Rever seus métodos, renovar suas intenções e oxigenar velhas práticas. E Foucault esclarece o modo de procedimento de um discurso, oposta ao lugar do aluno como sujeito capaz de fazer comentários sobre o que leu, estando longe de um projeto de leitor autônomo e capaz de falar com propriedade e com liberdade sobre temas propostos na sala de aula. A organização das disciplinas se opõe tanto ao princípio do comentário como ao do autor. Ao do autor, visto que uma disciplina se define por um domínio de objetos, um conjunto de métodos, ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 33ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 33 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais34 um corpus de proposições verdadeiras, um jogo de regras e de definições, de técnicas e de instrumentos: tudo isso constitui uma espécie de sistema anônimo à disposição de quem quer ou pode-se servir dele, sem que seu sentido ou sua validade estejam ligados a quem sucedeu ser seu inventor (FOUCAULT, 2002, p. 30) A criação de um autor, suas palavras próprias são apropriadas por um determinado discurso que coloca a produção dele no anonimato. E este princípio da disciplina que desvaloriza a autoria dos que produziram os livros ou textos, desvalorizando até mesmo o desejo dos alunos de serem autores, criadores de novos textos, este princípio da disciplina se opõe também ao do comentário: em uma disciplina, diferentemente do comentário, o que é suposto no ponto de partida, não é um sentido que precisa ser redescoberto, nem uma identidade que deve ser repetida; é aquilo que é requerido para a construção de novos enunciados. (FOUCAULT, 2002, p. 30) Assim, nem é solicitado ao aluno que aprenda a comentar a própria realidade, o que leu e até o que escreveu. As leituras que possam fazer do mundo não são necessárias. Só interessa mesmo é que o discurso hegemônico exercido e seus modos de agir possam ser apreendidos. Foucault fala em biopoder, uma etapa nova e posterior ao século XVIII. A diferença é que o biopoder se diferencia do poder disciplinar e técnica de adestrar o homem-corpo, punindo-o e vigiando constantemente. Parece para agir no campo do homem- espécie. O biopoder vai operar como uma novidade, uma nova tecnologia de poder, distinta do poder disciplinar, mas não o descartará, fará uma fusão com ela. Sendo assim preservada e operando seus resultados nas instituições modernas ocidentais até hoje. Foucault esclarece que ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 34ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 34 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 35 a disciplina tenta reger a multiplicidade dos homens na medida em que essa multiplicidade pode e deve redundar em corpos individuais que devem ser vigiados, treinados, utilizados, eventualmente punidos. E, depois, a nova tecnologia que se instala se dirige à multiplicidade dos homens, não na medida em que eles se resumem em corpos, mas na medida em que ela forma, ao contrário, uma massa global, afetada por processos de conjunto que são próprios da vida, que são processos como o nascimento, a morte, a produção, a doença etc.(FOUCAULT, 1999, p. 291) Como vencer as determinações deixadas pelo discurso pedagógico hegemônico, nascido na modernidade, com todas as suas consequências nas mais simples ou complexas atividades escolares, para incorporar à diversidade cultural, a multiculturalidade, as marcas presentes nas nossas manifestações culturais e trazer um novo e progressista discurso pedagógico aberto às diferenças, capaz de conduzir ações afirmativas às minorias desprivilegiadas, no decorrer de mais de 500 anos de exclusão? O que travariam a passagem desses discursos pedagógicos hegemônicos e tradicionais para os inovadores Discursos Pedagógicos da Diversidade? As mudanças têm sido então, quase sempre, a burocratização do outro, sua inclusão curricular e, assim, a sua banalização, seu único dia no calendário, seu folclore, seu detalhado exotismo. Muitos olhares para as diferenças das crianças ficaram do lado de fora do foco e das discussões dos educadores. E permanecem sem querer ver. Se, em algum momento da nossa pergunta sobre educação, tínhamos nos esquecidos do outro, agora detestamos sua lembrança, maldizemos a hora de sua existência e da sua experiência, corremos desesperados a aumentar o número de alunos e de cadeiras nas aulas, mudamos as capas dos livros que ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 35ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 35 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais36 já publicamos há muito tempo, re-uniformizamos o outro sob a sombra de novas terminologias. Novas terminologias sem sujeitos. (SKLIAR, 2003, p.40) A escola brasileira repete um discurso de inspiração dos princípios que movimentaram o pensamento sobre a educação e a escola republicana francesa, de que deve ser única e igual para todos, e desta forma, oculta e mantém uma ética de indiferença em relação às diferenças. Ou seja, há uma indiferença ao outro como fundamento da escola. O que levaria a uma visão de homogeneização diante de sujeitos heterogêneos (diferentes). Impondo, dentro da escola um saber, de uma racionalidade, de uma estética, de um sujeito epistêmico único, legitimado como hegemônico como parâmetro único de medida, de conhecimento, de aprendizagem e de formação. São impostos parâmetros universais e abolidas as diferenças, que tornam desiguais em iguais, atingindo e trazendo para todos a mesma medida e avaliação, resultando em classificar o ‘outro’ como inferior, incivilizado, fracassado, repetente, bárbaro etc. Um Discurso Pedagógico da Diversidade impõe diferenças e modos novos de ver o diferente, propõe-se a tolerância a alguns coletivos: as classes populares, os negros, os homossexuais, mas ainda os vemos como aqueles que não sabem inferiores, e que necessitarão da adesão e empenho de cada educador, diante de uma realidade que aponta justamente para o contrário, para a exclusão e a indiferença com as diferenças. Na busca de outro discurso pedagógico é necessário superar a marca pesada que ficou na escolha brasileira a favor da escola tradicional, impedindo novas metodologias, concepções progressistas, organizações disciplinares inovadoras e inspiradas em concepções epistemológicas progressistas, criando possibilidades de ampla autonomia e participação dos educandos. Fazendo a aposta por uma escola como comunidade participativa, refletindo sobre o fato de a escola defender ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais- Aberto - SER.indb 36ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 36 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 37 a participação - autonomia, mas comporta-se de modo autoritário e com contradições: instituição igualitária que reproduz desigualdade social; instituição respeitadora das diferenças e tolerante, mas que provoca atitudes discriminatórias; instituição que proclama a aprendizagem crítica e criativa, mas usa métodos memorísticos e meios verbais; instituição democrática, mas que usa hábitos autoritários que limitam a participação. (Martins, 2006, p. 79) Na busca de uma nova pedagogia, já não mais voltada aos discursos hegemônicos, surgidos desde a Era Moderna, construtores das escolas tradicionais, ultrapassando-os e apoiando- se no Discurso Pedagógico da Diversidade é preciso estar aberto para construir novas mentalidades, para além de falar apenas por falar. O discurso das diversidades permite entender como podemos compreender as distintas diferenças, desde a análise da realidade sociopolítica e sociocultural (multiculturalidade, interculturalidade). Isso significa estar aberto às diversidades, alteridades e diferenças, em fazer encontros interculturais (entre culturas diferentes), abrindo espaços de expressão multiculturais (entre muitas culturas em diálogo). Querendo constituir bons encontros com as várias diversidades culturais trazidas pelos educandos, ouvi-los falar sobre estes mundos outros, em suas expressões diversas daquelas mais familiares aos educadores e que impliquem em novas aprendizagens para os educadores. O Discurso Pedagógico da Diversidade destaca a concepção humanista da igualdade, do valor e da afirmação das diferenças na diversidade cultural, de gênero/sexo, de capacidades e da relação entre diferença-semelhança, pluralidade e identidade. Isso demandará o acolhimento dos direitos à diferença, o conhecimento das histórias e das culturas dos diferentes agrupamentos sociais, que são os formadores, as matrizes do Povo Brasileiro, no antes e no depois da colonização portuguesa, a abertura às estéticas oriundas das diversidades culturais brasileiras. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 37ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 37 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais38 É uma grande mudança de concepção e que estará apoiada em novas tendências educativas. Estão subjacentes a estas apreciações várias tendências educativas, fruto da diversidade dos discursos na sua análise às realidades concretas educativas (MARTINS, 2006, p. 84). Martins defende que na diversidade de discursos pedagógicos, os indicativos à necessidade de uma educação especial para determinados coletivos ou grupos com deficiências ou necessidades de aceder ao currículo, às diferenças linguísticas, as metodologias adequadas a cada contexto etc. O que pode ser apontado para o futuro da educação, em uma perspectiva alimentada por um discurso pedagógico da diversidade é que poderá caminhar para ‘muitos e diversos espaços’, enquadrando-se no sentido de que cada vez mais o indivíduo realiza a sua aprendizagem ou aprendizagens em espaços diversificados. O Discurso Pedagógico da Diversidade poderá oferecer novas perspectivas. As respostas educativas (enfoques) dessas pedagogias inovadoras emergentes falam menos de igualdade e mais de liberdade, de qualidade e competências para o desempenho profissional (MARTINS, 2006, p. 89). Dando vozes aos que costumam ser obrigados a não argumentar com as suas próprias diversidades culturais ou seus modos de expressão, trazendo-lhes novos capitais culturais, novos conhecimentos, acesso amplo as produções culturais da humanidade. Os discursos são a favor do acesso à cultura e à educação das classes mais desfavorecidas, da democratização escolar, do desencadear de novos métodos e estratégias e conteúdo, da compreensão crítica da realidade, da educação social e cívica (cidadania), investigação-ação e resolução de problemas, de novos instrumentos metodológicos, novos reportórios de técnicas, do desenvolvimento de materiais de ensino específicos (‘Humanities ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 38ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 38 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 39 Project’ de Stenhouse), de novos modelos de ensino e de formação de professores, novos espaços de aprendizagem, da educação integral, racional e científica formadora da conduta moral, das cidades educativas e comunidades de vida, da construção do conhecimento e do desenvolvimento da inteligência e criatividade, de novos tipos de aprendizagem, de experiências na comunidade, etc. (MARTINS, 2006, p. 89) O discurso pedagógico da diversidade com seus olhares, linguagens e abordagens, diversidades de ideias, temáticas, perspectivas, enfoques e tendências devem abrir espaço para novas e melhores práticas educativas. Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Multiculturalismo e educação:em defesa da diversidade cultural (Silva, 2007), acessível pelo link: https://bit.ly/2BHZHq5 (Acesso em 19/12/2019). SAIBA MAIS E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que para reconhecer o Discurso Pedagógico da Diversidade é necessário entender as responsabilidades e adesões da escola e dos educadores sobre a importância de promover a diversidade, nas atividades educativas. Você percorreu pela história do Discurso Pedagógico Hegemônico, desde a Idade Moderna, e posteriormente foi capaz de entender sua diferenciação com o Discurso Pedagógico da Diversidade. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 39ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 39 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais40 Entendendo a introdução a educação étnico-racial Você será capaz de entender, de um modo introdutório, a Educação Étnico-Racial. Isso facilitará a sua futura inserção em sala de aula, desenvolvendo suas atividades educadoras para as diversidades das crianças. OBJETIVO Entendendo a introdução a educação étnico-racial: conceitos de etnia e raça Entendendo a introdução a Educação Étnico-Racial, buscando conceitos de Etnia e Raça é importante para diferenciar e perceber a dessemelhança entre os conceitos de Etnia e Raça. O fato é que a preocupação com uma Educação Étnico- Racial traz o desafio de pensar em propostas curriculares que não neguem as nossas verdades étnico-raciais, bastante fáceis de serem conhecidas, através de saberes históricos, sociais, antropológicos, bastante reveladores das nossas realidades Étnico-Raciais brasileiras. Isso significa ter elementos suficientes para realizar um consistente combate ao racismo e as discri- minações originalmente étnico-raciais. É necessário que a escola e os educadores estejam dispostos a conhecer ideias que fortaleçam, dentro dela e nestes professores, sendo veiculadas aos alunos, para que os conhecimentos novos operem a favor do desenvolvimento de valores, atitudes e posturas capazes de educar cidadãos que tenham orgulho de seus pertencimentos étnico-raciais. Sejam os descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 40ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 40 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das RelaçõesÉtnico-Raciais 41 de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos (BRASIL, 2004, p.02), bem como suas identidades valorizadas. O termo Raça perpassa por uma conotação política, usado em demasia no Brasil, nas relações sociais brasileiras, com objetivos de informar como determinadas características físicas, como cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira. E, posteriormente, as populações negras brasileiras, no âmbito de suas organizações e lutas político-sociais, foram capazes de ressignificar o termo Raça, passando a utilizá-lo com um sentido político e de valorização do legado deixado pelos africanos. E o termo Étnico, que aparece na expressão étnico-racial, é usada para delimitar as verdadeiras, reais e tensas relações relacionadas as nossas diferenças, na cor da pele e traços fisionômicos o são também devido à raiz cultural plantada na ancestralidade africana, que difere em visão de mundo, valores e princípios das de origem indígena, europeia e asiática. O termo étnico, então, está associado e é imprescindível para delimitar que um dado sujeito pode até a mesma cor da pele que seu colega de sala de aula, terem os dois o mesmo tipo de cabelo e semelhantes traços sociais e culturais que os diferenciem, sendo estes dois educandos pertencentes as etnias diferentes. Grupos étnicos são agrupamentos de pessoas, portadoras de determinadas características marcantes de suas culturas, carregando suas diferenças ancestrais, linguísticas, de valores, de hábitos alimentares, costumes e manifestações culturais. E já Raça representa uma construção social usada para caracterizar os diferentes sujeitos, montada em particularidades relacionadas a cor da pele ou marcas físicas. O termo raça é sociológico e não biológico. E podemos afirmar que todos pertencemos a raça humana. Tal espécie humana teria surgido por volta de 350 mil ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 41ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 41 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais42 anos atrás, no leste do continente africano. Sendo assim, somos ancestralmente todos africanos. Entendendo a introdução a educação étnico-racial na realidade brasileira Entendendo a introdução a Educação Étnico-Racial na Realidade Brasileira será possível conhecer mais sobre nossas diversidades Étnico-Raciais e culturais. Em um país fortemente marcado pela diversidade, desde os primórdios, nos tempos em que os Povos Originários chamavam o nosso Pais e a região da América do Sul, pelo nome de Pindorama, que significa terra livre dos males, segundo os habitantes originários, os povos tupis e guaranis. E, ainda, a região da América era chamada de Abya Yala, em língua do Povo Indígena Kuna significando a ‘TerraViva’ ou ‘Terra em florescimento’. Posteriormente, já nos tempos da colonização portuguesa, entre os primeiros estrangeiros que se tornaram moradores do Brasil e vieram de Portugal, constavam pessoas, como Jerônimo de Albuquerque (conhecido como o Adão Pernambucano), cunhado do administrador da Capitânia de Pernambuco, sendo que Jerônimo e a sua irmã traziam as marcas das suas ancestralidades rramita- muculmana, muçulmana-semita, negra pré-saaraniana e aqui no Brasil chegaram na condição de representantedo rei de Portugal. Encontrando aqui no Brasil a filha do Cacique Arcoverde Tabajara (do tronco linguístico Tupy), com quem teve vários filhos que foram registrados e fizeram história, como também seus inúmeros descendentes. (LIMA, 2013) Mas, nem tudo foi semelhante e pacífico ao encontro inaugural deste casal por volta do ano 1534. O Brasil contava com milhões de habitantes indígenas que foram mortos, por não aceitar a condição de escravização. O Antropólogo brasileiro e Ex-Ministro da Educação, Darcy Ribeiro, considera que no processo de Formação do Povo Brasileiro, destacam-se conflitos ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 42ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 42 03/02/2021 17:27:4503/02/2021 17:27:45 Educação das Relações Étnico-Raciais 43 intensos entre índios, negros e brancos. Pode‐se afirmar, mesmo, que vivemos praticamente em estado de guerra latente, que, por vezes, e com frequência, se torna cruento, sangrento. Entendendo a introdução a Educação Étnico-Racial, com o objetivo de exercer o magistério, em um país fortemente marcado por uma história intensa de dificuldades entre seus grupos Étnico- Raciais, na relação difícil de contatos entre diferentes etnias (Inter étnicos) é necessário desvelar os preconceitos, revelar as impropriedades das falsas narrativas e entender as verdades profundas e que não podem ser caladas, dentro das escolas: Conflitos Interétnicos existiram desde sempre, opondo as tribos indígenas umas às outras. Mas isto se dava sem maiores consequências, porque nenhuma delas tinha possibilidade de impor sua hegemonia às demais. A situação muda completamente quando entra nesse conflito um novo tipo de contendor, de caráter irreconciliável, que é o dominador europeu e os novos grupos humanos que ele vai aglutinando, avassalando e configurando como uma macro etnia expan-sionista (RIBEIRO, 1995, p.168). Posteriormente, chegaram africanos na condição indigna de escravizados em grande número, proibidos de falar a própria língua, confessarem a própria religião e obrigado a trabalhar em condições absolutamente terríveis, martirizados ou supliciados perversamente. Diante disso, as consequências da colonização portuguesa e católica sobre as populações indígenas, africanas e afro- brasileiras foram cruéis e todas as Políticas Públicas Afirmativas, de reparação, oferecidas aos povos afro-brasileiros e indígenas, são mínimas diante da monstruosa ação governamental, seja nos tempos coloniais, imperiais ou republicanos sobre estes povos e seus descendentes. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 43ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 43 03/02/2021 17:27:4603/02/2021 17:27:46 Educação das Relações Étnico-Raciais44 Figura 5: Congada, Dança Brasileira nos Tempos Colônias Fonte: Wikimedia Commons E foram produtoras de práticas racistas e preconceituosas, capazes de construir e reiteradamente repetidas a partir de preconceitos, frutos da ignorância que grupos étnicos tidos como superiores têm acerca da história das organizações e modo de vida daqueles considerados inferiores. Um dos efeitos foi, e continua sendo, as intensas demonstrações de ódio, de preconceito que circulam pela sociedade brasileira, incluindo os espaços educacionais e atingindo as práticas pedagógicas, por estarem dentro da cabeça de muitos professores, presentes nos discursos e até nos livros, criou um cenário em que o preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade em lidar profissionalmente com a diversidade, somando-se ao conteúdo preconceituoso dos livros e materiais didáticos e às relações preconceituosas entre os alunos de diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e outras, desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado. (MUNANGA, 2005: 16) ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 44ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 44 03/02/2021 17:27:4603/02/2021 17:27:46 Educação das Relações Étnico-Raciais 45 Uma experiência de Educação Étnico-Racial necessitará trazer à sala de aula a diversidade de linguagens representativas na nossa formação étnico-racial brasileira, em toda a suacompletude, para que os mais diversos sujeitos se sintam subjetivamente e culturalmente contemplados, com direito à livre e autoral expressão suas diferenças étnico-raciais, com a riqueza de suas manifestações distintas. Lembrando e considerando, na sala de aula, que a questão do negro e a questão do índio, embora do ponto de vista da tradição histórica assimilacionista e do processo hegemônico de integração social apresentem muitos pontos em comum, também mostram profundas diferenças do ponto de vista do modo predominante de inserção na sociedade de classe, das regulações, da ‘fabricação’ das identidades, da natureza dos processos de subordinação e dos mecanismos com que são operados, tanto no interior dos grupos como externamente (BANDEIRA, 2003, p. 143) Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Conceitos de gênero, etnia e raça: reflexões sobre a diversidade cultural na educação escolar (Silva, 2007), acessível pelo link: http://bit.ly/35gA60Q. (Acesso em 04/07/2017). SAIBA MAIS E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido a entender, de um modo ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 45ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 45 03/02/2021 17:27:4603/02/2021 17:27:46 Educação das Relações Étnico-Raciais46 introdutório, a Educação Étnico-Racial. Isso facilitará a sua futura inserção em sala de aula, desenvolvendo suas atividades educadoras. Entendendo, agora, tanto os conceitos de Raça e Etnia, bem como aspectos importantes sobre a Educação Étnico- Racial, na Realidade Brasileira Analisando os fundamentos legais para a educação das relações étnico-raciais. Ao analisar os Fundamentos Legais para a Educação das Relações Étnico-Raciais, você terá parâmetros para cumprir e propor Projetos Políticos Pedagógicos, currículos, metodologias e práticas educativas. OBJETIVO As lutas populares pela redemocratização, conduzidas pelo povo brasileiro (indígenas, povo negro organizado em movimentos, povos do campo e lideranças comunitárias), foram intensas antes e depois da promulgação da Constituição de 1988. Eram esperadas, no conjunto de tantas reivindicações, que ocorreriam reais mudanças na educação das relações étnico- raciais brasileira. O fruto das lutas está na redação e explicitação de que a Educação é um direito de todos, no artigo 205, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Definindo-a como direito de todos e dever do Estado e da família, a ser incentivada e promovida com colaboração de toda a sociedade, dirigindo o desenvolvimento pleno da pessoa, preparo para exercer plenamente a cidadania e a qualificação para o trabalho. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 46ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 46 03/02/2021 17:27:4603/02/2021 17:27:46 Educação das Relações Étnico-Raciais 47 Neste momento histórico quem seriam as crianças aleijadas do seu acesso e permanência na escola? Quem seriam os reprovados, ano após ano? Eram aqueles que evadiam da escola por ter recebido um acento entre os que fracassaram nela, muitas vezes sendo o 1.º membro de famílias pobres e negras a frequentar uma escola. Tratados como inaptos, imputados por diagnósticos que os desabilitavam para a aprendizagem, para aprender a ler, escrever e os empurravam ou para uma sala especial ou para fora da escola, com eles iam todos os sonhos de muitas gerações de seus antecedentes. A Constituição Federal, a constituição da redemocratização e cidadã, lhes dá os direitos constitucionais de acesso e permanência, com muito o que ser feito, para mudar a realidade dentro das escolas, garantindo-lhes o direito à educação, e com a concretização deste direito fundamental, ter respaldados a sua identidade cultural (e de seus familiares), a promoção, a tolerância e o respeito com relação às suas diferenças étnico- raciais (BRASIL, 1988). O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8,069/1990) foi promulgado 1990, e estava relacionado às diretrizes internacionais constituídas pela Convenção dos Direitos da Criança, da ONU, em 1989. Representou grande mobilização de pais, professores e comunidades. No artigo 5º é garantido o direito as crianças ou adolescentes brasileiras de não serem atingidos por nenhuma forma de discriminação, exploração, negligência, crueldade, exploração, violência e opressão, com punições a qualquer atentado, tanto por ação como por omissão, dos seus direitos fundamentais. Outro elemento significativo para a garantia da Educação Étnico-Racial, no artigo 16 desta importante e valorosa lei, respaldando o direito à liberdade, participando da vida familiar e comunitária, sem nenhum tipo de discriminação, entre elas configuram as discriminações étnico- raciais (BRASL, 1990). ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 47ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 47 03/02/2021 17:27:4603/02/2021 17:27:46 Educação das Relações Étnico-Raciais48 Um pouco mais adiante, na nossa história, os parâmetros curriculares nacionais/PCN’s (BRASIL,1997) são diretrizes curriculares, organizadas pelo Governo Federal para orientar as práticas educativas de todas as disciplinas curriculares, da rede pública, onde frequentam os estudantes mais empobrecidos, e podia ser adotada, sem obrigatoriedade, pela rede privada de ensino brasileira. A temática da diversidade étnico-racial apareceu tornou-se como um tema transversal curricular, ponto de ser contemplado em qualquer disciplina. Logo de início o documento afirma que a educação deve ser voltada para a cidadania, os vários termos como Ética, Meio Ambiente, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural são tratados como temas a serem incorporados, seguindo uma conexão entre a realidade social dos estudantes e saberes teóricos, aos campos gerais do currículo. (ABRAMOVICH; RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 90) Já o Parecer 017/2001 de 2001, do Conselho Nacional de Educação, vai afirmar a conscientização do direito de constituição de identidade própria e o dever do reconhecimento da identidade do outro, ambos engajados como o direito à igualdade e ao respeito às diferenças, afirmando oportunidades diferenciadas (o que quer dizer o direito a equidade), tantas quantas forem necessárias, com vistas à busca da igualdade. O princípio da equidade reconhece a diferença e a necessidade de haver condições diferenciadas para o processo educacional. (BRASIL, 200, p. 11) Diante das históricas e complexas disparidades e discriminações que prejudicavam a escolarização da população negra brasileira, o CNE – Conselho Nacional de Educação, com seu papel mediador entre o Estado, os sistemas de ensino do Brasil resolve ouvir os antigos e inaudíveis apelos e mobilizações do movimento negro brasileiro para que a escola passasse a ser palco e contemplasse a diversidade social e étnico-racial afro-brasileira. ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 48ebook completo impressão - Educação das Relações Étnico-Raciais - Aberto - SER.indb 48 03/02/2021 17:27:4603/02/2021 17:27:46 Educação das Relações Étnico-Raciais 49 Na atualidade, o preconceito e a discriminação baseada em critérios étnico-raciais estão entre os principais motivadores da evasão escolar das pessoas negras. A escola como uma instituição que reproduz as estruturas da sociedade também reproduz o racismo, como ideologia e como prática de relações sociais que inviabiliza e imobiliza as pessoas, inferiorizando-as e desqualificando-as em
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